quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

REVISTA VEJA E O JORNALISMO DE ESGOTO...

Nassif sofre perseguição por denunciar delitos de “Veja”

Ela quer manipular a Justiça, através dos seus paus-mandados, para calar a voz do jornalista e suas verdades

O jornalista Luis Nassif prestou um grande serviço ao país. Para ser exato, este serviço continua sendo prestado: sua série sobre a revista “Veja” ainda está em curso, chegando até agora ao décimo capítulo.

Trata-se de uma extensa, serena e muito bem escrita descrição do “jornalismo de esgoto” (uma precisa conceituação) praticado por aquela publicação. Por conta disso, dois chupa-caldos que exercem suas funções na redação da “Veja” anunciaram que processarão Nassif. Certamente, não é uma iniciativa pessoal. Aliás, na “Veja” nada é pessoal, exceto os ataques. Há alguns meses, um recordista em condenações por calúnia e difamação que lá opera revelou em entrevista que a “Veja” pagava as indenizações a que ele era condenado. Por isso, ele continua a caluniar e a difamar, ignorando a lei e a Justiça. O que, evidentemente, significa que a “Veja” assume como dela os delitos do elemento, e que este é apenas um pau-mandado. Ela paga para continuar desrespeitando a lei.

Mais desprezo pela Justiça, seria impossível conceber. No entanto, é exatamente a Justiça, que eles afrontam de forma tão despudorada, que pretendem usar contra Nassif – e, precisamente, porque ele disse a verdade.

SINAL

A “Veja” tem uma tiragem semanal de mais de um milhão de exemplares. Além disso, mais de 80% das revistas que se vêem nas bancas são do mesmo grupo. Não falta aos seus donos e feitores o acesso à TV. Aliás, são até proprietários – ou, mais precisamente, testas-de-ferro – de uma rede de canais a cabo, para não falar em seus tentáculos em outras áreas.

Portanto, não faltam à “Veja” meios de se defender ou contestar o que Nassif escreveu. Porém, com tudo isso, eles querem silenciar um jornalista que dispõe apenas de um site na Internet, usando a Justiça - ou, melhor, tendo a pretensão de manipular a Justiça. Naturalmente, também não falta dinheiro a eles para pagar um batalhão de causídicos.

No entanto, trata-se de um sinal de que acabou a época em que “Veja” perpetrava impune e sem limites o “assassinato de reputações” - para usar outra excelente expressão de Nassif. Daí, essa truculência fascista se travestir agora de recursos judiciais, ou seja, da tentativa de fazer com que a Justiça encarne o espírito da injustiça. Eles não mais garantem a si próprios. Por isso, querem usar a Justiça, como se esta existisse para ser capanga de alguns marginais.

É verdade que tal tentativa, ainda que mostre a decadência do jornalismo de esgoto, também mostra que ele permanece sem reconhecer os limites sociais. Naturalmente, a quem não tem esses limites, só é possível passar a reconhecê-los se a sociedade impede que eles possam ser ignorados.

Quando 182 parlamentares constituem uma CPI para investigar os negócios ilícitos do grupo de “Veja” - sua transgressão da lei ao passar o controle da TVA para a Telefónica - e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, contra a vontade de todos os partidos da sua própria base e de todas as entidades representativas da população, engaveta a CPI, isso somente serve - como somente serviu - para que os delinqüentes se sintam à solta até para tentar a manipulação da Justiça. Não se defende a sociedade e a ética colaborando com elementos anti-sociais e anti-éticos. Não se convive com o mal, senão combatendo-o, estabelecendo limites. Caso contrário, dentro em breve será preciso se submeter a ele em nome dessa estranha convivência - e vender a alma ao diabo.

A “Veja” é a flor mais pútrida do grupo Civita. E o que é o grupo Civita, hoje acumpliciado com os nazistas do apartheid sul-africano?

A melhor descrição de seus inícios foi feita por Genival Rabelo, um dos pioneiros da publicidade brasileira. Em 1946, a Constituição do Brasil estabeleceu que os órgãos de comunicação não poderiam pertencer a estrangeiros. Não se tratava de nada excepcional. Esse era - e continua a ser - o normal em todo o mundo. Essa proibição existe nos EUA e na maioria dos países – e o motivo é óbvio: não permitir que a população seja manipulada por interesses estranhos e mesmo opostos aos interesses nacionais.

Apenas quatro anos após a Constituição de 1946, emigrou para o Brasil um cidadão americano de nome Victor Civita, trazendo na bagagem alguns contratos de publicação de revistas da Disney. No entanto, sabe-se agora, houve mais do que isso: “O Chase Manhattan Bank [o banco da família Rockefeller], por sugestão do Governo americano, ajudou Victor Civita a se instalar no Brasil. Um advogado aposentado do Chase me contou, em Nova York, que o Governo americano considerava que Victor Civita se tornaria um aliado importante no Brasil. A ligação da Abril com o Chase se manteve depois da morte de Victor Civita, através de seu filho Roberto, e um executivo do Chase no Brasil, Bob Blocker” (cf. P. H. Amorim, “A CIA pagou a conta de FHC?”).

Portanto, era arguta a observação de Genival Rabelo, em seu livro de 1966 (“O Capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira”), de que havia algo estranho em um cidadão americano residente em Nova Iorque chegar ao Brasil com o passaporte visado em Washington. Feita há 41 anos, essa observação mostra o quanto o autor estava atento às atividades de Civita, agora sob a proteção da ditadura, que cassou e perseguiu Rabelo.

Em suma, a infiltração de Civita no Brasil era uma burla à Constituição: um cidadão americano chega aqui, com contratos de republicação de revistas americanas, e se naturaliza brasileiro. Passa a monopolizar a propaganda, através das filiais de agências publicitárias americanas. Sustentado pelo principal grupo capitalista dos EUA, com o Chase Manhattan por trás, o sujeito esmaga os concorrentes e instala um monopólio editorial dentro de outro país.

DIFERENÇA

Mas, não era somente a do Brasil, a Constituição que estava sendo burlada. Na Argentina, que também proibia a propriedade de meios de comunicação por estrangeiros, chegou, quase ao mesmo tempo em que Victor Civita apareceu no Brasil, um certo Cesar Civita. Um era irmão do outro. Os dois tinham na mala os mesmos contratos da Disney. E os dois fizeram a mesma coisa. A diferença, naturalmente, é que o Civita da Argentina se naturalizou argentino. Ou seja, até a diferença era igual.

O jornalista Luis Nassif divulgou nota, pedindo aos homens e profissionais dignos que o ajudem a divulgar suas respostas aos ataques do para-jornalismo (mais uma expressão muito adequada) de “Veja”. De nossa parte, Nassif, pode contar conosco.

CARLOS LOPES

  • Socialismo e Espiritismo, Aproximações Dialéticas

  • Dora Incontri e Alessandro Cesar Bigheto


    Resumo: Este artigo pretende resgatar a ala esquerda do Espiritismo, romontando-a já desde Pestalozzi, mestre de Kardec, pelo próprio fundador do Espiritismo e seus discípulos na França e no Brasil. Apesar de o movimento espírita brasileiro revelar traços conservadores, existe um Espiritismo à esquerda, cultivado na América Latina, incluindo o Brasil e que descende do Espiritismo francês, entendido como proposta social, aplicada na educação.

    Palavras-chaves: Espiritismo, socialismo, Kardec, Pestalozzi, socialistas utópicos, dialética espiritualista, educação, socialismo espírita.

    Estes apontamentos pretendem apenas indicar uma vasta linha de pesquisa ainda pouco trilhada, que aponta as relações históricas e teóricas entre Socialismo e Espiritismo. Não é assunto pacífico nem para socialistas (sobretudo marxistas) nem para espíritas, mas trata-se de demonstrar que houve aproximações, diálogos e influências mútuas neste campo. Aliás, a dialética, que se propõe como método de entender as contradições e chegar a sínteses, não deveria permitir o dogmatismo ideológico que impede a aproximação do que parece, à primeira vista, paradoxal.

    Tudo começa com o mestre de Allan Kardec (Rivail), Johann Heinrich Pestalozzi, que, ao contrário da análise pouco informada de alguns, que ignoram a complexidade de sua obra e de sua trajetória, passou da crença no despotismo esclarecido a um pensamento social, que não pode ser meramente considerado burguês, pois, ao mesmo tempo, em que ele foi condecorado como membro honorário da Revolução Francesa, foi crítico dela. Em seu pensamento, (ver INCONTRI:1996), existem traços de uma dialética original – que é espiritualista, se dá na história, mas não tem o totalitarismo panteísta de Hegel ou de Fichte. Com este último, Pestalozzi manteve fecundo diálogo.

    Tendo Pestalozzi uma vasta e multifacetada obra, a interpretação a respeito é bastante controversa. Alguns o vêem como um pensador romântico, outros como típico representante do iluminismo. Mas, existe uma leitura mais à esquerda, que identifica elementos bastante originais do seu pensamento. Por exemplo, TOLLKÖTTER (s.d) estabelece comparações entre Marx e Pestalozzi, em relação ao trabalho, à sociedade e à educação. (1) SCHLEUNER (1974), faz interessante estudo comparativo entre a experiência de Pestalozzi em Stans e a experiência socialista de Makarenko. (2)

    Assim também entre os autores espíritas, já de início com o próprio Kardec, discípulo e herdeiro de Pestatalozzi, há polêmicas e diversas leituras, dependendo da lente ideológica dos estudiosos. Humberti Mariotti fala de uma “esquerda kardeciana” (HOLZMANN NETTO, 1970).

    Mas é inegável que houve confluências e influências entre Socialismo e Espiritismo.

    Em primeiro lugar, descrevamos resumidamente os fatos, para depois analisarmos algumas idéias:

    Kardec era um educador preocupado com as questões sociais, que militava pela educação popular. Já, aos 24 anos de idade, escreveu o brilhante ensaio Proposta para a melhoria da Instrução Pública (ver RIVAIL, 2000) e durante décadas deu cursos gratuitos, em sua própria casa, de Química, Matemática, Astronomia, Fisiologia, Gramática… numa tentativa de democratizar o conhecimento.

    Ao que parece, manteve relações com os socialistas (depois chamados de utópicos por Marx e Engels), pois em sua fase espírita, os cita constantemente, entre eles, Fourier, e Saint-Simon. (Robert Owen, por sua vez, recebeu influência de Pestalozzi, pois o visitou em Iverdon e mais tarde tornou-se adepto do Espiritismo). O pesquisador francês François Gaudin descobriu recentemente documentos ainda inéditos, revelando a parceria de Kardec com o amigo Maurice Lachâtre, conhecido socialista de tendência anarquista e editor das obras de Marx, em fascículos populares. Ambos tiveram um projeto economicamente fracassado da fundação de um banco popular, possivelmente nos moldes do que queriam os socialistas pré-marxianos e os anarquistas, como Proudhon.

    O sucessor de Kardec, que liderou o movimento espírita francês até depois da Primeira Guerra Mundial, foi Léon Denis, um operário de Tours, autodidata, amigo e companheiro de Jean Jaurès, socialista espiritualista. Denis escreveu a obra Socialismo e Espiritismo, um clássico da literatura social espírita. Nesta obra, Denis relata seu profundo envolvimento com o movimento operário francês, e os conflitos entre um socialismo materialista e um socialismo espiritualista, quando da sua participação de um ciclo de conferências na Bélgica, com Volders e Oskar Beck. Volders organizou o Congresso Socialista Internacional em Bruxelas, em 1891. (Ver DENIS, 1987:38) (3)

    Na América Latina, o pensamento socialista espírita teve vários representantes. Entre eles, os argentinos Manuel S. Porteiro, que escreveu Espiritismo Dialectico, Cosme Mariño e Humberto Mariotti, autores respectivamente de Concepto Espiritista del Socialismo e Parapsicologia e Materialismo Histórico; os brasileiros Eusínio Lavigne e Souza do Prado, de tendências stalinistas, com a obra Os Espíritas e as Questões Sociais, Jacob Holzmann Netto, que participou do Movimento Universitário Espírita na década de 70 (depois abafado pela ditadura militar), com o livreto Espiritismo e Marxismo e, o maior expoente da intelectualidade espírita no Brasil, o jornalista e filósofo J. Herculano Pires, autor de Espiritismo Dialético e O Reino.

    A CRÍTICA SOCIAL EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS

    Ao contrário da interpretação popular do Espiritismo brasileiro, nas obras de Kardec, consideradas pelos seguidores como fundamentais, não há a aceitação de um fatalismo social, determinado pela idéia da reencarnação. Sobretudo em O Livro dos Espíritos, aparecem críticas à estrutura social injusta e indicações de que é preciso transformar a sociedade, junto ao apelo constante à transformação do homem. Dentro da perspectiva evolucionista, a evolução social interage dialeticamente com a evolução individual. Como explicaria depois Herculano Pires: “Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão deve seguir.” (PIRES, 1967:136)

    Entre as questões levantadas por Kardec na referida obra está a da propriedade, que era, como se sabe, objeto de discussão de socialistas e anarquistas de todos os matizes. A idéia expressa em O Livro dos Espíritos vai no sentido da propriedade coletiva, com a crítica ao acúmulo de capital, que se manifesta no plano moral, como egoísmo:

    “O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar? — Sim, mas deve fazê-lo em comum, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta.” (KARDEC, item 881)

    Em seguida, Kardec indaga, a partir do ponto de vista liberal, que sempre defendeu a idéia de que a riqueza é uma questão de mérito (e não de injustiça) e a resposta mais uma vez é crítica.

    “A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros? — Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?” (KARDEC, item 801)

    Em várias outras passagens há críticas ao supérfluo de uns e à miséria de outros, à criação artificial de necessidades – em suma, o que poderíamos hoje chamar de consumismo excludente:

    “Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os homens? — Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.” (KARDEC, item 922) “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”

    Isso apenas para introduzir brevemente algumas questões sociais tratadas por Kardec de maneira nada alienada, nem conformista.

    DIALÉTICA E ESPIRITISMO

    Entretanto, o que nos interessa mais aqui é discutir a dialética, do ponto de vista filosófico, pois parece que há uma posição original a ser descrita, a partir da obra de Kardec e de seus intérpretes à esquerda.

    Diz Piettre (e essa é uma posição mais ou menos generalizada a respeito) que existem duas maneiras de encarar a realidade: a do ser e a do devir. Conforme explica:

    “Resumindo-se por alto a longa peregrinação do pensamento humano, pode-se dizer que sempre existiram não mais do que duas filosofias, duas maneiras de representar o mundo: a filosofia do ser e a do vir a ser (…)” (PIETTRE, 1969:27)

    A filosofia clássica, de herança platônica, estaria ligada à primeira forma de percepção de mundo: o absoluto estático, a identidade permanente do Ser. A dialética, que descende de Heráclito, depois revivida por Hegel, entende a realidade como transformação permanente. O Ser não é, está sendo. No processo de ser, há um momento de negação, de não-ser. Nesta visão, a concepção trinitária de tese-antítese-síntese é a dinâmica do Ser através de contradições e superações.

    Em Hegel, esta interpretação de mundo está inserida num espiritualismo panteísta em que o Ser é o próprio absoluto, que se encarna no processo histórico. Marx, como se sabe, recebeu uma forte influência da concepção hegeliana da dialética. Para Marx e Engels, a dialética que se manifesta no processo histórico é sobretudo material, sem nenhuma imanência ou transcendência espiritual. São as forças produtivas que engendram a história e o homem é, ao mesmo tempo, por ela determinado, e sujeito, capaz de transformá-la.

    Temos, assim, três posturas filosóficas aqui descritas: a espiritualista estática, com o absoluto divino e a identidade espiritual do sujeito; a dialética espiritualista (ou idealista), com a dissolução da identidade tanto do Absoluto (que está em processo de devir), quanto do sujeito individual (que se perde no todo); a dialética materialista, com a negação do absoluto e a identidade do sujeito submetida às leis da história, à identidade de classe, ao determinismo biológico e social, e, apesar disso, capaz de fazer a história.

    Antes de continuar esta análise, é preciso definir bem os termos. O que significa idealismo e materialismo? A definição de Bukharin pode ser aceita por ambas as correntes:

    “O materialismo considera a matéria como causa primária e fundamental; o idealismo, ao contrário, considera em primeiro lugar o espírito. Para os materialistas, o espírito é um produto da matéria; para os idealistas, ao contrário, é a matéria que é produto do espírito.” (BUKHARIN, s/d: 57)

    A visão dialética (tanto a idealista, quanto a materialista) é histórica, ao passo que o espiritualismo clássico situa o ser acima da história. Isto, apesar do fato já muito discutido e estudado de que a idéia de história nasce com a tradição judaico-cristã. (4)

    A visão espírita apresenta-se como uma síntese dessas posições. Admite a identidade absoluta (e não sujeita ao devir) de Deus, como causa de todas as coisas, mas admite o devir permanente dos seres, da história, num processo dialético entre o indivídual e o coletivo. Não aceita a finalidade da história como algo pré-determinado (e nesse ponto assemelha-se ao anarquismo). Avisa Porteiro: “…não estamos nem com o individualismo, nem com o fatalismo histórico, seja este último de Santo Agostinho ou de Marx.” (PORTEIRO, 1960:141)

    A questão da liberdade, aí, se põe como fundamental. Não existe um fatalismo previsível da história, porque o homem de fato faz a história e este homem não é apenas determinado socialmente, porque é espírito. Explica muito bem Mariotti:

    “O Homem, para Kardec, é um espírito encarnado, que reconhecerá o seu passado histórico, à medida que ilumine sua visão e intuição espirituais. É por isso que, com a Doutrina Social Espírita, podemos falar de um homem-que-reencontra-a-história, isto é, de um homem que construirá um mundo melhor para reencontrar-se a si mesmo, segundo tenham sido seus atos para construí-lo e edificá-lo.” (MARIOTTI, 1983:29)

    Evolucionismo individuado, (como classificamos em INCONTRI:2004), historicidade com liberdade coletiva e individual, dialética com visão de imanência e transcendência – assim poderíamos definir essa dialética espírita, tratada pelos autores espíritas da esquerda.

    As questões que opõem marxismo e Espiritismo se radicam em dois pontos (e em nenhum outro): o materialismo versus espiritualismo e a aceitação do uso da violência como necessidade histórica contra a renúncia ao uso de todo poder de força (mesmo em legítima defesa). Em ambos os pontos, o Espiritismo está mais próximo dos socialistas pré-marxianos e dos anarquistas cristãos, da linha de Tolstoi.

    A VIA DA EDUCAÇÃO

    Mesmo os espíritas mais à esquerda, como os que na década de 50 eram simpatizantes de Stalin, admitem que o modo de transformação social mais eficaz é através da educação.

    “Queremos mostrar, perante a realidade histórica, que a eficiência do ensino individual decorre, sobretudo, da libertação popular, de que resulta, por sua vez, o poder político-econômico nas mãos do povo organizado. Com isso, a produção coletiva destina-se ao bem de todos, a começar pelo ensino, enquanto concomitantemente, desaparece a exploração do homem pelo homem, com uma série incomensurável de proveitos intelectuais e morais para a superestrutura do espírito.” (LAVIGNE & PRADO, 1955: 33)

    Sendo o Espiritismo uma doutrina eminentemente pedagógica, fundada por um educador, a militância social através da educação tem sido uma constante, desde Kardec. Conta Denis, a respeito de sua própria experiência:

    “Depois da Guerra de 1870 compreendi que era preciso trabalhar com ardor para a educação do povo. Com este fim e o auxílio de alguns cidadãos devotados, havíamos fundado, em nossa região, a “Liga de Ensino”, da qual me tornei secretário- geral; foram criadas bibliotecas populares e se iniciaram, em pouco por toda a parte, séries de conferências.” (DENIS, 1987:36)


    Neste sentido, assumindo um otimismo essencialmente pedagógico (de que todos os seres humanos são educáveis, perfectíveis, capazes de transcender interesses pessoais, para devotar-se ao bem geral, o Espiritismo escapa da condenação eterna dos maus – do cristianismo tradicional – como da condenação à morte das classes dominantes, que se opõem ao progresso histórico. Educação universal, através dos séculos, porque a história se faz com seres que vão e voltam, se educam e aprendem, para a realização individual e coletiva da felicidade.

    No Brasil, a militância espírita pela educação pública e/ou gratuita (na maioria das vezes gratuita, mas nem sempre pública) começou no início do século 20, com o primeiro educador espírita brasileiro, Eurípedes Barsanulfo, que manteve uma escola popular para 200 crianças na cidade de Sacramento (MG). Anália Franco, outra espírita, educadora e feminista também demonstrou sua militância política e pedagógica, primeiro engajando-se na educação dos negros (logo após a Lei do Ventre Livre) e depois se dedicando a fundar mais de 100 escolas e abrigos no Estado de São Paulo, todas voltadas para atender crianças órfãs, predominantemente de mães solteiras, profissionalizando também as próprias mães.

    Na década de 60 e 70, houve a participação ativa dos espíritas, liderados pelo jornalista e escritor José Herculano Pires, em prol da defesa da escola pública.

    Assim, a ala mais intelectualizada e politizada do movimento espírita brasileiro tem dado sua contribuição, até agora bastante ignorada, numa militância pedagógica transformadora, que se enraíza na visão de um socialismo espiritualista.

    Notas

    (1) Diz Tollkötter, logo no início de seu trabalho, já estabelecendo os pontos de encontro entre Marx e Pestalozzi: “…que ambos exigem a humanização do homem e do mundo, e tentam realizá-la segundo o princípio de que o homem faz as circunstâncias e as circunstâncias fazem o homem e que portanto o homem e o mundo são fatores mutuamente determinantes.” (TOLLKÖTTER, s/d: 12)

    (2) Segundo Schleuner, não há diferença entre os métodos didáticos-pedagógicos empregados por Pestalozzi e Makarenko, ambos em situações-limite de guerra e revolução. Também se identificam ambos na sua doação pessoal, em situações parecidas de viverem entre os carentes, para recuperar sua condição humana, social e política.

    (3) Comenta Denis, já no fim da vida: “…sempre guardei contato com as classes trabalhadoras, partilhei de seus cuidados, suas aspirações para o progresso. Tornei-me muito interessado no movimento cooperativo e, por muito tempo, recebi, a título gracioso, os livros de um grupo de operários cordooeiros reunidos em um empreendimento comum.” (DENIS, 1997:36).

    (4) São bastante discutidas as ressonâncias messsiânicas no próprio Marx. A idéia de que a história tem uma finalidade, seja a da redenção cristã, da realização do Espírito absoluto, a do paraíso comunista ou da evolução permanente, nasceu no bojo judaico-cristão.

    Bibliografia

    BUKHARIN, N. Tratado de Materialismo Histórico. Centro do Livro Brasileiro, s/d.
    COLOMBO, Cleusa Beraldi. Idéias Sociais Espíritas. São Paulo, Comenius, 1998.
    DENIS, Léon. Socialismo e Espiritismo. Matão, O Clarim, 1987.
    HOLZMANN NETTO, Jacob. Espiritismo e Marxismo. Campinas, Edições Fagulha, 1970.
    INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um Projeto Brasileiro e suas Raízes. Bragança Paulista, Comenius, 2004.
    INCONTRI, Dora. Pesztalozzi, Educação e Ética. São Paulo, Scipione, 1996.
    KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits, Paris, Dervy-Livres, 1972.
    LAVIGNE, Eusínio & PRADO, Sousa do. Os Espíritas e as Questões Sociais. Niterói, Editora Renovação Ltda, 1955.
    MARIÑO, Cosme. Concepto Espiritista del Socialismo. Buenos Aires, Victor Hugo, 1960.
    MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. São Paulo, Edicel, 1983.
    PIRES, J. Herculano. O Reino. São Paulo, Edicel, 1967.
    PORTEIRO, Manuel S. Espiritismo Dialectico. Buenos Aires, Victor Hugo, 1960.
    RIVAIL, Hippolyte Léon Denizard. Textos Pedagógicos. São Paulo, Comenius, 2000.

    Dora Incontri, jornalista, doutora em Educação pela USP, autora de várias obras, como Pedagogia Espírita, um Projeto Brasileiro e Suas Raízes; Pestalozzi, Educação e Ética; Todos os Jeitos de Crer.

    Alessandro Cesar Bigheto, pedagogo, mestrando em História da Educação na Unicamp, co-autor de Todos os Jeitos de Crer.
    Este artigo foi publicado na Revista on-line do Histedbr, Unicamp, em dezembro de 2004. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revis.html



    PERUANOS REJEITAM LEI QUE ATINGE RUÍNAS INCAS

    As autoridades regionais da localidade peruana de Cuzco, que contam com o apoio dos comerciantes e sindicatos locais, dizem que a lei teria um efeito negativo sobre o ingresso regional e sobre a preservação dos monumentos incas.

    Milhares de manifestantes paralisaram esta quinta-feira a capital turística, Cuzco (a 1000 km ao sul de Lima), durante uma protesta contra os futuros desenvolvimentos urbanísticos projetados para as regiões vizinhas às ruínas incas.

    A ação de rua surge porque na atualidade se promove um projeto de lei no Congresso, o qual, de ser aprovado, facilitaria que os inversores privados construam nas redondezas de alguns dos sítios arqueológicos mais famosos do Peru.

    Durante os protestos que durara, 24 horas, os manifestantes bloquearam estradas principais que obrigaram a suspender várias excursões e o serviço de trens entre Cuzco e Macchu Picchu.

    Os grupos de manifestantes tomaram o controle de várias das principais ruas da cidade, que foram bloqueadas com pedras e pneus queimados.

    A pesar de tudo, não se apresentaram enfrentamentos com a policia, que resguarda a cidades, sobretudo no aeroporto internacional “Velas Astete”, que também é protegido por um contingente do Exército Peruano.

    A empresa PeruRail, que controla o trem que faz o trajeto da cidade inca de Macchu Picchu, suspendeu seus serviços para assegurar a integridade dos turistas que visitam a antiga capital do Império Inca.

    A Lei de Promoção do Desenvolvimento Sustentável de Serviços Turísticos nos Bens Imóveis Integrantes do Patrimônio Cultural da Nação foi revogada pela maioria dos votos na Comissão Permanente do Congresso Peruano.

    Essa lei flexibiliza a concessão de licenças ao setor privado em regiões adjacentes a santuários arqueológicos e centros históricos com o propósito de construir infra-estruturas hoteleiras e obriga aos município a conceder as mesmas de forma imediata.

    Mas em Cuzco as pessoas guardam profundas suspeitas com respeito ao governo central, e muitos, incluídas as autoridades regionais, argumentam que tal aval só conseguirá que inversores estrangeiros se tornem ricos às custas do patrimônio local.

    De qualquer modo, na primeira das duas votações, o Congresso rejeitou o projeto de lei.

    O presidente regional de Cuzco, Hugo González, disse que o protesto – convocada para acompanhar a jornada de votação – era necessária para garantir que a normativa não se aprovasse na segunda instancia.

    Mas a Ministra de Turismo de Peru, Mercedes Aráoz, assegura que a lei pretendia promover a inversão e que a manifestação foi resultado de um mal-entendido.

    Por enquanto os vizinhos de tão importante região turística sul-americana, se encontram à expectativa do que seja ou não aprovado no Congresso e ameaçam em seguir tomando ações de rua em defesa dos seus direitos.

    TeleSUR-Bbc-Afp/rf-RN

    Versão em Português: Jole de Melo, Cordeiro, Rio de Janeiro.

    poesia acróstica

    "Para ti patti"
    Por mais que a vida imponha limites
    A sensatez caminha na trilha da solução
    Trazendo o rumo, à mente, que iremos seguir
    Revivendo momentos alegres para sermos felizes
    Incondicionalmente para que não percamos o prumo
    Como o pai que com seu filho brinca
    Instigado só pelo momento
    Acostumado com o desafio da vida!!

    Carlos Costa

    A revolução não será televisionada

    INFORMAÇÕES DO ARQUIVO
    Áudio: Inglês
    Legenda: Português
    Tamanho: 441 Mb
    Formato: Rmvb
    Qualidade: DVDRip

    INFORMAÇÕES DO FILME
    Ano de Lançamento: 2003
    Gênero: Documentário
    Duração: 75 min
    Classificação etária: Livre

    Créditos: CinemaEmCasa

    Sinopse: O documentário apresenta os acontecimentos do golpe contra o governo do presidente Hugo Chávez, em abril de 2002, na Venezuela. Dois cineastas estavam na Venezuela realizando, desde setembro de 2001, um documentário sobre o presidente Hugo Chavez e o governo boliviano quando, surpreendidos pelos momentos de preparação e desencadeamento do golpe, puderam registrar, inclusive no interior do Palácio Miraflores, seus instantes decisivos, respondido e esmagado pela espetacular reação do povo.

    Download aqui

    O Homem Urso - (Grizzly Man)


    Documentário sobre a vida e a morte de Timothy Treadwell, ecologista e pesquisador de ursos pardos. Por 13 verões consecutivos, Treadwell foi para o Alasca viver desarmado entre esses animais. Em outubro de 2003, os restos mortais de Treadwell e de sua namorada Amie Huguenard foram encontrados pelo amigo e piloto que deveriam trazê-los de volta. O casal fora devorado por um urso, o primeiro caso registrado de ataque no Parque Nacional e Reserva Katmai, na península do Alasca. Nos últimos cinco anos, Treadwell documentou sua viagem com uma câmera e produziu mais de cem horas de filme. Esse material foi utilizado por Herzog para explorar sua personalidade e levantar questões sobre a difícil relação entre homem e natureza.


    Créditos: MakingOff - Santoro
    Gênero:
    Documentário
    Diretor: Werner Herzog
    Duração: 100 minutos
    Ano de Lançamento: 2005
    País de Origem: EUA
    Idioma do Áudio: Inglês
    IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0427312/

    Qualidade de Vídeo:
    DVD Rip
    Resolução: 1024x768
    Tamanho: 700 Mb
    Legendas: No torrent

    Direção e Roteiro: WERNER HERZOG
    Produção: ERIK NELSON
    Fotografia: PETER ZEITLINGER
    Edição: JOE BINI
    Música: RICHARD THOMPSON

    Prêmios Recebidos: Festival Sundance: Prêmio Alfred P. Sloan.
    Melhor filme de não-ficção pelo Círculo dos Críticos de Nova York
    Prêmios Indicados: Independent Spirit Awards: Melhor Documentário.

    Crítica

    Há muitos tesouros nas quase cem horas de material filmado que o californiano Timothy Treadwell deixou antes de ser devorado por um urso no outono de 2003.

    Durante treze anos, Timothy foi todos os verões à reserva de Katmai, no Alaska, onde convivia com os animais. A natureza dessa convivência é uma das preciosidades que ele deixou filmada. Em O Homem-Urso, vemos cerca de duas horas desse material. Na sua maior parte, Timothy age menos como cientista que como um apresentador de algum dos infames programas que redes de televisão bestificantes como o Animal Planet costumam botar no ar.

    São programas que denigrem os animais e estupidificam os seres humanos. Timothy, logo se vê, estava acima de Zoboomafoo mas agia como tal. Era uma pessoa que amava os ursos com quem vivia. E que, talvez por isso mesmo, desenvolvia com eles uma relação patológica, não muito diferente dos milhões de seres humanos que procuram atribuir suas próprias qualidades aos animais de estimação.

    A diferença é que ursos costumam ser mais perigosos para o convívio humano do que cãezinhos. Por isso há bem mais filmes domésticos sobre cãezinhos do que sobre ursos de estimação. O que Timothy Treadwell filmou durante os seus 13 verões no Alaska é único. Mas a singularidade do que captou não está na forma que ele julgou encontrar para “encantar” as feras e sim no que contém essa relação.

    Werner Herzog tem o notável vislumbre de enxergar criticamente o extraordinário material a que teve acesso. Trata-se, é claro, de uma coleção de imagens que, no mínimo pela sua carga profética, chegam a parecer encenadas. São inúmeras as ocasiões, por exemplo, em que Timothy - que filma a si mesmo - anuncia para a câmera: “Se eu fraquejar por um momento, eles irão me agarrar, decapitar, cortar em pedaços”. Na verdade, a cada cinco ou seis cenas editadas, Timothy anuncia a possibilidade de sua morte pelos ursos com quem convive.

    Não é uma profecia apenas do autor, mas uma expectativa do senso comum. Está na anedota do escorpião que atravessa o rio antes de picar quem lhe carregou. Numa entrevista a David Letterman, incluída no filme, o apresentador pergunta a Timothy se algum dia lerá nos jornais que ele foi devorado pelos ursos.

    Por que haveria de ser de outra maneira? Essa parece ser a pergunta que Herzog formula nas entrelinhas de cada plano que edita. Ele narra seu filme na primeira pessoa e com sua própria voz em off, o que lhe permite fazer esse questionamento diretamente, dizer ao espectador que não está ali para lhe oferecer comiseração através do amplo material coletado de uma morte anunciada. Não, o cineasta não está ali para fazer o que qualquer apresentador de programa vespertino de televisão faria, não está processando seu material com tons melodramáticos ou sensacionalistas. Ele não está tentando entender os ursos, e sim o homem que está por trás dos ursos.

    Para isso, Herzog busca ajuda em pessoas que conheceram de perto a relação entre Timothy e seus animais. Como um piloto que costumava levá-lo para a reserva: “Ele tratava os ursos como se fossem pessoas fantasiadas de ursos. Acabou tendo o que mereceu”.

    Herzog interpreta com clareza o material que está processando e nisso consiste parte da grandeza de seu filme. Cineasta que promove ao extremo a encenação de obsessões, ele comenta a obsessão de seu personagem: “Já vi essa loucura em sets de filmagem antes”. Está mencionando sua própria relação com pessoas como Klaus Kinski. Está falando de artistas como si próprio. Está dizendo que a diferença entre o homem e as bestas é o número de patas.

    O Homem-Urso é muito mais sobre o homem que sobre o urso. Se este é previsível, aquele é repleto de complexidades. Nas imagens filmadas por Timothy Treadwell, Herzog busca a patologia de seu criador. Ela está visível na insistência do californiano em pretender ser australiano, em apresentar-se como “protetor” dos animais – embora muitos ecologistas garantam que os ursos estariam mais protegidos sem a sua presença – e na delicada natureza de seu relacionamento com outros seres humanos, inclusive a namorada (que foi devorada com ele) e a ex-namorada Jewel Palovak, que trabalha na instituição criada por Treadwell. Não há nada de sentimental em relação aos animais e muito menos à natureza – cuja essência cruel é descrita por Herzog numa das melhores linhas do filme.

    Em grande medida, O Homem-Urso é a história de um maníaco, que achava que era igual aos ursos e que gostava de agir como os débeis-mentais que apresentam a maioria dos programas das redes de TV por assinatura. Mas que agregava duas particularidades: a de ter a coragem de se aproximar dos ursos que julgava entender e a de filmar tudo isso.

    O legado de imagens que Treadwell deixou permitiu a Werner Herzog realizar um dos melhores documentários produzidos nos últimos anos.
    Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

    Download abaixo:

    Arquivo anexado O_Homem_Urso.torrent ( 28.02KB ) Downloads: 112
    A decadência da Fox News: uma lição para a Veja?


    A Fox News, a outrora temida cadeia de televisão que redefiniu não só o jornalismo, mas a própria política norte-americana, está em franco descenso. A Fox News, que chegou a desbancar a CNN no negócio de notícias via TV a cabo e sempre foi identificada com a ultra-direita norte-americana, agora a rede perde audiência após um crescente boicote.


    A análise é de Idelber Avelar, professor titular de literatura latino-americana e teoria literária em Tulane University (EUA). O artigo foi publicado em seu blog, nesta terça-feira (5). Leia abaixo sua íntegra:


    A decadência da Fox News: uma lição para a Veja?


    Há uma história nesta campanha eleitoral americana que eu ainda não vi discutida no Brasil - e que os fãs da revista Veja deveriam acompanhar com atenção. É o declínio paulatino da relevância e da audiência da Fox News, a outrora temida cadeia de televisão que redefiniu não só o jornalismo, mas a própria política norte-americana.


    A Fox conseguiu o que em 1996 parecia impossível: desbancar a CNN no negócio de notícias via TV a cabo, enquanto realizava a proeza de transformar o extremismo de ultra-direita em suposto centro do espectro político, com um slogan que era o troféu óleo de peroba do século: fair and balanced. Funcionou durante muito tempo e foi decisivo para o roubo de uma eleição presidencial americana (2000) e para o resultado da seguinte (2004). Parece não estar funcionando mais.


    A partir de um chamado ao boicote liderado pelo site Fox Attacks e por vários blogueiros e ativistas progressistas, os candidatos democratas tomaram a difícil – mas, viu-se depois, acertada – decisão de ignorar o canal e não aceitar debater lá. Tratá-la como o que ela é, um canal de manipulação e doutrinação extremistas, não um veículo de notícias. Este ano, foi tudo morro abaixo para a Fox. O candidato queridinho da Fox, Rudy Giuliani, amargou uma humilhação atrás da outra nas primárias, perdendo até para o azarão Ron Paul. Teve que abandonar a corrida antes de ser esmagado dentro do seu próprio estado de Nova York, apesar de todos os esforços do canal.


    A estrela da Fox, o histriônico Bill O'Reilly, chegou a trocar empurrões com agentes do serviço secreto para tentar se aproximar de Barack Obama, humilhação impensável dois anos atrás. Depois da Fox excluir do seu debate o candidato anti-guerra Ron Paul, mesmo depois de Paul ter conseguido 10% dos votos em Iowa (quase o dobro do queridinho Guiliani), o todo-poderoso âncora da Fox, Sean Hannity, foi perseguido pelos seguidores de Paul aos gritos de Fox News sucks!.


    Para piorar a situação, o ex-executivo da Fox, Dan Cooper, vem publicando trechos do livro em que conta toda a lama por trás do projeto do canal de notícias liderado por Robert Ailes, um sujeito capaz de ameaçar uma criança de três anos cujo único crime é ser filha de um jornalista que fez um retrato crítico do seu amado radialista de ultra-direta Rush Limbaugh.


    O que os Democratas entenderam, finalmente, é que em alguns terrenos não vale a pena lutar. O resultado do jogo já está dado de antemão, como sabem os que já presenciaram os massacres manipulados que são as “entrevistas” da Fox com qualquer um que não compartilhe o extremismo bélico do canal. Que isso sirva de lição para os que acham válido conversar com determinados veículos, ao invés de seguir o exemplo dos incontáveis brasileiros que já tivemos o gostinho de um dia dizer ao telefone: Você é da Veja? Desculpe, com a Veja eu não falo.


    Nas primárias de New Hampshire em 2004, mesmo sem qualquer oposição a Bush, a Fox teve 200.000 telespectadores a mais que a CNN na noite da primária democrata. Em 2008, com um campo de candidatos competitivos entre os Republicanos, a CNN teve 250.000 a mais. Dos dez debates mais assistidos desta campanha, cinco foram na CNN, só dois na Fox. O debate democrata da Carolina do Sul, transmitido pela CNN, bateu o recorde: foi o mais assistido da história das primárias americanas.


    O canal de negócios da corporação Fox, o Fox Business Network, que estreava com o intuito de fazer com a CNBC o que a Fox News fizera com a CNN, não consegue mais que ínfimos 6.300 telespectadores, ou 0,05% do mercado, bem longe dos 265.000 da CNBC. A lição me parece clara: Fox subiu com Bush e está caindo com ele.


    Fonte: Instituto Humanistas


    Lista do mensalão: Justiça condena Globo e presidente do DEM

    www.vermelho.org.br


    A TV Globo e o deputado federal Rodrigo Maia, presidente do DEM (ex-PFL), foram condenados a indenizar Luiz Carlos da Silva em R$ 100 mil por danos morais. Ele foi exposto no caso do "mensalão" ao ter seu nome divulgado em uma lista de pessoas que estiveram na agência do Banco Rural situada no Brasília Shopping, onde eram realizados os supostos saques de alegadas mesadas pagas a deputados pelo empresário Marcos Valério. A decisão é do juiz da 4ª Vara Cível de Brasília, Robson Barbosa de Azevedo.


    A emissora, segundo informações do TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal), está obrigada também a divulgar o inteiro teor da sentença nos mesmos programas nos quais foi divulgada a lista que originou o dano moral, no prazo de 60 dias, sob pena de multa de R$ 50 mil por dia de descumprimento da ordem judicial. Os réus ainda podem recorrer da sentença.

    O autor da ação diz que, segundo as matérias veiculadas pela TV Globo no dia 15 de julho de 2005, a lista de nomes de pessoas que compareceram à agência bancária na qual Marcos Valério realizava o suposto depósito foi elaborada pelo deputado federal Rodrigo Maia.

    Segundo ele, seu nome, com sua qualificação de assessor do deputado Wasny de Roure constou na lista - o que lhe causou vexame e mal-estar por ser fato inverídico. Luiz Carlos da Silva explicou que descobriu posteriormente se tratar de outra pessoa, um homônimo, que nunca exerceu cargo de assessor parlamentar, como era o seu caso. Luiz Carlos da Silva alega ainda que a matéria exorbitou os princípios da liberdade de imprensa, pois não houve cautela diante da dimensão da notícia, que atentou contra seus direitos de cidadão.

    No entendimento do juiz Robson de Azevedo, o modo como a notícia foi divulgada, vinculando a lista de nomes ao "mensalão", foi tendencioso, induzindo ao entendimento de que todas as pessoas citadas estavam envolvidas com o suposto esquema objeto de investigações por Comissão Parlamentar de Inquérito, apesar de ter-se ressaltado que Luiz Carlos da Silva não efetuou saques na data em que compareceu à agência bancária.

    "Nesses termos, ainda que aplicável a Lei de Imprensa, não se pode olvidar o fato de que o interesse público e o direito à informação não podem subsidiar informações inverídicas e tendenciosas", afirma o magistrado, segundo o qual, se não houve saques pelo autor, a divulgação de seu nome foi precipitada e desnecessária.

    Conforme o juiz, a divulgação apressada da lista de nomes, sem a verificação dos motivos da presença das pessoas na agência bancária, que é local público, caracteriza dano de natureza extrapatrimonial, ainda que a imagem das pessoas não tenha sido utilizada.

    Para o magistrado, a liberação da lista pelo deputado Rodrigo Maia em favor da emissora de TV, ainda que tenha ressalvado o caráter preliminar da mesma, demonstra a atitude culposa do parlamentar, a quem incumbia a discrição necessária no exercício do mandato que desempenha, tendo em vista sua participação em Comissão Parlamentar de Inquérito para apuração dos fatos. Segundo o magistrado, o mau uso da lista feito pela TV Globo decorreu da atitude inicial do deputado Rodrigo Maia, ao divulgá-la.

    Belô Velloso - Belô Velloso (1996)





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    quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

    SILENCIADOS E INVISÍVEIS

    Por Chico Alencar (*)

    Virou negócio, como quase tudo no mundo de hoje. O “cale-se” do rei da Espanha para o presidente da Venezuela sonoriza agora a chamada de celulares e já rendeu cerca de R$ 4 milhões a empresas do ramo. Meio milhão de usuários do aparelhinho reverbera a expressão de gosto duvidoso, em meio aos sinos natalinos que convocam às compras.

    Um outro “cale-se”, secular, também fez a riqueza ibérica no processo de colonização das terras do Novo Mundo. Ele foi imposto sobre os nativos da América, explorados em sua força de trabalho e despojados de sua cultura, de seus bens, de sua própria história. Aztecas, incas, maias e diversos outros povos foram silenciados por dinastias a serviço da conquista mercantil-metalista.

    Ainda como parte do processo de acumulação primitiva de capital, base da Revolução Industrial que consolidou a hegemonia capitalista no planeta, foi notável o “cala a boca” sobre os povos africanos. Estima-se que o continente foi sangrado, do século XV ao XX, da dominação colonial à espoliação imperialista, em 60 milhões de vidas! Dez vezes mais que o terrível holocausto judeu na 2ª Guerra Mundial. Dos quase 11 de milhões de africanos, de diferentes nações, trazidos como escravos para as Américas, metade veio para o Brasil. Sob os ferros do trabalho e silêncio forçados.

    Mas há agora um silenciamento de novo tipo, muito mais relevante que o episódio Juan Carlos/Hugo Chávez, e que deita raízes em nosso passado histórico. Os silenciados do século XXI, herdeiros de nativos e negros escravizados, são os que compõem a massa mestiça de pobres, em especial aqueles que habitam as grimpas dos morros e as periferias de nossas grandes cidades. Para estes, a invisibilidade vem desde o nascimento, porque não há lugar para eles no ordenamento social; algumas autoridades até os consideram bandidos em potencial.

    Ao defender a afirmação do Secretário de Segurança do Rio, segundo a qual um tiroteio em favelas da zona sul é diferente de um na Vila Vintém, um leitor escreveu ao O GLOBO, em 24/10: “o fato de as favelas na zona sul se localizarem muito próximas à população justifica inteiramente sua declaração”. São recorrentes as manchetes noticiando a “noite em claro” e o “susto” dos moradores de bairros de classe média ou alta em função de conflitos armados nos morros, como se as pessoas da comunidade favelada no epicentro do confronto não tivessem ficado insones e em desespero...

    O avanço conservador grita um polifônico “cale-se” também aos que batalham contra a discriminação étnica e cultural. Até datas que, por justiça, ganham destaque no calendário, afirmando a resistência indígena e a consciência negra, são taxadas de estimuladoras do “ódio racial”, desatentos os críticos do fato de que a escravidão foi também uma forma cruel de racismo.

    A sociedade do fundamentalismo de mercado e da egolatria gera um sutil mas feroz apartheid social. Parcelas fora do círculo de hiperconsumo contínuo e crescente, isoladas em grandes guetos, onde as políticas públicas e a autoridade estatal democrática não chegam, vão sendo expropriadas de sua própria condição humana.

    Desumanizados, segmentos crescentes desse mundo, especialmente seus jovens, reagem à “ninguendade” a que são condenados através da auto-afirmação despótica no varejo das drogas ilícitas e das armas. São os breves soldados que, iludidos com seu efêmero poder, cumprem as ordens dos inatacáveis atacadistas de um grande e transnacional negócio. À palavra irada desses meninos-falcões, tantas vezes ouvida na forma de tiros, urge sobrepor o clamor contra os empresários - barões da violência crescente, com seus aliados nos poderes públicos, corrompidos com propinas e outros financiamentos, inclusive eleitorais.

    Um desafio aos jovens cineastas e jornalistas investigativos: desvendar e reportar os caminhos da produção e circulação das drogas ilícitas e das armas nas altas esferas e nas grandes rodovias, portos e aeroportos. Muito doutor bem falante vai preferir o silêncio e essa invisibilidade que seus esquemas impõem, de mil formas e há 500 anos, aos debaixo.

    (*) Chico Alencar professor de História e deputado federal (PSOL/RJ).