Mais uma vitória de candidato comprometido com seu povo...
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Vitória de Evo Morales se configura esmagadora....
Mais uma vitória de candidato comprometido com seu povo...
Reflexões de Fidel....
Existe margem
para a
hipocrisia e a mentira?
hipocrisia e a mentira?
• OS Estados Unidos, em sua luta contra a
Revolução Cubana, tiveram no governo da Venezuela o
seu melhor aliado: o exímio dom Rómulo Betancourt
Bello. Não o sabíamos nessa época. Tinha sido eleito
presidente, em 7 de dezembro de 1958 e, sem ainda
tomar posse, em 1º de janeiro de 1959, triunfou em
Cuba a Revolução. Semanas depois, tive o privilégio
de ser convidado pelo governo provisório de Wolfgang
Larrazábal para visitar a pátria de Bolívar, que tão
solidária tinha sido com Cuba.
Poucas vezes na vida vi mais calor popular. As
imagens fílmicas se conservam. Avancei pela ampla
estrada que substituiu o caminho asfaltado, por onde
tinha sido conduzido, a primeira vez que viajei à
Venezuela, em 1948, de Maiquetía a Caracas, pelos
motoristas mais temerários que conheci nunca.
Dessa vez, escutei a vaia mais sonora, prolongada
e embaraçosa em minha longa vida, quando ousei
mencionar o nome do recém-eleito e ainda não
empossado presidente. As massas mais radicalizadas
da Caracas heróica e combativa tinham votado
esmagadoramente contra ele.
O "ilustre" Rómulo Betancourt era mencionado com
interesse nos círculos políticos do Caribe e da
América Latina.
Como pode ser explicado? Tinha sido tão radical
em sua mocidade, que aos 23 anos ingressou como
membro do Bureau Político do Partido Comunista da
Costa Rica, desde 1931 até 1935. Eram os tempos
difíceis da Terceira Internacional. Do
marxismo-leninismo aprendeu a estrutura de classes
da sociedade, a exploração do homem pelo homem ao
longo da história e o desenvolvimento da colonização,
do capitalismo e do imperialismo, nos últimos
séculos.
No ano 1941, junto doutros líderes de esquerda,
fundou na Venezuela o Partido Ação Democrática.
Exerceu a Presidência provisória da Venezuela,
desde outubro de 1945 até fevereiro de 1948, em
virtude dum golpe de Estado cívico militar. Teve que
sair de novo ao exílio, quando o ilustre escritor e
intelectual venezuelano, Rômulo Gallegos, foi eleito
presidente constitucional e derrocado quase
imediatamente.
A maquinaria bem lubrificada do seu partido
elegeu-o presidente, nas eleições de 7 de dezembro
em 1958, depois que as forças revolucionárias
venezuelanas, sob a direção da Junta
Patriótica que presidiu Fabricio Ojeda, derrubassem
a ditadura do general Pérez Jiménez.
Quando, a finais de janeiro de 1959, falei na
Praça do Silêncio, onde se reuniram milhares de
pessoas e mencionei Betancourt por pura cortesia, produziu-se
a colossal vaia que contei contra o presidente
eleito. Para mim, foi uma verdadeira lição de
realismo político. Tive logo que visitá-lo, por ser
o presidente eleito dum país amigo. Encontrei um
homem amargurado e ressentido. Era já o modelo de
governo "democrático e representativo" de que
precisava o império. Colaborou em tudo o que pôde
com os ianques, antes da invasão mercenária da Baía
dos Porcos.
Fabricio Ojeda, amigo sincero e inesquecível da
Revolução Cubana, a quem tive o privilégio de
conhecer e dialogar com ele amplamente, depois me
explicou muita coisa sobre o processo político de
sua pátria e da Venezuela com a qual sonhava. Foi
uma das inúmeras pessoas que aquele regime,
totalmente a serviço do imperialismo, assassinou.
Quase meio século decorreu desde essa época.
Posso testemunhar o cinismo excepcional do império
contra o qual nos enfrentamos infadigavelmente os
revolucionários cubanos, como dignos herdeiros de
Bolívar e de Martí.
Durante o tempo decorrido, desde os dias de
Fabricio Ojeda, o mundo mudou consideravelmente. O
poder militar e tecnológico do império cresceu;
também sua experiência e sua carência total de
ética. Seus recursos midiáticos são mais custosos e
menos subordinados a normas morais.
Acusar o líder da Revolução Bolivariana, Hugo
Chávez, de promover a guerra contra o povo da
Colômbia, desatar uma corrida armamentista,
apresentá-lo como produtor e promotor do tráfico de
droga, de reprimir a liberdade de expressão, de
violar os direitos humanos e outras acusações
similares, são ações nojentas e cínicas, como tudo o
que o império fez, faz e promove. A realidade não
pode ser esquecida nunca, nem deixar de ser
reiterada; a verdade objetiva e razoável é a arma
mais importante com a qual devemos martelar, sem
descanso, na consciência dos povos.
O governo dos Estados Unidos, é bom lembrar,
promoveu e apoiou, na Venezuela, o golpe de Estado
fascista de 11 de abril de 2002 e, após seu fracasso,
pôs todas suas esperanças num golpe petroleiro,
apoiado com programas e recursos técnicos capazes de
liquidar qualquer governo, subestimando o povo e a
direção revolucionária desse país. A partir daí,
conspirou sem descanso contra o processo
revolucionário venezuelano, como fez e continua
fazendo contra a Revolução em nossa pátria, durante
50 anos. Para os Estados Unidos, controlar
Venezuela, com os enormes recursos energéticos e
outras matérias-primas que ela possui, obtidos a
preços baixos, e a propriedade multinacional das
grandes instalações e serviços, é muito mais
importante que controlar Cuba.
Esmagada a ferro e fogo a Revolução na América
Central, e mediante golpes de Estado sangrentos e
repressivos, que tolhem os avanços democráticos e
progressistas na América do Sul, o império não podia
resignar-se à construção do socialismo na Venezuela.
Trata-se dum fato real, innegable e inocultável para
quem possua um mínimo de cultura política na América
Latina e no mundo.
É conveniente lembrar que, nem sequer depois do
golpe de Estado, promovido pelos Estados Unidos, em
abril de 2002, o governo da Venezuela se armou. O
barril de petróleo custava apenas US$20, já
desvalorizados, desde que em 1971 Nixon suspendesse
a conversão do dólar em ouro, quase 30 anos antes de
que Chávez chegasse à Presidência. Quando tomou
posse, o petróleo venezuelano não atingia os US$10.
Posteriormente, quando os preços subiram, dedicou os
recursos do país a programas sociais, planos de
investimento e desenvolvimento e à cooperação com
inúmeras nações do Caribe e da América Central e
outras de economias mais pobres na América do Sul.
Nenhum outro país ofereceu tão generosa cooperação.
Não comprou um só fuzil durante os primeiros anos
de seu governo. Fez, inclusive, algo que nenhum
outro país teria feito em condições de perigo para
sua integridade: suspender legalmente a obrigação de
cada cidadão honesto e revolucionário de defender
com as armas seu país.
Acho que a República Bolivariana tardou bastante
em adquirir novas armas. Os fuzis de infantaria de
que dispunha eram os mesmos de há mais de 50 anos,
quando o governo provisório do almirante Larrazábal,
presenteou-me um fuzil automático FAL, no penúltimo
mês da guerra, em novembro de 1958. A Venezuela
continuou dispondo desse tipo de armamento de
infantaria, vários anos depois da posse de Chávez.
Foi o governo dos Estados Unidos que decretou o
desarmamento da Venezuela, quando proibiu o
fornecimento de peças para o equipamento militar
ianque que, tradicionalmente, tinha vendido a esse
país, desde aviões de combate e transporte militar,
até comunicações e radares. É sumamente hipócrita
acusar Venezuela agora de armamentismo.
Pelo contrário, os Estados Unidos forneceram
bilhões de dólares em armas, meios de combate,
transporte aéreo e treino às forças armadas da
vizinha Colômbia. O pretexto foi a luta contra a
guerrilha. Posso testemunhar os esforços do
presidente Hugo Chávez na busca da paz interna nesse
país irmão. Os ianques apenas não forneceram armas,
mas também injectaram sentimentos de ódio contra a
Venezuela às tropas que treinavam, como fizeram em
Honduras através da força de tarefa, deslocada em
Palmerola.
Os Estados Unidos fornecem às unidades de
combate, nos lugares onde têm bases militares, o
mesmo uniforme e equipamento que às tropas de
intervenção de seu país, em qualquer lugar do mundo.
Não necessitam soldados próprios, como no Iraque,
Afeganistão ou o norte do Paquistão, para planejar
atos de genocídio contra nossos povos.
A extrema-direita imperialista, que controla as
molas fundamentais do poder, usa mentiras descaradas
para disfarçar seus planos.
A advogada e analista venezuelana-estadunidense
Eva Golinger, demonstra como os argumentos
estratégicos utilizados na mensagem enviada, em maio
de 2009, ao Congresso dos Estados Unidos, para
justificar um investimento na base de Palanquero,
são alterados totalmente no acordo pelo qual os
Estados Unidos recebe essa mesma base, junto a
outras inúmeras instalações civis e militares. O
documento enviado ao Congresso, em 16 de novembro,
intitulado: "Addendum para refletir os termos do
Acordo de Cooperação na área da Defesa entre os
Estados Unidos e a Colômbia, assinado em 30 de
outubro de 2009, foi completamente alterado",
explica a analista. "Já não se fala da ‘missão de
mobilidade’ que ‘garante o acesso a toda a América
do Sul, à exceção do Cabo de Fornos’. Também mudaram
toda referência a operaçãoes de ‘alcance global’,
‘teatros de segurança’ e aumento da capacidade das
Forças Armadas estadunidenses para realizar uma
‘guerra de forma expedita’ na região", escreve a
aguda e bem informada analista.
Torna-se óbvio, por outro lado, que o presidente
da República Bolivariana está batalhando arduamente
para superar os obstáculos que os Estados Unidos
criaram aos países latino-americanos, entre eles, a
violência social e o tráfico de drogas. A sociedade
norte-americana não foi capaz de evitar o consumo e
o tráfico das mesmas. Suas consequências afetam,
hoje, muitos países da área.
A violência foi um dos produtos mais exportados
pela sociedade capitalista dos Estados Unidos, ao
longo do último meio século, através do uso
crescente da mídia e da chamada indústria do lazer.
São fenômenos novos que a sociedade humana não tinha
conhecido antes. Tais meios poderiam ser utilizados
para criar novos valores, numa sociedade mais humana
e justa.
O capitalismo desenvolvido criou as chamadas
sociedades de consumo e com isso gerou problemas que
hoje não é capaz de controlar.
A Venezuela é o país que mais rapidamente está
implementando os programas sociais que podem
contestar essas tendências muito negativas. Os
sucessos colossais atingidos nos últimos Jogos
Esportivos Bolivarianos estão demonstrando-o.
Na reunião da Unasul, o chanceler da República
Bolivariana, expôs com muita clareza o problema da
paz na área. Qual é a posição de cada país perante a
instalação de bases ianques no território da América
do Sul? Não só constitui uma obrigação de cada
Estado, mas também uma obrigação moral de cada homem
ou mulher consciente e honesta de nosso hemisfério e
do mundo. O império deve saber que em qualquer
circunstância os latino-americanos lutarão sem
descanso por seus direitos mais sagrados.
Existem problemas ainda mais graves e imediatos
para todos os povos do mundo: a mudança climática;
talvez a pior e mais urgente neste instante.
Antes de 18 de dezembro, cada Estado deverá
adotar uma decisão. De novo o ilustre Prêmio Nobel
da Paz, Barack Obama, deverá definir a sua posição
sobre o espinhoso assunto.
Já que aceitou a responsabilidade de receber o
Prêmio, terá que cumprir a demanda ética de Michael
Moore quando conheceu a notícia: "agora ganhe-o!". É
que, por acaso, pode?, pergunto. Quando a exigência
unânime dos círculos científicos é que as emissões
de dióxido de carbono devem ser reduzidas em não
menos de 30%, em relação ao nível de 1990, os
Estados Unidos oferecem só reduzir 17% do que
emitiam em 2005, o que apenas equivale a 5% do
mínimo que exige a ciência a todos os habitantes do
planeta para 2020. Os Estados Unidos consomem o
dobro por habitante do que a Europa, e superam as
emissões da China, apesar do 1.3 bilhão de cidadãos
com que conta este país. Um habitante da sociedade
mais consumista emite dezenas de vezes mais CO2 per
cápita que o cidadão dum país pobre do Terceiro
Mundo.
Em apenas 30 anos adicionais, não menos de nove
bilhões de seres humanos que povoarão o planeta
requerem que o nível de dióxido de carbono que se
emita à atmosfera seja reduzido a não menos de 80%
do que era emitido em 1990. Tais números são
compreendidos com amargura por um número crescente
de líderes de países ricos; mas a hierarquia que
dirige o país mais poderoso e rico do planeta: os
Estados Unidos, consola-se a si própria, afirmando
que tais previsões são invenções da ciência. Sabe-se
que, em Copenhague, no mínimo, o que será aprovado é
continuar discutindo para que mais de 200 Estados e
instituciones concordem em que devem dirimir os
compromissos, entre eles, um muito importante: quem
e com quantos recursos contribuirão os países ricos
para o desenvolvimento e para a poupança energética
dos mais pobres. Acaso existe margem para a
hipocrisia e a mentira?
Fidel Castro Ruz
FESTIVAL INTERNACIONAL DO NOVO CINEMA LATINO-AMERICANO
O segredo de muitos olhos Mireya Castañeda
• O segredo dos seus olhos, o
mais recente filme do argentino Juan José Campanella,
protagonizado pelos muito reconhecidos Ricardo Darín,
Guillermo, Francella, e Soledad Villamil, foi
escolhido para inaugurar o 31º Festival
Internacional do Novo Cinema Latino-Americano.
Chegou a Havana com muitos avais, entre eles, ter
sido indicado pela Academia das Artes e Ciências
Cinematográficas da Argentina para o Oscar.
O filme fez sucesso na Argentina, o
qual sempre é um aspecto importante: que os filmes
da região tenham distribuição, presença nas telas e
no espectador. O segredo dos seus olhos
esteve a ponto de bater o recorde histórico de
bilheteria de mais dois milhões de espectadores que
o filme icônico de María Luisa Bemberg, Camila,
em 1984, interpretado por Susú Pecoraro.
Campanella, além de diretor, foi o
roteirista de quatro filmes muito conhecidos: O
Mesmo Amor, a Mesma Chuva, O Filho da noiva
(indicado para o Oscar em 2001 como o Melhor filme
de fala não-inglesa), Clube da Lua e agora
também O segredo dos seus olhos.
Este novo filme, no concurso pelo
Prêmio Coral do Festival de Havana, conta a história
de um homem recém-aposentado, Benjamín Chaparro, que
depois de trabalhar a vida toda como empregado num
Tribunal Penal, resolve escrever uma novela, um
thriller que decorre em Buenos Aires, em 1974,
baseada numa história real, da qual foi testemunha e
protagonista. É, aparentemente, a história de um
assassinato.
Com essa história, Juan José
Campanella fala dos caminhos que transitou a
sociedade argentina, da impunidade à repressão na
década de 1970, o restabelecimento da justiça e da
democracia nos últimos anos.
"ERNESTO GUEVARA"
Outro filme argentino, que é exibida
fora de concurso, em estreia mundial, é o
documentário Ernesto Guevara, do reconhecido
cineasta Tristán Bauer, do qual Alfredo Guevara,
fundador do Icaic e do festival, disse que tenta
mostrar uma faceta mais humana do guerrilheiro.
Em entrevista coletiva, o presidente
do encontro cinematográfico argumentou que o
documentário mostra gravações inéditas da vida
íntima e amorosa do Che que guardava a viúva, Aleida
March, e —assinalou— "os que fomos amigos do Che,
sabemos o que ele era: o guerrilheiro, o exigente —
às vezes, azedo, isso nunca foi dito — mas ao mesmo
tempo, com uma imensa humanidade".
Tristán Bauer trabalhou no projeto
durante mais de uma década e teve acesso a arquivos
secretos do exército da Bolívia — que executou o Che
em outubro de 1967 — e aos do Centro de Estudos "Che
Guevara", de Cuba.
Entre os sete filmes que fez
sobressai o muito premiado Iluminados pelo Fogo
(2005), que inaugurou o Festival de Havana em 2006 e
o meia-metragem Evita, o Túmulo Sem Paz (1997).
DAWSON ILHA 10
Fora do concurso, exibe-se também o
novo filme de Miguel Littín, Dawson Ilha 10,
do Chile, que participa da concorrência aos prêmios
das academias norte-americana e espanhola, ou seja,
ao Oscar e ao Goya.
Protagonizada por Benjamín Vicuña, o
filme narra fatos reais acontecidos após o golpe de
Estado de Pinochet, quando os colaboradores diretos
do presidente Salvador Allende foram presos e
desterrados a uma ilha do Pacífico, situada a uma
centena de quilômetros do continente.
Dawson Ilha 10 baseia-se no
relato autobiográfico de Sergio Bitar, que fez parte
do grupo de altos funcionários constitucionais
enviados para esse campo de concentração cercado de
mar, quando foi ministro de Minas de Allende (depois,
ministro de Obras Públicas com a atual presidente
Michelle Bachelet).
Miguel Littín é um cineasta muito
conhecido, fundador do novo Cinema Latino-Americano,
ganhador de numerosos prêmios por filmes como A
Viúva de Montiel e O Recurso do Método.
Atas de Marusia e Alsino e o Condor
foram indicados para o Oscar em 1976 e 1983,
respectivamente, como melhores filmes estrangeiros.
A sua carreira cinematográfica começou em 1969, com
O Chacal de Nahueltoro, filme que fez sucesso
de bilheteria e que teve também impacto no âmbito
social e político.
Após o golpe de Estado e o
estabelecimento da ditadura de Augusto Pinochet,
teve que se exilar em 1973, domiciliando-se no
México e mais tarde, na Espanha. Em 1985, teve a
chance de voltar de maneira clandestina ao Chile e
executar um temerário projeto de filmagem sobre a
realidade política do seu país, intitulado Ata
Geral do Chile. Quando voltou à Espanha e
terminou seu trabalho, o Prêmio Nobel de Literatura
Gabriel Garcia Márquez propôs-lhe escrever a
história do seu filme, publicada sob o título Aventura
de Miguel Littín clandestino no Chile.
Retornou à temática latino-americana
com Sandino, de 1991, dirigiu Náufragos
em 1994 e retomou o estilo de epopeia popular com
Terra do fogo em 2000.
Que trouxe Coppola?
Francis Ford Coppola, que noutras
ocasiões esteve no Festival de Havana, agora enviou
o seu filme Tetro, filmado na Argentina, e
considera-se uma nova viagem do diretor de O
Poderoso Chefão pelo tema habitual da família
vista como uma versão reduzida da sociedade com
todos seus conflitos e suas reconciliações.
O filme, em preto e branco, conta a
história de dois irmãos afastados há anos, que se
reencontram em Buenos Aires para encarar um segredo
que mudará para sempre o modo da sua relação.
A lista do elenco é impressionante:
Vincent Gallo, o estreante Alden Ehrenreich, as
espanholas Maribel Verdú e Carmen Maura, o austríaco
Klaus Maria Brandauer e os argentinos Rodrigo de la
Serna, Letícia Brédice e Mike Amigorena.
Quando Tetro foi exibido em
Cannes, o público que lotou a sala gostou muito dele,
mas não convenceu a crítica, a qual assinalou que o
roteiro dedicou muito tempo às peripécias, até
chegar a duas horas e sete minutos de duração, uma
atuação desigual, e algumas passagens coreográficas
gratuitas.
Parece que o mais convincente de
todos os atores é a espanhola Maribel Verdú, que
sabe chegar ao espectador com sua figura sofrida de
amante sacrificada do protagonista, Tetro, encarnado
por Vincent Gallo.
Coppola, a quem devemos muitos
títulos, como a trilogia de O Poderoso Chefão
e Drácula, fez recentemente 70 anos e sua
carreira conta tanto com sucessos quanto com
fracassos. Tetro é o primeiro filme baseado
numa história original sua, desde A Conversação,
ganhador da primeira Palma de Ouro em 1974 no
Festival de Cannes, a segunda foi há 30 anos com
Apocalypse Now.
Quanto a Drácula, há mais. O
Festival fará uma Exibição Especial da versão de
Drácula de George Melford, a versão latinizada
do filme feita em 1931 por Tod Browning, com Bela
Lugosi como protagonista.
Alfredo Guevara salientou que essa
versão foi encontrada nas abóbadas da Cinemateca de
Cuba e a considerou melhor que a original.
Anunciou que agora será projetada,
mas com o violonista e compositor Gary Lucas tocando
ao vivo, em estreia mundial, sua partitura para o
Drácula latino.
Muitas pessoas estão assistindo
filmes em Havana: os filmes em concurso, fora de
concurso, as mostras, os panoramas, Latino-Americano
e Contemporâneo e as homenagens (neste ano,
exclusivamente para o cinquentenário do Icaic). Qual
será o segredo? •
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Filosofando.....
Freud encontra a ética
Referindo-se
à ética, os filósofos apontam para hábitos, comportamentos e valorações
que se espera de um grupo social que, a partir desses elementos, é
descrito e caracterizado. Ao passar para o plano da metaética, os
filósofos voltam os olhos para as justificações ou fundamentos de
determinadas propostas ético-morais. Essa duplicidade de esforços
reflexivos é típica da filosofia contemporânea.
Até o final do século XIX a divisão
entre ética e metaética não se estabelecia. Pode-se dizer que, em
parte, a divisão surgiu para permitir que a filosofia pudesse continuar
a sua reflexão no âmbito ético-moral, criando uma fronteira entre o seu
campo e o das várias disciplinas científicas ou novas áreas do saber
emergentes, atentas ao comportamento humano.
Durkheim foi quem começou a sociologia
científica, exatamente investigando o campo ético-moral não mais
segundo uma visão vinculada à finalidade filosófica, mas como um objeto
empírico que ele chamou de “fato social”. No início do século XX, os
vários trabalhos no campo psico-social definiram um tipo de estudo que
marcou época, o das relações entre indivíduo e sociedade. As ciências
sociais caminharam, então, a partir de preceitos do positivismo francês
e/ou do historicismo alemão. Diferentemente, o marxismo e a psicanálise
emergiram nessa época não como saberes internos de determinadas
disciplinas, mas como áreas autônomas. Tratava-se de uma espécie de
discussão que se parecia, ainda, com a filosofia, mas que
importava muito do estilo da ciência. Foi nesse clima, na terceira
década do século XX, que Freud enveredou pela investigação em ética.
A conversa de Freud sobre ética apareceu, principalmente, no célebre ensaio O mal estar na civilização.[1] A história contada nesse belo ensaio é a de um conflito entre a força denominada de Eros e a força denominada de instinto de morte.
Essas forças se mostram na narrativa do ensaio de modo bem determinado,
cada uma com sua função. Todavia, Freud as apresenta como irmãos
siameses. Quando uma surge, imediatamente deve surgir a outra – elas se
apresentam enlaçadas, talvez de modo indissolúvel.
Eros é o amor. A palavra amor designa a
fusão, a união. Assim, a ação de Eros é a de agregação. Graças a Eros
os indivíduos isolados são postos no interior de grupos e estes, por
sua vez, são empurrados para a formação de outros grupos maiores. O elo
dessas agregações, isto é, aquilo que faz com que um indivíduo se
integre em um grupo e ali permaneça e o que faz com que os grupos
permaneçam unidos, com tendências a se agregar a outros, é batizado por
Freud de libido. Nem a necessidade nem a vantagem do trabalho comum,
por si sós, conseguiriam manter a união dos indivíduos se não fosse o
elo libidinal. A libido é o princípio de vida, o que vem com Eros. Mas,
esta é apenas uma das cabeças dos irmãos siameses. Contrariamente à
força que agrega, há a força que tende a desfazer a união. Trata-se da
agressão – o instinto agressivo ou a manifestação mais visível do
instinto de morte.
O instinto de morte é assumido por
Freud como existente à medida que ele nota que, contra as unidades que
surgem pela agregação, pelo amor, sempre ocorre o aparecimento de
forças contrárias que visam dissolver tais unidades, em busca de uma
volta ao estado primitivo e inorgânico. Trata-se de uma devolução da
vida à morte – pela agressão. Por isso mesmo o nome não poderia ser
outro senão instinto de morte. A libido que une nunca se mostra sem sua
contrapartida, que é a agressividade, que tenta retroceder e fazer
desaparecer a união. Junto das manifestações sexuais, que são
expressões da libido de modo mais visível, há sempre algum componente
de sadismo e/ou masoquismo, mostrando assim a presença, em graus
variados, da agressividade no momento mesmo do amor. O princípio de
morte não deixa o princípio de vida atuar solitariamente. Irmãos
siameses são irmãos siameses!
Esses dois princípios atuam no interior
tanto do desenvolvimento do indivíduo, que deve se integrar em grupos,
quanto no processo da civilização humana, que é a integração entre
grupos que vão, então, gerando grupos maiores. No caso do primeiro, o
telos é a felicidade. No segundo, não é que a felicidade seja posta de
lado de uma vez, mas o telos é realmente a criação de uma coletividade
maior. É exatamente na observação desses dois processos que Freud
recoloca sua teoria das funções da consciência tripartida em ego, id e
superego.
Como no caso ele não trata do indivíduo
somente, e sim de sua relação com a sociedade, as noções de ego, id e
superego são mostradas de um modo especial. A noção de superego, por
analogia, extrapola a consciência individual. Freud se preocupa em
mostrar – e é isso que ele diz que considera o novo na sua narrativa do
comportamento humano – a idéia de um superego não psicológico, um
superego cultural. O superego corresponde, como ele diz, à força dos
primeiros grandes líderes da comunidade, que registraram as primeiras
leis e que, enfim, se mostraram como que divinos ao agirem desse modo.
São exatamente esses líderes que irão deixar para as suas comunidades,
que continuam os seus desenvolvimentos, as exigências “que tratam das
relações dos seres humanos uns com os outros” e que estão “abrangidas
sob o título de ética”. Em outras palavras, o superego cultural é nada
mais nada menos que a ética.
Qual é o papel da ética, do superego cultural?
O ensaio O mal estar na civilização
lida com questão da busca da felicidade e, enfim com o que se mostra
como o infortúnio humano, que é a agressão entre os homens. Quanto a
esse problema, Freud diz que sempre esperamos muito da ética. Ela é
importante, pois queremos que ela resolva um problema difícil o da
agressividade mútua. É como se a ética fosse uma terapia, diz ele, uma
vez que se espera alcançar com ela, por meio de “uma ordem do superego,
algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras atividades
culturais.” Ora, se é isso que se deve abordar a fim de compreender a
ação ética, o objeto tem de ser exatamente a norma mais atual do
superego. Em outras palavras, o objeto é o preceito ético mais
universal de nossos tempos, o mandamento cultural vigente que, enfim,
veio do superego. Freud aponta corretamente para o mandamento “amai ao
próximo como a ti mesmo”.
Freud acha esse imperativo ético
exigente demais, aliás, como toda ordem do superego que, enfim, pouco
se preocupa com o homem. “Amai ao próximo como a ti mesmo” é uma
afronta a qualquer tipo de egoísmo ou de narcisismo. Ao se tentar
seguir um imperativo desse tipo, o que se pode esperar do ego
individual? O ego individual teria de ser capaz de um controle total do
id, mas é óbvio que esse controle não existe. A exigência do superego
cultural, com o “Amai ao próximo como a ti mesmo” ultrapassa as
possibilidades do homem e, quando algo desse tipo ocorre, há
infelicidade – ou mesmo, no plano de análise de um superego individual
com um ego individual, há a neurose. Além do mais, quem quisesse seguir
o mandamento em questão, uma vez diante de outro que não desse muito
valor para a tal regra, cairia em desvantagem e, então, passaria por um
duplo sofrimento. A frustração levaria à culpa. Ser passado para trás
produziria a mágoa.
Diante disso, Freud vê que lidar com a
agressividade não é fácil. Ele diz: “que poderoso obstáculo a
agressividade deve ser, se a defesa contra ela pode causar tanta
infelicidade quanto a própria agressividade!”.
Como a ética nada é senão o superego
cultural, e este, por sua vez, é uma analogia com o superego psíquico
individual, a analogia pode continuar, diz Freud, e então podemos
imaginar mais correlações. Assim como o superego individual, com suas
exigências, pode produzir neuroses, a analogia permite dizer que éticas
difíceis de serem cumpridas poderiam criar civilizações neuróticas. Por
conseguinte, a idéia tão tentadora quanto perigosa seria a de começar
imaginar terapias para toda uma civilização.
Freud, aqui, se abstém de dar caminhos.
Todavia, ao final do ensaio em questão, traça uma observação
interessante sobre tendências. Durante todo o percurso em que fala de
ética, o que aborda não é outra senão a ética moderna, a chamada “ética
do dever”. Neste tipo de ética, a virtude moral vai para um lado e a
felicidade, não raro, vai para outro. Mas, ao final, Freud assume que
os juízos de valor dos homens acompanham “diretamente os seus desejos
de felicidade”. Neste caso, Freud parece assumir uma visão próxima da
ética antiga, a ética da eudaimonia. Na ética antiga, o objetivo é a realização da felicidade ou o alcance da felicidade. Ainda que eudaimonia
não possa ser traduzida, exclusivamente, por felicidade em um sentido
moderno, o que Freud diz o coloca em proximidade com a ética das
virtudes, a ética clássica. No entanto, mais uma vez, ele novamente
altera o curso. Fala da correlação entre juízos de valor e desejos de
felicidade não para endossar uma posição ética, mas para, em seguida,
dizer que essa busca de felicidade faz os homens encontrarem argumentos
de toda ordem para “sustentarem suas ilusões”.
Ao fim e ao cabo, Freud não assume uma posição ética filosófica. No que parece que vai endossar a eudaimonia,
em um final que seria espetacular, recua para a posição de um teórico
que busca certa neutralidade filosófica no campo doutrinário moral. Não
se trata de neutralidade científica, e sim de neutralidade no campo da
filosofia prática. Pesa forte, nesse caso, o espírito de época. Desse
modo, o que faz é um estudo que poderíamos dizer que se trata de um
tipo de metaética, uma especial narrativa teórica que poderia, talvez, fundamentar ou justificar uma doutrina – exatamente essa doutrina que ele, Freud, não ousa explicitar.
© Paulo Ghiraldellli Jr, filósofo
[1]
Freud, D. Mal estar na civilização. Freud. Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. Todas as citações são desse volume. Elas aparecem
aspadas, mas sem a referência ou numeração de página.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Veja aqui as imagens censuradas pela Folha / UOL
Baixe para seu computador e suba para seu blog ou rede social.
O
Grupo Folha não vê problema em expor uma ficha falsa da ministra da
Casa Civil e candidata do presidente Lula a sua sucessão, Dilma
Roussef, na primeira página de um domingo, acusando-a de participar de
ações terroristas. Não vê problema também em abrir uma página inteira
para Cesar Benjamim expor seus fantasmas político-sexuais (à espera de
um Wilhelm Reich) e acusar o presidente Lula de estuprador. Acha também
perfeitamente natural chamar de ditabranda a ditadura que sequestrou,
torturou e matou inúmeros brasileiros. Mas a Folha e o UOL não gostam
de virar vidraça.
O blogueiro Arles publicou uns banners em seu blog convidando os navegantes para que cancelassem suas assinaturas do ex-jornalão e do portal. Recebeu uma notificação para que os retirasse do ar. Eu já os havia reproduzido aqui no blog, com link para as imagens do Arles. Mas sou macaco velho e, embora não acreditasse que o Grupo Folha descesse a tanto, havia providenciado backup das imagens. As publico aqui, convocando-os para que façam o download delas para seus computadores e depois subam-nas para seus blogs ou redes sociais. Eles vão ter que notificar a blogosfera toda. Assim vão aprender que os tempos mudaram e não existe mais informação de mão única. Agora eles mandam de lá e nós respondemos de cá.
http://blogdomello.blogspot.com/
O blogueiro Arles publicou uns banners em seu blog convidando os navegantes para que cancelassem suas assinaturas do ex-jornalão e do portal. Recebeu uma notificação para que os retirasse do ar. Eu já os havia reproduzido aqui no blog, com link para as imagens do Arles. Mas sou macaco velho e, embora não acreditasse que o Grupo Folha descesse a tanto, havia providenciado backup das imagens. As publico aqui, convocando-os para que façam o download delas para seus computadores e depois subam-nas para seus blogs ou redes sociais. Eles vão ter que notificar a blogosfera toda. Assim vão aprender que os tempos mudaram e não existe mais informação de mão única. Agora eles mandam de lá e nós respondemos de cá.
http://blogdomello.blogspot.com/
Estupro da Folha é outro tiro no pé
do blog do miro
Neste sábado, dia 5, às 10 horas, o Movimento dos Sem Mídia (MSM) fará uma manifestação em frente ao prédio da Folha de S.Paulo
(Rua Barão de Limeira, 425, centro da capital paulista), para protestar
contra a publicação de um artigo leviano e irresponsável que acusou o
presidente Lula de tentar “subjugar sexualmente” um jovem nos anos
1980. O artigo de uma página inteira, de autoria do ex-petista Cesar
Benjamin, atual colunista da Folha, “foi forjado no ódio, na inveja e na covardia e é um estupro ao jornalismo”, afirma Eduardo Guimarães, presidente do MSM.
Sobre o artigo de Cesar Benjamin, que “estuprou” sua própria biografia de profundo conhecedor do Brasil e de intelectual brilhante, muitos já se pronunciaram criticamente – prefiro silenciar na tristeza por mais este ato instintivo e rancoroso. Sugiro apenas a leitura da resposta ponderada e firme do jornalista Gilberto Maringoni, publicada na Carta Maior. Membro do PSOL e crítico de esquerda do governo Lula, ele não poupou críticas ao texto do “Cesinha”, que estaria fazendo o jogo da direita brasileira às vésperas da sucessão presidencial. “Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando. Seu passado não merece isso. Mas a História irá julgá-lo”.
“Um horror” dos herdeiros de Frias
Já com relação ao jornal da famíglia Frias, a publicação do artigo sem qualquer apuração prévia ou rigor jornalístico liquida qualquer ilusão sobre o ecletismo da Folha. Após usar um ex-petista para desferir ataques pessoais ao presidente da República, ela mesma confessou sua leviandade, mas sem fazer autocrítica pública – talvez temendo processos jurídicos. Militantes que estiveram presos com Lula nos cárceres da ditadura, entre abril e maio de 1980, negaram taxativamente a história bizarra. Vale registrar a resposta íntegra de José Maria de Almeida, presidente do PSTU e outro crítico do governo Lula, que qualificou a insinuação de “baixaria”.
O reconhecimento cabal do “estupro” perpetrado pela Folha, porém, ocorreu com a entrevista de João Batista dos Santos, o ex-militante do Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP) que teria sido o alvo da “investida” de Lula na cela. Ele considerou “um horror” o artigo, disse que isso nunca ocorreu e lamentou a publicação do texto sem ouvir os envolvidos no caso. Por ironia da história, Santos trabalhou numa granja da famíglia Frias em São José dos Campos, no interior paulista, na década de 1990. Para ele, se Octavio Frias de Oliveira, o barão da Folha, estivesse vivo (ele faleceu em 2007), “esteve artigo não teria sido publicado”.
Credibilidade e tiragem em queda
Depois de cunhar a expressão “ditabranda” para se referir aos trágicos anos da ditadura militar e de publicar uma “ficha policial” falsa contra a ministra Dilma Rousseff, a Folha dá outro tiro no pé. A publicação do asqueroso artigo fere a pouca credibilidade que ainda resta a este veículo e poderá resultar em novas quedas da sua tiragem. Quando da “ditabranda”, o jornal perdeu mais de 3 mil assinantes, segundo fontes da própria empresa. Já no caso da falsa ficha policial, o jornal foi forçado a reconhecer timidamente o erro, temendo a abertura de um processo criminal.
Entre outros fatores, a perda de credibilidade do jornal da famíglia Frias ajuda a explicar a brutal queda da sua tiragem nos últimos anos. Segundo levantamento do IVC (Instituto Verificador de Circulação), a Folha é hoje o vigésimo quarto jornal em vendas avulsas no país, ficando atrás do Estadão (19º lugar) e de O Globo (15º lugar). Entre janeiro e setembro de 2009, ela vendeu em média 21.849 exemplares nas bancas. Uma tiragem pífia se comparada aos 489 mil exemplares vendidos em suas edições dominicais em outubro de 1996. Atualmente, o jornal só se sustenta graças à publicidade e à venda de assinaturas, que atinge basicamente a chamada classe média.
Com os “estupros” que a Folha insiste em praticar, a tendência é que a sua tiragem despenque ainda mais. O ato organizado pelo MSM poderá servir como mais uma pá de cal neste jornal leviano e golpista, que agride constantemente a democracia e a ética jornalística.
Sobre o artigo de Cesar Benjamin, que “estuprou” sua própria biografia de profundo conhecedor do Brasil e de intelectual brilhante, muitos já se pronunciaram criticamente – prefiro silenciar na tristeza por mais este ato instintivo e rancoroso. Sugiro apenas a leitura da resposta ponderada e firme do jornalista Gilberto Maringoni, publicada na Carta Maior. Membro do PSOL e crítico de esquerda do governo Lula, ele não poupou críticas ao texto do “Cesinha”, que estaria fazendo o jogo da direita brasileira às vésperas da sucessão presidencial. “Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando. Seu passado não merece isso. Mas a História irá julgá-lo”.
“Um horror” dos herdeiros de Frias
Já com relação ao jornal da famíglia Frias, a publicação do artigo sem qualquer apuração prévia ou rigor jornalístico liquida qualquer ilusão sobre o ecletismo da Folha. Após usar um ex-petista para desferir ataques pessoais ao presidente da República, ela mesma confessou sua leviandade, mas sem fazer autocrítica pública – talvez temendo processos jurídicos. Militantes que estiveram presos com Lula nos cárceres da ditadura, entre abril e maio de 1980, negaram taxativamente a história bizarra. Vale registrar a resposta íntegra de José Maria de Almeida, presidente do PSTU e outro crítico do governo Lula, que qualificou a insinuação de “baixaria”.
O reconhecimento cabal do “estupro” perpetrado pela Folha, porém, ocorreu com a entrevista de João Batista dos Santos, o ex-militante do Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP) que teria sido o alvo da “investida” de Lula na cela. Ele considerou “um horror” o artigo, disse que isso nunca ocorreu e lamentou a publicação do texto sem ouvir os envolvidos no caso. Por ironia da história, Santos trabalhou numa granja da famíglia Frias em São José dos Campos, no interior paulista, na década de 1990. Para ele, se Octavio Frias de Oliveira, o barão da Folha, estivesse vivo (ele faleceu em 2007), “esteve artigo não teria sido publicado”.
Credibilidade e tiragem em queda
Depois de cunhar a expressão “ditabranda” para se referir aos trágicos anos da ditadura militar e de publicar uma “ficha policial” falsa contra a ministra Dilma Rousseff, a Folha dá outro tiro no pé. A publicação do asqueroso artigo fere a pouca credibilidade que ainda resta a este veículo e poderá resultar em novas quedas da sua tiragem. Quando da “ditabranda”, o jornal perdeu mais de 3 mil assinantes, segundo fontes da própria empresa. Já no caso da falsa ficha policial, o jornal foi forçado a reconhecer timidamente o erro, temendo a abertura de um processo criminal.
Entre outros fatores, a perda de credibilidade do jornal da famíglia Frias ajuda a explicar a brutal queda da sua tiragem nos últimos anos. Segundo levantamento do IVC (Instituto Verificador de Circulação), a Folha é hoje o vigésimo quarto jornal em vendas avulsas no país, ficando atrás do Estadão (19º lugar) e de O Globo (15º lugar). Entre janeiro e setembro de 2009, ela vendeu em média 21.849 exemplares nas bancas. Uma tiragem pífia se comparada aos 489 mil exemplares vendidos em suas edições dominicais em outubro de 1996. Atualmente, o jornal só se sustenta graças à publicidade e à venda de assinaturas, que atinge basicamente a chamada classe média.
Com os “estupros” que a Folha insiste em praticar, a tendência é que a sua tiragem despenque ainda mais. O ato organizado pelo MSM poderá servir como mais uma pá de cal neste jornal leviano e golpista, que agride constantemente a democracia e a ética jornalística.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Calamidade em Bhopal-India...
vítimas de Bhopal seguem nascendo
Carlos Gorito - Correio Internacional
BHOPAL, Índia: Bhopal é uma calamidade sem fim. Em 3 de dezembro de
1984, nuvens de veneno vazaram da fábrica de pesticidas Union Carbide
matando milhares nessa cidade do centro da Índia. Hoje, um quarto de
século depois, as vítimas, desse que é o pior desastre industrial do
mundo, continuam nascendo.
Aqui, em bairros onde as pessoas dependem de água contaminada por
produtos químicos que vazam da fábrica abandonada e onde muitas mães
foram expostas a gases tóxicos quando eram jovens, danos cerebrais e
bebês com má formação são 10 vezes mais comuns que a média nacional.
Médicos da Clínica Sambhavna de Bhopal [clínica mantida por doações
para dar assistência médica gratuita às vítimas do desastre] dizem que
nada menos que 1 em 25 bebês ainda está nascendo com defeitos e
problemas de desenvolvimento tais como cabeças menores, pés palmados e
baixo peso ao nascer.
Aqueles que eram apenas crianças quando a fumaça dominou a cidade de
um milhão de habitantes também estão sofrendo. Dolorosas lesões de
pele, problemas e feridas estomacais, coceira nos olhos são queixas
comuns entre as milhares de famílias, das quais algumas se mudaram para
Bhopal apenas em anos recentes. E a clínica da cidade diz que Bhopal
agora tem algumas das mais altas taxas de câncer de vesícula e esôfago,
tuberculose, anemia e anomalias na tireóide. As meninas começam a
menstruar muito mais tarde que o normal e passam por dolorosos
problemas ginecológicos, que muitas vezes levam a retirada do útero.
Esses problemas, dizem ativistas tais como os da Bhopal Medical
Appeal [BMA, campanha mundial para angariar fundos destinados a ajudar
as vítimas do acidente industrial em Bhopal], estão ligados à contínua
poluição de partes do suprimento local de água por produtos químicos
tais como clorofórmio e tetracloreto de carbono. As famílias não têm
escolha a não ser usar água de poços para lavar, cozinhar e beber
quando fontes seguras secam, de acordo com uma nova pesquisa que será
publicada pela BMA na terça-feira [1/12]. O estudo encontrou níveis
mais altos de vários produtos químicos carcinogênicos [que podem causar
câncer] nas fontes de água esse ano do que ano passado – sugerindo
fortemente que as gerações futuras serão envenenadas a menos que a área
seja descontaminada. Isso contraria as afirmações do estado e dos
ministros nacionais de que o lugar está limpo.
Enquanto isso, a batalha legal para que o diretor executivo da Union
Carbide seja julgado pela alegada negligência de sua companhia não está
mais perto do sucesso do que estava há 25 anos. A Anistia Internacional
intimará nesta semana o governo da Índia e a Dow Chemicals [corporação
estadunidense fabricante de produtos químicos, plásticos e
agropecuários], que comprou a Union Carbide em 2001, para que tomem
“ações urgentes e decisivas” para garantir que os acusados compareçam
no tribunal – mais de 20 anos depois que os mandados de prisão foram
emitidos pela primeira vez. A Dow Chemicals continua a negar qualquer
responsabilidade pelo caso criminal.
Foi nas primeiras horas do dia 3 de dezembro de 1984 que 27
toneladas de metilisocianteto gasoso – 500 vezes mais tóxico que o
cianeto de potássio e usado para fabricar o pesticida Sevin [usado como
inseticida em jardins, agricultura e reflorestamento] – começou a vazar
da fábrica da Union Carbide para as áreas vizinhas. Centenas de
milhares de pessoas foram envenenadas pelo gás enquanto dormiam.
Homens, mulheres e crianças que viviam em casebres situados bem ao lado
do muro da fábrica acordaram respirando com dificuldade e cegas pelo
gás que se dispersou rapidamente.
Acredita-se que cerca de 8 mil pessoas tenham morrido nas primeiras
72 horas. Centenas morreram em suas camas; outras milhares saíram
cambaleantes de suas casas para morrer na rua. Estima-se que outras 15
mil pessoas tenham morrido em resultado da exposição ao gás desde
então, muitas vezes com danos dolorosos e horrendos aos pulmões,
coração, cérebro e outros órgãos, de acordo com a Anistia
Internacional. Cerca de três quartos das mulheres grávidas dessa área
abortaram espontaneamente seus bebês horas ou dias depois daquela
noite. Centenas de bebês têm nascido desde então com deformidades, tais
como membros ausentes, órgãos anormais, cabeças malformadas e tumores.
Nenhum dos seis sistemas de segurança da fábrica estava operacional
naquela noite.
Mesmo hoje, a Anistia Internacional estima que 120 mil pessoas
expostas ao gás tenham problemas médicos crônicos. Depois que a fábrica
foi fechada em 1985, outras 30 mil pessoas já ficaram doentes por causa
da água contaminada por resíduos químicos enterrados ou descartados em
lagoas próximas, de acordo com sanitaristas de Bhopal. Crianças e
animais domésticos ainda são vistos brincando e pastando na grama que
esconde os resíduos porque o governo local tem falhado em proteger a
área apropriadamente.
Hazira Bee, de 53 anos, vive em J P Nagar, uma das áreas mais
afetadas ao norte da cidade. Na noite do desastre, depois de despertar
por causa do cheiro de pimenta queimada, ela e seu marido correram com
suas crianças, seus olhos e pulmões ardendo por causa do gás. No
pânico, seu filho do meio, Mansoor Ali, de 4 anos, foi deixado para
trás. Ele tem passado a maior parte de sua vida dentro e fora de
hospitais, enfraquecido severamente pelo dano crônico aos pulmões. A
filha de Mansoor, hoje com 3 anos e meio, foi incapaz de manter sua
cabeça ereta ou virar para o lado até os 18 meses de idade; ela recém
começou a caminhar. Toda a família de Hazira tem sofrido de problemas
respiratórios, neurológicos e de pele desde o vazamento.
Hazira disse: “a cena dentro da fábrica era horrível. Eu vi corpos e
pessoas machucadas com espuma saindo de suas bocas. Desde o vazamento
de gás nós todos estamos doentes. Por causa disso, meus filhos não
puderam estudar e agora eles não conseguem bons empregos. Hoje eu sou a
única fonte de renda da família. Se esse desastre tivesse acontecido
nos Estados Unidos, o governo teria tomado conta de seus cidadãos. Nós
queremos que a Union Carbide levem seu resíduo de volta para os Estados
Unidos.”
Os relatórios de análise de água da BMA sustentam os estudos do Greenpeace
que demonstram que as áreas ao norte da fábrica fechada são as mais
afetadas porque a água subterrânea corre nessa direção. A Clínica
Sambhavna – fundada há 13 anos com doações privadas – atende 150
pessoas como Hazira e sua família todos os dias. Existem 23 mil
pessoas, ou que foram expostas ao gás ou que desde o desastre têm usado
suprimentos contaminados de água, registradas com problemas crônicos
tais como doenças do fígado, paralisia e anemia severa. Médicos relatam
novos pacientes – adultos e crianças – todos os dias na clínica.
De acordo com Satinath Sarangi, um fundador da Clinica Sambhavna, a
tuberculose é predominante entre pessoas cujo sistema imunológico tem
sido desgastado pela exposição crônica à água envenenada. Câncer
cluster [repetida ocorrência de um determinado tipo de câncer em uma
determinada comunidade ou bairro] e crianças nascidas com deformidades
são outras características distintivas da área, encontradas pelos
pesquisadores da clínica que conduziram uma pesquisa de porta em porta
nas dezenas de milhares de moradores do local.
No início desse ano, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica [sigla em
inglês ICMR, organização do governo indiano voltada para a formulação,
coordenação e promoção de pesquisas biomédicas], finalmente cedeu à
pressão pública e internacional ao reiniciar um programa estatal de
pesquisa para entender as taxas alarmantes de natimortos, cânceres,
problemas neurológicos e ginecológicos atendidos pelos médicos de
Bhopal. Os estudos sobre os problemas de saúde de longo prazo de
vítimas da Union Carbide foram deixados a cargo de instituições
beneficentes e grupos de pressão depois que o ICRM abandonou seu
programa de pesquisa em 1994 de forma polêmica.
O acordo de 470 milhões de dólares [cerca de R$812 milhões] feito
pela Union Carbide em 1989 é lembrado como totalmente inadequado pelos
profissionais de saúde da cidade e organizações de sobreviventes. Ele
foi baseado na estimativa inicial de apenas 3.800 mortos e 102 mil
feridos, e a quantia máxima que qualquer vítima recebeu foi de apenas
mil dólares [cerca de R$1.700] – cerca de 11 centavos de dólar ao dia
por 25 anos [menos de R$0,20]. Se a compensação tivesse sido a mesma
daqueles expostos ao amianto sob os tribunais estadunidenses contra
réus que também incluíam a Union Carbide, a dívida teria excedido os 10
bilhões de dólares [mais de R$17 bilhões]
A Dow Chemical Company insiste que não tem responsabilidade por esse
legado tóxico. No entanto, a correspondência interna, vista pela IoS e
a Anistia, entre diferentes ministros indianos (incluindo o Gabinete do
Primeiro-ministro) mostra que a companhia continua tentando influenciar
ministros numa tentativa de encerrar os processos civis. Esses
processos poderiam determinar que a Dow descontaminasse milhares de
toneladas de solo poluído.
Colin Toogood, da BMA, disse: “nós queremos ver uma limpeza completa
da área do desastre e arredores, incluindo o aqüífero subterrâneo – uma
tarefa enorme, mas razoável considerando-se que esse foi o pior
desastre industrial no mundo. A compensação desembolsada de 470 milhões
de dólares apenas diz respeito às pessoas afetadas pela exposição ao
gás naquela noite. Isso não inclui, e nunca incluiu, as crianças
nascidas com defeitos terríveis em resultado da exposição de seus pais;
as pessoas afetadas pela contaminação do meio ambiente ou da água; e
não inclui a própria contaminação do ambiente.”
Tom Sprick, da Union Carbide, declarou: “Nem a Union Carbide nem
seus funcionários estão sujeitos à jurisdição da corte indiana já que
eles não tiveram nenhum envolvimento na operação da fábrica… O governo
da Índia precisa dedicar-se a quaisquer preocupações médicas e de saúde
do povo de Bhopal.”
Porém, de acordo com Tim Edwards, um curador da BMA e autor do
próximo relatório da Anistia, isso transmite uma idéia de desprezo
pelos processos da lei. Ele disse: “em toda forma de sociedade
civilizada é o sistema judicial que decide se um acusado tem algo a
responder. As cortes da Índia decidiram que a Union Carbide e seu novo
dono, a Dow Chemicals, têm de responder à justiça – mas a companhia não
gostou nada disso.”
Scot Wheeler, da Dow Chemicals, respondeu: “Tentativas de vincular
qualquer responsabilidade a Dow são inapropriadas… como todas as
companhias globais, é comum para a Dow ter encontros com líderes e
oficiais do governo se nós fazemos negócios e temos planos de
crescimento. Também é comum para companhias discutir desafios e
oportunidades relacionadas com investimentos.”
Nina Lakhani
Tradução: Aline Oliveira
Para acessar o texto original, clique aqui.
Fotografia de Luca Frediani, retirada daqui
Eleição 2010...
Revolução?
Wladimir Pomar - Correio da Cidadania
Pelo andar da carruagem, parece que a campanha de 2010 voltará a assistir baixarias da pior espécie. Talvez a utilização do caso Lurian-Mirian Cordeiro, em 1989, se torne brincadeira infantil diante do tipo de acusação assacada por Folha de São Paulo-César Benjamin contra Lula. Sem bandeira, a direita parece disposta a ultrapassar todos os limites, na mesma suposição de Goebbels de que uma mentira, repetida mil vezes, se transforme em verdade.
Enquanto uma parte da esquerda flerta com essa aventura de viés fascista, outra amacia a crítica ao período FHC, caracterizando-o como revolução silenciosa. Para compreender o caráter do que chama de nova revolução silenciosa do governo Lula, essa parte da esquerda considera essencial entender os anos dourados do neoliberalismo, que tiveram por base as políticas de liberalização, privatização e desregulação, propugnadas pelo Consenso de Washington e aplicadas pelo FMI e Banco Mundial. Segundo ela, para combater a crise de recessão e desemprego, que se espraiara pelo mundo nos anos 1980.
Ainda segundo essa análise, a revolução silenciosa de FHC, cujo maior mote foi "o Estado é mau gestor" e "o Mercado tudo resolve", teve como eixos as reformas estruturais nas contas públicas, impondo a disciplina fiscal, no comércio externo, abrindo o mercado doméstico aos produtos e investimentos estrangeiros no Estado, retirando-o das atividades econômicas através das privatizações, e também na desregulação trabalhista, através da flexibilização das leis do trabalho.
Para início de conversa, cabe o reparo sobre as razões do Consenso de Washington. Ele não foi costurado para combater a crise de recessão e desemprego, mas para elevar a taxa média de lucro das corporações transnacionais, mesmo que isto aprofundasse a recessão e o desemprego nas economias nacionais. As políticas de liberalização, privatização e desregulação, aplicadas com denodo por FHC, tinham esse caráter preciso.
É verdade que, como todo contra-revolucionário, FHC procurou chamar sua agenda neoliberal de revolução silenciosa. Se os golpistas de 1964 chamaram sua contra-revolução de revolução redentora, por que FHC não teria o direito de fazer o mesmo? No entanto, quando uma parte da esquerda aceita chamar uma contra-revolução de revolução, isso apenas pode significar que ela não leva a sério o conteúdo desses conceitos.
Em relação à era FHC, José Luiz Fiori tinha razão em dizer que houve "uma imensa recomposição patrimonial da riqueza brasileira, (...) movida por uma transferência gigantesca de riqueza ou privatização de riqueza". Francisco de Oliveira também estava certo ao afirmar que se assistiu à criação de "uma nova burguesia no país" e que "o governo perdeu boa parte da capacidade que tinha de distribuir favores no Estado entre seus aliados". Portanto, o que a contra-revolução de FHC realizou foi uma brutal reorganização do capitalismo brasileiro, reduzindo a participação do capital estatal na economia.
Para o tucanato, o tripé que sustentava o capitalismo desde a era Vargas (capital estatal, capital privado nacional e capital privado estrangeiro), deveria tornar-se um bipé com elefantíase, tendo o capital estrangeiro como principal. Ao Estado caberia apenas o papel de facilitador da relocalização empresarial, ao mesmo tempo em que fingia ser regulador e compensador dos desequilíbrios sociais. Nessas condições, supor que os tucanos apoiavam as políticas neoliberais por acreditarem que esta seria a condição necessária para o crescimento econômico e a inserção competitiva no mercado internacional é o mesmo que acreditar em fadas.
Os tucanos e seus associados, do mesmo modo que todos os segmentos sociais e políticos que, em qualquer época, apoiaram a colonização de seu país por invasores estrangeiros, na verdade acreditavam que o neoliberalismo era a salvação de seu grupo particular. Muitos membros desse grupo se transformaram em parte daquela nova burguesia, resultante da recomposição patrimonial da riqueza. Confundir interesses particulares com interesses nacionais é erro primário.
Na era FHC o problema não foi somente que o Estado tenha deixado de ser o principal indutor da economia e delegado este papel para o mercado. Ou que ele tenha desregulado, quebrado monopólios, vendido empresas estatais e tentado desmontar a CLT. Ou, ainda, que o país tenha se tornado "o paraíso para investimentos internacionais" e que os movimentos sociais tenham passado a ser criminalizados e desqualificados como forças reacionárias contrárias à modernização.
Esse tipo de lista genérica esconde o conteúdo de cada um desses atos. Na verdade, ocorreu uma tentativa criminosa de quebrar o Estado e transformá-lo no principal freio ao desenvolvimento econômico. Ele quebrou somente monopólios estatais, enquanto estimulava a monopolização e a oligopolização privada. A pretensa venda de empresas estatais foi, em geral, uma transferência nebulosa de ativos públicos para o setor privado estrangeiro e nacional, quase no estilo mafioso russo. E os investimentos estrangeiros vieram apenas para lucrar nesses negócios escusos e no cassino das bolsas de valores, ou para fechar indústrias concorrentes.
Nessas condições, os anos FHC não foram uma década perdida para seus autores, nem um fracasso para a inserção subordinada do país na economia internacional. Eles conseguiram legar às gerações futuras uma herança contra-revolucionária extremamente complexa, com um Estado quase desmontado, incapaz de planejar e projetar, e com visões econômicas ainda fortes, para as quais políticas industriais estão fora de moda, crescimento e consumo sempre geram inflação e elevar a renda dos pobres é populismo.
Essa caminhada só foi momentaneamente paralisada porque os resultados de seu programa de governo introduziram uma cunha profunda na massa da burguesia, ao beneficiarem somente a um pequeno setor dessa classe, e porque os movimentos populares souberam aproveitar-se das contradições no meio da burguesia para derrotar eleitoralmente aquele setor.
Assim, a rigor, ao invés de revolução silenciosa de FHC, o que ocorreu foi uma contra-revolução inacabada. E, no caso da vitória de Lula, ela foi, no máximo, uma revolução cultural, o que já é muito para um país em que a hegemonia ideológica e política das classes dominantes ainda é avassaladora.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Poesia de uma professora indignada....
Os Vinte.
Cinda Saldanha - 17º núcleo do cpers-sindicato
I
Eu vou citar vinte nomes,
são vinte monstros sagrados.
Adolfo, Adilson, Coffy Rodrigues,
na teta mamam deitados.
Brum, Francisco e Westphalen
também estão setenciados.
II
Nélson Júnior,Mauro, Jorge,
juntos nessa relação.
Silvana, Kalil,Giovani,
também levando um quinhão.
Farinha do mesmo saco,
em prol da corrupção.
III
Frederico, Marcos,Luciano,
João Fischer, Pedro Pereira,
outros que somaram força
pra continuar na carreira,
pois arquivando o Processo,
segue impune a roubalheira!
IV
Jerônimo e Carlos Gomes,
a minha lista não para.
Se “escapou por muito pouco
o meu amigo Augusto Lara”...
Mas, a Zilá bem que eu queria,
dar-lhe uns tabefes na cara!!
V
É o nosso Legislativo
da ética e da moral,
onde um cargo,um dinheirinho
não faz ninguem passar mal.
“As instituições tornaram...
o roubo coisa Legal.”
|
VI
A governadora paulista
só é perita em manobra
pois além de arbitrária
em maldade se desdobra.
Que nem carne de pescoço
e pior que carne de cobra!
VII
Ela encheu o peito de vento,
de morta, ressuscitou
preencheu pequenas rugas
com o dinheiro que roubou,
para mudar o visual...
Até o pescoço encurtou.
VIII
Seu partido contratou
um marqueteiro de coragem,
está fazendo de tudo
pra mudar a sua imagem.
Mas a “face oculta aparece”...
Na bruxa – como miragem!!!
IX
É a nossa marca com ferro
contra o autoritarismo,
das barbáries praticadas
espalhando o terrorismo.
Vamos ver se tu aprende:
“Respeito ao Funcionalismo”.
X
O funcionalismo do Rio Grande
não é de baixar a crista.
Teu problema é bem mais sério
tem prenhez capitalista.
Tu nunca foste farroupilha
és uma ladra paulista.
|
As mulheres árabes de Israel não precisam sequer de se candidatar a um emprego
É a discriminação e não as especificidades culturais que mantém as famílias árabes na pobreza
por JONATHAN COOK
Em Nazaré
tradução: equipa Todos Por Gaza
Na
semana passada, o Ministro das Finanças israelita foi acusado de tentar
desviar as atenções das politicas discriminatórias que mantém muitas
das famílias árabes do país na pobreza, colocando a culpa para os seus
problemas económicos naquilo que descreveu como a “oposição da
sociedade árabe ao trabalho feminino”.
Um relatório recente produzido pelo Instituto Nacional de Segurança mostra que metade das famílias árabes em Israel são consideradas pobres comparadas com 14 % das famílias judias.
Yuval Steinitz, Ministro das Finanças israelita, disse durante uma conferência sobre a discriminação no emprego, realizada este mês [novembro] que a falha das mulheres árabes em se tornarem parte da força de trabalho tinha um impacto negativo na economia de Israel. Só dezoito por cento das mulheres árabes estão empregadas, e dessas, apenas metade a tempo inteiro, enquanto que pelo menos 55 % das mulheres judias trabalha.
O ministro atribuiu a baixa taxa de emprego entre esta minoria a “obstáculos culturais, estruturas tradicionais e à crença que as mulheres árabes devem permanecer nas suas cidades de origem”, dizendo ainda que estas restrições são características de todas as sociedades árabes.
Contudo, há investigadores e associações de mulheres que sublinham que o numero de mulheres árabes em Israel é mais baixo do que em quase todos os outros países do mundo árabe, incluído aqueles onde os números do emprego feminino são uma mancha, como sucede na Arábia Saudita e Omã.
“A maior parte das mulheres árabes quer trabalhar, incluindo um grande número de licenciadas, mas o governo tem recusado abordar os vários e grandes obstáculos que lhe têm aparecido no caminho” disse Sawsan Shukhra, da associação Mulheres contra a Violência, uma associação com base em Nazaré.
Esta afirmação é confirmada por um inquérito realizado este mês e que revela que 83 % dos homens de negócios israelitas nas principais profissões (incluindo publicidade, direito, banca, contabilidade e media) admitiram ser contrários à ideia de contratar licenciados árabes, independentemente do seu sexo.
Yousef Jabareen, um urbanista da Universidade Técnica de Technion em Haifa, que realizou um dos maiores inquéritos sobre o emprego das mulheres árabes em Israel, disse que os problemas que estas enfrentam são únicos.
“Em Israel enfrentam uma dupla discriminação, por serem mulheres e por serem árabes” disse.
A média de emprego feminino no mundo árabe é cerca de 40&. Só em Gaza, na Cisjordânia e no Iraque (onde se vive em circunstâncias excepcionais, é que encontramos taxas de emprego entre as mulheres árabes mais baixas do que em Israel.
Jabareen acrescentou que uma série de factores funcionam como obstáculos para as mulheres árabes, entre os quais políticas discriminatórias aplicadas por sucessivos governos para prevenir que a minoria árabe de 1.3 milhões, que constitui cerca de um quinto da população do pais, usufruísse de qualquer tipo de desenvolvimento económico. Estas medidas incluem discriminação generalizada nas políticas de contratação quer no sector privado quer no público, um fracasso em construir zonas industriais e fábricas perto das comunidades árabes, falta de serviço público de apoio à maternidade, quando comparado com aquele que é providenciado às comunidades judias, falta de transportes nas áreas árabes que impedem as mulheres de se deslocar a lugares onde há trabalho e falta de cursos direccionados para as mulheres árabes.
De acordo com um estudo efectuado pela associação Mulheres contra a Violência, 40 por cento das mulheres árabes detentoras de um grau académico não conseguem arranjar emprego. Aquando da entrevista, Mr Jabareen disse que 78% das mulheres desempregadas culpam a falta de oportunidade de emprego pela sua situação.
Maali Abu Roumi, de 24 anos, da cidade de Tamra no norte de Israel, tem procurado emprego como técnica de trabalho social desde que acabou o curso há dois anos. Um relatório elaborado por Sikkuy, uma organização que promove a igualdade cívica em Israel, revelou este mês que a população árabe de Israel recebe cerca de menos 70% de ajuda governamental para serviços sociais do que a população judia, e que os técnicos de serviço social árabes (numa profissão mal paga e que atrai maioritariamente mulheres) tinham uma carga de trabalho superior em 50%.
Maali Abu Roumi disse também que, para além disso, escolas Arabes, ao contrário das escolas judias não podem empregar um trabalhador social porque não têm dinheiro, e que a minoria árabe de Israel não usufruía das instituições de assistência social fundadas por judeus de outros países que ofereciam trabalho a muitos técnicos sociais judeus. “ A maior parte dos judeus com quem estudei já encontraram emprego, enquanto que muito poucos dos árabes do meu curso o conseguiram” disse. “quando um trabalho aparece, é geralmente em part-time e há sempre dúzias de concorrentes”.
O Centro de Planificação Alternativa, uma organização árabe que estuda o uso da terra em Israel, informou que em 2007, apenas 3.5 por centro das zonas industriais do país estavam localizadas em comunidades árabes. A maior parte atraia apenas pequenos negócios como oficinas de reparação de carros ou de carpintaria, que oferecem poucas oportunidade às mulheres.
“O sector privado israelita está quase totalmente fechado ás mulheres árabes devido a práticas discriminatórias dos empregadores que preferem dar emprego a judeus”, disse Mr. Jabareen. Disse ainda que o governo falhou em dar o exemplo: entre os trabalhadores governamentais, menos de 2% são mulheres árabes, apesar de vários ministros pedirem o aumento de emprego para os árabes.
A Sra Sukha sublinha: “ O serviço público é um grande empregador, mas muitos desses trabalhos ficam no centro da cidade, em Tel-Aviv e em Jerusalém, muito longe do norte, onde vive a maioria dos cidadãos árabes.
Para além disso, a maior parte não pode viajar longas distâncias para encontrar trabalho devido à escassez no fornecimento de serviços de apoio às crianças. De 1600 centros de pré-escolar públicos existentes em todo o país só 25 estão junto das comunidades árabes. Shawshan Shukha também critica o ministério do comercio e da industria dizendo que apesar de este investir muito na educação das mulheres judias só 6% das mulheres árabes frequentam cursos, sobretudo os de costura e secretariado.
Jabareen disse que de acordo com este inquérito, 56% das mulheres árabes desempregadas queria trabalhar imediatamente. “Desde 1948 que os governos israelitas culpam as barreiras culturais impedindo as mulheres árabes trabalhar da sua pobreza, mas todas as investigações mostram que o argumento é absurdo” comentou. Há centenas de mulheres árabes que competem pelos trabalhos que aparecem no mercado”.
Acrescentou que os homens árabes também enfrentam discriminação, mas encontram trabalho porque preenchem a necessidade de trabalho pesado e manual que a maior parte dos judeus recusa fazer, e viajando ainda longas distâncias para os locais das obras.
“As mulheres nem sequer têm essa opção” ajuntou. “ Não podem fazer esse tipo de trabalho e precisam de ficar perto das suas comunidades porque têm responsabilidades nas suas casas”.
O urbanista disse ainda que em média as mulheres árabes em Israel têm mais anos de escolarização do que as dos países árabes vizinhos e do que no terceiro mundo. Há até mais mulheres árabes do que homens a estudar na universidade.
“Toda a investigação levada a cabo mostra que quanto mais educada é a população, mais fácil deveria ser encontrar emprego. O caso das mulheres árabes em Israel contraria estes dados. Constituem um caso único”.
Um estudo realizado pelo Banco de Israel e publicado no mês passado sugere razões adicionais para o nível de pobreza das famílias árabes. Mostra que os homens árabes são forçados a reformar-se por volta dos 40 anos, uma década antes dos trabalhadores judeus e dos trabalhadores europeus e americanos.
Os investigadores atribuem o desemprego dos homens árabes ao facto de que a maior parte executa apenas trabalhos físicos muito exigentes e também ao facto destes trabalhadores estarem a ser substituídos por trabalhadores oriundos do terceiro mundo, que recebem menos do que o salário mínimo.
Jonathan Cook é um escritor e jornalista que vive em Nazaré. O seu site é: www.jkcook.net.
(uma versão deste artigo foi originalmente publicada em The National)
Um relatório recente produzido pelo Instituto Nacional de Segurança mostra que metade das famílias árabes em Israel são consideradas pobres comparadas com 14 % das famílias judias.
Yuval Steinitz, Ministro das Finanças israelita, disse durante uma conferência sobre a discriminação no emprego, realizada este mês [novembro] que a falha das mulheres árabes em se tornarem parte da força de trabalho tinha um impacto negativo na economia de Israel. Só dezoito por cento das mulheres árabes estão empregadas, e dessas, apenas metade a tempo inteiro, enquanto que pelo menos 55 % das mulheres judias trabalha.
O ministro atribuiu a baixa taxa de emprego entre esta minoria a “obstáculos culturais, estruturas tradicionais e à crença que as mulheres árabes devem permanecer nas suas cidades de origem”, dizendo ainda que estas restrições são características de todas as sociedades árabes.
Contudo, há investigadores e associações de mulheres que sublinham que o numero de mulheres árabes em Israel é mais baixo do que em quase todos os outros países do mundo árabe, incluído aqueles onde os números do emprego feminino são uma mancha, como sucede na Arábia Saudita e Omã.
“A maior parte das mulheres árabes quer trabalhar, incluindo um grande número de licenciadas, mas o governo tem recusado abordar os vários e grandes obstáculos que lhe têm aparecido no caminho” disse Sawsan Shukhra, da associação Mulheres contra a Violência, uma associação com base em Nazaré.
Esta afirmação é confirmada por um inquérito realizado este mês e que revela que 83 % dos homens de negócios israelitas nas principais profissões (incluindo publicidade, direito, banca, contabilidade e media) admitiram ser contrários à ideia de contratar licenciados árabes, independentemente do seu sexo.
Yousef Jabareen, um urbanista da Universidade Técnica de Technion em Haifa, que realizou um dos maiores inquéritos sobre o emprego das mulheres árabes em Israel, disse que os problemas que estas enfrentam são únicos.
“Em Israel enfrentam uma dupla discriminação, por serem mulheres e por serem árabes” disse.
A média de emprego feminino no mundo árabe é cerca de 40&. Só em Gaza, na Cisjordânia e no Iraque (onde se vive em circunstâncias excepcionais, é que encontramos taxas de emprego entre as mulheres árabes mais baixas do que em Israel.
Jabareen acrescentou que uma série de factores funcionam como obstáculos para as mulheres árabes, entre os quais políticas discriminatórias aplicadas por sucessivos governos para prevenir que a minoria árabe de 1.3 milhões, que constitui cerca de um quinto da população do pais, usufruísse de qualquer tipo de desenvolvimento económico. Estas medidas incluem discriminação generalizada nas políticas de contratação quer no sector privado quer no público, um fracasso em construir zonas industriais e fábricas perto das comunidades árabes, falta de serviço público de apoio à maternidade, quando comparado com aquele que é providenciado às comunidades judias, falta de transportes nas áreas árabes que impedem as mulheres de se deslocar a lugares onde há trabalho e falta de cursos direccionados para as mulheres árabes.
De acordo com um estudo efectuado pela associação Mulheres contra a Violência, 40 por cento das mulheres árabes detentoras de um grau académico não conseguem arranjar emprego. Aquando da entrevista, Mr Jabareen disse que 78% das mulheres desempregadas culpam a falta de oportunidade de emprego pela sua situação.
Maali Abu Roumi, de 24 anos, da cidade de Tamra no norte de Israel, tem procurado emprego como técnica de trabalho social desde que acabou o curso há dois anos. Um relatório elaborado por Sikkuy, uma organização que promove a igualdade cívica em Israel, revelou este mês que a população árabe de Israel recebe cerca de menos 70% de ajuda governamental para serviços sociais do que a população judia, e que os técnicos de serviço social árabes (numa profissão mal paga e que atrai maioritariamente mulheres) tinham uma carga de trabalho superior em 50%.
Maali Abu Roumi disse também que, para além disso, escolas Arabes, ao contrário das escolas judias não podem empregar um trabalhador social porque não têm dinheiro, e que a minoria árabe de Israel não usufruía das instituições de assistência social fundadas por judeus de outros países que ofereciam trabalho a muitos técnicos sociais judeus. “ A maior parte dos judeus com quem estudei já encontraram emprego, enquanto que muito poucos dos árabes do meu curso o conseguiram” disse. “quando um trabalho aparece, é geralmente em part-time e há sempre dúzias de concorrentes”.
O Centro de Planificação Alternativa, uma organização árabe que estuda o uso da terra em Israel, informou que em 2007, apenas 3.5 por centro das zonas industriais do país estavam localizadas em comunidades árabes. A maior parte atraia apenas pequenos negócios como oficinas de reparação de carros ou de carpintaria, que oferecem poucas oportunidade às mulheres.
“O sector privado israelita está quase totalmente fechado ás mulheres árabes devido a práticas discriminatórias dos empregadores que preferem dar emprego a judeus”, disse Mr. Jabareen. Disse ainda que o governo falhou em dar o exemplo: entre os trabalhadores governamentais, menos de 2% são mulheres árabes, apesar de vários ministros pedirem o aumento de emprego para os árabes.
A Sra Sukha sublinha: “ O serviço público é um grande empregador, mas muitos desses trabalhos ficam no centro da cidade, em Tel-Aviv e em Jerusalém, muito longe do norte, onde vive a maioria dos cidadãos árabes.
Para além disso, a maior parte não pode viajar longas distâncias para encontrar trabalho devido à escassez no fornecimento de serviços de apoio às crianças. De 1600 centros de pré-escolar públicos existentes em todo o país só 25 estão junto das comunidades árabes. Shawshan Shukha também critica o ministério do comercio e da industria dizendo que apesar de este investir muito na educação das mulheres judias só 6% das mulheres árabes frequentam cursos, sobretudo os de costura e secretariado.
Jabareen disse que de acordo com este inquérito, 56% das mulheres árabes desempregadas queria trabalhar imediatamente. “Desde 1948 que os governos israelitas culpam as barreiras culturais impedindo as mulheres árabes trabalhar da sua pobreza, mas todas as investigações mostram que o argumento é absurdo” comentou. Há centenas de mulheres árabes que competem pelos trabalhos que aparecem no mercado”.
Acrescentou que os homens árabes também enfrentam discriminação, mas encontram trabalho porque preenchem a necessidade de trabalho pesado e manual que a maior parte dos judeus recusa fazer, e viajando ainda longas distâncias para os locais das obras.
“As mulheres nem sequer têm essa opção” ajuntou. “ Não podem fazer esse tipo de trabalho e precisam de ficar perto das suas comunidades porque têm responsabilidades nas suas casas”.
O urbanista disse ainda que em média as mulheres árabes em Israel têm mais anos de escolarização do que as dos países árabes vizinhos e do que no terceiro mundo. Há até mais mulheres árabes do que homens a estudar na universidade.
“Toda a investigação levada a cabo mostra que quanto mais educada é a população, mais fácil deveria ser encontrar emprego. O caso das mulheres árabes em Israel contraria estes dados. Constituem um caso único”.
Um estudo realizado pelo Banco de Israel e publicado no mês passado sugere razões adicionais para o nível de pobreza das famílias árabes. Mostra que os homens árabes são forçados a reformar-se por volta dos 40 anos, uma década antes dos trabalhadores judeus e dos trabalhadores europeus e americanos.
Os investigadores atribuem o desemprego dos homens árabes ao facto de que a maior parte executa apenas trabalhos físicos muito exigentes e também ao facto destes trabalhadores estarem a ser substituídos por trabalhadores oriundos do terceiro mundo, que recebem menos do que o salário mínimo.
Jonathan Cook é um escritor e jornalista que vive em Nazaré. O seu site é: www.jkcook.net.
(uma versão deste artigo foi originalmente publicada em The National)
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