China mostra sua força
As exportações chinesas abriram uma ligeira dianteira em relação às da Alemanha no primeiro semestre deste ano, segundo novos dados divulgados ontem, em mais uma indicação de que a posição da Alemanha, de principal país exportador do mundo, está ameaçada. Japão é beneficiado pelo vigor chinês.
A China exportou mercadorias em valor equivalente a US$ 521,7 bilhões no primeiro semestre do ano, enquanto o total da Alemanha foi US$ 521,6 bilhões, conforme anunciou a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra. Estes números de exportação são acompanhados de perto na Alemanha, a maior economia da Europa, que terá eleições nacionais no próximo mês.
As vendas dos seus produtos industriais têm impulsionado em grande parte o crescimento econômico nos últimos anos e, durante toda a crise econômica, o governo da premiê conservadora Angela Merkel tem defendido firmemente o modelo econômico do país, voltado às exportações.
A Alemanha há muito tempo vem se preparando para que a economia chinesa, de crescimento muito mais acelerado, assuma o seu título de “campeã mundial de exportações”. O valor provável das exportações alemãs e chinesas para o ano cheio continua, porém, incerto e dependerá decisivamente das oscilações das taxas de câmbio nos próximos meses.
Euro forte
Um euro forte poderia ajudar a reduzir as vendas da Alemanha. Os setores exportadores do país mostraram sinais de recuperação nos meses recentes. “Está apertado demais para podermos extrapolar para o ano todo e, quem dirá, para o próximo ano”, afirmou Patrick Low, economista-chefe da OMC.
As exportações alemãs foram duramente abaladas pela queda na confiança mundial que se seguiu à derrocada do banco de investimentos americano Lehman Brothers, no ano passado. Mas surgiram sólidos sinais de uma sólida retomada no crescimento. Em junho, mês mais recente para o qual há dados disponíveis, as exportações alemãs deram um salto de 7% na comparação com o mês anterior.
Apesar disso, elas ainda ficaram 22,3% abaixo do nível do ano anterior. As exportações chinesas seguiram um padrão semelhante. O aumento repentino nas exportações ajudou a explicar porque a Alemanha conseguiu registrar um aumento no PIB no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior - dando a entender que o país teria saído da recessão antes dos EUA, Reino Unido e da maioria das demais grandes economias da UE.
Por sua vez, a recuperação na Alemanha está ajudando a elevar o desempenho global da zona do euro. As encomendas à indústria na zona do euro dispararam, numa alta de 3,1% em junho, na comparação com o mês anterior (leia texto ao lado), segundo dados da Eurostat, a agência oficial de estatísticas da União Europeia.
Cautela
O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse que a economia de seu país “ainda enfrenta muitas novas dificuldades e problemas” e que o governo manterá suas políticas de estímulo uma vez que recuperação ainda carece de bases sólidas. Wen disse que apesar de melhoras nas condições da economia chinesa, não se pode ser “cegamente otimista”.
As declarações foram feitas durante visita ao sul do país e veiculadas pelo site do gabinete do premiê. “Ainda há muitos fatores de instabilidade e de incerteza pela frente e a situação econômica futura é ainda muito grave, embora tanto a economia mundial quanto a economia nacional estejam passando por mudanças positivas neste momento.”
O premiê advertiu também que os efeitos de algumas das medidas do governo podem começar a perder força enquanto outras levarão algum tempo até apresentarem resultados. No comunicado do gabinete com as declarações de Wen não há mais detalhes dos problemas mencionados por ele.
A cautela do líder chinês contrasta com um otimismo crescente entre muitos analistas que dizem que a China está fazendo progressos impressionantes para deixar para trás os efeitos da crise. Muitos têm repetido que a China será a primeira grande economia a sair da maior retração mundial desde os anos 30.
Wen prometeu que Pequim continuará aplicando suas políticas para incrementar a demanda doméstica, ampliar o crédito e melhorar eficiência. O país está pondo em prática a um plano de estímulo de US$ 586 bilhões previsto para durar dois anos. O objetivo é injetar recursos do Estado na economia para estimular o consumo doméstico por meio de maiores gastos públicos em obras e ampliação de crédito.
Pacote
O Banco da Construção da China afirmou, no entanto, que há o excesso de recursos no sistema bancário está criando uma bolhas do mercado, o que deu asas a temores de que autoridades chinesas estejam preparando - ao contrário da promessa de Wen - um aperto no crédito.
“Há incerteza na economia e bolhas no mercado de capitais”, disse Guo Shuqing, presidente do banco, o segundo maior do país. “O sistema bancário chinês ainda tem excesso de liquidez.” No primeiro trimestre, bancos do país concederam um valor recorde de US$ 1,1 trilhão em novos empréstimos para ajudar a por em prática o pacote de estímulo do governo.
Foi o pacote que contribuiu para que a economia chinesa tivesse um crescimento de 7,9% no último trimestre - ante os 6,1% do trimestre anterior. O premiê e outras autoridades chinesas têm alertado, no entanto, que muitas empresas no país ainda registram resultados ruins e que outras áreas mostram que a fase de recuperação ainda não está bem fundada.
“A fundação da recuperação econômica não está estável, não está firme, não está equilibrada e certamente não podemos ser cegamente otimistas”, disse Wen. A meta de crescimento do governo para este ano é de 8%. Estimativas de analistas privados variam de 7% a 9,4%.
Japão
A demanda da China está contribuindo para tirar o Japão de sua mais grave recessão do pós-guerra, disse uma destacada economista do governo japonês. “Não há dúvida de que a recuperação econômica da China está contribuindo para uma reação no Japão e em outras economias da região”, disse Tomoko Hayashi, diretora para economias externas da Secretaria de Governo em Tóquio.
Indústrias, da Honda à Komatsu, se beneficiaram no trimestre passado com o pacote de incentivo econômico da China, de 4 trilhões de iuan (US$ 585 bilhões), o que ajudou a economia do Japão a crescer pela primeira vez em mais de um ano. As exportações para a China superaram as vendas para os Estados Unidos e fizeram com que o país se tornasse o maior mercado externo do Japão este ano.
O mercado chinês está compensando a fragilidade dos gastos do consumidor e das empresas no mercado japonês. A “recuperação [do Japão] seguirá dependendo muito da demanda externa e do pacotes de estímulo no segundo semestre de 2009 e início de 2010″, disse Tetsufumi Yamakawa, economista-chefe para Japão do Goldman Sachs.
Imóveis
Outro dado que mostra o vigor da China é que o país superou os EUA e o Reino Unido juntos em vendas de imóveis comerciais no primeiro semestre do ano, disse a empresa de pesquisa Real Capital Analytics, sediada em Nova York. As transações chinesas totalizaram US$ 31,2 bilhões, depois da disparada de vendas propiciada pelo boom de crédito patrocinado pelo governo chinês.
As vendas nos EUA somaram US$ 16,2 bilhões no primeiro semestre, segundo o relatório, e as do Reino Unido, US$ 13,7 bilhões. “Não há dúvida que de a China será um participante mais significativo no cenário mundial de transações de imóveis comerciais”, disse Dan Fasulo, diretor-executivo da Real Capital.
Cerca de US$ 62,8 bilhões em imóveis comerciais foram negociados mundialmente no segundo trimestre, 17% a mais que nos três meses anteriores, o que representa o primeiro aumento em 18 meses, disse a Real Capital.
Esse crescimento indica uma recuperação mundial. O total mundial de vendas no primeiro semestre foi de US$ 116,4 bilhões, 65% a menos que no mesmo período do ano passado e US$ 500 bilhões a menos que no pico no primeiro semestre de 2007. Espera-se que as vendas cresçam neste semestre.
Com agências e Valor Econômico, in www.vermelho.org.br