segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Esta no portal vermelho....

O flagelo da recessão nos EUA: 85 mil desempregados em dezembro

Umberto Martins *

Os capitalistas norte-americanos destruíram 85 mil postos de trabalho em dezembro, segundo dados do governo divulgados nesta sexta-feira (8). A informação oficial, que coincide com estatísticas divulgadas na quinta (7) pela empresa que processa a folha de pagamentos do setor privado no país (ADP), caiu como uma ducha de água fria no ânimo do governo e de investidores e analistas que apostavam na recuperação do mercado de trabalho e esperavam um corte bem menor (de 8 mil vagas).

É um claro sinal de que o fundo do poço da crise que perturba a maior economia capitalista do mundo ainda não foi alcançado. A recessão teve início há mais de dois anos, em dezembro de 2007, na sequencia da bolha imobiliária, que começou a murchar em 2006. Desde então, 7,7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram acrescentadas ao exército de desempregados, que já conta cerca de 17 milhões. Somente no ano passado, as demissões líquidas (ou seja, descontadas as admissões) somaram 4,2 milhões.

Efeitos desiguais

A taxa de desemprego aberto, calculada pelo governo, subiu de 4,6% para 10% no período. A realidade do mercado de trabalho é mais trágica do que o índice oficial de desocupados sugere. Este considera apenas os assalariados que procuraram emprego ao longo dos 30 dias anteriores à pesquisa. Já os que vivem à base de “bico” e os desempregados no desalento (aqueles que desistiram de procurar um novo posto de trabalho durante a crise) são ignorados. Se fossem levados em conta, a taxa subiria a 17,3%, segundo os especialistas.

Os números não deixam margem a dúvidas: esta é a mais grave crise do capitalismo americano desde a Grande Depressão que atravessou os anos 1930 e contribuiu fortemente para ascender o pavio da Segunda Guerra Mundial. Todo mundo padeceu e padece as conseqüências das tormentas provenientes do poderoso império, embora de forma desigual.

Os países que compõem o chamado BRIC – China, Índia, Brasil e Rússia, com exceção desta última -, sofreram menos. Tendo o desempenho do PIB por critério, o Brasil praticamente perdeu o ano de 2009, que terminou com taxa de crescimento próxima de zero. Mas a economia nacional já está em franca recuperação, com um mercado de trabalho bem aquecido. O comportamento da China, que tem a segunda maior economia do planeta, foi muito melhor. O país mais uma vez surpreendeu o mundo ao exibir uma taxa de crescimento de cerca de 8% (ano passado), tendo um papel essencial no amortecimento da crise mundial, especialmente no Brasil, de quem se tornou o maior parceiro comercial, desbancando o decadente império do norte.

Alimento para a crise

As demissões nos EUA em dezembro atingiram a construção civil, a indústria manufatureira e o comércio atacadista, segundo as informações divulgadas pelo Departamento do Trabalho. É um cenário desesperador para a classe trabalhadora, que embora não seja a responsável pela crise do capitalismo é quem acaba pagando sua salgada conta. Isto ocorre em função da condição subalterna que trabalhadores e trabalhadoras ocupam no processo de produção e reprodução do capital e das relações sociais (e de poder) estabelecidas no interior do sistema, fundadas no monopólio privado dos meios de produção e na apropriação (pelos capitalistas) da riqueza produzida, em detrimento dos produtores.

O desemprego não é apenas um flagelo para trabalhadores despojados dos meios de produção, que necessitam vender sua força de trabalho para sobreviver. É uma espécie de câncer para as economias, uma doença que impede a recuperação da produção e realimenta a recessão ao deprimir o consumo do povo e, por consequência, o comércio e a indústria. Por esta e outras razões, apesar da euforia irracional das bolsas, enquanto o mercado de trabalho não reagir positivamente é bobagem falar em recuperação.

Ilusões reformistas

Imaginava-se que a eleição de Obama aliviaria o sofrimento da classe operária. Foi uma vã esperança reformista. O novo presidente não teve peito para enfrentar Wall Street. O governo que dirige destinou trilhões de dólares aos banqueiros, a pretexto de salvar o corrompido sistema financeiro da completa bancarrota. Pouco ou nada fez pelos trabalhadores, que continuam sofrendo com as demissões em massa e as execuções hipotecárias.

A verdade, que transparece nos fatos, é que os interesses da oligarquia financeira continuam soberanos na definição da política (interna e externa) dos EUA, uma política imperialista que, por definição, é antissocial, antagônica aos interesses dos povos (inclusive o norte-americano) e da própria humanidade.

O caminho para superar os impasses revelados pela crise mundial do capitalismo é o da luta enérgica e sem fronteiras contra o sistema capitalista e imperialista. O socialismo é uma necessidade histórica candente.

* Jornalista, membro da Secretaria Sindical Nacional do

domingo, 10 de janeiro de 2010

Chiapas, México...

Libertados, os paramilitares voltam a Chiapas

12 anos do massacre da etnia tzotil, segue a impunidade, com o agravante de que os 30 paramilitares presos foram libertados, alguns deles assassinos confessos dos 45 tzotziles que rezavam em uma igreja.


Gloria Muñoz Ramírez
Desinformémonos
Acteal, Chiapas
Créditos: BrasilDeFato


chiapas

No dia 22 de dezembro de 2009, completam-se 12 anos do massacre em Acteal, comunidade dos Altos de Chiapas, da etnia tzotil. Mais um ano de impunidade, agora, com o agravante de que os 30 paramilitares que haviam sido presos foram libertados, alguns deles assassinos confessos dos 45 tzotziles (18 crianças, 22 mulheres e 6 homens) que estavam rezando em uma igreja.

É novembro, e, na comunidade, as crianças brincam no campo construído em cima do cemitério onde estão enterradas as vítimas. Acteal mudou sua fisionomia ao longo desses anos. O centro de toda comunidade está marcado pelo pesadelo do dia 22 de dezembro de 1997. A neblina nos Altos vai e vem. O ambiente frio como de costume, está carregado pela recente notícia da libertação de um segundo grupo de nove paramilitares que, assim como os 20 libertados em agosto deste ano, são responsáveis pela matança, segundo informações de Las Abeja, associação próxima à igreja à qual pertenciam todas as vítimas.

Sebastián Pérez Vázquez, presidente da mesa diretora da Associação Civil Las Abejas, afirma que os paramilitares continuam armados nas comunidades. “Atualmente tem muitas armas de paramilitares nas comunidades de Puebla, Yaxchemel, Los Chorros, Kanolal, La Esperanza e Acteal. As denúncias vêm sendo feitas há mais de 11 anos e a situação segue igual. Chiapas continua sendo um campo de batalha com mortos, desaparecidos, presos... As terras continuam sendo ocupadas por paramilitares. Estão dadas as condições para novas violências”.

Entrevistado na sede da associação, no centro do povoado, Pérez Vázquez alerta que, ao contrário do que preveem as indicações jurídicas que proíbem o retorno dos ex-detentos para a região, “ao menos dois deles já estão aqui”.

Mariano Luna Ruiz, sobrevivente do massacre, acrescenta: “Queremos a justiça, mas o governo não a faz. Nossa denúncia não é mentira, é a pura verdade. Sou testemunha disso, vimos àqueles que nos mataram. Mataram minha esposa, Juana Pérez Pérez, meu filho, meu cunhado, minha irmã e meus sobrinhos. Ficamos sabendo que já libertaram 29 pessoas e não queremos que nenhuma delas retorne aqui para a comunidade. Sabemos que foram eles que as mataram, e isso ainda me causa muita dor, mesmo depois de 12 anos. Não vamos parar de denunciar e de falar... que culpa tinha minha mulher?”.

María Vázquez Gómez, outra testemunha e sobrevivente, protesta: “Foram mortos minha mãe, meus irmãos e sobrinhos. São meus irmãos e companheiros que estão mortos. Estamos muito incomodados com o fato de os paramilitares terem sido libertados. Ainda hoje nos dói bastante, ficamos indignados quando soubemos que a Suprema Corte os libertaria... Estivemos lá e não nos levaram em consideração. Não voltaremos a ver nossos mortos, mas os familiares dos paramilitares, sim, voltarão a encontrá-los”.

Sete franguinhos para cada família
O líder da Las Abejas destaca que a atual estratégia do governo de Chiapas é dividir as comunidades. “Há menos de um mês vieram aqui pessoas do governo para nos oferecer bicicletas. Queriam entrar aqui para fazer seu palanque e queriam trazer uma Virgem de Guadalupe para Las Abejas. Aqui não estávamos sabendo de nada e recusamos a entrega. A esposa do governador veio para entregar sete franguinhos para cada família. Isso é uma clara provocação para dividir as comunidades. Agora mesmo, enquanto conversamos, a esposa do governador está aqui perto entregando coisas. Como é possível acreditar que vamos transformar a justiça com franguinhos?”, questiona, indignado, Pérez Vázquez.

Em portugal, como no Brasil a proposta da social democracia(PSDB) é a mesma...

A OFENSIVA CONTRA
A FUNÇÃO PÚBLICA E O SERVIÇO PÚBLICO [1]
Pedro Carvalho

Neste texto de enorme interesse para todos os trabalhadores e não apenas os da função pública, o autor, Pedro Carvalho desmonta a falácia neoliberal que o governo PS de José Sócrates levou a um extremo onde a direita tradicional não conseguiu chegar.
A desqualificação dos serviços, através da diminuição de recursos, meios e funcionários, é sempre o primeiro passo para justificar para a privatização ou mesmo encerramento do serviço.
E o encerramento de serviços implica na grande maioria dos casos um contributo para acelerar a desertificação de uma determinada localidade ou região. Por outro lado, questões de eficiência e qualidade muitas vezes foram levantadas para justificar o encerramento de centros de saúde, maternidades ou urgências, ou noutros casos, a relação custo/benefício na manutenção de um determinado serviço, quando logo após o encerramento o serviço passa a ser garantido por privados.leia aqui na integra...

poesia revolucionaria...

Não cultives a fraqueza

Vive o fraco na fraqueza
o bom na sua bondade
vive o firme na firmeza
lutando por liberdade.


Não cultives a fraqueza,
procura sempre ser forte,
que o homem que tem firmeza
não se rende nem à morte.


Educa a tua vontade
faz-te firme: em decisões,
que não terá liberdade
quem não fizer revoluções.


Se queres o mundo melhor
vem cá pôr a tua pedra,
quem da luta fica fora
neste jogo nunca medra.


Francisco Miguel Duarte,
Poeta popular nascido no Alentejo,
Operário sapateiro, filho de camponeses


Homenageando o centenário do seu nascimento.
Com o apoio de "Caderno Vermelho"

sábado, 9 de janeiro de 2010

O futebol e a barbarie...


Por Rafael Pirrho, em Joanesburgo

Antes que se coloque tudo no mesmo saco, é preciso dizer que o ataque à delegação de Togo, em Angola, não tem chance de se repetir na Copa do Mundo. A África do Sul possui um leque de problemas sérios, incluindo a violência urbana, mas entre eles não estão grupos terroristas ou separatistas. Além disso, aqui há mais estrutura e experiência em grandes eventos, ao contrário de Angola.
O problema é explicar isso àqueles que já se acostumaram a ver os 53 países africanos como um só. Se há crise em um deles, é comum que todos recebam o mesmo rótulo. Por isso, não há como negar que, embora esta seja uma análise equivocada, o que aconteceu em Angola respinga na Copa da África do Sul.

Mas a barbárie mancha, sobretudo, a imagem de crescimento que Angola tenta construir. O país é, ao lado da Nigéria, o maior exportador de petróleo da África, mas engatinha em questões básicas como segurança e infraestrutura. Tem grandes riquezas naturais, mas ainda sofre para controlar seu próprio território.
Cabinda, local do atentado contra a seleção togolesa, é uma reunião de todas essas características. De lá saem cerca de 80% da larga exportação de petróleo angolano, mas, por isso mesmo, esta é uma região instável, repleta de interesses econômicos. Ao colocar a cidade (homônima da província) como sede da Copa Africana, Angola queria mostrar que a situação por lá estava sob controle. Apostou alto e perdeu.
Perderam também os milhões de angolanos que esperavam com ansiedade por esta Copa Africana. Nas últimas semanas, uma enxurrada de propagandas na TV mostravam como o país já respirava o torneio. Angola convidou Pelé e Eusébio, festejou as presenças de Drogba e Eto’o, sonhou com um inédito título continental, mas acabou atingida em cheio pelos tiros em Cabinda. Os terroristas conseguiram acertar o alvo ao exporem ao mundo as fragilidades do país.

A GENTE NÃO SE DESPEDE DE MARIO BENEDETTI




 URDA ALICE KLUEGER, escritora.

"Mário Benedetti entrou na minha vida através de um poema de amor que era cheio de erotismo, e fiquei curiosa com aquele poeta que me chegava do Uruguai (embora os tantos exílios), e tão curiosa fiquei que quis saber mais..."
Ele já estava com mais de trinta anos quando eu nasci, mas só fui conhecê-lo em idade adulta. Um ser como ele, único na sua espécie, decerto já andava a espargir o seu pó de pirlimpimpim por sobre sangues, lutas e esperanças lá na altura em que eu nasci, mas muito tempo passou para eu tomar contato com a sua magia " fui criança, fui adolescente, fui jovem, tornei-me madura (será que algum dia a gente, realmente, amadurece?) sem me dar conta que ali, do outro lado da fronteira (fronteiras, pois também viveu como exilado. Como alguém com a espantosa grandeza d" alma que ele tinha não andar exilado em plena Operação Condor , quando os que nos dirigiam eram títeres formatados por algo nefando como a Escola das Américas[1]?) havia aquele homem que era pura luz, e que como nenhum outro até então soube contar e cantar esta nossa América na limpidez lúcida e corajosa dos seus versos ímpares.

Mário Benedetti entrou na minha vida através de um poema de amor que era cheio de erotismo, e fiquei curiosa com aquele poeta que me chegava do Uruguai (embora os tantos exílios), e tão curiosa fiquei que quis saber mais, e fui mergulhando na sua produção, na sua longa obra de tão longos anos, até o dia em que me deparei com aquele poema único dos únicos: "Te quiero":

"(...)

Tus ojos son mi conjuro

contra la mala jornada;

te quiero por tu mirada

que mira y siembra futuro.



Tu boca que es tuya e mia

tu boca no se equivoca

te quiero por que tu boca

sabe gritar rebeldia.



Se te quiero es porque sos

mi amor mi cómplice y todo.

Y en la calle codo a codo

somos muchos más que dos.

(...)" [2]


Céus, aquilo era o meu sonho de vida! "...Em la calle codo a codo somos muchos más que dos." Calou-me tão fundo à alma que fiquei a pensar se haveria para mim este parceiro que me completaria tão completamente, tão completamente... Sonha-se; assim é a vida, e ninguém como Mário Benedetti para nos atirar para dentro do mundo diáfano, colorido e real dos sonhos " depois de se ler um poema assim, a gente passa a ver que tudo é possível. Tomei-me de tal carinho por "Te quiero" que como que o afivelei com toda a força ao meu coração sempre tão solitário, e ele era como um arrimo para a minha solidão, enquanto descobria mais e mais pérolas desse uruguaio único que era capaz de desestabilizar ditadura cruéis com a força da sua palavra, a ponto de estar tendo sempre que ir trocando de país por onde o Condor voava...

A gente querendo ou não, a vida vai passando e muitas coisas vão acontecendo. Em maio de 2009 eu estava convidada para um evento cultural no Mestrado em Letras da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai " URI -na cidade de Frederico Westphalen/RS, grande evento internacional, que reunia gente da área de Letras de mais de um país. Lá estavam três uruguaios convidados: o escritor Ignacio Martinez, Mariel Cardozo e Graciela Veiga. Foram dias e noites maravilhosas, onde desfrutamos de inúmeras atividades culturais naquele cursos de Letras que me pareceu, também, único " nunca vi outro com tal qualidade e garra pelos lugares onde até hoje andei " e onde professores e convidados fazíamos as refeições juntos em lindos restaurantes, refeições que acabavam se transformando em tertúlias, e numa dessas noites, à hora da sobremesa, os uruguaios passaram a declamar poemas de sua terra, notadamente de Mário Benedetti, e eu pedi: "Ah, por favor, por favor, declamem Te quiero, aquele que diz: Y en la calle codo a codo somos muchos más que dos!".

Muito vã a minha ênfase! Se eu cá de outro país, de outra língua, sabia tanto do poema para dizer seu nome e aquele pedacinho fascinante, o que esperar de legítimos uruguaios? Então houve o momento mágico: nuestros hermanos passaram imediatamente para o poema, mas não se limitaram a declamá-lo: no Uruguai, ele é música! Ignácio Martinez tomou de um violão, e pela primeira vez na vida eu ouvia, transformados em canção, aqueles versos únicos:

"(...)Te quiero em mi paraíso;

es decir, que em mi país

la gente vive feliz

aunque no tenga permisso (...)" [3]


Aquele foi um dos momentos pelos quais vale a pena viver! Emocionadíssima, coração aos saltos, lágrimas nos olhos, eu esperei o final daquela canção fascinante e então assegurei aos irmãos uruguaios: "Se Mário Benedetti morrer antes que eu, não importa se daqui a um ou a vinte anos, eu vou fazer uma crônica de despedida a ele relembrando este momento ímpar aqui em Frederico Westphalen, na companhia de vocês!".

Um dia ou dois depois voltei para minha casa " e no terceiro dia depois daquela noite, Mário Benedetti morreu, aos 89 anos. Gastara até o fim a sua vida usando a palavra como carícia e como arma contundente, e deixou para a humanidade um legado que dificilmente poderá ser suplantado. Eu fiquei com aquilo engolido na minha alma como se tivesse um espinho a atravessá-la, e só agora, mais de sete meses depois, é que me sento para fazer a despedida prometida lá em Frederico Westphalen.

Só que não é despedida, porém. Lá do outro lado da vida, Mário Benedetti não nos abandona. Faz um dia ou dois que ele, de repente, reaparece na telinha do meu computador, trazendo toda a esperança e a inquietação que sempre causou ao longo da sua vida:

"Que passaria se un dia

Despertarmos dandonos

Cuenta de que somos mayoría?

(...)

Que passaria?"[4]


Ah! Mestre, Mestre, não há como despedir-me de ti! És como nosso alter ego, nossa consciência mais profunda, nossa esperança mais certa, nossa sensibilidade mais aflorada! Que acontecerá quando na rua, lado a lado, formos muito mais que dois? Ai, Mestre, como me atinges profundamente o coração!



Blumenau, 06 de janeiro de 2010 " Dia de Reis





Urda Alice Klueger

Escritora.



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[1] A Escola das Américas, instituição estadunidense que funcionou desde 1946 no Panamá, formando torturadores e outros sádicos para dominarem a América dita Latina, atualmente está funcionando no Fort Benning, estado da Geórgia/EUA, com o nome de Instituto de Cooperação para a Segurança Hemisférica.

[2] "(...) Teus olhos são meu conjuro/ contra a má jornada/ te quero por teu olhar/ que olha e semeia o futuro// Tua boca é tua e minha/ tua boca não se equivoca/ te quero porque tua boca/ sabe gritar rebeldia.// Se te quero é porque sois/ meu amor, minha cúmplice e tudo. E nas ruas lado a lado/ somos muito mais que dois.( ...)

[3] "Te quero em meu paraíso/ e dizer que em meu país/ as pessoas vivem felizes/ embora não tenham permissão.(...)"

[4] Que aconteceria se um dia/ despertarmos dando-nos/ conta de que somos mayoria? (...) Que aconteceria?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Arrependimento Sem Perdão


Em uma pequena cidade na Geórgia, um prefeito com o nome de Varlam Aravidze morre. A família chora a sua morte. Panegíricos são feitos pelos mais importantes e os menos importantes comentam o quão grande fora o falecido. Varlam é enterrado com pompa e circunstância, mas seu corpo continua reaparecendo, exumado por forças desconhecidas. Acaba-se por descobrir que uma mulher á responsável pela exumação do corpo cada vez que é sepultado. A maior parte do filme gira em torno dos motivos dela para a repetida exumação do corpo. É a reavaliação da vida tirânica do homem morto. O filho deste, Abel, está relutante em admitir atos de maldade de seu pai, mas o neto envergonha-se dos atos de seu avô. A responsável pela exumação, que foi diretamente afetada pela tirania de Varlam, diz que não vai deixar o homem morto ser enterrado e que está pronta para aceitar as consequências de seus atos. 




Elenco:

Avtandil Makharadze, Ya Ninidze, Zeinab Botsvadze, Ketevan Abuladze, Edisher Giorgobiani, Kakhi Kavsadze, Merab Ninidze, Nino Zaqariadze, Nano Ochigava, Boris Tsipuria

Para detalhes vide IMDB


Informações e Release:

Gênero: Drama
Diretor: Tengiz Abuladze
Duração: 153 minutos
Ano de Lançamento: 1984
País de Origem: União Soviética
Idioma do Áudio: Georgiano
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0093754/

 Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1.526 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 192 kbps 48 KHz
Resolução: 672 x 480
Aspect Ratio: 1.400
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.747 GiB
Legendas: No torrent


Critica:

Monanieba foi o primeiro filme soviético que denunciou abertamente os horrores do estalinismo, muito embora o diretor georgiano Tengiz Abuladze (conhecido por seus filmes poéticos e surrealistas) tenha escolhido dar a ele a forma de uma alegoria, usando deliberadamente de anacronismos e fazendo com que o personagem principal parecesse uma mistura de Lavrentiy Beria (homem forte de Stalin e chefe da NKVD), Hitler e Mussolini. Um detalhe interessante: o sobrenome do personagem principal é uma completa invenção, já que não há na Geórgia o sobrenome Aravidze. Na realidade, "aravi" significa "ninguém" em georgiano.
Filmado em 1984, Monanieba foi vítima da censura soviética no momento em que terminou de ser editado. Quando finalmente liberado em 1987, o filme foi galardoado com diversos prêmios, incluindo o Grande Prêmio do Juri do Festival de Cannes. (De www.allmovie.com)

Uma boa crítica/resenha do filme em:

Monanieba (Repentance): Can You Bury Past Evils?


QUEM SE INTERESSAR PELO TORRENT E LEGENDA ENVIA EMAIL PARA turcoluis@gmail.com


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Chorinho nosso de cada dia...

Princípios do Choro Box 3 (2002)


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Créditos: UmQueTenha

Os EUA e a "pacificação presidencial" na América Latina


O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina. Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar, repetindo uma prática dos EUAbem conhecida na América Latina. O artigo é de Noam Chomsky(original aqui).

Barack Obama é o quarto presidente estadunidense a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, unindo-se a outros dentro de uma longa tradição de pacificação que desde sempre serviu aos interesses dos EUA. Os quatro presidentes deixaram sua marca em nossa “pequena região” ("nosso quintal"), que "nunca incomodou ninguém", como caracterizou o secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em 1945. Dada a postura do governo de Obama diante das eleições em Honduras, em novembro último, vale a pena examinar esse histórico.

Theodore Roosevelt
Em seu segundo mandato como presidente, Theodore Roosevelt disse que a expansão de povos de sangue branco ou europeu durante os quatro últimos séculos viu-se ameaçada por benefícios permanentes aos povos que já existiam nas terras onde ocorreu essa expansão (apesar do que possam pensar os africanos nativos, americanos, filipinos e outros supostos beneficiados).

Portanto, era inevitável e, em grande medida, desejável para a humanidade em geral que o povo estadunidense terminasse por ser maioria sobre os mexicanos ao conquistar a metade do México, além do que estava fora de qualquer debate esperar que os (texanos) se submetessem à supremacia de uma raça inferior. Utilizar a diplomacia dos navios de artilharia para roubar o Panamá da Colômbia e construir um canal também foi um presente para a humanidade.

Woodrow Wilson
Woodrow Wilson é o mais honrado dos presidentes premiados com o Nobel e, possivelmente, o pior para a América Latina. Sua invasão do Haiti, em 1915, matou milhares de pessoas, praticamente reinstaurou a escravidão e deixou grande parte do país em ruínas.

Para demonstrar seu amor à democracia, Wilson ordenou a seus mariners que desintegrassem o Parlamento haitiano a ponta de pistola em represália pela não aprovação de uma legislação progressista que permitiria às corporações estadunidenses comprar o país caribenho. O problema foi resolvido quando os haitianos adotaram uma Constituição ditada pelos Estados Unidos e redigida sob as armas dos mariners. Tratava-se de um esforço que resultaria benéfico para o Haiti, assegurou o Departamento de Estado a seus cativos.

Wilson também invadiu a República Dominicana para garantir seu bem-estar. Esta nação e o Haiti ficaram sob o mando de violentos guardas civis. Décadas de tortura, violência e miséria em ambos países foram o legado do idealismo wilsoniano, que se converteu em um princípio da política externa dos EUA.

Jimmy Carter
Para o presidente Jimmy Carter, os direitos humanos eram a alma de nossa política externa. Robert Pastor, assessor de segurança nacional para temas da América Latina, explicou que havia importantes distinções entre direitos e política: lamentavelmente a administração teve que respaldar o regime do ditador nicaragüense Anastásio Somoza, e quando isso se tornou impossível, manteve-se no país uma Guarda Nacional treinada nos EUA, mesmo depois de terem ocorrido massacres contra a população com uma brutalidade que as nações reservam para seus inimigos, segundo assinalou o mesmo funcionário, e onde morreram cerca de 40 mil pessoas.

Para Pastor, a razão era elementar: os EUA não queriam controlar a Nicarágua nem nenhum outro país da região, mas tampouco queria que os acontecimentos saíssem do seu controle. Queria que os nicaragüenses atuassem de forma independente, exceto quando essa independência afetasse os interesses dos Estados Unidos.

Barack Obama
O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. A quartelada refletiu abismais e crescentes divisões políticas e socioeconômicas, segundo o New York Times. Para a reduzida classe social alta, o presidente hondurenho Manuel Zelaya converteu-se em uma ameaça para o que esta classe chama de democracia, que, na verdade, é o governo das forças empresariais e políticas mais fortes do país.

Selaya adotou medidas tão perigosas como o incremento do salário mínimo em um país onde 60% da população vive na pobreza. Tinha que ir embora. Praticamente sozinho, os EUA reconheceram as eleições de novembro (nas quais saiu vitorioso Pepe Lobo), realizadas sob um governo militar e que foram uma “grande celebração da democracia”, segundo o embaixador de Obama em Honduras, Hugo Llorens. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina.

Depois das eleições, Lewis Anselem, representante de Obama na Organização de Estados Americanos (OEA), aconselhou aos atrasados latinoamericanos que aceitassem o golpe militar e seguissem os EUA no mundo real e não no mundo do realismo mágico.

Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar. O governo estadunidense financia o Instituto Internacional Republicano (IRI, na sigla em inglês) e o Instituto Nacional Democrático (NDI) que, supostamente, promovem a democracia. O IRI apóia regularmente golpes militares para derrubar governos eleitos, como ocorreu na Veenzuela, em 2002, e no Haiti, em 2004. O NDI tem se contido. Em Honduras, pela primeira vez, esse instituto concordou em observar as eleições realizadas sob um governo militar de facto, ao contrário da OEA e da ONU, que seguiram guiando-se pelo mundo do realismo mágico.

Devido à estreita relação entre o Pentágono e o exército de Honduras e à enorme influência econômica estadunidense no país centroamericano, teria sido muito simples para Obama unir-se aos esforços latinoamericanos e europeus para defender a democracia em Honduras. Mas Barack Obama optou pela política tradicional.

Em sua história das relações hemisféricas, o acadêmico britânico Gordon Connell-Smith escreve: "Enquanto fala, da boca para fora, em defesa de uma democracia representativa para a América Latina, os Estados Unidos têm importantes interesses que vão justamente na direção contrária e que exigem um modelo de democracia meramente formal, especialmente com eleições que, com muita freqüência, resultam numa farsa".

Uma democracia funcional pode responder às preocupações do povo, enquanto os EUA estão mais preocupados em construir as condições mais favoráveis para seus investimentos privados no exterior? Requer-se uma grande dose do que às vezes se chama de ignorância intencional para não ver esses fatos. Uma cegueira assim deve ser zelosamente guardada se é que se deseja que a violência de Estado siga seu curso e cumpra sua função. Sempre em favor da humanidade, é claro, como nos lembrou Obama mais uma vez ao receber o Prêmio Nobel.

Tradução: Katarina Peixoto


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ainda repercutindo o ranço da "elite branca"...

Boris Casoy, o filho do Brasi!


Paulo Ghiraldelli Jr.

Uma parte da nossa esquerda política imagina que os ricos não são brasileiros. Pensam que eles ainda são os filhos de uma elite que estudou na Europa e que, se o Brasil for mal, irá embora daqui. Imagina que são pessoas completamente por fora da vida cotidiana do Brasil. Essa visão da esquerda pouco ajuda. Enquanto não entendermos que um homem de direita como Boris Casoy é tão “filho do Brasil” quanto Lula, não vamos descrever o Brasil de um modo útil para os nossos propósitos de melhorá-lo. Creio que o vídeo (aqui) que mostra Boris ridicularizando de maneira odiosa os garis, com o qual iniciamos o ano, deveria valer de uma vez por todas para compreendermos algo que, não raro, há vozes que querem negar: “o ódio de classe” permanece entre nós – sim, nós os brasileiros. Deveríamos levar em conta isso, sem medo, ao descrever o Brasil. Quando Ciro Gomes, ao comentar algumas reações às políticas sociais, então vindas de determinados grupos da imprensa, disse que tal coisa era obra “da elite branca”, a reação da direita foi imediata. Um dos elementos mais à direita que temos na imprensa brasileira, Reinaldo de Azevedo, saiu rasgando o verbo. Primeiro, elogiou Patrícia Pillar, atriz mulher de Ciro, para não criar desafetos, e em seguida tratou o político como um bobalhão que teria falado de algo que não existe no Brasil. Ciro teria bebido demais em algum rortianismo, lá nos Estados Unidos, quando então fez curso arrumado por Mangabeira Unger. Voltando de lá mais à esquerda do que foi, estaria inventando divisões que aqui não existiriam. Reinaldo não é um jornalista sofisticado para escrever isso, mas o que disse, no meio de sua pouca cultura, queria transmitir essa idéia. Mas quando ouvimos o que um Boris Casoy diz por detrás das câmeras, não temos como não admitir que Ciro está certo: existe uma “elite branca” no Brasil que sente profundo desprezo para com tudo que é do âmbito popular. Pode ser que vários membros dessa “elite branca” não sejam tão cruéis quanto Casoy. Pode ser, mesmo, que vários dos ricos que estão nessa “elite branca” se sintam desconfortáveis, perante os preceitos cristãos de humildade que dizem adotar, quando escutam isso que ouvimos de Boris Casoy. Todavia, o que Casoy falou é o que se pode ouvir, entre um uísque e outro, nas festas antes organizadas pelo empresariado que amava da Ditadura Militar, e que hoje é feita para angariar fundos para o PSDB, o partido que havia nascido com o propósito de não ser a direita política, mas que, agora, assume esse papel. Não quero de modo algum, com esse artigo, provocar aqueles que, sempre pensando só de modo dual, logo dirão: “ah, mas a esquerda é blá, blá, blá”. Sou um homem de esquerda. Minha condição de filósofo me dá alguns instrumentos para analisar de onde venho. Podem ficar tranqüilos. Aliás, sou uma pessoa que adora a frase de Fernando Henrique Cardoso, quando ele disse, se referindo a ele mesmo por conta de acreditar que sua política econômica, ela própria, já era política social: “não é necessário ser burro para ser de esquerda”. Mas aqui, não quero falar da esquerda. Quero mostrar que gente como Boris Casoy não caiu no Brasil vindo de Plutão. Muito menos estudou na Europa. Gente como Boris Casoy estava no Mackenzie, fazendo curso superior, mais ou menos no tempo em que Lula deveria estar vendendo limão na rua. Isso não transforma o Lula em um bom homem e o Boris em um perverso. Mas isso dá, claramente, razão a Ciro Gomes: há sim uma “elite branca” que não respeita garis, que não os acham gente, e que transferem esse ódio ao Lula, principalmente quando olham para ele e o vêem sendo abraçado por um Sarkozi, na capa do Le Monde. Sarkozi é o presidente da França. E não é de esquerda. Eis então que toda a direita no Brasil comemorou sua eleição. Todavia, Sarkozi aparece abraçado com Lula, sem o preconceito de classe que vários dos próprios brasileiros ainda possuem contra Lula, então, esse fato Lula-Sarkozi, deixa essa “elite branca” despeitada. Ela se pergunta, raivosa: “por que não FHC ou Serra?” Por que aquele “analfabeto”, por que ele, aquele … “gari”? Sim, a fala de Boris é o equivalente dessas frases que eram, até pouco tempo, restritas aos círculos da Ana Maria Braga, Regina Duarte, José Neumanne Pinto e Danusa Leão. Foram esses círculos que fingiram se espantar com o relato de César Benjamim, sobre Lula na prisão. (a história de que Lula teria tentado comer um garoto lá). Fingiram, sim, pois já haviam escutado isso em festinhas e riam disso, tratavam de fazer correr a fofoca, sendo ela verdadeira ou não. Caso queiramos melhorar o Brasil, vamos ter de ver que os brasileiros – muitos – pensam como Boris Casoy. E atenção nisso: não vamos culpá-lo pelos seus cabelos brancos não! Mainardi, na Globo, ainda não tem cabelos brancos e pensa a mesma coisa. Na Band, vocês já viram o tipo de preconceito de classe contra pobres que aparece no CQC? Já viram o menino Danilo Gentili insultando os pobres, jogando comida para eles? Não? Pois saibam que isso ocorreu sim! Esse tipo de humor é necessário? Estamos há duas décadas da “piada” de Chico Anísio contra Lula, dizendo que se Marisa fosse a primeira dama e fosse morar no Planalto, ficaria esgotada ao ver quantas janelas de vidro teria de limpar. Naquela época, a Globo fez Chico Anísio pedir desculpas em artigo na imprensa. E ele pediu! De lá para cá, o que mudou na TV brasileira? Ora, o vídeo de Boris Casoy nos diz que pouca coisa mudou. Que ainda precisamos de muito para evoluirmos. Temos uma longa caminhada pela frente no sentido de educar aquele brasileiro que não consegue entender que o dia que um lixeiro parar, ele, o rico, vai ver todas as moscas botarem ovos no seu ânus, e quando ele acordar, ele terá sido devorado em vida pelos vermes. Estamos ainda precisando de uma forte pedagogia que entre nas escolas de modo a evitar que os brasileiros do futuro sejam os Casoys da vida. As pessoas podem ser de direita, isso não deveria implicar em perder a capacidade de ver na condição social de concidadãos algo que não os desmerece (o bom exemplo não é, enfim, o próprio Sarkozi?). No Brasil, no entanto, a direita política não consegue apresentar um comportamento de brasileiros que gostaríamos que todos nós fôssemos, ou seja, pessoas capazes de ver em cada outro que lhe presta um serviço um homem digno.

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.
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