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Adriano Benayon* | |
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
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Adriano Benayon* | |
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Marcelo Salles - A Nova Democracia | |
"Porque em nenhum lugar o espírito específico dos Estados manifesta-se mais claramente que nos debates sobre a imprensa" Karl Marx, em Liberdade de Imprensa ![]() Em virtude dos avanços das tecnologias da informação, os meios de comunicação de massa passaram a atingir praticamente todo o universo de cidadãos que convivem em sociedade. Seus suportes são muitos: outdoors, emissoras de rádio, emissoras de televisão, jornais, revistas, internet, telefones celulares, entre outros. Por outro lado, cada vez menos atores detêm o poder de produzir e divulgar palavras e imagens, conforme registra Dênis de Moraes em seu livro A batalha da mídia: "Hoje em dia, 20 conglomerados transnacionais de mídia controlam cerca de 3/4 de toda produção simbólica no planeta, o que traz problemas gravíssimos para a diversidade informativa e para a pluralidade cultural". No Brasil também existe uma concentração significativa entre os meios de comunicação de massa. No veículo televisão, por exemplo, o mercado pertence a um grupo de apenas seis corporações, apontando para a formação do monopólio, informa Dênis de Moraes: "Seis empresas de mídia controlam o mercado de TV no Brasil, um mercado que gira mais de US$ 3 bilhões por ano. A Rede Globo detém aproximadamente metade deste mercado, num total de US$ 1,59 bilhão. Estas seis principais empresas de mídia controlam, em conjunto com seus 138 grupos afiliados, um total de 668 veículos midiáticos (TVs, rádios e jornais) e 92% da audiência televisiva; a Globo, sozinha, detém 54% da audiência da TV". A televisão tem uma importância central por suas características próprias, capazes de entreter pelas vias de áudio e vídeo — o que até sua invenção era uma conjugação inédita na história da comunicação mundial entre os veículos domésticos. Por outro lado, no Brasil a importância desta mídia assume contornos ainda maiores devido ao baixo índice de alfabetização do povo — segundo o Instituto Paulo Montenegro, em pesquisa divulgada pelo escritor Venício Lima, no livro Mídia: crise política e poder no Brasil, apenas 26% dos brasileiros entendem o que lêem. Entendemos, ainda, que os meios de comunicação funcionam como uma instituição com imensa capacidade de produzir e reproduzir subjetividades, que se desdobram em atitudes e posicionamentos bastante objetivos, como demonstra Cecília Coimbra em seu livro Operação Rio: o mito das classes perigosas: "A mídia é atualmente um dos mais importantes equipamentos sociais no sentido de produzir esquemas dominantes de significação e interpretação de mundo (...). Esse equipamento (...) nos orienta sobre o que pensar, sobre o que sentir". Estrutura fortemente concentrada, poder de agendamento e capacidade de influir sobre as decisões de cidadãos, instituições, chefes de Estado e da própria sociedade são características que credenciam as corporações de mídia como atores extremamente relevantes nos dias de hoje. Em A ideologia Alemã, Karl Marx resume em grande parte a centralidade da imprensa para que a burguesia mantenha o controle sobre a sociedade: "Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual; de tal modo que o pensamento daqueles a quem é recusado os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante." O controle ferrenho dos aparelhos ideológicos pela burguesia tem uma série de consequências, entre elas a de não permitir que as massas enxerguem e sintam de maneira clara as condições brutais de exploração a que são submetidas pelo sistema capitalista, sobretudo em sua fase superior, o imperialismo. Esta violência assume proporções ainda maiores quando observamos o papel dos meios de comunicação no tocante à eterna criminalização das classes populares, de suas lutas por se libertar da exploração, de seus hábitos e costumes, de suas formas de trabalho, de sua luta por sobrevivência. Um bom exemplo disso foram as reportagens que se seguiram à operação policial no Complexo do Alemão, que deixou mais de 40 mortos em 2007 — uma comissão federal provou, posteriormente, que pelo menos duas pessoas foram executadas a sangue frio. A revista Veja considerou a matança "a guerra necessária para a reconstrução do Rio", O Globo dedicou 95% do espaço editorial nos dois dias seguintes para apoiar a ação da polícia e a revista Época exibiu em sua capa a fotografia de um policial caminhando sobre corpos sem vida, com o título: "Um ataque inovador". Emissoras de rádio e televisão seguiram o mesmo caminho. O massacre (des) informativo atinge a sociedade como um todo, e pauta toda a sociedade com a linha política das classes dominantes, inclusive os operadores do Direito que irão interferir diretamente no fato ocorrido: delegados, promotores e juízes. Apenas para ilustrar a agressão da imprensa burguesa contra os trabalhadores, relembramos um caso ocorrido em 16 de abril de 2003. A operária Maria Dalva da Costa Correia da Silva, de 54 anos, perdeu um filho assassinado por policiais. No dia seguinte, Thiago da Costa Correia e Silva foi chamado de bandido pelo jornal Extra, das Organizações Globo. Título: "Tiroteio mata 4 em morro da Tijuca"; subtítulo: "Policiais são surpreendidos e trocam tiros com bandidos do Borel". O texto da matéria relacionava o estudante como traficante, a forma encontrada para legitimar o seu assassinato. "Sei que não houve troca de tiro. Foi execução e todos levaram tiro nas costas e na cabeça", enfatiza Maria Dalva. Thiago tinha 19 anos, cursava a oitava série do primeiro grau e trabalhava, com carteira assinada, fazendo manutenção de bombas de gasolina. A estratégia de criminalização da classe trabalhadora é um dos pilares centrais do fascismo, cuja implementação tem sido acelerada, principalmente nas semicolônias. O Estado mantém as massas populares permanentemente aterrorizadas e sufocadas em suas reivindicações, visando diminuir sua capacidade de mobilização e luta. Enquanto isso, ofuscada pela cortina de fumaça de escândalos da política mundana com cobertura nacional, procede-se a uma escandalosa usurpação das riquezas nacionais. Sob os auspícios da imprensa monopolista, a atual crise do sistema capitalista drenou o quanto pôde. Só no setor automobilístico, conforme relatório do Banco Central de 2008, as montadoras enviaram nada menos que US$ 4,8 bilhões às matrizes no exterior. Somando os outros setores da economia, a sangria alcança absurdos US$ 20,143 bilhões/ano. O Globo deu matéria sobre isso sem nenhum destaque nas páginas internas. Não dá pra aceitar calado o envio de tantos bilhões pra fora enquanto existe gente passando fome aqui dentro. Outro ponto central da estratégia das classes dominantes em que a imprensa é utilizada em larga escala são as guerras de rapina, assim como os momentos de ruptura institucional. No primeiro caso temos o exemplo do apoio irrestrito das corporações de mídia ao governo ianque para a invasão e genocídio no Iraque e Afeganistão. No segundo caso temos o exemplo candente do recente golpe ocorrido em Honduras, cujo movimento inicial contou com o suporte efetivo do monopólio internacional dos meios de comunicação. |
Você
sabe como surgiu o Dia do Professor? |
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O Dia do Professor é comemorado no dia 15 de outubro. Mas poucos sabem como e quando surgiu este costume no Brasil.
No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Tereza
D’Ávila), D. Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino
Elementar no Brasil. Pelo decreto, “todas as cidades, vilas e lugarejos
tivessem suas escolas de primeiras letras”. Esse decreto falava de
bastante coisa: descentralização do ensino, o salário dos professores,
as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os
professores deveriam ser contratados. A idéia, inovadora e
revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida.
Mas foi somente em 1947, 120 anos após o referido decreto, que ocorreu
a primeira comemoração de um dia dedicado ao Professor.
Começou
em São Paulo, em uma pequena escola no número 1520 da Rua Augusta, onde
existia o Ginásio Caetano de Campos, conhecido como “Caetaninho”. O
longo período letivo do segundo semestre ia de 01 de junho a 15 de
dezembro, com apenas 10 dias de férias em todo este período. Quatro
professores tiveram a idéia de organizar um dia de parada para se
evitar a estafa – e também de congraçamento e análise de rumos para o
restante do ano.
O professor
Salomão Becker sugeriu que o encontro se desse no dia de 15 de outubro,
data em que, na sua cidade natal, professores e alunos traziam doces de
casa para uma pequena confraternização. Com os professores Alfredo
Gomes, Antônio Pereira e Claudino Busko, a idéia estava lançada, para
depois crescer e implantar-se por todo o Brasil.
A
celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo
país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como
feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963.
O Decreto definia a essência e razão do feriado: "Para comemorar
condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão
promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na
sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias".
Fontes: Site www.diadoprofessor.com.br Site www.unigente.com |
Os zapatistas e as múltiplas formas de resistência |
Guga Dorea - Correio da Cidadania | |
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"Para começar, te rogo não confundir a resistência com a oposição política. A oposição não se opõe ao poder, senão a um governo, e sua forma lograda e completa é a de um partido de oposição; enquanto a resistência, por definição (agora sim), não pode ser um partido: não é feita para governar, senão para ... resistir".
Com esse texto, de Tomás Segovia, que é chamado de Alegatorio e foi
escrito no México em 1996, o subcomandante Marcos praticamente encerra
uma espécie de manifesto político desenvolvido por ele cujo título é "A
Quarta Guerra Mundial já começou".
Nesse manifesto, Marcos divide a sua visão em relação ao neoliberalismo
em sete peças. O texto do Segovia faz parte da última peça, cujo
conteúdo se refere a possibilidades latentes de resistências ao regime
capitalista. Chamada por ele de "As bolsas de resistência", a peça
refere-se a um "choque" intermitente entre "a aparente infalibilidade
da globalização" e a "teimosa desobediência da realidade". São bolsas
"de todos os tamanhos, de diferentes cores, das formas mais variadas.
Sua única semelhança é sua resistência à ‘nova ordem mundial’ e ao
crime contra a humanidade produzido pela guerra neoliberal" .
Mas como pensar em resistências concretas quando o imaginário
capitalista atravessou por todos os cantos da subjetividade humana,
reprimiu as singularidades e impôs o UNO, arrastando pretensas
identidades e tradições culturais? O capitalismo contemporâneo, dentro
dessa perspectiva, tratou de contaminar o que Guattari chamou por
"territorialidades humanas tradicionais".
Em contrapartida, reiterou sempre Guatarri, estamos presenciando um
processo conhecido como heterogênese, ou seja, novas formas de conceber
a vida estão sempre prontas a romperem o cerco reterritorializante do
sistema. Retornando à peça 7 do quebra-cabeça zapatista, Marcos aponta
não para uma resistência supostamente unificada, mas para múltiplas
resistências que podem se interconectar entre si, sem que uma se
sobreponha ou seja subjugada pela outra.
"Ao tratar de impor seu modelo econômico, político, social e cultural,
o neoliberalismo pretende subjugar milhões de seres, e desfazer-se de
todos aqueles que não têm lugar em sua nova repartição do mundo. Porém,
resulta que esses ‘prescindíveis’ se revoltam e resistem ao poder que
quer eliminá-los. Mulheres, crianças, anciões, jovens, indígenas,
ecologistas, homossexuais, lésbicas, soropositivos, trabalhadores e
todos aqueles e aquelas que não só ‘sobram’, mas que também ‘molestam’
a ordem e o progresso mundial, se revoltam, se organizam e lutam.
Sabendo-se iguais e diferentes, os excluídos da ‘modernidade’ começam a
tecer as resistências contra o processo de destruição/despovoamento e
reconstrução/reordenamento levado adiante, como guerra mundial, pelo
neoliberalismo".
A frase "sabendo-se iguais e diferentes" é a mais pertinente. Como deve
ser conceituado o tema "diferença" na atual órbita contemporânea
mundial? É uma questão complexa que merece um pouco de atenção antes de
continuarmos no nosso instigante quebra-cabeça planetário. Mas por
enquanto fiquemos com uma carta remetida para os participantes do Fórum
Nacional Indígena. Nela, o Comitê Clandestino Revolucionário Indígena
proclamou o seguinte dilema em relação ao racismo:
"Não podemos combater o racismo praticado pelos poderosos com um
espelho que apresenta a mesma coisa, só que ao contrário: a mesma falta
de razão e a mesma intolerância, mas agora contra os mestiços. Não
podemos combater o racismo contra os indígenas praticando o racismo
contra os mestiços. (...) No mundo que os zapatistas querem cabem todas
as cores de pele, todas as línguas e todos os caminhos" .
É nesse contexto que o EZLN, sobretudo através dos comunicados do
subcomandante Marcos, tem resgatado esse tema bastante atual e
pertinente para o Brasil. Ao defender a polêmica hipótese de que a
defesa da diferença não significa negar a importância da igualdade
social, os zapatistas estão redimensionando os conceitos do que é ser
diferente e igual no mundo contemporâneo, o que pode nos remeter
inclusive à velha dicotomia antropológica entre etnocentrismo e
relativismo.
Como definir entre um etnocentrismo unilateral, no qual o mais forte
impõe seus interesses ao mais fraco, e um relativismo complacente que
reitera a intocabilidade das diferenças, isolando culturas em espécies
de guetos incomunicáveis e, não poucas vezes, geradores de sangrentas
guerras de verdades contra verdades?
Há dois lados de uma mesma moeda. A cultura ocidental globalizada, ao
impor o princípio da homogeneização ou do monoculturalismo, acabou
gerando, no seu contra-fluxo, diversas e múltiplas manifestações
heterogêneas, nem sempre inéditas no contexto da historiografia
mundial, que resistem a essa busca por uma eventual massificação
globalizante.
O capitalismo contemporâneo, é impossível negar, está em toda a parte.
Contaminou o tempo e os espaços geográficos reprimindo, na medida do
possível, qualquer possibilidade da emergência de desejos singulares,
sejam eles coletivos ou individuais. A partir do pressuposto de que a
chamada globalização do mercado tornou-se um fato irreversível, o
principal nó a ser desatado é como deve ocorrer a inserção de um país
como o México no contexto mundial.
Diante de todo esse panorama, como criar novos mecanismos políticos,
econômicos, sociais e culturais para que o planeta não fique
exclusivamente nas mãos do mercado, que é inevitavelmente excludente. O
surgimento de novos grupos, que atuam paralelamente ao Estado, de uma
maneira transversalizada, talvez venha a se tornar o primeiro passo
rumo a uma globalização não perversa, que não busque a destruição das
diferenças humanas em nome de uma fictícia igualdade, abrindo possíveis
espaços e brechas para novas singularidades, novos modos de ser, que
devem ser planetários, mas sempre se levando em consideração as
diferenças localizadas.
(2) idem, pg 121 (3) Id, pgs 221& 222. (4) Id, pg 150 & 151.
Guga Dorea é jornalista e sociólogo. Atualmente é integrante do Instituto Futuro Educação e colaborador do Projeto Xojobil.
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