Por que é preciso pensar em uma transição anti-capitalista? E o que seria tal transição? A participação de David Harvey, professor de Geografia e Antropologia da City University, de Nova York, no seminário de avaliação de 10 anos do Fórum Social Mundial, foi uma tentativa de responder estas perguntas. A resposta, na verdade, inclui, em primeiro lugar, uma justificativa da pertinência das perguntas. Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo pobreza, fome, destruição ambiental, guerra…
E eis que, nos últimos anos, voltou a se falar em anti-capitalismo e
na necessidade de pensar outra forma de organização econômica, política
e social. David Harvey veio a Porto Alegre falar sobre isso. Para ele,
a necessidade acima citada repousa sobre alguns fatos: o aumento da
desigualdade social, a crescente corrupção da democracia pelo poder do
dinheiro, o alinhamento da mídia com este grande capital (e seu
conseqüente papel de cúmplice na corrupção da democracia), a destruição
acelerada do meio ambiente. Esse cenário exige uma resposta política,
resume Harvey. Uma resposta política, na sua avaliação, de natureza
anti-capitalista. Por que? O autor de “A produção capitalista do espaço” apresenta alguns fatos de natureza econômica para justificar essa afirmação.
O capital fictício e a fábrica de bolhas
O capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey.
O capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey.
As crises econômicas nos últimos 30 anos, acrescenta, repousam (e,
ao mesmo tempo, aprofundam) na disjunção crescente entre a quantidade
de papel fictício e a quantidade de riqueza real. “Por isso precisamos
de alternativas ao capitalismo”, insiste. Historicamente essas
alternativas são o socialismo ou o comunismo. O primeiro acabou se
transformando em uma forma menos selvagem de administração do
capitalismo; e o segundo fracassou. Mas esses fracassos não são razão
para desistir até por que as crises do capitalismo estão se tornando
cada vez mais freqüentes e mais graves, recolocando o tema das
alternativas. Para Harvey, o Fórum Social Mundial, ao propor a bandeira
do “outro mundo é possível”, deve assumir a tarefa de construir um
outro socialismo ou um outro comunismo como alternativas concretas. (Clique AQUI para ler mais)
Foto: Eduardo Seidl