terça-feira, 22 de abril de 2008

Uribe e os direitos humanos


Laerte Braga


Toda a pressão do líder terrorista George Bush não conseguiu ainda vencer a resistência dos senadores norte-americanos na tentativa de aprovar o projeto que estabelece relações de livre comércio com a nova colônia dos EUA na América do Sul, a Colômbia.



Um documento com assinatura de 62 senadores exige explicações sobre os assassinatos de dirigentes da marcha de 600 mil colombianos contra Uribe, em Bogotá e nas principais cidades da Colômbia e que, segundo o narcotraficante designado governador geral foi organizada pelas FARCs.



Esse tipo de notícia não aparece por aqui, pois a GLOBO decretou guerra à Venezuela e o general William Bonner deve considerar que o mundo de Homer Simpson que se ajoelha diariamente diante do altar/tevê para vê-lo descer dos céus com sua espada/notícias de arcanjo da mentira, não deve saber desses fatos ímpios.



Em 12 de abril Yolanda Pulécio, mãe da ex-senadora Ingrid Betancourt, em intervenção no encontro de intelectuais em Caracas, agradeceu ao presidente Chávez “por todo lo que ha hecho para lograr la liberación de los retenidos. Lamentándolo mucho, mi hija Ingrid no ha podido ser liberada, pero me siento confiada con el trabajo que usted realiza para conseguir esa liberación”.



A julgar pelo noticiário divulgado pelo governo terrorista do tráfico em Bogotá, a essa altura do campeonato Ingrid Betancourt deveria estar morta. Leishmaniose, greve de fome, hepatite B e malária, é muita teimosia em viver.



O que o general Bonner não revela em seu comunicado diário que chama de JORNAL NACIONAL é que a senadora Piedad Córdoba, principal adversária do narcotráfico na Colômbia em criticas ao presidente Uribe mostrou o desejo dos colombianos de viver em paz, com negociações, o fim da guerra civil e que uma eventual candidatura de Ingrid Betancourt colocaria em xeque os “negócios” de Uribe e sua reeleição.



Arrancada a fórceps, num terceiro mandato, no golpe controlado por Washington.



Fujimori está preso no Peru? Habemus Fujimori na Colômbia.



O governador geral da província colombiana na América do Sul Álvaro Uribe através dos esquadrões da morte já eliminou seis organizadores da marcha pela paz e um sem número de prisões indiscriminadas lotam as cadeias de Bogotá e Medelin, na tentativa de afastar qualquer obstáculo ao controle efetivo do país tanto pelos Estados Unidos, como pelo tráfico.



A fala de um general brasileiro que o reconhecimento de nações indígenas coloca a soberania da Amazônia em risco, mostra mais uma vez, o absoluto desconhecimento dos militares brasileiros, mesmo aqueles que se pretendem nacionalistas, da realidade que nos cerca. A Amazônia está sob controle do SIVAM (Sistema de Monitoramento Aéreo) realizado por militares norte-americanos com subalternos brasileiros.



A região é usada para vôos de abastecimento militar para a Colômbia, levantamento e mapeamento das riquezas minerais através de informações de satélites e um antigo líder do governo FHC, atualmente ministro de Lula, afirma que as FARCs serão recebidas a bala. Já os americanos que controlam a região não. Ou pelo menos outro tipo de bala. Falo de Nelson Jobim, sobrevivente por profissão.



Registre-se que o SIVAM foi iniciado também no governo FHC e o general nacionalista falou na FIESP, centro dos interesses internacionais sobre o Brasil. É o nacionalismo de cabeça para baixo.



Como em 1964, Colocaram na cabeça dos militares que seriam eles os responsáveis pela democracia, a ordem, a transformação do Brasil em grande potência e usaram-nos como polícia cruel e sanguinária de uma ditadura brutal e violenta nascida em Washington.



Não são as terras indígenas que irão transformar o Brasil em colônia, mas as políticas equivocadas de PAC. Os entendimentos supostamente nacionalistas de generais monitorados por uma ideologia estranha aos interesses nacionais, empresas como a VALE, a ARACRUZ e o arremate, em 2010 com a eventual eleição de mais um funcionário qualificado dos EUA, o que finge ser governador de São Paulo, José Serra.



Quando acordamos estaremos todos no tronco.



A mãe de Ingrid Betancourt em sua singeleza de mãe percebeu tudo isso.

> Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Ilustração: Táia Rocha

O Homem Dos Olhos De Vidro
Num grande círculo que recebia o sol.

(para Santin)

Foi lá na Fazenda Klabin, em 2004, que me lembro de tê-lo visto a primeira vez: a ocupação acontecera sem incidentes, e olha que era uma baita ocupação - 500 famílias e o maior latifúndio do Estado de Santa Catarina, totalmente devastado dos pinheiros que tivera um dia.
Fôramos para lá sem saber para aonde iríamos, como é de costume; soubéramos que iríamos meia hora antes de sair de casa, e aí existe aquele ritual de botar roupas escuras para ficar-se menos visível caso a polícia ou as milícias do patrão venham a atirar na gente, botar na bolsa uma garrafa d’água e algo de comer, pois nunca se sabe até onde se vai e quando se volta, e depois há que se esperar em algum ponto combinado, para que venham instruções para o telefone celular de alguém, e então se segue até o ponto seguinte e se aguarda novas instruções, e assim a noite segue. Quase já na área que continuava desconhecida, silenciosos e imóveis na escuridão de um pátio, víamos intensa movimentação de carros de polícia: alguém desconfiara de alguma coisa, alguém dera algum alerta, e então os cuidados tinham que ser redobrados para se evitar incidentes. No comando de toda a operação, o Homem dos Olhos de Vidro, que eu ainda não conhecia, mas que conhecia muito bem as rotas e os perigos, e que tinha tudo pronto para que não houvesse erros. E entre duas passagens dos carros de polícia, saímos quase que pé ante pé, e nos incorporamos, não muito distante, numa estradinha lateral, às quase 500 famílias que já estavam indo, pois havia famílias para a frente e famílias para trás, e a nós coube seguir uma kombi lotada de criancinhas que eram como libélulas batendo as asas na sua algazarra, e éramos seguidos por um caminhãozão carregando uma lona na sua carroceria – numa freada que houve, numa parada que não se sabia para que (mas decerto prevista pelo homem que tinha aqueles olhos), aquela lona se mexeu e de debaixo dela espiaram dezenas, muitas dezenas de pares de olhos de homens que estavam dispostos a qualquer coisa para defender aquelas criancinhas e a terra que decerto viria.

Meio magicamente, a polícia não nos viu, e atravessamos a BR[1] como seres invisíveis, e entramos naquele latifúndio totalmente abandonado, creio que pelas quatro horas da manhã. Já era grande o número de pessoas que lá estava; como num carreiro de formigas, não paravam de chegar outras, de todas as formas possíveis, em todos os veículos possíveis, e acho que não teve quem não engoliu um soluço ao ver o caminhão de carregar gado, de repente, entrar pelo caminho que vinha da rodovia, e dele saltarem as muitas dezenas de homens dispostos a tudo para garantir o pedacinho de chão para a sua família, neste país de tantas terras abandonadas.

E nos dispersamos a olhar aqui e ali, a ajudar aqui e ali, e fazia frio nos campos de alta altitude, e então, em algum momento, o sol começou a nascer por detrás do leste, e então houve a grande reunião de todos os que ali estavam, um grande círculo que como que recebia o sol, e numa lombadinha do campo devastado estava o Homem dos Olhos de Vidro, e foi ali que o conheci. Muita outra gente estava ali, gente de muitos lados, os que vieram para ficar e os que vieram para apoiar, e neste se incluíam os representantes de bispos, e de autoridades municipais daquela cidade que morria pelo abandono da fazenda, e tanta gente, tanta gente unida por seríssimos sonhos que o pessoal que acredita na Veja[2] dificilmente um dia conseguirá entender, e uma coisa a se pensar neste momento é se há mais gente que crê na Veja ou mais gente que crê na idéia de que um mundo melhor é possível. Como não há estatísticas, fica difícil definir tal coisa, mas eu cá, depois de muito andar por aí, tenho minhas dúvidas sobre onde está a maioria...

Voltemos ao Homem dos Olhos de Vidro, no entanto. Seus antepassados tinham sido gerados numa Europa de muita gente de olhos claros, a mesma Europa que gerara os Sem-Terra que haviam chegado à América sob o nome de Imigrantes – era de lá que os olhos transparentes daquele homem tinham vindo, e naquela manhã em que o sol nascia sobre o campo que comportaria muito mais que as 500 famílias que estavam ali, devia fazer muitas noites que ele não dormia, pois seus olhos de vidro estavam vermelhos de tanta falta de sono – não fora nada fácil, com certeza, organizar para que aquela imensa ocupação do imenso latifúndio arrasado acontecesse sem nenhum incidente, mas agora a ocupação estava feita e era o momento ritualístico da posse da terra, e deu-se voz a cada um dos que estavam ali, a cada liderança e a cada representação, e o Homem dos Olhos de Vidro Vermelho a tudo acompanhou e regeu fitando diretamente o sol que subia no céu e que devia provocar muita dor naqueles olhos tão claros – e eu admirei visceralmente a força daquele homem, a força que se expressava na transparência vermelha daqueles olhos que pareciam cristal.

Nunca mais esqueci a força daquela homem, a força que se expressava tão firmemente naquele nascer do sol, na transparência vermelha dos seus olhos de vidro. Desde então, eu o tenho encontrado diversas vezes por aí, sempre nos melhores momentos. Descobri, no entanto, que há outros homens, e também outras mulheres, com olhos de outras cores, com a mesma capacidade de liderança e de organização, e a minha esperança cresceu. Há muita coisa para acontecer, por aí tudo. Um mundo melhor é possível, sim, e é isto que deixa apavorado de medo o pessoal que acredita na Veja.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Brasil na rota da turbulência





Fernando Silva

A elevação da taxa de juros anunciada pelo Banco Central e a explosão dos preços dos alimentos e do petróleo são acontecimentos que podem colocar o Brasil mais rapidamente próximo de um cenário de turbulência econômica e social.

O aumento dos juros deve-se à intocável ortodoxia neoliberal que rege a política econômica do governo Lula. Ortodoxia que não aceita que qualquer fundamento ameace a "estabilidade" da remuneração ao capital financeiro. Cresceu a economia e cresceu o consumo? Pode isso gerar um aumento da inflação que fure as metas estabelecidas pelo Banco Central para atender aos ditames do Consenso de Washington? Na dúvida, aumentam-se os juros e estrangula-se ainda mais o Orçamento para gastos sociais.

O efeito imediato é um aumento de R$ 295 milhões de reais da dívida pública. Nem pensar em mexer nas metas de superávit primário — a porcentagem da riqueza nacional reservada pelos governantes para pagar os juros da dívida, que bateu R$ 109 bilhões entre fevereiro 2007 e fevereiro de 2008. Esse dinheiro é diretamente "extorquido" do Orçamento da União. Do ponto de vista da economia real, segundo admite o próprio presidente do Ipea, Marcio Pochmann, o aumento dos juros já terá impactos visíveis no segundo semestre deste ano.

A bolha das commodities

A explosão dos preços dos alimentos tem na sua raiz o aumento da demanda (procura) mundial por alimentos, insumos e energia após um ciclo de cinco anos de crescimento contínuo, especialmente em países superpopulosos como China e Índia. Mas é cada vez mais relevante a percepção de que estamos em meio a uma "bolha" (supervalorização) no mercado das commodities (os produtos minerais, pecuários e agrícolas com preços mundialmente negociados). Esta nova bolha ainda está em fase de expansão. A alta do petróleo, do ouro e dos alimentos atrai novas montanhas de recursos de investidores, ávidos por lucros rápidos após o desastre dos títulos imobiliários norte-americanos.

É por esse caminho que o Brasil pode estar entrando ainda mais abruptamente num furacão. A opção do governo por colocar o país na vanguarda da exportação de commodities e na produção de agro-combustíveis pode contribuir decisivamente para uma maior dependência e vulnerabilidade do país diante da explosão dos preços dos produtos agrícolas.

O Brasil já é o maior importador mundial de trigo. Recomenda-se a leitura do artigo de Ariovaldo Umbelino de Oliveira, publicado na Folha de S. Paulo de 17 de abril, com novos dados da redução da área de plantio de alimentos no país, em função da agressiva expansão da indústria do etanol.

Pode, portanto, atender pelo nome de crise alimentar a nova tempestade mundial que se avizinha e que, ainda que precedida de uma inquietante calmaria no Brasil, já tem explosões evidentes pelo mundo, como nos recentes protestos massivos no Haiti da população faminta e espoliada, vítima agora dessa alta incontrolável dos alimentos. Protestos, aliás, tratados a bala pelas tropas da ONU, comandadas e constituídas principalmente pelas forças armadas desse autêntico governo brasileiro do agronegócio.

Escolhas conscientes

Esta situação não é produto apenas do cenário internacional. É um insulto à inteligência do cidadão que o presidente Lula venha a público enganar a população criticando o aumento dos juros, e que parceiros seus de governo, como o PCdoB, façam programas de TV para dizer que o governo Lula melhorou o país e que o problema é a "turma que quer aumentar os juros".

Quem nomeia presidente do Banco Central é o presidente da República. Ou seja, quem entregou o controle da economia para o mercado financeiro foi o governo Lula. Quem optou por não tocar nos fundamentos de uma política neoliberal no país, em manter o superávit primário, o endividamento público, foi o governo Lula. Ninguém mais.

E também é o caso da opção pelo agronegócio, em completo detrimento da política de reforma agrária e da preservação da segurança alimentar do país.

Jornada de lutas e de denúncia

As jornadas de luta do MST em abril, em particular as ações desta semana, tiveram o grande mérito de colocar ainda mais holofotes sobre esse problema.

Enquanto BNDES, Petrobras e Banco do Brasil dão empréstimos e investimentos polpudos para o negócio do etanol, o governo federal rompe, ano após ano, um simples acordo de construir seis mil casas para trabalhadores sem-terra assentados. Este fato simboliza a opção deste governo pelo estrangulamento da reforma agrária em troca do agronegócio capitalista, cada vez mais concentrador de propriedade e de terra.

Vai estar na agenda dos movimentos sociais da classe trabalhadora e da esquerda socialista a denúncia e a constituição de formas de luta unitárias, para começarmos a nos preparar para enfrentar essa turbulência que está a caminho e que pode penalizar sobremaneira os mais pobres.

Fernando Silva, jornalista, membro do conselho editorial da revista Debate Socialista e membro do Diretório Nacional do PSOL.

Hermeto e Sivuca 5 - Tico-Tico no Fubá

Jackie McLean - Hipnosis (1967) with Grachan Moncur

http://i17.tinypic.com/5y34mfk.jpg


Jackie McLean - Hipnosis (1967) with Grachan Moncur
MP3 / 192kbps / RS.com: 57mb


Personagens:
Grachan Moncur III (tb)
Jackie McLean (as)
Lamont Johnson (p)
Scott Holt (b)
Billy Higgins (d)

Gravado no Rudy Van gelder Studio, em Englewwood, Nova Jersey, em 03 de fevereiro de 1967.

Faixas:
1. Hipnosis
2. Slow Poke
3. The Breakout
4. Back Home
5. The Reason Why

PARAGUAI: VITÓRIA ESMAGADORA DO EX-BISPO FERNANDO LUGO LEVA MILHARES A CELEBRAR EM ASSUNÇÃO

Luiz Carlos Azenha

SÃO PAULO - A candidata do Partido Colorado, Blanca Ovelar, acaba de admitir a derrota em Assunção. Quando ela discursava, a Justiça Eleitoral do país vizinho já tinha contado os votos de mais de 80% das seções eleitorais. O ex-bispo Fernando Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança, tinha vantagem de cerca de 10%, quando as pesquisas de boca-de-urna indicavam que Lugo venceria por margem de 5%.

"O resultado é irreversível", afirmou Ovelar ao reconhecer a derrota. A vitória do ex-bispo foi mais ampla do que a mais otimista das previsões: Lugo obteve cerca de 40% dos votos, contra 30% do Partido Colorado. De acordo com a candidata, o partido terá a maior bancada no Congresso e o maior número de governos de departamentos. A ex-ministra da Educação não mencionou o atual presidente Nicanor Duarte Frutos no discurso. Eram 22:44 em São Paulo quando a Justiça Eleitoral paraguaia confirmou a vitória de Lugo, com comparecimento de 65% dos eleitores.

Com a vitória de Lugo, o Paraguai terá a primeira transição democrática entre dois partidos, depois de 61 anos de poder contínuo do Partido Colorado. Quando o resultado final ainda era incerto, o ex-bispo Fernando Lugo pediu a Deus uma benção aos paraguaios, prometeu acabar com o clientelismo político no país e, se dirigindo especificamente aos governos de outros países, disse que quer promover uma verdadeira integração regional e mundial.

Mais de 50 mil pessoas se reuniram no centro de Assunção para festejar a vitória do ex-bispo, um seguidor da Teologia da Libertação que ganhou com o apoio de uma ampla coalizão, que inclui do tradicional Partido Liberal ao Partido Tekojoja, ligado aos movimentos sociais.

Apesar da riqueza, que torna o Paraguai um dos principais "consumidores" de jipes importados per capita, o país tem mais de 2 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, um milhão delas na indigência.

Foi a conclusão de uma jornada política extraordinária. A Aliança que levou Fernando Lugo à vitória foi formada em 27 de agosto de 2007, portanto há menos de oito meses. Lugo foi suspenso pelo Vaticano por insistir em sua candidatura.

Ele fez campanha em torno de alguns temas: promover programas sociais para combater a pobreza e reduzir o número de paraguaios que procuram o "exílio econômico" especialmente na Argentina e na Espanha; enfrentar os latifundiários da soja, que promovem a destruição ambiental, especialmente nos departamentos que fazem frontreira com o Brasil; e conquistar o que definiu como "soberania energética", renegociando o tratado que define a parceria entre Brasil e Paraguai na usina hidrelétrica de Itaipu.

Ricardo Canese será um dos principais assessores de Lugo, que só assume o poder em agosto. Canese é autor do livro recém-lançado em português, “O Direito do Paraguai à Soberania”.

Reproduzo abaixo uma entrevista feita com ele pela agência Carta Maior:

Carta MaiorO Paraguai de hoje é resultado de um processo histórico que permitiu um único partido se manter no poder por várias décadas. O que a atual eleição tem de diferente?

Ricardo Canese – A ditadura do Partido Colorado e de setores conservadores paraguaios durou 35 anos. Tentamos muitas vezes desalojar Strossner, mas não conseguimos. Muitos tivemos que ir ao exílio, outros foram perseguidos ou morreram. Foi toda uma larga luta que não conseguimos vencer. Quando finalmente o povo estava talvez preparado para terminar com a ditadura, ela mesma se adiantou e garantiu um auto-golpe.

Na década de 80, sai o Strossner, entra um parente que mantém o stronismo sem ele. Seguiu a mesma máfia que utilizou o Partido Colorado, que é um partido tradicional e que tem raízes populares, apesar de oligárquico. Como todo partido tradicional, este também manipulou o povo. Desde 1989, todas as eleições foram fraudadas. E isso não somos nós que estamos dizendo, eles mesmos dizem isso. O senador Juan Carlos Galaverna disse que na primeira eleição de 1993 ele mesmo fez fraudes. Ele reconhece.

Carta MaiorAs atuais eleições também serão fraudadas?

Ricardo Canese – Agora, isso vai acontecer de novo. Só que desta vez há uma real possibilidade de mudança, porque este modelo está desgastado. Em 2008, o Produto Interno Bruto per capita do Paraguai é inferior ao de 1981, ou seja, de 27 anos atrás. Por isso toda gente vai à Espanha e à Argentina, aqui a miséria se concentrou, se tornou mais grave. As pessoas abandonaram o campo e a pobreza na cidade é muito mais extrema. É todo um modelo que foi incapaz de resolver os problemas econômicos, sociais e institucionais. São um grupo mafioso e, para eles, as instituições não servem para nada.

Os empresários que entram em articulação com os grupos mafiosos estão sujeitos a esses grupos, e isso também não é nenhuma garantia. Esse é um modelo inviável. E aí que surge a figura de Fernando Lugo. As pessoas queriam algo novo, é uma demanda social. E também porque as pessoas sempre identificaram a cúpula dos partidos de oposição como parte do problema, e não parte da solução.

Carta MaiorE a aliança entre Aliança Patriótica para a Mudança, de Lugo, com o Partido Liberal?

Ricardo Canese – O Partido Liberal só está apoiando Lugo porque suas bases o obrigaram. Vamos deixar isso claro, inclusive porque está claro para o Movimento Tekojoja. A cúpula liberal teve que apoiar Fernando Lugo, ou todas suas bases ficariam com ele. Essa foi a situação real. Como são políticos e realistas, e não querem perder as bases, bueno, resolveram apoiar Fernando Lugo. O que aconteceu aqui foi uma rebelião popular democrática, onde o fenômeno Lugo é a rebelião das bases. Muitos colorados o apóiam também. O setor colorado não amarrado, porque é necessário que se entenda que aí há muito funcionalismo público, por exemplo. Organizações populares que estão pressionadas e dependentes das ações do governo.

Carta MaiorE como a candidatura de Fernando Lugo representa todos estes setores?

Ricardo Canese – É fundamental a presença de Lugo porque ela levanta o debate social e institucional, o debate da renovação dos partidos políticos. Trata-se justamente de um elemento inovador. E vamos entrar no principal aspecto que é o social. No Paraguai, a esquerda nunca teve peso. De alguma maneira, os movimentos populares tinham, mas não politicamente. As pessoas aqui parecem ter uma orientação de esquerda, mas na hora de votar, votam na direita. Isso se rompe agora e permite que a esquerda tenha peso nesta eleição. O Tekojoja é o maior grupo de esquerda, junto com outros grupos que formam uma espécie de bloco. É a primeira vez que isso acontece na história do Paraguai.

Carta MaiorA questão da soberania energética é crucial para o Paraguai. Como este debate acontece aqui e como pretendem levá-lo ao Brasil?

Ricardo Canese – Já temos esse processo um pouco encaminhado. Nós discutimos o tema da soberania hidroelétrica desde a década de 70, quando se firmou o tratado de Itaipu. Outras coisas tomaram força faz alguns anos. Eu fui ao Fórum de São Paulo, creio que em 2002, e fizemos essa discussão com o pessoal do Jubileu Sul. Quando Lugo ainda era bispo, lançamos uma campanha de recuperação da soberania hidroelétrica.

Depois, o Tekojoja relançou essa campanha. Já temos um caminho percorrido, por isso Itaipu entrou no debate político. Inclusive isso obrigou os outros candidatos a se definirem. Alguns mudaram de postura. Lino Oviedo dizia que seria um embaixador verde-amarelo, que não queria incomodar o Brasil. Esse senhor faz uma confusão mental entre o Brasil e seus amigos empresários na fronteira. Agora começou a dizer que temos que renegociar a situação. Tirou fotos ao lado do Lula e botou Lugo ao lado de Hugo Chávez e Evo Morales. Na realidade, é divertido.

Respeitamos muito Evo e Chávez, mas até por uma questão de tempo, decidimos ir visitar Lula e Cristina Kirchner durante essa campanha e não fomos visitar os outros dois presidentes. Estivemos com Lula faz dez dias, mais ou menos, e já vemos avanços importantes. Lula garantiu uma mesa de diálogo e vamos discutir esta questão com o Brasil no mais alto nível.

Aqui, o mais forte é que o povo vai se mobilizar. Se o Lugo ganhar neste domingo vai haver uma mobilização pela recuperação da soberania hidroelétrica. Possivelmente, vamos estabelecer um referendo, que não nos garante nenhum direito, mas que demonstra a vontade do povo sobre essa questão. As pessoas vão ver que é factível que se recupere a soberania hidroelétrica. Isso vai ser um feito. Nós temos muita confiança de chegar a um acordo aceitável para ambas as partes com Lula.

Carta Maior – Para onde o capital proveniente de Itaipu seria revertido? É possível resumir os três pontos mais nevrálgicos da sociedade paraguaia?

Ricardo Canese – Toda a questão social, de direitos humanos, ou seja, educação, saúde, habitação e saneamento. Segundo, obras públicas que melhorem a infra-estrutura e criem postos de trabalho. Nós temos como proposta fundamental trabalho digno. Eu acho que o Estado tem que intervir fortemente nos problemas do nosso país como a falta de emprego.

E aqui não são obras desnecessárias, há obras fundamentais, de transporte e saneamento que demandam um grande investimento e que vão potencializar o turismo, a produção e, ao mesmo tempo, vão gerar emprego. E terceiro, criar um fundo para potencializar a produção. E quando falamos nisso, queremos dizer reforma agrária. E não é somente a terra, mas sim a assistência técnica, o crédito, a comercialização. Criar bases de industrialização. Acreditamos muito em cooperativas manejadas pelos próprios campesinos. Seriam estes três eixos principais: direitos sociais, infra-estrutura e produção.

Carta Maior – E como o governo pretende tratar a questão dos “brasiguaios”?

Ricardo Canese – Esse é um tema que conversamos também com o Partido dos Trabalhadores (PT). Quando estivemos com o Fernando Lugo no Brasil falamos com Lula e com o PT. Precisamos tratar de vários temas, o tema da energia, dos brasiguaios e o tema de Ciudad del Leste. Quanto aos brasiguaios, tem que haver uma solução em respeito aos diretos sociais dos trabalhadores das plantações. E sobre a destruição do meio ambiente. Nós queremos que se cumpra a lei. E isso não somente com os brasiguaios, ou seja, há latifundiários paraguaios também. Se você desflorestou, tem que reflorestar com espécies nativas, não com outra coisa. O cuidado com os cursos de água também é fundamental. E, depois, vamos ver se deixamos a lei mais estrita ainda.

Outro ponto grave é o uso de veneno, que às vezes chega ate a casa do campesino. Vamos buscar que os produtores de soja diversifiquem a produção e criem boas oportunidades de emprego para a população circundante. Acreditamos que se possa ir pacificando a área, porque as tensões são preocupantes.

domingo, 20 de abril de 2008

Traçando o governo Yeda

Charge: Eugênio Neves

Créditos:


LULA, O PELEGO?

Blog do Azenha

por Francisco Weffort, ex-companheiro

Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública? Que de tão grave têm as despesas dos palácios do Planalto, da Alvorada e da Granja do Torto que possam explicar a cortina de fumaça que o governo criou para impedir o controle dos cartões corporativos de Lula, Marisa, Lulinha, Lurian etc.? A estas alturas, só o governo pode responder a tais perguntas. E como o governo não responde, a opinião pública, sem os esclarecimentos devidos, torna-se presa de dúvidas sobre tudo e todos.

É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos. Evidentemente os dele, da companheirada do PT, dos sindicatos e do MST, sem esquecer um sem-número de ONGs sobre as quais pesam suspeitas clamorosas. Ainda recentemente, ele vetou dispositivo de lei que exigia dos sindicatos prestação de contas ao TCU dos recursos derivados do imposto sindical (agora "contribuição"). Há mais tempo, Lula era contra o imposto em nome da autonomia sindical. Agora que está no governo, deixou ficar o imposto e derrubou o controle do TCU. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. O que o Lula e os pelegos querem é o que já existia na "república populista", dinheiro dos trabalhadores sem qualquer controle.

Lula, a chamada "metamorfose ambulante", não se tornou ele próprio um pelego? Assim como defendeu a gastança dos sindicatos em nome da autonomia sindical, agora defende sua própria gastança na Presidência em nome da segurança nacional. Isso me lembra uma historinha de 1980, bem no início do PT, quando João Figueiredo estava no governo e Lula estava para ser julgado na Lei de Segurança Nacional. Junto com alguns outros, eu o acompanhei numa viagem à Europa e aos Estados Unidos em busca de apoio. Como outros na comitiva, eu acreditava piamente que tudo era em prol da liberdade sindical e da democracia, e as coisas caminharam bem, colhemos muita simpatia e apoio nos ambientes democráticos e socialistas que visitamos. Mas, chegando à Alemanha, fomos surpreendidos pela recepção agressiva do secretário-geral do sindicato alemão dos metalúrgicos. Claro, ele também era a favor da democracia e estava disposto a defender os sindicalistas. Sua agressividade tinha outra origem: o sindicato alemão que representava havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas! A conversa, forte do lado alemão, foi num jantar, e não permitia muitos detalhes, mas era disso que se tratava: alguém em São Bernardo falhou na prestação de contas e o alemão estava furioso. Lula se defendeu como pôde, mas, no essencial, dizia que não era com ele, que não sabia de nada.

A viagem era longa. Antes da Alemanha, havíamos passado pela Suécia, e fomos depois a França, Espanha, Itália e Estados Unidos. Em Washington, tivemos um encontro com representantes da AFL-CIO, e ali repetiu-se o mesmo constrangimento. Embora não tão agressivos quanto o alemão, os americanos queriam prestação de contas sobre dinheiro enviado a São Bernardo. Mas Lula, de novo, não sabia responder à indagação referente às contas. Ou não queria responder. Não era com ele.

Nunca dei muita importância a esses fatos. A atmosfera do país nos primeiros anos do PT era outra. Ninguém na oposição estava antenado para assuntos desse tipo. O tema dominante era a retomada da democracia. A corrupção, se havia, estaria do lado da ditadura. Saí da direção do PT em 1989 e me desfiliei em 1995. Até então era difícil imaginar que um partido tão afinado com o discurso da moral e da ética pudesse aninhar o ovo da serpente. Minha dúvida atual é a seguinte: será que a leniência do governo Lula em face da corrupção não tem raízes anteriores ao próprio governo? A propensão a tais práticas não teria origem mais antiga, no meio sindical onde nasceu o PT e a atual "república sindicalista"?

Talvez essa pergunta só encontre resposta cabal no futuro. Mas, enquanto a resposta não vem, algumas observações são possíveis. Parece-me evidente que no momento atual alguns auxiliares da Presidência - a começar pelos ministros Dilma Rousseff, Jorge Hage e general Jorge Felix - foram transformados em escudos de proteção de possíveis irregularidades de Lula e seus familiares. O outro escudo de proteção é Tarso Genro, que usa uma ginástica retórica para, primeiro, garantir, como Dilma, que o dossiê não existia, só um banco de dados. Depois passou a admitir que existia o dossiê, mas que isso todo mundo faz. Mais ou menos como no episódio do mensalão, lembram-se? Naquele momento, o então ministro Thomas Bastos, acompanhado por Delubio Soares, disse que mensalão não existia, que eram contas não regularizadas, sobras de campanha etc. E lula afirmou de público que isso todos os políticos faziam. O que não impediu que o procurador-geral da República visse no mensalão a prática delituosa de uma quadrilha criminosa.

Adotada a teoria do dossiê - aquele que não existia e que passou a existir - criou-se uma pequena usina de rumores, primeiro contra Fernando Henrique Cardoso e Dona Ruth, depois contra ministros do governo anterior. Minha pergunta é a seguinte: quando virão os dossiês contra Lula e Dona Marisa Letícia? Não é este o futuro que deveríamos almejar. Mas no que vai do andar da carruagem dirigida por um Lula cada vez mais ególatra e irresponsável é para lá que vamos, inelutavelmente. Quem viver verá.

Assédio / Besieged / L'Assedio (1998)


Tudo começa na África, quando uma mulher vê um grupo de militares entrar em uma escola e prender um professor. Logo depois, a ação se transporta para Roma, onde a mesma jovem cursa medicina e trabalha para um pianista inglês. Ela cuida da enorme casa em troca de um teto para morar. Tímido, o músico não troca palavras com Shandurai – é esse o nome da moça –, mas se apaixona por ela.A partir daí, ele começa um jogo de sedução que inclui presentes, flores e, claro, música. Tudo poderia correr bem para o pianista Kinsky, não fosse um detalhe: a jovem africana é casada. Seu marido é justamente aquele professor preso anteriormente. Angustiada e dividida entre o amor ao marido e o interesse do músico, ela faz um pedido ao tímido instrumentista: se é verdade que ele realmente a ama, que tente libertar o professor preso.

Créditos: Makingoff - santoro
Gênero: Drama
Diretor: Bernardo Bertolucci
Duração: 93 minutos
Ano de Lançamento: 1998
País de Origem: Itália
Idioma do Áudio: Inglês / Italiano / Swahili
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0149723/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XViD
Vídeo Bitrate: 127 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 238
Resolução: 512 x 288
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 717 Mb
Legendas: No torrent


Elenco:

Thandie Newton ... Shandurai
David Thewlis ... Jason Kinsky
Claudio Santamaria ... Agostino
John C. Ojwang ... Singer
Massimo De Rossi ... Patient
Cyril Nri ... Priest
Paul Osul ... Piano Buyer
Veronica Lazar ... Piano Buyer
Gian Franco Mazzoni ... Piano Buyer (as Gianfranco Mazzoni)
Maria Mazetti Di Pietralata ... Piano Buyer
Andrea Quercia ... Child pianist at concert
Alexander Menis ... Child at concert
Natalia Mignosa ... Child at concert
Lorenzo M

Premiações:

Year Result Award Category/Recipient(s)
2001 Nominated Silver Condor Best Foreign Film (Mejor Película Extranjera)
Bernardo Bertolucci


Black Reel Awards
Year Result Award Category/Recipient(s)
2000 Nominated Black Reel Theatrical - Best Actress
Thandie Newton


Chlotrudis Awards
Year Result Award Category/Recipient(s)
2000 Nominated Chlotrudis Award Best Cinematography
Fabio Cianchetti

Best Director
Bernardo Bertolucci


Cinema Brazil Grand Prize
Year Result Award Category/Recipient(s)
2001 Nominated Cinema Brazil Grand Prize Best Foreign Film (Melhor Filme Estrangeiro)
Bernardo Bertolucci


David di Donatello Awards
Year Result Award Category/Recipient(s)
1999 Nominated David Best Director (Migliore Regista)
Bernardo Bertolucci

Best Film (Miglior Film)


Italian National Syndicate of Film Journalists
Year Result Award Category/Recipient(s)
2000 Nominated Silver Ribbon Best Production Design (Migliore Scenografia)
Gianni Silvestri
Also for Dolce rumore della vita, Il (1999).
Best Score (Migliore Musica)
Alessio Vlad

Best Screenplay (Miglior Sceneggiatura)
Bernardo Bertolucci
Clare Peploe

Curiosidades:

O Assédio de Bertolucci - A confirmação de um grande artista

Desta vez Bertolucci realiza mais um filme na perspectiva marxista da luta de classes. Mas a Itália mudou, os tempos são outros e o diretor italiano, Oscar com O Último Imperador, também mudou. O diretor de O Céu Que nos Protege e O Pequeno Buda, foi durante anos menosprezado pelos críticos, mas não podemos passar o século sem confirmá-lo como um grande artista. Se pensavam que o italiano estava morto enganaram-se. Ele segue grande e vigoroso. Assédio, um belo trabalho de diretor, possui qualidades cênicas e de dramaturgia que confirmam Bertolucci, se é que isso ainda era necessário, como um verdadeiro artista de cinema.

As primeiras seqüências de Assédio (Besieded) são feitas na África (no Quênia), onde Shandurai (Thandie Newton) trabalha com crianças deficientes. Um verdadeiro pátio do milagres. Nada é dito. Mas faculta-se à imaginação supor que algumas daquelas crianças foram vítimas de minas ou algum outro subproduto de guerra tribal. Vive-se uma ditadura, o que não chega a ser incomum. O marido de Shandurai é professor e um constestador do regime. Sob as vistas da mulher, é retirado brutalmente da sala de aula e os militares o levam para lugar ignorado, porém presumível.
Todo o filme é um Bertolucci em boa forma, com um com as câmeras próximo das pessoas e uma movimentação emocional.

Crítica:

Assédio é uma história simples. Um roteiro linear, até monótono, que pode ser resumido em poucas palavras, tais como "um europeu que se apaixona por uma refugiada africana cujo marido está preso em seu país". O filme resultante não deveria impressionar. Talvez fosse atraente a um ou outro romântico para assistir na tevê por assinatura. Mas Assédio não corre este risco. É um Bertolucci. É um belo e envolvente filme do diretor de 1900, O céu que nos protege e Beleza roubada. Mais uma vez, Bernardo Bertolucci é bem sucedido em roubar a beleza das emoções dos personagens e nos passá-la em primorosa embalagem.

O filme Assédio se constrói sobre os contrastes. A começar por colocar, numa mesma casa, a empregada africana que fugiu do país por motivos políticos e um rico herdeiro europeu. Esta diferença básica é explorada por todo o filme. Das imagens ásperas da miserável África, somos levados a uma belíssima vila italiana onde Mr. Kinski (David Thewlis) consome preguiçosamente o tempo compondo e dando aulas de piano. Com esse contraste original dos personagens, a partir de uma repentina e direta declaração de amor, Bertolucci nos apresenta as mudanças na vida dessas duas criaturas. O paulatino empobrecimento de Mr. Kinski, a evolução de sua música, vão diminuindo a distância entre os personagens. Shandurai (Thandie Newton) passa eternos momentos tentando retirar a inexistente poeira das obras de arte que enchem a casa. Talvez tentando limpar permanente poeira que recobria sua vida na África. O processo do empenho dos bens materiais do ariano Mr. Kinski também é uma boa metáfora da dívida (ou culpa?) européia para com o vizinho continente negro. A idéia da redução da opulência da Europa para minorar o sofrimento terminal da África deve cutucar o europeu que vê este filme. Nós, brasileiros, não temos este senso de diferença, pois convivemos permanentemente com os dois extremos de riqueza e miséria. Nossas culpas ficam por aqui mesmo, estão amortecidas, e vão, no máximo, até a favela mais próxima.

A bela mansão e o cotidiano de seus habitantes é explorada por certeira fotografia que bem se utiliza da arquitetura e dos fortes tons pastéis dos interiores. Som e fotografia quase se equiparam em importância nesse filme. Os diálogos pouco importam frente às expressões dos atores e à música. A música africana e a erudita são utilizados por Bertolucci para realçar as diferenças e a aproximação entre os personagens.

A atriz Thandie Newton é algo a parte dentro do filme. Sua beleza mestiça é realçada pelo fotógrafo com qualidade que se equipara a descoberta de Liv Tyler, em Beleza roubada. Quem assistiu Missão Impossível II, pode comparar como o pretenso charme do personagem de Thandie Newton no filme é ridículo frente às intensas imagens da bela Shandurai em Assédio. Mas, convenhamos, a especialidade de John Woo não é mostrar a beleza feminina.

Este filme, de 1998, só nos chega agora, mas já é um dos melhores lançamentos do ano 2000. É delicioso se entregar a leitura dos parágrafos de imagens criadas pelo italiano Bernardo Bertolucci, onde os detalhes proporcionam prazer como a leitura de um Machado de Assis, onde, todo o tempo, a história e o como ela é contada competem pela nossa atenção. Bertolucci brilha.


Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
Não esqueça de fazer seu registro no makingoff antes de baixar o filme.

Download abaixo:

Arquivo anexado Bernardo_Bertolucci___Ass_dio___1998___It_lia.torrent


sábado, 19 de abril de 2008

Hasta Siempre Commandante Che Guevara

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Included:

- Songs About Che Guevara (183 songs)
- Original speechs
- Pictures
- Original video
- Texts - russian
- Music video

Download:
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