Faixas:
1. I Will Say Goodbye
2. Dolphin Dance
3. Seascape
4. Peau Douce
5. Nobody Else But Me
6. I Will Say Goodbye (Take 2)
7. The Opener
8. Quiet Light
9. A House Is Not A Home
10. Orson's Theme
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
''Desta cúpula de chefes de Estado aprendi bastante. Há propostas muito interessantes de muitos poucos presidentes, mas depois... de alguns presidentes é pura demagogia'', disse Evo à imprensa no dia de encerramento da Cúpula, dedicada às reuniões entre os blocos latino-americanos e a UE.
Em suas declarações, o presidente boliviano criticou, além disso, a decisão da organização da reunião de cúpula de não incluir nenhum líder latino-americano da esquerda mais combativa nos discursos da cerimônia de encerramento da sessão plenária de sexta-feira.
''Queria escutar algum presidente na intervenção de ontem de encerramento. Mas estava bem organizado, bem planejado, para que nenhum presidente que tem diferenças ideológicas, culturais, programáticas, em temas financeiros, pudesse participar'', indicou.
''São as regras destas cúpulas, mas quero expressar minhas profundas discordâncias'', continuou Evo, que recordou que atualmente há ''cinco'' presidentes latino-americanos que compartilham o modelo socialista, uma cifra considerável em comparação a outras épocas, em que apenas o cubano Fidel Castro assumia essa posição.
Declaração da Cúpula
Os objetivos fixados pela 5ª Cúpula América Latina-Caribe-União Européia (EU-LAC, na sigla em inglês), em Lima, para combater a pobreza e a desigualdade foram estabelecidos em uma extensa declaração, mas sem metas definidas ou números de investimento para atenuar dois dos mais graves problemas dos latino-americanos.
A declaração final do encontro recolhe o compromisso das partes de aumentar sua relação e de trabalhar pelo cumprimento dos objetivos comuns.
Como novidade, a Cúpula abriu o caminho para a criação de uma Fundação permanente para ''estimular'' e ''aumentar a visibilidade'' da cooperação entre os países destas regiões.
Além disso, o texto incluiu o lançamento de um programa conjunto contra a mudança climática, batizado de ''Euroclima'', que permitirá compartilhar conhecimentos e coordenar as ações contra o aquecimento global.
Sobre a luta com a pobreza e a exclusão social, o documento se limitou a declarações de boas intenções, apesar da sensível situação da América Latina, uma região com mais de 200 milhões de pobres, e que não conseguiu reduzir os níveis de exclusão social.
Busca de consensos
O presidente do Peru e anfitrião do evento, Alan García, recebeu os 50 governantes no Museu da Nação, onde foi ratificada a Declaração de Lima. Na inauguração, o presidente peruano propôs aumentar em 2% a produção agrícola para aliviar a crise alimentícia mundial e defendeu a supremacia da política sobre o mercado.
Este último comentário de García levou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a elogiá-lo na sexta. O venezuelano qualificou de ''muito importante'' e com ''idéias muito boas'' o discurso de García.
Além disso, o venezuelano desculpou-se diante da chanceler alemã, Angela Merkel, após os comentários negativos que fez sobre nos últimos dias, ainda em Caracas.
''Não vim aqui para brigar. Fiquei muito satisfeito de apertar a mão da chanceler alemã'', disse Chávez, ao contar que pediu ''perdão'' a Merkel, afirmando que foi muito ''duro'' em suas declarações.
O presidente do Equador, Rafael Correa, disse que com ''esforço'' e ''tolerância'' pode-se conseguir um acordo (político, comercial e de cooperação) e propôs ''buscar alternativas'' frente às divergências entre os quatro membros da CAN (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) em relação ao tema. Em todo caso, deixou claro que o Equador não assinará um acordo que prejudique os imigrantes na Europa.
O presidente do Panamá, Martín Torrijos, confirmou na sexta que seu país se incorporará plenamente à negociação realizada entre os países centro-americanos com a UE para um acordo de associação política, comercial e de cooperação.
Por sua vez, a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, declarou que a pobreza na América Latina é conseqüência das más práticas políticas.
Em sua opinião, os níveis de pobreza e desigualdade não vêm da mudança climática, ''como parece'', mas de políticas concretas desenvolvidas fundamentalmente na região latino-americana e que transformaram a região ''não no continente mais pobre, mas sim no mais desigual''.
Integração
Diante dos planos dos latino-americanos, o presidente da Eslovênia e do Conselho Europeu, Janez Jansa, disse estar confiante de que a UE está ''à altura das expectativas de seus interlocutores'' e defendeu a integração como fórmula para o desenvolvimento social.
Assim, solicitou ''todos os esforços'' para afiançar os laços entre ambos os blocos, enquanto o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, confirmava que o propósito da cúpula é avançar nas negociações ''com posições flexíveis''.
O titular do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pottering, defendeu ''os valores da democracia'' e rejeitou ''toda forma de governo ditatorial ou autoritária''.
Respaldou, além disso, a integração regional como fundamento da associação estratégica entre a UE e a América Latina e disse que os acordos, com os andinos e o Mercosul, deveriam ocorrer ''no máximo, até meados de 2009''.
''Só assim seremos capazes de estabelecer, para 2012, a Associação euro-latino-americana'', destacou Pottering.
Os debates dos presidentes se prolongaram até a tarde, quando foi divulgada a Declaração de Lima.
Em outro ambiente menos oficial, encerrou-se, também na sexta, a 3º Cúpula dos Povos, com a proposta de apresentar como candidato ao Nobel da Paz o presidente boliviano, Evo Morales. Eles também solicitaram a retirada dos ''capacetes azuis'' do Haiti e a busca de uma ''solução negociada'' para o conflito colombiano.
Cabe na palma da sua mão, e ainda sobra um espaço e tanto, a arma que vai superproteger as unidades microscópicas do seu organismo. Em segundos, ao mastigar uma única castanha-do-pará, você recarregará os n í veis d e um mineral e xtremamente importante para uma vida longa e saudável: o selênio. A pequena oleaginosa repõe a quantidade do nutriente necessária para dar combate ao envelhecimento celular, causado pela formação natural daquelas incansáveis moléculas que danificam as células, os radicais livres.
Um estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, atesta que a ingestão diária de duas castanhas-do-pará recentemente rebatizadas castanhasdo- brasil eleva em 65% o teor de selênio no sangue. Mas provavelmente os neozelandeses não usaram o legítimo produto brasileiro. Ora, nós somos sortudos. É que as castanhas produzidas no Norte e no Nordeste do país são tão ricas em selênio que bastaria uma unidade para tirar o mesmo proveito. A recomendação é de que um adulto consuma, no mínimo, 55 microgramas por dia, diz a nutricionista Bárbara Rita Cardoso, pesquisadora do Laboratório de Minerais da Universidade de São Paulo. E com uma unidade da nossa castanha já é possível encontrar bem mais do que isso de 200 a 400 microgramas do bendito selênio. Aliás, o limite de consumo diário do mineral é de 400 microgramas, portanto, não vá com muita fome ao pote. No caso de uma criança, meia castanha seria suficiente, afirma Silvia Cozzolino, presidenta da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.
E por que toda essa fama do selênio? Ele é essencial para acionar enzimas que combatem os radicais livres, responde Christine Thomson, a pesquisadora neozelandesa que investigou as propriedades da castanha. O selênio se liga a algumas proteínas já existentes em nosso corpo para formar essas enzimas antioxidantes, descreve, completando, Bárbara Cardoso. Na ausência dele, as tais enzimas fi cam sem atividade e, então, deixam de combater os radicais e ainda desguarnecem as defesas do organismo.
O mineral da castanha também teria um papel especial na proteção do cérebro. É que, com essa capacidade de acabar com a farra dos radicais livres, as células nervosas seriam preservadas, evitando o surgimento de doenças neurodegenerativas com a idade. Justamente por isso, a pesquisadora Bárbara Rita Cardoso começa a estudar os possíveis benefícios do selênio em portadores do mal de Alzheimer. A gente desconfi a que nesses pacientes os radicais façam maiores estragos, diz ela.
A tireóide também funciona melhor na presença do selênio, acrescenta Christine Thomson. Isso porque, se não houver esse elemento, ela não consegue produzir direito seus célebres hormônios. O mineral também está intimamente associado à capacidade de o organismo se livrar de substâncias tóxicas, ajudando-o inclusive a expulsar possíveis metais pesados que se alojam nas células (veja quadro à esquerda).
Apesar de tudo isso, o badalado selênio deve ser apreciado com moderação. Quando os especialistas recomendam uma castanha diária, é para segui-lo à risca. Acredite: o conselho não é nem um pouco mesquinho. Esse consumo ideal e comedido é que faz todas essas enzimas que dependem do nutriente trabalharem de forma adequada, diz Bárbara. Em excesso, o selênio não vai potencializar sua ação. E o pior: mais cedo ou mais tarde, o exagero rotineiro vai revelar o lado negro da substância. Sim, ele existe: a toxicidade. Ela acontece se a pessoa ingerir mais de 800 microgramas por dia, adverte Silvia Cozzolino. É que o selênio tem efeito cumulativo, emenda Christine Thomson.
Isso não signifi ca que abusar das deliciosas castanhas em uma happy hour com amigos traga grandes ameaças. De vez em quando, dá até para superar a quantidade recomendada. O perigo é comer essas oleaginosas além da conta todo santo dia. Quem experimentar ataques sucessivos de gula poderá sentir dor de cabeça, fi car com as unhas fracas e ver seus cabelos caírem. Mas, em geral, quem come dez castanhas hoje não vai se empanturrar delas amanhã, usa a lógica a expert em nutrição Silvia Cozzolino. No máximo, o preço desse pecado será um mau hálito parecido com o bafo de alho acredite!
Não corre o mesmo risco quem comer, vez ou outra, algum prato que leve a castanha na receita até porque, seja doce ou salgado, difi cilmente uma porção reunirá tantas unidades assim. E saiba: nem o fogão nem a geladeira conseguem detonar as reservas de selênio. No dia-a-dia, porém, nada melhor do que a praticidade de botar na mochila, no bolso ou na bolsa a sua estrela solitária. É saúde na medida certa!
Para chegar à quantidade de selênio de uma castanha-do-pará (de 5 gramas), você teria que consumir, em média, o equivalente a...
3 filés de frango (100 gramas cada um)
16 pães franceses (50 gramas cada um)
100 copos de leite (200 mililitros por copo)
10 ostras (33 gramas cada uma)
3 latas de sardinha em conserva (130 gramas cada uma)
Uma das principais benesses do selênio é a sua capacidade de desintoxicar o organismo. O mineral atua em mecanismos que favorecem a eliminação de metais pesados pelas fezes e pela urina, explica a nutricionista Bárbara Rita Cardoso. Esses metais nocivos, como o mercúrio e o arsênico, fi cam impregnados no organismo quando, por exemplo, consumimos peixes de má procedência, que vieram de águas poluídas. E, daí, disparam inúmeros problemas em nossos tecidos, do envelhecimento ao câncer algo que é freado com o sistema de limpeza acionado pelo consumo da castanha.
A natureza oferece fontes de selênio, mas há quem prefi ra recorrer às cápsulas. Estudos recentes revelam que isso pode ser bobagem: o melhor seria buscar o mineral na comida mesmo. O selênio dos alimentos é mais bem absorvido pelo organismo, justifi ca o pesquisador Alexei Lobanov, do Departamento de Bioquímica da Universidade Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos. E, já que a quantidade de que precisamos nem é lá tão alta, a suplementação deveria fi car restrita a casos especiais.
A concentração de selênio em um alimento depende do solo em que é cultivado. De acordo com o engenheiro agrônomo José Urano de Carvalho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a castanheira, nativa da fl oresta Amazônica brasileira, além de ter uma incrível habilidade para extrair o mineral, comparada a outras espécies, encontra na terra de lá uma enorme quantidade de selênio. Por isso seus frutos são campeões no elemento. As castanhas-do-pará são cultivadas pra valer na região Norte, especialmente no cinturão amazônico, mas o Brasil já não lidera o ranking de produção da oleaginosa. Hoje é a Bolívia que ocupa o primeiro lugar, revela Urano.
O renascimento do Che Eu tive um irmão Ele faria hoje(14/05/2008) 80 anos e mais do que uma lenda, precisa ser recordado apenas como um homem. Um homem que honrou o sentido mais recôndito do significado de ser “humano”. Porque não é certo que todo ser humano é naturalmente humano. Um ser humano pode se tornar ‘humano” ao longo de uma vida. Mas “nem todo mundo chega lá”, como nos lembra um sábio do povo, chamado pelos europeus e seus sucessores, de índio. Eu tive um irmão que andava na selva enquanto eu dormia. Che Guevara não era um humanitarista, esses que, a serviço do sistema, são premiados por tentar fazer, desse horror de mundo, um mundo apenas “melhor”. O Che era um revolucionário humanista, um fazedor de mundos, um criador de idéias, um pensador político. Um homem que até os detratores de qualquer revolução ou revolucionário têm dificuldade em macular. Che Guevara, um homem, que com seu amor desmedido pelo gênero humano, pela vida, carregava o sonho de ver emergir, numa sociedade renovada, o homem novo. “A revolução se faz através do homem, mas o homem deve forjar dia-a-dia seu espírito revolucionário”, ele dizia. E acreditava ser necessário que se desenvolvesse uma consciência na qual os valores adquirissem categorias novas.”A sociedade em seu conjunto deve transformar-se em uma gigantesca escola”. O amei ao meu modo, Lhe tomei a voz livre como a água, caminhei às vezes perto de sua sombra. meu irmão desperto enquanto eu dormia. O Che também sabia que o caminho é largo e, em parte, desconhecido. Mas não se deixava amedrontar pelo que estaria por vir: “Conhecemos nossas limitações. Faremos o homem do século XXI: nós mesmos. Nos forjaremos na ação quotidiana, criando um homem novo com uma nova técnica". E o sentido de amor desmesurado que o transformara em um guerrilheiro nascera nas primícias da sua meninice, quando abrigava em casa meninos e meninas pobres, que ali se alimentavam, na mesa com sua família, e encontravam um ninho de terno acolhimento. Nada de filantropia nem de caridade. O mais essencial amor era o que já movia os passos do pequeno Ernesto, que um dia se tornaria o Che, apenas um homem. Nesses 40 anos que se somam desde seu assassinato, bem que o mercado quis se apropriar de sua imagem doce-amarga, que guarda no olhar uma dignidade invencível. O sistema que tudo torna descartável – na indústria do usa e joga - quis vender sua figura de guerrilheiro heróico em produtos que só visam o lucro. Mas não é a força do mercado que leva uma multidão de humanos, estradas adentro, a abrigar, no peito, nas mãos, nas cabeças, o seu vulto misterioso e ao mesmo tempo translúcido. O seu mistério, nesse mundo que se despedaça em misérias e se maquia em falsidades, é exatamente a transparência. A sua absoluta convicção,cristalina e confessada, de que só há um rumo para a humanidade: o da revolução transformadora, aquela à qual entregou a sua vida completamente, até os 39 anos roubados, dia 9 de outubro de 1967, por mercenários carniceiros em La Higuera, na Bolívia. Assim, neste maio de 2008 que assinala os seus 80 anos não alcançados em vida, se tornam desprezíveis as tentativas de mistificar ou de mitificar a vida e a história do Che como o mártir de revoluções derrotadas e o símbolo de revolucionários vencidos. Nessas oito décadas de uma história que se escreve sobre os passos do Che, o que é preciso elevar e trazer à luz é a sua profunda reverência pela vida. E a sua incomensurável ternura, nunca perdida em meio à dureza de um mundo cruel e de uma luta desigual e impiedosa. Meu irmão mostrando-me por detrás da noite a sua estrela eleita. Júlio Cortazar, com o mágico poder que os escritores e poetas sabem colher das palavras, em um comovente texto, escrito quando de seu assassinato em La Higuera, pediu que fosse o próprio Che a conduzir sua mão no momento da dolorosa despedida. “Sei que é absurdo e que é impossível, e por isso mesmo creio que ele escreve isto comigo, porque ninguém soube melhor até que ponto o absurdo e o impossível serão um dia a realidade dos homens”. E é por tudo que sua vida representa, por ter sonhado o impossível como sendo possível, que os quiseram e o querem “morto” pagam o preço de ver esse homem, médico e lutador argentino-cubano renascer, a cada dia, em meio às lutas do povo, que se levanta em todo canto mundo, a despeito do massacre, do terror, da dor e do desencanto. Ele renasce a cada ano porque o Che, nos diz Eduardo Galeano, é o mais renascedor de todos os seres. O nascedor Por que será que o Che Tem este perigoso costume De seguir sempre renascendo? Quanto mais o insultam, O manipulam O atraiçoam Mais ele renasce. Ele é o mais renascedor de todos! Não será por que Che Dizia o que pensava e fazia o que dizia? Não será por isso que segue sendo tão extraordinário, Num mundo onde palavras e atos tão raramente se encontram? E quando se encontram raramente se saúdam Por que não se reconhecem? (Eduardo Galeano) *Os versos em destaque no texto são de Julio Cortázar. |
Essa novidade de uma penúria alimentar causada pelos próprios mecanismos do mercado deveria provocar uma reflexão mais alentada do que a reação dos economistas afirmando que a crise será superada pelo próprio mercado auto-regulado. Para eles, a elevação do nível de preços incentivará a produção e trará um novo equilíbrio entre oferta e demanda. Isso implicará também maior exploração da terra (desmatamento) e das águas (irrigação), e portanto o agravamento dos problemas ecológicos - mas este não é um problema de economistas, para quem o mercado ser a instituição reguladora da economia é tão natural quanto ser a família a instituição reguladora da sexualidade.
Para quem se atreve a olhar um pouco mais longe, porém, numa perspectiva histórica e crítica, a crise atual pode ser uma rica fonte de ensinamentos sobre a realidade atual. É o que desejo mostrar neste pequeno artigo, inspirado num estudo clássico de história social e econômica.
E. Thompson fez um pormenorizado estudo das revoltas populares contra o preço do trigo, na Inglaterra do século XVIII. Nesse estudo, o autor mostra como a doutrina do "justo preço" foi sendo substituída pela doutrina do "livre-mercado" que é a base do capitalismo moderno, num longo processo que vai desde o século XVI até o início do século XIX. No sistema tradicional, a compra e venda de cereais e outros gêneros alimentícios, nas cidades inglesas era regulada pelo costume cujo símbolo era o toque dos sinos. Os produtores (camponeses) chegavam cedo à praça do mercado, mas só podiam iniciar as operações de venda após o toque do sino, quando os moradores da cidade adquiriam o necessário para seu consumo. Atendidos os moradores, tocava novamente o sino e os comerciantes, donos de moinho e padeiros locais entravam no mercado como compradores. Só mais tarde, após o novo toque dos sinos, comerciantes de fora podiam comprar as mercadorias que tivessem sobrado. Ficava assim assegurado o abastecimento da população local só sendo exportados os excedentes.
Os grandes negociantes, porém, ganharam peso político cada vez maior e isso resultou em decretos reais suprimindo os empecilhos legais à sua participação nas operações de compra e venda. Mas a oposição de movimentos sociais dos trabalhadores pobres, apoiados na tradição local, impede - inclusive pela força física - que tais decretos sejam aplicados. Aí se dá um longo e acalorado debate ideológico entre os defensores do "paternalismo" na economia e os "liberais", entre os quais se destaca Adam Smith, que com sua obra A riqueza das nações (1776) inaugura a moderna economia política. Ao iniciar-se o século XIX, as guerras na Europa contra Napoleão dão ao governo as razões que ele precisava para abolir toda regulação do mercado, consagrando então a vitória ideológica do liberalismo e assegurando o funcionamento do mercado auto-regulado. Daí em diante, a história é conhecida: o mercado se expande continuamente, incorporando novos contingentes da população, até sua completa mundialização no final do século 20.
A atual crise de alimentos pode então trazer muitos ensinamentos sobre o funcionamento do mercado, que nos dois últimos séculos tem sido a instituição fundamental das sociedades modernas e pós-modernas (que não por acaso se auto-intitulam "sociedades de mercado").
É evidente que o mercado incentiva - como nenhum outro sistema até hoje inventado - a produção e o consumo de bens e serviços. O PIB mundial, hoje estimado em US$45 trilhões, é o melhor indicador dessa capacidade de produzir riqueza. (Se fosse dividido pela população mundial, cada família de quatro pessoas teria hoje uma renda bruta mensal de R$3.750). Mas é também evidente que o mercado, por fundar-se na competição, beneficia os fortes e prejudica os fracos. A menos que se submeta a um poder maior que o controle, ele tende a agravar as desigualdades sociais. Isto já foi percebido no século XIX, resultando, no século XX, em políticas de intervenção do Estado: o socialismo e o Estado de bem-estar dos países de capitalismo avançado. O fim da guerra-fria, porém, favoreceu a vitória ideológica do neoliberalismo e, com ele, a desregulamentação externa do mercado. No caso dos alimentos, essa vitória se deu quando a Organização Mundial do Comércio - e não a FAO (organismo da ONU para a regular a Agricultura e os Alimentos) - é incumbida de regular sua distribuição em escala mundial. Tratados como uma mercadoria entre outras, os alimentos tornam-se objeto de transações de compra e venda regidas pela expectativa de lucros. O Estado renuncia assim a seu poder regulador, e limita-se a prestar socorro a pessoas desvalidas, incapazes de assegurar a própria sobrevivência alimentar - são os programas de tipo "Bolsa Família" e "cestas básicas".
Outra deficiência congênita do mercado, percebida em meados do século 20 e agora cada vez mais clara, é sua índole produtivista. O mercado só alcança o desejado equilíbrio entre oferta e procura, aumentando a produção que, por sua vez, gera novas demandas e o avanço sobre os recursos naturais da Terra que sabemos serem limitados. Aqui está uma barreira aparentemente insuperável ao crescimento econômico: a menos que a tecnologia chegue a formas inteiramente novas de produção, estamos nos aproximando perigosamente da exaustão dos recursos naturais. A atual crise do preço dos alimentos é reveladora desse limite. Basta pensar, por exemplo, no consumo de carnes e o desgaste que ele provoca ao transformar florestas e vegetação do cerrado em pastagens, e por exigir enormes plantações de soja e milho (que entre outros danos ecológicos consomem grande quantidade de água na irrigação) para alimentar animais e aves criados em regime de reclusão. Como, na lógica do mercado, só se reduz a demanda pela elevação dos preços - e não pela mudança de hábitos alimentares, como uma dieta menos devastadora dos recursos naturais - sua única saída é aumentar a produção, ainda que isso implique antecipar a crise ecológica que já esta no horizonte.
Visto isso, chega-se a conclusão que a atual crise de preços de alimentos está pedindo às pessoas de boa-vontade uma séria e alentada reflexão sobre o sistema de produção e consumo baseado no mercado. O pensamento liberal conquistou a vitória no debate ideológico do século XVIII, derrotando o "paternalismo" abençoado pela tradição cristã, e recuperou-se do revés sofrido no século XX (quando os êxitos do Estado de bem-estar e do planejamento socialista o ofuscaram), mas hoje ele encontra-se sem argumentos convincentes diante da crise ecológica e da desigualdade social por ele agravadas. Neste contexto, faz-se necessário um pensamento rigoroso e crítico, que não se contente em propor correções ao sistema de mercado, mas busque alternativas econômicas viáveis para uma população mundial que poderá chegar a dez bilhões de pessoas. Este é um belo desafio aos cristãos e cristãs que não já não temos mais como modelo o "paternalismo" tradicional, aprendemos as lições do socialismo do século XX, e acreditamos que um novo mundo é possível - porque Jesus ressuscitou.
Marina imprimiu uma gestão pontuada por uma visão estratégica do meio ambiente, com foco no desenvolvimento sustentável. Sua saída é uma derrota deste governo, que não consegue enfrentar com rigor e coragem os desafios que têm pela frente
As empresas socialmente responsáveis, que buscam o equilíbrio socioambiental e econômico por meio de uma nova maneira de fazer negócios, devem estar bastante desapontadas com a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Desapontadas mas não surpreendidas, porque a ex-ministra teve sempre de enfrentar muitas resistências as suas idéias e precisou comprar muitas brigas por elas, logo Marina, pessoa tão afável e muito mais adepta do consenso do que do confronto.
Os meios de comunicação destacam os reveses que ela sofreu como motivos de sua demissão. Eu quero destacar as vitórias de sua gestão, importantes para o (pouco, mas expressivo) avanço que a questão do desenvolvimento sustentável obteve nesses últimos seis anos no âmbito do Executivo federal.
Marina imprimiu uma gestão pontuada por uma visão estratégica do meio ambiente, com foco no desenvolvimento sustentável, que passava por todo um esforço de melhoria dos quadros técnicos, da legislação e da fiscalização, bem como do enfrentamento das forças interessadas na destruição da floresta.
Dessas realizações, não podemos deixar de destacar a verdadeira revolução que Marina promoveu no Ibama, responsabilizando-o como órgão executor da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), exercendo atividades de controle e fiscalização de recursos naturais, realizando estudos ambientais, liberando licenças ambientais, embargando obras, propondo e editando medidas ambientais. Ao criar o Instituto Chico Mendes em 2007, deu relevância maior às atividades de apoiar o extrativismo e as populações tradicionais, executar políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais e incentivar programas de pesquisa e de proteção à biodiversidade, antes a cargo do Ibama. Por isso, nunca na história da entidade, este Instituto teve um papel tão ativo na preservação das nossas imensas riquezas naturais, embora esse papel ainda esteja longe do ideal.
Marina Silva também inovou ao criar o conceito de floresta pública para manejo privado, criando o interesse econômico na floresta em pé, fundamental para segurar o desmatamento. O projeto causa polêmicas e até agora não conseguiu sair do papel. Mas é uma prova de que a ex-ministra e agora senadora pode pensar à frente do seu tempo.
Especificamente para nós, empresários comprometidos com a gestão socialmente responsável como ferramenta de transformação social, a passagem de Marina Silva pelo Ministério do Meio Ambiente representou uma oportunidade única de diálogo de alto nível com foco na solução dos problemas e não no proselitismo político. Por isso, os verdadeiros empresários do agronegócio sabem que perderam uma importante aliada que tem voz nos meios externos e, enquanto esteve à frente da pasta do Meio Ambiente, usou-a para defendê-los, separando o joio do trigo.
Finalmente, mas não por último, a maior vitória de Marina é ter posto a visão do desenvolvimento sustentável na pauta de todas as discussões ministeriais. Por isso, ela deve ter perdido apoio de governo, mas não poderá ser esquecida nem longe do Ministério. A saída dela não é derrota da Marina ou de algo que tenha feito. É derrota deste governo que não consegue enfrentar com rigor e coragem os desafios que têm pela frente.
O maior deles é, sem dúvida, a Amazônia. Como ela destacou em sua carta de demissão, “o que se fizer na Amazônia será o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais,a diversidade cultural e o desejo de crescimento...(e) revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar o social, o econômico e o ambiental ao desenvolvimento”.
O Instituto Ethos entende que, a partir de agora, a busca pelo desenvolvimento sustentável deixa de se dar no nível institucional e volta para a sociedade. E espera ter na senadora Marina Silva uma trincheira no Legislativo, dando novamente a este Poder a possibilidade de assumir papel mais relevante no debate sobre desenvolvimento sustentável.
Convite
Gostaria de convidar todos os internautas e leitores desta coluna a participar da Conferência Internacional do Ethos, que começa no próximo dia 27 de maio e vai até o dia 30 de maio, no Palácio das Convenções do Anhembi. Este ano, a Conferência adquire um significado especial porque vai celebrar os dez anos do movimento da responsabilidade social no Brasil, do Instituto Ethos e da própria Conferência. Por isso, simultaneamente à Conferência, serão realizados mais quatro eventos: uma exposição sobre os dez anos de movimento da RSE no país, a primeira Mostra de Tecnologias Sustentáveis e a celebração do décimo aniversário do Instituto Ethos.
Este ano, o tema da Conferência é “Mercado socialmente responsável: uma nova ética para o desenvolvimento” que será discutido em alguns de seus vários desdobramentos por palestrantes como o empresário e pioneiro da gestão sustentável Ray Anderson, o físico indiano Amit Goswani, o educador Oscar Motomura, o filósofo Mário Sérgio Cortella, o vice-presidente da Febraban e diretor do Banco Itaú Antônio Jacinto Mathias, e Oded Grajew.
A programação completa da Conferência pode ser conferida em www.ethos.org.br/ci2008
A Mostra de Tecnologias Sustentáveis e a exposição dos dez anos do movimento da RSE são abertas ao público, mas é preciso credenciar-se no site para visitá-las: www.ethos.org.br/mostradetecnologiassustentaveis
Espero encontrar vocês todos no Anhembi.
Desenvolvimento sustentável
O governo Lula, que neste segundo mandato ainda não baixou medidas graves de regressão dos direitos trabalhistas, está na berlinda. O Senado aprovou o projeto do petista gaúcho Paulo Paim que extingue o fator previdenciário, uma excrescência imposta por FHC que reduziu a já misera renda dos aposentados e pensionistas. Diante da decisão, a equipe econômica, sempre apegada à ortodoxia do ajuste fiscal, pressiona os deputados e já ameaça com o veto presidencial ao projeto do senador, um ex-sindicalista que fundou a CUT ao lado de Lula. A briga promete ser quente.
Em reunião no final de abril, dirigentes das principais centrais sindicais do país manifestaram seu apoio ao projeto do senador Paim, que elimina o fator previdenciário e garante o mesmo reajuste do salário mínimo aos aposentados. Conforme declarou Wagner Gomes, presidente da CTB, "o sindicalismo está vigilante e preparado para mobilizar suas bases em defesa destas duas medidas, que já foram aprovadas no Senado e, em breve, serão apreciadas e votadas na Câmara Federal". As centrais planejam realizar várias atividades para pressionar os deputados federais e o governo Lula, incluindo uma barulhenta concentração na Câmara dos Deputados em 14 e 15 de maio.
Matemática perversa dos tucanos
O fator previdenciário foi instituído pela Lei 9.876, aprovada em novembro de 1999, no bojo da contra-reforma de FHC. Ele é um perverso mecanismo contábil de arrocho dos trabalhadores que retarda os pedidos de aposentadorias por tempo de contribuição, elevando em cinco anos a idade média de quem requer o benefício. Como a redução dos rendimentos é expressiva (ele fica menor quanto mais tarde a pessoa se aposenta), o trabalhador é obrigado a adiar o acesso ao benefício. Aplicado no cálculo da contribuição, o fator reduz em 30 e 35% - respectivamente para homens e mulheres - o valor da aposentadoria e da pensão em comparação com o salário da ativa.
Não é para menos que o fim deste monstrengo tucano foi saudado por várias categorias. Na base do próprio presidente Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC divulgou boletim com o título: "Fim do fator previdenciário, vitória dos trabalhadores". Segundo o texto, a aprovação do PLS 296/03 do senador Paulo Paim representa "uma alteração de amplo e importante alcance social". Além de extinguir o fator previdenciário, "esse redutor das aposentadorias", o projeto "estende a política de valorização do salário mínimo às aposentadorias e pensões. O sindicato, que projetou Lula no cenário nacional, promete pressionar o governo e elogia a "tenacidade do senador Paim".
A desculpa esfarrapada do déficit
Apesar do uníssono apoio ao fim do fator previdenciário, o Palácio do Planalto parece decidido a sabotar a vitória. O atual ministro da pasta, Luiz Marinho, que por ironia da história já presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, informou às centrais que o presidente Lula vetará o projeto, caso ele não seja rejeitado pela Câmara Federal. A desculpa apresentada é a mesma de sempre: a de que a medida elevará o déficit da Previdência Social. Durante a campanha eleitoral de 2006, o candidato Lula garantiu nos palanques que "a Previdência não é deficitária", contrapondo-se aos agourentos neoliberais que propunham mais arrocho no setor. Agora, parece, mudou o discurso.
A realidade, porém, rejeita os mitos neoliberais. No primeiro trimestre deste ano, em decorrência do tímido aquecimento da economia, o déficit a Previdência baixou 17,2% na comparação com o mesmo período de 2007. A própria Folha de S.Paulo, ardorosa defensora da destruição do setor, foi forçada a admitir que "a redução do rombo reflete a maior criação de empregos formais, que impulsiona a arrecadação das contribuições que financiam a Previdência. Entre janeiro e março, foram criadas 554 mil vagas - aumento de 39% em relação a 2007. Com isso, a arrecadação no trimestre chegou a R$ 35,4 bilhões, alta de 9,9% em relação ao mesmo período do ano passado".
[Autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi)].