sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tropeços do cavalo



Escrito por Frei Betto

Fala-se muito em neoliberalismo para definir o novo caráter do capitalismo. O que significa isso? A essência do capitalismo é a progressiva acumulação do capital em mãos privadas. Os bens já não têm valor de uso, têm valor de troca. Não são para se viver, são para se vender. No capitalismo, o dinheiro – essa abstração que representa valor – está acima dos direitos e das necessidades das pessoas.

Como observa Houtart, após a Segunda Guerra Mundial três fatores puxaram as rédeas do cavalo de corrida chamado capitalismo: o fortalecimento do movimento operário e o medo da expansão do comunismo, que fizeram com que os Estados burgueses regulassem os direitos trabalhistas; a implantação do socialismo no Leste europeu; o projeto de desenvolvimento nacional em países pobres como o Brasil (conferência de Bandung, Indonésia, 1955).

Esses três fatores eram a pedra no casco do sistema capitalista que, por força deles, se viu obrigado a reduzir seu nível de acumulação e sua liberdade de apropriar-se de tudo que possa gerar riqueza.

O cavalo reagiu. Deu um coice na regulação do trabalho, lesando os direitos dos operários (sob os eufemismos de flexibilização, terceirização etc.), desmobilizando o movimento sindical e aumentando consideravelmente o índice de trabalhadores informais e o desemprego, agravados pela crescente informatização da economia.

O segundo coice foi no socialismo, com a derrubada do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, acrescido da cooptação da China. O terceiro, a globocolonização, a internacionalização da economia e a imposição ao planeta de um único modelo de sociedade, o anglo-saxônico, que predomina na zona rica do planeta.

Eis o neoliberalismo: livre de rédeas e freios, o cavalo corria desabalado na pista da acumulação.

Ocorre que a vida é feita de imprevistos. O sistema carrega em si suas próprias contradições. Como apontou Marx, ele é o seu próprio coveiro. E, agora, o cavalo vê-se obrigado a desacelerar sua corrida por força da crise ecológica (o aquecimento global), da crise de superprodução (há mais oferta que demanda de produtos) e da atual crise financeira que exaure os bancos dos EUA, faz mais de um milhão de pessoas verem evaporar seu sonho de casa própria e provoca, em um mês, o desemprego de mais de 35 mil bancários estadunidenses.

Os governos dos países capitalistas vivem se queixando de que o déficit público é alto e eles não têm dinheiro para o essencial: alimentação, saúde, educação etc. Porém, na hora em que o cavalo tropeça, o dinheiro imediatamente aparece para socorrê-lo. Bush liberou US$ 145 bilhões para tentar evitar a recessão americana e os Bancos Centrais do mundo rico tratam de disponibilizar seus balões de oxigênio financeiro aos bancos asfixiados pela crise ou em agonia diante de um mercado inadimplente.

Ora, não viviam clamando que o mercado é o melhor regulador da economia? Não viviam apregoando "menos Estado e mais mercado"? Por que agora todos correm aos braços acolhedores do Estado de bem-estar financeiro? E de onde veio toda essa fortuna, antes negada aos direitos sociais, ao socorro da África, ao cumprimento das Metas do Milênio?

A recente reunião de Davos, clube que aglutina os donos do dinheiro, foi como um conclave de cardeais que, súbito, descobrem que Deus não existe. Eis abalada a fé no mercado. Se ele trouxe tantas bênçãos aos eleitos da fortuna, agora ameaça com maldições.

O curioso é que a origem do problema não é mundial. É local, nos EUA. Como toda a economia mundial atrelou-se à hegemonia unipolar de Wall Street, se este espirra, o mundo se gripa. Resta esperar para conferir se a gripe é passageira, curável com um analgésico ou levará o doente à cama, acometido por febres e infecções.

O que ninguém duvida, entretanto, é que, mais uma vez, a conta de tantos tropeços do cavalo será paga pelos pobres. Assim funciona o sistema que promete liberdade, prosperidade e paz para todos, mas não cumpre. Há que se buscar um outro mundo possível.

Frei Betto é escritor, autor de "A mosca azul – reflexão sobre o poder" (Rocco), entre outros livros.

YES


yesband2

Foi através deste álbum que eu tomei conhecimento da banda, e guardo até hoje o meu vinil, com carinho. Simplesmente imperdível. A faixa "And You And I", é uma verdadeira viagem!


Close to The Edge ( Próximo à Margem), [1972]
Studio Album, released in 1972

Tracks

1. Close To The Edge (18:50)
2. And You And I (10:09)
3. Siberian Khatru (8:57)

Créditos: jimihendrixforever

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Site Oficial da Banda, Click
UM EPITÁFIO PARA O PT

Por Marco Arenhart.

A morte política do PT tem sido anunciada ou celebrada praticamente desde seu nascimento. Muitos desses anúncios têm pouca importância por serem apenas frutos de disputas e confrontações de adversários ou dissidentes. Eles podem ser contraditos facilmente como fazia Mark Twain, em relação aos seus freqüentes obituários: “as notícias sobre minha morte são um tanto prematuras”. Mas, hoje, podemos perceber um momento histórico no qual é preciso pensar seriamente em um epitáfio digno do grande partido operário brasileiro.

Compor epitáfios não é uma tarefa fácil. Registrar em pedra duradoura a síntese de uma vida, particularmente das intensamente vividas, é um compromisso demasiado sério – ou não. Este registro duradouro é uma tradição tão antiga quanto a escrita. Do relato da vida de faraós ao simples encomendar da alma aos deuses por um comerciante assírio, estes epitáfios constituem uma valiosa fonte para a compreensão da história humana, especialmente a partir da perspectiva das pessoas comuns.

Dos ex-votos das estrelas da antigüidade, que apelavam por favores divinos na próxima vida, os epitáfios evoluíram para assumir, em meados do século XIX, no ocidente, um tom irônico, mesmo jocoso, as vezes desafiando a morte e os vivos. Devemos encarar essas mudanças no caráter das mensagens à posteridade como fruto do secularismo que impregnou a cultura contemporânea. Sem o conforto metafísico da eternidade da alma, o humor acaba sendo um grande aliado. Graças a isso, ao invés de prometer sacrifícios de cabras ou votos de castidade, muitos epitáfios nos presentearam com verdadeiros diamantes literários.

Um rápido passeio entre essas mensagens garante muitas reflexões e uma boa diversão:

No túmulo de de Robespierre:

Passant, ne pleure pas ma mort (Passante, não chores minha morte)

Si je vivais tu serais mort. (Se eu vivesse tu estarias morto)

Em um cemitério de Thurmont, Maryland

Aqui jaz um ateu completamente vestido para não ir a lugar algum.


De Moliere, escrito por ele mesmo:

Aqui jaz Moliere o rei dos atores

Neste momento se faz de morto

e de verdade o faz muito bem


De William Shakespeare

Good friend for Jesus sake forebear

To dig the dust enclosed here

Blessed be the man that spares these stones

And cursed be he that moves my bones

(Caro amigo em nome de Jesus abstenha-se

De cavar o pó que aqui se encontra

Abençoado o homem que preserve estas pedras

E amaldiçoado seja aquele que mover meus ossos)

De Werner Heisenberg (que formulou o princípio da incerteza)

He lies here, somewhere. (Ele jaz aqui, em algum lugar.)

De Groucho Marx

Groucho Marx 1890-1977 (mas ele queria: “Desculpe-me mas não posso levantar.”)

De Karl Marx

Trabalhadores de todas as nações, unam-se. Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de várias formas; a questão é mudá-lo.

De Fernando Pessoa

Fui o que não sou

Do filósofo cínico Diógenes:

Ao morrer, joguem-me aos lobos

já estou acostumado

De George Bernard Shaw

I knew if I waited around long enough something like this would happen

(Eu sabia que se eu esperasse por aqui o bastante algo assim iria acontecer.)

Do Mausoléu de Júlio de Castilhos (do pensamento positivista de Augusto Comte):

Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos

Refletindo sobre esses epitáfios, sou obrigado a reconhecer que a tarefa à qual me propus está muito além de minha capacidade literária. Mas não sou pessoa de desistir facilmente e o ônus de encarar o resultado fica transferido para o leitor.

Propor um epitáfio para o PT é necessário, primeiro porque ele é digno de algo mais que uma sepultura de indigente sob o edifício da estatal eleitoral na qual a sigla se converteu; segundo porque os anúncios de sua morte, feitos por detratores costumeiros ou por aqueles que desejam construir seus “own private PT” , alem de pouca credibilidade, não fazem justiça à bela experiência vivida por milhares de lutadores sociais deste país.

O PT sempre será o maior partido operário do Brasil.

Foi de fato um partido de caráter operário, por sua composição social, suas táticas políticas e seu esboço estratégico dos primeiros anos. A convergência entre lutadores sociais (assalariados, estudantes, ativistas comunitários, camponeses sem terra e pequenos agricultores, que compuseram a maioria numérica dos membros de milhares de núcleos de base que viabilizaram sua organização) e grupos que defendiam uma estratégia socialista e marxista. Todos esses deram ao partido o potencial de vir a ser um instrumento de profundas transformações sociais e mesmo, dentro de conjunturas especiais, um vir a ser revolucionário. Mas, é obvio, isto nunca passou de uma mera possibilidade. Livros e mais livros estão sendo e serão escritos para entendermos como e porquê o PT teve a trajetória que agora podemos ver em perspectiva. Podemos formular hipóteses sobre a conjuntura política global após a queda do muro, sobre o poder de cooptação do Estado clientelista latino-americano, sobre o caráter oportunista de Lula e dos chefes do campo majoritário, sobre as debilidades da esquerda petista, que não assumiu a responsabilidade da defesa da estratégia revolucionária dentro do partido (1) ; e assim por diante, até o infinito. Mas a evolução – ou melhor , deterioração – não nega seu caráter originário, como de inúmeros outros partidos ao longo dos últimos duzentos anos de luta operária.

Sempre será o maior porque antes dele houveram outros que não tiveram sequer perto da dimensão política e social do PT. Temos que reconhecer, também, o caráter de partido operário do PCB fundado em 1922, antes de resvalar para a abominação stalinista na década de 30. Mas ,neste período, o PCB teve pouca relevância . No futuro nenhum outro partido operário será maior que o PT pelo simples fato que a história da luta social já não comporta mais este tipo de partido. As transformações dos sujeitos políticos e sociais decorrentes da evolução do capitalismo demandam novas formas de luta e organização. Nove anos após Seatle, 14 anos após a insurgência zapatista, depois do FSM, passando pela reorganização dos mercados globais e pela precarização das relações formais de trabalho, faz sentido colocar o partido operário como sujeito central da luta? Lutar certamente é preciso. Mais do que nunca, pois o rumo da humanidade aponta não para sua libertação, mas para o aprofundamento da escravização pela mercadoria e pela tecnologia a serviço do capital. Porém as formas de luta precisam se adaptar à realidade política da época em que vivemos. Os clássicos da política são referências importantes, mas não manuais. Se o capitalismo se reinventa constantemente, precisamos reinventar também as formas de articulação da luta anti-capitalista no mesmo ritmo, dessacralizando nossas tradições e histórias, sem menosprezá-las. E ainda, precisamos discernir o que se deve transformar e o qual é excrescência que permanece.

Insisto, justamente por esta sua relevância histórica, que o partido transformador que idealizamos não pode ficar sem uma sepultura digna. Muitos dos seus feitos vão se desmanchando no ar e é por isso que uma mensagem precisa ser gravada de forma pétrea, para que não se esqueça tudo que ele representou. Ao menos uma lição precisa ser preservada.

Da sua morte política, se tínhamos alguma dúvida, ela se dissipou em razão esforço de alguns petistas. Presos aos princípios originais do partido por alguma dívida moral ou coisa parecida, articularam uma plataforma de “refundação” do PT. Formada por várias das correntes de “esquerda” e algumas figuras “históricas”, essa plataforma formulou a hipótese de que seria possível - dentro das limitações das compreensões políticas internas à própria plataforma – recolocar o partido no caminho da ação como sujeito de transformação social (dizer socialista seria ingenuidade demais). Apesar das idiossincrasias deste projeto, havia que se observar seu desfecho, porque, mesmo que não saísse vitorioso, poderia ter tido peso suficiente para estabelecer um ponto de virada no debate interno. Se a proposta de refundação tivesse quebrado a maioria absoluta do campo majoritário e ido para a disputa da presidência partidária em segundo turno, um fio de esperança poderia renascer. Afinal de contas, todo escândalo em torno do mensalão e das atribulações do comandante José Dirceu poderiam ter servido para abrir os olhos da militância. Mas, o resultado da eleição interna, realizada em fins de 2007, colocou a plataforma de “refundação” em terceiro lugar, tanto na composição do Diretório Nacional quanto na disputa pela Presidência, sendo superada no segundo lugar por uma anexo do campo majoritário, capitaneado pela máquina eleitoralista paulista. O resultado desta votação decisiva para o partido mostrou que a militância histórica e comprometida com um projeto de partido transformador, está sufocada no meio de filiações em massa de “cabos eleitorais” que vêem o PT como atalho para ascensão social. No final das contas, a 'combi-lotação' superou o projeto de “refundação”.

A única coisa que resta a esta militância sincera, porem cansada, atropelada pela história, que ainda sobrevive em meio às engrenagens da máquina eleitoral que chamam de PT, é achar um repouso para os ossos do que outrora fora seu partido. Mas como achar uma síntese de experiência tão rica que mereça os entalhes na lápide?

Nesta hora, vem em socorro o comandante Dirceu. Quem teve o duvidável prazer de ler a infame entrevista publicada na revista Piauí (2) (que pertence ao grupo editorial Abril), viu um desfile de confissões vergonhosas. Desde relatos de crimes de prevaricação, como ceder veículo de uma embaixada para fazer compras pessoais, até admitir abertamente o tráfico de influência, é tudo muito deprimente. Sem constrangimento admitiu que usa sua carteira de relações com integrantes do governo para articular lobies, como se ignorasse que o que esta vendendo não é o profissional independente José Dirceu mas o presidente do PT, o ministro da Casa Civil, o amigo do Lula etc. Dirceu parece concordar que o único crime punido no Brasil é ser pobre e por esta razão se esforça para manter-se longe da cadeia. Alem da falta de ética, Dirceu demonstra uma falta de caráter extraordinário - que deve ter sido a fonte do seu sucesso dentro do partido - ao levantar insinuações levianas contra seus desafetos (Heloisa Helena, Raul Pont). E, por final, uma pérola: “eu nunca fui estalinista!”. Desta afirmação se deduz que ele nunca compreendeu o verdadeiro caráter do stalinismo e, por extensão, do marxismo (o que seria verdade para muita gente, mas não para ele em particular) ou é um cínico de marca maior.

Se eu chegar a conclusão de que José Dirceu é o cínico que aparenta ser, nada mais justo do que aproveitar suas palavras para compor o derradeiro epitáfio para o PT (não a sigla da máquina eleitoral que, por muitos anos, permanecerá no cento do poder, mas o partido da transformação social que embalou nossos sonhos por duas décadas). Basta inverter o sentido e ai teremos sua visão sincera da realidade. De um artigo publicado na Folha de São Paulo em 13/02/08, podemos parafrasear:

“Aqui jaz o Partido dos Trabalhadores. Morreu porque não soube manter seus compromissos históricos, nem ser fiel a uma moral socialista, abandonando o povo brasileiro no combate por sua libertação.”

Parafraseando um pouco mais, busco de Getúlio Vargas o desfecho:

“Deixa a História para entrar na (boa) vida.”

Florianópolis, 23 de fevereiro de 2008.

1. Aqui abro um parêntese sobre a responsabilidade na defesa da estratégia revolucionária, assumida pelas correntes de esquerda. Por mais de 20 anos, militei no PT enquanto membro de uma das ditas correntes de esquerda revolucionárias. Mesmo a distância que mantenho agora não impede reconhecer que a teoria e o programa revolucionário que tínhamos credenciais para defender, eram e continuam sendo alguns dos bens mais preciosos da cultura política e o melhor que se pode despreender do marxismo. Não pretendo desmerecer o valor de outras tradições – anarquistas, autonomistas, situacionistas, utópicas, humanistas e outras, que compõem a diversidade de caminhos possíveis para a emancipação da humanidade. Apenas reafirmo minha opinião de que o marxismo continua sendo, apesar de subprodutos abomináveis que derivaram, o caminho mais consistente para a realização desta emancipação. Voltando para os grupos que atuavam no PT sob esta perspectiva estratégica, fica claro hoje que eles não estavam à altura da responsabilidade que reivindicavam. Recordo um episódio emblemático, quando , no final dos anos 80, no Rio Grande do Sul, Flávio Koutzi, em nome desta esquerda, disputava a candidatura de um cargo majoritário com um grande nome partidário (não recordo se era Olívio Dutra ou Tarso Genro). Nesta ocasião, Koutzi respondeu a uma matéria de um boletim partidário de São Paulo, indagado se levaria a disputa até as últimas conseqüências, que “não era irresponsável”. O que Koutzi quis dizer foi que, embora houvesse uma disputa de estratégia, o eleitoralismo superava de longe qualquer outro projeto. A responsabilidade da esquerda petista, apesar de dar o colorido da diversidade ideológica ao partido, era fundamentalmente contribuir com a contabilização de votos para o partido e , é claro, receber seu quinhão dos frutos obtidos, como pode ser visto anos mais tarde no loteamento de ministérios do governo Lula.

2. Edição de janeiro/2008, www.revistapiaui.com.br .

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NÃO APENAS A ILUSÃO, MAS A REALIDADE DA 'MUDANÇA'"
Mumia Abu-Jamal

Qual melhor maneira de manipular as massas senão propagando mentiras como se fossem verdades, sem falar nada realmente importante como se o dito fosse o mais transparente possível. Este é o discurso dúbio do mais novo famoso norte americano, ainda que cínico e oportunista, chamado Barack Hussein Obama. Ele é mais uma prova de que "América é como um caldeirão de mistura. As pessoas do fundo se queimam e a espuma flutua no topo".

A superficialidade e o racismo da América branca é amplamente exposta pela tendência de hoje afirmar que uma real mudança econômica e política depende somente da cor de pele. É um fato, que com certeza, o Sr. Obama ou os seus companheiros não ignoram. Uma mulher branca, educadora de universidade e defensora de Barack Obama, recentemente afirmou em rede nacional que gostaria de "ver o componente 'cor' eliminado das 'ações afirmativas'", pois que "há igualdade de raça na América". Ela deixou claro que se acha injustiçada em sua missão racial porque, como ela orgulhosamente afirmou, depois de tudo, "voto em Barack Obama, um homem negro para Presidente dos Estados Unidos". Em nome de dar Poder aos oprimidos, Barack Obama e seus aliados estão realmente interessados nos negócios e na exploração de latinos, negros e indígenas.

Alguém se lembra da Condoleeza Rice? Ela é biologicamente negra e com certeza ela não representa mudança econômica e política. Ah, sim, e não podemos esquecer-nos do, também biologicamente negro, Colin Powell. Lembra-se dele, não lembra? O primeiro Secretário do Estado negro dos EUA, que foi às Nações Unidas e contou ao mundo todo a maior mentira, afirmando que "o Iraque possuía armas de destruição em massa", o que resultou na justificativa para a invasão e ocupação do Iraque pelos EUA. Assim, identificar mecanicamente a realidade e necessidade de mudanças sociais, políticas e econômicas com cor de pele é absurdo, é cínico e muito perigoso.

Mas trata-se de um fator importante do qual Barack Obama e seus manipuladores estão cinicamente contando. Eles sabem que uma parte significante da população americana, incluindo muitos brancos, quer reais mudanças. Então porque não dar a eles "meias verdades", grandes doses de discursos ambíguos ao invés da realidade? Esta estratégia serve para agradar, gerar confiança da população e ao mesmo tempo confundir eleitores, especialmente os jovens e aqueles que participam do processo pela primeira vez. É uma tática efetiva, mas cínica e desonesta.

Naturalmente, não resistindo à dose enorme de discurso ambíguo, há o disfarce de Obama, que retoricamente esconde-se "como candidato da paz", quando de fato ele é o candidato da guerra, tendo afirmado ser a favor de ações militares "unilaterais" dos EUA em outras nações -- supostamente em "busca dos reais terroristas". Em outras palavras, ele é a favor destas ações que são a sanção do Estado para supostamente perseguir indivíduos e organizações "terroristas" em outras nações. Enquanto esta retórica militarista disfarçada de Obama soa como mordidas saborosas para meios de comunicação, na verdade é material de cinismo, traição do povo e loucura.

Por mais de sete anos, George W. Bush e seu grupo, repetidamente, têm ilustrado um absurdo e perigoso programa, nacional e internacionalmente. Ainda, Obama, o tão chamado "candidato da mudança", está simplesmente trazendo as mesmas ações antigas, perigosas e falhas com uma retórica brilhosa, mas extremamente perigosa. Ele não é o candidato da paz. De acordo com o próprio Obama, ele está desejoso a empreender uma guerra, mas da "maneira correta", com uma máquina de matar mais eficiente.

Com certeza, ele nunca esteve pessoalmente em uma batalha mortal, nesta nação ou fora dela, onde partes do corpo se quebram e vidas se acabam. Ele nunca foi confinado e torturado em prisões norte americanas, ou teve familiares negros torturados por membros do Departamento de Polícia de Chicago ou Illinois. Esta não é a "maneira correta" de empreender uma guerra. Guerra não é anti-séptica. Não é limpa. É sangrenta e horrível: a única "maneira correta" de fazer Guerra é evitando-a e especialmente o uso da força militar unilateral dos USA.

Os partidos dos Democrata e Republicano há um longo tempo se igualam por negarem, em qualquer sentido real, os interesses da vasta maioria da população. As políticas destes dois partidos continuam a mover a América, como uma nação, da frigideira ao fogo proverbial. Para pessoas negras, indíginas ou de qualquer outra etnia da América e por todo o mundo, isto deve ser - e é - uma grande preocupação.

Ironicamente, é uma séria candidata do povo quem está fora dos partidos Democrata e Republicano. Trata-se da a ex-integrante do Congresso Americano, Cynthia McKinney, que teve a integridade e bravura de deixar o partido Democrata e declarar seu apoio à coalizão nacional "Poder para o Povo", que hoje apóia a sua candidatura a Presidência dos EUA. Por isto, ela tem sido ignorada e freqüentemente atacada pela mídia dos EUA. Muitos na América do século 21, o povo, não tem acesso à integridade, mas sim à hipocrisia.

Mudança e poder real não virão de retórica cínica, sem substância e ofuscante que manipula a população. Antes, virá da mudança do sistema, começando pelas pessoas – que são alimentadas pelas conspirações e hipocrisias dos partidos Democratas e Republicanos.

Não importa o que aconteça em breve ou continue acontecendo nos meios de comunicação, referindo-se a comitês eleitorais nos Estados Unidos. Não importa quem esses meios de comunicação irão apresentar como grandes "favoritos" a presidência, pelos Democratas e Republicanos, pois justiça e integridade nunca pode emanar de um sistema intrinsecamente injusto, amoral e hipócrita, como dos EUA. Além do mais, quando vemos os candidatos destes partidos, incluindo a candidatura de Barack Obama, lembramo-nos de um velho provérbio africano: "Cuidado com o homem nu que te oferece vestimentas".

Neste ano de 2008 está na hora de analisar, organizar, educar e liberar verdadeiramente a nós, e nossos irmãos e irmãs. É tempo de fazer isto tornar se realidade. Vamos em frente. A luta continua.

- - -

Mumia Abu-Jamal, jornalista, radialista e militante negro, foi apresentador do popular programa de rádio "A voz dos sem-voz". Mumia foi preso em 9 de dezembro de 1981, sob a acusação de ter assassinado um oficial de polícia de Filadélfia, EUA. Condenado à morte injustamente como suposto assassino, Mumia Abu-Jamal está há quase 27 anos no corredor da morte lutando por justiça e liberdade. É autor do livro "Ao vivo no corredor da morte" (Conrad Editora).

The Radical Alternative, coluna escrita em 28/1/08

Fonte: http://www.runcynthiarun.org/Endorsements/MumiaAbuJamal

(c) '08 Mumia Abu-Jamal

Tradução: Sara Rangel

Revisão: Alexandre Magalhães

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Carlos Montoya - The Gold Collection - 1998

The Gold Collection - 1998


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Disco 1
1. Tango Flamenco
2. Malagueña
3. Tango Antiguo
4. Granadinas
5. Soleares
6. Solea Cana
7. Levante
8. Chufla
9. Rumbeao
10. Aires de Genil
11. Variaciones
12. Seguiriya
13. Tanguillo; Zambrilla
14. Bulerias
15. Alhambra-Granada
16. Caribe E Flamenco

Disco 2
1. Fandango
2. Macerna en Tango
3. Alegrias
4. Farrúca
5. Jerez
6. Zambra
7. Saeta en Sevilla
8. Cante Jondo
9. Malaga
10. Provencal
11. Zapsteap
12. Taranto
13. Variaciones Por Rosa: Alegrias
14. Solea: Bulerias Por Solea
15. Bolero Maorquie/Castilla/Galicia
16. Fandango de Huelva y Verdiales


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“O embaixador dos EUA lidera a conspiração contra meu governo”

Presidente da Bolívia acusa embaixador dos Estados Unidos no país de conspirar contra o governo e de tentar repetir no país "o que fizeram no Kosovo". Evo Morales revela que camponeses e indígenas já pediram armas para defender o governo, mas defende revolução pelas urnas e não pelas armas.

Às sete da manhã, o Palácio Quemado já está um formigueiro e os ministros devem ter paciência para conversar com o chefe de Estado. “É assim mesmo”, diz um embaixador com experiência na dinâmica “evista” a um ministro novato no gabinete que se impacienta com a demora de Evo Morales em chegar a uma reunião com exportadores.

Em um intervalo de alguns minutos, o líder cocalero conversou com Il Manifesto sobre temas da atualidade nacional e internacional. Enquanto tomava um suco de mamão, acusou o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, de conspirar contra seu governo e de tentar repetir na Bolívia “o que fizeram no Kosovo”. Admite que camponeses e indígenas pediram armas para defender o governo diante das demandas autonomistas de Santa Cruz. E assinala que, se o diálogo não avançar, a saída será convocar um referendo revogatório para o presidente e os governadores, “para que o povo diga a quem apóia”.

Il Manifesto: Como é possível retomar o diálogo com os governadores opositores?
Evo Morales: Nós apostamos na autonomia. No referendo de 2006, a maioria dos bolivianos disse “Não”, mas em quatro regiões ganhou o “Sim”. Por isso garantimos autonomias na nova Constituição e sinto que é necessário criar um espaço no Poder Executivo, um ministério de Autonomias que comece a construir com os movimentos sociais uma autonomia baseada na legalidade e na solidariedade entre regiões. Mas alguns grupos confundem autonomia com separação ou independência.

Il Manifesto: Santa Cruz segue avançando direção de seu referendo autonomista de 4 de maio...
Evo Morales: Gostaríamos que parassem para que pudéssemos avançar juntos.

Il Manifesto: Se o diálogo fracassar segue valendo a proposta do referendo revogatório?
Evo Morales: Exato. Por isso dissemos que apostamos nas urnas e não nas armas.

Il Manifesto: Mas admitiu também que alguns setores campesinos pediram armas para defender o governo. Como é isso?
Evo Morales: Recebi algumas ligações telefônicas e sou transparente. Comentei com a imprensa que tergiversou sobre minhas declarações. Preocupou-me bastante receber chamadas de companheiros do campo e da cidade que me disseram textualmente: “Irmão presidente, quando era dirigente sindical você se fez respeitar, agora nós faremos respeitar, nos dê armas”. Eram fortes as chamadas. Em um certo momento tive que desativar meu celular, que atendo só de madrugada.

Il Manifesto: E qual foi sua resposta a esses pedidos?
Evo Morales: Por certo não estamos de acordo com isso. Disse que é preciso fazer uma revolução nas urnas e não com armas, e estamos cumprindo isso. Mas as agressões e humilhações causam estas reações em nossos companheiros. Inclusive houve uma marcha a La Paz pedindo-me armas. Tudo isso é provocado por uma direita racista que já me chamou de macaco. E se tratam o presidente como um animal, o que podem esperar os camponeses e indígenas?

Il Manifesto: O sr. se referiu ao Kosovo. Crê que pode ocorrer o mesmo na Bolívia?
Evo Morales: Quero que o mundo inteiro saiba é que há uma conspiração contra minha pessoa encabeçada pelo embaixador dos Estados Unidos (Philip Goldberg). Perguntemo-nos de onde veio o embaixador estadunidense (que atuou no Kosovo). Não vamos permitir que os Estados Unidos sigam conspirando para dividir a Bolívia com grupos oligárquicos e mafiosos. Se os EUA lutam contra a corrupção e a injustiça por que não extraditam o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada? (acusado por quase uma centena de mortes, produto da repressão na “guerra do gás” de 2003). Quando os povos se levantam, estas autoridades pró-império e pró-capitalistas correm para onde isso ocorre. Quando já não podem dominar, porque há democracias libertadoras e não comprometidas, os EUA fomentam a divisão.

Il Manifesto: Considera encerrado, com as desculpas do embaixador, o caso da utilização de bolsistas como informantes?
Evo Morales: O senhor Vincent Cooper (funcionário da segurança da embaixada dos EUA) é persona non grata para a Bolívia e o assunto está sendo investigado. Hoje sabemos que utilizam seus estudantes, que vêm com vontade de aprender, para fazer espionagem. Descobrimos até que a polícia boliviana fazia espionagem e perseguições para a embaixada-norte-americana.

Il Manifesto: Acredita que uma vitória democrata nos EUA poderia melhorar as relações?
Evo Morales: Entendo que há políticas de Estado nos EUA, mas gostaríamos que começassem a respeitar os direitos humanos e os processos de libertação e as transformações profundas que estão ocorrendo na América Latina. Para isso, devem pôr fim à prática da espionagem, da tentativa de submissão e da soberba. O ex-embaixador Manuel Rocha chamava-me de Bin Laden.

Il Manifesto: Como viu a saída de Fidel Castro do poder?
Evo Morales: Como o Che, Fidel é um símbolo imbatível para toda a humanidade. É um homem histórico. Em minhas conversas de horas e horas com Fidel ele sempre me falava da vida, da saúde e da educação Hoje isso se materializou na Bolívia com a Operação Milagre, com mais de 100 mil pessoas operadas dos olhos gratuitamente. Ficará um grande vazio.

* Entrevista publicada originalmente em Il Manifesto, Itália

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

"O socialismo cubano não deve deixar de sonhar"

Para o cantor, antes e depois de Fidel, o socialismo deve ser sempre aperfeiçoável. "Somos parte do chamado Terceiro Mundo, onde o modelo neoliberal está em crise. Ou seja, por história, por possibilidades, nível de desenvolvimento e até por geografia acho que o sistema que nos corresponde é o mesmo que temos, ou seja o socialismo", diz Silvio Rodriguez.

O cantor cubano fala em uma entrevista sobre a sucessão de Fidel e garante que não poderia suportar "que se pretenda humilhar nossa história e submeter nossa soberania"

Il Manifesto: Como você imagina a evolução do seu país depois da renúncia de Castro?
SILVIO RODRIGUEZ: Antes, e também depois, da renúncia de Fidel, meu desejo é que o socialismo cubano, sem deixar de pensar no amanhã, esteja também à altura das necessidades de hoje. Que não deixe de sonhar e desejar um ser humano e uma sociedade melhores, mas desde a perspectiva que a atualidade dá, não desde aquela que prefiguraram os pioneiros do socialismo. Uma vez eu já disse isso na Assembléia, quando fui Deputado: que o nosso socialismo devia ser sempre aperfeiçoável.

IM: Que papel terá o Partido Comunista Cubano (PCC)? Pode atrapalhar a abertura, se chegasse a ter uma?
SR: Desde a minha visão de homem sem partido, ainda que com critério, o PCC tem o dever de recolher todas as opiniões do país, não só a daqueles que estão em seu favor. O PCC, por ser partido único, está obrigado a ser plural e polêmico em si mesmo, porque as contradições, a crítica e a autocrítica são fontes muito importantes para o avanço de qualquer sociedade.

IM: E quanto à emigração e exílio?
SR: Ambas as palavras parecem substantivas. A gente diz emigração e pensa em economia, e diz exílio e imediatamente pensa em política. Acho que ambas podem ter um papel no futuro cubano, cada uma na sua medida. A emigração porque tem sido uma vítima da realidade. O exílio porque é uma resposta para si mesma. A única coisa que não suporta nem acho que venha a suportar a maioria dos cubanos é que se pretenda humilhar nossa história e submeter nossa soberania, e com isso trair os ideais de José Martí.

IM: Qual é o principal risco que corre Cuba neste novo período?
SR: Uma interpretação errada dos sinais sociais, ficarmos cegos diante da necessidade de um crescimento, apesar de que não acredito que isso seja o que vai acontecer. Eventualmente, também poderia aparecer algum "gênio" da Casa Branca que de repente decida "nos ajudar" com marines. Esse tipo de barbaridade está sempre latente, por desgraça.

IM: Você acha que a ingerência estrangeira poderia levar a Cuba para a Guerra Civil?
SR: Uma ingerência estrangeira fundiria a nação cubana na sagrada função de se defender.

IM: Que papel pode desempenhar a Espanha neste processo?
SR: Acho que o papel que está desempenhando ultimamente não está mal. Um diálogo fraterno sempre ajuda.

IM: Que modelo de país, que sistema você desejaria para o progresso de Cuba?
SR: Somos parte do chamado Terceiro Mundo, onde o modelo neoliberal está em crise, por ser caminho de exploração e submissão. Ou seja, por história, por possibilidades, por nível de desenvolvimento e até por geografia acho que o sistema que nos corresponde é o mesmo que temos, ou seja o socialismo. Também não tenho dúvida de que o socialismo algum dia pode ceder lugar a um sistema superior, mas isso ainda está por ver.

IM: Ainda é possível ser revolucionário?
SR: Em Cuba, na América Latina, sem dúvida. Espero que também seja possível, ou que pelo menos se compreenda, na Europa.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

Thiago Espírito Santo - Thiago (2005)




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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Hank Mobley - Workout [1961]

É impossível imaginar que esse play tem mais de 40 anos.
A pegada desse cara é embaçada, e ainda tem o Grant Green
e Paul Chambers pra deixar o som mais redondo.
Esse disco do Hank Mobley é fora de serie.
Recomendadíssimo mesmo!
Créditos:Saravaclub


1. Hank Mobley - Workout
2. Hank Mobley - Uh huh
3. Hank Mobley - Smokin'
4. Hank Mobley - The best things in life are free
5. Hank Mobley - Greasin' easy
6. Hank Mobley - Three coins in a fountain


FELICIDADE REALISTA

Mário Quintana

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o
que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais
complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos,
além de saúde, ser
magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a
comida e o cinema:
queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa
cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos
alguém com quem podemos
conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em
quando. Isso é pensar
pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos
estar visceralmente
apaixonados, queremos ser surpreendidos por
declarações e presentes
inesperados, queremos jantar à luz de velas de
segunda a domingo, queremos
sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e
não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes!