Essas fotos foram com a contribuição da Dany, pois minha camera deu problema....
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
David Harvey defende transição anti-capitalista
Por que é preciso pensar em uma transição anti-capitalista? E o que seria tal transição? A participação de David Harvey, professor de Geografia e Antropologia da City University, de Nova York, no seminário de avaliação de 10 anos do Fórum Social Mundial, foi uma tentativa de responder estas perguntas. A resposta, na verdade, inclui, em primeiro lugar, uma justificativa da pertinência das perguntas. Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo pobreza, fome, destruição ambiental, guerra…
E eis que, nos últimos anos, voltou a se falar em anti-capitalismo e
na necessidade de pensar outra forma de organização econômica, política
e social. David Harvey veio a Porto Alegre falar sobre isso. Para ele,
a necessidade acima citada repousa sobre alguns fatos: o aumento da
desigualdade social, a crescente corrupção da democracia pelo poder do
dinheiro, o alinhamento da mídia com este grande capital (e seu
conseqüente papel de cúmplice na corrupção da democracia), a destruição
acelerada do meio ambiente. Esse cenário exige uma resposta política,
resume Harvey. Uma resposta política, na sua avaliação, de natureza
anti-capitalista. Por que? O autor de “A produção capitalista do espaço” apresenta alguns fatos de natureza econômica para justificar essa afirmação.
O capital fictício e a fábrica de bolhas
O capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey.
O capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey.
As crises econômicas nos últimos 30 anos, acrescenta, repousam (e,
ao mesmo tempo, aprofundam) na disjunção crescente entre a quantidade
de papel fictício e a quantidade de riqueza real. “Por isso precisamos
de alternativas ao capitalismo”, insiste. Historicamente essas
alternativas são o socialismo ou o comunismo. O primeiro acabou se
transformando em uma forma menos selvagem de administração do
capitalismo; e o segundo fracassou. Mas esses fracassos não são razão
para desistir até por que as crises do capitalismo estão se tornando
cada vez mais freqüentes e mais graves, recolocando o tema das
alternativas. Para Harvey, o Fórum Social Mundial, ao propor a bandeira
do “outro mundo é possível”, deve assumir a tarefa de construir um
outro socialismo ou um outro comunismo como alternativas concretas. (Clique AQUI para ler mais)
Foto: Eduardo Seidl
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
FSM - abertura
Hoje pela parte da manhã deu-se a abertura do FSM 2010, onde foram feitas por vários integrantes do conselho do fórum, algumas abordagens sobre os dez anos do mesmo, sendo que o destaque ficou com Stédile, criticando a falta de ações governamentais dos partidos de esquerda e conclamando para uma participação mais ativa nos movimentos sociais a fim de superar a crise de "inercia" da esquerda mundial, que cada vez mais, perde espaço para as forças reacionárias do imperialismo.Para ele, o FSM deve seguir de norte para que se constituam ações solidárias e revolucionárias que superem o sistema totalitarista mercantil, hoje em vias de renovação.
domingo, 24 de janeiro de 2010
FSM 2010 - Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil
AMIGOS E VISITANTES, A PARTIR DE 25 ATÉ 29 DE JANEIRO ESTAREMOS PARTICIPANDO DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL(FSM) EM PORTO ALEGRE-RS. DURANTE ESSE PERÍODO SOMENTE FOTOS E NOTICIAS DO EVENTO SERÃO REPORTADAS.
Rumo ao FSM.....
Segunda(25/1) começa o FSM10, com Abertura, Marcha e Shows Musicais
A abertura do FSM 10 acontece no dia 25 pela manhã, 9h30min, na Usina do Gasômetro. A
mesa de saudação contará com representante dos prefeitos que sediam o
encontro, o ministro Tarso Genro, representantes da organização do FSM
10 e representantes do Conselho Internacional do FSM.
- Das 11h às 13h, acontece a primeira atividade do Seminário Internacional 10 anos depois,
a mesa Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos, com a participação de
Lilian Celiberti, Raffaella Bollini, Nandita Shah, Francisco Whitaker,
João Antônio Felício, João Pedro Stédile, Oded Grajew e Olívio Dutra
(veja a programação completa do Seminário abaixo)
- A marcha de abertura do FSM
deve sair por volta das 17h30min do Largo Glenio Peres, Borges de
Medeiros, Aureliano Pinto de Figueiredo, Av. Edvaldo Pereira Paiva e
segue até a Usina do Gasômetro, onde haverá shows de Bataclã FC, Renato
Borgetti, Revolução RS, Marieti Fialho, Tonho Crocco, Banda Gog, Teatro
Mágico, Papas da Língua e Marcelo D2.
Participação do presidente Lula
.
.
Seminário Internacional 10 Anos Depois
O blog do seminário – http://seminario10anosdepois.wordpress.com/ – atualmente apresenta uma série de textos de analise e debate sobre os 10 anos do processo FSM. Durante o Fórum, porém, trará informações adicionais sobre o evento e pequenos resumos dos debates.A programação final do Seminário (sujeita a mudanças) é:
Seminário Dez ano depois: Desafios e propostas para um outro mundo
25 a 29, JANEIRO 2010
25/1, segunda-feira
9h-10h30 Mesa de Saudação do Fórum Social 10 Anos Depois Grande Porto Alegre
Participantes:
Autoridades locais, estaduais, federais
Representantes históricos do FSM da sociedade civil
Aldalice Otterloo – ABONG (Brasil)
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Prefeito José Fogaça
Tarso Genro
Local: Gasômetro
11h-13h Mesa de Abertura Seminário Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos
Participantes:
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Nandita Shah – National Network of Autonomous Women’s groups (India)
Candido Grzyzibowski – IBASE (Brasil)
Francisco Whitaker – CBJP (Brasil)
João Antônio Felício – CUT (Brasil)
João Pedro Stédile – MST (Brasil) /
Oded Grajew – Cives – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Brasil)
Olívio Dutra
Coordenação: Salete Camba – IPF (Brasil)
Local: Gasômetro
26/1, terça-feira
A Conjuntura Mundial Hoje
9h-12h A Conjuntura Ambiental Hoje
Participantes:
Nicola Bullard – Focus on the Global South (Tailandia)
Gilmar Mauro – MST (Brasil)
Roberto Espinoza- CAOI (Peru)
Hildebrando Vélez Galeano – Amigos de la Tierra (Colômbia)
Justina Cima (*) MMC (Brasil)
Local: Gasômetro
A Conjuntura Econômica Hoje
Participantes:
David Harvey – City University of New York (EUA)
Susan George – ATTAC (França)
Arthur Henrique da Silva Santos – CUT (Brasil)
Paul Singer- FEA/USP (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
A Conjuntura Política Hoje
Participantes:
Immanuel Wallerstein
Samir Amin- Foirum Mondial des Alternatives (Egito)
Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Gustave Massiah- Centre Recherches et d´Information pour le Développement (França)
Gustavo Soto Santiesteban – Centro de Estudios Aplicados a los Derechos Económicos, Sociales y Culturales (Bolívia)
Nalu Faria – Marcha Mundial das Mulhers (Brasil)
Bernard Cassen – Forum Mondial des Alternatives (França)
Local: Cais 6
A Conjuntura Social Hoje
Participantes:
Edgardo Lander – Universidad Central de Venezuela (Venezuela)
Emir Sader- CLACSO (Brasil)
Mohamed Soubhi – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Pizzo
Rosane Silva – CUT (Brasil)
Local: Cais 7
27/1, quarta-feira
Elementos da Nova Agenda I / Elements of The New Agenda I
9h-12h Bens Comuns
Participantes:
Silke Helfrich – Fundação Heinrich Boell (Alemanha)
Patrick Mooney – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Camila Moreno – Terra de Direitos (Brasil)
Carlos Candiotti – CONACAMI (Brasil)
Vita Giovanna Randazzo Eisemann
Local: Gasômetro
Sustentabilidade
Participantes:
Corinne Kumar – Cortes de Mulheres (India/Tunisia)
Fátima Mello – FASE (Brasil)
Rosa Chavez -
Indra Lubis – Via Campesina (Tailandia)
Maria Pia Matta Cerna – AMARC (Chile)
Antônio Barbosa – ASA (Brasil)
Local: Cais 7
Economia e Gratuidade
Participantes:
Patrick Viveret – Centro Internacional Pierre Mendes (França)
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Ladislaw Dowbor
Nila Heredia – ALAMES (Bolívia)
Daniel Pascual
João Joaquim de Melo Neto Segundo – Palmas (Brasil)
Local: Cais 6
Bem-Viver
Participantes:
Anibal Quijano – Universidade de San Marcos (Peru)
Marco Deriu – Universidade de Parma (Italia)
Mercia Andrews – Trust for Community Outreach and Education (Africa do Sul)
Zraih AbderKadel – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Maria Prestes – OCLAE (Brasil),
Segundo Churuchumbi – ECUARUNARI (Peru)
Local: Assembleia Legislativa
28/1, quinta-feira
Elementos da Nova Agenda II
9h-12h Organização do Estado e do Poder Político
Participantes:
Pablo Sólon, – Aliança Social Continental (Bolivia)
Njoki Njoroge Njehu – Daughters of Mumbi Global Resource Center / Africa Jubilee South (Quenia)
Prabir Purkayastha – All India Peace and Solidarity Organisation (India)
João Pedro Stédile – MST (Brasil)
Nancy Neamtan – Chantier de l’Economie Sociale (Canadá)
Giampiero Rasimelli
Sergio Hinojosa (*)
Local: Gasômetro
Direitos e Responsabilidades Coletivas
Participantes:
Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Alberto Achito Lubiasa (Colômbia)
Maria Betânia Ávila – Articulação de Mulheres Brasileiras (Brasil)
Irene Khan – Anistia Internacional (Bangladesh)
Kamal Lahbib – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Marcos Terena
Local: Cais 7
Novo Ordenamento Mundial
Participantes:
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Patrick Bond – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Antônio Martins – ATTAC (Brasil)
Socorro Gomes – CEBRAPAZ (Brasil)
Eric Toussaint – CADTM (Belgica)
Teivo Teivainen – NIGD (Finlandia)
Local: Cais 6
Como Construir Hegemonia Política
Participantes:
Boaventura dos Santos – Universidade de Coimbra (Portugal)
Virginia Vargas – Articulacion Feminista Marcosur (Peru)
Amit Sengupta – Peoples Health Movement (India)
Christophe Aguiton – Marches Européennes contre le chômage (França)
Rosane Bertotti – CUT (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
29/1, sexta-feira
9h-11h Sistematização das Grandes Questões e Contribuição para o Processo Fórum Social Mundial
Local: Gasômetro
11h30-14h30 Rumo a Dakar 2011: A Multiplicidade dos Fóruns
Crise de Civilização – Roberto Espinoza – CAOI (Peru)
Forum da Palestina – Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Forum das Americas – Jose Miguel Hernandez – Encuentros Hemisfericos contra el ALCA (Cuba)
Forum do Maghreb – Kamal Lahbib- Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Forum Panamazônico – Luiz Arnaldo Campos – Forum Social Pan-Amazônico (Brasil)
Povos sem Estado – Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Forum Social Africano – Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal) / Demba Moussa Dembele – Forum Social Africano (Senegal)
Forum Social Estados Unidos – Michael Leon Guerrero- Grassroots Global Justice Alliance (EUA)
Forum Social Europeu – Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Forum Social Temático Bahia – Martiniano (*) – CUT (Brasil)
Local: Gasômetro
sábado, 23 de janeiro de 2010
pobre professor.....
Por que a educação é o lugar de nosso tropeço?
Desanimando o professor, prejudicando o aluno
Não sei o que pode criar maior desânimo
em um professor e, conseqüentemente, nos alunos, que ele iniciar o ano
recebendo míseros 7reais para cada hora-aula. Ah, quer dizer, eu não
sabia! Agora vi que há como criar coisa pior. Pode-se colocar o
professor com um carimbo na testa escrito “professor reprovado”. Não
consigo entender qual a lógica de José Serra, governador de São Paulo e
candidato à Presidência da República, e seu secretário da Educação
Paulo Renato, por oito anos titular no MEC no período de FHC. Diante de
uma escola pública tratada a tapas há anos, e com a educação do Estado
de S. Paulo mostrando os piores índices nacionais em todas as
avaliações, eles acreditaram que o melhor para essa escola seria
massacrar de vez o professor. Será isso o que pensaram?
Talvez eles tenham acreditado que ao
fazer um exame para o professor temporário, eles iriam dar classe
apenas para os “aprovados”. Mas, se acreditaram nisso, não poderiam
estar no cargo que estão, pois qualquer pessoa minimamente informada
sobre a rede pública de educação poderia prever o resultado. Além
disso, fosse qual fosse o resultado, o número de professores necessário
para a rede é bem superior do que aquilo que se tem, portanto, qualquer
um saberia que, de algum modo, haveria na sala de aula o agora tachado
de “professor reprovado”.
É claro que o “reprovado”, no caso, não
é o professor, tenha ela passado ou não na prova do governo. O
reprovado aí é o governo estadual e o seu secretário de Educação. Nada
poderia ser pior do que 7 reais a hora-aula, era o que eu acreditava.
Mas José Serra e Paulo Renato conseguiram chegar a uma situação mais
degradante, que é dizer para o aluno o seguinte: “estude se quiser e
pode até ficar reprovado, pois, afinal, o professor que está aí também
é reprovado”. Não creio que a escola pública paulista irá se recuperar
depois desse golpe. Um novo governo no Estado de São Paulo terá que
começar tudo de novo. O PSDB nunca foi bem na área educacional em São
Paulo, durante essas quase duas décadas no comanda do estado, mas a
gestão Serra é realmente, de longe, a mais catastrófica.
O governo federal não fornece socorro
Diante de tal situação, poderíamos
imaginar um socorro. Talvez pudéssemos recorrer ao governo federal. Mas
também nesse plano as coisas vão de mal a pior. Os relatórios da Unesco
e outros, publicados no início deste ano, 2010, mostram que o
Presidente Lula e seu ministro da Educação, Fernando Haddad, deram um
empurrão quantitativo no ensino superior público, mas não conseguiram
fazer o mesmo quanto ao ensino básico. Claro que há um atenuante para
salvar a pele desses dois: o ensino básico, em sua maioria, está nas
mãos dos estados e todos os estados pagam muito pouco e cuidam mal de
seus professores. Todavia, as ações do MEC não têm ajudado como
poderíamos esperar. O piso salarial unificado, proposto por Haddad,
gerou um impasse: em alguns lugares, fez o salário ficar estagnado, em
outros lugares, travou prefeitos e governadores. Haddad deveria ter
feito um estudo regional e proposto não um piso, mas uma remuneração
condizente com a de outros profissionais, na base de um índice de
ganhos e possibilidades de cada região. Uma idéia simples! Mas parece
que Haddad adora pensar complicado e, como no Enem, ele sempre termina
complicando também a vida de outros.
O relatório da UNESCO que diz que o
Brasil, nos últimos anos, piorou em educação, mostra isso em termos
classificatórios. Entre 128 países o nosso figurava na posição 76 e foi
para a posição 88. Isso foi devido, principalmente, ao número reduzido
de crianças que chegam à quarta séria e também a um aumento da taxa de
repetência. Nossa educação é fraca e nossos alunos se dão mal nos
exames internacionais. Mesmos diante de uma escola que pouco solicita,
nossa taxa de repetência ultrapassa atualmente a casa dos 12%. Não à
toa temos esses resultados, pois somos ainda um país que gasta por
aluno muito pouco se comparado com outros. Em 2005 gastávamos US$ 1.257
por aluno contra US$ 5.312 por aluno dos países desenvolvidos que, por
sinal, já nem precisam de tanto. Atualmente, não mostramos grande
alteração nesses números.
A relação de amor-ódio com o professor
A verdade é que após 16 anos de nossos
dois melhores governos pó-ditadura, FHC e Lula, a área da educação
parece continuar sendo um nó, e não há quem o desate. Talvez só uma
análise meio que psicanalítica poderia explicar tudo isso.
As melhores cabeças viriam para o
magistério e tudo funcionaria a contento se o salário do professor
fosse atrativo. Mas não é, e com um tipo de atuação como a do Serra, o
desânimo é ainda maior. Por que os governantes relutam tanto em ser
generosos com os professores como são com outras áreas? Nunca vi um
operário do setor automobilístico, em uma greve, ser chamado para uma
negociação e ouvir do governo o seguinte questionamento: “você colocou
na praça um carro com defeito, e isso foi admitido pela sua própria
fábrica em comunicado oficial, sendo assim, acreditamos que isso deva
pesar para que você não tenha aumento, aliás, é até bom eu ver se não é
o caso de você nunca mais ter aumento, e isso vai depender do exame que
vou lhe aplicar no dia X”. Isso não ocorre com nenhum trabalhado como
ocorre com o professor. Há algo de perverso na relação do patrão com o
professor, seja o patrão-estado ou o patrão-empresário. Parece que com
o professor, os dirigentes governamentais (e particulares, sem dúvida!)
agem segundo uma relação de amor-ódio, como aquela que têm com seus
pais. Sim, é claro, os professores sempre representarão seus pais –
pois de fato o foram – e isso pode levantar situações edipianas. Além
do mais, a figura do professor sempre lembra, para o adulto, aquele que
o viu como criança, em uma posição infantil. Ora, não há adulto que não
se irrite quando o chamam de “infantil”. A figura do professor, para
muitos adultos que não amadureceram, sempre será aquela que lhe
parecerá dizendo “ah, você é o menino tal”. É como se o professor fosse
a testemunha de tudo que você se envergonha e que é, enfim, a sua
própria infância. Ora, assim, não há como não pensar no professor como
alguém que o patrão até pode conceder algo, mas somente se puder
exercer sobre ele algum tipo de controle, talvez vingança.
Pode ser que Haddad e Paulo Renato não
fujam dessa quase regra. Outros argumentos? Outras explicações? Não! A
essa altura do campeonato só a hora aula chegando ao mínimo de 21 reais
para todos, sem cobrança, sem “cursos de capacitação” e sem carimbo de
“reprovado”, é que vamos conseguir algum resultado positivo na educação
brasileira. Mas duvido que os que estão no poder possam se libertar
dessa relação psicológica complicada que possuem com a figura do
professor.
Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.
Literatura comparada.....
Autores-tradutores do mundo árabe-muçulmano
Por Mônica Kalil Pires*
O contato de culturas é, antes de mais nada, o encontro de pessoas
oriundas de sociedades com valores e histórias diferentes. Para haver o
entendimento, é preciso não apenas traduzir a língua, mas também
apresentar uma cultura para a outra. Comunidade de origem e comunidade
de recepção têm identidades próprias, construídas com base na história,
na língua e na religião, entre outros aspectos. A tradução respeita
essas diferenças, mas procura pontos e de contato e aceita as perdas
inevitáveis.
Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.
Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.
Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.
Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.
Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.
Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.
Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.
Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.
Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br
Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.
Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.
Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.
Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.
Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.
Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.
Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.
Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.
Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br
Assinar:
Postagens (Atom)