Música do grupo de rap palestino DAM, que quer
dizer: eternidade (em árabe), e também: sangue (em hebreu). São também
as iniciais de: Da Arabian MC's. Formado pelos irmãos Tamer Nafar e
Suhell Nafa...
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
O rum cubano não tem segredos
Breve retrospectiva da sua história
Lucia
Arboláez
A
história do rum cubano é tão antiga como a
própria
colonização, pois é um produto extraído da
cana-de-açúcar que o Almirante trouxe à Ilha
em sua
segunda viagem a este Continente. O que
acontece é
conhecido; as raízes da cana, procedente das
Ilhas
Canárias, se enraizaram na virgem e fértil
terra
cubana, onde encontrou um microclima ideal
para
crescer principalmente ao redor das aldeias
aborígenes e dos rebanhos.
Existem muitas versões sobre as origens do
rum, como
a que desde 1650 nesta área do Caribe
existiria um
rum fabricado pelos piratas e corsários que
navegavam pela zona ao qual denominaram
“rumbillion”
Em
Cuba, ao contrario, conta-se que com o
extermínio de
seus primeiros habitantes, no século 16, e
com a
chegada dos escravos negros arrancados de
suas
terras, a história continuou.
Diz-se que os escravos costumavam tomar o
que
chamaram “garapo”, obtido da fermentação da
mandioca
e o milho. Depois, passaram a extrair o suco
da
cana-de-açúcar, que uma vez fermentado, dava
origem
a um licor forte. Obtinha-se o liquido
através de
aparatos rudimentares. Mais tarde
utilizou-se o
trapiche em engenhos e usinas; a garapa se
transformou em alcoóis e deles surgiu a
aguardente.
Apetecido por sua transparência e cheiro
agradável,
destilação a destilação veio a surgir o rum.
Mas,
somente no século 19 se tornou uma bebida de
qualidade e aceitação.
Surgem então no país diversas destilarias e
marcas.
Construíram-se destilarias em Cárdenas,
Santiago de
Cuba, Cienfuegos e Havana. Várias marcas se
impuseram no mundo, entre as quais, as
chamadas
Matusalén, Jiquí, Bocoy, Campeón, Obispo,
San
Carlos, Albueme, Castillo, Bacardí e Havana
Club.
A
Bacardí se estabeleceu como a melhor e maior
exportadora, durante quase todo o século 19 e
parte
do 20. Uma das principais leis do governo
revolucionário que triunfou em 1959, foi a
nacionalização das grandes empresas
privadas. Os
donos da Bacardí emigraram e, apesar de
levarem a
marca, não conseguiram levar nem obter no
exterior,
o bom sabor do rum cubano, “que ficou em
nosso solo,
nos canaviais, com o vento, o sol, os méis
finais, o
álcool, os barris e a herança do processo
tecnológico”, no dizer de um reconhecido
escritor
desta nação do Caribe.
Desde então, se reorganizou e ampliou a
indústria do
rum cubano; surgiu de novo a antiga marca
“Havana
Club” – fundada em Cárdenas em 1878 –
dedicada à
exportação e cujo emblema é a Giraldilla,
uma
estatueta que simboliza a cidade de Havana.
A
partir de 1993, esta marca se apresenta com a
firma
franco-cubana Havana Club International S.A.
– a
empresa francesa Pernod-Ricard se encarrega
da
distribuição mundial – e produz os Añejos
Blancos;
Tres Años Especial; Reserva sete anos e
Quinze Anos,
alem das mais recentes Cuban Barrel Proof e o
Extra
Añejo Máximo, todos de grande aceitação
nacional e
internacional.
Durante muito tempo, o Havana Club era único
no
mercado mundial. Atualmente, outras marcas
cubanas
não menos importantes têm conseguido
afirmar-se
internacionalmente; entre as quais: Mulata,
Caney,
Arecha, Legendário, Varadero, Santero e
Caney.
FABRICAÇÃO ATUAL
“Atrás dos segredos de um dos melhores runs
do
mundo, existe um homem imprescindível, o
Maestro
Ronero, que conhece cada um dos tonéis como o
pastor
a suas ovelhas...”(*)
Numa
ocasião, conversando com o Primeiro Maestro
Ronero
do Havana Club, José Navarro, santiagueiro
de
origem, engenheiro químico de profissão, que
trabalhou na indústria ronera de nosso país
desde
muito jovem, falou-nos de seu trabalho e
afirmou que
no rum cubano não havia segredo nenhum na
sua
fabricação, que sua qualidade não se deve a
uma
formula bem guardada em caixa forte; mas
somente a
“uma cultura herdada e transmitida de
geração a
geração, de cubano a cubano, de coração a
coração...” .
“Cuba parece ter o dom da cana-de-açúcar e
do rum,
pois esta gramínea cresce admiravelmente em
nossa
terra e o melaço que se extrai é de uma
qualidade
única, com uma microflora natural que faz de
nossa
aguardente algo verdadeiramente especial”,
enfatizou
Navarro.
Depois de enumerar as diversas etapas pelas
quais
passa para chegar ao rum, destacou a
contribuição
que o homem faz, principalmente a figura do
Maestro
Ronero.
Alto
especialista em seu trabalho, José Navarro
reconhece os valores de seus companheiros e
assinala que estes possuem elevados
conhecimentos
técnicos, além de ser capazes de identificar
e
selecionar as matérias-primas, assim como
fazer
desenhos de equipamentos e introduzir
melhorias
tecnológicas, mantendo em cada atividade a
qualidade
histórica dos runs nacionais, sem essências
nem
artifícios.
Este
identifica, passo a passo o rum, cada etapa
do
processo de elaboração até chegar à mistura
final,
realizada com toda a criatividade que nasce
de sua
identidade, cultura e mestiçagem...
Ao
Maestro Ronero em Cuba preferimos chamá-lo
Maestro
do rum cubano já que esta categoria implica
uma
identificação permanente e direta com a
herança e
cultura do rum em nosso país, concluiu.
Entrevista a Chorinis Polychoriou
Os
desafios do Socialismo do Século XXI na Venezuela
Na Venezuela “os EUA estão a prosseguir uma estratégia de intervenção (…) que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar.”
William I Robinson (WIR) - Há histórias alarmantes vindas
da Venezuela. A fronteira está a aquecer, está a verificar-se
infiltração, nova base militar colombiana próxima à fronteira, o acesso
dos EUA a várias novas base na Colômbia e subversão constante. Será que o
regime se preocupa com uma possível invasão? Se sim, quem está para
intervir?
Chorinis Polychroniou (CP) - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estado-unidense e certamente uma invasão sem rodeios não pode ser descartada. Contudo, penso que os EUA estão a prosseguir uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. Isto é uma estratégia contra-revolucionária que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda negra, sabotagem económica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, execução de provocações e o atear de confrontações violentas nas cidades, manipulação de sectores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil no aproveitamento dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.
O objectivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, pela minagem da notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os estrategas dos EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão destes estrategas, Chávez finalmente será removido do poder através de um certo número de cenários produzidos pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de factores que não podem ser antecipados.
Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem económica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a perturbar mas, mais especificamente, a provocar reacções do governo revolucionário e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, económicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.
Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases em si próprias representam constitui uma poderosa operação psicológica estado-unidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a «gritar lobo», e fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.
Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a viragem para a esquerda ou a chamada «Maré Rosa». A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemónico na América Latina. Mas a Bolívia e o Equador e mais generalizadamente os florescentes movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século XXI.
WIR - A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia delinear como tem mudado a sociedade venezuelana desde que Chávez chegou ao poder?
CP - Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do «fim da história».
A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez, desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente a iliteracia e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências de recolha de dados têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.
Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há muitos outros mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do ancien regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos mass media que em grande medida ainda estão nas suas mãos... e eis porque as «batalhas nos media» na Venezuela desempenham um papel tão proeminente.
Dito isto, há toda espécie de problemas e contradições internas na Revolução Bolivariana.
WIR - Quão generalizados são os planos de nacionalização sob Chávez e há alguma evidência até agora de que eles levam aos resultados desejados?
CP - A grande mudança económica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projecto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chaves, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o sector cooperativo – com todos os seus problemas – tem-se estendido. No entanto, vamos ser claros: o poder económico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.
Recordemos que a revolução venezuelana é a única em que o velho Estado reaccionário não foi «esmagado» como em outras revoluções. A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar «colonizar» o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é como pode um projecto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte, legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os travões que ele coloca nos processos transformativos? De facto, na Venezuela, e também na Bolívia e alhures, as instituições do Estado prevalecentes muitas vezes actuam para constrangir, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.
Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita mas sim da chamada direita «endógena» ou «chavista» e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.
WIR - A revolução tem prosseguido durante mais de uma década. Está a amadurecer ou está a atingir uma etapa de declínio e deformação?
CP - Eu não diria, em resposta à sua pergunta, que a revolução está em «declínio» ou «deformação». De preferência, precisamos ser mais expansivos na nossa análise histórica e mesmo reflexão teórica sobre o que é avançar nesta conjuntura histórica do capitalismo global do século XXI e da sua crise. A viragem à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reactivar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que actualmente não caminha em direcção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.
O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projectos históricos! Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a actual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.
Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo revolucionário, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O facto é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político mas ainda detém grande parte do controle económico. Romper aquele controle económico implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais. Isto naturalmente é uma tarefa hercúlea. Não há um caminho claro de avanço e cada passo gera novas contradições complexas e nós górdios. É claro que estes são assuntos que toda a Esquerda Global deve encarar.
Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projectos e os interesses de classe. Nesse ponto uma revolução deve definir mais claramente o seu projecto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.
A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.
Chorinis Polychroniou (CP) - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estado-unidense e certamente uma invasão sem rodeios não pode ser descartada. Contudo, penso que os EUA estão a prosseguir uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. Isto é uma estratégia contra-revolucionária que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda negra, sabotagem económica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, execução de provocações e o atear de confrontações violentas nas cidades, manipulação de sectores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil no aproveitamento dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.
O objectivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, pela minagem da notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os estrategas dos EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão destes estrategas, Chávez finalmente será removido do poder através de um certo número de cenários produzidos pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de factores que não podem ser antecipados.
Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem económica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a perturbar mas, mais especificamente, a provocar reacções do governo revolucionário e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, económicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.
Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases em si próprias representam constitui uma poderosa operação psicológica estado-unidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a «gritar lobo», e fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.
Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a viragem para a esquerda ou a chamada «Maré Rosa». A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemónico na América Latina. Mas a Bolívia e o Equador e mais generalizadamente os florescentes movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século XXI.
WIR - A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia delinear como tem mudado a sociedade venezuelana desde que Chávez chegou ao poder?
CP - Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do «fim da história».
A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez, desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente a iliteracia e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências de recolha de dados têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.
Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há muitos outros mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do ancien regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos mass media que em grande medida ainda estão nas suas mãos... e eis porque as «batalhas nos media» na Venezuela desempenham um papel tão proeminente.
Dito isto, há toda espécie de problemas e contradições internas na Revolução Bolivariana.
WIR - Quão generalizados são os planos de nacionalização sob Chávez e há alguma evidência até agora de que eles levam aos resultados desejados?
CP - A grande mudança económica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projecto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chaves, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o sector cooperativo – com todos os seus problemas – tem-se estendido. No entanto, vamos ser claros: o poder económico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.
Recordemos que a revolução venezuelana é a única em que o velho Estado reaccionário não foi «esmagado» como em outras revoluções. A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar «colonizar» o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é como pode um projecto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte, legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os travões que ele coloca nos processos transformativos? De facto, na Venezuela, e também na Bolívia e alhures, as instituições do Estado prevalecentes muitas vezes actuam para constrangir, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.
Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita mas sim da chamada direita «endógena» ou «chavista» e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.
WIR - A revolução tem prosseguido durante mais de uma década. Está a amadurecer ou está a atingir uma etapa de declínio e deformação?
CP - Eu não diria, em resposta à sua pergunta, que a revolução está em «declínio» ou «deformação». De preferência, precisamos ser mais expansivos na nossa análise histórica e mesmo reflexão teórica sobre o que é avançar nesta conjuntura histórica do capitalismo global do século XXI e da sua crise. A viragem à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reactivar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que actualmente não caminha em direcção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.
O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projectos históricos! Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a actual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.
Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo revolucionário, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O facto é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político mas ainda detém grande parte do controle económico. Romper aquele controle económico implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais. Isto naturalmente é uma tarefa hercúlea. Não há um caminho claro de avanço e cada passo gera novas contradições complexas e nós górdios. É claro que estes são assuntos que toda a Esquerda Global deve encarar.
Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projectos e os interesses de classe. Nesse ponto uma revolução deve definir mais claramente o seu projecto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.
A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.
* William I Robinson é Professor de Sociologia na Universidade da Califórnia – Santa Bárbara; Chorinis Polychroniou é editor do diário grego Eleftherotypia
Esta entrevista foi publicada em www.zmag.org/znet/viewArticle/23797
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Sobre a sociedade industrial e seus beneficios.....
Benefícios da sociedade industrial |
Escrito por Wladimir Pomar - Correio da Cidadania | |
A construção de uma sociedade industrial, como se viu, não diz respeito
apenas ao capital. Ela diz respeito também ao pólo oposto, aos
trabalhadores assalariados que movimentam os meios de produção, assim
como aos demais segmentos sociais do país. E diz respeito ainda à
correlação política real de forças.
Sob o prisma do desenvolvimento das forças produtivas, isto é, dos
meios de produção e da força de trabalho, a industrialização, e os
investimentos nas grandes obras de infra-estrutura, indispensáveis
àquele desenvolvimento, são ou não necessários para o desenvolvimento
social e nacional?
Somente os adeptos do agrarismo e da sociedade utópica pós-industrial
podem afirmar que elas são desnecessárias e que apenas beneficiam ao
capital. Mesmo nos governos nacional-desenvolvimentistas de Vargas, JK
e do regime militar, nos quais o desenvolvimento social foi relegado,
na melhor das hipóteses, a um tópico indesejado da agenda política, o
desenvolvimento econômico trouxe consigo o crescimento da classe de
trabalhadores assalariados industriais, comerciais e rurais.
Dessa forma, o crescimento da sociedade industrial colocou em cena um
ator econômico, social e político de primeira ordem. Um ator que se
libertava do latifúndio dispersivo para subordinar-se à disciplina
fabril do capital, mas de forma concentrada. Isso tudo sob uma relação
de trabalho que lhe arrancava o véu do paternalismo, que até então o
mantinha sob a suposição de trabalhar pela boa vontade do senhor de
terras. O desenvolvimento industrial serviu para clarificar a situação
de classe de grandes contingentes da população brasileira.
O salário mensal e outros "benefícios", conquistados por sucessivas
gerações de assalariados, apresentavam-se como um progresso em relação
à vida anterior de camponês agregado. Apesar disso, as ondas de
migrantes rurais tornados trabalhadores industriais, tanto nos anos
1930 e 1940, quanto nos anos 1960 e 1970, se transformaram em ondas de
combatentes trabalhistas. As primeiras, nas grandes greves operárias
dos anos 1950 e início dos anos 1960. As segundas, nas greves e
movimentos políticos dos anos 1970 e 1980.
Em outras palavras, na pior das hipóteses, o desenvolvimento industrial
fornece o ator principal que pode modificá-la no futuro, à medida que o
capitalismo demonstrar que esgotou seu papel histórico e deve ser
substituído por uma nova formação econômica e social. O problema, como
a experiência tem demonstrado em muitas partes do mundo e no Brasil, é
que a história adora pregar peças nas utopias.
Revoluções anticapitalistas foram vitoriosas apenas em países em que o
capitalismo era pouco desenvolvido. Essas revoluções construíram um
novo Estado e fortes instrumentos de interferência na economia, como as
empresas estatais. Porém, mesmo assim, alguns dos países que sobraram
da segunda onda revolucionária do século 20 estão sendo obrigados a
praticar economias socialistas de mercado.
A experiência demonstrou que a tese de Marx, sobre o surgimento e
esgotamento histórico dos modos de produção, era uma lei natural a ser
observada. Não é possível abolir as formas capitalistas de produção
antes que elas esgotem seu papel histórico. Nessas condições, para
desenvolver as forças produtivas, aqueles países socialistas estão se
desenvolvendo com a participação de capitais estatais e privados, tanto
nacionais quanto estrangeiros, num complexo processo de cooperação e
conflito, em que o Estado tem papel orientador e disciplinador.
No Brasil, os anticapitalistas não acharam condições para revolucionar
a sociedade, mas sim para galgar uma parte do Estado. Foram eleitos
para a presidência da República, assim como para governos estaduais e
municipais, numa situação política de divisão no seio da burguesia, em
virtude da política neoliberal haver feito regredir o parque industrial
e tecnológico do país e quebrado o papel do Estado como indutor
econômico.
Para complicar, grande parte das empresas estatais havia sido
privatizada, sob o argumento de que empresas estatais seriam
ineficientes, idéia que se tornou senso comum em amplos setores da
população. E o neoliberalismo também havia estendido a pobreza e a
miséria a níveis desconhecidos dos períodos anteriores.
Num quadro como esse, supor que um governo, mesmo de viés
revolucionário, possa romper com o sistema econômico e social vigente,
ou mesmo redirecionar os investimentos apenas para programas sociais,
não passa de um sonho. O que ele pode fazer, diferentemente dos
governos tipicamente burgueses, consiste em ampliar a participação
popular nos benefícios dos investimentos e desenvolver programas
sociais que cresçam à medida que o desenvolvimento das forças
produtivas ocorra.
Em outras palavras, ao invés de esperar o bolo crescer para depois
dividir, velha promessa da burguesia, um governo popular ou socialista
pode ir aumentando a participação popular no bolo à medida que ele
cresça. Mas, uma das condições necessárias é que o bolo cresça e gere
riqueza.
Se olharmos o que o governo Lula vem fazendo, apesar da composição
pouco homogênea de seu governo, é justamente isso. No entanto, seus
críticos consideram que, além de não significar qualquer ruptura com o
status quo anterior, a chegada do PT ao Estado teria significado a
desconstrução da hegemonia que havia conquistado na sociedade. O que
nos remete da sociedade industrial para a sociedade política.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
|
Pobre do povo que tem que aguentar isso.....
Viver a Vida: o que os olhos não veem na novela da Globo
Não
há nada melhor que viver a vida neste meu Brasil brasileiro onde o
coqueiro dá coco. Ao menos na teoria, viver a vida é bom. Ora, ninguém
pode afirmar que o bom é viver a morte, e se existe vida há que se
viver. Nada mais óbvio.
Por Washington Araújo*, no Observatório da Imprensa
Marca
do novelista global Manoel Carlos, a obra em andamento conta também com
histórias reais de superação e tudo contado na eternidade dos 60
segundos logo após o último bloco do capítulo diário de Viver a Vida, a novela.
Em breve a novela seguirá para seu fim e até o momento quase nada tem sido escrito por especialistas da mídia sobre as aberrações que o folhetim apresenta. Mau-caratismo, traição, adultério, ciúme, inveja, alcoolismo e uso de drogas se apresentam no horário nobre toda santa noite como aperitivo antes do desbunde geral em que se transformou o que já não era bom, o famigerado Big Brother Brasil.
As “vinhetas de superação” trazendo ao horário nobre gente sofrida, abandonada, envolvida nas drogas ou no crime, pessoas portadoras de necessidades especiais e vítimas de todo tipo de violência, testemunham como foi bom ter dado a volta por cima. Porque nesse horário somente essas pessoas sabem como é viver a vida, enfrentar os desafios, superar as debilidades. Na novela tudo é caricato, tosco e apelativo. Personagens quando choram parecem estar gargalhando por dentro, e quando falam de amor optam pelo desamor, focam as desilusões e nossas pequenas tragédias humanas.
A realidade no folhetim é absolutamente virtual. Basta ver a favela de Viver a Vida. Tem até jantar à luz de velas. Balas perdidas? Existe isso? Onde? Quem? O hospital do Dr. Moretti é imenso pátio de diversões onde os médicos estão sempre na lanchonete, colocando em dia seus problemas amorosos e nunca incomodados por pacientes alquebrados, gente entre a vida e a morte como é tão comum e mesmo rotineiro em hospitais.
A pousada de Búzios tem clima de Copacabana Palace. Tudo na pousada é muito limpo, decoração de primeira, natureza exuberante, ninguém parece trabalhar mas tudo está sempre nos trinques e hospedes que é bom, se existem, não dão as caras. Faltou a Manoel Carlos a vivência de um feriadão em pousada de Salvador, Porto Seguro, Natal ou Florianópolis.
Trabalho infantil
Viver a Vida é um vale de lágrimas do início ao fim. As pessoas choram sem parcimônia. E com gosto. Há aquela que chora porque não consegue parar de beber. Há aquela outra que chora porque está tetraplégica. Outra chora porque não consegue consumar o adultério. Há quem chore porque é abandonada pelo noivo a poucas horas do casamento. Outra chora porque o marido não aceita conviver em harmonia com os enteados, filhos do primeiro casamento. Tem quem chore porque a irmã tetraplégica recebe mais atenção da mãe e das irmãs. Há quem chore porque os filhos gêmeos estão apaixonados pela mesma pessoa. Tem quem chore por acreditar que uma pessoa tetraplégica não pode fazer ninguém feliz. É o folhetim dos vilões-fashion, gente descolada, rica e que prefere viver a vida na base de quanto mais fútil for a vida, melhor.
Até aqui nada de muito novo. O que não entendo é as autoridades responsáveis pela proteção da infância e da adolescência deixarem uma graciosa menina de apenas 8 anos de idade interpretar uma vilã. É o que acontece com a Rafaela interpretada pela espertíssima Klara Castanho. Vemos todas as noites sua infância sendo roubada. Assistimos impassíveis ao sequestro de uma inocência que deveria ser preservada, inicialmente por seus pais, depois por esse veículo de comunicação que é uma concessão pública chamada televisão e depois pelo pessoal do judiciário, das tais varas da Criança e do Adolescente.
Rafaela se pinta com as cores da vida adulta, se veste insinuante como é comum aos jovens, é a cara do consumo-mirim sempre instigando sua mãe a comprar isso e aquilo mesmo que não tenha rendimento para tal. O pior nem é isso. O pior é o retrato de criança manipuladora e sensual, chantagista e dona de opinião sobre assuntos bem complexos para mente em formação como é o caso de aborto, mãe esperando segundo filho, vida de mãe solteira e testemunha de tórrida cena de adultério.
Será que ninguém observa nada disso? Será que ninguém vai trazer à mesa a discussão sobre trabalho infantil em programas para público adulto como é uma novela das oito? Será que toda e qualquer manifestação artística é passível de ser exercida por crianças e adolescentes? Pelo andar da carruagem não me causará espanto se em capítulo futuro a pequena Rafaela se transformar em psicopata-mirim.
Mercado e audiência
É que ninguém está nem aí para colocar em prática dispositivos como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13/7/1990), calhamaço que conta com impressionantes 267 artigos. Destes faço questão de enunciar apenas seu Artigo 3º:
A caracterização dada à personagem Rafaela faculta à atriz-mirim Klara Castanho seu desenvolvimento “mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”? A meu ver, se dá exatamente o contrário. Rafaela é tratada como coisa a ser transportada na vida cheia de peripécias de sua mãe Dora; interpõe-se com protagonismo principal na relação de sua mãe com quem poderia ser seu bisavô, o romântico Maradona, dono da pousada; os diálogos de Dora com Rafaela se sustentam em mentiras escancaradas e em meias verdades; os olhares de “brinquedo assassino” de Rafaela ao iniciar sua precoce carreira de chantagista mirim com a principal protagonista do folhetim, Helena, não deixam dúvidas que coisa muito mais escabrosa vem pela frente.
Enquanto a trama se desenrola, Rafaela passa a frequentar com maior insistência o imaginário de milhões de crianças da mesma idade vindo a se tornar um modelo infantil a ser seguido com toda sua carga de manipulação e astúcia poucas vezes vista em personagens adultas. E não encontramos contraponto. Isso acontece porque levantar qualquer bandeira que vise proteger a integridade moral e a dignidade de uma criança explorada por um folhetim global é quase cometer crime de lesa-pátria. E não faltarão pessoas a torcerem o nariz para esse meu texto sob o pretexto de que seria incitação à censura. Nada mais ridículo que isso.
O ponto é que enquanto o Deus-Audiência estiver em seu trono nada poderá mudar. Nem que preceitos constitucionais sejam violados e que sejam arquivadas no baú das coisas imprestáveis imagens de crianças inocentes, bondosas, cheias de compaixão, educadas, inteligentes, respeitadoras dos mais velhos... e tantos outros predicados do tempo em que andar a pé era novidade.
* Washington Araújo é jornalista, escritor e professor da UnB
Em breve a novela seguirá para seu fim e até o momento quase nada tem sido escrito por especialistas da mídia sobre as aberrações que o folhetim apresenta. Mau-caratismo, traição, adultério, ciúme, inveja, alcoolismo e uso de drogas se apresentam no horário nobre toda santa noite como aperitivo antes do desbunde geral em que se transformou o que já não era bom, o famigerado Big Brother Brasil.
As “vinhetas de superação” trazendo ao horário nobre gente sofrida, abandonada, envolvida nas drogas ou no crime, pessoas portadoras de necessidades especiais e vítimas de todo tipo de violência, testemunham como foi bom ter dado a volta por cima. Porque nesse horário somente essas pessoas sabem como é viver a vida, enfrentar os desafios, superar as debilidades. Na novela tudo é caricato, tosco e apelativo. Personagens quando choram parecem estar gargalhando por dentro, e quando falam de amor optam pelo desamor, focam as desilusões e nossas pequenas tragédias humanas.
A realidade no folhetim é absolutamente virtual. Basta ver a favela de Viver a Vida. Tem até jantar à luz de velas. Balas perdidas? Existe isso? Onde? Quem? O hospital do Dr. Moretti é imenso pátio de diversões onde os médicos estão sempre na lanchonete, colocando em dia seus problemas amorosos e nunca incomodados por pacientes alquebrados, gente entre a vida e a morte como é tão comum e mesmo rotineiro em hospitais.
A pousada de Búzios tem clima de Copacabana Palace. Tudo na pousada é muito limpo, decoração de primeira, natureza exuberante, ninguém parece trabalhar mas tudo está sempre nos trinques e hospedes que é bom, se existem, não dão as caras. Faltou a Manoel Carlos a vivência de um feriadão em pousada de Salvador, Porto Seguro, Natal ou Florianópolis.
Trabalho infantil
Viver a Vida é um vale de lágrimas do início ao fim. As pessoas choram sem parcimônia. E com gosto. Há aquela que chora porque não consegue parar de beber. Há aquela outra que chora porque está tetraplégica. Outra chora porque não consegue consumar o adultério. Há quem chore porque é abandonada pelo noivo a poucas horas do casamento. Outra chora porque o marido não aceita conviver em harmonia com os enteados, filhos do primeiro casamento. Tem quem chore porque a irmã tetraplégica recebe mais atenção da mãe e das irmãs. Há quem chore porque os filhos gêmeos estão apaixonados pela mesma pessoa. Tem quem chore por acreditar que uma pessoa tetraplégica não pode fazer ninguém feliz. É o folhetim dos vilões-fashion, gente descolada, rica e que prefere viver a vida na base de quanto mais fútil for a vida, melhor.
Até aqui nada de muito novo. O que não entendo é as autoridades responsáveis pela proteção da infância e da adolescência deixarem uma graciosa menina de apenas 8 anos de idade interpretar uma vilã. É o que acontece com a Rafaela interpretada pela espertíssima Klara Castanho. Vemos todas as noites sua infância sendo roubada. Assistimos impassíveis ao sequestro de uma inocência que deveria ser preservada, inicialmente por seus pais, depois por esse veículo de comunicação que é uma concessão pública chamada televisão e depois pelo pessoal do judiciário, das tais varas da Criança e do Adolescente.
Rafaela se pinta com as cores da vida adulta, se veste insinuante como é comum aos jovens, é a cara do consumo-mirim sempre instigando sua mãe a comprar isso e aquilo mesmo que não tenha rendimento para tal. O pior nem é isso. O pior é o retrato de criança manipuladora e sensual, chantagista e dona de opinião sobre assuntos bem complexos para mente em formação como é o caso de aborto, mãe esperando segundo filho, vida de mãe solteira e testemunha de tórrida cena de adultério.
Será que ninguém observa nada disso? Será que ninguém vai trazer à mesa a discussão sobre trabalho infantil em programas para público adulto como é uma novela das oito? Será que toda e qualquer manifestação artística é passível de ser exercida por crianças e adolescentes? Pelo andar da carruagem não me causará espanto se em capítulo futuro a pequena Rafaela se transformar em psicopata-mirim.
Mercado e audiência
É que ninguém está nem aí para colocar em prática dispositivos como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13/7/1990), calhamaço que conta com impressionantes 267 artigos. Destes faço questão de enunciar apenas seu Artigo 3º:
“A criança e o adolescente gozam de
todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por
lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de
lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade.”
A caracterização dada à personagem Rafaela faculta à atriz-mirim Klara Castanho seu desenvolvimento “mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”? A meu ver, se dá exatamente o contrário. Rafaela é tratada como coisa a ser transportada na vida cheia de peripécias de sua mãe Dora; interpõe-se com protagonismo principal na relação de sua mãe com quem poderia ser seu bisavô, o romântico Maradona, dono da pousada; os diálogos de Dora com Rafaela se sustentam em mentiras escancaradas e em meias verdades; os olhares de “brinquedo assassino” de Rafaela ao iniciar sua precoce carreira de chantagista mirim com a principal protagonista do folhetim, Helena, não deixam dúvidas que coisa muito mais escabrosa vem pela frente.
Enquanto a trama se desenrola, Rafaela passa a frequentar com maior insistência o imaginário de milhões de crianças da mesma idade vindo a se tornar um modelo infantil a ser seguido com toda sua carga de manipulação e astúcia poucas vezes vista em personagens adultas. E não encontramos contraponto. Isso acontece porque levantar qualquer bandeira que vise proteger a integridade moral e a dignidade de uma criança explorada por um folhetim global é quase cometer crime de lesa-pátria. E não faltarão pessoas a torcerem o nariz para esse meu texto sob o pretexto de que seria incitação à censura. Nada mais ridículo que isso.
O ponto é que enquanto o Deus-Audiência estiver em seu trono nada poderá mudar. Nem que preceitos constitucionais sejam violados e que sejam arquivadas no baú das coisas imprestáveis imagens de crianças inocentes, bondosas, cheias de compaixão, educadas, inteligentes, respeitadoras dos mais velhos... e tantos outros predicados do tempo em que andar a pé era novidade.
* Washington Araújo é jornalista, escritor e professor da UnB
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Compra de eleições por parte das empresas corporativas....
A apropriação da democracia dos EUA pelas empresas |
Com a decisão do Supremo Tribunal dos
EUA de 21 de Janeiro deste ano, os gestores das empresas podem
passar a comprar eleições directamente. Por Noam Chomsky
O dia 21 de Janeiro de 2010 irá
permanecer como um dia sombrio na história da democracia dos EUA e
do seu declínio.
Nesse dia, o Supremo Tribunal dos EUA
decidiu que o governo não poderá impedir as empresas de fazer
gastos políticos nas eleições - uma decisão que afecta
profundamente a política governamental, quer interna quer externa.
A decisão marca ainda mais a
apropriação pelas empresas do sistema político dos EUA. Para os
editores do The New York Times, a decisão "atinge o coração
da democracia" tendo "aberto caminho para as empresas usarem as
suas vastas tesourarias para dominar as eleições e pressionar os
políticos eleitos a cumprir as suas ordens."
O Tribunal estava dividido, 5-4, com os
quatro juízes reaccionários (erradamente designados
"conservadores") a receber o apoio do Juiz Anthony M. Kennedy. O
Presidente do Supremo, John G. Roberts Jr., escolheu um caso que
poderia ter sido facilmente resolvido em esferas mais baixas e
manobrou o tribunal, usando-o para impor uma decisão de grande
alcance, que derruba um século de precedentes restringindo as
contribuições das empresas para campanhas federais.
Agora, os gestores das empresas podem
efectivamente comprar eleições directamente, ultrapassando meios
indirectos mais complexos. É bem sabido que as contribuições das
empresas, embrulhadas por vezes em formas complexas, podem inclinar a
balança nas eleições, conduzindo dessa forma a política. O
tribunal acabou de atribuir muito mais poder ao pequeno sector da
população que domina a economia.
A "teoria do investimento político"
do economista político Thomas Ferguson é um prognóstico bastante
eficaz da política do governo durante um longo período. A teoria
interpreta as eleições como ocasiões em que segmentos do poder do
sector privado se unem para investir no controlo do Estado.
A decisão de 21 de Janeiro apenas
reforça os meios para minar o funcionamento da democracia.
O contexto é
esclarecedor. No seu voto de vencido, o juiz John Paul
Stevens reconheceu que "há muito que sustentamos a ideia de que as
empresas estão cobertas pela Primeira Emenda" - a garantia
constitucional da liberdade de expressão, que incluiria o apoio aos
candidatos políticos.
No início do século XX, os teóricos
de Direito e os tribunais implementaram a decisão do tribunal de
1886 pela qual as empresas - "estas entidades legais
colectivistas" - têm os mesmos direitos que as pessoas de carne
e osso.
Este ataque ao liberalismo clássico
foi duramente condenado por uma espécie de conservadores em
extinção. Christopher G. Tiedeman descreveu o princípio como "uma
ameaça à liberdade do indivíduo e à estabilidade dos Estados
norte-americanos enquanto governos populares."
Morton Horwitz escreve na sua história
do Direito que o conceito de personalidade empresarial evoluiu
paralelamente à mudança do poder dos accionistas para os gestores,
e finalmente para a doutrina em que "os poderes do conselho de
administração são idênticos aos poderes da empresa." Anos mais
tarde, os direitos das empresas foram expandidos muito além das
pessoas, nomeadamente pelos mal designados "acordos de livre
comércio." Segundo esses acordos, por exemplo, se a General Motors
instalar uma fábrica no México, pode exigir que seja tratada como
qualquer negócio mexicano ("tratamento nacional") - ao
contrário de um mexicano de carne e osso que procure "tratamento
nacional" em Nova York, ou mesmo os direitos humanos mínimos.
Há um século atrás, Woodrow Wilson,
na altura um académico, descreveu uma América na qual "grupos
comparativamente pequenos de homens," gestores empresariais, "detêm
um poder e controlo sobre a riqueza e as operações de negócios do
país," tornando-se "rivais do próprio governo."
Na verdade, estes "pequenos grupos"
tornaram-se cada vez mais os donos do governo. O tribunal de Roberts
deu-lhes um alcance ainda maior.
A decisão de 21 de Janeiro chegou três
dias depois de uma outra vitória para a riqueza e o poder: a eleição
do candidato republicano Scott Brown para substituir o falecido
senador Edward M. Kennedy, o "leão liberal" de Massachusetts. A
eleição de Brown foi descrita como uma "vaga populista" contra
as elites liberais que lideram o governo.
Os dados da votação revelam uma
história bastante diferente.
Elevados índices de participação nos
subúrbios ricos, e baixos nas áreas urbanas maioritariamente
democratas, ajudaram a eleger Brown. "Cinquenta e cinco por cento
dos eleitores republicanos afirmaram estar 'bastante interessados' na
eleição", informou a sondagem do Wall St. Journal/NBC,
"comparado com os 38% dos democratas."
Assim, os resultados foram de facto um
acto de revolta contra as políticas do presidente Obama: para os
ricos, ele não estava a fazer o suficiente para enriquecê-los ainda
mais, enquanto que para os sectores mais pobres estava a fazer
demasiado para atingir esse fim.
A irritação popular é bastante
compreensível, dado que os bancos estão a prosperar, graças às
ajudas do governo, enquanto o desemprego aumentou para 10%.
No sector industrial, uma em cada seis
pessoas está desempregada - um desemprego ao nível da Grande
Depressão. Com a financiarização crescente da economia e o
esvaziamento da indústria produtiva, as perspectivas são sombrias
para a recuperação dos empregos perdidos.
Brown apresentou-se a si mesmo como o
41º voto contra o sistema de saúde - ou seja, o voto que poderia
minar a maioria do Senado dos EUA.
É verdade que o programa de cuidados
de saúde de Obama foi um factor importante na eleição de
Massachusetts. Os títulos dos jornais estão correctos quando se lê
que a população está a voltar-se contra o programa.
As sondagens explicam porquê: o
projecto de lei não vai suficientemente longe. A sondagem do Wall
St. Journal/NBC demonstra que a maioria dos eleitores desaprova a
forma como tanto os republicanos quanto Obama têm lidado com a
reforma do sistema de saúde.
Estes números estão de acordo com as
recentes sondagens nacionais. A opção do sistema público foi
apoiada por 56% dos entrevistados, e a adesão ao Medicare aos 55
anos de idade foi apoiada por 64%; ambos os programas foram
abandonados.
Oitenta e cinco por cento acreditam que
o governo deveria ter o direito de negociar o preço dos
medicamentos, como acontece noutros países; Obama garantiu à
indústria farmacêutica que não irá seguir em frente com essa
opção.
Largas maiorias são a favor da redução
de custos, o que faz todo o sentido: os custos per capita dos
EUA para o sistema de saúde são cerca do dobro relativamente a
outros países industrializados, e os resultados da saúde estão a
regredir.
Mas a redução de custos não pode ser
levada a cabo seriamente quando as indústrias farmacêuticas são
agraciadas, e o sistema de saúde está nas mãos das seguradoras
privadas praticamente desreguladas - um sistema peculiar bastante
caro aos E.U.A.
A decisão de 21 de Janeiro levanta
novas barreiras significativas para ultrapassar a grave crise no
sistema de saúde, ou para lidar com questões críticas como as
ameaçadoras crises ambiental e energética. O hiato entre a opinião
pública e a política pública avizinha-se crescente. E o prejuízo
para a democracia norte-americana dificilmente pode ser
sobrevalorizado.
Publicado em Znet
Traduzido por: Sara Vicente
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Blowback: o legado da CIA no Irã, Afeganistão e Paquistão
O
mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA
colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o
deputado Charlie Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para
atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova
York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética)
devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA. A situação atual
destes três países reflete o passado irresponsável da espionagem dos
EUA. O artigo é de Argemiro Ferreira.
Argemiro Ferreira
A
imagem do herói no cavalo branco a salvar a mocinha das garras do
vilão, seja este assaltante de banco ou índio em defesa de suas terras
invadidas, é recorrente na ficção de Hollywood. O deputado Charlie
Wilson morreu, aos 76 anos, no dia 10 de fevereiro, certo de que era
herói na vida real. Motivo: no Congresso injetou bilhões de dólares
para financiar os que lutavam contra os russos no Afeganistão.
Ao morrer do coração Wilson já estava aposentado. Mas ele representou o Texas por 14 mandatos sucessivos na Câmara. Um livro (“Charlie Wilson’s War - The Extraordinary Story of the Largest Covert Operation in History”, de George Crile) e um filme (“Charlie Wilson’s War”, de Mike Nichols, com Tom Hanks no papel-título) o retrataram como herói.
A semana marcou ainda o 31° aniversário da revolução dos aiatolás do Irã, ocorrida apenas alguns meses antes da invasão do Afeganistão. Os iranianos derrubaram o regime do xá Reza Pahlevi, instalado em 1953 graças a golpe planejado pela mesma CIA que usou as verbas secretas do deputado Wilson para recrutar e armar os radicais islâmicos do lado paquistanês da fronteira com o Afeganistão.
O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA.
A lambança atual no Afeganistão (largamente nas mãos dos radicais islâmicos usados pela CIA a partir de 1979), no Paquistão (onde a CIA instalou acampamentos para os ataques aos russos no país vizinho e encorajou o sonho paquistanês da bomba nuclear islâmica) e no Irã (que se nega hoje a abandonar o enriquecimento de urânio) reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA.
No Irã o golpe da CIA instalou o xá no lugar do premier nacionalista Mohamed Mossadegh, anulou a nacionalização do petróleo e com faustosa coroação em 1967 impôs a ficção do “trono de 2.500 anos”. As corporações anglo-americanas ganharam mais um quarto de século para explorar o petróleo do Irã, já que a CIA ainda concebeu a tenebrosa Savak, serviço secreto celebrizado pelas câmaras de tortura.
Ainda naquela década de 1950 o Irã foi premiado pelo governo do presidente Eisenhower com relações muito especiais - que incluiram “acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos”, deixando o país com alguma base para, em seguida à revolução dos aiatolás, assustar os EUA com a disposição de ampliar o programa nuclear e rumar para o enriquecimento de urânio.
Para o Irã submisso de Reza Pahlevi, nada era bom demais: além de favorecer o desenvolvimento nuclear, Washington ainda dotou o país de armas sofisticadas e modernizou a máquina da repressão - tudo pago com a receita do petróleo, que regalou nos EUA as indústrias bélica, aeronáutica, nuclear e de segurança. Só que hoje, tomado pelos rebeldes radicalizados nas câmaras de tortura, o Irã é outro.
De tal forma o Irã do xá era criatura da CIA que, no final de 1973, o presidente Nixon concluiu que ninguém melhor para ser embaixador em Teerã do que o próprio diretor da central de espionagem, Richard Helms - “dada a intimidade dele com o xá”, explicou. Como se fosse o posto final de uma carreira de sucesso na CIA, dirigida por Helms durante quase sete anos, antes dos três que passou no Irã.
Com a contribuição do deputado Charlie Wilson, anticomunista meio fanático, o capítulo Afeganistão-Paquistão foi ainda mais vivo, excitante e insólito - ou “colorful”, para usar adjetivo talvez mais apropriado à conduta do parlamentar excêntrico que quando não estava “salvando o mundo” da suposta “ameaça vermelha” dedicava-se ao consumo de álcool e drogas com prostitutas de luxo.
Ele ficou obviamente encantado com os relatos do livro e do filme que o tornaram celebridade. Seu papel pode ter sido singular pelo conhecimento de sutilezas do processo legislativo na Câmara, onde integrava a comissão de verbas (appropriations) e sua subcomissão sobre operações no exterior - além de cultivar contatos na comissão que supervisiona a espionagem.
Não só estava familiarizado com mecanismos e artifícios para ocultar a destinação de recursos. Também revelara-se mestre na troca de favores com colegas interessados em abocanhar verbas para projetos de seus distritos eleitorais. Certos especialistas acham que hoje teria mais dificuldades: o processo legislativo sofreu reformas depois, reduzindo - em nome da transparência - a prática do sigilo.
O fato é que Wilson começou por canalizar uma verba de US$ 5 milhões para os radicais do Afeganistão. E, no fim da década de 1980, aqueles recursos elevavam-se a nada menos de US$ 750 milhões por ano. Pode ter sido ajudado por pertencer ao partido da oposição (Democrata) numa década dominada por governos republicanos (Reagan e Bush I) obstinados em estender ainda mais as ações militares dos EUA pelo mundo.
No Afeganistão e Paquistão, sabe-se hoje, a lambança foi bipartidária - devido a uma armadilha do governo do presidente democrata Jimmy Carter. Seu assessor de segurança nacional na Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, confessaria 20 anos depois ter atraído a URSS para a idéia de invadir o Afeganistão. A invasão veio a 24 de dezembro de 1979, após seis meses de ajuda crescente da CIA aos rebeldes radicais.
Em entrevista à revista francesa “Nouvel Observateur”, em 1998, Brzezinski vangloriou-se de seu papel: “Carter assinou a 3 de julho de 1979 a primeira diretiva (à CIA) para a ajuda secreta aos opositores do regime pro-soviético de Kabul. Naquele dia eu tinha enviado nota ao presidente na qual expliquei que, na minha opinião, tal ajuda americana iria levar a uma intervenção militar soviética”.
Quando o jornalista perguntou se a ação clandestina dos EUA tivera a intenção de provocar a invasão russa, Brzezinski amenizou: “Não provocamos os russos para que invadissem, mas ampliamos conscientemente a probabilidade de que isso viesse a ocorrer”. No dia em que os russos cruzaram a fronteira, disse, escreveu de novo a Carter: “Agora temos a oportunidade de dar aos soviéticos o Vietnã deles”.
Brzezinski contestou, assim, a tese republicana que atribui a Reagan a glória pelo fim da URSS. “Durante quase 10 anos a URSS amargou guerra insuportável - um conflito que trouxe a desmoralização e, afinal, a dissolução do império soviético”, alegou. Mas o exagero é comparável ao do mérito republicano. O desfecho, após meio século, deveu-se aos dois partidos e muita gente mais - inclusive os que erraram na própria URSS.
As avaliações atuais tentam ignorar os efeitos negativos das ações da espionagem. Ao financiar, treinar e armar (até com mísseis Stinger, capazes de destruir aviões em vôo) os radicais que batizou de “combatentes da liberdade” a CIA extremou as ambições deles. Hoje ela os repudia como “terroristas”, indiferente ao fato de que aprenderam na CIA a pensar o impensável - como atacar o coração do império americano.
Com os russos fora do Afeganistão os EUA deixaram o país para os radicais que a CIA diplomou em terrorismo. Com armas como o Stinger, os talibãs tomaram o poder e ficaram até 2001. Bin Laden, saudita de nascimento, ainda dirige de lá a rede al-Qaeda, que opera no mundo a partir do território afegão. E a CIA ainda tenta “recomprar” Stinger mas nem sabe quantos distribuiu - a estimativa vai de 500 a 2.000.
O deputado Wilson, ao invés de herói, foi cúmplice das trapalhadas. Livro e filme dizem que atuava com assistência da CIA. A culpa dos EUA e sua agência ia mais longe na relação promíscua com o general-ditador paquistanês Zia-ul-Haq, que em troca do apoio à operação na fronteira afegã obteve luz verde e deu carta branca ao construtor da bomba atômica islâmica, o cientista Abdul Qadeer Khan.
No desdobramento, a receita da bomba-A do Paquistão foi parar no Irã, Coréia do Norte, Líbia e talvez outros. Assim, além de fazer a “guerra (sem fronteiras) ao terrorismo” e lutar no Afeganistão contra os que antes chamava de “combatentes da liberdade”, os EUA hoje têm de vigiar o Dr. Khan, o serviço secreto (ISI) do Paquistão, os progressos nucleares do Irã e da Coréia do Norte e sabe-se-lá-mais-o-que.
A própria CIA adotou a expressão “blowback” para designar os efeitos opostos ao que pretendia em cada uma de suas operações clandestinas. A palavra apareceu pela primeira vez em relatório secreto de 1954 sobre o golpe da CIA no Irã. O “blowback” da derrubada de Mossadegh foi a tirania de 25 anos e a revolução (antiamericana) dos aiatolás. Já no Afeganistão os ataques do 11/9 nos EUA tendem a ficar como exemplo maior.
Blog de Argemiro Ferreira
Ao morrer do coração Wilson já estava aposentado. Mas ele representou o Texas por 14 mandatos sucessivos na Câmara. Um livro (“Charlie Wilson’s War - The Extraordinary Story of the Largest Covert Operation in History”, de George Crile) e um filme (“Charlie Wilson’s War”, de Mike Nichols, com Tom Hanks no papel-título) o retrataram como herói.
A semana marcou ainda o 31° aniversário da revolução dos aiatolás do Irã, ocorrida apenas alguns meses antes da invasão do Afeganistão. Os iranianos derrubaram o regime do xá Reza Pahlevi, instalado em 1953 graças a golpe planejado pela mesma CIA que usou as verbas secretas do deputado Wilson para recrutar e armar os radicais islâmicos do lado paquistanês da fronteira com o Afeganistão.
O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA.
A lambança atual no Afeganistão (largamente nas mãos dos radicais islâmicos usados pela CIA a partir de 1979), no Paquistão (onde a CIA instalou acampamentos para os ataques aos russos no país vizinho e encorajou o sonho paquistanês da bomba nuclear islâmica) e no Irã (que se nega hoje a abandonar o enriquecimento de urânio) reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA.
No Irã o golpe da CIA instalou o xá no lugar do premier nacionalista Mohamed Mossadegh, anulou a nacionalização do petróleo e com faustosa coroação em 1967 impôs a ficção do “trono de 2.500 anos”. As corporações anglo-americanas ganharam mais um quarto de século para explorar o petróleo do Irã, já que a CIA ainda concebeu a tenebrosa Savak, serviço secreto celebrizado pelas câmaras de tortura.
Ainda naquela década de 1950 o Irã foi premiado pelo governo do presidente Eisenhower com relações muito especiais - que incluiram “acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos”, deixando o país com alguma base para, em seguida à revolução dos aiatolás, assustar os EUA com a disposição de ampliar o programa nuclear e rumar para o enriquecimento de urânio.
Para o Irã submisso de Reza Pahlevi, nada era bom demais: além de favorecer o desenvolvimento nuclear, Washington ainda dotou o país de armas sofisticadas e modernizou a máquina da repressão - tudo pago com a receita do petróleo, que regalou nos EUA as indústrias bélica, aeronáutica, nuclear e de segurança. Só que hoje, tomado pelos rebeldes radicalizados nas câmaras de tortura, o Irã é outro.
De tal forma o Irã do xá era criatura da CIA que, no final de 1973, o presidente Nixon concluiu que ninguém melhor para ser embaixador em Teerã do que o próprio diretor da central de espionagem, Richard Helms - “dada a intimidade dele com o xá”, explicou. Como se fosse o posto final de uma carreira de sucesso na CIA, dirigida por Helms durante quase sete anos, antes dos três que passou no Irã.
Com a contribuição do deputado Charlie Wilson, anticomunista meio fanático, o capítulo Afeganistão-Paquistão foi ainda mais vivo, excitante e insólito - ou “colorful”, para usar adjetivo talvez mais apropriado à conduta do parlamentar excêntrico que quando não estava “salvando o mundo” da suposta “ameaça vermelha” dedicava-se ao consumo de álcool e drogas com prostitutas de luxo.
Ele ficou obviamente encantado com os relatos do livro e do filme que o tornaram celebridade. Seu papel pode ter sido singular pelo conhecimento de sutilezas do processo legislativo na Câmara, onde integrava a comissão de verbas (appropriations) e sua subcomissão sobre operações no exterior - além de cultivar contatos na comissão que supervisiona a espionagem.
Não só estava familiarizado com mecanismos e artifícios para ocultar a destinação de recursos. Também revelara-se mestre na troca de favores com colegas interessados em abocanhar verbas para projetos de seus distritos eleitorais. Certos especialistas acham que hoje teria mais dificuldades: o processo legislativo sofreu reformas depois, reduzindo - em nome da transparência - a prática do sigilo.
O fato é que Wilson começou por canalizar uma verba de US$ 5 milhões para os radicais do Afeganistão. E, no fim da década de 1980, aqueles recursos elevavam-se a nada menos de US$ 750 milhões por ano. Pode ter sido ajudado por pertencer ao partido da oposição (Democrata) numa década dominada por governos republicanos (Reagan e Bush I) obstinados em estender ainda mais as ações militares dos EUA pelo mundo.
No Afeganistão e Paquistão, sabe-se hoje, a lambança foi bipartidária - devido a uma armadilha do governo do presidente democrata Jimmy Carter. Seu assessor de segurança nacional na Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, confessaria 20 anos depois ter atraído a URSS para a idéia de invadir o Afeganistão. A invasão veio a 24 de dezembro de 1979, após seis meses de ajuda crescente da CIA aos rebeldes radicais.
Em entrevista à revista francesa “Nouvel Observateur”, em 1998, Brzezinski vangloriou-se de seu papel: “Carter assinou a 3 de julho de 1979 a primeira diretiva (à CIA) para a ajuda secreta aos opositores do regime pro-soviético de Kabul. Naquele dia eu tinha enviado nota ao presidente na qual expliquei que, na minha opinião, tal ajuda americana iria levar a uma intervenção militar soviética”.
Quando o jornalista perguntou se a ação clandestina dos EUA tivera a intenção de provocar a invasão russa, Brzezinski amenizou: “Não provocamos os russos para que invadissem, mas ampliamos conscientemente a probabilidade de que isso viesse a ocorrer”. No dia em que os russos cruzaram a fronteira, disse, escreveu de novo a Carter: “Agora temos a oportunidade de dar aos soviéticos o Vietnã deles”.
Brzezinski contestou, assim, a tese republicana que atribui a Reagan a glória pelo fim da URSS. “Durante quase 10 anos a URSS amargou guerra insuportável - um conflito que trouxe a desmoralização e, afinal, a dissolução do império soviético”, alegou. Mas o exagero é comparável ao do mérito republicano. O desfecho, após meio século, deveu-se aos dois partidos e muita gente mais - inclusive os que erraram na própria URSS.
As avaliações atuais tentam ignorar os efeitos negativos das ações da espionagem. Ao financiar, treinar e armar (até com mísseis Stinger, capazes de destruir aviões em vôo) os radicais que batizou de “combatentes da liberdade” a CIA extremou as ambições deles. Hoje ela os repudia como “terroristas”, indiferente ao fato de que aprenderam na CIA a pensar o impensável - como atacar o coração do império americano.
Com os russos fora do Afeganistão os EUA deixaram o país para os radicais que a CIA diplomou em terrorismo. Com armas como o Stinger, os talibãs tomaram o poder e ficaram até 2001. Bin Laden, saudita de nascimento, ainda dirige de lá a rede al-Qaeda, que opera no mundo a partir do território afegão. E a CIA ainda tenta “recomprar” Stinger mas nem sabe quantos distribuiu - a estimativa vai de 500 a 2.000.
O deputado Wilson, ao invés de herói, foi cúmplice das trapalhadas. Livro e filme dizem que atuava com assistência da CIA. A culpa dos EUA e sua agência ia mais longe na relação promíscua com o general-ditador paquistanês Zia-ul-Haq, que em troca do apoio à operação na fronteira afegã obteve luz verde e deu carta branca ao construtor da bomba atômica islâmica, o cientista Abdul Qadeer Khan.
No desdobramento, a receita da bomba-A do Paquistão foi parar no Irã, Coréia do Norte, Líbia e talvez outros. Assim, além de fazer a “guerra (sem fronteiras) ao terrorismo” e lutar no Afeganistão contra os que antes chamava de “combatentes da liberdade”, os EUA hoje têm de vigiar o Dr. Khan, o serviço secreto (ISI) do Paquistão, os progressos nucleares do Irã e da Coréia do Norte e sabe-se-lá-mais-o-que.
A própria CIA adotou a expressão “blowback” para designar os efeitos opostos ao que pretendia em cada uma de suas operações clandestinas. A palavra apareceu pela primeira vez em relatório secreto de 1954 sobre o golpe da CIA no Irã. O “blowback” da derrubada de Mossadegh foi a tirania de 25 anos e a revolução (antiamericana) dos aiatolás. Já no Afeganistão os ataques do 11/9 nos EUA tendem a ficar como exemplo maior.
Blog de Argemiro Ferreira
Fotos: Deputado Charlie Wilson em 1987, entre os radicais islâmicos do Afeganistão.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Serra e Kassab têm sorte de não serem argentinos...
Por Brizola Neto no blog Tijolaço
A capa de hoje do diário argentino Pagina 12
é uma mostra do quanto pode ser criativo e irreverente um jornal,
quando o quer ser. Ontem Buenos Aires, a capital argentina, sofreu uma
inundação, provocada por chuvas intensas, esgotos insuficientes e
obstruídos e obras hidráulicas atrasadas. O prefeito Maurício Macri, um
engenheiro civil, de direita, que derrotou o candidato peronista Hugo
Cocarro em 2007 e desponta como um possível candidato à presidência,
disse que a enchente foi um fenômeno climático “raro” e que o vento
provocou uma cheia no Rio da Prata. No entanto, há 90 dias, a Auditoria
Geral da Cidade havia expedido um memorando a diversas autoridade
dizendo que a rede de drenagem estava em péssimo estado e o governo
municipal não tinha o menor controle sobre as empresas contratadas para
sua manutenção e desentupimento.As bombas de drenagem não funcionaram,
um túnel viário inundou, 50 mil pessoas ficaram sem luz.
Isso lembra alguma coisa? Você já viu isso em algum lugar aqui?
A única coisa que você não viu é um jornal brasileiro fazer uma capa genial como essa.
Entrevista com Chronis Polychroniou, editor do diário grego Eleftherotypia
Os desafios do socialismo no século 21 na Venezuela
Por William I. Robinson - via CarosAmigos
Há
histórias preocupantes vindo da Venezuela. A situação na fronteira está
tensa, há uma nova base militar colombiana próxima à fronteira, o
acesso dos EUA a várias novas bases na Colômbia... Será que o regime se
preocupa com uma possível invasão? Se sim, quem está para intervir?
Chronis Polychroniou - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estadunidense. Contudo, penso que os EUA estão seguindo uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. É uma estratégia que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda, sabotagem econômica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, manipulação de setores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil em aproveitar dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.
O objetivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, minando a notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão deles, Chávez finalmente será removido do poder através de um cenário produzido pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de fatores que não podem ser antecipados.
Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem econômica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a provocar reações do governo e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, econômicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.
Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases representam constitui uma poderosa operação psicológica estadunidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.
Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a guinada para a esquerda ou a chamada "Maré Rosa". A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemônico na América Latina. Mas a Bolívia, Equador e os movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século 21.
A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia explicar como a sociedade venezuelana tem mudado desde que Chávez chegou ao poder?
Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do "fim da história".
A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente o analfabetismo e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.
Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há outros muitos mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do antigo regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos meios de comunicação que em grande medida ainda estão nas suas mãos.
Quão avançados são os planos de nacionalização de Chávez? Há alguma evidência de que eles levam aos resultados desejados?
A grande mudança econômica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projeto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chave, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o setor cooperativo – com todos os seus problemas – tem se ampliado. No entanto, o poder econômico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.
A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar "colonizar" o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é: como pode um projeto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os entreves que ele coloca nos processos de transformação? De fato, na Venezuela, e também na Bolívia, as instituições do Estado muitas vezes atuam para constranger, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.
Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita, mas sim da chamada direita "endógena" ou "chavista" e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.
A revolução tem mais de uma década. Está amadurecendo ou está chegando a uma etapa de declínio e deformação?
Eu não diria que a revolução está em "declínio" ou "deformação". A guinada à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reativar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que atualmente não caminha em direção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.
O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projetos históricos. Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a atual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.
Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O fato é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político, mas ainda detém grande parte do controle economico. Romper tal controle implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais.
Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projetos e interesses de classe. Nesse ponto, uma revolução deve definir mais claramente o seu projeto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.
A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.
William I. Robinson é professor de Sociologia, Universidade da Califórnia – Santa Bárbara
(Publicado originalmente em http://www.zmag.org/znet/ viewArticle/23797)Chronis Polychroniou - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estadunidense. Contudo, penso que os EUA estão seguindo uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. É uma estratégia que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda, sabotagem econômica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, manipulação de setores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil em aproveitar dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.
O objetivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, minando a notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão deles, Chávez finalmente será removido do poder através de um cenário produzido pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de fatores que não podem ser antecipados.
Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem econômica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a provocar reações do governo e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, econômicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.
Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases representam constitui uma poderosa operação psicológica estadunidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.
Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a guinada para a esquerda ou a chamada "Maré Rosa". A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemônico na América Latina. Mas a Bolívia, Equador e os movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século 21.
A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia explicar como a sociedade venezuelana tem mudado desde que Chávez chegou ao poder?
Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do "fim da história".
A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente o analfabetismo e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.
Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há outros muitos mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do antigo regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos meios de comunicação que em grande medida ainda estão nas suas mãos.
Quão avançados são os planos de nacionalização de Chávez? Há alguma evidência de que eles levam aos resultados desejados?
A grande mudança econômica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projeto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chave, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o setor cooperativo – com todos os seus problemas – tem se ampliado. No entanto, o poder econômico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.
A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar "colonizar" o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é: como pode um projeto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os entreves que ele coloca nos processos de transformação? De fato, na Venezuela, e também na Bolívia, as instituições do Estado muitas vezes atuam para constranger, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.
Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita, mas sim da chamada direita "endógena" ou "chavista" e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.
A revolução tem mais de uma década. Está amadurecendo ou está chegando a uma etapa de declínio e deformação?
Eu não diria que a revolução está em "declínio" ou "deformação". A guinada à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reativar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que atualmente não caminha em direção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.
O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projetos históricos. Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a atual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.
Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O fato é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político, mas ainda detém grande parte do controle economico. Romper tal controle implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais.
Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projetos e interesses de classe. Nesse ponto, uma revolução deve definir mais claramente o seu projeto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.
A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.
William I. Robinson é professor de Sociologia, Universidade da Califórnia – Santa Bárbara
FILME BASEADO NA OBRA DE JANE AUSTEN
CINEMA INGLES
MINE SÉRIE BBC
FILMES BASEADOS NA OBRA DE JANE AUSTEN
MISS AUSTEN REGRETS 2008
DIREÇÃO JEREMY LOVERING
OLIVIA WILLIAMS
SAMUEL ROUKIN
GRETA SACCHI
IMOGEN POOTS
PHYLLIDA LAW
PIP TORRENS
AVI LEGENDADO
BY SSRJ
Sinopse:
O filme é sobre uma parte da vida da famosa escritora britânica Jane Austen.
Nos últimos anos de sua vida, quando ela se aproxima dos 40, Jane Austen ajuda sua sobrinha Fanny a encontrar um marido.
Créditos: BaixarLivre
Crítica:
Miss Austen Regrets - Os últimos anos de uma das maiores escritoras inglesas.
Da mesma maneira que suas
heroínas, a escritora Jane Austen enfrentou muitas das convenções de
sua época lutando em busca do final feliz que todas alcançaram em sua
obra, mas que infelizmente, a autora não conseguiu para si mesma.
É nesta premissa que se baseia
o roteiro de "Jane Austen Regrets" (2008), um filme para a TV produzido
pela emissora BBC 1, que já está disponível em DVD importado e faz
parte da coleção "Jane Austen´s Sense & Sensibility Collector´s
Set".
O foco desta biografia é nos
últimos anos de vida da escritora, que morreu em 1817, aos 41 anos de
idade, depois de passar por um longo período doente. Dirigido por
Jeremy Loving, o filme é um verdadeiro achado para quem se encantou
pelo romantismo de "Amor e Inocência" (2007), mas sentiu nele a
ausência de melhores expicações para o fato de uma mulher que tanto
valorizou o amor, descrevendo-o em sua obra como a maior das
realizações humanas, aquela que tem força para vencer tudo; acabou
sozinha, de uma forma tão melancólica; em uma época e sociedade em que
permanecer solteira tinha um peso enorme e significava uma verdadeira
condenação social para uma mulher.
O roteiro, desenvolvido por
Kevin Hood, foi baseado na correspondência entre Jane (Olivia
Williams), sua irmã Cassandra (interpretada por Gretta Scacchi) e sua
sobrinha Fanny (Imogen Potts) e mostra a escritora como uma mulher
inteligente, que tem uma visão muito clara e crítica e por isso é muito
bem resolvida, apesar de sofrer com as restrições que suas decisões
significavam.
Mas as piores críticas partem
da própria casa da autora, sua mãe interpretada por Phyllida Law,
mostra-se um "poço de amarguras" sempre despejando suas frustrações
sobre a filha, a quem acusa de ser a causa de tudo de ruim pelo que
passa e passou a família.
Uma
atitude que deixa clara para qualquer pessoa a razão das mães mostradas
em seus livros serem, em geral, figuras tão negativas.
As diversas chances que Jane
teve para casar-se são mostradas em flashback e entre elas, um
relacionamento com o Reverendo Brook Bridges (Hugh Bonneville) chama
atenção por ser o mais próximo do que poderia ter sido um casamento bem
sucedido; mesmo assim, a autora deixa claro que não conseguiria abrir
mão de suas obras para viver ao lado de ninguém, nem mesmo de seu
grande amor. Gerações e gerações de ávidos leitores agradecem.
Elenco:
Samuel Roukin...Harris Bigg
Olivia Williams...Jane Austen
Greta Scacchi...Cassandra Austen
Imogen Poots...Fanny Knight
Phyllida Law...Mrs. Austen
Pip Torrens...Edward Austen Knight
Harry Gostelow...Rev. Charles Papillon
Tom Hiddleston...Mr. John Plumptre
Hugh Bonneville...Rev. Brook Bridges
Tom Goodman-Hill...Mr. Lushington MP
Adrian Edmondson...Henry Austen
Sylvie Herbert...Mme. Bigeon
Jack Huston...Doctor Charles Haden
Informações Técnicas:
Título Original: Miss Austen Regrets
País de Origem: Inglaterra,USA
Gênero: Drama.Biografia
Tempo de Duração: 85 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Estúdio/Distrib.: BBC
Direção: Jeremy Lovering
IMDb...7.4
Dados do Arquivo:
Formato: AVI Legendado
Tamanho: 1.57 GB
Qualidade: DVDRip
Legenda: Pt-Br [Separada]
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