Grandes nomes da música gaúcha estarão reunidos no domingo, dia 4 de outubro, durante ato show em Porto Alegre. Denominado Fora Yeda – Impeachment Já, o ato será realizado no Parque Marinha do Brasil, em frente ao Praia de Belas Shopping, a partir das 15 horas. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Ato show do Fora Yeda reunirá grandes nomes da música gaúcha
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O Pacto Germano-Soviético num debate polémico entre Historiadores
No mais completo respeito pela tradição civilizacional judaico-cristã, de reescrever a história, as classes no poder têm recorrido à falsificação, rasura, emenda e truncagem de factos e documentos, na sua tentativa de reescrever à História.
Publicamos hoje um texto sobre o pacto germano-soviético da historiadora francesa Annie Lacroix-Riz, em resposta a um apelo de Bernard Fischer. (Odiario.info)
RESPOSTA A BERNARD FISCHER SOBRE O PACTO GERMANO-SOVIÉTICO E QUESTÕES RELACIONADAS
Caro camarada,
O tambor do pacto germano-soviético começou a soar, depois do de Katyn, há alguns meses e em todas as ocasiões possíveis (não há falta de aniversários e de comemorações). Mme Marie Jégo, cujos dias e noites são assombrados pelos bolcheviques, quer estejam em actividade ou não, ainda ontem ironizava no Le Monde, a propósito de “Moscovo tentado a reabilitar o pacto”, rezando assim : “Assinado em 23 de Agosto de 1939 por Viatcheslav Molotov e Joachim von Ribbentrop, os ministros dos negócios estrangeiros da URSS e da Alemanha nazi, o pacto ”de não-agressão” depressa se tornou numa aliança entre Estaline e Hitler, prontos a desmembrar a Europa de leste e do norte, desde a Finlândia aos países bálticos, passando pela Polónia”. Este discurso tão categórico quanto errado está de acordo com a prosa que o Le Monde há muito oferece aos seus leitores; o seu dossier organizado para o quinquagésimo aniversário da morte de Estaline em Março de 2003 constituiu um dos topos dessa actividade notável do “diário de referência”. Mas não basta que uma funcionária do “diário dos assuntos Vedomosti, a jornalista Andreï Kolesnikov” se entregue ao género psico-trágico (“O cocktail Molotov-Ribbentrop é de detonação lenta. Explode na cabeça das pessoas. Mutila a consciência da nação russa”) para transformar uma jornalista anti-soviética numa historiadora a sério.
Em ‘Le Choix de la défaite : les élites françaises dans les années 1930’, Paris, Armand Colin, 2006, 671 p., reeditado em 2007, e em ‘De Munich à Vichy, l'assassinat de la 3e République’, 1938-1940, Paris, Armand Colin, 2008, 408 p., estudei pormenorizadamente as questões internacionais suscitadas pelo teu e-mail de hoje aquilo a que chamas “a questão das consequências reais [das] relações [germano-soviéticas] do ponto de vista de um determinado número de países europeus geograficamente intermédios como, por exemplo, a Finlândia, a Polónia e a Checoslováquia; é a famosa questão da assinatura dos acordos de Munique e da anexação da região dos sudetas pela Alemanha de Hitler. Na Polónia, há uma questão de verdade histórica importante no que se refere à questão dos massacres de Katyn. Na União Soviética, há a questão das relações entre Estaline e o estado-maior do exército vermelho, por exemplo, um tal Toukhatchevsky”, o qual foi incontestavelmente culpado de traição (ver o índice, e quanto à questão de Toukhatchevski stricto sensu, ‘Le choix de la défaite’, p. 393-399).
Quanto a Katyn, será de ler com proveito a interpretação do meu colega britânico Geoffrey Roberts, em ‘Stalin's Wars: From World War to Cold War’, 1939-1953, New Haven & London : Yale University Press, 2006. Infelizmente, esta obra excelente, tal como todas as que redigiu antes (‘The unholy alliance: Stalin's pact with Hitler’, Londres, Tauris, 1989, e ‘The Soviet Union and the origins of the Second World War. Russo-German relations and the road to war’, 1933-1941, New York, Saint Martin's Press, 1995), não está traduzida em francês, enquanto que todos os livros que arrasam Estaline (desde o seu nascimento até à sua morte) e a sua comitiva foram traduzidos logo no ano seguinte à sua publicação, nomeadamente os disparates horríveis do publicista Simon Sebag Montefiore sobre ‘La cour du tsar rouge ou Le jeune Staline’). Podemos encontrar uma certa repetição na longa re-análise, “Geoffrey Roberts, ‘Stalin's Wars: From World War to Cold War, 1939-1953: un événement éditorial’”, que coloquei no meu site (www.historiographie.info) em 2007, aqui anexa, “Geoffrey Roberts, ‘Stalin's Wars, From World War to Cold War, 1939-1953: un événement éditorial’”.
Também encontrarás no meu artigo “Le PCF entre assaut et mea culpa: juin 1940 et la résistance communiste” (www.historiographie.info) igualmente anexo ao meu e-mail, elementos de resposta à polémica tão infindável como infundada sobre o pacto germano-soviético e as suas consequências sobre o movimento operário internacional, neste caso francês. Este artigo pretendia demonstrar a desonestidade duma operação mediática inimiga destinada a uma enorme confusão, o livro, lamentável pela ausência de informação e de documentação original, de Jean-Pierre Besse et Claude Pennetier: ‘Juin 40, La négociation secrète. Les communistes français et les autorités allemandes’. Venerado pelo Le Monde e pelo Libération (entre outros), alcançou logicamente grande crédito junto do PCF, habituado desde que conquistou a respeitabilidade de membro da “esquerda europeia” (e renunciou ao mesmo tempo à sua identidade comunista) a atirar a culpa para cima do seu muito honroso passado. De Munique a Vichy, fortemente consagrado às questões internas (e em especial à repressão anticomunista), trata do aspecto “francês” do pacto germano-soviético durante o período que precede o do artigo.
Como ainda ontem recordei a um amigo belga que mo pediu a propósito do pacto germano-soviético, não sem antes evocar as “perversões” presumidas do estalinismo (termo intelectual minimal, na gama dos crimes e horrores estalinistas com que a população francesa, “europeia”, etc. é inundada quase quotidianamente), não pude publicar a crítica do importantíssimo livro de Roberts “nos presumíveis Cahiers d'histoire critique, herdeiros (devotados) dos Cahiers d'histoire de l'institut de recherches marxistes, que outrora acompanhei, com a desculpa de que a dita revista crítica não podia correr o risco de “cobrir” a minha indulgência para com os soviéticos: o que eu escrevi sobre a Polónia dos coronéis e o seu papel abominável no período entre-duas-guerras (‘Le choix de la défaite’ e ‘De Munich à Vichy’), o que Roberts, Carley e eu própria demonstramos quanto ao isolamento diplomático e militar da URSS na época da “guerra de inverno” dá toda uma luz diferente à alegada “matança” que a URSS deveria reconhecer e explicar, se é que a executou (conservo uma certa dúvida, dado, por um lado, a natureza da decisão e o seu carácter estritamente excepcional e, por outro lado, a ausência de qualquer informação de arquivo internacional sobre estes acontecimentos no início de 1940 – mas talvez tenha “falhado” os bons correios) ; tal como deveria reconhecer e explicar, pelo menos depois da guerra, o incontestável acordo secreto sobre a “partilha” germano-soviética de 1939 das zonas de influência, incluindo a Polónia)” (extracto de um correio de 29 de Agosto).
Também me referia acima à excelente obra do historiador americano-canadiano Michael Jabara Carley, ‘1939, the alliance that never was and the coming of World War 2’, Chicago, Ivan R. Dee, 1999, felizmente traduzida, ‘1939 : l'alliance de la dernière chance: une réinterprétation des origines de la Seconde Guerre mondiale’, Presses de l'Université de Montréal, 2001, ainda por cima disponível on-line. Carley detesta o comissário do Povo dos negócios estrangeiros Molotov, ao qual, segundo a moda da época, atribui todas as características do horrível estalinista acanhado; lamenta profundamente o seu predecessor Litvinov, que recebeu a paga a 3 de Maio de 1939 por causa do comportamento dos anglo-franceses assim como as suas próprias ilusões quanto a estes últimos; mas reconhece, tal como Roberts (e eu própria), a ausência de responsabilidade dos soviéticos no acontecimento de 23 de Agosto de 1939, e a estrita manutenção da linha externa soviética na era Molotov.
Soube ontem, depois de ter redigido a mensagem acima referida, que as autoridades russas acabavam de publicar uma série de documentos sobre a política externa polaca a partir de 1934. Julguei perceber que esses textos continham os acordos secretos entre Berlim e Varsóvia, na sequência da assinatura do “acordo amigável” germano-polaco de 26 de Janeiro de 1934 (firmado por dez anos). Irei lê-los com um prazer tanto maior quanto os arquivos franceses e alemães (em especial) dos anos 1933-1939 já me forneceram muitos pormenores. Recordemos que, ao lado de Pilsudski, o funcionário polaco das decisões, o coronel Beck era um conhecido assalariado de Berlim segundo os arquivos originais diplomáticos e militares franceses (o que também é claro nos alemães publicados), e que assim se manteve mesmo depois da derrota ignominiosa da Polónia (tão ignominiosa como o desastre francês). Pilsudski nomeara-o chefe da política externa polaca a partir do Outono de 1932, e Beck conquistou em Maio de 1935 a sucessão do seu benfeitor (já morto) na chefia da ditadura. Estes dois oficiais dum exército em ruínas desde a sua origem (ver o texto de arquivos anexos, “L'Armée polonaise au début des années vingt”) eram apenas os mandatários dos privilegiados polacos, como “o príncipe Janusch Radziwill, um dos latifundiários mais importantes não apenas da Polónia, mas de toda a Europa”: unido não só aos Junkers alemães como aos grandes siderúrgicos alemães, este nobre de nascimento alemão foi um dos principais inspiradores de uma política pro-alemã que significava a morte da Polónia enquanto Estado, e de uma ditadura perfeitamente adaptada, sobretudo depois do golpe de estado de Pilsudski de 1926, no “interesse dos grandes proprietários” (EMADB, renseignement militaire Depas 866, 17 de Junho 1935, 7 N 3024; “Principales personnalités que pourra rencontrer” le MAE (Laval, aquando da sua viagem a Varsóvia), nota anexa à carta 247 de Laroche à Laval, Varsóvia, 10 Abril 1935, URSS 1918-1940, 982, arquivos do MAE).
A Polónia do trio infernal Beck-Pilsudski-Radziwill passava por ser um pivot do “cordão sanitário” franco-inglês, o que lhe valera em 1920-1921 a atribuição, graças à ajuda militar francesa, via Weygand (e o seu adjunto de Gaulle), da Galícia oriental, apesar de prometida à Rússia pela “Linha [étnica] Curzon”. Passou a ser o caniche do Reich hitleriano a partir do acordo de 26 de Janeiro de 1934, sem abdicar das suas funções de cão de guarda do “cordão sanitário” útil para todos, incluindo os “Aliados” ocidentais ; mas não de garantia da submissão do povo polaco a uma das ditaduras (regime particularmente conveniente para a missão de “cordão sanitário”) das mais sangrentas no período entre-duas-guerras: na rica panóplia do leste da Europa francês, Varsóvia, quanto a esse respeito, disputava o primeiro lugar com Belgrado e Bucareste; sabe-se, de resto, a importância que, nessa altura tal como hoje, Paris, paladino dos “direitos do Homem” deu à “democracia burguesa” que reinava em Praga. No entanto, o rolo compressor da propaganda repetiu, a partir dos anos 90, que a Europa oriental, com a queda da URSS e a libertação consecutiva das nações escravas satélites, “reencontrara” a “democracia” que perdera “a partir de 1945” (1918-1939, um paraíso democrático; 1939-1945, o nirvana democrático).
Podemos encontrar nas duas obras acima referidas, a confirmação das minhas afirmações que podem parecer brutais e, em especial, informações documentadas sobre a participação directa dos coronéis polacos, com Beck em primeiro lugar, “abutres” ou “hienas”, segundo os amáveis qualificativos dos seus cúmplices alemães, franceses, ingleses, etc., na liquidação da Checoslováquia, na da Petite Entente (teoricamente) anti-alemã que agrupava a Checoslováquia, a Jugoslávia e a Roménia, e na perseguição dos judeus da Polónia. Juntarei factos precisos suplementares e apresentarei novas fontes na minha contribuição destinada ao colóquio internacional de Varsóvia previsto para meados de Outubro sobre a campanha da Polónia de 1939 (“La Pologne dans la stratégie politique et militaire de la France (octobre 1938-août 1939)”, colóquio em que também participará Geoffrey Roberts.
Que a política polaca foi conduzida numa cumplicidade total com o Reich hitleriano não atenua em nada, como demonstram as obras referidas, a esmagadora responsabilidade dos dirigentes económicos e políticos da França, ébrios de anti-sovietismo, tão lestos a baixarem-se diante da Alemanha como os seus homólogos polacos, e actores de primeiro plano desde 1938 quanto à perseguição dos judeus da Polónia refugiados em França (entre outros judeus estrangeiros), questão tratada em ‘De Munich à Vichy’. De notar que os dirigentes “republicanos” deram toda a liberdade aos fascistas italianos e aos nazis alemães para perseguirem os seus inimigos em território francês, respectivamente desde 1922-1923 e 1933 (ver ‘Le choix de la défaite’). Isto também se aplica, evidentemente, aos Apaziguadores de Londres e de Washington. A Polónia era uma pequena potência submetida às grandes potências imperialistas, incluindo a França na altura, e as responsabilidades que os seus dirigentes assumiram 1º nos crimes praticados contra os povos eslavos (incluindo os polacos) e contra os judeus e 2º no seu desaparecimento enquanto Estado, de 1939 a 1945, foram amplamente partilhadas pelos seus tutores estrangeiros. Para citar apenas um exemplo, não era só a Polónia que tinha o poder de impedir a entrada do exército vermelho em território polaco em 1938 (para salvar a Checoslováquia) ou em 1939 (para salvar a própria Polónia) mas também os seus mestres franceses e ingleses, que além disso ainda tinham “garantido” no papel as suas fronteiras em Março-Abril de 1939, e que a encorajaram a tratar Moscovo como “lacaio” segundo a expressão de Jdanov (Junho de 1939). Exactamente do mesmo modo que as elites checoslovacas, com receio de classe e com medo de ver as suas fronteiras salvas pelo exército vermelho, cederam às pressões exercidas por Paris e por Londres para obter delas a destruição do seu próprio Estado.
Os dirigentes russos parecem dispostos, por razões que só eles sabem, a abordar a sua história nacional do período entre-duas-guerras e da Segunda Guerra mundial dum modo mais sério do que até aqui, não só o fim da URSS, mas da era de Khrouchtchev. O qual modo tratava com um alto grau de fantasia a história dos anos 1920-1950, como observou em ‘La Russie en guerre’ o excelente jornalista e escritor britânico Alexander Werth, um russófilo de longa data, pai de Nicolas, o papa francês duma “sovietologia” armada em história dos “crimes de Estaline”. A historiadora que eu sou congratula-se com esta viragem perceptível desde há algum tempo, e aprecia o que se anuncia pelo menos como o fim da fase de intoxicação pura e simples que caracterizou as três últimas décadas no que se refere à URSS e à sua história. A cidadã também. As duas esperam com impaciência saber como é que a ideologia dominante nos vai dar contas em Maio-Junho de 2010 do 70º aniversário do Desastre francês de Maio-Junho de 1940, sobre o qual há tanto a dizer.
Cordialmente.
Annie Lacroix-Riz
30 de Agosto de 2009
Carta de Bernard Fischer a intelectuais comunistas franceses
Camaradas
Podem ver abaixo uma mensagem para o fórum de discussão do site www.comite-valmy.org na sequência da publicação nesse site de uma mensagem de um jornalista russo relativa ao septuagésimo aniversário do pacto germano-soviético.
No dia 3 de Setembro de 1939, faz agora setenta anos, uma semana depois da assinatura do famoso facto germano-soviético, dá-se a invasão da Polónia pela Alemanha de Hitler, é o início da segunda guerra mundial.
Toda a história da segunda guerra mundial é polémica. Passados setenta anos, há um grande número de versões relacionadas com os principais acontecimentos desta guerra, e a assinatura do pacto germano-soviético é efectivamente um acontecimento importante desta guerra. Este ano não aparecerá nenhuma nova versão, nem da Ria Novosti, nem deste site, nem de qualquer outro sítio e nenhum juízo moral seja em que sentido for alterará o que quer que seja à história.
Do meu ponto de vista, as questões mais importantes são as questões das causas da segunda guerra mundial, a questão da situação política na Alemanha entre 1933 e 1939, a questão da luta contra o fascismo, a questão da política do partido comunista alemão entre 1933 e 1939, a questão das relações entre a Alemanha e a União Soviética entre 1933 e 1939 e a questão das consequências reais dessas relações do ponto de vista dos governos de um determinado número de países europeus geograficamente intermédios como, por exemplo, a Finlândia, a Polónia e a Checoslováquia; é a famosa questão da assinatura dos acordos de Munique e da anexação da região dos sudetas pela Alemanha de Hitler. Na Polónia, há uma questão de verdade histórica importante no que se refere à questão dos massacres de Katyn. Na União Soviética, há a questão das relações entre Estaline e o estado-maior do exército vermelho, por exemplo, um tal Toukhatchevsky.
Vocês conhecem certamente essas questões e certamente têm a vossa opinião particular. A minha única pergunta é a seguinte : Quantos historiadores trabalham actualmente nestas questões, na Rússia, na França ou noutros países ? Por exemplo, façamos essa pergunta a Annie Lacroix Riz ou então a Bruno Drweski
Saudações militantes.
Bernard Fischer
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Gorilas da mídia grunhem como gorilas hondurenhos
Se havia algum véu sobre a índole golpista e fascista da mídia brasileira, ele acaba de ser rasgado com o golpe dos gorilas em Honduras.
O caso é grave.
Parece haver nas ações da direita brasileira de hoje cada vez mais coisas entre o céu, onde está a imaginação, e a terra, onde se vive a realidade, do que sonha a nossa vã filosofia.
Pelas melhores regras do que se considera ser a ciência política, pela sabedoria acumulada nas academias e até pelas experiências do passado, tais e tais causas deveriam gerar tais e tais efeitos; desta ou daquela situação teria de resultar esta ou aquela conseqüência.
Mas não tem sido assim.
Isso se deve à mais interessante inovação que a direita trouxe para o debate político: o Departamento de Gerência de Falsidades e Mentiras.
Ou seja: a mídia.
O caso, examinado de perto, mostra que, como na parábola do camelo da Bíblia, não leva nenhum dos defensores da “democracia” direitista a entrar no reino dos céus — ou, até, em lugares onde o ingresso exige méritos muito mais modestos.
O bicho teria menos trabalho para passar pelo buraco de uma agulha do que um desses “democratas” para ser abrigado na morada dos justos.
A calamitosa seqüência de truques para justificar o golpe é uma prática que faz primeiro o sujeito perder a pose, depois o respeito e por fim qualquer condição de continuar falando em democracia.
Mas nada disso parece incomodar esses trastes.
É aí que reside a natureza didática do caso: eles se repetem tanto que acabam se tornando uns chatos, uns tolos, uns idiotas.
Nos países onde se vive sob a proteção das leis, o Poder Judiciário funciona como uma garantia para os cidadãos.
Sua ação gera um ambiente de tranqüilidade, a expectativa de ordem e o conforto de saber que as decisões serão tomadas sempre de acordo com as mesmas praxes e critérios.
No Brasil, a “grande imprensa” quer transformar essa vertente democrática em um fator de tumulto.
Seus mandantes a todo momento interferem nos atos do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e do Poder Executivo.
Eles invalidam leis que o Congresso aprovou, inventam regras novas no meio do jogo e decidem o que a Constituição quis ou não quis dizer a cada artigo.
O “comentarista” da Rede Globo, Arnaldo Jabor, por exemplo, já avisou que a solução para o impasse na embaixada brasileira em Honduras tem de ser ”razoável”.
O que será que ele e seus iguais consideram ”razoável”?
Vai ser preciso adivinhar, ou perguntar a eles, ou, quem sabe, pedir que escrevam eles próprios novas leis para o país.
Se perguntados o que pretendem fazer, suas respostas certamente serão parecidas com aquela célebre explicação dada por um oficial norte-americano, durante a Guerra do Vietnã, após pulverizar uma aldeia acusada de abrigar guerrilheiros comunistas: ”Para salvar a aldeia, tivemos de destruí-la.”
Pobre Rio Grande do Sul...
A monocultura que vai terminar na pobreza
Por Paulo Mendes Filho (*)
Uma cidade, Encruzilhada do Sul. Uma monocultura, eucaliptos. Uma situação insustentável. Miséria, favelas, pobreza e desilusão que tende a piorar. Basta conhecer, observar e conversar com as pessoas, com os agricultores e as agricultoras familiares do município para perceber o que está em curso. A monocultura dos eucaliptos modificou a paisagem, a economia e principalmente a estrutura social do município. Indo lá, vendo e conversando, observamos que a invasão dos capitalistas está desequilibrando rapidamente a paisagem da região e a estrutura social e econômica da cidade.
Quem ainda não vendeu suas terrinhas e insiste em ficar, convive com as visitas dos desesperados animaizinhos que fogem da invasão. São mulitas, mão-pelada, gato-do-mato, ratões e capivaras famintos que devoram tudo que veem pela frente. As plantações, os maciços estão cada vez mais absorvendo a paisagem e desalojando tudo que ali existe. As matas ciliares estão cercadas e desprotegidas pela baixíssima possibilidade de alguém conferir se está dentro ou não da lei ambiental.
Falando em lei, a conversa é de que existem dois pesos e duas medidas. A dureza da lei ambiental para os agricultores e a moleza para os empresários da monocultura. Tudo remando a favor dos novos senhores da terra, da energia e da água. Tudo a favor para que os resistentes e teimosos agricultores tradicionais e os ecochatos abandonem suas terras e suas ideologias a favor do império.
O poder público propagandeando empregos de papel e sinalizando impostos que serão sonegados, apóia o projeto de olho nas contribuições de campanha. A adesão individual de alguns técnicos do poder público também é observada.
Uma invasão de poucos e grandes empresários que está sendo facilitada e apoiada estrategicamente pelo governo Yeda e por vários governantes municipais. Incentivando politicamente o plantio. Recebendo recursos das empresas. Facilitando créditos. Modificando o zoneamento ambiental da silvicultura. Desestruturando a Fepam e a Emater (Extensão Rural) e permitindo a prática do fato. Encontra-se em curso a maior ocupação de terra do Rio Grande do Sul por parte de um único grupo. Um verdadeiro império!
Uma verdadeira Encruzilhada ou quem sabe uma grande Cruzada rumo ao poder concentrado da energia, da água e da terra. É disso que estamos falando. A expansão de um único dono em mais de um milhão de hectares com a destruição de comunidades rurais, deslocamento de famílias inteiras para a favelação nas cidades e a concentração de poder. Esta nova situação vai influenciar por anos a vida da sociedade gaúcha. A mesma sociedade que é desrespeitosa com a luta de milhares pela Reforma Agrária abre as pernas para a invasão de uma única empresa que vai aumentar a violência das cidades.
A busca pela energia (pasta de celulose), a terra (poder estratégico) e água (Aquifero Guarani) faz com que a invasão tome conta de tudo rapidamente. Não há tempo a perder. Planta logo que o poder garante. Em nossas barbas, está se estruturando o maior império do século XXI. Uma dominação que vai influenciar gerações futuras. Que vai excluir milhões de pessoas e vai concentrar poder e capital para poucos. Uma dominação sem precedentes que trará a insustentabilidade do nosso Estado.
(*) Diretor do Semapi - Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do RS.
OEA e Honduras.....
Adital
O Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) se reuniu hoje (28), em Washington, para debater as últimas medidas adotadas pelo governo provisório de Honduras, encabeçado por Roberto Micheletti e instaurado após a deposição de Manuel Zelaya, em 28 de junho. Ontem, Micheletti impediu a entrada de chanceleres da OEA e da Espanha no país.
O presidente provisório expulsou três chanceleres da OEA e dois da embaixada espanhola do aeroporto internacional de Tegucigalpa, capital de Honduras. O objetivo do grupo era preparar a visita de uma missão composta por Insulza e ministros de relações exteriores de vários países da região.
O representante permanente do México na OEA, o embaixador Gustavo Albin Santos, expressou surpresa e rechaço à ação de Micheletti. Para Santos, essa "não é uma saída política deste país".
Segundo o secretário geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, a delegação tinha o consentimento de Micheletti para entrar no país, mas o presidente provisório mudou de opinião.
"Esse não era o momento oportuno", justificou Micheletti, que acrescentou que a delegação "já estava advertida". Os chanceleres foram detidos, por horas, no aeroporto internacional da capital Tegucigalpa e enviados para Miami. "Houve muita rudeza no tratamento, mas tudo verbal", esclareceu Insulza.
Apenas um alto funcionário da OEA, o chileno John Biehl, foi aceito no país e já estabeleceu contatos com candidatos presidenciais das eleições gerais do país, previstas para 29 de novembro.
Ontem, Insulza também criticou o estado de sítio em Honduras, que suspendeu garantias constitucionais como liberdade de expressão, de circulação e de reunião. A medida foi aprovada por Micheletti no último sábado (26) e já permitiu que os golpistas fechassem, na madrugada de hoje (29), a Rádio Globo e o Canal 36.
"As possibilidade de uma normalização em Honduras, com vistas a um restabelecimento constitucional e, portanto, a ter eleições democráticas, é o caminho contrário ao eleito ontem", disse Insulza, como mostrou a TeleSul, em referência ao estado de sítio.
As eleições gerais de 29 de novembro não são reconhecidas por governos e organismos internacionais como a OEA, já que foram convocadas por um governo tido como ilegítimo.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A verdade sobre as deformações dos bebês nascidos no Iraque
Créditos: blogdovelhocomunista
Um médico iraquiano disse à Sky News que o número de bebês que nasce com deformações está constantemente a aumentar na cidade de Fallujah, fortemente bombardeada durante a guerra. Há quinze meses uma investigação levada a cabo pela Sky News revelou um número crescente de crianças que nascem com deformidades em Fallujah. A preocupação é que o aumento das deformidades deve estar ligado à utilização de armas químicas pelas forças dos EUA.
Recentemente voltamos ao Iraque para nos inteirarmos da situação e saber o que tinha acontecido a algumas das crianças identificadas. Em Maio do ano passado contamos a história de Fátima Ahmed, uma menina de três anos, que nasceu com duas cabeças. Quando nós a filmamos ela parecia um feixe, absolutamente apática, mal conseguindo respirar e não se conseguia mexer. Mesmo agora, depois de ter visto as fotografias vezes sem conta, ainda sinto um grande choque e uma enorme tristeza quando olho para ela. Mas os prognósticos para Fátima nunca foram bons e como eu temia, ela não completou o seu 4.º aniversário. A sua mãe, Shukriya, falou-nos sobre a noite em que a filha morreu. Limpando as lágrimas e com a voz embargada, Shukriya disse que tinha deitado a filha como habitualmente, mas acordou com a horrível sensação de que algo estava errado. Ela disse-nos que ela sentiu o momento da morte da filha, mas que isso não tornava a dor mais leve. O pai de Fátima agarrou na mãozinha da filha mas já estava fria. “Já se foi” disse para a sua mulher inconsolável.
Uma outra menina que encontramos o ano passado foi Tiba Aftan que nasceu com um enorme tumor na face. Agora está a tatear o futuro, esperando que tudo corra melhor pois foi para a vizinha Jordânia para lhe ser removido o tumor. O tumor cobria metade da fronte de Tiba, estava a invadir um dos seus olhos e continuava a crescer à medida que a menina também crescia. Embora a operação tenha sido um sucesso, Tiba precisará de mais cirurgias e a última viagem custou todo o dinheiro que a família tinha.
Mas desde a nossa última investigação, fizemos novos dossiês com casos de crianças com deformações, nascidas em Fallujah nos últimos oito meses.
Há uma grande variedade de problemas, desde anormalidades do abdômen ou dos membros, até as deformações do rosto. Também vimos fotos de fetos com toda a espécie de deformações e que não sobreviveram. Não há uma explicação precisa sobre o que terá causado as anormalidades e não há números para comparar estes casos com os de uma década atrás, uma vez que não foram guardados registros durante o tempo de Sadam Hussein. As nossas provas são factuais, mas as pessoas afirmam repetidamente que acreditam que as deformidades estarão relacionadas com os fortes bombardeamentos sobre Fallujah perpetrados pelos EUA, em 2004.
As pessoas exigem uma investigação independente sobre o impacto dos vários tipos de armas usadas pelos norte-americanos, incluindo o controverso fósforo branco. Contudo, desde que começamos a dar voz aos pedidos de ajuda do povo de Fallujah, as coisas começaram a ficar piores. O Dr. Ahmed Uraibi especialista em pediatria em Fallujah, disse-nos que o número de deformidades com que ele tinha de lidar aumentou no último ano.
O povo de Fallujah quer saber quantos mais bebês deficientes serão precisos para que alguém repare neles e comece a agir.
Liberdade e justiça social
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Frei Betto - Correio da Cidadania | |
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Na década de 1980 visitei, com freqüência, países socialistas: União Soviética, China, Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia e Cuba. Estive também na Nicarágua sandinista. As viagens decorreram de convites dos governos daqueles países, interessados no diálogo entre Estado e Igreja.
Do que observei, concluí que socialismo e capitalismo não lograram vencer a dicotomia entre justiça e liberdade. Ao socializar o acesso aos bens materiais básicos e aos direitos elementares (alimentação, saúde, educação, trabalho, moradia e lazer), o socialismo implantara, contudo, um sistema mais justo à maioria da população que o capitalismo.
Ainda que incapaz de evitar a desigualdade social e, portanto, estruturas injustas, o capitalismo instaurou, aparentemente, uma liberdade – de expressão, reunião, locomoção, crença etc. – que não se via em todos os países socialistas governados por um partido único (o comunista), cujos filiados estavam sujeitos ao "centralismo democrático".
Residiria o ideal num sistema capaz de reunir a justiça social, predominante no socialismo, com a liberdade individual vigente no capitalismo? Essa questão me foi colocada por amigos durante anos. Opinei que a dicotomia é inerente ao capitalismo. A prática de liberdade que nele predomina não condiz com os princípios de justiça. Basta lembrar que seus pressupostos paradigmáticos – competitividade, apropriação privada da riqueza e soberania do mercado – são antagônicos aos princípios socialistas (e evangélicos) de solidariedade, partilha, defesa dos direitos dos pobres e da soberania da vida sobre os bens materiais.
No capitalismo, a apropriação individual e ilimitada da riqueza é direito protegido por lei. E a aritmética e o bom-senso ensinam que quando um se apropria muitos são desapropriados. A opulência de uns poucos decorre da carência de muitos.
A história da riqueza no capitalismo é uma seqüência de guerras, opressão colonialista, saques, roubos, invasões, anexações, especulações etc. Basta verificar o que sucedeu na América Latina, na África e na Ásia entre os séculos XVI e a primeira metade do século XX.
Hoje, a riqueza da maioria das nações desenvolvidas decorre da pobreza dos países ditos emergentes. Ainda agora os parâmetros que regem a OMC são claramente favoráveis às nações metropolitanas e desfavoráveis aos países exportadores de matérias-primas e mão-de-obra barata.
Um país capitalista que agisse segundo os princípios da justiça cometeria um suicídio sistêmico; deixaria de ser capitalista. Nos anos 80, ao integrar a Comissão Sueca de Direitos Humanos, fui questionado, em Uppsala, por que o Brasil, com tanta fartura, não conseguia erradicar a miséria, como fizera a pequena Suécia. Perguntei-lhes: "Quantas empresas brasileiras estão instaladas na Suécia?". Fez-se prolongado silêncio.
Naquela época, nenhuma empresa brasileira operava na Suécia. Em seguida, indaguei: "Quantas empresas suecas estão presentes no Brasil?". Todos sabiam que havia marcas suecas em quase toda a América Latina, como Volvo, Scania, Ericsson e a SKF, mas não precisamente quantas no Brasil. "Vinte e seis", esclareci. (Hoje são 180). Como falar em justiça quando um dos pratos da balança comercial é obviamente favorável ao país exportador em detrimento do importador?
Sim, a injustiça social é inerente ao capitalismo, poderia alguém admitir. E logo objetar: mas não é verdade que, no capitalismo, o que falta em justiça sobra em liberdade? Nos países capitalistas não predominam o pluripartidarismo, a democracia, o sufrágio universal, e cidadãos e cidadãs não manifestam com liberdade suas críticas, crenças e opiniões? Não podem viajar livremente e até mesmo escolher viver em outro país, sem precisar imitar os "balseros" cubanos?
De fato, nos países capitalistas a liberdade existe apenas para uma minoria, a casta dos que têm riqueza e poder. Para os demais, vigora o regime de liberdade consentida e virtual. Como falar de liberdade de expressão da faxineira, do pequeno agricultor, do operário? É uma liberdade virtual, pois não dispõem de meios para exercitá-la. E se criticam o governo, isso soa como um pingo de água submergido pela onda avassaladora dos meios de comunicação – TV, rádio, internet, jornais, revistas – em mãos da elite, que trata de infundir na opinião pública sua visão de mundo e seu critério de valores. Inclusive a idéia de que miseráveis e pobres são livres...
Por que os votos dessa gente jamais produzem mudanças estruturais? No capitalismo, devido à abundância de ofertas no mercado e à indução publicitária ao consumo supérfluo, qualquer pessoa que disponha de um mínimo de renda é livre para escolher, nas gôndolas dos supermercados, entre diferentes marcas de sabonetes ou cervejas. Tente-se, porém, escolher um governo voltado aos direitos dos mais pobres! Tente-se alterar o sacrossanto "direito" de propriedade (baseado na sonegação desse direito à maioria). E por que Europa e EUA fecham suas fronteiras aos imigrantes dos países pobres? Onde a liberdade de locomoção?
Sem os pressupostos da justiça social, não se pode assegurar liberdade para todos.
Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros.
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Ocupação 101 - Vozes da maioria silenciada - 2006
SINOPSE
DADOS DO ARQUIVO
Gênero: Documentário
Origem/Ano: EUA/2006
Formato: rmvb
Áudio: Inglês
Legendas: Português/BR (embutidas)
Qualidade: DVDrip
Duração: 90 min
Tamanho: 582 MB
Servidor: Rapidshare (6 partes)
Links:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Créditos: Sra. Bukowski - Laranja Psicodelica
Le Monde: Obama constrangido a repensar estratégia afegã
Obama em Pittsburgh: problemas na volta para casa |
Créditos: Patria Latina
"capitalismo de desastre" no pós-crise...
Naomi desmonta o 'capitalismo de desastre' no pós-crise
Circula na rede um texto de Naomi Klein que analisa como os norte-americanos e o mundo ocidental fazem o rescaldo pós-crise da financeirização da economia global. Algo que coloca em cheque – e de uma vez por todas – o que a autora já definiu como “capitalismo de desastre” e a própria hegemonia neoliberal, de há muito sem sustentação popular e sem legitimidade, a não ser pela mídia impressa e eletrônica dos patrões, ou Síndrome de CNN. Márcia Denser, do Congresso em Foco, convida a ler o que diz a "garota" Naomi.
Naomi Klein, a garota que cutuca o big business
Esse espetáculo levanta, necessariamente, uma questão: se o Estado pode intervir para salvar corporações que assumiram riscos impensados nos mercados imobiliários, por que não pode intervir para evitar que milhões de americanos sofram a execução de suas hipotecas?
Seguindo o mesmo raciocínio, se US$ 170 bilhões podem ser instantaneamente disponibilizados para compra da gigante dos seguros AIG, por que o seguro de saúde individual – que protegeria os cidadãos das práticas predatórias das empresas de seguro-saúde – parece ser um sonho inatingível? E se cada vez mais corporações precisam dos fundos dos contribuintes para se manter, por que os contribuintes não podem reivindicar algo em troca, como limites de juros em pagamentos executivos ou uma garantia contra mais perdas de empregos?
Agora que ficou claro que os governos podem realmente agir em tempos de crise, será muito mais difícil alegar a impossibilidade de agir no futuro. Outra mudança potencial tem a ver com as esperanças do mercado em relação a futuras privatizações. Por anos, os bancos de investimento global têm feito lobby entre os políticos para a exploração de dois novos mercados: um que viria da privatização de aposentadorias públicas e outro que surgiria de uma nova onda de estradas, pontes e sistemas hídricos privatizados ou parcialmente privatizados. Esses dois sonhos acabaram de se tornar muito mais difíceis de vender: os americanos não mais estão dispostos a confiar seus ativos coletivos e individuais a apostadores imprudentes em Wall Street, especialmente porque parece muito provável que os contribuintes tenham que pagar para comprar seus próprios ativos de volta quando a próxima bolha estourar.
Esta crise também poderia ser um catalisador para uma abordagem radicalmente alternativa à regulação de mercados mundiais e sistemas financeiros. Já estamos vendo uma movimentação em direção à ‘soberania alimentar’ no mundo em desenvolvimento, ao invés de deixar o acesso aos alimentos aos caprichos dos negociantes de matérias-primas. Finalmente chegou a hora de considerar idéias como a tributação de negociações, que reduziria a velocidade do investimento especulativo, assim como outros controles do capital global. Hoje, a nacionalização não é mais um palavrão, e as empresas de gás e petróleo devem ficar atentas: alguém precisa pagar pela mudança em direção a um futuro mais verde, e faz mais sentido que a maior parte dos fundos venha do setor altamente lucrativo que é o maior responsável por nossa crise climática. Isso certamente faz mais sentido do que criar outra bolha perigosa resultante da comercialização de carbono.
Contudo, a crise que estamos presenciando demanda mudanças ainda mais profundas do que essa. O motivo pelo qual esses empréstimos podres puderam se proliferar não foi apenas porque os reguladores não entenderam o risco. Foi porque temos um sistema econômico que mede nossa saúde coletiva somente com base no crescimento do Produto Interno Bruto. Enquanto os empréstimos podres estavam estimulando o crescimento econômico, nossos governos os apoiavam ativamente. Assim, o que realmente foi colocado em questão pela crise é o comprometimento inquestionável com o crescimento a qualquer custo [grifo meu]. Na verdade, essa crise deveria nos levar a encontrar uma forma radicalmente diferente através da qual nossas sociedades pudessem medir saúde e progresso. Nada disso, no entanto, acontecerá sem uma enorme pressão pública sobre os políticos neste período-chave. Não o lobby educado, mas um retorno às ruas e o tipo de ação direta que mostrou o caminho durante o New Deal na década de 1930. Sem isso, teremos mudanças superficiais e um retorno, assim que possível, à velha forma de fazer negócios.”
E a velha forma de fazer negócios é, no limite, aquela na qual, ao fim e ao cabo, todos perdem.