segunda-feira, 6 de julho de 2009

Honduras:


"O golpe não poderia ter ocorrido sem a cumplicidade dos EUA"

por James Petras

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Chury: Ao iniciar nosso panorama internacional de notícias, como sempre às segundas-feiras, temos as análises ponderadas de James Petras nos Estados Unidos. Bem vindo, Petras.

Petras: Aqui estamos a analisar os acontecimentos em Honduras e as respostas internacionais num panorama por um lado muito claro e por outro muito escuro.

Chury: Certamente quando me falas de escuro referes-te a Honduras.

Petras: Sim, falamos do golpe de estado e das respostas dos diferentes organismos internacionais, regionais e também a resposta da Venezuela e do presidente Zelaya.

Chury: Aqui há expectativa sobre qual é a atitude assumida pelo governo norte-americano frente ao primeiro golpe que se verifica sob o governo de Barak Obama.

Petras: Bem, mais uma vez uma divisão. Um sector de esquerda analisa os vínculos entre os militares hondurenhos, o Pentágono e organizações clandestinas norte-americanas como a CIA e as fundações com as ONGs golpistas e concluem que os EUA estavam implicados, são cúmplices, porque o controle que têm, a influência que tiveram os militares norte-americanos nas Honduras, é muito profunda e de muito longo prazo...

Chury: Que vem do tempo dos contra também.

Petras: Sem, há muito tempo Honduras foi trampolim para o golpe contra Arbenz em 1954; foi a ponta de lança para a invasão de Cuba em 1961; foi a casa dos contras com 20 mil soldados mercenários lançados a partir de Honduras. É um país muito colonizado desde há muito tempo e Zelaya, por outro lado, é um burguês reformista tibiamente crítico ou, poderíamos dizer, independente de algumas políticas norte-americanas do passado e da actualidade e tenta conseguir benefícios ligando-se à Venezuela por causa da ajuda petrolífera, a ajuda económica. O facto de ter assumido uma autonomia relativa em relação à integração do ALBA associando-se à Venezuela foi a razão para o deslocarem. Agora, a política de Obama é muito mais subtil do que no passado. Diplomaticamente condenaram a situação de violência e em primeira instância não condenaram os militares pelo golpe, mas depois de a OEA o ter feito de forma unânime é que eles se somaram à denúncia. Mas sabemos que o que dizem em público, em fóruns onde não têm alternativa, é uma coisa e o que fazem a partir dos seus contactos e ligações em Honduras é outra. Agora, a prova do envolvimento ou não dos Estados Unidos vai passar pelas medidas que tome a OEA. Há várias possibilidades. A política é: as forças devem dialogar com os golpistas no Congresso e o presidente títere trata de resolver o conflito. Como só restam seis meses do regime eleito, poderiam prolongar as negociações para que ele volte ao governo por pouco tempo mas sem possibilidade de aprovar a reforma da Constituição.

Há que reconhecer várias coisas: Zelaya não propunha um referendo. Era uma consulta que não tinha força de lei. E segundo, foram os militares que se negaram a cumprir as ordens do presidente eleito. E, neste contexto, dizer simplesmente que haja um diálogo entre os violentos, os ilegais, os golpistas, com o presidente eleito parece-me um disparate. Por esta razão: Washington quer castigá-lo como um exemplo para os outros países no Caribe, do que lhes poderia acontecer se eles se envolvem com Chávez. E é uma dupla política. O que a esquerda deveria saber, inclusive alguns que deveriam conhecer isso melhor, é que simplesmente criticar formalmente não significa nada com este presidente que temos. É o mesmo que se passou no Irão com o golpe fracassado, criticar o processo eleitoral enquanto estão a fomentar e financiar os golpistas nas ruas.

Neste caso utilizaram uma parte da institucionalidade e no Irão lançaram os estudantes e os sectores mais pró ocidentais às ruas. Mas é o segundo golpe do senhor Obama, muito bem disfarçado e com a cumplicidade da esquerda que só enfoca no aspecto mais superficial: os militares, que são simplesmente instrumentos da política norte-americana. Todos treinados pelos Estados Unidos, todos assessorados pelos Estados Unidos, todos receberam ajuda financeira e armas dos Estados Unidos. Actualmente há inclusive assessores norte-americanos que funcionam na Embaixada e temos o caso dos militares norte-americanos que em momento algum intervêm para dizer "nós nos opomos a este acontecimento".

Chury: Quer dizer então que na realidade é muito hipócrita a posição do governo de Obama.

Petras: Bem, é muito inteligente manejar melhor as relações públicas e o que cala é bom para que a OEA não condene os Estados Unidos mas condene simplesmente os militares, e enquanto isso as declarações da OEA são que os protestos devem respeitar o âmbito constitucional. Que âmbito constitucional existe quando o Congresso, o Tribunal Supremo e os militares destituíram o presidente eleito? Não há âmbito constitucional; é um quadro anti-democrático e anti-constitucional. Então só querem que a gente marche em protesto e volte para casa. Os sindicatos e os camponeses têm outro projecto: uma greve geral indefinida e marcha permanentes até que o governo de Zelaya retorne. Então há uma diferença subtil que devemos anotar porque as grandes manchetes dizem "OEA repudia o golpe", muito bem. Mas e depois? Como vão manejar a situação, a negociar com estes poderes golpistas que são uma frente muito poderosa? E o que poderia sair disso, desarmar a possibilidade de um voto constitucional e retorna Zelaya como preso na presidência sem capacidade de criar um quadro melhor para que os processos democráticos marchem em Honduras? Por isso digo que há uma parte clara e uma parte escura nisso. Por que todo o mundo aplaude que as Nações Unidas, a OEA, o ALBA, o Mercosul, a Unasur, condenem o golpe. Sim, está bem, mas quais são as acções práticas? Vão impor um embargo, vão romper relações com os golpistas, vão organizar algum embargo sobre o comércio? Que medidas práticas vão tomar? Os Estados Unidos vão retirar o seu embaixador, vão retirar seus assessores golpistas?

Porque uma denúncia simplesmente folclórica e que tudo siga normalmente económica e politicamente parece-me um acto meramente simbólico e inconsequente.

Chury: Petra, isto leva-me a Roma e Júlio César. Parece que para Honduras a sorte está lançada.

Petras: Bem, não sei em que grau. Por exemplo, o que preocupa Bachelet e os outros governos burgueses na América Latina é que este golpe é contra um governo burguês liberal, o de Zelaya, que não mudou nenhuma propriedade, não nacionalizou, não fez nenhuma reforma agrária mas apenas facilitou os direitos democráticos das organizações sociais para que possam articular as suas reivindicações. Nesse sentido é um democrata, mas sem nenhuma radicalidade em medidas sócio-económicas. Por isso queria rever a Constituiçã para introduzir algumas mudanças sócio-económicas, mas até agora as medidas mais progressistas estão na política externa. Mas todos os governos da América Latina devem estar muito preocupados porque eles se podem identificar com um governo liberal democrata e se há um golpe contra Zelaya por que não se podem multiplicar os golpes agora na América Latina a partir das crises económicas e das dificuldades para continuar com a política económica actual? São os seus próprios interesses que estão em jogo agora. Inclusive o governo do Uruguai deve considerar que um golpe na América Central pode parecer algo comum e que não está neste círculo, mas os militares têm um modo de tomar lições do que se passa em outras partes e do que se pode fazer, que podem não escapar a um castigo exemplar. Por esta razão todos querem condenar o golpe; porque poderia ser um efeito dominó: um golpe em Honduras, depois um golpe no Equador, um golpe na Bolíva, ... E por esta razão que é muito perigoso e Washington está a olhar para ver como tudo isso vai acontecer. A primeira prioridade de Washington é deslocar um aliado de Chávez e a segunda, o mal menor, é que volte a ser governo mas enquadrado num contexto em que não possa continuar a mandar, como um presidente preso no palácio presidencial. E depois, em Novembro, em menos de seis meses, outra eleição em que o partido liberal muda o candidato, põe um reaccionário de turno e termina o perigo de uma aliança centro-americana com Chávez.

Há dois carris em Washington: um é simplesmente deslocar Zelaya e o outro é terminar com um prolongamento falso deste governo.

Uma indicação de tudo isso é a reportagem da BBC que lemos esta manhã. Tem uns 15 parágrafos e 13 estão a dar a voz e a opinião da direita. Inclusive a dizer mentiras, como que o senhor Zelaya queria fazer uma emenda à Constituição, o que é falso porque era uma simples consulta, não era propriamente um referendo. E segundo, há comentários do governo dos golpistas, comentários de alguém na rua que diz estar alegre por ter caído o governo.

É um artigo pró golpe esse da BBC, o qual é um media muito degenerado nos últimos anos. Os media reflectem algo do que realmente pensam em Washington e os argumentos que vão mencionar: que os militares estavam apoiados pelo Tribunal Suprema, que não é uma violação ao governo civil e sim que os militares estão a controlar, revertendo a ordem completamente. Tratam de esconder com uma nuvem de fumo o grande significado do golpe, dar-lhe legitimidade enfatizando o novo presidente do Congresso. Dizem que era o segundo na hierarquia presidencial, etc. Devemos ler com atenção o que dizem os media neste sentido, que tentam minimizar o significado da derrubada.

Chury: Em síntese, Petras, os Estados Unidos são alheios a este golpe em Honduras ou são parte dele?

Petras: Eu creio que estão implicados e há que dizê-lo. Os EUA não tiveram problemas em convencer os militares devido aos seus próprios interesses e ideologia e toda a oligarquia estava contra simplesmente porque não controlava Zelaya tão bem como controlava todos os mal chamados presidentes passados. Então foi uma confluência de interesses imperialistas, oligárquicos e militares. E não tenho nenhuma dúvida de que com a presença norte-americana, a presença militar profunda em Honduras, não há nenhuma possibilidade de este golpe ter ocorrido sem a cumplicidade dos Estados Unidos.

Ninguém pode imaginar forças armadas mais subordinadas ao Pentágono que as de Honduras, que não actuam simplesmente por sua conta, não actuam independentemente dos EUA, não actuam sem que os EUA e os militares, que funcionam nos mesmos quartéis, nos mesmos Ministérios, não se pode imaginar que o general do exército de Honduras possa actuar sem a cumplicidade activa dos Estados Unidos.

Chury: Vamos deixar este tema, que certamente vai dar muito o que falar. Tivemos eleições no Rio da Prata. As eleições para a renovação do Congresso argentina e a eleições internas do Uruguai.

Petras: Da Argentina recebemos a notícia de que os Kirchner estão muito enfraquecidos, que subiu a direita dura e, como previmos, com a crise económica o centro-esquerda que é responsável pela política de dependência sofreu muito e então a direita é a primeira beneficiária, mas Pino Solanas [NR] aumentou enormemente a votação.

Chury: Sim, é a surpresa.

Petras: Sim, mas também é uma expressão de como as crises dividiram o país e Pino teve a capacidade de aglutinar uma força, ao passo que todos os trotsquistas, o Partido Obrero, os PTS e os demais fragmentam-se não conseguem nada. O mesmo de sempre: quando aumentam de um por cento para um vírgula cinco crêem que é um grande êxito. Neste sentido creio que é um sinal de que o centro-esquerda está em crise. Dissemos isso há um ano aqui. Que frente à crise económica isto de tentar equilibrar forças entre exportadores, burgueses, industriais, operários, não tinha mais caminho, que não poderia continuar. Mas Kirchner e Cristina Fernández continuaram a mesma política anterior e à crise e a polarização vai contra eles, porque ambos assumem a responsabilidade pelos efeitos da crise capitalista porque são o governo e a direita aproveita na sua posição contra o governo para colher votos dos descontentes. Agora, poderias informar-me se Mujica subiu em relação a Astori e Tabaré?

Chury: Sim, mas não é o principal da eleição de ontem no Uruguai. O principal é que o Partido Nacional, con Lacalle à cabeça, ficou acima da Frente Ampla.

Petras: Repete-se o que se passou na Argentina. Repito: o centro-esquerda em tempos de crise é culpável pelos problemas sociais que surgem. Assumiram toda a responsabilidade pela trajectória capitalista, o capitalismo entra em crise e as pessoas deslocam-se para a oposição, independentemente de que a oposição vá continuar e aprofundar as mesmas medidas de crise que a Frente Ampla. Há uma votação significativa da classe média que diz: quem está a provocar as minhas dores, quem está a afectar o emprego?: é o governo. O governo é a Frenta Ampla, então assume todos os custos de continuar a sua política económica. O que se passa é que a esquerda não é suficientemente forte e diferenciada da Frente Ampla para aproveitar um deslocamento da Frente Ampla para a esquerda. É uma lástima, é trágico que por muito tempo a esquerda tenha estado associada com a Frente Ampla e por esta razão não acumulou uma imagem suficientemente crítica e contra ela para que possam servir como um pólo de atracção. Então ganham o Partido Nacional, Macri na Argentina...

Considero que isso vai ser um fenómeno continental: onde o centro esquerda maneja e manda neste período de crise, sofrerá golpes eleitores.

Chury: Petras, como estamos no final do tempo, tenho que agradecer a análise e dar-te um abraço muito grande. Encontramo-nos segunda-feira como sempre.

Petras: Um abraço para todos.

[*] Entrevista à CX36, Rádio Centenário, do Uruguai, a 29/Junho/2009.

[NR] Fernando Pino Solanas: Director de cinema, autor do filme argentino Memoria del Saqueo . Para encomendar DVDs seus clique em Mémoire d'un saccage e La dignite du peuple .

O original encontra-se em http://www.lahaine.org/index.php?blog=3&p=38940


Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 5 de julho de 2009

Permacultura pode resgatar o ser humano do individualismo

Telhado Verde
Telhado Verde. Ajuda a reduzir o barulho dentro de casa e a manter a temperatura constante e, além de grama, o telhado verde pode receber flores, arbustos e ervas medicinais. Foto do jornal O Tempo.

A Permacultura é um movimento que surgiu no campo e hoje se espraiou nas cidades. Conforme explicou o permacultor e bioconstrutor Fernando Costa na Quarta Temática dos Amigos da Terra, ontem, na casaNAT, considera a importância de se observar os processos da natureza e utilizar a sabedoria popular. Por exemplo, costumes que nossos pais e avós, ou hoje em dia, mais aqueles que residem no interior do interior do Estado, mantém como guardar sementes, arrancar matinho das calçadas com a faquinha, construir pequenas cisternas para coletar água de chuva, colocar os restos orgânicos do preparo das refeições na horta como adubo, enfim, se preocupam com a manutenção da vida ao seu redor e para o futuro de seus descendentes. Há quem considere que estas tarefas dão trabalho, são perda de tempo já que há “tecnologias”, leia-se facilidade em se adquirir venenos ou depositar os resíduos em um aterro há dezenas de quilômetros de casa. Quando na verdade é zelo com a biodiversidade.

A racionalização dos usos dos recursos naturais como água, também é pauta para a Permacultura. Na medida em que propõem que se planeje o urbano, contando sempre com a criatividade e a cultura local. Por exemplo, colocando próximo aquilo que se utiliza com maior frequência, de modo a despender menos energia como a de deslocamento. “Até num apartamento, no centro da cidade, é possível plantar hortaliças numa floreira; trocar as sementes com um vizinho por adubo orgânico que ele mesmo faz numa composteira doméstica, fazer uma captação de água da chuva nem que seja somente para molhar as plantas, já que a clorada mata os microorganismos da terra”, disse Fernando, compartilhando o seu exemplo e o de vários amigos seus.

O permacultor chama a atenção para a importância também de ao observar os ciclos da natureza, como o crescimento e desenvolvimento das plantas, que as pessoas não se precipitem e caiam na onda do consumo. Ou seja, para fazer uma composteira doméstica, não é necessário adquirir uma floreira nova, gerar mais resíduo e gasto de energia. Basta reutilizar uma lata de óleo descartada ou outro material que se tenha em casa ou que se encontre abandonado em entulhos. E nem comprar terra preta para adubar o jardim doméstico, já que em dois meses, a composteira doméstica já oferece a terra preta.

Os amigos dos Amigos da Terra, presentes ao encontro, lembraram que o individualismo e a competição vêm na contramão do atendimento das necessidades e do bem-estar das pessoas e dos outros seres à sua volta. Como são os casos dos projetos do Pontal do Estaleiro e do espigão da Lima e Silva. O primeiro porque as construções formarão uma barreira artificial impedindo a passagem dos ventos para a cidade, além do grande aumento da produção de esgoto cloacal que na região é ligado ao pluvial. O segundo, porque vai impedir que moradores de três quarteirões usufruam a luz do sol. Sem esquecer que nos dois casos, a maior concentração de moradores vai agravar o congestionamento das ruas próximas ao dos empreendimentos. A Permacultura pode nos dar respostas a estes e a outros desafios de nossa geração.

O que é Permacultura?

Surgiu na Austrália, no início dos anos 70, com David Holmgreen e Bill Mollison. Os princípios da Permacultura vêm da posição de Mollison de que “a única decisão verdadeiramente ética é cada um tomar para si a responsabilidade de sua própria existência e da de seus filhos” (Mollison, 1990). A ênfase está na aplicação criativa de princípios básicos da natureza, integrando plantas, animais, pessoas e construções em um ambiente produtivo, estético e harmônico.

Saiba mais:
http://permacultura-rs.org.br/newsite/modules/news/
http://vivagasometro.blogspot.com/2008/09/no-ao-pontal-do-estaleiro.html
http://poavive.wordpress.com/2009/05/20/vote-nao/
http://naoaoespigao.blogspot.com/2008/10/no-ao-espigo-da-lima-e-silva.html

* Informe da Amigos da Terra, publicado pelo EcoDebate,

Do sitio EcoDebate

Sobre o mesmo tema leiam, também:

Aeroporto de Tegucigalpa abarrotado de povo à espera de Zelaya

Traduzido por Rosalvo Maciel


Conseguindo impor a vontade popular, uma multidão em marcha abarrotou neste sábado os arredores do aeroporto internacional de Tegucigalpa, para dar as boas-vindas ao presidente constitucional Manuel Zelaya, o qual confirmou seu regresso à República de Honduras para este domingo.

O número de manifestantes fez com que a polícia tivesse que retroceder e abrir-lhes caminho, segundo relatou o documentarista venezuelano Ángel Palacios.

Assim também, o jornalista da Venezuelana de Televisão, Eduardo Silvera, indicou que são centenas de pessoas que se encontram dirigindo-se ao terminal internacional de passageiros.

Este rio de pessoas, como as classificou Silvera, não sabe ainda se permanecerão até amanhã nas adjacências do aeroporto, visto que o usurpador Roberto Micheletti impôs o toque de recolher, impedindo a presença do povo nas ruas a partir das 10 da noite.

Al respeito, o jornalista notificou que os hondurenhos lhe manifestaram a segurança de retornar aos arredores do terminal às 6 da manhã deste domingo, hora na qual conclui o toque de recolher. Disse que o governo de fato anunciou que se deslocarão 20 mil militares para supostamente resguardar a integridade do mandatário constitucional, Manuel Zelaya e do povo.

Franco-atiradores


Luis Galdanas, condutor do programa "Atrás da Verdade", da emissora Radio Globo, denunciou a presença de franco-atiradores no aeroporto de Tegucigalpa, para atentar contra a vida dos que manifestam seu apoio a Zelaya e que se encontram de maneira pacífica no lugar.

Explicou que estes soldados formam parte do esquadrão especial Cobra, subordinados por sua vez à polícia nacional hondurenha.

"Eles estão postados em lugares estratégicos, em locais altos, para, se ocorrer uma revolta, matar aos dirigentes da marcha (...) Não há razão para que a polícia e os militares estejam acantonados no aeroporto, e se a marcha é pacifica, como é possível que coloquem estes franco-atiradores".

"Aqui esta gente está disposta a morrer contanto que seja restituída a democracia em Honduras".


Indicou ainda, que "os contingentes militares se apoderaram das saídas dos departamentos para evitar que o povo se pronuncie na cidade", ao mesmo tempo em que comentou que o povo ha ultrapassou os obstáculos só para apoiar a Zelaya.


Assim também referiu que mais de 200 mil pessoas estão mobilizadas, uma situação nunca antes vista no país centro-americano.


Disse que a imprensa progressista alternativa segue sendo pressionada para não informar sobre o que está ocorrendo em Honduras, detalhando que os meios privados estão ocultando a realidade do que aconteceu nas últimas horas. Disse que estão transmitindo música, esporte, silenciando a mobilização dessa multidão de povo.


Assinalou Galdanas que a resistência pacífica assegura que se captaram Zelaya correrá sangue na defesa do retorno da linha constitucional deste país.


Finalmente, convocou ao que denomina a "mega marcha" até o Aeroporto Internacional de Tegucigalpa a partir das 10 da manhã de este domingo, para receber ao único e reconhecido constitucionalmente presidente Manuel Zelaya.

Original em Tribuna Popular

sábado, 4 de julho de 2009

RELIGULOUS (RELIGÍCULO) - QUE OS CÉUS NOS AJUDE (2008)

CINEASTA: LARRY CHARLES
GÊNERO: DOCUMENTAL
DIÁLOGO: INGLÊS
LEGENDA: PORTUGUÊS
TAMANHO: 339MB
FORMATO: RMVB

Créditos: CinemaCultura

SINOPSE: Religulous acompanha o comediante Bill Maher na sua viagem a locais de culto religioso em todo o mundo, para entrevistar um vasto espectro de crentes em Deus e na Religião. Conhecido pela sua astuta capacidade analítica e pelo seu empenhamento em não ser agressivo para ninguém, Maher aplica a sua característica honestidade e espírito irreverente às questões da Fé, fazendo-nos entrar numa divertida e provocatória viagem espiritual. O filme não trata extamente da existência ou não existência de Cristo e Deus, mas sim das religiões seguidas por todo mundo, em principal a cristã. Como o próprio nome indica: religião + ridículo= Religículo (título alternativo), é um filme no estilo de Zeitgeist com um tom humorístico bem peculiar.

PARTE1 - PARTE2 - PARTE3 - PARTE4

COMO JUNTAR AS PARTES

Revolucionários desconhecidos.....

Victoriano Lorenzo



Victoriano Lorenzo pertencia à classe do campesinato istmenho relacionado intimamente com os povos indígenas da etnia buglé, da qual provinha, estabelecida principalmente em Veraguas e Coclé.

O líder indígena, involucrado na Guerra Civil entre os partidos Liberal e Conservador, é mais um caso clássico de vontade popular manipulada por interesses oligárquicos. É a prova viva do exemplo de que massas em disponibilidade, identidade popular e ancstral, mesclada com a defesa da posse e do uso da terra natal, formam uma combustão popular quase incontrolável.


Victoriano é um personagem histórico, material, sua carne queimada no fuzilamento de um traidor da oligarquia, portanto, fiel ao povo, é digno de livro de Gabriel García Márquez. Seu Panamá e sua província de Chiriquí, o orgulho cholo, é tão presente n o istmo da porta do mundo como em uma zamba cantando "cholita santiagueña, cholita salteña".



A sabedoria política dos cholos surge da necessidade de protagonismo popular e programa político compatível com as identidades e culturas ancestrais e mestiças; com a carga de informações que exigem a formação de conceitos diretos, formando o arcabouço teórico-metodológico geradores de ideologia de câmbio a partir do distributivismo com os dois pés fincados no campo nacional-popular.

Victoriano Lorenzo é parte da história nossa, desconhecida de nós mesmos; é o outro lado da política do Porrete Grande - Palo Largo - Big Stick; é a versão centro e latino-americana do lado B do protetorado do Império a partir de Miami e da famigerada Escola Panamá (extinta). O orgulho chiriqueño passa pela carne dos cholos de Victoriano.

BiografiaFonte: http://www.biografiasyvidas.com/biografia/l/lorenzo_victoriano.htm

Pensamento libertário...

A democracia política de base libertária


poder popular Peru

Na América Latina o poder do povo vem se expressando desde as guerras anti coloniais, sintetizando num conjunto de experiências a sabedoria da auto organização de base com as matrizes federalistas e libertárias.

Bruno Lima Rocha, desde la ciudad de Guatire, estado Miranda, Venezuela, Janeiro de 2009

É comum escutarmos que a democracia representativa está em crise e ao mesmo tempo o sentido de democracia política está cada vez mais em alta. Concluindo o final da primeira década do século XXI e observando a luta anti-globalização na emergência de novos agentes sociais, chegamos a algumas conclusões. Um, que os valores democráticos de liberdade de expressão, reunião, manifestação, crença e difusão de idéias são essenciais a uma sociedade igualitária. Dois, que a idéia de democracia como igualdade jurídica é válida e necessária para evitar qualquer tipo de sociedade elitizada. Três, que o ritual democrático com desigualdade econômica e injustiça social é uma casca vazia e não leva a lugar algum.

Nada do que estamos escrevendo aqui é novidade para a matriz de pensamento libertário. Esta teoria na forma de Poder Popular anti-estatista recobra valor e força a partir da última década do século XX. As esquerdas existentes no mundo hoje se vêem na obrigação de dialogar com um conjunto de movimentos, identidades, defesa de interesses e autonomias pouco influentes até os anos ’80 e essenciais após o início da luta contra a globalização do capitalismo de tipo financeiro e telemático. O tema da liberdade como valor essencial ao socialismo, e do protagonismo do povo podendo decidir por sua conta sem a tutela de uma combinação de tipo Partido-Estado torna-se o pilar de uma esquerda social que hoje está na primeira linha da luta popular no mundo todo.



Para concretizar essas vontades em um sistema de idéias que possa se tornar teoria política, falta pouco, mas ainda resta um trecho a percorrer. O foco da disputa no campo dos conceitos (ou seja, das ferramentas de análise e interpretação das realidades) é justo na forma de um sistema político de base plural e igualitária. Ou seja, necessitamos reconhecer o direito a existência da diversidade dentro da justiça social. Isto implica pensar em formas de organização social onde a dimensão política (de organizações e partidos de esquerda); religiosa (sem proselitismo nem controle da educação ou dos meios de comunicação); de identidades (sejam étnicas, sexuais, culturais, etc.); territorialidades (como os controles comunais); do mundo do trabalho (na gestão direta e coordenada com as maiorias) e dos mais variados grupos de interesse estejam contemplados nas decisões fundamentais da sociedade.



Para formalizar estas idéias é preciso um passo anterior, que é simples. As esquerdas de intenção revolucionária necessitam compartilhar da idéia da liberdade política funcionando sobre uma base de justiça social. O que nos divide, é saber se essa base societária será estatal ou não. O que nos une é afirmar esta liberdade política dentro da multiplicidade de agentes e sem a disputa estéril por direcionamentos e vanguardas. A política tem regras duras e é um jogo para gente grande. A hegemonia, a referência e a gravitação se dão pelo peso relativo de cada força atuando no tabuleiro de possibilidades. Mas ter gravitação não implica necessariamente em ter conduta visando hegemonismo ou direção total de uma luta. É possível avançar na horizontalidade e uma experiência político-social serve de exemplo.



Ainda na década de ’80, o Peru vivia uma situação de guerra revolucionária onde duas forças políticas atuavam. Uma, a mais conhecida e de linha maoísta, era o Partido Comunista do Peru / Sendero Luminoso Outra, que ganhou relevância internacional com a ação do seqüestro e toma da Embaixada do Japão em Lima (1996-1997), era o Movimento Revolucionário Tupac Amaru / Exército Revolucionário Tupacamarista (MRTA). Para os fins deste artigo, a experiência de controle territorial do MRTA na Frente San Martin é sem dúvida a mais interessante.



Trata-se de um território onde se mescla selva e montanha e fica distante 886 kms de Lima, capital do país. Nesse terreno, nos municípios onde o MRTA operava, era a força hegemônica em armas e na maioria das vezes tinha o monopólio da força. Mas, sabiamente, isso não implicou o monopólio da representação política. A estrutura da sociedade foi dividida em Assembléias Regionais Populares, onde todos os grupos de interesse, sindicatos, movimentos populares, delegados de micro-regiões e organizações de esquerda tinham seus delegados com voz e voto. O MRTA era uma força a mais nesse universo de decisão política, com o mesmo peso de voto dos demais. Das Assembléias Regionais saíam delegados para a Assembléia Nacional, que era, logicamente, o conjunto de representações e territórios onde os tupacamaristas tinham hegemonia. Esta Assembléia não contava com delegados regionais de zonas onde o Sendero era hegemônico e menos ainda de lugares onde a democracia representativa burguesa e estatal se fazia presente. Por fim, é desta instância mais ampla de delegação de base e regionalizada de onde saíam linhas e demandas para a política geral nos lugares onde o MRTA atuava.



Que lições e exemplos podem ser tirados da experiência de San Martín? Primeiro, que mesmo nas condições mais adversas é possível a organização de base e o estímulo a participação política. Segundo, que a diversidade dentro da igualdade de direitos e justiça social é perfeitamente aplicável. Isto se dá se a hegemonia da força e a gravitação política têm as condições de exercer este tipo de democracia. Terceiro, que se no caso, não fosse apenas o MRTA no uso da força, mas uma série de organizações políticas compartilhando o mesmo plano de trabalho das Assembléias (Regionais e Nacional) seriam perfeitamente executável. Quarto, que qualquer organização social de protagonismo popular sempre se verá confrontada com o status quo e a estrutura de poderes das classes dominantes. A variável é o tipo e forma de confrontação, podendo ser desde uma luta avançada e dura como a dos tupacamaristas peruanos dos anos ’80 e ’90 até a luta de massas e popular exercida pelos movimentos indígenas e comunitários em algumas cidades e regiões latino-americanas a partir do ano 2000.



Quinto e por fim, é essencial compreender que o conceito aplicado pelo MRTA à organização social em San Martín é o de PODER POPULAR. Isto significa uma estrutura de delegação política aos militantes votados diretamente pelos segmentos do povo organizado, que constroem instâncias de regulação social e é de onde vem a soberania popular por excelência. Esse modelo, aplicado em países onde o Estado existe e não está em guerra com o povo mas, é alvo de disputa de blocos de poder (como acontece neste momento em Venezuela), entra em funcionamento quando as organizações políticas e movimentos populares disputam as parcelas de poder não-estatal através de conselhos comunais, mesas técnicas (para temas como água, luz, saneamento, saúde e etc.) ou território auto-organizados (de forma total ou parcial). Por fim, um sistema político semelhante poderia ter sido aplicado na Catalunha de 1936 a partir do Comitê Central das Milícias, no caso, sob hegemonia e controle social quase total da CNT/FAI. O mesmo se deu na Frente de Aragón e em outras regiões do planeta com ou sem hegemonia integral dos anarquistas organizados.

Princípios do Choro Box 4 (2002)


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Créditos: UmQueTenha

Princípios do Choro Box 5 (2002)


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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Obsolescência planejada: motor do consumismo

Osvaldo ferreira Valente

Lixão eletrônico em Guiyu, China. Foto : Basel Action Network BAN
Lixão eletrônico em Guiyu, China. Foto : Basel Action Network BAN

[EcoDebate] Tenho insistido, em vários artigos publicados aqui neste portal e em outros veículos, que a origem de todos os problemas ambientais está no consumismo da população que cresce a níveis insuportáveis para a capacidade de sustentação da Terra. Se o mundo, que luta pela manutenção da floresta amazônica, não demandasse tanta carne para consumo, não haveria porque o pecuarista se aventurar na região. Raciocínio simplista? À primeira vista pode ser, pois haverá sempre o contraponto de que é possível produzir mais carne sem expandir a fronteira agrícola. Mas já escrevi, aqui neste portal (Produtividade agrícola x conservação ambiental, em 19/05/2009), que o aumento de produtividade só pode ser conseguido, a partir de certo ponto, com procedimentos que têm custos ambientais. Nada neste mundo é capaz de ocorrer só com vantagens. As desvantagens estão sempre agregadas.

Um comportamento que deveria estar merecendo uma reação forte das Ongs ambientalistas é o uso do conceito de “obsolescência planejada”, ou seja, aquele que programa a fabricação de um produto com tempo de vida limitada, deixando já datado o novo lançamento, mesmo e quase sempre só com maquiagem ou com introdução de tecnologia supérflua para a maioria da população. E a propaganda vem forte, apelando para o “status” que será alcançado pelos usuários. Desta armadilha nem os pobres se livram, pois ela está camuflada em um grande número de produtos por eles consumidos. Daí vem o enorme consumo de plásticos para caixas de equipamentos eletrônicos, para os celulares que entulham as gavetas ou que vão para o lixo com baterias e tudo. E aqui a culpa não está no campo e nem na Amazônia, está nas cidades, pois elas são os templos do consumismo, do trabalho escravo, do desrespeito aos direitos elementares da cidadania etc. Nelas deveriam estar concentrada as preocupações das Ongs que lutam pela conservação ambiental. Mas como o trabalho aí é muito difícil, começando por comportamentos inadequados dos próprios membros de tais entidades, fica mais fácil e charmoso eleger os ruralistas do agronegócio como molduras para a nossa limpeza de consciência. Não quero dizer com isso que os ruralistas são santos, nem estou aqui para defender comportamentos meramente capitalistas, mas a expansão da soja, por exemplo, veio suportada pelo aumento do consumo. E consumo de quem? Principalmente dos países ricos, de onde vêm muitas Ongs que lutam pela Amazônia. Não há, neste caso, como não fazer a pergunta: não seria mais lógico que elas brigassem, em seus países de origem, para um consumo mais racional, pressionando menos o uso da terra para produção? Talvez assim as pequenas propriedades rurais fossem suficientes para a produção dos volumes necessários. Mas elas não brigam pela diminuição do consumo, mas pelo boicote do produto brasileiro. Fico preocupado, num mundo de busca desenfreada pelo lucro, se não há interesses econômicos por trás disso, como o uso das barreiras ambientais pelas corporações multinacionais ou pelos países dominados por elas. Já não duvido mais de nada, pois o capitalismo está muito além do horizonte avistado por nós.

O Henrique Cortez escreveu, recentemente, artigo falando sobre a necessidade de as Ongs reverem as suas maneiras de agir ( O ambientalismo é um movimento social?, em 29/06/2009). E eu concordo plenamente, pois acho que os problemas precisam ser atacados nos fundamentos que os sustentam. Se a obsolescência planejada induz a substituição de um bem por outro, mesmo que essa substituição não traga nenhuma mudança efetiva no serviço prestado, estamos apenas aumentando o consumo de alguma matéria prima retirada da natureza ou produzida com o seu desgaste. Aí está um campo espetacular de ação das Ongs, ou seja, mostrar à sociedade que ela está correndo o risco de cair em armadilhas do consumo, que se transforma em consumismo e que é ardilosamente preparado e programado. E veja que o marketing abusivo já começa a atacar o público infantil, conforme alerta o Instituto Alana, uma Ong que trabalha com o assunto e vem alertando para a estratégia de propaganda que visa transformar a criança numa aliada do consumismo. A obsolescência planejada começa pela conquista da criança e do adolescente, ligando produtos a pessoas famosas e explorando as fantasias próprias da idade ou até mesmo com aquela ideia simples, mas eficiente, de que com a novidade você vai ser admirado pelos colegas e amigos.

É no marketing da obsolescência planejada que está, hoje, uma das grandes razões do uso exagerado de recursos naturais e que está colocando a Terra numa condição acelerada de insustentabilidade.

Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro florestal, especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas e professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); colaborador e articulista do EcoDebate ovalente{at}tdnet.com.br

Sobre o Irã...

Irã: será que o gato vai cair do precipício?




Escrito por Slavoj Zizek

Quando um regime autoritário se aproxima da sua crise final, sua dissolução normalmente segue dois passos. Antes do seu colapso real, acontece uma misteriosa ruptura: subitamente as pessoas sabem que o jogo acabou, deixam simplesmente de ter medo. Não é só que o regime perde a sua legitimidade; o seu próprio exercício de poder é entendido como uma impotente reação de pânico. Todos nós conhecemos a clássica cena dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício, porém, continua a andar, ignorando o fato de que deixou de existir chão debaixo das suas patas, mas só começa a cair quando olha para baixo e toma consciência do abismo: para cair, ele só tem de se lembrar de olhar para baixo...

Em Xá dos xás, um relato clássico da revolução de Khomeini, Ryszard Kapuscinski localizou o preciso momento da sua ruptura: num cruzamento de Teerã, um único manifestante recusou-se a mexer-se quando um policial lhe ordenou que andasse; embaraçado, o oficial simplesmente foi-se embora. Em poucas horas, toda Teerã soube deste incidente e, apesar de continuarem os combates de rua durante semanas, todos sabiam de alguma forma que o jogo acabara. Está acontecendo algo de semelhante agora?

Há muitas versões para os eventos em Teerã. Alguns vêem nos protestos a culminação de um "movimento de reformas" pró-ocidental, seguindo as características das revoluções ‘laranja’ na Ucrânia, Geórgia etc., uma reação laica à revolução de Khomeini. Apóiam os protestos como o primeiro passo para um Irã secular, liberal-democrático, livre do fundamentalismo muçulmano. São contraditados por céticos que pensam que Ahmadinejad venceu mesmo, que é a voz da maioria, enquanto o apoio a Moussavi vem das classes médias e da sua juventude dourada. Em resumo: deixemos cair as ilusões e enfrentemos o fato de que Ahmadinejad é o presidente que o Irã merece. Depois há os que desvalorizam Moussavi, como membro do regime clerical com diferenças meramente cosméticas em relação a Ahmadinejad: Moussavi também quer continuar o programa de energia atômica, está contra o reconhecimento de Israel e além disso contou com o pleno apoio de Khomeini como primeiro-ministro nos anos da guerra com o Iraque.

Finalmente, os mais tristes de todos são os apoiadores de esquerda de Ahmadinejad: para eles, o que está realmente em causa é a independência iraniana. Ahmadinejad venceu porque ergueu a bandeira da independência do país, expôs a corrupção da elite e usou a riqueza do petróleo para aumentar os rendimentos da maioria pobre - este é, dizem-nos, o verdadeiro Ahmadinejad atrás da imagem dos meios ocidentais de um fanático que nega o Holocausto. De acordo com esta visão, o que realmente está acontecendo hoje no Irã é uma repetição da derrubada de Mossadegh - um golpe financiado pelo Ocidente contra o presidente legítimo. Esta visão ignora fatos: a alta participação eleitoral - de 85%, muito mais que os habituais 55% - só pode ser explicada como voto de protesto. Mas também demonstra a cegueira diante de uma genuína manifestação da vontade popular, assumindo complacentemente que, para os atrasados iranianos, Ahmadinejad é suficientemente bom - eles ainda não estão suficientemente maduros para serem governados por uma esquerda laica.

Opostas como são, todas estas versões lêem os protestos segundo o eixo da linha-dura islâmica versus os reformistas liberais pró-Ocidente, e é por isso que têm tanta dificuldade para localizar Moussavi: ele é um reformador apoiado pelo Ocidente que quer mais liberdade pessoal e economia de mercado ou um membro do establishment clerical cuja eventual vitória não afetaria de qualquer forma séria a natureza do regime? Essas oscilações extremas demonstram que tais visões não conseguem ver a verdadeira natureza destes protestos.

A cor verde adotada pelos apoiadores de Moussavi, os gritos de "Alá akbar!" que ressoam dos telhados de Teerã na escuridão da noite, indicam claramente que os seus protagonistas vêem a sua atividade como uma repetição da revolução de Khomeini de 1979, como um regresso às origens, a reversão da recente corrupção da revolução. Este regresso às origens não é só programático; diz mais respeito ainda ao modo de atividade das multidões: a enfática unidade do povo, a sua abrangente solidariedade, auto-organização criativa, a improvisação das formas de organizar os protestos, a mistura única de espontaneidade e de disciplina, como na impressionante marcha de milhares em completo silêncio. Trata-se de um genuíno levante popular dos ludibriados partidários da revolução de Khomeini.

Há algumas consequências cruciais a retirar desta percepção. Em primeiro lugar, Ahmadinejad não é o herói dos pobres islamistas, mas um genuíno populista corrupto islamo-fascista, uma espécie de Berlusconi, cuja mistura de postura ridícula e rude poder político causa desconforto mesmo entre a maioria dos aiatolás. A sua demagógica distribuição de migalhas aos pobres não nos deveria iludir: atrás dele não estão só os órgãos da repressão policial e um aparelho de Relações Públicas bastante ocidentalizado, mas também uma forte e nova classe rica, resultado da corrupção do regime (a Guarda Revolucionária do Irã não é uma milícia da classe operária, mas uma megacorporação, o mais forte centro de riqueza no país).

Em segundo lugar, deveríamos traçar uma clara diferença entre os dois principais candidatos opostos a Ahmadinejad, Mehdi Karroubi e Moussavi. Karroubi é efetivamente um reformista, propondo basicamente a versão iraniana das políticas de identidade, prometendo favores a todos os grupos particulares. Moussavi é algo inteiramente diferente: o seu nome representa a ressurreição genuína do sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini. Mesmo se este sonho era uma utopia, deveríamos reconhecer na genuína utopia a própria revolução. O que isto quer dizer é que a revolução de Khomeini de 1979 não pode ser reduzida a uma tomada de poder da linha-dura islamista, foi muito mais que isso.

Agora é o momento de recordar a incrível efervescência do primeiro ano depois da revolução, com a esfuziante explosão de criatividade social e política, experiências de organização e debates entre os estudantes e o povo comum. O próprio fato de esta explosão ter sido sufocada demonstra que a revolução de Khomeini foi um evento político autêntico, uma abertura momentânea que desencadeou forças desconhecidas de transformação social, um momento em que "tudo parecia possível". O que se seguiu foi um fechamento gradual através da tomada do controle político pelo establishment islâmico. Para usar termos freudianos, o movimento de protestos de hoje é o "regresso dos reprimidos" da revolução de Khomeini.

E, por último, mas não menos importante, o que isto significa é que há um genuíno potencial libertador no Islã - para encontrar um "bom" Islã não é preciso ir ao século X, temo-lo aqui mesmo, na frente dos nossos olhos.

O futuro é incerto - com todas as probabilidades, os que estão no poder vão conter a explosão popular, e o gato não vai cair no precipício, mas voltar a ter chão. Contudo, já não será o mesmo regime, mas apenas um poder autoritário e corrupto no meio de tantos outros. Qualquer que seja o desenlace, é decisivo ter em conta que estamos testemunhando um grande evento emancipatório que não cabe no enquadramento da luta entre liberais pró-ocidentais e fundamentalistas anti-ocidentais. Se o nosso pragmatismo cínico nos fizer perder a capacidade de reconhecer esta dimensão emancipatória, então nós, no Ocidente, estaremos efetivamente entrando numa era pós-democrática, preparando-nos para os nossos próprios Ahmadinejads. Os italianos já têm o seu nome: Berlusconi. Outros esperam na fila.

Slavoj Zizek é sociólogo, filósofo e crítico cultural. Pesquisador da Universidade de Ljubljana (Eslovênia).

Publicado originalmente em Support for the Iranian People 2009.

Tradução de Luis Leiria, editor do site Esquerda.net, de onde o texto foi retirado.