segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Entrevista com Eduardo Galeano...




"O que eu descrevia continua sendo certo. O sistema internacional de poder faz com que a riqueza siga sendo alimentada pela pobreza alheia. Sim, as veias da América Latina ainda seguem abertas", diz Eduardo Galeano em reportagem publicada no jornal espanhol El País. O escritor uruguaio recebeu na semana passada, em Madrid, a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes.


Entrevista de Javier Rodríguez Marcos (El País), traduzida por IHU Online

Com cabeça de senador romano e consciência de tribuno da plebe, Eduardo Galeano sempre tem presente uma frase de José Martí: "Todas as glórias do mundo cabem em um grão de milho". Ele diz isso porque, na semana passada, deram-lhe, em Madri, a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes. "É uma alegria, claro. Não pratico falsa humildade, mas também não me esqueço de Martí e digo a mim mesmo: ei, tranquilo, devagar pelas pedras". No dia seguinte, além disso, recebeu um prémio da ONG Save the Children.
Aos 69 anos, o escritor uruguaio é uma pedra no sapato dos vencedores da história, uma espécie de best-seller furtivo da esquerda. No ano passado, durante a digressão espanhola de apresentação de seu último livro, "Espelhos. Uma história quase universal" (L&PM Editores, 2008), ele lotou cada salão de actos em que pisou, chegando inclusive a transbordar o Auditório de Galícia, em Santiago de Compostela, com capacidade para mil pessoas. No próximo dia 14, ele encerrará esta nova visita à Espanha com uma leitura de sua obra no Auditório Marcelino Camacho de Comisiones Obreras, em Madrid.
Galeano conseguiu levantar paixões com livros sem género preciso, mas escritos com um estilo fragmentário e seco que ele opõe à "tradição retórico do peito estufado. Aprendi a desfrutar dizendo mais com menos", diz, no seu hotel madrileno de sempre, a um passo da Puerta del Sol. Ali, ele conta que o seu mestre, Juan Carlos Onetti, "que não dava conselhos", disse-lhe algo que não esqueceu: "Como ele era bastante mentiroso, para dar prestígio às suas palavras, ele costumava dizer que eram provérbios chineses. Um dia me soltou: 'As únicas palavras dignas de existir são aquelas melhores do que o silêncio".
O autor de "Dias e noites de amor e de guerra" (L&PM Editores, 2001), briga há anos contra o silêncio. Agora, luta também contra o medo. Mais do que as eleições presidenciais que ocorrem no Uruguai no dia 25 de Outubro, interessam-lhe os dois plebiscitos que ocorrerão nesse dia. Um pretende derrogar a lei que impede o castigo contra os militares da ditadura: "O Estado não pode renunciar a fazer justiça porque a impunidade estimula o delito". Há 20 anos, foi realizado um referendo com o mesmo objectivo. E com um resultado ruim. "Lançaram toneladas de bombas de medo", conta o escritor. "Dizia-se que, se a lei fosse anulada, a violência voltaria, e as pessoas votaram assustadas".
Aquele primeiro plebiscito dos anos 80 foi promovido por uma comissão, na qual, juntamente com Galeano, estava Mario Benedetti. Desde a morte deste, em Maio passado, o seu amigo faz parte da fundação que herdou o legado do poeta para promover a literatura jovem: "Era um insólito caso de escritor generoso. O nosso grupo é uma agremiação egoísta que ocupa a jaula dos pavões reais. A cada um dói o êxito do outro. Ao Mario não". Com relação às reclamações do irmão de Benedetti, incomodado com o testamento, Galeano é diplomático: "Isso está superado. Ninguém se salva das confusões de herança".
O dinheiro misturado com as confusões leva inevitavelmente ao futebol, um assunto ao qual o escritor dedicou centenas de páginas, dentre elas as que formam um clássico da literatura desportiva: "Futebol ao sol e à sombra" (L&PM Editores, 2004). É obsceno pagar milhões de euros por um jogador? "O futebol profissional é a indústria de entretenimento mais importante do mundo. Além do mais, é um desporto que parece religião: a religião de todos os ateus. O que é preciso ter claro é o que o Machado dizia: agora, qualquer ignorante confunde valor e preço".
Por outro lado, no anedotário diplomático internacional ficou gravado o facto de que Hugo Chávez presenteasse Obama com o livro mais popular (30 edições em inglês) do autor montevideano, "As veias abertas da América Latina" (Ed. Paz e Terra, 2007, na 46ª edição em português), um ensaio de 1971 que o seu próprio autor descreve como "uma contra-história económica e política com fins de divulgação de dados desconhecidos". E acrescenta: "O que eu descrevia continua sendo certo. O sistema internacional de poder faz com que a riqueza siga sendo alimentada pela pobreza alheia. Sim, as veias da América Latina ainda seguem abertas".
Galeano não acredita que o presidente dos Estados Unidos tenha lido o livro. "Duvido. Foi só um gesto. Além disso, a edição era em espanhol". A eleição de Obama pareceu-lhe uma vitória contra o racismo, mas lhe decepcionou que ele aumentou o orçamento da Defesa: "Os políticos mais bem intencionados acabam presos a uma maquinaria que os devora". E o que lhe parece a sua política para com a América Latina? "Ele tem boas intenções, mas há problema de treino. Os norte-americanos estão há um século e meio fabricando ditaduras, e, na hora de se entender com países democráticos, eles têm dificuldades. O desconcerto diante do que ocorreu em Honduras é uma amostra".
O segundo plebiscito que espera o escritor ao voltar para casa quer outorgar o voto aos uruguaios que não vivem ali, "uma quinta parte da população!". Ele mesmo teve que se exilar e sabe o que é sobreviver sem direitos: "Não tinha documentos, porque a ditadura os negava. Quando eu vivia em Barcelona, tinha que ir à polícia todos os meses. Faziam-me repetir os formulários e mudar cem vezes de guiché. No final, no campo da profissão, eu colocava: 'escritor'. E entre parênteses: 'de formulários'". Ninguém se deu conta.
Texto de Javier Rodríguez Marcos, publicada no jornal espanhol El País, 06-10-2009.
Tradução de Moisés Sbardelotto, para o IHU (Instituto Humanitas Unisinos).

A historia é cíclica...e os golpes também.....

Honduras repete a Guatemala, 55 anos depois


 Copiado do blog de Luiz Carlos Azenha,por ele mesmo



Se me fosse dada a opção de escolher o currículo de formação de novos jornalistas, eu optaria por colocá-los para estudar História.
Não dá para ver o golpe em Honduras fora de seu contexto econômico e histórico internacional.
Do ponto-de-vista da economia, a crise nos Estados Unidos teve um tremendo impacto em toda a América Central. Nos Estados Unidos os centro-americanos cumprem o papel de derrubar os salários locais. E ajudam a sustentar as economias de seus países de origem com as remessas de dólares.
Com a crise, as elites locais da América Central, atreladas a interesses estrangeiros, não querem fazer qualquer concessão. O principal produto desses países é a mão-de-obra barata: os homens imigram, as mulheres trabalham nas maquilas, empresas que montam produtos exportáveis para os Estados Unidos.
Fazer concessões aos movimentos sociais implica em ameaçar a vantagem competitiva que esses países podem oferecer aos investidores estrangeiros: o trabalho semi-escravo.
De repente, surge na equação um sujeito chamado Hugo Chávez. Com o dinheiro do petróleo, pode equilibrar esse jogo. Todos esses países são dependentes de importação de energia. Além de acesso a petróleo mais barato, através de Chávez os governos podem obter financiamento externo para projetos de infraestrutura e programas sociais.
Ou seja, é uma perspectiva de autonomia numa região que sempre foi quintal político e econômico dos Estados Unidos, o que vale também para o grande vizinho ao Norte, o México.
Portanto, Manuel Zelaya era um exemplo a ser combatido.  Embora eleito por um partido de centro-direita, ameaçava romper o pacto das elites hondurenhas, assentado sobre a exploração da mão-de-obra local.
Quanto à conjuntura internacional, Honduras desempenha um papel importante como uma espécie de porta-aviões em terra para projetar o poder militar dos Estados Unidos na América Central.
Embora Zelaya não tenha falado em acabar com isso, as ideias dele representavam ameaça de médio prazo, especialmente num quadro em que a Venezuela se contrapõe abertamente aos Estados Unidos na América Central e no Caribe.
Engana-se quem acha que a transição do governo Bush para o governo Obama foi completa. Os neocons não deixaram o poder completamente nos Estados Unidos. Alguns deles são assessores de Hillary Clinton no Departamento de Estado. Outros lutam de dentro da burocracia estatal. E há a câmara de eco neocon nos institutos de estudos internacionais, revistas e jornais, que trava uma luta diária para influenciar a política externa. Eles são fortíssimos no Pentágono e na CIA.
Além de pregar a completa hegemonia política, econômica e militar dos Estados Unidos, os neocons agem em defesa de grandes interesses econômicos, os mesmos que sustentam seus institutos e publicações.
A História da América Central é a história da subordinação local a esses interesses.
Foi para combater a "ameaça comunista" que os Estados Unidos derrubaram o governo de Jacob Arbenz na Guatemala, em 1954, num período em que a United Fruit tinha o monopólio da produção de banana e era dona da maioria das terras; a subsidiária dela, International Railways of Central America (IRCA), controlava o transporte; e a Electric Bond and Share (EBS) controlava a produção e distribuição de energia.
"Vista no contexto da Guerra Fria, a intervenção dos Estados Unidos na Guatemala foi a primeira expressão na América Latina de uma política desenvolvida inicialmente na Grécia. No período depois da Segunda Guerra Mundial, o capital dos Estados Unidos estava se expandindo mundialmente em uma escala sem precedentes. Movimentos de trabalhadores nos Estados Unidos e no estrangeiro (especialmente os abertos às ideias comunistas) eram vistos como ameaça a essa expansão e portanto tinham que ser colocados sob controle. No estrangeiro, a intervenção de 1947 na Grécia foi o precedente. Os Estados Unidos jogaram centenas de milhões de dólares na Grécia para esmagar uma revolta revolucionária militarmente. A Doutrina Truman deu a justificativa, ao dizer que os Estados Unidos precisam 'apoiar povos livres que estão resistindo à subjugação por minorias armadas'. A Guatemala foi a primeira aplicação dessa lógica na América Latina (vista também na derrubada do governo nacionalista de Mossadegh no Irã). Nesse contexto, os Estados Unidos fizeram um teste na Guatemala de um modelo para reverter revoluções sociais na América Latina clandestinamente, sem mandar os fuzileiros navais. Muitos aspectos desse modelo foram aplicados na invasão da baía dos Porcos (Cuba) e em operações clandestinas subsequentes, inclusive na guerra dos contra nos anos 80 contra a Nicarágua". (Do livro The Battle for Guatemala, de Susanne Jones).
Hoje, os grandes interesses econômicos que colocam Barack Obama na parede representam o capital multinacional que prega a "flexibilização" do trabalho, o desmanche do estado, a criminalização dos movimentos sociais reinvindicatórios, o estado da segurança nacional, a guerra permanente e o acesso desimpedido às matérias primas.
A grande ameaça a esses interesses é o voto popular. A grande arma deles é a mídia. O golpe em Honduras resultou de uma conjuntura política interna, mas dentro de um contexto econômico e político internacional. É o neogolpe. A repetição da História, agora como farsa, na qual o antichavismo faz o papel do anticomunismo, para despistar os verdadeiros objetivos: garantir a completa subordinação da mão-de-obra. É a parte que nos cabe nesse latifúndio.

Reflexões de Fidel: Os sinos dobram pelo dólar

aaaaaaaafidel
O mundo foi dominado pelo império mais pela economia e a mentira do que pela força. Obteve o privilégio de imprimir as divisas convertíveis ao finalizar a Segunda Guerra Mundial, monopolizava a arma nuclear, dispunha de quase todo o ouro do mundo e era o único produtor em grande escala de equipamentos produtivos, bens de consumo, alimentos e serviços a nível mundial.
Tinha, contudo, um limite à impressão do papel moeda: o respaldo em ouro, ao preço constante de 35 dólares a onça troy. Assim aconteceu durante mais de 25 anos, até que no dia 15 de Agosto de 1971 por meio de uma ordem presidencial de Richard Nixon, os Estados Unidos rompeu unilateralmente esse compromisso internacional caloteando o mundo.
Não me cansarei de repeti-lo. Dessa forma lançou sobre a economia mundial suas despesas de rearmamento e aventuras bélicas, especialmente a guerra do Vietnã que, segundo cálculos conservadores, custou não menos de 200 bilhões de dólares e a vida de mais de 45 mil jovens norte-americanos.
Sobre esse pequeno país do Terceiro Mundo foram lançadas mais bombas do que as utilizadas na última guerra mundial. Milhões de pessoas morreram ou foram mutiladas. Ao suspender a conversão, o dólar virou uma divisa que podia ser impressa à vontade do Governo norte-americano sem respaldo de um valor constante.
Os bônus e notas do Tesouro continuaram circulando como divisas convertíveis; as reservas dos Estados Unidos continuaram a se nutrir dessas notas que, por um lado, serviam para adquirir matérias-primas, propriedades, bens e serviços de qualquer parte do mundo e, pelo outro, privilegiavam as exportações dos Estados Unidos perante as outras economias do planeta. Os políticos e acadêmicos mencionam uma e outra vez o custo real daquela guerra criminosa, descrita admiravelmente no filme de Oliver Stone. As pessoas tendem a fazer cálculos como se os milhões fossem iguais. Não costumam reparar em que os milhões de dólares de 1971 não são iguais aos milhões de 2009.
Um milhão de dólares hoje, quando o ouro — um metal cujo valor tem sido o mais estável durante séculos — tem um preço que ultrapassa os mil dólares a onça troy, o seu valor é 30 vezes a mais do que valia quando Nixon suspendeu a conversão. Duzentos bilhões em 1971, equivalem a seis milhões de milhões de dólares em 2009. Se isto não é tido em conta, as novas gerações não terão uma idéia da barbárie imperialista.
De igual modo, quando se fala dos 20 bilhões investidos na Europa ao finalizar a Segunda Guerra Mundial — em virtude do Plano Marshall para reconstruir e controlar a economia das principais potências européias, as quais possuíam a força de trabalho e a cultura técnica necessária para o rápido desenvolvimento da produção e dos serviços — as pessoas costumam ignorar que o valor real do investido então pelo império equivale ao valor internacional atual de 600 bilhões de dólares. Não reparam em que hoje 20 bilhões apenas alcançariam para construir três grandes refinarias de petróleo, capazes de fornecer 800 mil barris diários de gasolina, além de outros derivados do petróleo.
As sociedades de consumo, o esbanjamento absurdo e caprichoso de energia e de recursos naturais que hoje ameaçam a sobrevivência da espécie, não teriam explicação em tão breve período histórico se não é conhecida a forma irresponsável em que o capitalismo desenvolvido, em sua fase superior, tem regido o destino do mundo.
Tão assombroso esbanjamento explica por que os dois países mais industrializados do mundo, os Estados Unidos e o Japão, estão endividados em aproximadamente 20 milhões de milhões de dólares. Logicamente a economia dos Estados Unidos aproxima-se a um PIB anual de 15 milhões de milhões de dólares. As crises do capitalismo são cíclicas, como o demonstra incontestavelmente a história do sistema, mas desta vez trata-se de algo mais: uma crise estrutural, como explicava o Ministro de Planejamento e Desenvolvimento da Venezuela, o professor Jorge Giordani a Walter Martinez em seu programa pela Telesul ontem à noite.
As informações divulgadas hoje, sexta-feira 9 de outubro, acrescentam dados que são irrefutáveis. Uma notícia da AFP procedente de Washington indica com exatidão que o déficit orçamental dos Estados Unidos, no ano fiscal 2009, eleva-se a 1,4 milhões de milhões de dólares, 9,9% do PIB, “algo jamais visto desde 1945, ao finalizar a Guerra Mundial”, acrescenta.
O déficit no ano 2007 tinha sido já um terço dessa cifra. Elevadas somas de caráter deficitário são estimadas para os anos 2010, 2011 e 2012. Esse enorme déficit está ditado, fundamentalmente, pelo Congresso e Governo dos Estados Unidos para salvar os grandes bancos desse país, impedir que o desemprego ultrapasse o 10% e tirar os Estados Unidos da recessão.
É lógico que se a nação é inundada de dólares, as grandes cadeias comerciais venderão mais mercadorias, as indústrias incrementarão a produção, menos cidadãos perderão suas moradias, a maré do desemprego deixará de se elevar, e as ações de Wall Street aumentarão seu valor. Foi a forma clássica de resolver a crise. Não obstante, o mundo já não voltará a ser o mesmo. Paul Krugman, prestigioso Prêmio Nobel de Economia, afirmou recentemente que o comércio internacional tem sofrido sua maior queda, pior ainda do que a da Grande Depressão e expressou suas dúvidas sobre a rápida recuperação.
Também não o mundo pode ser inundado de dólares e pensar que esses papéis sem respaldo em ouro manterão seu valor. Atualmente têm surgido outras economias mais sólidas. O dólar já deixou de ser a reserva em divisas de todos os Estados, realmente seus possuidores desejam afastar-se dele, embora evitando sempre que for possível que se desvalorize antes que possam desligar-se deles.
O euro da União Européia, o yuan chinês, o franco suíço, o iene japonês — apesar das dívidas desse país —, até a libra esterlina, junto a outras divisas, passaram a ocupar o lugar do dólar no comércio internacional. O ouro metálico volta a se tornar  importante moeda de reserva internacional.
Não se trata de uma opinião pessoal caprichosa, nem desejo caluniar essa moeda.
Joseph Stiglits, também Prêmio Nobel de Economia, expressou, segundo as notícias: “‘a maior probabilidade é que a nota verde continue seu declínio. Os políticos não decidem os tipos de câmbio e os discursos também não o fazem’. Isso o declarou no dia 6 de Outubro na Assembléia Anual Conjunta do FMI e do Banco Mundial realizada em Istambul”. Nessa cidade notou-se uma grande repressão. O evento foi cumprimentado com os vidros dos comércios quebrados e incêndios produzidos por coquetéis molotov.
Outras notícias faziam referência a que os países europeus temiam o efeito negativo da debilidade do dólar perante o euro e suas conseqüências sobre as exportações européias. O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos declarou que a seu país “interessava-lhe um dólar forte”. Stiglitz não fez caso à declaração oficial e expressou segundo a EFE, que “no caso dos Estados Unidos o dinheiro tem sido esbanjado e a causa foi, o resgate multimilionário dos bancos e o financiamento de guerras como a do Afeganistão”. Segundo a agência, o Prêmio Nobel “insistiu em que em vez de investir 700 bilhões em ajuda aos banqueiros, os Estados Unidos podiam destinar parte desse dinheiro à ajuda aos países em desenvolvimento, o que pela sua vez teria estimulado a demanda global”.
Dias antes, Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, deu a voz de alarme e advertiu que o dólar não podia manter indefinidamente seu status como divisa de reserva.
Um preeminente professor de Economia da Universidade de Harvard, Kenneth Rogoff, afirmou que a próxima grande crise financeira será a “dos déficits públicos”.
O Banco Mundial declarou que “o Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou que durante o segundo semestre de 2009 os bancos centrais do mundo acumularam menos dólares do que nenhum outro momento durante os últimos 10 anos e incrementaram a quantidade de euros em sua posse”.
No mesmo dia 6 de Outubro, a AFP publicou que o ouro atingiu a cifra recorde de 1 045 dólares a onça, impulsionado pelo enfraquecimento do dólar e o temor à inflação.
O jornal Independent, de Londres, publicou que um grupo de países petroleiros estudava a substituição do dólar nas transacções comerciais por uma cesta de divisas que incluirão o iene, o yuan, o euro, o ouro e uma futura moeda comum.
A notícia filtrada ou deduzida com impressionante lógica foi desmentida por alguns dos países supostamente interessados nessa medida de proteção. Não desejam que colapse, porém tampouco continuar acumulando uma moeda que em menos de três décadas perdeu 30 vezes seu valor.
Não posso deixar de assinalar uma notícia da agencia EFE, a qual não pode ser acusada de antiimperialista e que nas atuais circunstâncias transmite opiniões de especial interesse:
“Hoje, em Nova Iorque, peritos em economia e finanças coincidiram em afirmar que a pior crise desde a Grande Depressão tem levado esse país a jogar um papel menos significativo na economia mundial”.
“‘A recessão tem feito com que o mundo mudasse a sua visão com respeito aos Estados Unidos. Agora nosso país é menos significativo do que antes e isso é algo que devemos reconhecer’, afirmou David Rubenstein, presidente e fundador de Carlyle Group, a maior firma de capital de risco do mundo, em sua intervenção no World Business Fórum.”
 “‘O mundo financeiro estará menos centrado nos Estados Unidos (…) Nova Iorque jamais será a capital financeira mundial e esse papel será partilhado com Londres, Shanghai, São Paulo e outras cidades’, asseverou.”
“… desfiou os problemas que enfrentarão os Estados Unidos quando saiam de ‘uma grande recessão’ da qual ainda restam ‘um par de meses por diante’.”
“… ‘o enorme endividamento’ público, a inflação, o desemprego, a perda de valor do dólar como divisa de reserva, os preços da energia…”
“O Governo deve diminuir o gasto público para enfrentar o problema da dívida e fazer algo de que gosta pouco: subir os impostos.”
“O economista da Universidade de Columbia e assessor especial da ONU, Jeffrey Sachs, coincidiu com Rubenstein em que o predomínio econômico e financeiro dos Estados Unidos ‘está-se a apagar’.”
“Temos deixado um sistema centrado nos Estados Unidos por um ‘multilateral’…”
“… ‘vinte anos de irresponsabilidade primeiramente por parte da administração de Bill Clinton e depois pela de George W. Bush’, cederam às pressões de Wall Street …”
“… ‘os bancos negociavam com ‘ativos tóxicos’ para conseguir dinheiro fácil’, explicou Sachs.”
“‘Agora o importante é reconhecer o desafio sem precedentes que supõe conseguir um desenvolvimento econômico sustentável e conseqüente com as regras básicas físicas e biológicas deste planeta’…”
Por outro lado, as notícias que chegavam diretamente da nossa delegação em Bangkok, capital de Tailândia, não eram em absoluto encorajadoras:
“A discussão se centra essencialmente — informou textualmente nosso Ministério das Relações Exteriores — na ratificação ou não do conceito responsabilidades comuns, mas diferenciadas entre os países industrializados e as chamadas economias emergentes, basicamente a China, o Brasil, a Índia, a África do Sul, e os países subdesenvolvidos.
“A China, o Brasil, a Índia, a África do Sul, o Egito, a Bangladesh, o Paquistão e a ALBA são os mais ativos. Em geral o Grupo dos 77, em sua maioria, mantém-se em posições firmes e corretas.
“As cifras de redução de emissões de carbono que estão a ser negociadas não se correspondem com as que são calculadas pelos cientistas para manter o aumento da temperatura a um nível inferior a 2 graus Celsius, 25-40%. Neste momento, a negociação move-se em torno a uma redução de 11-18%.
“Os Estados Unidos não fazem nenhum esforço real. Só aceitam 4% de redução com respeito ao ano 1990.”
Hoje sexta-feira 9, de manhã, o mundo acordou com a notícia de que “o Obama bom” do enigma, explicado pelo Presidente Bolivariano Hugo Chávez nas Nações Unidas, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Nem sempre compartilho as opiniões dessa instituição, porém sou obrigado a reconhecer que nestes instantes foi, segundo a minha opinião, uma medida positiva. Compensa a derrota que sofreu Obama em Copenhague ao ser eleita Rio de Janeiro e não Chicago sede das Olimpíadas de 2016, o que provocou airados ataques de seus adversários de extrema direita.
Muitos serão da opinião de que ele ainda não ganhou o direito de receber essa distinção. Desejamos ver na decisão, mais do que um prêmio ao Presidente dos Estados Unidos, uma crítica à política criminosa que seguiram não poucos presidentes desse país, os quais levaram o mundo à encruzilhada onde hoje se encontra: um apelo à paz e à busca de soluções que conduzam à sobrevivência da espécie.

Fidel Castro Ruz
Outubro 9 de 2009

Gripe A: Uma reflexão e uma proposta


Teresa Forcades i Vila

Ao ler este texto de Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Convento de Montserrat em Barcelona, médica especialista em Medicina Interna e doutorada em Saúde Pública, ninguém pode deixar de se interrogar sobre a capacidade dos seus governantes e autoridades de Saúde Pública do seu país – particularmente Primeiro-Ministro, Ministro da Saúde e Director-Geral de Saúde – sobre a sua honestidade e o seu grau dependência em relação aos grandes laboratórios internacionais.


Teresa Forcades i Vila* - Odiario.info

Dados científicos

Os dois primeiros casos conhecidos da nova gripe (vírus A/H1N1, estirpe S-OIV) diagnosticaram-se na Califórnia (EUA) no dia 17 de Abril de 2009 [1].

A nova gripe não é nova por ser do tipo A, nem tampouco por ser do subtipo H1N1: a epidemia de gripe de 1918 foi do tipo A/H1N1 e desde 1977 os vírus A/H1N1 fazem parte da época da gripe anual [2]; a única coisa que é nova é a estirpe S-OIV [3] [4].

Cerca de 33% das pessoas maiores de 60 anos parecem ter imunidade a este tipo de vírus da nova gripe [5].

Desde o seu início até 15 de Setembro de 2009, morreram com esta gripe 137 pessoas na Europa e 3.559 em todo o mundo [6]; há que ter em atenção que anualmente morrem na Europa entre 40.000 e 220.000 pessoas devido à gripe [7].

Como já disseram publicamente reconhecidos profissionais de saúde – entre eles o Dr. Bernard Debré (membro do Conselho Nacional de Ética em França) e o Dr. Juan José Rodriguez Sendin (presidente da Associação de Colégios Médicos do Estado espanhol) –, os dados desta temporada, pela qual já passaram os países do hemisfério Sul, demonstram que a taxa de mortalidade e de complicações da nova gripe é inferior à da gripe anual [8].

Irregularidades que têm de ser explicadas

Em finais de Janeiro de 2009, a filial austríaca da empresa farmacêutica norte-americana Baxter distribuiu a 16 de laboratórios da Áustria, Alemanha, República Checa e Eslovénia, 72 kg de material para preparar vacinas contra o vírus da gripe da anual; as vacinas tinham de ser administradas à população destes países durante os meses de Fevereiro e Março; antes que qualquer destas vacinas fosse administrada, um técnico de laboratório da empresa BioTest da República Checa decidiu, por sua conta, experimentar as vacinas em furões, que são os animais que desde 1918 são utilizados para estudar as vacinas para a gripe; todos os furões vacinados morreram.

Investigou-se então em que consistia exactamente o material enviado pela casa Baxter e descobriu-se que continha vírus vivos da gripe das aves (vírus A/H5N1) combinados com vírus vivos da gripe anual (vírus A/H3N2). Se esta contaminação não tivesse sido descoberta a tempo, a pandemia que sem base real as autoridades sanitárias globais (OMS) e nacionais estão a anunciar, seria agora uma espantosa realidade; esta combinação de vírus vivos pode ser particularmente letal porque combina um vírus vivo com cerca de 60% de mortalidade mas pouco contagioso (o vírus da gripe das aves) com um outro que tem uma mortalidade muito baixa mas com uma grande capacidade de contágio (o vírus da gripe sazonal) [9].

Em 29 de Abril de 2009, quando apenas tinham passado 12 dias sobre a detecção dos dois primeiros casos da nova gripe, a Drª Margaret Chan, directora-geral da OMS, declarou que o nível de alerta por perigo de pandemia se encontrava na fase 5 e mandou que todos os governos dos Estados membros da OMS activassem planos de emergência e de alerta sanitária máxima; um mês mais tarde, 11 de Junho de 2009, a Drª Chan declarou que no mundo já tínhamos uma pandemia (fase 6) causada pelo vírus A/H1N1 S-OIV [10]. Como pode fazer tal declaração quando, de acordo com os dados científicos expostos acima, a nova gripe é uma realidade mais benigna que a gripe sazonal e, além disso, não é um vírus novo e ao qual parte da humanidade está imune?

Pôde declará-lo porque no mês de Maio a OMS tinha alterado a definição de pandemia: antes de Maio de 2009 para poder ser declarada uma pandemia era necessário que por causa de um agente infeccioso morresse uma proporção significativa da população. Esta exigência – que é a única que dá sentido à noção clínica de pandemia e às medidas políticas que lhe estão associadas – foi eliminada da definição adoptada no mês de Maio de 2009 [11], depois dos EUA se terem declarado em «estado de emergência sanitária nacional», quando em todo o país havia apenas 20 pessoas infectadas com a nova gripe, e nenhuma delas tinha morrido [12].

Consequências políticas da declaração de «pandemia»

No contexto de uma pandemia é possível declarar a vacinação obrigatória para determinados grupos de pessoas ou, inclusivamente, para o conjunto dos cidadãos [13].

O que é que pode acontecer a uma pessoa que decida não se vacinar? Enquanto a vacinação não for declarada obrigatória não lhe pode acontecer nada; mas se chegasse a declarar-se a vacinação obrigatória, o Estado tem a obrigação de fazer cumprir a lei impondo multa ou prisão (no estado de Massachussetts dos EUA a multa para estes caso pode chegar a 1.000 dólares por cada dia que passe sem o prevaricador se vacinar) [14].

Perante isto, há quem possa pensar: se me obrigam, vacino-me e já está, a vacina é mais ou menos como a sazonal, também não há para todos…

É preciso que se saiba que há três novidades que fazem com que a vacina da nova gripe seja diferente da vacina da gripe anual: a primeira é que a maioria dos laboratórios estão a desenhar a vacina de forma que uma só injecção não seja suficiente e sejam necessárias duas; a OMS recomenda também que não se deixe de administrar a da gripe sazonal; quem seguir estas recomendações da OMS expõe-se a ser infectado três vezes e isto é uma novidade que, teoricamente, multiplica por três os possíveis efeitos secundários, embora na realidade ninguém saiba que efeitos pode causar, pois nunca antes se fez assim. A segunda novidade é que alguns dos laboratórios responsáveis pela vacina decidiram adicionar-lhe coadjuvantes mais potentes que os utilizados até agora nas vacinas anuais. Os coadjuvantes são substâncias que se adicionam às vacinas para estimular o sistema imunitário. A vacina da nova gripe que está a ser fabricada pelo laboratório Glaxo-Smith-Kline, por exemplo, contém um coadjuvante, AS03, uma combinação que multiplica por dez a resposta imunitária. O problema é que ninguém pode assegurar que este estímulo artificial do sistema imunitário não provoque, passado algum tempo, doenças auto-imunitárias graves, como a paralisia crescente de Guillain-Barré [15]. E a terceira novidade que distingue a vacina para a nova gripe da vacina anual, é que as companhias farmacêuticas que a fabricam estão a exigir que os Estados assinem acordos que lhes garantam a impunidade no caso das vacinas terem mais efeitos secundários que os previstos (por exemplo prevê-se que a paralisia Guillain-Barré venha a afectar 10 pessoas por cada milhão de vacinados); os EUA já assinaram estes acordos que garantem, tanto às farmacêuticas como aos políticos, a retirada de responsabilidade pelos possíveis efeitos secundários da vacina [16].

Uma reflexão

Se o envio de material contaminado fabricado pela Baxter não tivesse sido casualmente descoberto em Janeiro passado, efectivamente, ter-se-ia dado a gravíssima pandemia potencialmente causadora da morte de milhões de pessoas que alguns andam a anunciar. É inexplicável a falta de ressonância política e mediática do que aconteceu em Fevereiro no laboratório checo. Ainda mais inexplicável o grau de irresponsabilidade demonstrado pela OMS, pelos governos, pelas agências de controlo e prevenção de doenças ao declarar uma pandemia e promover um nível de alerta sanitário máximo sem uma base real. É irresponsável e inexplicável até extremos inconcebíveis o bilionário investimento saído do erário público destinado ao fabrico milhões e milhões de doses de vacina contra uma pandemia inexistente, ao mesmo tempo que não há dinheiro suficiente para ajudar milhões de pessoas (mais de 5 milhões só nos EUA) que por causa da crise perderam o seu trabalho e a sua casa.

Enquanto não forem clarificados estes factos, o risco de este Inverno serem distribuídas vacinas contaminadas e o risco de poderem ser adoptadas medidas legais coercivas para forçar a vacinação, são riscos reais que em caso algum podem ser desvalorizados.

No caso da gripe continuar tão benigna como até agora, não faz qualquer sentido a exposição ao risco de receber uma vacina contaminada ou o de sofrer uma paralisia Guillain-Barré.

No caso de a gripe se agravar de forma inesperada, como já há meses anunciam sem qualquer base científica um número surpreendente de altos dirigentes – entre eles a Directora-Geral da OMS –, e repentinamente, comecarem a morrer muito mais pessoas do que é habitual, ainda terá menos sentido deixar-se pressionar para ser vacinado, porque uma surpresa assim só poderá significar duas coisas:

1. Que o vírus da gripe A que agora circula sofreu uma mutação;
2. Que está em circulação outro (ou outros) vírus.

Em qualquer dos casos a vacina que se está a preparar agora não serviria para nada e, tendo em conta o que aconteceu em Janeiro passado com a Baxter, podia ser, inclusivamente, que servisse de veículo de transmissão da doença.

Uma proposta

A minha proposta é clara:

Além de manter a calma, tomar precauções sensatas para evitar o contágio e não se deixar vacinar, coisa que já propõem muitas pessoas com senso comum no nosso país [Espanha].

Apelo a que se active com carácter de urgência os mecanismos legais e de participação cidadã necessários para assegurar de forma rotunda que no nosso país não se poderá forçar ninguém a vacinar-se contra a sua vontade, e que os que decidirem livremente vacinar-se não serão privados do direito de exigir responsabilidades nem do direito de serem economicamente compensados (eles ou os seus familiares), no caso da vacina lhes causar uma doença grave ou a morte.

Notas:
[1] Zimmer SM, Burke, DS. Historical Perspective: Emergence of Influenza A (H1N1) viruses. NEJM, Julio 16, 2009. p. 279
[2] 'The reemergence was probably an accidental release from a laboratory source in the setting of waning population immunity to H1 and N1 antigens', Zimmer, Burke, op. cit., p. 282
[3] Zimmer, Bunker, op. cit., p. 279
[4] Doshi, Peter. Calibrated response to emerging infections. BMJ 2009;339:b3471
[5] US Centers for Disease Control and Prevention. Serum cross-reactive antibody response to a novel influenza A (H1N1) virus after vaccination with seasonal influenza vaccine. MMWR 2009; 58: 521-4.
[6] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de doenças (www.ecdc.europa.eu).
[7] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de doenças (www.ecdc.europa.eu)
[8] Cf. Le Journal du Dimanche (25 juliol '09): Debré: 'Cette grippe n'est pas dangereuse'; cf. La Razón (4 septiembre '09): Rodríguez Sendín: Cordura frente el alarmismo en la prevención de la gripe A
[9] Cf. Virus mix-up by lab could have resulted in pandemic. The Times of India, sección de ciencia, 6 marzo 2009.
[10] http://www.who.int/mediacentre/news/statements/2009
[11] Cohen E. When a pandemic isn't a pandemic. CNN, 4 de mayo '09. http://edition.cnn.com/2009/HEALTH/05/04/swine.flu.pandemic/index.html
[12] Doshi Peter Calibrated response to emerging infections VMJ 2009;339:b3471
[13] Falkiner, Keith. Get the rushed flu jab or be jailed. Irish Star Sunday, 13 septiembre '09.
[14] Senate Bill n. 2028: An act relative to pandemic and disaster preparation and response in the commonwealth. 4 agosto '09. Cf. Moore, RT. Critics rage as state prepares for flu pandemic. 11 septiembre '09. WBUR Boston.
[15] Cf. Vaccination H1N1: méfiance des infirmières. www.syndicat-infirmier.com/Vaccination-H1N1-mefiance-des.htlm
[16] Stobbe, Mark. Legal immunity set for swine flu vaccine makers. Associated Press, 17 Julio '09.



Texto publicado no sítio da Coordenadora Antiprivatização de Saúde Pública, Madrid, (www.casmadrid.org), em Setembro de 2009.


* Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Mosteiro de San Benedito em Montserrat, Barcelona, é doutorada em Saúde Pública, especialista em Medicina Interna pela Universidade de Nova Iorque, autora entre outros livros de «Los crimines de las grandes compañias farmaceuticas».


Tradução de José Paulo Gascão

sábado, 10 de outubro de 2009

Escândalos invisíveis








Osvaldo Russo*
 
A destruição de 2 hectares de um laranjal, plantado em extensa área pública da União ocupada ilegalmente por uma grande empresa privada, orquestrada pela mídia e pelos interesses do agronegócio, escandaliza.
 
Enquanto isso, milhares de famílias estão acampadas em beira de estradas, trabalhadores são escravizados em pleno século 21 e trabalhadores rurais, líderes sindicais, religiosos e advogados são assassinados no Brasil.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Milhares de processos estão travados na justiça emperrando as desapropriações para fins de reforma agrária e deixando sem solução os crimes do latifúndio e de sua pistolagem.
 
Mas isso não escandaliza.
 
As denúncias sobre casos de trabalho escravo contemporâneo atingem um recorde histórico no Brasil, de acordo com o relatório "Conflitos no Campo Br asil 2008", elaborado pela Comissão Pastoral da Terra, que registra 280 ocorrências no ano passado. Ao todo, os casos relatados pela CPT envolveram sete mil trabalhadores, 86 deles crianças e adolescentes, tendo havido 5,2 mil libertações.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, de 1995 a 2002, a Fiscalização do Trabalho do ministério realizou 177 operações em 816 fazendas, lavrando-se 6.085 autos de infração. Já no período de 2003 a 2008, foram realizadas 607 operações, envolvendo 1.369 fazendas fiscalizadas, onde foram lavrados 16.981 autos de infração, o que significa um incremento anual de 272,1% em relação ao período anterior.
 
Mas isso não escandaliza.
 
O recorde nas denúncias foi acompanhado da intensificação da ação fiscalizadora do governo federal, que declarou a erradicação e a repressão ao trabalho escravo contemporâneo como prioridades do Estado brasileiro. O Plano prevê a aprovação da PEC que altera o art. 243 da Constituição Federal, dispondo sobre a expropriação de terras – sem indenização - onde forem encontrados trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão e que, em muitas situações, tentam fugir da fazenda e são impedidos pelo fazendeiro. Mas os ruralistas escravocratas reagem e impedem a sua aprovação pelo Congresso Nacional.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Ideólogos do agronegócio escravocrata tentam explicar o injustificável, chegando a afirmar que "o principal objetivo desse trabalhador em eventual fuga da fazenda e posterior retorno trazendo a fiscalização trabalhista não seria apenas evitar o pagamento da dívida contraída com o empreiteiro, mas, talvez muito mais importante, receber a ‘multa’ de vários milhares de reais, comumente imposta pelo fiscal ao agricultor e em favor do trabalhador, sob a acusação de prática de ‘trabalho escravo’ por parte do fazendeiro. Além disso, os trabalhadores ‘libertados’ passam a receber seguro desemprego, sendo possível que, depois, passem a receber também Bolsa Família".
 
Mas isso não escandaliza.
 
Após mais de século da assinatura da Lei Áurea, o Brasil ainda convive com as marcas deixadas pelo regime colonial-escravista e por disparates escritos por seus neoideólogos. Conforme apresentação do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, de 2003, assinada pelos então ministros Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e Jacques Wagner (Trabalho e Emprego), "a escravidão contemporânea manifesta-se na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregação social, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos".
 
Mas isso não escandaliza.
 
Apesar do grande aumento da produção agrícola de 1975 pra cá, os ruralistas tentam impedir a atualização dos índices de produtividade da terra para fins de reforma agrária e ameaçam o governo e os sem terra com retaliações.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Os ruralistas querem reinventar uma CPI para criminalizar o MST e intimidar o governo. Eles não querem a democracia e a justiça social. Eles querem continuar escravizando os trabalhadores rurais e impedir a reforma agrária no Brasil.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Joaquim Nabuco, O Abolicionista, dizia que a Abolição da Escravatura era indissociável da democratização do solo pátrio. Monarquistas e republicanos não lhe deram ouvidos e a concentração das terras em poucas mãos continua escandalosa.
 
Mas isso não escandaliza.
 
Antes da Abolição, a rebeldia dos escravos escandalizava, mas o açoite neles não.
 
*Osvaldo Russo, ex-presidente do INCRA, é coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT
 
Artigo publicado no Correio da Cidadania e no Portal do PT, copiado do PatriaLatina

UmQueTenha, a volta...

O blog Um Que Tenha voltou. E do jeitinho que morreu, há cerca de 20 dias: com mais de 4.500 álbuns da música popular brasileira para download.
Fulano Sicrano, o dono do espaço virtual, insistiu na volta porque não queria dar fim à história de um blog que é considerado, por internautas, um ponto de referência da história da MPB. Não à toa. No UQT é possível encontrar o trabalho de cantores famosos, no limbo do esquecimento ou mortos, cujas obras estão fora dos catálogos das gravadoras. E, por consequência, longe das prateleiras de CDs.
Com a volta do UQT, Fulano coloca em ordem dois problemas que vivenciou intensamente nos últimos dias: um é o enorme número de pedidos de internautas para o blog continuar. O outro é o fim da sensação de impotência, que nasceu depois de um comunicado do Google, no dia 15 de agosto. Na mensagem, a empresa considerou que o conteúdo do Um Que Tenha infringia normas norte-americanas de direitos autorais, e que por isso sairia do ar.
Fulano não concorda com o que aconteceu. Desde que criou o UQT, em 2006, ele recebeu apenas dois e-mails de músicos furiosos por disponibilizar as músicas para downloads. A maioria dos artistas, diz Fulano,  por e-mail, “apóia a iniciativa, gosta da divulgação, sabe que o que deixa de ganhar com o compartilhamento das músicas é recompensado com a frequencia de shows”.
Fonte: Abril

Mercedes Sosa – Cantora Vol. 1 (2009)


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Mercedes Sosa – Cantora Vol. 2 (2009)


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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um Baita Filme...



Um Outro Jeito (1982)
(Egymásra nézve)
Another_Way.

SINOPSE


Repressão política e sexual na Hungria, logo após a revolução de 1956. Em 1958, o corpo de Eva Szalanczky, uma jornalista política, é descoberto perto da fronteira. A sua amiga Livia está no hospital com um pescoço partido; o marido de Livia, Donci, está sob prisão. Olhando para o passado, um ano antes, vemos o que levou a esta tragédia. Eva arranja um trabalho como escritora. Ela conhece Livia e sente-se atraída por ela. Livia sente o mesmo, mas como mulher casada, tem dúvidas e hesitações. Nos seus empregos, elas (e principalmente Eva) esbarram-se com os limites de contar verdades políticas; em privado, elas confrontam os limites de viver a verdade emocional e sexual. 

  
 
 
 

ELENCO E INFORMAÇÕES SOBRE O FILME E RELEASE

 Jadwiga Jankowska-Cieslak ... Éva Szalánczky
Ildikó Bánsági ... Éva Szalánczky (voice)
Grazyna Szapolowska ... Livia Horváth
Judit Hernádi ... Livia Horváth (voice)
Jozef Króner ... Erdõs elvtárs
Gyula Szabó ... Erdõs elvtárs (voice)
Péter Andorai ... Dönci Horváth - Lívia férje
 Gênero: Drama
Diretor: Karóly Makk
Duração: 102 minutos
Ano de Lançamento: 1982
País de Origem: Hungria
Idioma do Áudio: Húngaro
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0083872/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX 5
Vídeo Bitrate: 1.003 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 128 kbps 44 KHz
Resolução: 640 x 384
Aspect Ratio: 1.667
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 841.9 MiB
Legendas: Exclusivas


PREMIAÇÕES


 


REVOLUÇÃO HÚNGARA DE 1956
 
O levante húngaro começou em 23 de Outubro de 1956, com uma manifestação pacífica de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro". Quando os estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a multidão.

No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Josef Stálin foi derrubada por manifestantes que entoavam, "russos, voltem para casa", "abaixo Gerő" e "viva Nagy". Em resposta, o comitê central do Partido Comunista Húngaro recomendou o nome de Imre Nagy para a chefia de governo.

Em 25 de outubro, tanques soviéticos dispararam contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o comitê central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por János Kádár.

Nagy foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.

Em 28 de outubro, o primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política.

Em 30 de outubro, Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros políticos. Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Social-Democrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de Outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta a trás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1 de Novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direcção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a protecção das Nações Unidas.

A 3 de Novembro Budapeste está cercada por mais de mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de 13 mil foram presos. As tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991. Fonte
 
 

QUEM ESTIVER INTERESSADO NO TORRENT E NA LEGENDA MANDO POR EMAIL
 
 
 


Surpresa no Nobel de Literatura


Foto de arquivo da escritora alemã Herta Mueller que comparece a um festival literáro em Praga. (Foto: Reuters/Der Standard/Andy Urban)



Deixando de lado pesos-pesados como o norte-americano Philip Roth e o israelense Amos Oz, o prêmio Nobel de Literatura deste ano ficou com a escritora de língua alemã e origem romena Hertha Müller, de 53 anos.
Autora de copiosa obra, sobretudo de contos e romances, Hertha Müller nasceu na cidade de Nitzkydorf, na região de Banat, na Romênia. Seus ascendentes eram alemães, e além do alemão falavam também o húngaro.
A história pessoal de Hertha ilustra o complicado mapa das perseguições na Europa. Seus ascendentes emigraram para aquela região atraídos pela concessão de terras a colonos alemães na virada do século XIX para o XX.
Lá se consituiu uma colônia de alemães, que cultivavam a própria língua. Tornaram-se uma minoria, mas viram sua influência crescer quando, durante a Segunda Guerra Mundial, a Romenia apoiou a Alemanha nazista. Numa entrevista recente, a própria escritora reconheceu que seu pai fora da SS, a polícia especial dos nazistas. Com o término da guerra, a Romênia ficou na órbita soviética. Muitos dos alemães que tinham emigrado, e seus descendentes, começaram a voltar para a Alemanha.
Hertha permaneceu na Romênia até 1987, quando emigrou, com o marido, para Berlim, onde mora até hoje. Seus inúmeros livros falam em geral da vida de uma minoria, sob um regime que vêem como opressivo em três dimensões: falta de liberdade, intolerância racial e cultural, e, não menos importante, a opressão dos homens sobre as mulheres.
Esse é o mundo, por exemplo, de seu livro (traduzido para o inglês) "A terra das ameixas verdes", narrado por uma estudante cuja colega de quarto se suicida depois de ser violentada por soldados do exército. O clima do livro é sufocante e cheio de imagens violentas, como a dos trabalhadores de um matadouro que bebem o sangue dos animais que matam. Essa imagem vampiresca espelha a do regime político liderado por Nicolau Ceacescu, que acabou, em 1989, num banho de sangue de extrema violência. Ao fim do livro a narradora, ao contrário de sua colega suicida, decide fugir do país.
Em outro livro (esse traduzido no Brasil com o nome de O compromisso) um oficial da polícia secreta persegue/assedia uma trabalhadora de uma fábrica de roupas de um modo kafkeano, pois ela é chamada seguidamente para ser interrogada em datas que para ela são aleatórias e sobre acusações que lhe parecem despropositadas e sem nexo.
Hertha Müller já ganhou mais de 20 prêmios literários, e é considerada uma das principais escritoras de língua alemã nascidas fora de Alemanha. Na decisão, a Academia da Suécia que outorga os prêmios Nobel destacou que em sua obra ela destaca "a paisagem dos errantes e perseguidos", embora a maior parte das traduções jornalísticas para outras línguas tenha usado o termo "despossuídos".
Como em outras ocasiões, não ficou de todo claro quais foram os critérios do júri (que se sabe ser extenso) na outorga do prêmio, que vale 1,4 milhão de dólares norte-americanos, mais de 2 milhões e meio de reais. Hertha foi a 12a. mulher a receber o prêmio, que começou a ser dado em 1901. Até agora nenhum escritor brasileiro recebeu o prêmio, apesar de vários terem sido indicados, como os poetas João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, e o único escritor de língua portuguesa a recebe-lo foi José Saramago.

GUERRA E PAZ - 1956 de Dino de Laurentis


 



SINOPSE

A ação se inicia em 1805, na época que antecede a Batalha de Austerlitz, uma das muitas
campanhas militares de Napoleão contra os impérios europeus. Nesta batalha, a
aliança formada por Áustria e Rússia foi derrotada pelos franceses, forçando os
russos a assinar um tratado de paz em 1807. Na batalha, o príncipe Andrei é
ferido heróicamente e é feito prisioneiro. Finda a guerra, retorna para Moscou e
fica viúvo. Depois de 2 anos de retiro, ele se interessa por Natasha Rostov,
filha de um nobre arruinado e grande paixão de seu amigo Pierre Bezukhov. Pierre
é um intelectual que não gosta de armas e é filho bastardo de um aristocrata,
que só o reconhece como filho, lhe dando os direitos de herança dele quando
morre. Pierre também não pode fazer à corte a Natasha, pois se casou com sua
prima, a desejável e infiel Helene. Quando se inicia uma nova guerra, a Russia é
invadida por Napoleão. Moscou é incendiada pelos próprios moradores para
fustigar e, por fim, repelir os exércitos invasores. Mas esta é uma tragédia que
mudará as vidas de todas as pessoas do país. Um filme imperdível, fiel ao livro
de León Tolstói, um dos maiores clássicos da literatura mundial!



PRÊMIOS
Globo de Ouro - Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Sindicato Nacional Italiano dos Jornalistas Críticos de Cinema - Prêmio de
Melhor Música
Sindicato Nacional Italiano dos Jornalistas Críticos de Cinema - Prêmio de
Melhor Design de Produção
Indicações: Academia de Hollywood - Indicado aos Oscars de Melhor Direção,
Melhor Fotografia e Melhor Figurino
Academia Britânica - Indicado aos Prêmios de Melhor Filme e de Melhor Atriz
Britânica (Audrey Hepburn)
Globo de Ouro - Indicado aos Prêmios de Melhor Filme-Drama, Melhor Direção,
Melhor Atriz-Drama (Audrey Hepburn) e Melhor Ator Coadjuvante (Oskar Homolka)

"Guerra e Paz" foi o filme mais caro produzido até então. Mais ainda, ajustando
seu orçamento à inflação, ele hoje em dia seria de 560.000.000 dólares (sim,
quinhentos e sessenta milhões de dólares), mantendo-se como o filme mais caro da
história



ELENCO
Audrey Hepburn - Natasha Rostova
Henry Fonda - Pierre Bezukhov
Mel Ferrer - Príncipe Andrei Bolkonsky
Vittorio Gassman - Anatol Kuragin
Herbert Lom - Napoleon
Oskar Homolka - Marechal de Campo Kutuzov
Anita Ekberg - Helene Kuragina
Helmut Dantine - Dolokhov
Tullio Carminati - Príncipe Vasili Kuragin
Barry Jones - Príncipe Mikhail Andreevich Rostov
Milly Vitale - Lisa Bolkonskaya
Lea Seidl - Condessa Rostov
Anna-Maria Ferrero - Maria Bolkonskaya
Wilfrid Lawson - Príncipe Bolkonsky
May Britt - Sonia Rostova
Jeremy Brett - Nikolai Rostov



FICHA TÉCNICA
Título Original: War And Peace
Gênero: Drama/Romance/Guerra
Tempo de Duração: 208 minutos
Data de Lançamento: 21 de Agosto de 1956
País: Itália/Estados Unidos
Direção: King Vidor
Roteiro: Bridget Boland, Robert Westerby, King Vidor, Mario Camerini, Ennio De
Concini, Ivo Perilli, Gian Gaspare Napolitano e Mario Soldati, em cima da obra
de León Tolstói, "Guerra e Paz"
Edição: Leo Cattozzo
Produção: Dino De Laurentiis e Carlo Ponti
Direção de Fotografia: Jack Cardiff
Direção de Arte: Mario Chiari
Música: Nino Rota
DVD Rip
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor
Créditos: Stirner-F.A.R.R.A.-






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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Brasil: de devedor a credor...

“Nunca antes neste país”: o empréstimo brasileiro ao FMI

Editorial do sitio www.vermelho.org.br
 
O bordão do presidente Lula para descrever inúmeras realizações de seu governo - “nunca antes neste país” – talvez seja o mais apropriado para descrever a situação absolutamente nova, e altamente simbólica, das mudanças ocorridas nos últimos anos, e que tornaram o Brasil credor do FMI.

Durante décadas o FMI foi a praga que travou o desenvolvimento nacional com suas restrições intransigentes ao investimento. O crescimento do país nunca foi o foco da atuação do Fundo que, ao contrário, sempre foi a principal agência de articulação dos interesses do capital financeiro mundial, dos interesses do imperialismo.

Em todas as crises anteriores, desde as décadas de 1950 e 1960, suas imposições visavam à garantia desses interesses, e nunca ao fortalecimento da economia brasileira. Na crise de 1998, por exemplo, o FMI fez um acordo lesivo aos interesses brasileiros, aceito pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, e “emprestou” 40 bilhões de dólares para nosso país, dinheiro que nunca veio para cá mas ficou depositado no exterior como garantia justamente de pagamento da dívida brasileira com bancos estrangeiros, principalmente estadunidenses.

Esta situação mudou e, como “nunca antes na história”, hoje o Brasil está do outro lado do balcão. O presidente Lula já havia anunciado isso, e ontem (dia 5) o ministro da Fazenda, Guido Mantega confirmou, na reunião do FMI que ocorre na Turquia: o Brasil vai comprar US$ 10 bilhões em bônus do Fundo.

O país deixa a tradicional posição subalterna e dependente naquele organismo, e sua voz é fortalecida, reflexo do prestígio que vem alcançando pelo mundo afora, e que resulta da nova postura soberana e de defesa dos interesses nacionais.

Em vez de pagar juros – como ocorria antes de 2005, quando deixou de renovar aquele acordo lesivo feito por Fernando Henrique Cardoso em 1998 – agora o Brasil passa a receber juros.

Além de seu simbolismo, essa mudança reforça e reafirma a posição autônoma do país e a retomada do controle nacional sobre nossa economia, podendo soberanamente ignorar as recomendações de medidas econômicas feitas pelo FMI.

No passado, não eram recomendações, mas ordens. Nas décadas recentes, desde 1982, as missões do Fundo que vinham ao país humilhavam a soberania nacional e agiam como autoridades coloniais impondo determinações. Quem não se lembra do apagão elétrico de 2001, que resultou da falta de investimentos para a produção de energia elétrica? Naquela ocasião ficou exposta a situação vexatória de nosso país que, para fazer investimentos essenciais para o funcionamento normal da economia, precisava de autorização do Fundo pois os investimentos do governo eram contabilizados como “despesa” que comprometiam o superávit primário exigido como garantia do pagamento dos juros da dívida.

Mesmo tendo dinheiro para investir, o governo não podia fazê-lo pois isso comprometia aquilo que é o essencial para o Fundo: o pagamento dos juros. O FMI simplesmente não autorizava investimentos e o governo neoliberal de FHC se submetia às determinações desse poder estrangeiro.

Isso mudou, sinalizando a reafirmação da soberania nacional. É um acontecimento histórico que precisa ser comemorado, e lembrado pelos brasileiros na hora de comparar os desempenhos do governo atual com o comportamento subalterno dos governos neoliberais.