Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Novo filme de Michael Moore...
O caso de amor de Michael Moore com o capitalismo
por Ray O. Light
[*]
O novo filme de Michael Moore,
"Capitalism: A Love Story"
, revela muito do carácter criminoso do actual sistema económico
dos EUA.
E faz isso no seu habitual estilo popular. Mas o filme também reflecte o
facto de que Moore ainda não ultrapassou o seu caso de amor com o
capitalismo.
Em "Roger and Me," "Bowling for Columbine" e "Sicko," Moore demonstrou uma vontade real de revelar a cupidez do titãs das companhias automobilísticas dos EUA, a violência que permeia o próprio tecido da sociedade imperialista estado-unidense e a barbárie do seu sistema de cuidados de saúde em comparação aos cuidados de saúde proporcionados no Canadá, Inglaterra, França e, mais espantosamente, Cuba. Igualmente impressionante tem sido a sua capacidade de retratar estes assuntos de uma maneira que o povo dos EUA possa entender e admitir. Como filho de um trabalhador reformado da cidadela histórica da General Motors, Flint, Michigan, Moore tem um sentimento excepcionalmente bom daquilo que culturalmente mantém os trabalhadores dos EUA leais aos seus mestres corporativos. E os seus filmes contêm elementos visuais dramáticos e acontecimentos político-sociais que ajudam a destroçar os nós que unem a população dos EUA ao imperialismo estado-unidense.
Mais uma vez, no novo filme, Moore escolhe alguns exemplos ultrajantes "capitalismo selvagem" nos EUA. Ele destaca, por exemplo, o brilhante esforço do piloto da U.S. Airways, "Sully" Sullenberger, cuja habilidade no comando foi decisiva para salvar as vidas de toda a sua tripulação e passageiros com uma arrojada amaragem no Rio Hudson. O comandante Sullenberger, um orgulhoso sindicalizado, é então mostrado a usar a sua nova fama para testemunhar perante o Congresso como os pilotos de carreira estão a ter o seu treino e o seu pagamento cortado tão drasticamente que está a agravar-se um problema de segurança na indústria das linhas aéreas. Moore apresenta a prova disto, apontando para os mal treinados e mal pagos pilotos cujo avião estraçalhou-se em Buffalo, Nova York, uns poucos meses atrás, enquanto o piloto e o co-piloto estavam preocupados a discutir as suas desgraças financeiras.
Moore chama atenção para o estreito relacionamento que existiu durante alguns anos entre uns poucos juízes da Pennsylvania e a companhia privada que explora o centro de detenção juvenil local, do qual os juízes recebiam subornos. A privatização desta prisão resultou nestes juízes comprados a trancafiar jovens inocentes, durante muitos meses, a fim de manter as instalações cheias e maximizar os lucros da companhia. Que falta de vergonha ao serviço da cupidez!
No filme, Moore desenrola uma fita amarela de cenário do crime em torno do quarteirão da Wall Street onde estão companhias financeiras cúmplices no colapso da economia em 2008, as quais desde então têm sido as beneficiárias de salvamentos de muitos milhares de milhões de dólares do governo dos EUA. Ele tenta efectuar uma "prisão" dos chefes criminosos destas corporações. Também identifica um certo número de políticos democratas e seus nomeados que foram cúmplices dos republicanos de Bush-Cheney neste roubo "à luz do dia" do tesouro nacional dos EUA por conta dos seus patrões bilionários da Wall Street.
Todas estas cenas são intelectualmente instigantes e proporcionam algum "ar fresco" de verdade à população dos EUA anestesiada pelo álcool, pelas drogas receitadas e as de rua e por uma TV estupidificante orientada pelo monopólio capitalista dos mass media.
Ao mesmo tempo, Moore apresenta um certo número de imagens dramáticas e situações os quais mostram alguns sinais de esperança nas iniciativas do povo trabalhador. Ele levanta o facto de que os trabalhadores nos EUA gastam oito, dez ou doze horas do dia sob a ditadura dos seus patrões. E promove a democracia no lugar de trabalho e o êxito de negócios cooperativos dirigidos por trabalhadores. Moore também dá muita atenção à greve com ocupação dos trabalhadores da Republic Windows, de Chicago, em Dezembro de 2008. E é apoiante do seu sindicato pequeno mas democrático, o United Electrical Workers (UE). Destaca que o povo dos EUA, num momento em que a sua raiva com os bancos e as corporações estava no máximo, era simpático para com os grevistas que alcançavam as suas reivindicações em relação a todos os seus benefícios de indemnização estabelecidos contratualmente.
Entretanto, Michael Moore afirma esperar que o seu novo filme, "Capitalismo: Uma história de amor", estimule o povo dos EUA a abolir o capitalismo aqui. E é importante notar que Moore não atinge com seriedade o seu objectivo declarado.
Durante a eleição presidencial de 2004, a nossa organização apelou aos eleitores estado-unidenses a "depositar o seu voto contra os partidos gémeos do imperialismo, Tweedledum e Tweedledee [1] , a efectuar um voto de protesto". Uma das três recomendações alternativas que fazíamos era: "Escreva 'Michael Moore' em homenagem ao seu filme 'Fahrenheit 9/11' que ajudou a educar mais a classe trabalhadora dos EUA e as pessoas das nacionalidades oprimidas acerca da Guerra de Bush do que todos nós da esquerda estado-unidense em conjunto!". Contudo, acrescentámos: "Mas é uma vergonha para ele apoiar Kerry". ("The 2004 U.S. Presidential Election and the Question of Fascism," Ray O' Light Newsletter, September 2004)
Acontece que o endosso de Moore ao multi-milionário John Kerry, o candidato do Partido Democrata, foi mais do que uma fraqueza momentânea ou um incidente político. Pois, mais uma vez, na eleição presidencial de 2008, Moore apoiou o candidato democrata contra o republicano. E desta vez o homem apoiado era de cor, com alguns notáveis feitos educacionais e com uma família negra aparentemente dignificada e saudável. O candidato era também de origens muito mais humildes do que o companheiro de George W. Bush na Yale University e membro da sociedade Skull and Bones, John Kerry. Todos estes atributos pessoais tornaram Barack Obama estimável a Michael Moore.
Agora, com Obama como presidente em exercício e com a persistente defesa de Obama por parte de Moore, como pode ele apelar efectivamente à eliminação do capitalismo nos EUA de hoje? Não pode.
Dentre as imprecisões, omissões e distorções deste filme que o torna um apelo não à eliminação mas sim à continuação do capitalismo, embora de um modo mais razoável, numa forma pacífica, encontra-se o seguinte:
(1) Moore separa a política da economia do sistema capitalista ao invés de reconhecer que o cerne do capitalismo é dialecticamente interligado à política económica. Afirma desejar a eliminação do sistema económico capitalista; mas enterra a lugar pelo poder político que isso implica. Ao invés de reconhecer o papel estratégico da classe trabalhadora na eliminação do capitalismo, através da luta pelo poder dos trabalhadores contra o estado capitalista, o filme de Moore limita o papel da classe trabalhadora à luta por reformas económicas tais como cooperativas de trabalhadores.
(2) Moore distingue a abolição do capitalismo estado-unidense da abolição do Império estado-unidense, em contradição com os ensinamentos de Lenine de que o imperialismo é a última, final e superior etapa do capitalismo. A sua concepção pequeno-burguesa do capitalismo estado-unidense é um regresso aos dias primitivos dos Estados Unidos de dois séculos atrás, ou, ainda mais, aos dias primitivos do novo e ascendente capitalismo na Europa feudal. Ele centra-se inteiramente nos EUA e seu povo, como se a economia do país não estivesse totalmente interligada ao resto da economia capitalista global dirigida pelos EUA. No filme, por exemplo, as guerras imperialistas no Iraque e no Afeganistão não são explicadas como decorrendo da essência do sistema capitalista estado-unidense. Elas são tratadas apenas sob o aspecto de que afectam o povo dos EUA, omitindo o impacto que o sistema capitalista dos EUA tem sobre os trabalhadores e povos oprimidos do Iraque, Afeganistão e tantas outras terras. A expansão da guerra do Regime Obama ao Afeganistão e ao Paquistão é, claro, omitida. Isto é social-chauvinismo.
(3) Moore nunca menciona o papel da União Soviética, cujas tremendas realizações internas durante o período da última Grande Depressão Capitalista, cuja liderança da aliança global que derrotou o fascismo alemão e seus aliados do eixo na Segundo Guerra Mundial e cuja liderança na criação de um campo socialista, apontam o caminho para uma futura humanidade socialista. Ao invés disso, a Alemanha capitalista, o actual estado chinês e uns poucos outros estados capitalistas são arvorados por Moore como modelos de um capitalismo mais eficiente e menos brutal do que os EUA em relação à indústria automobilística, etc. Na verdade, o capitalismo mais civilizado, mais democrático, é o limite da visão de Moore para os EUA. Quando perguntado se é um social-democrata, Moore responde que é pela democracia. (Ele é claramente um social-democrata pelos padrões mundiais. E a sua fuga a esta etiqueta reflecte o seu temor do extremo atraso política da população dos Estados Unidos após décadas de Império americano, isto é, de hegemonia imperialista estado-unidense e a consequente cultura parasita e corrupta da sua sociedade.)
(4) O filme de Moore nunca denuncia Obama e a actual administração democrata. Ele denuncia o facto de que, na actual crise capitalista, políticos democratas bem como republicanos e os conselheiros financeiros a eles associados, incluindo Robert Rubin, Lawrence Summers e Timothy Geithner, têm servido lealmente os corruptos capitalistas da Wall Street que hoje dominam os EUA. Mas Moore omite o facto gritante e crucial de que Obama nomeou estes mesmos serviçais como supervisores da economia dos EUA, causando uma ininterrupta transição capitalista monopolista da desacreditada administração Bush de modo a continuar a "salvar os capitalistas financeiros ao invés de prendê-los!". Uma omissão total!
(5) O que está fora da visão de Moore em relação a Obama está longe de ser pessoal. No fim da entrevista de Moore a The Nation, a entrevistadora Naomi Klein louva Elizabeth Warren, a chefe do comité do Congresso de observação do salvamento, que surge no filme como uma mulher íntegra. Diz Klein: "Ela é até certo ponto o anti-Summers. É o suficiente para dar esperança, saber que ela existe". Resposta de Moore: "Absolutamente. E posso sugerir um candidato presidencial para 2016 ou 2012 se Obama nos decepcionar ? A Marcy Kaptur [congressista de Ohio] e Elizabeth Warren" [ênfase minha]. Portanto Michael Moore, que apoiou John Kerry em 2004 e Barack Obama em 2008, está a anunciar previamente que apoiará o candidato democrata a presidente em 2012 ou 2016 mesmo se Obama trair a confiança do povo. Chega de apelos de Moore à eliminação do sistema capitalista nos EUA!!
No princípio da mesma entrevista, afirma Klein que "a maior parte das pessoas são favoráveis a cuidados de saúde universais, mas elas não podiam agrupar-se por trás desta causa porque ela não estava sobre a mesa". Em resposta, Moore gentilmente critica Obama por optar "por tomar uma meia medida ao invés da medida plena que precisaria acontecer. Tivesse ele tomado a medida plena – a verdadeira, pagador único, cuidados universais de saúde – penso que teria tido milhões a apoiá-lo". Da mesma forma, se Moore não estivesse com meias medidas em relação a Obama e os democratas, o seu desejo declarado de que o filme despertasse e arregimentasse o povo dos EUA para "eliminar o capitalismo" podia ter sido bastante efectivo.
Conclusão: O filme mais recente de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" não é um filme do proletariado revolucionário, ele não organiza a classe trabalhadora e os povos oprimidos dentro do estado multinacional estado-unidense ao combate para acabar com o capitalismo e pelo estabelecimento dos EUA socialista. Contudo, o filme levanta a noção fundamental do carácter "perverso" do sistema capitalista e a ideia de acabar com este sistema. Consequentemente, é uma ferramenta educacional e organizacional válida no combate pela justa para os trabalhadores, pela abolição do sistema capitalista e pelo estabelecimento dos EUA socialista.
Aqueles de nós que desejam sinceramente a eliminação do sistema capitalista dos EUA e do mundo, e querem trabalhar para este fim, têm como responsabilidade utilizar o mais recente filme de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" em favor da causa revolucionária. Como lutamos para ganhar os corações e mentes dos trabalhadores e dos oprimidos pela luta revolucionária para os EUA socialista e um mundo socialista, convidemos os nossos amigos e companheiros de trabalho a ir ao cinema connosco. Discutamos com os trabalhadores e os oprimidos os prós e contras deste filme agitador e educativo. Deste modo, nós, e não Michael Moore, podemos tornar o filme um veículo para a eliminação do sistema capitalista.
[1]
Personagens gémeos em
Alice no país das maravilhas,
de Lewis Carroll.
Em "Roger and Me," "Bowling for Columbine" e "Sicko," Moore demonstrou uma vontade real de revelar a cupidez do titãs das companhias automobilísticas dos EUA, a violência que permeia o próprio tecido da sociedade imperialista estado-unidense e a barbárie do seu sistema de cuidados de saúde em comparação aos cuidados de saúde proporcionados no Canadá, Inglaterra, França e, mais espantosamente, Cuba. Igualmente impressionante tem sido a sua capacidade de retratar estes assuntos de uma maneira que o povo dos EUA possa entender e admitir. Como filho de um trabalhador reformado da cidadela histórica da General Motors, Flint, Michigan, Moore tem um sentimento excepcionalmente bom daquilo que culturalmente mantém os trabalhadores dos EUA leais aos seus mestres corporativos. E os seus filmes contêm elementos visuais dramáticos e acontecimentos político-sociais que ajudam a destroçar os nós que unem a população dos EUA ao imperialismo estado-unidense.
Mais uma vez, no novo filme, Moore escolhe alguns exemplos ultrajantes "capitalismo selvagem" nos EUA. Ele destaca, por exemplo, o brilhante esforço do piloto da U.S. Airways, "Sully" Sullenberger, cuja habilidade no comando foi decisiva para salvar as vidas de toda a sua tripulação e passageiros com uma arrojada amaragem no Rio Hudson. O comandante Sullenberger, um orgulhoso sindicalizado, é então mostrado a usar a sua nova fama para testemunhar perante o Congresso como os pilotos de carreira estão a ter o seu treino e o seu pagamento cortado tão drasticamente que está a agravar-se um problema de segurança na indústria das linhas aéreas. Moore apresenta a prova disto, apontando para os mal treinados e mal pagos pilotos cujo avião estraçalhou-se em Buffalo, Nova York, uns poucos meses atrás, enquanto o piloto e o co-piloto estavam preocupados a discutir as suas desgraças financeiras.
Moore chama atenção para o estreito relacionamento que existiu durante alguns anos entre uns poucos juízes da Pennsylvania e a companhia privada que explora o centro de detenção juvenil local, do qual os juízes recebiam subornos. A privatização desta prisão resultou nestes juízes comprados a trancafiar jovens inocentes, durante muitos meses, a fim de manter as instalações cheias e maximizar os lucros da companhia. Que falta de vergonha ao serviço da cupidez!
No filme, Moore desenrola uma fita amarela de cenário do crime em torno do quarteirão da Wall Street onde estão companhias financeiras cúmplices no colapso da economia em 2008, as quais desde então têm sido as beneficiárias de salvamentos de muitos milhares de milhões de dólares do governo dos EUA. Ele tenta efectuar uma "prisão" dos chefes criminosos destas corporações. Também identifica um certo número de políticos democratas e seus nomeados que foram cúmplices dos republicanos de Bush-Cheney neste roubo "à luz do dia" do tesouro nacional dos EUA por conta dos seus patrões bilionários da Wall Street.
Todas estas cenas são intelectualmente instigantes e proporcionam algum "ar fresco" de verdade à população dos EUA anestesiada pelo álcool, pelas drogas receitadas e as de rua e por uma TV estupidificante orientada pelo monopólio capitalista dos mass media.
Ao mesmo tempo, Moore apresenta um certo número de imagens dramáticas e situações os quais mostram alguns sinais de esperança nas iniciativas do povo trabalhador. Ele levanta o facto de que os trabalhadores nos EUA gastam oito, dez ou doze horas do dia sob a ditadura dos seus patrões. E promove a democracia no lugar de trabalho e o êxito de negócios cooperativos dirigidos por trabalhadores. Moore também dá muita atenção à greve com ocupação dos trabalhadores da Republic Windows, de Chicago, em Dezembro de 2008. E é apoiante do seu sindicato pequeno mas democrático, o United Electrical Workers (UE). Destaca que o povo dos EUA, num momento em que a sua raiva com os bancos e as corporações estava no máximo, era simpático para com os grevistas que alcançavam as suas reivindicações em relação a todos os seus benefícios de indemnização estabelecidos contratualmente.
Entretanto, Michael Moore afirma esperar que o seu novo filme, "Capitalismo: Uma história de amor", estimule o povo dos EUA a abolir o capitalismo aqui. E é importante notar que Moore não atinge com seriedade o seu objectivo declarado.
Durante a eleição presidencial de 2004, a nossa organização apelou aos eleitores estado-unidenses a "depositar o seu voto contra os partidos gémeos do imperialismo, Tweedledum e Tweedledee [1] , a efectuar um voto de protesto". Uma das três recomendações alternativas que fazíamos era: "Escreva 'Michael Moore' em homenagem ao seu filme 'Fahrenheit 9/11' que ajudou a educar mais a classe trabalhadora dos EUA e as pessoas das nacionalidades oprimidas acerca da Guerra de Bush do que todos nós da esquerda estado-unidense em conjunto!". Contudo, acrescentámos: "Mas é uma vergonha para ele apoiar Kerry". ("The 2004 U.S. Presidential Election and the Question of Fascism," Ray O' Light Newsletter, September 2004)
Acontece que o endosso de Moore ao multi-milionário John Kerry, o candidato do Partido Democrata, foi mais do que uma fraqueza momentânea ou um incidente político. Pois, mais uma vez, na eleição presidencial de 2008, Moore apoiou o candidato democrata contra o republicano. E desta vez o homem apoiado era de cor, com alguns notáveis feitos educacionais e com uma família negra aparentemente dignificada e saudável. O candidato era também de origens muito mais humildes do que o companheiro de George W. Bush na Yale University e membro da sociedade Skull and Bones, John Kerry. Todos estes atributos pessoais tornaram Barack Obama estimável a Michael Moore.
Agora, com Obama como presidente em exercício e com a persistente defesa de Obama por parte de Moore, como pode ele apelar efectivamente à eliminação do capitalismo nos EUA de hoje? Não pode.
Dentre as imprecisões, omissões e distorções deste filme que o torna um apelo não à eliminação mas sim à continuação do capitalismo, embora de um modo mais razoável, numa forma pacífica, encontra-se o seguinte:
(1) Moore separa a política da economia do sistema capitalista ao invés de reconhecer que o cerne do capitalismo é dialecticamente interligado à política económica. Afirma desejar a eliminação do sistema económico capitalista; mas enterra a lugar pelo poder político que isso implica. Ao invés de reconhecer o papel estratégico da classe trabalhadora na eliminação do capitalismo, através da luta pelo poder dos trabalhadores contra o estado capitalista, o filme de Moore limita o papel da classe trabalhadora à luta por reformas económicas tais como cooperativas de trabalhadores.
(2) Moore distingue a abolição do capitalismo estado-unidense da abolição do Império estado-unidense, em contradição com os ensinamentos de Lenine de que o imperialismo é a última, final e superior etapa do capitalismo. A sua concepção pequeno-burguesa do capitalismo estado-unidense é um regresso aos dias primitivos dos Estados Unidos de dois séculos atrás, ou, ainda mais, aos dias primitivos do novo e ascendente capitalismo na Europa feudal. Ele centra-se inteiramente nos EUA e seu povo, como se a economia do país não estivesse totalmente interligada ao resto da economia capitalista global dirigida pelos EUA. No filme, por exemplo, as guerras imperialistas no Iraque e no Afeganistão não são explicadas como decorrendo da essência do sistema capitalista estado-unidense. Elas são tratadas apenas sob o aspecto de que afectam o povo dos EUA, omitindo o impacto que o sistema capitalista dos EUA tem sobre os trabalhadores e povos oprimidos do Iraque, Afeganistão e tantas outras terras. A expansão da guerra do Regime Obama ao Afeganistão e ao Paquistão é, claro, omitida. Isto é social-chauvinismo.
(3) Moore nunca menciona o papel da União Soviética, cujas tremendas realizações internas durante o período da última Grande Depressão Capitalista, cuja liderança da aliança global que derrotou o fascismo alemão e seus aliados do eixo na Segundo Guerra Mundial e cuja liderança na criação de um campo socialista, apontam o caminho para uma futura humanidade socialista. Ao invés disso, a Alemanha capitalista, o actual estado chinês e uns poucos outros estados capitalistas são arvorados por Moore como modelos de um capitalismo mais eficiente e menos brutal do que os EUA em relação à indústria automobilística, etc. Na verdade, o capitalismo mais civilizado, mais democrático, é o limite da visão de Moore para os EUA. Quando perguntado se é um social-democrata, Moore responde que é pela democracia. (Ele é claramente um social-democrata pelos padrões mundiais. E a sua fuga a esta etiqueta reflecte o seu temor do extremo atraso política da população dos Estados Unidos após décadas de Império americano, isto é, de hegemonia imperialista estado-unidense e a consequente cultura parasita e corrupta da sua sociedade.)
(4) O filme de Moore nunca denuncia Obama e a actual administração democrata. Ele denuncia o facto de que, na actual crise capitalista, políticos democratas bem como republicanos e os conselheiros financeiros a eles associados, incluindo Robert Rubin, Lawrence Summers e Timothy Geithner, têm servido lealmente os corruptos capitalistas da Wall Street que hoje dominam os EUA. Mas Moore omite o facto gritante e crucial de que Obama nomeou estes mesmos serviçais como supervisores da economia dos EUA, causando uma ininterrupta transição capitalista monopolista da desacreditada administração Bush de modo a continuar a "salvar os capitalistas financeiros ao invés de prendê-los!". Uma omissão total!
(5) O que está fora da visão de Moore em relação a Obama está longe de ser pessoal. No fim da entrevista de Moore a The Nation, a entrevistadora Naomi Klein louva Elizabeth Warren, a chefe do comité do Congresso de observação do salvamento, que surge no filme como uma mulher íntegra. Diz Klein: "Ela é até certo ponto o anti-Summers. É o suficiente para dar esperança, saber que ela existe". Resposta de Moore: "Absolutamente. E posso sugerir um candidato presidencial para 2016 ou 2012 se Obama nos decepcionar ? A Marcy Kaptur [congressista de Ohio] e Elizabeth Warren" [ênfase minha]. Portanto Michael Moore, que apoiou John Kerry em 2004 e Barack Obama em 2008, está a anunciar previamente que apoiará o candidato democrata a presidente em 2012 ou 2016 mesmo se Obama trair a confiança do povo. Chega de apelos de Moore à eliminação do sistema capitalista nos EUA!!
No princípio da mesma entrevista, afirma Klein que "a maior parte das pessoas são favoráveis a cuidados de saúde universais, mas elas não podiam agrupar-se por trás desta causa porque ela não estava sobre a mesa". Em resposta, Moore gentilmente critica Obama por optar "por tomar uma meia medida ao invés da medida plena que precisaria acontecer. Tivesse ele tomado a medida plena – a verdadeira, pagador único, cuidados universais de saúde – penso que teria tido milhões a apoiá-lo". Da mesma forma, se Moore não estivesse com meias medidas em relação a Obama e os democratas, o seu desejo declarado de que o filme despertasse e arregimentasse o povo dos EUA para "eliminar o capitalismo" podia ter sido bastante efectivo.
Conclusão: O filme mais recente de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" não é um filme do proletariado revolucionário, ele não organiza a classe trabalhadora e os povos oprimidos dentro do estado multinacional estado-unidense ao combate para acabar com o capitalismo e pelo estabelecimento dos EUA socialista. Contudo, o filme levanta a noção fundamental do carácter "perverso" do sistema capitalista e a ideia de acabar com este sistema. Consequentemente, é uma ferramenta educacional e organizacional válida no combate pela justa para os trabalhadores, pela abolição do sistema capitalista e pelo estabelecimento dos EUA socialista.
Aqueles de nós que desejam sinceramente a eliminação do sistema capitalista dos EUA e do mundo, e querem trabalhar para este fim, têm como responsabilidade utilizar o mais recente filme de Michael Moore, "Capitalismo: Uma história de amor" em favor da causa revolucionária. Como lutamos para ganhar os corações e mentes dos trabalhadores e dos oprimidos pela luta revolucionária para os EUA socialista e um mundo socialista, convidemos os nossos amigos e companheiros de trabalho a ir ao cinema connosco. Discutamos com os trabalhadores e os oprimidos os prós e contras deste filme agitador e educativo. Deste modo, nós, e não Michael Moore, podemos tornar o filme um veículo para a eliminação do sistema capitalista.
[*] Adaptação do artigo principal em Ray O' Light Newsletter, #57, "'American Exceptionalism' in the Obama Era".
O original encontra-se em http://www.northstarcompass.org/current.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Reflexões de Fidel...
O mundo meio século depois
Fidel Castro Ruz
AO se comemorar, há dois dias, o 51º aniversário do triunfo da Revolução, vieram a minha mente as lembranças daquele 1º de janeiro de 1959. Nenhum de nós nunca fez a peregrina ideia de que, depois de meio século, que passou voando, estaríamos lembrando-o como se fosse ontem.
Na reunião na usina açucareira "Oriente", em 28 de dezembro de 1958, com o comandante-em-chefe das forças inimigas, cujas unidades elites foram cercadas e ficaram sem nenhuma saída, ele reconheceu a sua derrota e fez um apelo a nossa generosidade para encontrar uma saída decorosa para o resto de suas forças. Sabia do nosso tratamento humano aos prisioneiros e feridos sem exceção alguma. Aceitou o acordo que lhe propus, embora o advertisse que as operações em andamento continuariam. Mas viajou para a capital e, instigado pela embaixada dos Estados Unidos, promoveu um golpe de Estado.
Nós preparávamo-nos para os combates desse dia, 1º de janeiro, quando na madrugada chegou a notícia sobre a fuga do tirano. O Exército Rebelde recebeu ordens de não admitir o cessar-fogo e continuar os combates em todos os fronts. Através da Rádio Rebelde, foram convocados os trabalhadores para uma Greve Geral Revolucionária, apoiada imediatamente por toda a nação. A tentativa golpista foi derrotada e nesse mesmo dia, à tarde, as nossas tropas vitoriosas entraram em Santiago de Cuba.
O Che e Camilo receberam instruções de avançarem rapidamente pela estrada, em veículos motorizados com suas aguerridas forças, para La Cabaña e para o Acampamento Militar de Columbia. O exército adversário, atingido em todos os fronts, não podia resistir. O povo revoltado ocupou os centros de repressão e as delegacias. No dia 2, à tarde, acompanhado de uma pequena escolta, reuni-me num estádio de Bayamo com mais de dois mil soldados dos tanques, da artilharia e da infantaria motorizada, aos quais havíamos combatido até o dia anterior. Ainda portavam o seu armamento. Tínhamos ganhado o respeito do adversário com nossos audazes, mas humanitários métodos de guerra irregular. Assim, em apenas quatro dias — depois de 25 meses de guerra, que reiniciamos com alguns fuzis — ao redor de cem mil armas de ar, mar e terra e todo o poder do Estado ficaram nas mãos da Revolução. Em apenas poucas linhas relato o acontecido naqueles dias, há 51 anos.
Começou, então, a batalha principal: preservar a independência de Cuba face ao império mais poderoso que tenha existido, e que nosso povo travou com grande dignidade. Hoje, satisfaz-me ver aqueles que, por cima de incríveis obstáculos, sacrifícios e riscos, souberam defender nossa Pátria, e nestes dias, junto aos seus filhos, pais e entes mais queridos, desfrutam da alegria e das glórias de cada ano novo.
No entanto, os dias de hoje parecem-se em nada com os de ontem. Vivemos uma época nova que não se parece com nenhuma outra da história. Antes, os povos lutavam e lutam ainda com honra em prol de um mundo melhor e mais justo, mais hoje têm que lutar, além disso, e sem nenhuma alternativa, pela própria sobrevivência da espécie. Não sabemos absolutamente nada se ignoramos isso. Sem dúvida, Cuba é politicamente um dos países mais instruídos do planeta; partiu do mais vergonhoso analfabetismo, e o que é ainda pior: nossos amos ianques e a burguesia associada aos donos estrangeiros eram os proprietários das terras, usinas açucareiras, fábricas produtoras de bens de consumo, armazéns, comércios, eletricidade, telefones, bancos, minas, seguros, cais, bares, hotéis, escritórios, moradias, cinemas, impressoras, revistas, jornais, rádio, da nascente televisão e de tudo aquilo que tivesse um valor considerável.
Os ianques, apagadas as ardentes chamas de nossas batalhas pela liberdade, atribuíram-se o direito de pensarem por um povo que tanto lutou por ser dono de sua independência, de suas riquezas e de seu destino. Nada, nem sequer o direito de termos ideias políticas, nos pertencia. Quantos sabíamos ler e escrever? Quantos tínhamos atingido pelo menos a sexta série? Lembro-me disso especialmente um dia como hoje, porque esse era o país que supostamente pertencia aos cubanos. Não menciono outras coisas, porque teria que incluir muitas mais, entre elas, as melhores escolas, os melhores hospitais, as melhores casas, os melhores médicos, os melhores advogados. Quantos tínhamos direito a isso? Quem tinha, salvo alguns, o direito natural e divino de ser administrador e chefe?
Nenhum milionário ou pessoa rica, sem exceção, deixava de ser chefe de Partido, senador, representante ou funcionário importante. Essa era a democracia representativa e pura que imperava em nossa Pátria, a não ser que os ianques impusessem, à vontade, tiranos desumanos e cruéis quando mais convinha aos seus interesses para defenderem melhor suas propriedades perante camponeses sem terra e operários com ou sem emprego. Como já ninguém fala sequer disso, atrevo-me a lembrá-lo. Nosso país faz parte de mais de 150 que constituem o Terceiro Mundo, que serão os primeiros, porém não os únicos, a sofrerem as incríveis conseqüências, se a humanidade não toma consciência de maneira clara, certa e muito mais rápida do que imaginamos, da realidade e das conseqüências da mudança climática provocada pelo homem, se não se consegue impedi-la a tempo.
Nossos meios de comunicação social dedicaram espaços a descrever os efeitos da mudança climática. Os furacões de crescente intensidade, as secas e outras calamidades naturais, contribuíram também para a educação de nosso povo a respeito do assunto. Um fato singular, a batalha contra o problema climático travada na Cúpula de Copenhague, contribuiu para o conhecimento do iminente perigo. Não se trata de um risco em longo prazo, para o século 22, mas para o 21, nem tampouco é para a segunda metade deste século, mas para as próximas décadas, durante as quais já começaríamos a sofrer as terríveis conseqüências.
Também não se trata de uma simples ação contra o império e seus aliados, que nisto como em tudo, tentam impor seus estúpidos e egoístas interesses, mas de uma batalha de opinião mundial que não se pode deixar à espontaneidade nem ao arbítrio da maioria dos seus meios de comunicação. É uma situação, felizmente, conhecida por milhões de pessoas honradas e corajosas no mundo, uma batalha a travar com as massas e no seio das organizações sociais e instituições científicas, culturais, humanitárias e outras de caráter internacional, muito especialmente no seio das Nações Unidas, onde o governo dos Estados Unidos, seus aliados da OTAN e os países mais ricos tentaram desferir, na Dinamarca, um golpe fraudulento e antidemocrático no resto dos países emergentes e pobres do Terceiro Mundo.
Em Copenhague, a delegação cubana, que assistiu junto a outras da ALBA e do Terceiro Mundo, viu-se obrigada a travar uma grande luta diante dos incríveis fatos que aconteceram com o discurso do presidente ianque, Barack Obama, e do grupo de Estados mais ricos do planeta, determinados a desfazerem os compromissos vinculantes de Kyoto — onde há mais de 12 anos foi discutido o espinhoso problema — e a fazerem cair o peso dos sacrifícios sobre os países emergentes e os subdesenvolvidos, que são os mais pobres e, ao mesmo tempo, os principais fornecedores de matérias-primas e de recursos não-renováveis do planeta aos mais desenvolvidos e opulentos.
Em Copenhague, Obama participou no último dia da Conferência, iniciada em 7 de dezembro. O pior de sua conduta foi que, quando já tinha decidido enviar 30 mil soldados para a chacina do Afeganistão — um país de forte tradição independentista, ao qual nem sequer os ingleses durante seus melhores e mais cruéis tempos puderam submeter — foi a Oslo para receber nada menos que o Prêmio Nobel da Paz. Ele chegou à capital norueguesa em 10 de dezembro, onde proferiu um discurso vazio, demagógico e justificativo. No dia 18, que era a data da última sessão da Cúpula, apareceu em Copenhague, onde pensava permanecer inicialmente apenas oito horas. No dia anterior, chegaram a secretária de Estado e um grupo seleto de seus melhores estrategistas.
A primeira coisa que Obama fez foi selecionar um grupo de convidados que teve a honra de acompanhá-lo para proferir um discurso na Cúpula. O primeiro-ministro dinamarquês, que presidia a Cúpula, complacente e bajulador, deu a palavra ao grupo que apenas ultrapassava 15 pessoas. O chefe imperial merecia honras especiais. O seu discurso foi uma mistura de palavras adoçantes temperadas com gestos teatrais, que já cansam quem, como eu, se propus a tarefa de escutá-lo para tentar ser objetivo na apreciação de suas características e intenções políticas. Obama impôs ao seu dócil anfitrião dinamarquês que apenas seus convidados poderiam discursar, embora ele, assim que proferiu seu discurso, "saiu do fórum" pela porta traseira, como duende que foge de um auditório que lhe fez a honra de escutá-lo com interesse.
Após terminar a lista autorizada de oradores, um indígena aimara da gema, Evo Morales, presidente da Bolívia, que acabava de ser reeleito com 65% dos votos, exigiu o seu direito de discursar, concedido perante o aplauso da maioria dos assistentes. Em apenas nove minutos, exprimiu profundos e dignos conceitos respondendo às palavras do ausente presidente dos Estados Unidos. A seguir, Hugo Chávez pôs-se em pé e pediu a palavra em nome da República Bolivariana da Venezuela; quem presidia a sessão não teve outra opção que dar-lhe também a palavra, que Chávez utilizou para improvisar um dos mais brilhantes discursos que tenha escutado. Ao concluir, uma martelada pôs fim à insólita sessão.
No entanto, o ocupadíssimo Obama e seu séquito não tinham um minuto a perder. Seu grupo tinha elaborado um projeto de Declaração, cheio de ambiguidades, que era a negação do Protocolo de Kyoto. Após sair precipitadamente do plenário, reuniu-se com outros grupos de convidados que não chegavam a 30, negociou em privado e em grupo; insistiu, mencionou cifras milionárias de notas verdes sem respaldo em ouro, que constantemente são desvalorizadas e até ameaçou de abandonar a reunião se não aceitavam suas demandas. O pior foi que se tratou de uma reunião de países muito ricos, para a qual convidaram diversas das mais importantes nações emergentes e duas o três nações pobres, às quais submeteu o documento, como quem propõe: Pega ou larga!
Essa declaração confusa, ambígua e contraditória — de cuja discussão não participou para nada a Organização das Nações Unidas —, o primeiro-ministro dinamarquês tentou apresentá-la como Acordo da Cúpula. Já a Cúpula tinha concluído o seu período de sessões, quase todos os chefes de Estado, de Governo e ministros das Relações Exteriores haviam voltado aos seus respectivos países, e às 3h da madrugada, o distinto primeiro-ministro dinamarquês o apresentou ao plenário, onde centenas de sofridos funcionários, que fazia três dias não dormiam, receberam o embaraçoso documento, que deviam analisar em apenas uma hora e decidir sua aprovação.
Ali, a reunião tornou-se quente. Os delegados não tiveram tempo nem sequer de lê-lo. Alguns pediram a palavra. O primeiro foi o de Tuvalu, cujas ilhas teriam ficado sob as águas se tivesse sido aprovado esse documento; a seguir, falaram os delegados da Bolívia, da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua. O enfrentamento dialético às 3h da madrugada de 19 de dezembro é digno de passar à história, se a história durasse muito tempo, após a mudança climática.
Como em Cuba se sabe boa parte do acontecido, ou aparece nas páginas da web da internet, apenas me limitarei a expor em partes as duas contestações do chanceler cubano, Bruno Rodríguez, dignas de serem anotadas para conhecer os episódios finais da telenovela de Copenhague, e os elementos do último capítulo, que ainda não foram publicados em nosso país.
"Senhor presidente (primeiro-ministro da Dinamarca)... O documento que o senhor várias vezes afirmou que não existia, agora apareceu. Todos nós sabemos de versões que circulam de maneira sub-reptícia e que são discutidas em pequenas reuniões secretas, fora das salas em que a comunidade internacional, através de seus representantes, negocia de maneira transparente."
"Junto minha voz à dos representantes de Tuvalu, Venezuela e Bolívia. Cuba considera extremamente fraco e inadmissível o texto deste projeto apócrifo…"
"O documento que o senhor infelizmente apresenta não faz compromisso algum para reduzir as emissões de gases de efeito estufa."
"Conheço as versões anteriores que, através de procedimentos questionáveis e clandestinos, foram também negociadas em reuniões secretas que falavam, pelo menos, da redução de 50% para o ano 2050…"
"O documento que o senhor apresenta agora, omite, precisamente, as já magras e insuficientes frases chave que aquela versão continha. Este documento não garante, de maneira nenhuma, a adoção de medidas mínimas que permitam evitar uma gravíssima catástrofe para o planeta e para a espécie humana."
"Este documento vergonhoso que o senhor apresenta é também omisso e ambíguo quanto ao compromisso específico de redução de emissões de gases à atmosfera por parte dos países desenvolvidos, responsáveis pelo aquecimento global, devido ao nível histórico e atual de suas emissões, e aos quais cabe fazer reduções consideráveis de maneira imediata. Este documento não contém uma só palavra de compromisso por parte dos países desenvolvidos."
"… O seu texto, senhor presidente, é o atestado de óbito do Protocolo de Kyoto, que minha delegação não aceita."
"A delegação cubana deseja enfatizar a preeminência do princípio de ‘responsabilidades comuns, porém diferenciadas’, como conceito fundamental do processo futuro de negociações. O seu documento não diz uma só palavra a respeito disso."
"A delegação de Cuba reitera seu protesto pelas graves violações de procedimento ocorridas na condução antidemocrática do processo desta conferência, nomeadamente, mediante a utilização de formatos de debate e de negociação arbitrários, excludentes e discriminatórios…"
"Senhor presidente, solicito-lhe formalmente que esta declaração seja recolhida no relatório final sobre os trabalhos desta lamentável e vergonhosa 15ª Conferência das Partes."
O que ninguém pôde imaginar é que, depois de outro longo recesso e quando já todos pensavam que só faltavam os trâmites formais para concluir a Cúpula, o primeiro-ministro do país-sede, instigado pelos ianques, tentou novamente mostrar o documento como aprovado pela Cúpula, quando nem sequer ficavam chanceleres no plenário. Delegados da Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba, que permaneceram vigilantes até o último instante, frustraram a última manobra em Copenhague.
Contudo, o assunto não acabou. Os poderosos não se acostumam, nem admitem resistência. Em 30 de dezembro, a Missão Permanente da Dinamarca nas Nações Unidas, em Nova Iorque, informou cortesmente à nossa Missão nessa cidade que tinha feito apontamentos do Acordo de Copenhague, em 18 de dezembro de 2009, e juntava uma cópia adiantada dessa decisão. Afirmou textualmente: "… o governo da Dinamarca, como presidente da COP15, convida as Partes da Convenção a informarem, por escrito e o antes possível, à Secretaria da UNFCCC, a decisão de se associar ao Acordo de Copenhague."
Esta comunicação inesperada motivou a resposta da Missão Permanente de Cuba nas Nações Unidas, na qual "…rejeita taxativamente a intenção de fazer aprovar, por via indireta, um texto que foi alvo de repúdio por parte de várias delegações, não só pela mornidão diante das sérias consequências da mudança climática, mas também por responder exclusivamente aos interesses de um grupo reduzido de Estados."
Por sua vez, originou uma carta do vice-primeiro-ministro de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente da República de Cuba, Doutor Fernando González Bermúdez, para o secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Sr. Yvo de Boer, alguns de cujos parágrafos transcrevemos:
"Recebemos com surpresa e preocupação a nota enviada pelo governo da Dinamarca às Missões Permanentes dos Estados-Membros das Nações Unidas em Nova Iorque, fato que o senhor certamente conhece, por meio da qual as partes da Convenção Marco das Nações Unidas foram exortadas a informarem à Secretaria Executiva, por escrito e o mais rápido possível, a decisão de se associarem ao denominado Acordo de Copenhague."
"Vemos também com preocupação que o governo da Dinamarca comunica que a Secretaria Executiva da Convenção incluirá no relatório da Conferência das Partes realizada em Copenhague uma lista das Partes que teriam manifestado sua decisão de se associarem ao referido Acordo."
"Em opinião da República de Cuba, esta forma de agir constitui uma grosseira e reprovável violação do que foi decidido em Copenhague, onde as Partes, diante da evidente falta de consenso, se limitaram a fazer apontamentos desse documento."
"Nada do que foi acertado na 15ª Conferência autoriza o governo da Dinamarca a adotar esta ação e, ainda menos, a Secretaria Executiva a incluir no relatório final uma lista das Partes, para o qual não tem mandato."
"Devo comunicar-lhe que o governo da República de Cuba rejeita firmemente esta nova tentativa de legitimar, por via indireta, um documento espúrio e reiterar-lhe que esta forma de agir compromete o resultado das futuras negociações, estabelece um perigoso precedente para os trabalhos da Convenção e prejudica, em particular, o espírito de boa fé com que as delegações deverão prosseguir o processo de negociações no ano próximo", concluiu o vice-primeiro-ministro de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba.
Muitos têm certeza, particularmente os movimentos sociais e as pessoas melhor informadas das instituições humanitárias, culturais e científicas, de que o documento promovido pelos Estados Unidos constitui um retrocesso das posições alcançadas por aqueles que fazem o maior esforço para evitar uma catástrofe colossal para nossa espécie. Seria em vão repetir aqui cifras e fatos que demonstram matematicamente isso. Os dados aparecem nas páginas da web da internet e estão ao alcance de um número crescente de pessoas que interessadas no tema.
A teoria com que é defendida a adesão ao documento é fraca e representa um retrocesso. Invoca-se a ideia enganosa de que os países ricos contribuiriam com uma mísera quantia de US$30 bilhões em três anos para os países pobres a fim de financiar as despesas do enfrentamento à mudança climática, cifra que poderia aumentar para 100 mil a cada ano em 2020, o que neste gravíssimo problema, equivale a esperar para as calendas gregas. Os especialistas sabem que essas cifras são ridículas e inaceitáveis pelo volume de investimentos de que se precisa. A origem de tais somas é incerta e confusa, por conseguinte elas não comprometem ninguém.
Qual é o valor de um dólar? O que significam US$30 bilhões? Todo mundo sabe que, desde Bretton Woods, em 1944, até a ordem presidencial de Nixon em 1971 — dada para deixar cair sobre a economia mundial a despesa do genocídio contra o Vietnã —, o valor de um dólar, em ouro, foi se reduzindo até ser hoje aproximadamente 32 vezes menor que o daquela data; US$30 bilhões significam menos de um bilhão, e 100 mil divididos por 32, equivalem a 3.125, que hoje não dão nem para construir uma refinaria de petróleo de capacidade média.
Se os países industrializados cumprissem alguma vez a promessa de contribuir para os que estão em vias de desenvolvimento com 0,7% do PIB — o qual, exceto poucas vezes, nunca fizeram―, a cifra ultrapassaria US$250 bilhões a cada ano.
Para salvar os bancos, o governo dos Estados Unidos gastou US$800 bilhões. Quanto estaria disposto a gastar para salvar os
9 bilhões de pessoas que habitarão o planeta em 2050, se antes não ocorrem grandes secas e inundações provocadas pelo mar, devido ao degelo de calotas polares, e pelos grandes volumes de águas gélidas da Groenlândia e da Antártida?
Não nos deixemos enganar. O que os Estados Unidos queriam conseguir com suas manobras em Copenhague é dividir o Terceiro Mundo, afastar mais de 150 países subdesenvolvidos da China, da Índia, do Brasil, da África do Sul e de outros, com os quais devemos lutar juntos para defendermos, em Bonn, no México ou em qualquer outra conferência internacional, junto às organizações sociais, científicas e humanitárias, verdadeiros Acordos que beneficiem todos os países e preservem a humanidade de uma catástrofe que pode conduzir à extinção de nossa espécie.
O mundo possui cada vez mais informação, mas os políticos têm cada vez menos tempo para pensarem.
As nações ricas e seus líderes, incluído o Congresso dos Estados Unidos, parecem estar discutindo quem será o último a desaparecer.
Quando Obama terminar as 28 festas com que se propôs celebrar este Natal, se entre elas estiver incluída a dos Reis Magos, talvez Gaspar, Belquior e Baltazar lhe aconselhem o que deve fazer.
Gostaria pedir desculpas por me alongar. Não quis dividir em duas partes esta Reflexão. Peço desculpas aos pacientes leitores.
Fidel Castro Ruz
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Resgatando nossa historia....
O bicentenário que não teremos
Emir Sader
2010
comemora o bicentenário das revoluções de independência na América
Latina, que permitiram, em uma impressionante sucessão de movimentos,
que a quase totalidade dos países do continente expulsasse os
colonizadores ibéricos e decretasse sua independência política. Esses
movimentos começaram em 1810 e se estenderam até 1822 – data do fim da
colônia no Brasil -, só não conseguindo se estender a Cuba e Porto Rico
que, não conseguindo conquistar sua independência no começo do século
XIX, tiveram que enfrentar já não mais a combalida Espanha, mas ao já
nascente império norteamericano, ficando amputados em sua
independência, submetidos à condição de neocolônias dos EUA.
De tal forma foram importantes as revoluções de independência, que Cuba se tornou um país socialista, Porto Rico, quase uma estrela mais na bandeira dos EUA e o Brasil, o país mais desigual do continente mais desigual do mundo.
Os outros países – a maioria – protagonizaram revoluções de independência, que expulsaram os espanhóis, caracterizando o período colonial que se terminava, como uma invasão e saqueio dos nossos países, além do massacre dos povos indígenas e da escravidão. Essas revoluções foram feitas em coordenação por vários exércitos, liderados pelos próceres da independência de vários deles, entre outros Bolívar, San Martin, O´Higgins, Artigas, Sucre, que constituiram uma força latinoamericana contra o inimigo comum: o Exército espanhol. Ficava caracterizado assim que todos haviam sido explorados por um mesmo inimigo e que lutavam juntos contra ele. Por outro lado, no mesmo momento da independência, se instalavam repúblicas e se terminava com a escravidão. São essas revoluções de independência que são comemorados a partir deste ano em quase toda América Latina.
Essas independência foram possíveis também pela influência das revoluções americana e francesa, assim como enfraquecimento da coroa espanhola, pela invasão napoleônica, a que resistiram, mas terminaram derrotadas. Ao contrário, a coroa portuguesa não resistiu, entregou Portugal às tropas napoleônicas, e fugiu para o Brasil.
Chegando aqui, aparentemente tomou medidas liberais. Porém se não abrisse os portos “às nações amigas”, ficaria totalmente isolada do mundo, porque Portugal estava invadido. Além disso, brecou a possibilidade de que tivéssemos uma guerra de independência, expulsando a coroa portuguesa do Brasil, ao promover o primeiro grande pacto de elite da nossa história, ao colocar a coroa na cabeça do seu filho. Assim, ao invés de passarmos de colônia a república, passamos a monarquia, vinculada estreitamente à coroa portuguesa. Isto, mediante uma frase altamente ofensiva para nós, mas que repetimos tanto nas escolas: “Meu filho, ponha a coroa em tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça.” Os aventureiros éramos nós, brasileiros, fazia para que não surgisse um novo Tiradentes ou lideres como Boliviar, San Marti, Artigas, Sucre.
Pior ainda, não se terminou a escravidão, fazendo com fôssemos o país que mais tarde terminou com isso, deixando marcas muito mais profundas na nossa história. Durante quatro séculos trabalho foi atividade de “negros”, considerados raça inferior e tratados como escravos.
Nas décadas transcorridas entre o começo e o fim do século, foi promulgada a Lei de Terras, que legalizou a posse de todas as terras griladas pelos latifundiários. Assim, quando passaram a ser homens “livres”, os negros já não tinham possibilidade de acesso à terra. O negro se consolidou automaticamente como pobre. A questão colonial se desdobrou na questão negra e esta na questão fundiária, com a consolidação do poder dos grandes proprietários rurais, que tanto condicionou a formação da sociedade brasileira contemporânea, incluindo o poder do latifúndio e suas conseqüências, como a da não realização da reforma agrária, o êxodo para as cidades e a criação de grande quantidade de mega-metropolis urbanas, enquanto não produzimos os alimentos que necessitamos para a autosuficiencia alimentícia.
Em 2022 comemoraremos o bicentenário de um pacto de elite, que nos impediu de termos expulsado os colonizadores, terminado com a escravidão e passado de colônia a república.
De tal forma foram importantes as revoluções de independência, que Cuba se tornou um país socialista, Porto Rico, quase uma estrela mais na bandeira dos EUA e o Brasil, o país mais desigual do continente mais desigual do mundo.
Os outros países – a maioria – protagonizaram revoluções de independência, que expulsaram os espanhóis, caracterizando o período colonial que se terminava, como uma invasão e saqueio dos nossos países, além do massacre dos povos indígenas e da escravidão. Essas revoluções foram feitas em coordenação por vários exércitos, liderados pelos próceres da independência de vários deles, entre outros Bolívar, San Martin, O´Higgins, Artigas, Sucre, que constituiram uma força latinoamericana contra o inimigo comum: o Exército espanhol. Ficava caracterizado assim que todos haviam sido explorados por um mesmo inimigo e que lutavam juntos contra ele. Por outro lado, no mesmo momento da independência, se instalavam repúblicas e se terminava com a escravidão. São essas revoluções de independência que são comemorados a partir deste ano em quase toda América Latina.
Essas independência foram possíveis também pela influência das revoluções americana e francesa, assim como enfraquecimento da coroa espanhola, pela invasão napoleônica, a que resistiram, mas terminaram derrotadas. Ao contrário, a coroa portuguesa não resistiu, entregou Portugal às tropas napoleônicas, e fugiu para o Brasil.
Chegando aqui, aparentemente tomou medidas liberais. Porém se não abrisse os portos “às nações amigas”, ficaria totalmente isolada do mundo, porque Portugal estava invadido. Além disso, brecou a possibilidade de que tivéssemos uma guerra de independência, expulsando a coroa portuguesa do Brasil, ao promover o primeiro grande pacto de elite da nossa história, ao colocar a coroa na cabeça do seu filho. Assim, ao invés de passarmos de colônia a república, passamos a monarquia, vinculada estreitamente à coroa portuguesa. Isto, mediante uma frase altamente ofensiva para nós, mas que repetimos tanto nas escolas: “Meu filho, ponha a coroa em tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça.” Os aventureiros éramos nós, brasileiros, fazia para que não surgisse um novo Tiradentes ou lideres como Boliviar, San Marti, Artigas, Sucre.
Pior ainda, não se terminou a escravidão, fazendo com fôssemos o país que mais tarde terminou com isso, deixando marcas muito mais profundas na nossa história. Durante quatro séculos trabalho foi atividade de “negros”, considerados raça inferior e tratados como escravos.
Nas décadas transcorridas entre o começo e o fim do século, foi promulgada a Lei de Terras, que legalizou a posse de todas as terras griladas pelos latifundiários. Assim, quando passaram a ser homens “livres”, os negros já não tinham possibilidade de acesso à terra. O negro se consolidou automaticamente como pobre. A questão colonial se desdobrou na questão negra e esta na questão fundiária, com a consolidação do poder dos grandes proprietários rurais, que tanto condicionou a formação da sociedade brasileira contemporânea, incluindo o poder do latifúndio e suas conseqüências, como a da não realização da reforma agrária, o êxodo para as cidades e a criação de grande quantidade de mega-metropolis urbanas, enquanto não produzimos os alimentos que necessitamos para a autosuficiencia alimentícia.
Em 2022 comemoraremos o bicentenário de um pacto de elite, que nos impediu de termos expulsado os colonizadores, terminado com a escravidão e passado de colônia a república.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Uma Revolução Orgânica
Para ganhar mercado, é preciso derrubar mitos como o do preço mais alto
Por Luiz Augusto Gollo
A
engenheira agrônoma Lúcia Helena Almeida, da Associação de Agricultores
Biológicos do Rio de Janeiro (Abio) – uma das instituições
certificadoras de produtos orgânicos mais antigas do país e com atuação
em vários estados –, afirma que que não existe tradição de organização
entre os agricultores fluminenses e que, por isso eles acabam nas mãos
de intermediários, o que encarece a produção.
“Mas nem sempre o intermediário é o vilão; muitas vezes é o parceiro que embala e transporta o produto, e até criando sua embalagem – o que o produtor não faz”, ressalva.
“Mas nem sempre o intermediário é o vilão; muitas vezes é o parceiro que embala e transporta o produto, e até criando sua embalagem – o que o produtor não faz”, ressalva.
Parcela crescente da produção orgânica chega
às prateleiras de supermercados graças a um esforço empresarial de
sucesso, mas também se presta à manutenção do mito “produto orgânico é
caro”. Praticamente todas as pessoas ouvidas pela reportagem da Agência
Brasil disseram que é um mito que interessa ao comércio convencional
para aumentar o preço de uma mercadoria que não custa necessariamente
mais para ele.
“Os produtos orgânicos enfrentam também um problema sério de logística, da saída do produtor até a chegada ao mercado. Como não têm aditivos, agrotóxicos, conservantes e, no caso dos animais, hormônios, não têm nem aquela aparência artificial, nem a resistência, também artificial”, explica o porta-voz da Feira da Glória, Renato Martelleto.
A realidade da produção orgânica do estado do Rio de Janeiro é frágil como a de outros mercados, com exceção de centros mais organizados, como o Paraná. Ainda assim, incentivados pelas instâncias governamentais e instituições privadas, produtores orgânicos buscam uma relação econômica mais adulta e madura. Afinal, segundo estimativas da Fundação Agricultura e Ecologia da Alemanha, o mercado brasileiro movimenta em torno de US$ 200 milhões por ano com orgânicos, também responsáveis pelo ingresso de US$ 30 milhões anuais em exportações.
A expansão desse mercado despertou a atenção das autoridades federais há mais de uma década, e desde então tem havido esforços para o desenvolvimento mais acelerado do setor. Historicamente, a produção de orgânicos no Brasil está concentrada em pequenas propriedades no cinturão verde dos centros de consumo, muitas, de uns tempos para cá, rotuladas como de agricultura familiar, o que facilita o acesso a linhas de créditos e benefícios próprios.
Verduras, legumes, carnes e demais orgânicos produzidos em tais propriedade são comercializados em feiras nas imediações, a preços competitivos com os dos produtos convencionais disponíveis no comércio formal da região, sobretudo hortaliças rapidamente perecíveis. Essa realidade é determinante para a derrubada do mito sustentado tacitamente pelo comércio convencional.
“Não somos um nicho de mercado e, por isso, vamos lutar pela universalização do consumo de orgânicos”, afirma o chefe da Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias. Ele faz questão de desfazer o caráter artesanal que a maior parte do público consumidor atribui aos orgânicos: “Agricultura orgânica é muito mais tecnológica do que a convencional.”
Para o leigo, que pode achar estranha ou curiosa a afirmação, o agrônomo lembra que a agricultura convencional emprega agrotóxicos, conservantes, estabilizantes e outras substâncias químicas de baixo custo relativo, enquanto a orgânica requer busca incessante de tecnologias naturais alternativas para livrar seus produtos das pragas, doenças e outros prejuízos.
Segundo Hélder Carvalho, representante de vinhos, azeites e vinagres orgânicos em feiras cariocas, para prevenir e combater insetos que atacam as plantações,os agricultores recorrem a gansos e galinhas d'angola, que se alimentam deles. Ele ressalta que as galinhas d'angola “comem [os insetos] mas não ciscam e, por isso, não desenterram as sementes e plantas das covas”.
“Outros cuidados bem característicos do cultivo de orgânicos são os saquinhos de papel envolvendo as frutas ainda no pé”, acrescenta, citando goiabas e figos como frutas protegidas de pássaros e morcegos. “Isso pode encarecer os produtos, em comparação com os convencionais, mas não chega a ser uma diferença alarmante. Quem procura qualidade e sabor natural, prefere o produto orgânico. Até o café orgânico tem outro gosto.”
Na questão do paladar, uma das maiores defensoras dos produtos orgânicos é Maria Beatriz Dal Ponte, gerente do Centro de Gastronomia do Serviço Nacional da Aprendizagem Comercial (Senac) do Rio de Janeiro. Formada em letras e pós-graduada em administração, ela começou a se interessar pelos orgânicos há nove anos, tendo criado os três filhos com a produção da chácara familiar, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
“As pessoas se equivocam na leitura da realidade. É preciso respeitar o ciclo da natureza. A produção e o consumo de orgânicos são o resgate de uma prática antiga da história da humanidade. E hoje os orgânicos são usados pelos chefs no mundo inteiro, o que mostra a tendência de ver a questão como de saúde, e não como coisa de alguma seita”, enfatiza Beatriz. Ela destaca ainda o mito da difícil aceitação, com a autoridade de quem abriu uma escola de gastronomia no Sul com a chancela do Instituto de Culinária Italiana para Estrangeiros.
Psicóloga e educadora, Míriam Langenbach, pratica desde 2001, no Rio de Janeiro e em algumas cidades vizinhas, o associativismo para a compra de produtos orgânicos. Na rede ecológica dirigida em colegiado por cerca de 30 pessoas, há 200 consumidores inscritos para receber em seu bairro produtos encomendados semanal ou quinzenalmente, dependendo do tamanho do grupo.
“É uma maneira prática e fácil de manter a alimentação sem precisar pesquisar e procurar aqui e ali. Nós fazemos as compras e entregamos em espaços públicos nos bairros, em dia e hora combinados. Pode ser por semana, ou por quinzena. Atendemos de Santa Teresa [bairro da capital fluminense] a Seropédica e Niterói [municípios do estado do Rio] ”, disse Míriam, que mantém na rede um nível básico de profissionalismo para encomendas, entregas e administração financeira. “Na base do voluntariado só, não dá.”
Em outra vertente, Fábio Seixas Guimarães também defende a produção orgânica e mais ainda: o aproveitamento integral dos alimentos. Na organização não governamental (ONG) Comendo de Tudo... um Pouco, ele propõe receitas que incluem cascas de ovos e de banana, talos de couve, folhas de couve-flor e de brócolis e outras habitualmente desprezadas pela culinária convencional.
“É preciso fazer a junção do orgânico com o aproveitamento integral. Afinal, não podemos defender o uso culinário da casca de banana cultivada com agrotóxico, não é mesmo?”, pergunta Fábio, cuja ONG distribui kits sobre aproveitamento integral em escolas, associações, clubes e outros lugares do Rio.
“Os produtos orgânicos enfrentam também um problema sério de logística, da saída do produtor até a chegada ao mercado. Como não têm aditivos, agrotóxicos, conservantes e, no caso dos animais, hormônios, não têm nem aquela aparência artificial, nem a resistência, também artificial”, explica o porta-voz da Feira da Glória, Renato Martelleto.
A realidade da produção orgânica do estado do Rio de Janeiro é frágil como a de outros mercados, com exceção de centros mais organizados, como o Paraná. Ainda assim, incentivados pelas instâncias governamentais e instituições privadas, produtores orgânicos buscam uma relação econômica mais adulta e madura. Afinal, segundo estimativas da Fundação Agricultura e Ecologia da Alemanha, o mercado brasileiro movimenta em torno de US$ 200 milhões por ano com orgânicos, também responsáveis pelo ingresso de US$ 30 milhões anuais em exportações.
A expansão desse mercado despertou a atenção das autoridades federais há mais de uma década, e desde então tem havido esforços para o desenvolvimento mais acelerado do setor. Historicamente, a produção de orgânicos no Brasil está concentrada em pequenas propriedades no cinturão verde dos centros de consumo, muitas, de uns tempos para cá, rotuladas como de agricultura familiar, o que facilita o acesso a linhas de créditos e benefícios próprios.
Verduras, legumes, carnes e demais orgânicos produzidos em tais propriedade são comercializados em feiras nas imediações, a preços competitivos com os dos produtos convencionais disponíveis no comércio formal da região, sobretudo hortaliças rapidamente perecíveis. Essa realidade é determinante para a derrubada do mito sustentado tacitamente pelo comércio convencional.
“Não somos um nicho de mercado e, por isso, vamos lutar pela universalização do consumo de orgânicos”, afirma o chefe da Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias. Ele faz questão de desfazer o caráter artesanal que a maior parte do público consumidor atribui aos orgânicos: “Agricultura orgânica é muito mais tecnológica do que a convencional.”
Para o leigo, que pode achar estranha ou curiosa a afirmação, o agrônomo lembra que a agricultura convencional emprega agrotóxicos, conservantes, estabilizantes e outras substâncias químicas de baixo custo relativo, enquanto a orgânica requer busca incessante de tecnologias naturais alternativas para livrar seus produtos das pragas, doenças e outros prejuízos.
Segundo Hélder Carvalho, representante de vinhos, azeites e vinagres orgânicos em feiras cariocas, para prevenir e combater insetos que atacam as plantações,os agricultores recorrem a gansos e galinhas d'angola, que se alimentam deles. Ele ressalta que as galinhas d'angola “comem [os insetos] mas não ciscam e, por isso, não desenterram as sementes e plantas das covas”.
“Outros cuidados bem característicos do cultivo de orgânicos são os saquinhos de papel envolvendo as frutas ainda no pé”, acrescenta, citando goiabas e figos como frutas protegidas de pássaros e morcegos. “Isso pode encarecer os produtos, em comparação com os convencionais, mas não chega a ser uma diferença alarmante. Quem procura qualidade e sabor natural, prefere o produto orgânico. Até o café orgânico tem outro gosto.”
Na questão do paladar, uma das maiores defensoras dos produtos orgânicos é Maria Beatriz Dal Ponte, gerente do Centro de Gastronomia do Serviço Nacional da Aprendizagem Comercial (Senac) do Rio de Janeiro. Formada em letras e pós-graduada em administração, ela começou a se interessar pelos orgânicos há nove anos, tendo criado os três filhos com a produção da chácara familiar, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
“As pessoas se equivocam na leitura da realidade. É preciso respeitar o ciclo da natureza. A produção e o consumo de orgânicos são o resgate de uma prática antiga da história da humanidade. E hoje os orgânicos são usados pelos chefs no mundo inteiro, o que mostra a tendência de ver a questão como de saúde, e não como coisa de alguma seita”, enfatiza Beatriz. Ela destaca ainda o mito da difícil aceitação, com a autoridade de quem abriu uma escola de gastronomia no Sul com a chancela do Instituto de Culinária Italiana para Estrangeiros.
Psicóloga e educadora, Míriam Langenbach, pratica desde 2001, no Rio de Janeiro e em algumas cidades vizinhas, o associativismo para a compra de produtos orgânicos. Na rede ecológica dirigida em colegiado por cerca de 30 pessoas, há 200 consumidores inscritos para receber em seu bairro produtos encomendados semanal ou quinzenalmente, dependendo do tamanho do grupo.
“É uma maneira prática e fácil de manter a alimentação sem precisar pesquisar e procurar aqui e ali. Nós fazemos as compras e entregamos em espaços públicos nos bairros, em dia e hora combinados. Pode ser por semana, ou por quinzena. Atendemos de Santa Teresa [bairro da capital fluminense] a Seropédica e Niterói [municípios do estado do Rio] ”, disse Míriam, que mantém na rede um nível básico de profissionalismo para encomendas, entregas e administração financeira. “Na base do voluntariado só, não dá.”
Em outra vertente, Fábio Seixas Guimarães também defende a produção orgânica e mais ainda: o aproveitamento integral dos alimentos. Na organização não governamental (ONG) Comendo de Tudo... um Pouco, ele propõe receitas que incluem cascas de ovos e de banana, talos de couve, folhas de couve-flor e de brócolis e outras habitualmente desprezadas pela culinária convencional.
“É preciso fazer a junção do orgânico com o aproveitamento integral. Afinal, não podemos defender o uso culinário da casca de banana cultivada com agrotóxico, não é mesmo?”, pergunta Fábio, cuja ONG distribui kits sobre aproveitamento integral em escolas, associações, clubes e outros lugares do Rio.
O império estremece.....
SUCRE – Outra estocada no dólar
Hedelberto López Blanch* - www.odiario.info
Grão a grão, multiplicam-se os sinais da irreversível decadência do centro do império.
Hedelberto López, num curto texto, fala-nos de como o início do percurso de uma nova moeda a criar pelos países da ALBA se soma às decisões que constroem a derrocada do dólar como moeda-padrão internacional
Os Chefes de Estado e de Governo participantes na VII Cimeira da
Aliança Bolivariana para os povos da Nossa América (ALBA) tomaram a
decisão de implementar o Sistema Único de Compensação Regional (SUCRE)
para o intercâmbio comercial entre os seus países, que entrará em vigor
no princípio de 2010.
A futura integração monetária que contará com reservas no Banco da ALBA permitirá a protecção contra as crises económicas dos nove Estados membros, e transformam os seus países em territórios sem dependências das agressivas políticas implementadas por organismos financeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), além de os afastar da hegemonia do dólar.
Pertencem à ALBA a Venezuela e Cuba (fundadores), a Bolívia, a Nicarágua,a Dominica, as Honduras, o Equador, S. Vicente e as Granadinas, Antigua e Barbudas, mas esta nova iniciativa está aberta a outros Estados membros da América Latina e do Caribe.
Os retoques finais para a entrada em vigor do SUCRE foram tomados numa reunião ainda em Novembro., quando os seus membros analisaram e puseram em marcha as suas quatro estruturas: o Conselho Monetário Regional, uma Unidade Monetária Comum que funcionará como moeda virtual com a perspectiva de se converter em moeda física; uma Câmara Central de Compensação e um Fundo de Reserva e Compensação Regional.
O SUCRE regulará as compras e vendas entre os Estados, e prevê-se para um futuro próximo que circule como moeda real, tal como fez o euro.Na reunião de Novembro definiu-se, entre outros aspectos, até onve vai a sua aplicação em todo o comércio entre as nações e a quanto equivale o SUCRE na moeda de cada país.
O sistema de pagamentos será principalmente aplicado através do Tratado de Comércio entre os Povos (TCP) que os países aprovaram na Aliança, e o apoio a essa unidade será através dos depósitos em dinheiro e nas suas moedas que os países farão no Banco da ALBA.
A utilização do SUCRE nas grandes transacções dos seus membros, limitará a utilização do dólar nas operações, o que permitirá promover ainda mais o comércio na região e gerará um crescimento económico importante nos países da ALBA.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos converteu-se em potência global e com o acordos assinados em Bretton Woods, em 1944, conseguiu que o dólar se estabelecesse como divisa de reserva na orbe, com o valor garantido pelas suas grandes acumulações de ouro.
Apesar disso, na década de 1970, Washington conseguiu um acordo com a OPEP para que as vendas de petróleo fossem em dólares, e nessa altura desligou o valor do dólar das suas reservas de ouro. Dessa forma, começou a imprimir moeda e inundou o mundo com os seus papéis, sem que estes tenha um valor real com as riquezas do país emissor.
«Ao suspender a conversão, o dólar passou a ser uma divisa que podia ser impressa põe decisão do governo estadunidense, sem o apoio de um valor constante», afirmou numa recente reflexão o líder cubano Fidel Castro.
Esta foi a principal motivação para que os credores estrangeiros procurem alternativas à dívida estadunidense que compraram e na qual têm as suas reservas.
Nessa corrida para se desfazerem dos dólares sem que este se desvalorize abruptamente antes que se tenham desfeito deles, têm estado envolvidos vários países.
Em 2003, a Síria começou a trocar as suas reservas por euros; o Banco Central dos Emiratos Árabes Unidos converteu em euros 10% das suas reservas em solares; A Venezuela seguiu o mesmo caminho e procurou moedas mais seguras como euros e yuans chineses; a Suécia diminuiu as suas reservas em dólares em mais de 20% e elevou para 50% as acumuladas em euros; o Banco Central da Rússia já tem a maior parte das suas reservas em euros.
O Irão abriu em 2005 uma bolsa de venda de petróleo em euros na ilha de Kish, no Golfo Pérsico, que foi um dos primeiros golpes no dólar, o que provocou um aumento do ódio dos Estados Unidos para com aquela nação.
Nesse mesmo sentido, a China e o Brasil subscreveram um acordo para utilizar o real e o yuan nas suas transacções, que este ano atingiram o montante de 40.000 milhões de dólares.
A China e a Argentina fizeram o mesmo em trocas que atingem os 20.000 milhões de dólares. Pequim assinou acordos idênticos com a Coreia do Sul, a Malásia, a Bielo-Rússia e a Indonésia.
A Organização de Cooperação de Xangai (OVS) – China, Rússia, Uzbequistão, Kyrgistão, Tajiquistão, Kazaquistão está a pressionar os seus países-membros a fazerem o comércio nas suas moedas nacionais ou com uma futura divisa supranacional e prescindirem do dólar.
Enquanto o poderoso grupo de economias emergentes conhecido como BRIC ( Brasil, Rússia, Índia e China) declararam num encontro recente que se torna «muito necessário ter um sistema internacional de divisas estável e diversificado».
Os paíse da ASEAN (Brunei, Birmânia, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname) poderão no futuro realizar acordos em yuansem vez de dólares, segundo um programa piloto ensaiado primeiro por Pequim primeiramente com Hong-Kong e Indonésia.
A hegemonia do dólar, como dono e senhor das transacções comerciais internacionais está a perder importância e dentro de pouco tempo deixará de ser a principal moeda de reserva mundial. Nesta inegável realidade, o SUCRE também pôs o seu grãozinho de areia na engrenagem.
* Jornalista cubano especializado em assuntos internacionais.
Este texto foi originalmente publicado em:
www.alternativabolivariana.org
A futura integração monetária que contará com reservas no Banco da ALBA permitirá a protecção contra as crises económicas dos nove Estados membros, e transformam os seus países em territórios sem dependências das agressivas políticas implementadas por organismos financeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), além de os afastar da hegemonia do dólar.
Pertencem à ALBA a Venezuela e Cuba (fundadores), a Bolívia, a Nicarágua,a Dominica, as Honduras, o Equador, S. Vicente e as Granadinas, Antigua e Barbudas, mas esta nova iniciativa está aberta a outros Estados membros da América Latina e do Caribe.
Os retoques finais para a entrada em vigor do SUCRE foram tomados numa reunião ainda em Novembro., quando os seus membros analisaram e puseram em marcha as suas quatro estruturas: o Conselho Monetário Regional, uma Unidade Monetária Comum que funcionará como moeda virtual com a perspectiva de se converter em moeda física; uma Câmara Central de Compensação e um Fundo de Reserva e Compensação Regional.
O SUCRE regulará as compras e vendas entre os Estados, e prevê-se para um futuro próximo que circule como moeda real, tal como fez o euro.Na reunião de Novembro definiu-se, entre outros aspectos, até onve vai a sua aplicação em todo o comércio entre as nações e a quanto equivale o SUCRE na moeda de cada país.
O sistema de pagamentos será principalmente aplicado através do Tratado de Comércio entre os Povos (TCP) que os países aprovaram na Aliança, e o apoio a essa unidade será através dos depósitos em dinheiro e nas suas moedas que os países farão no Banco da ALBA.
A utilização do SUCRE nas grandes transacções dos seus membros, limitará a utilização do dólar nas operações, o que permitirá promover ainda mais o comércio na região e gerará um crescimento económico importante nos países da ALBA.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos converteu-se em potência global e com o acordos assinados em Bretton Woods, em 1944, conseguiu que o dólar se estabelecesse como divisa de reserva na orbe, com o valor garantido pelas suas grandes acumulações de ouro.
Apesar disso, na década de 1970, Washington conseguiu um acordo com a OPEP para que as vendas de petróleo fossem em dólares, e nessa altura desligou o valor do dólar das suas reservas de ouro. Dessa forma, começou a imprimir moeda e inundou o mundo com os seus papéis, sem que estes tenha um valor real com as riquezas do país emissor.
«Ao suspender a conversão, o dólar passou a ser uma divisa que podia ser impressa põe decisão do governo estadunidense, sem o apoio de um valor constante», afirmou numa recente reflexão o líder cubano Fidel Castro.
Esta foi a principal motivação para que os credores estrangeiros procurem alternativas à dívida estadunidense que compraram e na qual têm as suas reservas.
Nessa corrida para se desfazerem dos dólares sem que este se desvalorize abruptamente antes que se tenham desfeito deles, têm estado envolvidos vários países.
Em 2003, a Síria começou a trocar as suas reservas por euros; o Banco Central dos Emiratos Árabes Unidos converteu em euros 10% das suas reservas em solares; A Venezuela seguiu o mesmo caminho e procurou moedas mais seguras como euros e yuans chineses; a Suécia diminuiu as suas reservas em dólares em mais de 20% e elevou para 50% as acumuladas em euros; o Banco Central da Rússia já tem a maior parte das suas reservas em euros.
O Irão abriu em 2005 uma bolsa de venda de petróleo em euros na ilha de Kish, no Golfo Pérsico, que foi um dos primeiros golpes no dólar, o que provocou um aumento do ódio dos Estados Unidos para com aquela nação.
Nesse mesmo sentido, a China e o Brasil subscreveram um acordo para utilizar o real e o yuan nas suas transacções, que este ano atingiram o montante de 40.000 milhões de dólares.
A China e a Argentina fizeram o mesmo em trocas que atingem os 20.000 milhões de dólares. Pequim assinou acordos idênticos com a Coreia do Sul, a Malásia, a Bielo-Rússia e a Indonésia.
A Organização de Cooperação de Xangai (OVS) – China, Rússia, Uzbequistão, Kyrgistão, Tajiquistão, Kazaquistão está a pressionar os seus países-membros a fazerem o comércio nas suas moedas nacionais ou com uma futura divisa supranacional e prescindirem do dólar.
Enquanto o poderoso grupo de economias emergentes conhecido como BRIC ( Brasil, Rússia, Índia e China) declararam num encontro recente que se torna «muito necessário ter um sistema internacional de divisas estável e diversificado».
Os paíse da ASEAN (Brunei, Birmânia, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname) poderão no futuro realizar acordos em yuansem vez de dólares, segundo um programa piloto ensaiado primeiro por Pequim primeiramente com Hong-Kong e Indonésia.
A hegemonia do dólar, como dono e senhor das transacções comerciais internacionais está a perder importância e dentro de pouco tempo deixará de ser a principal moeda de reserva mundial. Nesta inegável realidade, o SUCRE também pôs o seu grãozinho de areia na engrenagem.
* Jornalista cubano especializado em assuntos internacionais.
Este texto foi originalmente publicado em:
www.alternativabolivariana.org
domingo, 3 de janeiro de 2010
A Revolução Verde no Irã...
Irã: A Verdade e a Histeria
A
Revolução Verde falhou na República Islâmica do Irã. Por uma razão
muito boa: ela foi coordenada a partir do exterior, por dissidentes
iranianos de famílias abastadas, e concentrada nas classes abastadas
nos bairros abastados nas principais cidades. O povo está maciçamente
em torno do Presidente Ahmadi-Nejad. Como , então, separar a verdade e
a histeria?
Protestos
no domingo. Mir Hussein Mousavi, o sobrinho. Assassinato pelas forças
de segurança. Repressão. Estas são as manchetes de inúmeras fontes
ocidentais da mídia depois dos protestos de domingo. As fontes? "Um
proeminente defensor". "Um cineasta". "Um porta-voz da oposição (sem
nome)".
Eufemismos
tão profissionais...ou seja, material do e sgoto. Lixo . Tolice.
Mentiras… do tipo escritos por jornalistas estagiários enviados para
investigar um cano de esgoto bloqueado em um parque de estacionamento
subterrâneo, e depois produzem "Alien Lixa Parque". Inglesmente
falando, isso é…
No
caso dos protestos de domingo em Teerão, enquanto a mídia ocidental
está usando “alguém ouviu dizer que o padeiro disse” como fonte, o quê
estão citando as autoridades?
Quem
está dizendo que as autoridades iranianas estão admitindo o que
aconteceu e que estão realizando uma investigação? Uma investigação
aprofundada. E, enquanto alguns estão afirmando que o sobrinho do
"Lider" da Oposição Mir Hossein Mousavi (Seyed Ali Mousavi) foi
ameaçado por "agentes da polícia secreta" dizendo que ele seria morto
dia antes dos protestos, no domingo, há outras versões.
Uma
versão das notícias, oficiais no Irão mas não fora, é de que as
autoridades iranianas alegam que, se um "agente da polícia secreta"
queria matar o sobrinho de Mosavi, certamente não teria passado dias
fazendo chamadas ameaçadoras… e, por outro lado, a morte está sendo
investigada. Porque é suspeita.
E
porque é suspeita? Porque os elementos terroristas, mais uma vez, vêm
operando em território iraniano. Na verdade, o Presidente Ahmadi-nejad,
que é conhecido por sua abordagem franca e honesta na gestão política,
declarou recentemente que há provas de que toda a campanha está sendo
planejada por interesses ocidentais. "A mascarada nauseabunda" é como
ele descreveu os comícios de domingo, em que sete/oito pessoas perderam
suas vidas.
Para
começar, as autoridades iranianas têm admitido que os comícios foram
apoiados por "dezenas de milhares" de manifestantes. Eles também
admitiram que "sete ou oito pessoas morreram”. No entanto, a República
Islâmica do Irã não é Mousavi e não é a classe elitista que apoiaram o
Xá e hoje providencia o apoio da oposição.
Abbas
Ja'fari Dolatabadi, Procurador Público de Teerão, admitiu hoje que
"Sete pessoas foram mortas nos tumultos no domingo", enquanto um outro
relato de assassinato está sendo investigado, devido ao fato de que o
inquérito policial revela que não houve tiroteios. Os mortos "foram
atingidos com objetos duros ou por um tipo de bala que a polícia não
têm as autoridades".
As
autoridades iranianas continuam a avançar com uma investigação adequada
de modo que "os culpados por trás desses crimes sejam punidos".
Mais um CANALHA do PiG desmascarado...
Boris Casoy é “uma vergonha”
Blog do Miro, por ele mesmo
Primeiro vídeo: ao encerrar o Jornal da Band da noite de 31 de dezembro de 2009, dois garis de São Paulo aparecem desejando feliz ano novo ao povo brasileiro. Na sequência, sem perceber o vazamento de áudio, o fascistóide Boris Casoy, âncora da TV Bandeirantes, faz um comentário asqueroso: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”.
Segundo vídeo: na noite seguinte, o jornalista preconceituoso pede desculpas meio a contragosto: “Ontem durante o programa eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”. Numa entrevista à Folha, porém, Boris Casoy mostra que não se arrependeu da frase e do seu pensamento elitista, mas sim do vazamento. “Foi um erro. Vazou, era intervalo e supostamente os microfones estavam desligados”.
Do CCC à assessoria dos golpistas
Este fato lastimável, que lembra a antena parabólica do ex-ministro de FHC, Rubens Ricupero – outras centenas de comentários de colunistas elitistas da mídia hegemônica infelizmente nunca vieram ao ar –, revela como a imprensa brasileira “é uma vergonha”, para citar o bordão de Boris Casoy, com seu biquinho e seus cacoetes. O episódio também serve para desmascarar de vez este repugnante apresentador, que gosta de posar de jornalista crítico e independente.
A história de Boris Casoy é das mais sombrias. Ele sempre esteve vinculado a grupos de direita e manteve relações com políticos reacionários. Segundo artigo bombástico da revista Cruzeiro, em 1968, o então estudante do Mackenzie teria sido membro do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), o grupo fascista que promoveu inúmeros atos terroristas durante a ditadura militar. Casoy nega a sua militância, mas vários historiadores e personagens do período confirmam a denúncia.
Âncora da oposição de direita
Ainda de 1968, o direitista foi nomeado secretário de imprensa de Herbert Levy, então secretário de Agricultura do governo biônico de Abreu Sodré – em plena ditadura. Também foi assessor do ministro da Agricultura do general Garrastazu Médici na fase mais dura das torturas e mortes do regime militar. Em 1974, Casoy ingressou na Folha de S.Paulo e, numa ascensão meteórica, foi promovido a editor-chefe do jornal de Octávio Frias, outro partidário do setor “linha dura” dos generais golpistas. Como âncora de televisão, a sua carreira teve início no SBT, em 1988.
Na seqüência, Casoy foi apresentador do Jornal da Record durante oito anos, até ser demitido em dezembro de 2005. Ressentido, ele declarou à revista IstoÉ que “o governo pressionou a Record [para me demitir]... Foram várias pressões e a final foi do Zé Dirceu”. Na prática, a emissora não teve como sustentar seu discurso raivoso, que transformou o telejornal em palanque da oposição de direita, bombardeando sem piedade o presidente Lula no chamado “escândalo do mensalão”.
Nos bastidores da TV Bandeirantes
Em 2008, Casoy foi contratado pela TV Bandeirantes e manteve suas posições direitistas. Ele é um inimigo declarado dos movimentos grevistas e detesta o MST. Não esconde sua visão elitista contra as políticas sociais do governo Lula e alinha-se sempre com as posições imperialistas dos EUA nas questões da política externa. O vazamento do vídeo em que ofende os garis confirma seu arraigado preconceito contra os trabalhadores e tumultuou os bastidores da TV Bandeirantes.
Entidades sindicais e populares já analisam a possibilidade de ingressar com representação junto à Procuradoria Geral da República. Como ironiza Beto Almeida, presidente da TV Cidade Livre de Brasília, seria saudável o “Boris prestar serviços comunitários por um tempo, varrendo ruas, para ter a oportunidade de fazer algo de útil aos seus semelhantes”. Também é possível acionar o Ministério Público Federal, que tem a função de defender os direitos constitucionais do cidadão junto “aos concessionários e permissionários de serviço público” – como é o caso das TVs.
Na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro, Walter Ceneviva, Antonio Teles e Frederico Nogueira, entre outros dirigentes da Rede Bandeirantes, participaram de forma democrática dos debates. Bem diferente da postura autoritária das emissoras afiliadas à Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), teleguiadas pela Rede Globo. Apesar das divergências, essa participação foi saudada pelos outros setores sociais presentes ao evento. Um dos pontos polêmicos foi sobre a chamada “liberdade de expressão”. A pergunta que fica é se a deprimente declaração de Boris Casoy faz parte deste “direito absoluto”, quase divino.
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