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Como visão de mundo orgânica ao capitalismo, o liberalismo tem
limites insuperáveis para ir à raiz do impasse ecológico. A valorização
do capital pressiona à mais ampla mercantilização de bens e serviços; a
mercantilização cria incessantemente padrões artificiais e predatórios
de consumo, ao mesmo tempo em que a busca do lucro incentiva
tecnologias agressivas ao meio-ambiente; a crença nas virtudes do
mercado cria limites à regulação institucional dessas potências
destrutivas inscritas na dinâmica do capitalismo; valores do egoísmo,
da concorrência e da dominação minam uma cultura solidária, fraterna e
democrática receptiva a um novo paradigma ecológico.
É na crítica às potências destrutivas do liberalismo e de seu
paradigma que o maior economista brasileiro, Celso Furtado, construiu o
seu conceito de desenvolvimento. Revisitar essa obra é um caminho
necessário para contribuir para superar as antinomias entre
desenvolvimento e ecologia e vincular o desafio de superação da miséria
ao desafio ambiental.
O mito do desenvolvimento econômico, de Celso Furtado, é um livro de
exílio, escrito na Universidade de Cambridge em 1973 e editado no
Brasil no ano seguinte. Ele traz no centro do seu argumento a denúncia
da insustentabilidade ambiental do ciclo de crescimento desatado pelo
regime militar.
O pensador brasileiro havia lido, então, o estudo de um grupo de
economistas do Massachussets Institute of Thecnology (MIT), chamado “Os
limites do crescimento”, no qual se perguntavam o que aconteceria se os
padrões de consumo dos países ricos fossem universalizados e
reproduzidos em escala global. A resposta dos economistas é que a
poluição do meio-ambiente e a pressão sobre os recursos naturais
não-renováveis seriam de tal monta que levaria a um verdadeiro colapso
da civilização. O que faz Celso Furtado é integrar essa previsão ao seu
conceito de subdesenvolvimento, de dependência tecnológica e mimetismo
cultural, afirmando que a dinâmica do capitalismo leva à concentração
de renda e da riqueza e não à universalização dos padrões de consumo.
Mas integrava esse limite civilizacional do paradigma de produção e
consumo dominante para uma crítica de raiz do novo modelo de
crescimento vertiginoso assistido pelo Brasil de 1970 a 1973, com o PIB
sempre aumentado a mais de 10 % ao ano.
Furtado denunciava o padrão de um crescimento chamado à época de
“milagre econômico”, que provaria não ter bases históricas sólidas.
Chamava, então, de mito essa visão de futuro que assimilava
irreflexivamente desenvolvimento a progresso e progresso ao simples
crescimento econômico. Faz as perguntas fundamentais: “Por que ignorar,
na medição do PIB, o custo para a coletividade da destruição dos
recursos naturais não renováveis, e o dos solos e florestas
(dificilmente mensuráveis)? Por que ignorar a poluição das águas e a
destruição total dos peixes nos rios em que as usinas despejam seus
resíduos?”.
Armadilhas
O argumento de Furtado é que o crescimento baseado na concentração
da renda e no mimetismo de consumo dos países ricos leva a uma
artificial diversificação das mercadorias, conduz à produção
preferencial de bens de curta duração, produz, em escala ampliada,
desperdício, além de não incorporar o custo ecológico. Ele denuncia a
destruição da natureza e das culturas arcaicas ou tradicionais que
perecem ou são destruídas em função da homogeneização dos padrões
culturais.
É assim que conclui seu livro fundador da consciência ecológica
econômica brasileira: “Sabemos agora de forma irrefutável que as
economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de
similares às economias que formam o atual centro do sistema
capitalista. Mas, como negar que essa idéia tem sido de grande
utilidade para mobilizar os povos da periferia e levá-los a aceitar
enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de culturas
arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o
meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o
caráter predatório do sistema produtivo?”. O grande desafio seria o de
definir grandes metas sociais e transformar o modelo econômico na
direção dessas metas.
Pensando desde a década de cinqüenta o tema do subdesenvolvimento, a
partir da crítica ao desenvolvimento desigual do capitalismo, criando
um sistema centro-periferia, e ao pensamento econômico convencional,
que pensava a superação do atraso na periferia como uma repetição de
estratégias de mercado supostamente verificadas no centro, Celso
Furtado aliou ao estruturalismo de suas análises uma perspectiva
histórica ampla dos acontecimentos. Esse método histórico-estrutural,
apto a pensar o movimento das estruturas e o deslocamento de padrões
históricos, permitiu que ele escrevesse o clássico Formação da economia
brasileira, enriquecendo a narrativa dos grandes pensadores do país.
Essa primeira vitória sobre o reducionismo econômico lhe permitiu
analisar que o subdesenvolvimento constituía uma produção histórica de
uma economia periférica, heterônoma, marcada pela irracionalidade dos
meios e dos fins. Dependência, exclusão, carecimento de verdadeiras
instituições republicanas, mimetismo cultural e predação do meio físico
vinham juntos. A economia nordestina, formula Furtado, ocupa
irracionalmente o agreste e preda na monocultura canavieira as terras
férteis. Um plano de desenvolvimento regional deveria permitir formas
mais racionais de ocupação, de produção nas terras férteis, de
incentivo seletivo à industrialização, de superação dos padrões
coronelísticos de dominação, de distribuição de renda e de irrigação
dos solos áridos com frutos democraticamente distribuídos.
Desenvolvimento e cultura
O ensaio dos economistas Oscar Burgueño e Octavio Rodriguez,
“Desenvolvimento e cultura”, editado em A grande esperança em Celso
Furtado (São Paulo: Editora 34, 2001), nos fala de uma segunda vitória
contra o reducionismo econômico, já presente desde as origens no
pensamento furtadiano, mas que viria a se desenvolver mais plenamente
em suas obras dos anos 1978 e 1984, respectivamente Criatividade e
dependência na civilização industrial e Cultura e desenvolvimento em
época de crise. Trata-se de pensar o próprio paradigma do
desenvolvimento à luz da cultura, dos paradigmas culturais que informam
as racionalidades e os valores.
Furtado identifica dois processos de criatividade humana: o primeiro
diz respeito à técnica e o segundo, aos valores que homens e mulheres
adicionam ao seu patrimônio existencial. Este último é definido como um
conjunto criativo capaz de ajudar homens e mulheres a se aprofundar em
seu autoconhecimento, através de atividades como a reflexão filosófica,
a meditação mística, a criação artística e a investigação científica.
Assim, o enriquecimento dessa cultura não-material seria um dos
aspectos-chave do desenvolvimento.
É por essa superação radical do economicismo que se funda a ecologia
do desenvolvimento em Celso Furtado, e ganha corpo, na raiz mesma do
seu pensamento, a crítica da “ideologia do progresso-acumulação”.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
A ecologia do desenvolvimento
A farsa das eleições hondurenhas.....
EUA respaldam eleição em Honduras; Brasil e Argentina não
Contraditório com a decisão de seu país de condenar o golpe, o enviado dos EUA a Honduras, Craig Kelly, defendeu nesta quarta-feira (19) a realização da eleição presidencial do próximo dia 29. O respaldo ao pleito aconteceu apesar do rompimento das negociações entre o governo golpista e o presidente deposto Manuel Zelaya. Já os governos brasileiro e argentino declararam que não reconhecerão o resultado das eleições de Honduras a menos que Zelaya seja restituído antes da votação.
"As
eleições hondurenhas são uma parte importante da solução para avançar
rumo ao futuro", disse, em Tegucigalpa, Craig Kelly, número dois do
Departamento de Estado americano para a América Latina, antes de voltar
aos EUA. "Ninguém tem o direito de tirar do povo hondurenho o direito
de votar e de escolher os seus líderes", disse a jornalistas.
Kelly, contudo, se negou a responder a perguntas da imprensa. Deu tais declarações sem levar em consideração que esse mesmo direito do quel fala foi ignorado justamente pelo grupo que organiza o pleito, e que arrancou do poder o presidente eleito por esse mesmo povo a qeu se refere.
Na semana passada, o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, já havia defendido a realização das eleições. Kelly esteve, pela segunda vez em uma semana, em Tegucigalpa para novamente se reunir com Zelaya e Micheletti e tentar salvar o acordo intermediado pelos Estados Unidos e assinado por ambas as partes em 30 de outubro.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, deu mais um sinal de que os EUA estão se afastando de Zelaya ao afirmar que a decisão do Congresso hondurenho de votar a restituição de Zelaya após as eleições, anunciada anteontem, "não contradiz o acordo alcançado para resolver a crise política".
"Como o acordo não estabelece prazos para essa votação do Congresso, realizar a votação em 2 de dezembro não é necessariamente incoerente com o acordo", afirmou Kelly. A posição dos EUA, principal parceiro econômico de Honduras, vai contra à de países como Brasil, Argentina e Venezuela, que têm afirmado que não reconhecerão as eleições do dia 29 caso Zelaya não seja restituído antes. Também se opõe ao posicionamento defendido por organizações como a OEA e a ONU, que condenaram o golpe e exigiram a restituição imediata de Zelaya.
A postura atual dos EUA, na verdade, apenas explicita o que a dubiedade vista até então colocava apenas no campo da desconfiança: não há interesse real dos norte-americanos na retomada da ordem constitucional, por meio do retorno de Zelaya ao cargo.
Em declarações de dentro da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado há quase dois meses, Zelaya voltou a acusar os EUA de contraditórios. "Sou reconhecido como presidente, dizem que sou o líder democrático, mas [Kelly] está atendendo a decisões do governo que eles não reconhecem", disse o presidente deposto.
Há duas semanas, Zelaya desistiu do acordo, depois que o Congresso, cuja direção é controlada por Micheletti, não votou a sua restituição até o dia 5, prazo final para a criação de um "governo de unidade". O presidente deposto disse que era "inaceitável" indicar ministros para um governo interino chefiado por Micheletti.
O acordo previa que a volta de Zelaya estava condicionada à ratificação pelo Congresso, que poderia pedir consultas a outras instituições, sem estipular um prazo para a votação. Estava claro, contudo, que seu retorno não poderia se dar após as eleições, uma vez que realizar o pleito sob o comando de um regime golpista, ilegal, retiraria sua validade ou significaria dar legitimidade ao golpe.
Ontem, a Suprema Corte de Justiça se reuniu para dar seu parecer sobre a volta de Zelaya, mas o teor só deverá ser revelado no dia 2, data estipulara para a a votação sobre o tema.
Brasil e Argentina
Os governos brasileiro e argentino declararam, nesta quarta, oficialmente, que não reconhecerão o resultado das eleições de Honduras a menos que o presidente deposto Manuel Zelaya seja restituído antes do pleito.
A declaração conjunta, feita após visita da presidente argentina, Cristina Kirchner, ao colega Luiz Inácio Lula da Silva, vem um dia após o Congresso hondurenho anunciar que só pretende avaliar a possibilidade de restituição de Zelaya no dia 2 de dezembro, três dias após as eleições.
"[Caso Zelaya não volte ao poder] estará lançado um precedente extremamente perigoso. Este é o consenso de toda a América Latina e Caribe", disse Lula em discurso. Os mandatários também pediram o fim das hostilidades em relação à representação diplomática do Brasil em Tegucigalpa, que abriga Zelaya e correligionários desde meados de setembro.
O documento pede a preservação da inviolabilidade da embaixada e seus ocupantes, assim como a segurança e a liberdade de movimento dos funcionários da missão.
Com agências - www.vermelho.org.br
Kelly, contudo, se negou a responder a perguntas da imprensa. Deu tais declarações sem levar em consideração que esse mesmo direito do quel fala foi ignorado justamente pelo grupo que organiza o pleito, e que arrancou do poder o presidente eleito por esse mesmo povo a qeu se refere.
Na semana passada, o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, já havia defendido a realização das eleições. Kelly esteve, pela segunda vez em uma semana, em Tegucigalpa para novamente se reunir com Zelaya e Micheletti e tentar salvar o acordo intermediado pelos Estados Unidos e assinado por ambas as partes em 30 de outubro.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, deu mais um sinal de que os EUA estão se afastando de Zelaya ao afirmar que a decisão do Congresso hondurenho de votar a restituição de Zelaya após as eleições, anunciada anteontem, "não contradiz o acordo alcançado para resolver a crise política".
"Como o acordo não estabelece prazos para essa votação do Congresso, realizar a votação em 2 de dezembro não é necessariamente incoerente com o acordo", afirmou Kelly. A posição dos EUA, principal parceiro econômico de Honduras, vai contra à de países como Brasil, Argentina e Venezuela, que têm afirmado que não reconhecerão as eleições do dia 29 caso Zelaya não seja restituído antes. Também se opõe ao posicionamento defendido por organizações como a OEA e a ONU, que condenaram o golpe e exigiram a restituição imediata de Zelaya.
A postura atual dos EUA, na verdade, apenas explicita o que a dubiedade vista até então colocava apenas no campo da desconfiança: não há interesse real dos norte-americanos na retomada da ordem constitucional, por meio do retorno de Zelaya ao cargo.
Em declarações de dentro da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado há quase dois meses, Zelaya voltou a acusar os EUA de contraditórios. "Sou reconhecido como presidente, dizem que sou o líder democrático, mas [Kelly] está atendendo a decisões do governo que eles não reconhecem", disse o presidente deposto.
Há duas semanas, Zelaya desistiu do acordo, depois que o Congresso, cuja direção é controlada por Micheletti, não votou a sua restituição até o dia 5, prazo final para a criação de um "governo de unidade". O presidente deposto disse que era "inaceitável" indicar ministros para um governo interino chefiado por Micheletti.
O acordo previa que a volta de Zelaya estava condicionada à ratificação pelo Congresso, que poderia pedir consultas a outras instituições, sem estipular um prazo para a votação. Estava claro, contudo, que seu retorno não poderia se dar após as eleições, uma vez que realizar o pleito sob o comando de um regime golpista, ilegal, retiraria sua validade ou significaria dar legitimidade ao golpe.
Ontem, a Suprema Corte de Justiça se reuniu para dar seu parecer sobre a volta de Zelaya, mas o teor só deverá ser revelado no dia 2, data estipulara para a a votação sobre o tema.
Brasil e Argentina
Os governos brasileiro e argentino declararam, nesta quarta, oficialmente, que não reconhecerão o resultado das eleições de Honduras a menos que o presidente deposto Manuel Zelaya seja restituído antes do pleito.
A declaração conjunta, feita após visita da presidente argentina, Cristina Kirchner, ao colega Luiz Inácio Lula da Silva, vem um dia após o Congresso hondurenho anunciar que só pretende avaliar a possibilidade de restituição de Zelaya no dia 2 de dezembro, três dias após as eleições.
"[Caso Zelaya não volte ao poder] estará lançado um precedente extremamente perigoso. Este é o consenso de toda a América Latina e Caribe", disse Lula em discurso. Os mandatários também pediram o fim das hostilidades em relação à representação diplomática do Brasil em Tegucigalpa, que abriga Zelaya e correligionários desde meados de setembro.
O documento pede a preservação da inviolabilidade da embaixada e seus ocupantes, assim como a segurança e a liberdade de movimento dos funcionários da missão.
Com agências - www.vermelho.org.br
Viva os 60 anos da Revolução Chinesa
José Ricardo Prieto - blog a novademocracia | |
As colossais comemorações feitas pelo atual Estado fascista chinês para comemorar os 60 anos da fundação da República Popular da China pretendiam esconder que a maior população do globo vive, desde o golpe contra-revolucionário de Teng Siaoping em 1976, sob o mais cruel regime de exploração, integrado à economia capitalista e responsável em grande medida pela sobrevida do capitalismo em crise mundial.
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Desequilíbrios Globais contra desigualdades internas (compreendendo a Economia Mundial)
Nesta crise sistémica do capitalismo, cujo epicentro foi no coração do imperialismo, “a saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens”.
Introdução
As crises profundas e continuadas dos principais países capitalistas,
especialmente nos Estados Unidos, provocou um debate sobre as causas,
consequências e políticas apropriadas para as resolverem.
O debate revelou uma divisão profunda sobre as causas e os remédios, com os políticos, economistas e articulistas anglo-franco-americanos (AFA) de um lado e a correspondente outra parte asiática-germânica (AG) do outro lado. Em termos gerais, os porta-vozes dos AFA põem as culpas das crises nos factores externos, ou, mais especificamente, apontam o dedo aos excedentes positivos no comércio, sectores dinâmicos de exportação e ritmos elevados de investimento em sectores produtivos, e níveis baixos de consumo nos países AG, como a causa dos «desequilíbrios», ou «desequilíbrio», na economia mundial.
Em contraste, os países AG rejeitam a justificação de práticas externas prejudiciais. Põem em destaque os «desequilíbrios» internos no interior dos países AFA, que enfraqueceram as suas posições internacionais, comerciais e financeiras.
Neste artigo, vou argumentar que ambas as políticas económicas internas e as estratégias de construção de impérios externos dos países AFA, têm sido a força motriz para os desequilíbrios globais. As diferenças estruturais entre as duas regiões e as diferenças de estrutura de classe e configurações económicas em cada bloco, impedem qualquer solução fácil e imediata. Pelo contrário, no futuro previsível é provável que o conflito entre potências dinâmicas emergentes de exportação e o bloco ocidental em declínio se intensifique, levando a maiores conflitos comerciais e a possíveis confrontos militares.
As acusações da AFA contra os «desequilíbrios» comerciais da China reúne comércio com o ocidente com as relações de Beijing com o resto do mundo. A China tem comércio equilibrado ou mesmo défices de comércio com países asiáticos, africanos, do Médio Oriente e da América Latina. Além disso, os países AFA têm desequilíbrios de comércio com outras regiões, incluindo o Médio Oriente e a Alemanha. Mesmo que os países AFA reduzam importações da China, é mais do que provável que outros países asiáticos tomem o seu lugar, incluindo Vietname, Coreia do Sul, Taiwan, Bangladesh e Índia. Os défices comerciais resultantes da AFA ficariam na mesma.
Os países AFA culpam a moeda «subvalorizada» da China e reclamam que as autoridades de Beijing manipulam as taxas de câmbio para baixar o preço das exportações e vencer os concorrentes (nomeadamente produtores no interior das AFA). Contudo, a moeda da China tem sido reavaliada consistentemente para cima dos 20% nos últimos cinco anos e, apesar disso, AFA continua a apresentar défices, sugerindo que os produtores nacionais ainda não são capazes de competir com os fabricantes chineses. Mais recentemente, autores na AFA, queixaram-se das taxas baixas dos juros apresentadas pelo governo chinês como um «subsídio» aos exportadores. Contudo, as taxas de juro na AFA estão a zero por cento ou mesmo negativas, isto é, são em vão. Todavia, AFA concederam para cima de 1,5 milhão de milhões em fundos de apoio, e para cima de 1,3 mil milhões para despesas estimulantes - um subsídio cinco vezes superior ao pacote de estímulos da China, sem terem melhorado a sua balança comercial. O que é revelador, dadas as afectações sectoriais, do apoio em cada regime - subsídios - pacotes de estímulos, é que a China recuperou completamente e tem um crescimento de 8% em meados de 2009, enquanto AFA continua a chafurdar em território negativo e continua também com défices comerciais. Isto aponta à centralidade dos factores internos, nomeadamente aos sectores económicos que recebem subsídios de Estado e à forma como os investem, e que têm como resultado que as suas decisões afectem as balanças comerciais.
AFA acusa a China dos baixos salários, da exploração dos trabalhadores, e que isso é a razão dos desequilíbrios comerciais. Contudo, uma percentagem crescente das exportações da China é baseada em avanços tecnológicos e não em mão-de-obra barata. Isto é devido à emergência na Ásia de concorrentes com baixos custos de salários.
AFA queixa-se que a China enfatiza a sua estratégia de “exportações” à custa de produzir para o mercado interno. Todavia, quase metade das exportações da China para os Estados Unidos é realizada a partir de multinacionais americanas que investiram, subcontrataram e co-produziram com as suas homólogas chinesas. Por outras palavras, a política interna americana, a desregulamentação do fluxo de capitais, facilitou o movimento dos fabricantes americanos no exterior, o que resultou num declínio da produção local, num aumento das importações e em maiores défices comerciais.
Causas internas dos défices comerciais (e Economia Mundial Desequilibrada)
A correlação mais evidente e interessante com o crescimento dos desequilíbrios comerciais da AFA é o crescimento e domínio do sector financeiro. A financeirização das economias das AFA e o papel dominante dos directores executivos da Wall Street nas posições económicas estratégicas do Estado é transparente para as massas e até tem sido reconhecida pela maioria dos economistas privados e professores universitários. Os défices comerciais aumentaram na proporção directa do crescimento do poder económico e político do sector financeiro. Em grande parte, isto foi devido à transferência do capital do fabrico para os serviços financeiros, o que conduziu à redução dos investimentos nas inovações e em estratégias de gestão competitivas nos sectores produtivos. Os altos salários, bónus e retornos rápidos no sector financeiro atraíam a maioria dos auto-denominados "melhores e mais inteligentes". Os formados em MBA multiplicaram, enquanto os formados em escolas de engenharia avançada diminuíram. Desapareceram os programas de formação para trabalhadores especializados enquanto cresceu o recrutamento para vendas a retalho de baixa especialização.
O problema era que os serviços financeiros não faziam, não podiam substituir os ganhos do exterior que antes aumentavam através de vendas dos produtos fabricados. Em último lugar, nos mercados financeiros altamente regulados da China, Japão, Índia e no resto da Ásia, onde os bancos estão subordinados à expansão da produção - nomeadamente indústrias financeiras dirigidas por funcionários do Estado. O domínio do capital financeiro e os sectores relacionados do imobiliário e dos seguros conduziram a uma estrutura de classe altamente polarizada: onde presidiam banqueiros de investimentos bilionários e milionários e um exército de trabalhadores de serviços com baixos salários (empregados do retalho, da limpeza, varredores, etc) imigrantes e trabalhadores não-sindicalizados que ocupavam o fundo da escala. Presentemente, as desigualdades no rendimento nos Estados Unidos excedem as de qualquer outro país capitalista "avançado". As desigualdades em Manhattan excedem as de Guatemala. A crescente concentração de riqueza é acompanhada pela redução, nas últimas três décadas, dos ordenados médios. Em resultado disso, o poder de compra dos trabalhadores americanos foi reduzido, dessa forma reduzindo também a procura de bens de qualidade produzidos localmente. O resultado, é a compra de têxteis baratos de importação, sapatos e outros artigos. Passa a haver um declínio nas poupanças e no investimento interno na produção, o que leva a um abaixamento na competitividade. Para além disso, a concorrência entre prestamistas financeiros faz aumentar dispêndios no consumidor e maior endividamento individual, numa altura em que os peritos em produção declinavam por não haver investimento.
A maior parte das empresas produtoras transformaram-se em empresas financeiras, canalizando fundos de investimento em sectores não recebendo câmbios estrangeiros. Pior que tudo, em busca de lucros mais elevados, os produtores transformaram-se em vendedores comerciais, encerrando fábricas e subcontratando produção à China e a outros países asiáticos, e importando produtos finais para os Estados Unidos, assim criando os desequilíbrios comerciais. A recolocação, em larga escala, das multinacionais americanas no estrangeiro, agravou ainda mais os desequilíbrios comerciais.
O papel principal do Estado na criação de desequilíbrios internos, conduzindo a um desequilíbrio global, é o resultado da tomada do Estado pelo sector financeiro e da desregularização dos mercados financeiros. O resultado foi a promoção a longo termo de uma política económica, onde o banco central (Reserva Federal) e o Ministério das Finanças, encorajavam mais o crescimentos dos sectores financeiro, imobiliário e seguros do que o do sector produtivo. A estratégia financeira foi justificada por um grande exército de professores e publicistas que falavam na "pós-indústria", ou na economia de "serviço", ou de "informação", como uma "etapa superior",em vez de uma perversamente desequilibrada, insustentável e injusta economia.
A supremacia financeira coincidiu com a crescente militarização da política estrangeira dos Estados Unidos. A expansão económica dos Estados Unidos no estrangeiro foi eclipsada gradualmente pela crescente dependência nas intervenções militares e na construção de bases militares em centenas de locais. A financeirização enfraqueceu a capacidade produtiva dos exportadores americanos para captar mercados, os políticos americanos aumentaram a dependência na supremacia do poder militar. A canalização de biliões para as despesas militares esgotaram os recursos em esforços para aumentar a competitividade da indústria civil americana e foi um factor importante no seu declínio nos mercados de exportação. Os resultados finais da militarização foram perdas nos proveitos das exportações e no crescimento dos défices comerciais.
Se combinarmos os três grande desequilíbrios internos nas economias da AFA, mas especialmente na dos Estados Unidos, a financeirização da economia, a militarização da política estrangeira e a concentração da riqueza no topo, podemos, pois, entender porque é que os Estados Unidos têm um tão grande e crescente défice comercial.
A estratégia de impulso nas exportações da China
A ênfase da China numa estratégia impulsionadora de exportações e as resultantes e crescentes desigualdades de classe, são claramente o resultado da composição de classe do Estado e da sua estrutura social. Por outras palavras, os factores internos são a força impulsionadora da sua procura por excedentes comerciais. O que é irónico é que alguns dos críticos da AFA, que apontam correctamente os 'desequilíbrios' internos na China, ignorem problemas semelhantes no ocidente. Nomeadamente, não mencionarem a ausência de um plano nacional de saúde nos Estados Unidos, o aumento das desigualdades e da diminuição do poder de compra massivo - mesmo quando apontam estas deficiências na China. O que os defensores ocidentais de maior segurança social na China não falam, é o poder, privilégios e lucros da classe capitalista, que dificulta um maior consumo massivo. E menos do que tudo, falam da força motriz para elevar as condições de vida da classe trabalhadora e dos camponeses, nomeadamente a luta de classes. Em vez disso, contam com os apelos tecnocráticos às elites chinesas para que as despesas sociais sejam maiores.
O Estado chinês evoluiu para uma poderosa máquina de fabrico de bens e de bilionários. A China de hoje tem o maior crescimento, a maior taxa de exploração e as maiores desigualdades de classe da Ásia. Aumentar os salários para estimular o consumo local significa redução de lucros, um anátema para todos os capitalistas, incluindo os chineses. Aumentar a despesa pública na cobertura universal da saúde, especialmente para os 700 milhões de camponeses sem seguro e trabalhadores rurais, significa maiores impostos para os ricos, incluindo as famílias e colegas da elite do governo. Em contraste, a produção para os mercados de exportação não necessita de um maior poder interno do consumidor e, pelo contrário, precisa de salários mais baixos.
A mudança do impulso na exportação para uma estratégia de impulso no mercado interno requer, não apenas, de uma 'mudança na política', mas de uma mudança profunda no poder classista da actual classe capitalista e dos seus apoiantes no Estado, para os trabalhadores e camponeses. Para realizar, em larga escala, compromissos a longo prazo de receitas de serviços sociais para os pobres rurais e salários superiores para os trabalhadores explorados, requer mobilizações sustentadas popularmente, revoltas e greves para garantir os sindicatos independentes e associações de camponeses necessários para que haja uma mudança nas atribuições do Estado para consumo interno.
Os "desequilíbrios" da China são largamente internos, em termos sociais e políticos. É um desequilíbrio de poder social entre um poderoso Estado capitalista e uma massa reprimida e sem poder de trabalhadores e camponeses; um desequilíbrio em rendimento entre uma banca super-rica, imobiliário, elite exportadora de produtos e uma classe trabalhadora com salários baixos e uma classe camponesa subsistente; um desequilíbrio entre um Estado altamente organizado ligado a famílias, ideologia e interesses económicos com a classe capitalista, e uma dispersa, fragmentada e isolada massa de povo trabalhador.
A classe dirigente da China, os seus investimentos exteriores de biliões de dólares em projectos capitalistas ocidentais, através dos seus fundos patrimoniais independentes, os seus investimentos de biliões de dólares em empresas extractivas estrangeiras, é conseguido pela quantidade de capital acumulado, obtido através de níveis intensos de exploração do trabalho e pela eliminação de pensões do Estado, planos de saúde e educação. O papel da China, como um poder imperial emergente, está enraizado no desequilíbrio entre poder global e degradação da segurança social.
O facto dos autores capitalistas ocidentais, dos políticos e dos seus seguidores do campo académico, chamarem a atenção para os mesmos desequilíbrios sociais na China como os seus críticos internos da classe trabalhadora, não devia obscurecer um ponto básico. Os críticos da Wall Street defendem a elite financeira da AFA contra a maior produtividade dos industriais exportadores da China, enquanto os críticos da classe trabalhadora interna criticam os capitalistas e o Estado pelas altas taxas de exploração e concentração de riqueza.
A chave para a redução de desequilíbrios no comércio mundial passa pela redução das desigualdades em cada região. Os Estados Unidos necessitam da mudança profunda de uma economia dominada pela finança para uma economia de produção, em que a finança, a tecnologia de ponta e a educação superior são dirigidas para a criação de uma economia competitiva e produtiva, baseada no trabalho especializado. A ligação no topo entre Wall Street e o Pentagon deve ser substituída pela ligação entre a classe trabalhadora industrial, trabalhadores dos serviços de baixos salários e sector público de empregados e profissionais.
A transformação estrutural da economia dos Estados Unidos é necessária mas isso só não chega. Se os esforços dos Estados Unidos continuarem a persistir num império militar isto irá desviar recursos das prioridades económicas internas e externas. Impérios dirigidos pelos militares alienam sócios comerciais, têm custos elevados e receitas baixas, isolam os investidores económicos e os comerciantes de sociedades produtivas e são destrutivos de instalações civis produtivas internas e externas.
A saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens. Contudo, apesar do seu profundo poder institucional sofrem de várias deficiências fatais. Em primeiro lugar, criaram desequilíbrios globais insustentáveis que, mais cedo ou mais tarde, levarão a um colapso do dólar e a bolhas financeiras renovadas, mais virulentas e dispendiosas. Em segundo lugar, o mercado livre, que é o suporte ideológico principal da elite de poder financeiro desregulado, está totalmente desacreditado, como evidenciado pelo pequeno apoio e confiança da Wall Street. Em terceiro lugar, a construção de impérios pelos militares já teve o seu percurso: após nove anos de guerra no Afeganistão a grande maioria de americanos enviou uma mensagem à elite política de ambos os partidos, à Casa Branca e ao Congresso, de que chegou a altura de mudar as aventuras falhadas e financiadas no estrangeiro e resolver o problema dos 20% desempregados americanos (30 milhões), de os 100 milhões ou 33% de americanos sem ou com dispendiosa cobertura de saúde ou com cobertura inadequada. Nenhuma intensidade nos media e culpabilização perita da China para os nossos auto-induzidos "desequilíbrios" pode desviar a opinião americana das suas experiências directas com as nossas próprias desigualdades internas e fracassos de política.
* James Petras é Professor da Universidade de Nova Iorque e amigo e colaborador de odiario.info
Tradução de João Manuel Pinheiro
O debate revelou uma divisão profunda sobre as causas e os remédios, com os políticos, economistas e articulistas anglo-franco-americanos (AFA) de um lado e a correspondente outra parte asiática-germânica (AG) do outro lado. Em termos gerais, os porta-vozes dos AFA põem as culpas das crises nos factores externos, ou, mais especificamente, apontam o dedo aos excedentes positivos no comércio, sectores dinâmicos de exportação e ritmos elevados de investimento em sectores produtivos, e níveis baixos de consumo nos países AG, como a causa dos «desequilíbrios», ou «desequilíbrio», na economia mundial.
Em contraste, os países AG rejeitam a justificação de práticas externas prejudiciais. Põem em destaque os «desequilíbrios» internos no interior dos países AFA, que enfraqueceram as suas posições internacionais, comerciais e financeiras.
Neste artigo, vou argumentar que ambas as políticas económicas internas e as estratégias de construção de impérios externos dos países AFA, têm sido a força motriz para os desequilíbrios globais. As diferenças estruturais entre as duas regiões e as diferenças de estrutura de classe e configurações económicas em cada bloco, impedem qualquer solução fácil e imediata. Pelo contrário, no futuro previsível é provável que o conflito entre potências dinâmicas emergentes de exportação e o bloco ocidental em declínio se intensifique, levando a maiores conflitos comerciais e a possíveis confrontos militares.
As acusações da AFA contra os «desequilíbrios» comerciais da China reúne comércio com o ocidente com as relações de Beijing com o resto do mundo. A China tem comércio equilibrado ou mesmo défices de comércio com países asiáticos, africanos, do Médio Oriente e da América Latina. Além disso, os países AFA têm desequilíbrios de comércio com outras regiões, incluindo o Médio Oriente e a Alemanha. Mesmo que os países AFA reduzam importações da China, é mais do que provável que outros países asiáticos tomem o seu lugar, incluindo Vietname, Coreia do Sul, Taiwan, Bangladesh e Índia. Os défices comerciais resultantes da AFA ficariam na mesma.
Os países AFA culpam a moeda «subvalorizada» da China e reclamam que as autoridades de Beijing manipulam as taxas de câmbio para baixar o preço das exportações e vencer os concorrentes (nomeadamente produtores no interior das AFA). Contudo, a moeda da China tem sido reavaliada consistentemente para cima dos 20% nos últimos cinco anos e, apesar disso, AFA continua a apresentar défices, sugerindo que os produtores nacionais ainda não são capazes de competir com os fabricantes chineses. Mais recentemente, autores na AFA, queixaram-se das taxas baixas dos juros apresentadas pelo governo chinês como um «subsídio» aos exportadores. Contudo, as taxas de juro na AFA estão a zero por cento ou mesmo negativas, isto é, são em vão. Todavia, AFA concederam para cima de 1,5 milhão de milhões em fundos de apoio, e para cima de 1,3 mil milhões para despesas estimulantes - um subsídio cinco vezes superior ao pacote de estímulos da China, sem terem melhorado a sua balança comercial. O que é revelador, dadas as afectações sectoriais, do apoio em cada regime - subsídios - pacotes de estímulos, é que a China recuperou completamente e tem um crescimento de 8% em meados de 2009, enquanto AFA continua a chafurdar em território negativo e continua também com défices comerciais. Isto aponta à centralidade dos factores internos, nomeadamente aos sectores económicos que recebem subsídios de Estado e à forma como os investem, e que têm como resultado que as suas decisões afectem as balanças comerciais.
AFA acusa a China dos baixos salários, da exploração dos trabalhadores, e que isso é a razão dos desequilíbrios comerciais. Contudo, uma percentagem crescente das exportações da China é baseada em avanços tecnológicos e não em mão-de-obra barata. Isto é devido à emergência na Ásia de concorrentes com baixos custos de salários.
AFA queixa-se que a China enfatiza a sua estratégia de “exportações” à custa de produzir para o mercado interno. Todavia, quase metade das exportações da China para os Estados Unidos é realizada a partir de multinacionais americanas que investiram, subcontrataram e co-produziram com as suas homólogas chinesas. Por outras palavras, a política interna americana, a desregulamentação do fluxo de capitais, facilitou o movimento dos fabricantes americanos no exterior, o que resultou num declínio da produção local, num aumento das importações e em maiores défices comerciais.
Causas internas dos défices comerciais (e Economia Mundial Desequilibrada)
A correlação mais evidente e interessante com o crescimento dos desequilíbrios comerciais da AFA é o crescimento e domínio do sector financeiro. A financeirização das economias das AFA e o papel dominante dos directores executivos da Wall Street nas posições económicas estratégicas do Estado é transparente para as massas e até tem sido reconhecida pela maioria dos economistas privados e professores universitários. Os défices comerciais aumentaram na proporção directa do crescimento do poder económico e político do sector financeiro. Em grande parte, isto foi devido à transferência do capital do fabrico para os serviços financeiros, o que conduziu à redução dos investimentos nas inovações e em estratégias de gestão competitivas nos sectores produtivos. Os altos salários, bónus e retornos rápidos no sector financeiro atraíam a maioria dos auto-denominados "melhores e mais inteligentes". Os formados em MBA multiplicaram, enquanto os formados em escolas de engenharia avançada diminuíram. Desapareceram os programas de formação para trabalhadores especializados enquanto cresceu o recrutamento para vendas a retalho de baixa especialização.
O problema era que os serviços financeiros não faziam, não podiam substituir os ganhos do exterior que antes aumentavam através de vendas dos produtos fabricados. Em último lugar, nos mercados financeiros altamente regulados da China, Japão, Índia e no resto da Ásia, onde os bancos estão subordinados à expansão da produção - nomeadamente indústrias financeiras dirigidas por funcionários do Estado. O domínio do capital financeiro e os sectores relacionados do imobiliário e dos seguros conduziram a uma estrutura de classe altamente polarizada: onde presidiam banqueiros de investimentos bilionários e milionários e um exército de trabalhadores de serviços com baixos salários (empregados do retalho, da limpeza, varredores, etc) imigrantes e trabalhadores não-sindicalizados que ocupavam o fundo da escala. Presentemente, as desigualdades no rendimento nos Estados Unidos excedem as de qualquer outro país capitalista "avançado". As desigualdades em Manhattan excedem as de Guatemala. A crescente concentração de riqueza é acompanhada pela redução, nas últimas três décadas, dos ordenados médios. Em resultado disso, o poder de compra dos trabalhadores americanos foi reduzido, dessa forma reduzindo também a procura de bens de qualidade produzidos localmente. O resultado, é a compra de têxteis baratos de importação, sapatos e outros artigos. Passa a haver um declínio nas poupanças e no investimento interno na produção, o que leva a um abaixamento na competitividade. Para além disso, a concorrência entre prestamistas financeiros faz aumentar dispêndios no consumidor e maior endividamento individual, numa altura em que os peritos em produção declinavam por não haver investimento.
A maior parte das empresas produtoras transformaram-se em empresas financeiras, canalizando fundos de investimento em sectores não recebendo câmbios estrangeiros. Pior que tudo, em busca de lucros mais elevados, os produtores transformaram-se em vendedores comerciais, encerrando fábricas e subcontratando produção à China e a outros países asiáticos, e importando produtos finais para os Estados Unidos, assim criando os desequilíbrios comerciais. A recolocação, em larga escala, das multinacionais americanas no estrangeiro, agravou ainda mais os desequilíbrios comerciais.
O papel principal do Estado na criação de desequilíbrios internos, conduzindo a um desequilíbrio global, é o resultado da tomada do Estado pelo sector financeiro e da desregularização dos mercados financeiros. O resultado foi a promoção a longo termo de uma política económica, onde o banco central (Reserva Federal) e o Ministério das Finanças, encorajavam mais o crescimentos dos sectores financeiro, imobiliário e seguros do que o do sector produtivo. A estratégia financeira foi justificada por um grande exército de professores e publicistas que falavam na "pós-indústria", ou na economia de "serviço", ou de "informação", como uma "etapa superior",em vez de uma perversamente desequilibrada, insustentável e injusta economia.
A supremacia financeira coincidiu com a crescente militarização da política estrangeira dos Estados Unidos. A expansão económica dos Estados Unidos no estrangeiro foi eclipsada gradualmente pela crescente dependência nas intervenções militares e na construção de bases militares em centenas de locais. A financeirização enfraqueceu a capacidade produtiva dos exportadores americanos para captar mercados, os políticos americanos aumentaram a dependência na supremacia do poder militar. A canalização de biliões para as despesas militares esgotaram os recursos em esforços para aumentar a competitividade da indústria civil americana e foi um factor importante no seu declínio nos mercados de exportação. Os resultados finais da militarização foram perdas nos proveitos das exportações e no crescimento dos défices comerciais.
Se combinarmos os três grande desequilíbrios internos nas economias da AFA, mas especialmente na dos Estados Unidos, a financeirização da economia, a militarização da política estrangeira e a concentração da riqueza no topo, podemos, pois, entender porque é que os Estados Unidos têm um tão grande e crescente défice comercial.
A estratégia de impulso nas exportações da China
A ênfase da China numa estratégia impulsionadora de exportações e as resultantes e crescentes desigualdades de classe, são claramente o resultado da composição de classe do Estado e da sua estrutura social. Por outras palavras, os factores internos são a força impulsionadora da sua procura por excedentes comerciais. O que é irónico é que alguns dos críticos da AFA, que apontam correctamente os 'desequilíbrios' internos na China, ignorem problemas semelhantes no ocidente. Nomeadamente, não mencionarem a ausência de um plano nacional de saúde nos Estados Unidos, o aumento das desigualdades e da diminuição do poder de compra massivo - mesmo quando apontam estas deficiências na China. O que os defensores ocidentais de maior segurança social na China não falam, é o poder, privilégios e lucros da classe capitalista, que dificulta um maior consumo massivo. E menos do que tudo, falam da força motriz para elevar as condições de vida da classe trabalhadora e dos camponeses, nomeadamente a luta de classes. Em vez disso, contam com os apelos tecnocráticos às elites chinesas para que as despesas sociais sejam maiores.
O Estado chinês evoluiu para uma poderosa máquina de fabrico de bens e de bilionários. A China de hoje tem o maior crescimento, a maior taxa de exploração e as maiores desigualdades de classe da Ásia. Aumentar os salários para estimular o consumo local significa redução de lucros, um anátema para todos os capitalistas, incluindo os chineses. Aumentar a despesa pública na cobertura universal da saúde, especialmente para os 700 milhões de camponeses sem seguro e trabalhadores rurais, significa maiores impostos para os ricos, incluindo as famílias e colegas da elite do governo. Em contraste, a produção para os mercados de exportação não necessita de um maior poder interno do consumidor e, pelo contrário, precisa de salários mais baixos.
A mudança do impulso na exportação para uma estratégia de impulso no mercado interno requer, não apenas, de uma 'mudança na política', mas de uma mudança profunda no poder classista da actual classe capitalista e dos seus apoiantes no Estado, para os trabalhadores e camponeses. Para realizar, em larga escala, compromissos a longo prazo de receitas de serviços sociais para os pobres rurais e salários superiores para os trabalhadores explorados, requer mobilizações sustentadas popularmente, revoltas e greves para garantir os sindicatos independentes e associações de camponeses necessários para que haja uma mudança nas atribuições do Estado para consumo interno.
Os "desequilíbrios" da China são largamente internos, em termos sociais e políticos. É um desequilíbrio de poder social entre um poderoso Estado capitalista e uma massa reprimida e sem poder de trabalhadores e camponeses; um desequilíbrio em rendimento entre uma banca super-rica, imobiliário, elite exportadora de produtos e uma classe trabalhadora com salários baixos e uma classe camponesa subsistente; um desequilíbrio entre um Estado altamente organizado ligado a famílias, ideologia e interesses económicos com a classe capitalista, e uma dispersa, fragmentada e isolada massa de povo trabalhador.
A classe dirigente da China, os seus investimentos exteriores de biliões de dólares em projectos capitalistas ocidentais, através dos seus fundos patrimoniais independentes, os seus investimentos de biliões de dólares em empresas extractivas estrangeiras, é conseguido pela quantidade de capital acumulado, obtido através de níveis intensos de exploração do trabalho e pela eliminação de pensões do Estado, planos de saúde e educação. O papel da China, como um poder imperial emergente, está enraizado no desequilíbrio entre poder global e degradação da segurança social.
O facto dos autores capitalistas ocidentais, dos políticos e dos seus seguidores do campo académico, chamarem a atenção para os mesmos desequilíbrios sociais na China como os seus críticos internos da classe trabalhadora, não devia obscurecer um ponto básico. Os críticos da Wall Street defendem a elite financeira da AFA contra a maior produtividade dos industriais exportadores da China, enquanto os críticos da classe trabalhadora interna criticam os capitalistas e o Estado pelas altas taxas de exploração e concentração de riqueza.
A chave para a redução de desequilíbrios no comércio mundial passa pela redução das desigualdades em cada região. Os Estados Unidos necessitam da mudança profunda de uma economia dominada pela finança para uma economia de produção, em que a finança, a tecnologia de ponta e a educação superior são dirigidas para a criação de uma economia competitiva e produtiva, baseada no trabalho especializado. A ligação no topo entre Wall Street e o Pentagon deve ser substituída pela ligação entre a classe trabalhadora industrial, trabalhadores dos serviços de baixos salários e sector público de empregados e profissionais.
A transformação estrutural da economia dos Estados Unidos é necessária mas isso só não chega. Se os esforços dos Estados Unidos continuarem a persistir num império militar isto irá desviar recursos das prioridades económicas internas e externas. Impérios dirigidos pelos militares alienam sócios comerciais, têm custos elevados e receitas baixas, isolam os investidores económicos e os comerciantes de sociedades produtivas e são destrutivos de instalações civis produtivas internas e externas.
A saída para os desequilíbrios massivos passa pelos Estados Unidos decidirem executar transformações estruturais internas em larga escala e a longo prazo - nomeadamente à desfineirização e desmilitarização. Mas as forças políticas e económicas beneficiárias da configuração actual estão fortemente entrincheiradas no controlo de ambos os partidos principais e dominam os media e as suas mensagens. Contudo, apesar do seu profundo poder institucional sofrem de várias deficiências fatais. Em primeiro lugar, criaram desequilíbrios globais insustentáveis que, mais cedo ou mais tarde, levarão a um colapso do dólar e a bolhas financeiras renovadas, mais virulentas e dispendiosas. Em segundo lugar, o mercado livre, que é o suporte ideológico principal da elite de poder financeiro desregulado, está totalmente desacreditado, como evidenciado pelo pequeno apoio e confiança da Wall Street. Em terceiro lugar, a construção de impérios pelos militares já teve o seu percurso: após nove anos de guerra no Afeganistão a grande maioria de americanos enviou uma mensagem à elite política de ambos os partidos, à Casa Branca e ao Congresso, de que chegou a altura de mudar as aventuras falhadas e financiadas no estrangeiro e resolver o problema dos 20% desempregados americanos (30 milhões), de os 100 milhões ou 33% de americanos sem ou com dispendiosa cobertura de saúde ou com cobertura inadequada. Nenhuma intensidade nos media e culpabilização perita da China para os nossos auto-induzidos "desequilíbrios" pode desviar a opinião americana das suas experiências directas com as nossas próprias desigualdades internas e fracassos de política.
* James Petras é Professor da Universidade de Nova Iorque e amigo e colaborador de odiario.info
Tradução de João Manuel Pinheiro
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Belo texto de Deanna....
E
tudo mudou...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças...
*
Deanna - blog leitores escassos
Por motivos que ninguém explica, diversos textos de outros autores circulam pela internet como sendo de Luis Fernando Verissimo. Isso ocorre com outros autores também, mas o estilo mais casual de Verissimo parece torná-lo um alvo fácil.
Abaixo, uma lista de textos falsamente atribuidos a Verissimo, compilada por Elson Barbosa (moderador da comunidade no Orkut - Luis Fernando Verissimo):
- LFV e o Desarmamento / Aprenda a Chamar a Polícia (autor: Rossano Cancelier)
- Quase (autora: Sarah Westphal)
- Dar Não é Fazer Amor (Tatiane Bernardi)
- Depoimento Sobre as Drogas / Pagodeaxéfunk... Drogas da Pesada! (autor: Vitor Trucco)
- Hipocondríaco (autor: Silvio Lach)
- Um Dia de Modess (Rolinha)
- Tipo Assim (autor: Kledir Ramil)
- O Direito do Palavrão (Pedro Ivo Resende)
- A Verdade Sobre Romeu e Julieta (Francine Bittencourt de Oliveira)
- A Impontualidade do Amor (autora: Martha Medeiros)
- Mulheres Modernas / Mulheres Empresárias (autor: Arnaldo Jabor)
- O Que Faz Bem À Saúde / Previna-se (Martha Medeiros)
- Pedindo Uma Pizza em 2009 (autor: Daniel Kurtzman)
- Namoro em Tempos Modernos / Árvore Genealógica (autor: Bond Bilau)
- Filtro Solar (autor: Baz Luhrmann)
- Verão Chegando / The Summer is Tragic! (autora: Rosana Hermann)
- Ainda Bem Que Eu Dei (autora: Daniela Mel)
- Proctologista / Pedido de Amigo (autor: Jacob El-Mokdisi)
Sugestão participe da Comunidade orkut: Afinal, quem é o autor?
- A Pessoa Errada (Autoria Desconhecida)
- Desabafo de um Marido (Autoria Desconhecida)
- Aquele do Remédio e do "Esquece" (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Merda (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Modess (Autoria Desconhecida)
- Verão Chegando (Autoria Desconhecida)
- Necessidades Sexuais / Marte e Vênus (Autoria Desconhecida)
- Big Brother Brasil 4 (Autoria Desconhecida)
- Entrevista com Deus (Autoria Desconhecida)
- Ainda Bem Que Eu Dei (Autoria Desconhecida)
- Dez Coisas Que Levei Anos Para Aprender (Autoria Desconhecida)
- Precisando de Amor (Autoria Desconhecida)
- Sobrevivência / Como Conseguimos Sobreviver? (Autoria Desconhecida)
- Casamento Moderno (Autoria Desconhecida)
- Sobre o Amor (Autoria Desconhecida)
- Oração dos Desesperados / Oração dos Estressados / Oração dos estressadinhos (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Mulheres (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Nota de falecimento/ Morreu quem atrapalhava o crescimento da empresa (Autoria Desconhecida)
- Coisas de um Coração Apaixonado / Falo a Língua dos Loucos / Quem Nunca Teve... (Autoria Desconhecida)
- Fodeu-se / Foda-se (Autoria Desconhecida)
- Às Vezes / Quando o Coração Doe Até Sangrar (Autoria Desconhecida)
- Complexidade feminina! (Autoria Desconhecida)
- A Felicidade pode demorar (Autoria Desconhecida)
- Como roubar um coração/Roubo! (Autoria Desconhecida)
- Degustação de vinho em Minas e/ou O MINERIM E O DEGUSTADOR DE VINHO (Autoria Desconhecida)
- Depilação masculina (Autoria Desconhecida)
Caso encontrarem o autor desconhecido de algum texto mencionado acima até o momento, favor indicar no e-mail - pessoal (Contatos do Recanto e/ou no mural do Orkut - recados), pois as listas vem sendo constantemente atualizadas.
Nota: Desconfie de textos repassados com o nome de LuiZ Fernando VerÍssimo, de modo geral são falsos.
__________________________
/lfv é um site dedicado ao escritor, cartunista e músico Luis Fernando Verissimo.
www.dotdotdot.com.br/lfv/diversos/textos_falsos.php
Por motivos que ninguém explica, diversos textos de outros autores circulam pela internet como sendo de Luis Fernando Verissimo. Isso ocorre com outros autores também, mas o estilo mais casual de Verissimo parece torná-lo um alvo fácil.
Abaixo, uma lista de textos falsamente atribuidos a Verissimo, compilada por Elson Barbosa (moderador da comunidade no Orkut - Luis Fernando Verissimo):
- LFV e o Desarmamento / Aprenda a Chamar a Polícia (autor: Rossano Cancelier)
- Quase (autora: Sarah Westphal)
- Dar Não é Fazer Amor (Tatiane Bernardi)
- Depoimento Sobre as Drogas / Pagodeaxéfunk... Drogas da Pesada! (autor: Vitor Trucco)
- Hipocondríaco (autor: Silvio Lach)
- Um Dia de Modess (Rolinha)
- Tipo Assim (autor: Kledir Ramil)
- O Direito do Palavrão (Pedro Ivo Resende)
- A Verdade Sobre Romeu e Julieta (Francine Bittencourt de Oliveira)
- A Impontualidade do Amor (autora: Martha Medeiros)
- Mulheres Modernas / Mulheres Empresárias (autor: Arnaldo Jabor)
- O Que Faz Bem À Saúde / Previna-se (Martha Medeiros)
- Pedindo Uma Pizza em 2009 (autor: Daniel Kurtzman)
- Namoro em Tempos Modernos / Árvore Genealógica (autor: Bond Bilau)
- Filtro Solar (autor: Baz Luhrmann)
- Verão Chegando / The Summer is Tragic! (autora: Rosana Hermann)
- Ainda Bem Que Eu Dei (autora: Daniela Mel)
- Proctologista / Pedido de Amigo (autor: Jacob El-Mokdisi)
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- A Pessoa Errada (Autoria Desconhecida)
- Desabafo de um Marido (Autoria Desconhecida)
- Aquele do Remédio e do "Esquece" (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Merda (Autoria Desconhecida)
- Um Dia de Modess (Autoria Desconhecida)
- Verão Chegando (Autoria Desconhecida)
- Necessidades Sexuais / Marte e Vênus (Autoria Desconhecida)
- Big Brother Brasil 4 (Autoria Desconhecida)
- Entrevista com Deus (Autoria Desconhecida)
- Ainda Bem Que Eu Dei (Autoria Desconhecida)
- Dez Coisas Que Levei Anos Para Aprender (Autoria Desconhecida)
- Precisando de Amor (Autoria Desconhecida)
- Sobrevivência / Como Conseguimos Sobreviver? (Autoria Desconhecida)
- Casamento Moderno (Autoria Desconhecida)
- Sobre o Amor (Autoria Desconhecida)
- Oração dos Desesperados / Oração dos Estressados / Oração dos estressadinhos (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Mulheres (Autoria Desconhecida)
- Nada como a Simplicidade... (Autoria Desconhecida)
- Nota de falecimento/ Morreu quem atrapalhava o crescimento da empresa (Autoria Desconhecida)
- Coisas de um Coração Apaixonado / Falo a Língua dos Loucos / Quem Nunca Teve... (Autoria Desconhecida)
- Fodeu-se / Foda-se (Autoria Desconhecida)
- Às Vezes / Quando o Coração Doe Até Sangrar (Autoria Desconhecida)
- Complexidade feminina! (Autoria Desconhecida)
- A Felicidade pode demorar (Autoria Desconhecida)
- Como roubar um coração/Roubo! (Autoria Desconhecida)
- Degustação de vinho em Minas e/ou O MINERIM E O DEGUSTADOR DE VINHO (Autoria Desconhecida)
- Depilação masculina (Autoria Desconhecida)
Caso encontrarem o autor desconhecido de algum texto mencionado acima até o momento, favor indicar no e-mail - pessoal (Contatos do Recanto e/ou no mural do Orkut - recados), pois as listas vem sendo constantemente atualizadas.
Nota: Desconfie de textos repassados com o nome de LuiZ Fernando VerÍssimo, de modo geral são falsos.
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Emerge uma nova esquerda na Europa
As
recentes eleições alemães e portuguesas confirmaram a emergência em
vários países da Europa de uma nova esquerda radical. Na Alemanha, Die Linke obteve 11,9% dos sufrágios e 76 deputados no Bundestag.
Em Portugal, o Bloco de Esquerda alcançou 9,85% e dobrou sua
representação parlamentar, com 16 deputados. Essa nova esquerda surgiu
no fim dos anos noventa com a renovação dos movimentos sociais e o auge
do movimento alter-mundista. A novidade reside em seu avanço eleitoral,
que não se limita a um país ou a dois, senão que esboça uma tendência
europeia (ilustrada, entre outros, pela Aliança Vermelha e Verde na
Dinamarca, Syriza na Grecia ou o Novo Partido Anticapitalista
na França), ainda frágil e desigual, segundo os distintos sistemas
eleitorais. Por exemplo, o NPA e a Frente de Esquerda têm na França um
potencial acumulado de aproximadamente 12%, mas não contam com nenhum
parlamentar eleito, devido a um sistema uninominal de dois turnos que
exclui toda representação proporcional e favorece o "voto útil" como um
mal menor.
Vários fatores explicam esse fenômeno e, antes de tudo, o
afundamento ou o retrocesso dos partidos social-democratas e
comunistas, que estruturam há meio século a esquerda tradicional.
Os partidos comunistas, que se haviam identificado com o "campo
socialista" e com a União Soviética, desapareceram ou viram sua base
social se dissolver, com a exceção relativa da Grécia e de Portugal.
Quanto à social democracia, ao acompanhar e impulsionar as políticas
liberais no marco dos tratados europeus, contribuiu ativamente para
desmantelar o Estado de bem-estar social, no qual obtinha sua
legitimidade. Sob o pretexto da "renovação", da "terceira vía" e do
"novo centro", se metamorfoseou, além disso, em formação de
centro-esquerda, à semelhança do Partido Democrata italiano. À medida
que seus vínculos com o eleitorado popular se debilitavam, se reforçava
sua integração com os meios de negócios. A passagem de Schröder ao
conselho de administração de Gazprom, e a promoção de dois
"socialistas" franceses (Dominique Strauss-Kahn e Pascal Lamy) à cabeça
do FMI e da OMC simbolizam essa transformação de altos dirigentes
socialistas em homens de confiança do grande capital. Paladina da
"economia social de mercado" e do compromisso social, a social
democracia alemã já pagou por isso ao registrar nas eleições de 27 de
setembro uma perda de 10 milhões de eleitores em 10 anos.
Enquanto essa esquerda do centro cada vez se distingue menos da
direita do centro, cresce após a queda do muro de Berlim uma nova
geração que não terá conhecido mais do que as guerras quentes
imperiais, as crises ecológicas e sociais, o desemprego e a
precariedade. Uma minoria ativa desses jovens retoma o gosto pela luta
e pela política, mas mantém sua desconfiança diante dos jogos
eleitorais e dos compromissos institucionais. Ao rechaçar um mundo
imundo sem chegar a conceber "o outro mundo" necessário, esse
radicalismo pode tomar direções diametralmente opostas: a de uma
alternativa claramente anticapitalista ou a de um populismo
nacionalista e xenófobo (a Frente Nacional na França, o National Front no Reino Unido), e inclusive a de um novo nihilismo. Entretanto, é alentador constatar que o eleitorado de Die Linke,
como o de Olivier Besancenot nas eleições presidenciais francesas de
2007, se caracteriza por ter um componente jovem, precário e popular
proporcionalmente superior ao dos outros partidos.
Todavia a nova esquerda não constitui uma corrente homogênea reunida
em torno de um projeto estratégico comum. Inscreve-se mais bem num
campo de forças polarizado, de um lado, pela resistência e pelos
movimentos sociais, e do outro, pela tentação da respeitabilidade
institucional. A questão das alianças parlamentares e governamentais já
é para essa esquerda uma verdadeira prova de verdade. A Rifundazione Comunista,
que ainda ontem aparecia como o buque-insígnia dessa nova esquerda
europeia, se suicidou ao participar do Governo Prodi sem impedir o
retorno de Berlusconi. Muito mais além das táticas eleitorais, essas
opções revelam uma orientação que Oskar Lafontaine resume com acerto:
"Fazer pressão para restaurar o Estado de bem-estar social".
Portanto, não se trata de construir pacientemente uma alternativa
anticapitalista, senão que de "fazer pressão" sobre a social democracia
para salvá-la de seus demônios centristas e fazê-la voltar a uma
política reformista clássica no marco da ordem estabelecida. Quanto a
"restaurar o Estado de bem-estar social", para isso seria necessário
começar por romper com o Pacto de Estabilidade e o Tratado de Lisboa,
reconstruir serviços públicos europeus e submeter o Banco Central
Europeu a instâncias eleitas. Em resumo, fazer exatamente o contrário
do que fizeram os governos de esquerda durante os últimos 20 anos e que
continuam fazendo quando estão no poder. A moderação da social
democracia diante da crise econômica e sua declaração comum durante as
últimas eleições europeias demonstram que seu submetimento aos
imperativos do mercado não é reversível.
Em troca, no dia seguinte às eleições portuguesas, Francisco Louça,
o deputado que coordena o Bloco de Esquerda, rechaçou os cantos de
sereia governamentais ao declarar rotundamente que sua formação estaria
"na oposição", contra as privatizações anunciadas, o desmantelamento
dos serviços públicos e o novo código do trabalho; portanto, na
oposição ao Governo Sócrates. Essa opção também está no coração das
divergências entre o NPA de Olivier Besancenot, que rechaça qualquer
aliança de governo com o Partido Socialista e com o Partido Comunista
francés, claramente comprometido com a perspectiva de reconstruir a
"esquerda plural", cujo governo conduziu ao desastre de 2002, com Le
Pen no segundo turno das eleições presidenciais.
Essas duas opções atravessam, sem dúvida, a maioria dos partidos da
nova esquerda e, de concreto, Die Linke, cuja coalizão com o SPD, já
muito discutida no Ajuntamento de Berlim, tenderia a se generalizar,
como parece anunciar a aliança travada ultimamente no land de Brandenburgo.
Desse modo, se esboça a opção estratégica à qual se verá confrontada
a nova esquerda. Ou bem se contenta com um papel de contrapeso e
pressão sobre a esquerda tradicional, privilegiando o terreno
institucional; ou bem favorece as lutas e os movimentos sociais para
construir pacientemente uma nova representação política dos explorados
e oprimidos. Isso não exclui de modo nenhum que se busque a mais amplia
unidade de ação com a esquerda tradicional contra as privatizações e as
deslocalizações, e a favor dos serviços públicos, da proteção social,
das liberdades democráticas e da solidariedade com os trabalhadores
imigrados e sem documentos. Mas isso exige uma independência rigorosa
com respeito a uma esquerda que gestiona lealmente os assuntos do
capital, sob o risco de aborrecer a política das novas forças
emergentes.
A crise social e ecológica está ainda no seu inicio. Mais além de
possíveis recuperações ou melhoras, o desemprego e a precariedade se
manterão em níveis muito elevados e os efeitos da mudança climática
continuarão se agravando. Efetivamente, não estamos diante de uma crise
como as que o capitalismo frequentemente conheceu, senão que diante de
uma crise da desmedida de um sistema que pretende quantificar o
inquantificável e dar uma medida comum ao incomensurável. É provável
que estejamos, portanto, no principio de um sismo, com recomposições e
redefinições, do qual sairá uma paisagem política, daqui a uns anos,
totalmente recomposta. É preciso se preparar para isso e não sacrificar
o surgimento de uma alternativa a médio prazo por operações
politiqueiras e hipotéticos lucros imediatos, o que acarreta em amargas
desilusões.
Daniel Bensaid é filósofo. Seu último livro publicado é Elogio de la política profana (Península). Tradução de M. Sampons.
Publicado no jornal El País, 2/11/2009
Fonte: Sin Permiso
Tradução para o português: Sergio Granja
Malawi: Ventos da mudança
Willard
Nyangu, 60, lembra de seu retorno, há quarenta anos, às praias do Lago
Malawi [terceiro maior da África, situado entre o Malawi, a Tanzânia e
Moçambique, numa altitude de 700m acima do nível do mar, possuindo a
maior diversidade de peixes do mundo] com sua canoa cheia de peixes
depois de uma noite pescando.
Hoje,
a história é bem diferente. Apesar de passar uma noite inteira no lago,
Nyangu volta para a praia com apenas um punhado de peixes em sua canoa.
Ele diz que o padrão de chuvas tem mudado nos últimos 40 anos e culpa a
atividade humana, incluindo o desmatamento, pelos níveis incertos de
água que afetam os ciclos de reprodução dos peixes.
Estoques minguantes de peixes
O
governo do Malawi estima que a indústria pesqueira empregue mais de 300
mil malawianos. Cerca de 14% das comunidades litorâneas sobrevivem
através da pesca, processamento e venda do pescado, venda e conserto de
barcos e peças, e outras indústrias relacionadas.
A
pesca é um fator chave na segurança alimentar do país – chega a
contribuir com 70% da proteína animal nas áreas urbana e rural.
No
entanto, a média de peixes capturados diminuiu de cerca de 65 mil
toneladas por ano em 1970 e 1980 para apenas 50 mil toneladas por ano
no final dos anos 90.
Em
2003, especialistas da indústria pesqueira – alarmados pela diminuição
dos estoques de peixe – embarcaram numa estratégia de 10 anos para
restaurar a quantidade de peixes. O plano tem por objetivo recuperar os
esgotados estoques até um nível sustentável.
Clima Imprevisível
Há
três anos, Bingu wa Mutharika, presidente do Malawi, levou a questão
adiante ao tomar uma iniciativa para aumentar os estoques de água do
lago.
Steve
Donda, vice-diretor da indústria pesqueira do Malawi, reconhece que a
população de peixes do país está diminuindo, mas, diz ele, que outros
fatores além da mudança do clima, incluindo a destruição dos ambientes
de reprodução, podem ser responsáveis por isso.
Contudo, um relatório publicado em junho pela ONG Oxfam – Ventos da Mudança: Mudança do Clima, Pobreza e o Meio Ambiente no Malawi –
destaca que os ventos se tornaram tão fortes no país e as chuvas tão
pesadas que eles têm seguidamente destruído casas, plantações e barcos.
“A
principal estação das chuvas está se tornando cada vez mais
imprevisível. Em geral, nos últimos 40 anos, pescadores e fazendeiros
dizem que as temperaturas estão mais altas e que as chuvas estão
chegando mais tarde e ficando mais intensas e concentradas, o que reduz
a duração do período e desencadeia mais secas e mais enchentes”,
observa Elvis Sukali, um correspondente do Oxfam em Linlongwe [capital
do Malawi].
Tomando atitudes
O
Oxfam recomendou que o governo do Malawi elaborasse uma lista de ações
com medidas que devem ser implementadas a fim de iniciar uma adaptação
à mudança climática.
Mutharika
lançou um plano de alcance nacional chamado Programas de Ação Nacional
para a Adaptação (PANA) [em inglês NAPA, National Adaptation Programmes
of Action] com o objetivo de melhorar a organização comunitária,
recuperar florestas, aumentar a produção agrícola e o estado de
prontidão em caso de enchentes e secas e ampliar o monitoramento
climático.
Os
PANAs custarão 22,43 milhões de dólares [aproximadamente R$38,1
milhões] que, até agora, não foram disponibilizados pela comunidade
internacional, que cobra, antes de qualquer coisa, que o Malawi
desenvolva seu plano. O Oxfam condenou as agências de desenvolvimento
por fazerem isso, dizendo que o contínuo fracasso em financiar a
implementação dos PANAs pelos países menos desenvolvidos no mundo é
inaceitável.
No
entanto, grupos da sociedade civil no Malawi dizem que a falta de
fundos donativos não deve se tornar uma desculpa para a inércia das
autoridades, e insistem para que o governo faça mais mesmo se os PANAs
continuarem sem financiamento.
“Menos chuva, menos alimentos”
O
relatório do Malawi coincide com os relatórios do Oxfam produzidos na
África do Sul e Uganda, que revelaram que as populações destes países
estavam enfrentando desafios similares. Embora o continente africano
contribua com menos de 3% das emissões globais, o Oxfam sul-africano
observa que a mudança climática representa uma grande ameaça ao
desenvolvimento do continente.
Em
Uganda, uma análise climática feita pelo governo, publicada em dezembro
de 2007, observou que as áreas mais úmidas do país ao redor da bacia do
Lago Vitória [maior de todos os lagos africanos], no leste e noroeste,
estão ficando ainda mais úmidas.
Meteorologistas
e fazendeiros relatam o mesmo problema: na maioria dos distritos, os
anos recentes têm testemunhado um aumento na irregularidade no início e
final da estação das chuvas, e quando a chuva chega, ela é mais pesada
e mais violenta.
Fazendeiros
e pecuaristas dizem que estas mudanças estão encurtando a estação de
chuvas e que o resultado final é menos chuva e mais seca ou, como um
fazendeiro colocou: “Menos chuva significa menos alimento.”
Enfrentando a mudança climática
No entanto, alguma cautela é necessária na interpretação destas afirmações.
A
fim de lidar com a situação, o Malawi recentemente imitou Angola,
Suazilândia e Zâmbia ao lançar duas novas variedades de milho
resistente a doenças – ZM 309 e ZM 523 – desenvolvidas por fazendeiros
pobres em áreas propensas a estiagem com solos inférteis, a fim de
ajudar a proporcionar alguma segurança alimentar.
Este
lançamento é parte do projeto Milho Resistente à Seca para a África [em
inglês Drought Tolerant Maize for África] e oferece a mais fazendeiros
pobres na região da África sub-sahariana variedades de milho – um
alimento básico entre os africanos – que têm níveis aumentados de
resistência à seca.
Christine
Mtambo, chefe do departamento de agricultura do Malawi, que é
responsável pela produção rural no Ministério da Agricultura e
Segurança Alimentar, diz que as novas variedades se adaptam às atuais
condições climáticas porque elas são resistentes à seca e amadurecem
rápido.
Talvez,
com a adaptação às mudanças no clima e a aplicação de medidas para
aliviar o seu impacto, os pescadores como Nyangu e agricultores com
culturas de subsistência serão capazes de enfrentar a mudança
climática.
Porém,
Raphael Mweninguwe, um renomado colunista ambientalista do Malawi que
escreve para o jornal semanal Sunday Times, adverte que a mudança no
clima é um aviso para as pessoas reagirem a essas condições aplicando
medidas amigáveis ao meio ambiente. Mweninguwe argumenta que deveria
haver uma maior consciência das questões relacionadas às mudanças
climáticas entre as várias partes envolvidas, tanto dentro do país como
fora das fronteiras do Malawi.
Charles Mkoka
Tradução: Aline Oliveira
Para acessar o texto original, clique aqui.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Entrevista de Eduardo Galeano...
Estamos tentando recuperar nossa própria voz
Por Fania Rodrigues
Um dos mais respeitados escritores e intelectuais da América Latina, Eduardo Hughes Galeano recebeu a Caros Amigos numa
tarde de segunda-feira, no Café Brasilero, em Montevidéu. Aos 69 anos
fala, em fluente português, sobre sua literatura, o amor pelos cafés e,
claro, sobre política. Uruguaio de nascimento (1940), latino-americano
por devoção e cidadão do mundo por paixão, quando criança, sonhava em ser jogador de futebol. “Era uma maravilha jogando, mas só de noite, enquanto dormia”. Melhor assim. Os campos de futebol não perderam nada, porém a literatura ganhou um verdadeiro artesão das palavras. Suas obras combinam elementos da literatura, sensibilidade e observação jornalística, que estão sempre em função de suas paixões. Autor de mais de trinta livros, dezenas de crônicas e artigos, Galeano também é um exímio defensor do socialismo, dos direitos e da dignidade humana. Entre seus livros, pode se destacar As veias abertas da América Latina, a trilogia Memória doFogo, Livro dos Abraços e o último, Espelhos – uma história quase universal, lançado em 2008, em que o autor reescreve, a partir de um outro ponto de vista, episódios que a história oficial camuflou. Galeano “remexe no lixão da história mundial” para dar voz aos “náufragos e humilhados”.
por devoção e cidadão do mundo por paixão, quando criança, sonhava em ser jogador de futebol. “Era uma maravilha jogando, mas só de noite, enquanto dormia”. Melhor assim. Os campos de futebol não perderam nada, porém a literatura ganhou um verdadeiro artesão das palavras. Suas obras combinam elementos da literatura, sensibilidade e observação jornalística, que estão sempre em função de suas paixões. Autor de mais de trinta livros, dezenas de crônicas e artigos, Galeano também é um exímio defensor do socialismo, dos direitos e da dignidade humana. Entre seus livros, pode se destacar As veias abertas da América Latina, a trilogia Memória doFogo, Livro dos Abraços e o último, Espelhos – uma história quase universal, lançado em 2008, em que o autor reescreve, a partir de um outro ponto de vista, episódios que a história oficial camuflou. Galeano “remexe no lixão da história mundial” para dar voz aos “náufragos e humilhados”.
Caros Amigos - Você nasceu em Montevidéu? Gostaria que falasse um pouco da sua infância?
Eduardo
Galeano - Sim, nasci em Montevidéu. Minha infância? Eu nem lembro, já
faz tanto tempo... Mas acho que foi bastante livre. Eu morava em um
bairro quase no limite da Montevidéu, onde havia grandes edifícios.
Então tinha espaço verde. Sinto pena das coitadas das criancinhas que
vejo agora, prisioneiras na varanda de casa. Meninos ricos são tratados
como se fossem dinheiro, meninos pobres são tratados como se fossem
lixo. Muitos, pobres e ricos, viram prisioneiros, atados aos
computadores, à televisão ou a alguma outra máquina. Mas eu tive uma
infância muito livre. Fiz a escola primária, secundária, depois comecei
a trabalhar por minha conta. Então, com 15 anos, já era completamente
livre.
Em que trabalhou?
Fiz
de tudo o que você possa imaginar. Fui desenhista (adoro desenhar até
hoje), taquígrafo, mensageiro, funcionário de banco, trabalhei em
agência de publicidade, cobrador... Fiz milhares de coisas, mas,
sobretudo, comecei a aprender o ofício de contar história. Eu era um cuenta cuentos (conta
contos). E aprendi a fazer isso nos cafés, como esse onde a gente está
agora falando, que leva o honroso nome de Brasilero.
O mais tradicional dos cafés uruguaios se chama Brasilero!
E
esse é último sobrevivente, o último dos moicanos dos cafés nos quais
eu fui formado. Minha universidade foram os cafés de Montevidéu, foi
aqui que aprendi a arte de narrar, a arte de contar histórias.
Conversando com as pessoas?
Escutando.
Conversando sim, mas aprendi muito mais escutando. Desde muito menino
aprendi que, por alguma razão, nascemos com dois ouvidos e uma única
boca. Mas esses cafés típicos de Montevidéu pertenciam a uma época que
não existem mais. Pertenciam a um tempo no qual havia tempo para perder
o tempo.
Como foi sair do Uruguai, na época da ditadura (1973-1984)?
Quando a ditadura se instalou, eu corri para a Argentina, em 1973. Lá fundei uma revista cultural chamada Crisis.
Depois fui obrigado a voar de novo. Não podia voltar para o Uruguai,
porque não queria ficar preso, e fui obrigado a sair da Argentina
porque não
queria ser morto. A morte é uma coisa muito chata. Então fiquei na
Argentina até o final de 1976, quando se instala a Ditadura argentina.
Aí fui para a Espanha, onde fiquei até o final de 1985. Depois disso
voltei para o Uruguai. No começo, minha situação em
Barcelona foi muito complicada. Eu não tinha documentos, pois a
Ditadura uruguaia se recusava a fornecer. O que possuía era um
documento de salvo conduto das Nações Unidas, que não servia para muita
coisa. Eu tinha que ir todo mês à polícia renovar o
meu visto de permanência e passava o dia inteiro preenchendo
formulários de perguntas. Então, um dia, onde dizia profissão, coloquei
escritor, entre aspas, de formulários. Mas ninguém percebeu. A polícia
achou normal ser escritor de formulários!
Havia
duas listas das ditaduras do Cone Sul. Uma, com os nomes das pessoas
que estavam marcadas para morrer e outra para a extradição. Em qual
você estava?
Nas duas.
Na
época da ditadura, muitas pessoas, assim como você, ficaram sem
documentos, não podiam sair do país e foram mortas a tiro ou
envenenadas...
Eu
tive sorte. Não me lembro de ter sido envenenado, nem mesmo pelos
críticos literários. Claro que sofri muitas ameaças, mas não vou fazer
aqui uma apologia
do mártir, do herói da revolução. Mas claro que a vida não era fácil,
sobretudo por que a situação dessa revista que fundei na Argentina era
difícil, pois chegava muito além das fronteiras tradicionais das
revistas culturais. Nós vendíamos entre 30 e 35 mil
exemplares. Isso, para uma revista cultural, era uma prova de
resistência. Nós pensávamos em fazer era um resgate das mil e uma
formas de expressão da
sociedade. Não apenas dos profissionais da cultura, mas também das
cartas dos presos, da cultura contada pelos operários das fábricas, que
raramente viam a luz o sol. Esse tipo de coisa que para nós também era cultura.
O livro As Veias abertas da América Latina foi escrito na década de 1970. Hoje, é possível escrever um novo Veias Abertas?
Para
mim esse livro foi um porto de partida, não de chegada. Foi o começo de
algo, de muitos anos de vida literária e jornalística tentando
redescobrir a realidade, tentando ver o não visto e contar o não
contado. Depois de Veias escrevi muitos livros que foram
continuações, de um certo modo, e uma tentativa de cavar, cada vez mais
profundamente, a realidade. Isso com o objeto de ampliar um pouco as ideias, porque Veias é
um livro limitado à economia política latino-americana. Os livros
seguintes têm que ser lidos com a vida toda, nas suas múltiplas
expressões, sem dar muita bola nem ao mapa, nem ao tempo. Se eu fico
apaixonado por uma história, me
ponho
a contar histórias de qualquer lugar do mundo e de qualquer tempo.
Conto a história da história, que podem ter acontecido há 2 mil anos e
tento escrever de tal modo que aconteçam de novo, na hora em que são
contadas. Aí está o verdadeiro ofício de contar, que aprendi nos cafés
de Montevidéu, que inclusive permite a você escutar o som das patas dos
cavalos, sentir o cheiro da chuva...
Pode-se
dizer que hoje existe uma demanda por governos de esquerda na América
Latina? Em sua opinião, esses governos têm contribuído para diminuir a
pobreza e a desigualdade social nesses países?
O
que existe é um panorama muito complexo e diverso de realidades
diferentes. Também vemos respostas sociais e políticas diversas. Isso é
o que nossa região do mundo tem de melhor: sua diversidade. Esse
encontro de cores, de dores tão diferentes, é a nossa riqueza maior. Os
novos movimentos, como esses, que estão brotando por toda parte, que
tentam oferecer uma resposta diferente às desigualdades sociais, contra
os maus costumes da humilhação e o fatalismo tradicional, também são
respostas diversas porque expressam realidades diferentes. Não se pode
generalizar. O que existe sim é uma energia de mudança. Uma energia
popular que gera diversas realidades, não só política, mas realidades
de todo tipo, tentando encontrar respostas, depois de vários séculos de
experiências não muito brilhantes em matéria de independência. Agora
estamos comemorando, em quase todos os países, o bicentenário de uma
independência que ainda é uma tarefa por fazer.
O que falta para a América Latina ser completamente independente?
Romper
com o velho hábito da obediência. Em vez de obedecer à história,
inventá-la. Ser capaz de imaginar o futuro e não simplesmente
aceitá-lo. Para isso é preciso revoltar-se contra a horrenda herança
imperial, romper com essa cultura de impotência
que
diz que você é incapaz de fazer, por isso tem que comprar feito, que
diz que você é incapaz de mudar, que aquele que nasceu, como nasceu vai
morrer. Porque dessa forma não temos nenhuma possibilidade de inventar
a vida. A cultura da impotência te ensina
a
não vencer com sua própria cabeça, a não caminhar com suas próprias
pernas e a não sentir com seu próprio coração. Eu penso que é
imprescindível vencer isso para poder gerar uma nova realidade.
A
América Latina copiou um modelo de desenvolvimento que não foi feito
para ela. É possível inventar um modelo próprio de desenvolvimento?
Não
vou entrar em detalhes porque se fosse falar da quantidade de cópias
erradas seria uma lista infinita. O desafio é pensar no que queremos
ser: originais ou cópias? Uma voz ou eco? Agora estamos tentando
recuperar nossa própria voz, em diferentes países, de diversas maneiras.
A
implantação das bases dos Estados Unidos na Colômbia fere a dignidade
do povo latinoamericano e compromete a independência e a liberdade da
América do Sul?
Sim.
É a continuação de uma tradição humilhante. Também há o perigo da
intervenção direta dos Estados Unidos nos países latino-americanos. Meu
mestre, Ambroce Bierce, um escritor norte-americano maravilhoso, quando
se iniciou a expansão imperial dos Estados Unidos, no século 19, dizia
que a guerra é um presente divino enviada por Deus para ensinar
geografia. Porque assim eles (estadunidenses) Aprendiam geografia. E é
verdade. Os EUA têm uma tradição de invadir países sem saber onde estão
localizados e como são esses países. Tenho até a suspeita de que
(George W.) Bush achasse que as
Escrituras
tinham sido inventadas no Texas e não no Iraque, país que ele
exterminou. Então, esse perigo militar latente é muito concreto.
Atualmente os EUA possuem 850 bases militares em quarenta países. A
metade do gasto militar mundial corresponde aos
gastos de guerras dos EUA. Esse é um país em que o orçamento militar se
chama orçamento de defesa por motivos, para mim, misteriosos e
inexplicáveis. Porque a última invasão sofrida pelos EUA foi em 1812 e
já faz quase dois séculos. O ministério se
chama de defesa, mas é de guerra, mas como que se chama de defesa? O
que tem a ver com a defesa? A mesma coisa se aplica às bases na
Colômbia, que também são “defensivas”. Todas as guerras dizem ser
“defensivas”. Nenhuma guerra tem a honestidade de dizer “eu mato para
roubar”. Nenhuma, na história da humanidade. Hitler invadiu a Polônia
porque, segundo ele, a Polônia iria invadir a Alemanha. Os
pretextos invocados para a instalação dessa base dos EUA na Colômbia
não são só ofensivas contra a dignidade nacional dos nossos países,
como também ofensivas contra a inteligência humana. Por que dizer que
serão colocadas lá para combater o tráfico de
drogas e o terrorismo? Tráfico de drogas, muito bem... 80% da heroína
que se consome no mundo inteiro vem do Afeganistão. 80%! Afeganistão é
um país ocupado pelos EUA. Segundo a legislação internacional, os
países ocupantes têm a responsabilidade sobre o que acontece nos países
ocupados. Se os EUA têm interesse de verdade de lutar contra o
narcotráfico, têm que começar pela própria casa, não pela Colômbia e
sim pelo Afeganistão, que faz parte da sua estrutura de poder, e que é
o grande abastecedor de heroína, a pior das drogas. O outro pretexto
invocado é o terrorismo. Mas não é sério. Não é sério, por favor. A
grande fábrica do terrorismo é essa potência mundial que invade países,
gera desespero, ódio, angústia. Sabe quem esteve sessenta anos na lista
oficial dos terroristas dos EUA? Nelson Mandela, Prêmio Nobel,
presidente da África do Sul. Cada vez que viajava aos EUA, ele precisa
de um visto especial do presidente dos Estados Unidos, porque era
considerado um terrorista perigoso durante sessenta anos. Até 2008. É
desse terrorismo que estão falando? Imagina se eu fosse incorporado
agora na lista dos terroristas dos EUA e tivesse que esperar sessenta
anos para ser tirado. Acho que daqui há sessenta anos vou estar um poquitito mortito.
Fania Rodrigues é jornalista
Para ler a entrevista completa e outras reportagens confira a edição de novembro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.
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