Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 23 de março de 2010
Críticas a Israel.....
Israel: defensores dos direitos humanos temem “caça às bruxas”
JERUSALÉM – Os especialistas falam de um clima de “caça às bruxas”,
e Gideon Levy, editor independente do jornal Haaretz, não
hesita em denunciar a orientação “macartista” do movimento Im Tirtzu.
Defendendo os “valores do sionismo”, este lançou uma violenta
campanha contra o New Israel Fund (Novo fundo israelense, NIV), uma
fundação que financia as principais organizações de defesa dos direitos
humanos israelenses, e sua presidente, a professora Naomi Chazan.
Segundo o Im Tirtzu, que recebeu o poderoso apoio do jornal popular Maariv,
o NIV financia as dezesseis organizações não governamentais (ONG) que
forneceram “92% das referências negativas” contidas na
relação do juiz sul-africano Richard Goldstone, o qual acusa Israel de
ter cometido “crimes de guerra” durante a guerra de Gaza entre
dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Conhecido por sua orientação de
extrema direita, o Im Tirtzu está próximo dos meios evangélicos
americanos.
Ele acaba de obter uma primeira vitória: Naomi Chazan, editora
respeitada do Jerusalem Post já há dez anos, recebeu
um e-mail anunciando-lhe que seu vínculo havia terminado. Mas o
confronto não acabou: na Knesset, o Parlamento israelense, vários
deputados comandam uma ofensiva brutal, qualificando as ONGs visadas de “traidoras”
pertencendo a uma “quinta colônia”.
Uma proposta de criação de comissão de inquérito parlamentar foi
apresentada, com o objetivo de desvelar as fontes de financiamento do
New Israel Fund. Ele, que foi criado em 1979, tem sua sede em
Washington. Recebe doações dos judeus americanos, e
direcionou após sua criação mais de 200 milhões de dólares a numerosas
organizações que partilham os ideais de democracia e de justiça social.
Entre elas temos B’Tselem, Breaking the Silence, a Associação pelos
Direitos Cívicos em Israel, o Comitê Público contra a Tortura, Médicos
pelos Direitos do Homem, Yesh Din, Adalah, Hamoked, etc., ou seja, as
principais organizações que defendem os direitos dos Palestinos, dão a
palavra aos soldados israelenses amordaçados pela censura militar e, de
uma maneira geral, conduzem o combate da liberdade de expressão.
Movimento de repressão
Em nome de treze dessas organizações, a B’Tselem escreveu ao
presidente Shimon Pérès, ao primeiro ministro, Benyamin Nétanyahou, e ao
porta-voz da Knesset, Reuven Rivlin, para denunciar uma “campanha
crescente e sistemática”. “Uma democracia não deve reduzir ao
silêncio as vozes críticas; defender os direitos do homem é vital”,
sublinha esse manifesto.
As organizações humanitárias israelenses temem que a campanha do Im
Tirtzu se insira em um movimento mais geral de repressão, como aquela
que atinge os militantes palestinos e israelenses que protestam contra a
“cerca de segurança” e as expulsões de famílias palestinas do bairro de
Cheikh Jarrah, na parte leste de Jerusalém.
Laurent Zecchini
Tradução de Liziane Mayer
Para acessar o original clique aqui
segunda-feira, 22 de março de 2010
Yeda e o sonho da ressurreição
Por Paulo Muzell
O tema da “ressurreição” é tão velho quanto o próprio homem, está
presente na mitologia e nas religiões. Traz consigo a sempre alimentada
esperança de superação da morte, além do mistério e da magia de um
retorno inesperado. Das religiões o tema migrou para a literatura e daí
para o cinema. Estórias de vampiros e vampiras há mais de cem anos se
sucedem nas telas, adicionando ao tema a “pimenta” do terror e do sexo,
formando uma mistura tão do agrado do grande público. Bom para a
indústria do cinema e para Hollywood, que encontrou aí um inesgotável
“filão” para ganhar dinheiro.
Mas o tema é, também, velho e recorrente na política. Ao examinarmos o
passado político brasileiro – remoto ou recente – encontramos inúmeros
episódios de “tentativas de ressureição”. Felizmente para nós,
invariavelmente mal sucedidas. Aí estão os exemplos do Ademar de Barros e
do Jânio Quadros, e mais recentemente, do Malluf e do Collor.
Pois é aqui, neste remoto Rio Grande é que surge a mais nova,
insistente, quase frenética, tentativa de ressureição. A
personagem-postulante, a ex-governadora em exercício busca, de todas as
formas e com forte apoio da mídia cabocla – e em especial do Correio do
Povo do grupo Record – a recuperação de sua combalida imagem.
Envolvida em denúncias de desvios antes mesmo de assumir, a
arrogância, a presunção e o autoritarismo foram marcas registradas do
seu (des) governo. O resultado não poderia ser outro: nos últimos meses
teve a pior avaliação dentre todos os governadores do país, sendo sua
rejeição a maior.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
Ela esteve por cair, foi por pouco, salvou-a o apoio incondicional do
dr. Simon e de sua turma do PMDB. É, o dr. Simon aquele mesmo que faz
pose de paladino da ética e que há alguns atrás ameaçou renunciar seu
mandato de senador, alegando “desencanto com a política”.
Neste início de 2010, “salva pelo congo” a personagem-postulante
começa a encenar a “farsa da ressureição”. Não lhe falta o apoio
midiático: todos os dias os veículos locais e, invariavelmente, o Correio
do Povo apresenta em destaque a postulante em “um mundo cor de
rosa”: anunciando superávits, inaugurando obras, prometendo investir 2,8
bilhões em 2010. Se examinarmos o balanço consolidado do Estado de
2009, verificaremos que foram aplicados em investimentos “no amplo
senso”, incluídas aí as inversões financeiras apenas 660 milhões de
reais, o que significa que para obras destinou-se algo na faixa dos 400
milhões. Como investir 2,8 bilhões em 2010? Isso é uma
irresponsabilidade: é anunciar e prometer o impossível!
Fiquem descansados os gaúchos. Apesar deste “generoso apoio” do Correio
do Povo e dessa lamentável mídia cabocla – que não noticia e
analisa fatos, mas que monta e encena pantomimas - a desejada
“ressureição” não vai ocorrer. Ela é apenas mais uma esperança vã.
Ilustrações: Sátiro-Hupper
Socialismo na Bolivia...
Neste estudo sobre o futuro do processo
revolucionário de mudanças em curso na Bolívia, Marcos Domich conclui
respondendo à pergunta como é possível, hoje e na Bolívia, “um país
atrasado, pobre, cercado construir uma nova ordem, a sociedade
socialista. Sim, acreditamos que é possível nas actuais conjunturas
nacional e internacional. Ambas são favoráveis, ainda que à revolução
boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma outra, não se lhe será
aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já sabemos. Será como
disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação heróica».”
O Socialismo na e para a Bolívia (da vitória eleitoral à construção da nova ordem)
Marcos Domich*
Ninguém
duvidava do triunfo de Evo Morales. Todos sabiam que venceria com mais
de 50 por cento dos votos, mas poucos acertaram na percentagem final.
Conseguir 64%, é alcançar um cume pouco habitual. No entanto, ratifica o
facto de onde há unidade das massas pode-se atingir índices que se
aproximam de uma espécie de unanimidade política. Para a outra banda –
para a direita e o imperialismo – o êxito da candidatura popular foi uma
humilhação nunca vista.
O triunfo permitiu chegar ao controlo de importantes alavancas do
poder político, particularmente em ambas as câmaras legislativas. Isto
possibilita a aprovação das leis e códigos, e a nomeação de autoridades
que facilitarão uma aplicação sistemática e efectiva da nova
Constituição Política do Estado (NCPE). Deu-se uma situação sui generis,
agora é possível fazer profundas transformações estruturais e
super-estruturais pelo mandato da Constituição e das leis.
Anteriormente, a revolução, o povo em armas ou o que lhe queiram chamar,
executavam medidas revolucionárias sem outra deliberação para além da
lubrificada vontade popular. E se aí radicava a sua legitimidade, havia o
melindre de não serem «legais», mais ainda, estraçalhavam a velha
legalidade que outra coisa não era que a lei formulada, como obra de
alfaiate, exactamente à medida dos interesses dos patrões e dos
monopólios. Hoje é possível a mudança legítima e completamente legal. Na
verdade consumou-se uma revolução política pacífica e que até tem a sua
própria Constituição.
As eleições bolivianas têm uma dupla projecção: uma exterior e outra
interior. Isso entende-se melhor se falarmos de alguns prolegómenos das
eleições. A eminência do êxito da candidatura de Evo determinou que a
reacção nativa e o imperialismo espremessem os cérebros a imaginar as
maneiras de perturbar o processo eleitoral; como se disse, deram mil e
uma voltas na tentativa de as invalidar. A experiência histórica diz-nos
como se move uma direita em transe de sofrer uma derrota que, no caso
das eleições bolivianas de Dezembro, marcam para ela e para os seus
sustentáculos a possibilidade de uma derrota estratégica. Derrota
estratégica quer dizer que o processo de mudanças continuará a sua
marcha ascendente que inclusive poderá transformar-se num processo
revolucionário, com tudo o que esta definição significa. E aqui está o
cerne da questão. Às classes dominantes apavora-as a possibilidade da
sua extinção histórica.
Entre as medidas perturbadoras estava a tentativa de impedir o voto
de cerca de 400.000 cidadãos. Depois tentaram invalidar cerca de 250.000
votos presumivelmente a favor do MAS, de acordo com sondagens
confiáveis. Outro objectivo era o de impedir que o futuro Parlamento
boliviano contasse com uma maioria de deputados e senadores do MAS,
sobretudo na câmara de senadores. O seu sonho esfumou-se e a direita
elegeu apenas 10 senadores face aos 26 dos MAS. Percebe-se agora a
consigna do voto cruzado. Queriam forçar a diminuição de deputados da
bancada do MAS. No final este partido obteve 86 deputados contra 36 do
seu imediato seguidor.
A campanha da oposição baseava-se numa acção dissuasora, mentirosa e
provocadora, utilizando a poderosa bateria de meios de comunicação de
massas ao seu serviço. Todos tocavam pela mesma partitura. O efeito que
procurava era deteriorar a imagem dos candidatos oficiais, da esquerda,
atribuir-lhe as piores intenções. Chegou-se a tergiversações impossíveis
como no caso do comando mercenário dirigido por Rósza Flores. Apesar de
estar há muito referenciado, inclusivamente denunciado perante a ONU,
de ser encontrado com explosivos na sua própria casa em Budapeste,
pretendiam apresentá-lo como um contratado, um agente do governo de
Morales.
A dimensão externa é a projecção do êxito do povo boliviano na
América Latina. Com o retumbante triunfo de Evo Morales, a chamado
«volta à esquerda» continua e pesará nas próximas eleições e acções
políticas e diplomáticas. José Mujica, da Frente Ampla uruguaia,
derrotou inapelavelmente o direitista branco La Calle. [N. do T.: os
partidos tradicionais, que se revezavam no poder, os Blancos e os
Colorados]
O caso do Chile é diferente e exige uma profunda reflexão. Trata-se
claramente de uma falta de unidade das forças de esquerda e chama a
atenção atitudes como a do ex-deputado da Concertação, Enriquez-Ominami.
Face á sucessão de vitórias das candidaturas democratas,
progressistas e de esquerda, há já uma década, o imperialismo continuará
a procurar por todos os meios - incluindo os mais ilícitos – travá-la e
impedir a passagem a novos escalões. Para os seus objectivos, é uma
contradição que em cada nova eleição prossiga o êxito do progressismo
sobre o conservadorismo, da esquerda sobre a direita. Há provas do que o
imperialismo pretende e as Honduras é o exemplo mais claro. Há mais
países em que chovem as denúncias de maquinações conspirativas do
império: Venezuela, Equador, Nicarágua, Argentina e outros estão debaixo
de mira. Até as catástrofes naturais como a do Haiti são pretextos para
ensaiar ocupações militares. Obviamente, os governos servis tipo Uribe e
as suas sete bases concedidas ao Pentágono são peças importantes da
tramóia contra-revolucionária do imperialismo.
Mas no conjunto há uma circunstância que se levanta contra os planos
imperialistas: em Cancún nasceu um novo agrupamento dos países da
América Latina e do Caribe, a Comunidade de Estados da América Latina e
do Caribe. O imperialismo não vê com bons olhos a emergência de uma nova
organização inter-estatal e integracionista de que não fazem parte nem
os EUA nem o Canadá. Os povos, os governos progressistas, devem
desenvolver os maiores esforços para que esta obra de unidade, de
integração e de soberania atinja o seu ponto mais alto.
Com este panorama devem fixar-se algumas premissas que balizem a
actividade da esquerda, da ampla representação parlamentar sob a sigla
do MAS e até do próprio governo. Em primeiro lugar impõe-se uma atitude
da máxima responsabilidade e coerência política, de uma consciência
precisa das tarefas, do rumo e das metas que há que atingir no processo
de construção de uma nova sociedade.
Ainda que escassa, do mal o menos, haverá uma representação
parlamentar totalmente confiável pela sua firmeza política e ideológica,
pela sua formação e compromisso com a causa da libertação nacional e
social na perspectiva da superação do capitalismo.
Não será uma atitude arrogante ou de satisfação plena pelo rotundo
triunfo de Dezembro e dos que já se avizinham para Abril. A direita, que
perdeu possibilidades no campo da confrontação democrática, voltará ao
caminho anterior e cada vez com mais fúria, fruto da sua impotência
política. Com a facilidade que lhe conhecemos, há que temer a sua
passagem ao terreno do complot, da resistência organizada e da assumpção
da violência social, inclusive do terrorismo.
Também se deve pensar que a reacção, e sobretudo esse amplo diapasão
social chamado conservadorismo, tem outras formas de acção na base dos
elementos de atraso e da contaminação da reversão sobre a consciência
social. O mês de Fevereiro caracterizou-se pela subida dos preços do
açúcar, da carne de frango e outros. Certos sectores como os transportes
provocaram sérios problemas com greves que não têm qualquer fundamento.
Noutros sectores há reivindicações de tipo anárquico e nocivo que,
contudo, se podem combater e controlar. Por fim, as medidas oportunas do
governo resolveram os transtornos, mas ainda não há uma organização
vigilante do povo, das organizações sociais, dos sindicatos e dos
partidos de esquerda. Até agora houve uma espécie de convergência, não
propriamente acordada, entre as organizações e os sectores referidos. Do
que se trata agora é converter a convergência em organização dotada de
objectivos, programa e estruturas definidas. A consigna da unidade
continua a ser a mais importante desta etapa histórica.
Ainda que de forma não calculada nos seus detalhes, emergiu de forma
espontânea o bloco histórico capaz de levar por diante a sua tarefa
histórica da construção da nova sociedade. Camponeses e camponesas,
operários e operárias, povos originários, camadas médias,
intelectualidade avançada e até pequeno empresariado constituem a
matéria-prima desse bloco a que há que infundir consciência
revolucionária. No bloco histórico, ainda se deve trabalhar muito, e
muito arduamente, pela unidade política e pelo esclarecimento
ideológico. Tarefa que não é fácil quando se trata de vários componentes
de classe e de diversidade de povos que, até agora, não só eram
marginalizados e discriminados, como em boa medida eram invisibilizados.
Por outro lado não se pode esquecer e passar por alto sobre as
manifestações que priorizam o étnico nacional como a pedra fundamental
da nova construção social e até adquirem uma matriz excluente que não
estabelece diferenças no seio do outro pólo. Tende-se a ignorar que para
o capitalismo não há muralhas da China e ele penetrou em todos os
resquícios da sociedade e dos povos.
Por último, nesta formulação de tarefas de conteúdo ideológico, não
se pode omitir que só a superação das tendências «naturais» do interesse
privado, do seu crescimento e expansão, impedirá que, mais à frente, se
convertam num obstáculo à universalização e resgate do verdadeiro
sentimento colectivo, solidário, igualitário ou simplesmente
comunitário, se se preferir.
À luz da análise da actual situação boliviana podem inferir-se
várias conclusões que se traduzirão de facto em linhas de acção e
tarefas a derem executadas neste período. Em primeiro lugar há que
procurar a maneira de cumprir uma série de promessas eleitorais que não
têm esse sentido, mas que na realidade são verdadeiras medidas
programáticas transcendentais. Entre outras está a industrialização do
país, com um novo sentido social. Perseguem o fim preciso de desenvolver
as forças produtivas em todos os seus componentes, o conjunto dos
produtores, da classe operária e dos instrumentos de produção. Na
agricultura – além de estimular certos caminhos imprescindíveis para a
alimentação da população e as necessidades de exportação – está a tarefa
de liquidar o latifúndio e libertar as forças produtivas superando o
despojo mais que centenário dos povos originários.
Há outros aspectos que fazem parte do processo de mudanças que
poderão, finalmente, ser aplicados depois do apoio popular ter
ratificado o governo. A NCPE tem inscritas e legalizadas por referendo
popular uma série de disposições constitutivas de um verdadeiro salto
qualitativo no plano da politica social, da educação e da saúde, que
tornem a Bolívia num Estado avançado e moderno. Isto sucede, igualmente,
no que se estabelece a nossa política externa como soberana, pacifista,
solidária e de relações com todos os países do mundo, baseadas no
respeito recíproco, na não ingerência nos assuntos internos de cada país
e no benefício mútuo e na solidariedade com os povos em luta pela sua
emancipação e defesa da sua soberania. Este é o novo carácter da nossa
inserção na comunidade internacional.
Um momento muito importante é o conjunto de disposições que,
mantendo o carácter unitário do Estado plurinacional e republicano,
estabelece o regime das autonomias departamentais, regionais, municipais
e de povos originários. Este novo ordenamento terá de ser aplicado
procurando evitar as possíveis fricções entre os factores concorrentes.
Será uma prova à imaginação e criatividade e sobretudo ao patriotismo
dos bolivianos que privilegiarão o interesse nacional aos interesses
regional ou particular.
Não é objectivo destas notas referir todos os aspectos do plano de
desenvolvimento para refundar o país e efectuar uma verdadeira revolução
que, libertando a dependência, democratizando a sua sociedade,
aceitando e promovendo a unidade na diversidade, conduza à construção de
uma nova ordem social. Foi precisamente isto que pôs na mesa de
trabalho e no debate teórico o binómio presidencial do discurso de
tomada de posse de 22 de Janeiro, para o novo mandato de 5 anos.
O Presidente Morales, sob diversos ângulos, afirmou a caducidade do
sistema capitalista e o imperativo da construção do socialismo. E de
imediato surgiu a pergunta legítima: Como será o socialismo na Bolívia?
Será o socialismo real, o do século XXI, o autogestionário
jugoslavo, o modelo chinês, vietnamita ou cubano? Ou será, por fim, o
socialismo comunitário? Como o definiram teóricos e analistas políticos
bolivianos? A nosso ver a procura de aposições, de adjectivos, é
irrelevante para o objectivo final. Desvia a atenção dos temas centrais,
das essências e do carácter dos fenómenos. O Vice-presidente Garcia
Linera disse, em algum momento das suas intervenções, «não importa como
se chama (o socialismo), o que importa é em que consistirá». Estamos de
acordo e abordemos como entendemos o conteúdo, a essência desse
socialismo.
Fique claro que não partimos do vazio teórico, de uma espécie de
vacuum doutrinal. A nossa concepção de socialismo, confessamo-lo à
partida, não é nenhuma fórmula nova nem um invento. Ela parte da
concepção de Marx, de Engels e de Lenine de uma forma, digamo-lo assim,
radical, se isto significa que partimos dos clássicos e desenvolvemos a
aplicação da teoria do socialismo científico na Bolívia e para a Bolívia
de agora.
Recorremos a uma citação que nos ajuda a aclarar o nosso ponto de
partida: «No materialismo histórico há que continuar a inspirar-se
também no que diz respeito à análise de outras revoluções que, a partir
do Outubro bolchevique, mudaram o rosto do mundo. Não se trata de uma
vivência já encerrada e referida ao passado. Junto dos anticomunistas
profissionais e de todos os comunistas ou ex-comunistas que são presa da
autofobia, há ainda partidos e países que se consideram empenhados nos
projectos de construção de uma sociedade para além do capitalismo.»
Losurdo, Doménico, Fuga da História? p. 60; ed. Cartago, 2007.)
Geralmente fala-se da Revolução como de um processo único. Na
realidade tem duas fases. A primeira é a revolução política que, em
síntese, consiste na mudança das classes no poder central de um Estado
ou de um país. As classes revolucionárias – operárias, camponesas e
outras – substituem as classes dominantes e possuidoras, a oligarquia, a
burguesia, etc.. Esta fase, muito dinâmica, é variável no seu
prolongamento. Nuns casos a deslocação do velho poder político é rápida,
Nalguns casos mais prolongada, em função de numerosos factores que têm a
ver sobretudo com as correlações de forças, nacionais e internacionais,
da força, do empenho dos pólos da contradição.
Depois vem e por vezes corre paralela – sobretudo nalguns aspectos –
a fase da revolução propriamente social. Esta aponta para a
transformação, a mudança da base económica da sociedade, do modo de
produção e do que habitualmente se conhece como a estrutura económica.
Adiantando-nos um pouco, podemos dizer que a fase política muda,
transforma, sobretudo a super-estrutura e o ordenamento jurídico e
político que se levanta sobre a estrutura e que responde aos interesses
das classes dominantes. Demora muito mais transformar a consciência
social, sobretudo aquele extracto que se denomina consciência quotidiana
ou habitual. Por isso se fala tanto da super-vivência do passado, da
conduta e do modo de actuar e pensar das pessoas que se supõe já não
deveriam continuar a ser como são.
Em que consiste a mudança da estrutura, do modo de produção; a
revolução social propriamente dita? Esquematicamente vamos considerar
três elementos que consideramos fundamentais: o sistema de propriedade
dos meios de produção, as relações sociais de produção que resultam
sobretudo da anterior e o modo de distribuição da riqueza social.
O primeiro elemento é o determinante dos outros componentes e
acabará reflectindo-se até em elementos tão etéreos como a psicologia
das pessoas e a vida espiritual de uma sociedade. Da forma das relações
de produção. Na sua forma estabelece a modalidade com que o proprietário
dos meios de produção compra, ou mais exactamente ainda, como se
apropria do trabalho do que vem a ser o «seu» dependente, o seu
assalariado ou o seu peão. Estas relações de produção são as que
encarnam a contradição entre o possuidor e o despossuído e, mais cedo
que tarde, revelar-se-ão como luta de classes.
Finalmente, conforme seja a base económica, os membros de uma
sociedade recolhem a riqueza social (podemos dizer «apropriam-se»,
particularmente do excedente). Marx comparava a riqueza social com uma
grande panela na qual os indivíduos, obrigatoriamente membros de uma
classe social, extraíam da panela uma parte dessa riqueza, de acordo com
o tamanho da sua colher. Ínfima, minúscula, a dos operários e da
pobreza em geral e enorme, extraordinariamente grande, a do burguês. Aí
esta com simplicidade em que consiste a injustiça social.
Não pode haver socialismo de nenhuma classe se não se transforma
essa base económica. Para falar da construção do socialismo com
propriedade deve colocar-se a meta histórica da liquidação da
propriedade privada dos meios de produção. Isto não acontece da noite
para o dia nem significa o desaparecimento de toda a forma de
propriedade; mesmo no socialismo integral, o comunismo, não desaparece a
propriedade pessoal, ainda que a propriedade dos meios de produção, a
propriedade social, seja universal e completa.
No segundo elemento, muda totalmente o carácter das relações de
produção. O operário, o trabalhador, o produtor dos bens materiais
emancipou-se e vai superando o seu estado de alienação, o estado de
dependência de outra vontade e do estado de separação, de perda de si
mesmo e do fruto do seu trabalho.
Por último, num processo que não é imediato, ir-se-á nivelando a
distribuição da riqueza social. O excedente tornar-se-á cada vez mais
colectivo. Por outras palavras terá aumentado de tamanho a colher dos
trabalhadores e dos pobres. Haverá mais justiça social e ir-se-á
estabelecendo essa fórmula da primeira etapa do socialismo «de cada um
segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho». Na
terminologia em voga na Bolívia tornar-se-á realidade a aspiração do
«sumaj causay», quechua, do «sumaj k’amaña», aymara, do «vivir bien»,
castiço.
Concluímos, dizendo que só uma revolução social completa pode
acercar-nos desse ideal, de forma nenhuma uma utopia como era moda dizer
há alguns anos. E nenhuma das suas fases pode ser separada da outra.
Uma revolução, somente política pode facilmente ser revertida, sobretudo
se deixou intacta a base ou se se deixarem intocáveis muitas formas de
propriedade privada dos meios de produção. E não haverá nenhuma
revolução social, nenhuma mudança estrutural se não se tender para a
liquidação da alienação do trabalhador.
Por último, em duas palavras, respondemos à premente pergunta de se é
possível, hoje e na Bolívia, um país atrasado, pobre, cercado construir
uma nova ordem, a sociedade socialista. Sim, acreditamos que é possível
nas actuais conjunturas nacional e internacional. Ambas são favoráveis,
ainda que à revolução boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma
outra, não lhe será aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já
sabemos. Será como disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação
heróica».
Este texto que nos foi enviado pelo autor foi redigido
com base no editorial de Marxismo Militante nº 45, de que Marcos Domich é
director.
* Marcos Domich, Professor da Universidade de La Paz, é
amigo e colaborador de odiario.info.
Tradução de José Paulo Gascão
domingo, 21 de março de 2010
Oficina ligada a rede de lojas escravizava imigrantes
Do blog do Sakamoto
Uma operação de auditores fiscais da Superintendência
Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP) inspecionou as
instalações da Indústria de Comércio e Roupas CSV Ltda., registrada em
nome do boliviano Valboa Febrero Gusmán, em 18 de fevereiro. Na oficina
de costura que funciona no sobrado de uma igreja evangélica no bairro de
Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte da capital paulista, foram
encontradas 16 bolivianos (um deles com menos de 18 anos) e um jovem
peruano trabalhando em condições análogas à escravidão na fabricação de
roupas femininas. Entre elas, peças com etiquetas para a rede de
magazines Marisa.
A partir daí, um rastreamento da cadeia produtiva da oficina
realizado pela auditores fiscais confirmou que as peças eram produzidas
para a rede, que possui mais de 220 lojas e 44 milhões de clientes/ano. A
fiscalização e a investigação foi acompanhada pelo jornalista Maurício
Hashizume, que publicou um um surpreendente relato do caso
na Repórter Brasil, do qual trago alguns trechos importantes:
Foram apreendidos documentos que trazem indícios de tráfico de
pessoas entre a Bolívia e o Brasil e também de endividamento forçado com
a oficina de costura. As jornadas de trabalho começavam às 7h e
chegavam a se estender até às 21h. As refeições eram feitas de modo
improvisado numa diminuta casa no mesmo cortiço que abrigava a oficina. O
irmão do dono da oficina permanecia todo o tempo junto com os
trabalhadores e atuava como uma espécie de vigia permanente da oficina
de costura. Em apenas um cômodo mal iluminado nos fundos de um dos
imóveis, construído na realidade para ser uma cozinha, sete pessoas
dormiam em três beliches e uma cama avulsa. Infiltrações, umidade
excessiva, falta de circulação de ar, mau cheiro e banheiros incompletos
completavam o cenário.
Abaixo, os trabalhadores na oficina de costura no momento da
libertação…
Para o Ministério do Trabalho e Emprego, a Marisa é “inteiramente
responsável pela situação encontrada” e “comanda e exerce seu poder de
direção e ingerência de diversas formas sempre no sentido de adequar a
produção de peças de vestuário à sua demanda, com exclusividade, a seu
preço e à sua clientela”. A empresa, por sua vez, afirma que “não mantém
e nunca manteve vínculos com trabalhadores estrangeiros em situação de
vulnerabilidade ou trabalhadores contratados com condições de
irregularidade” e que “a situação detectada pelos auditores não é de
responsabilidade direta ou indireta da Marisa”.
A reportagem inteira pode ser acessada clicando aqui.
… e o mesmo tipo de peça de roupa encontrada na oficina exposta
em um arara de uma das lojas. Fotos de Maurício Hashizume
PS: Os preços baixos de roupas em ruas de comércio paulistanas como a
José Paulino ou a Oriente, que tanto atraem os consumidores do varejo e
do atacado, muitas vezes são obtidos através da redução dos custos no
processo de produção. Parte considerável da mão-de-obra utilizada na
confecção dessas roupas é composta por imigrantes latino-americanos.
Bolivianos, paraguaios, peruanos, chilenos formam um verdadeiro exército
barato e abundante em São Paulo. Saem de seus países de origem em busca
de uma vida melhor em solo brasileiro, fugindo da miséria. Muitos
acabam caindo em situações de exploração e degradação.
A Anistia concedida pelo governo federal no ano passado contribuiu
para tirar muitos deles da ilegalidade e, portanto, conferir-lhes
direitos. A solução também passa, por exemplo, por legalizar as pequenas
oficinas de costura, para que elas possam registrar seus funcionários. E
atuar na rede de compradores, cuja demanda de mais por menos impulsiona
esse processo.
Parte do processo de combate ao trabalho escravo rural no Brasil tem
passado por uma ação de conscientização junto aos consumidores e pressão
sobre os atores da cadeia produtiva. No caso dos imigrantes
latino-americanos, não é diferente. Pois se esse tipo de exploração
existe é porque alguém acaba ganhando dinheiro com ele. E, creio eu, não
são os imigrantes, nem mesmo as oficinas.
Genocidio em Gaza....
Ban Ki-moon chama de “inútil e inaceitável” o bloqueio israelense a Gaza
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse hoje (21),
em Gaza, que o bloqueio israelense sobre a faixa palestina, que já dura
mais de quatro anos e impede a entrada de artigos básicos e materiais
de construção, é “inútil e inaceitável”.
Ban, que chegou esta manhã ao território, insistiu que o cerco israelense “aumenta o sofrimento e torna dura a vida da população” palestina, de 1,5 milhão de pessoas.
“A continuidade desta política está debilitando os moderados e encorajando os extremistas. Ela também impulsiona o contrabando e o comércio ilegal”, acrescentou , o sul-coreano em entrevista coletiva concedida em Khan Yunes, no sul de Gaza.
Ban, que chegou esta manhã ao território, insistiu que o cerco israelense “aumenta o sofrimento e torna dura a vida da população” palestina, de 1,5 milhão de pessoas.
“A continuidade desta política está debilitando os moderados e encorajando os extremistas. Ela também impulsiona o contrabando e o comércio ilegal”, acrescentou , o sul-coreano em entrevista coletiva concedida em Khan Yunes, no sul de Gaza.
EFE/Ali Ali
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a entrevista
coletiva
O secretário-geral da ONU confessou que é “frustrante” ver toda a
“destruição” causada pela ofensiva militar lançada por Israel entre
dezembro de 2008 e janeiro de 2009, quando 1.400 palestinos morreram, e
constatar “que a reconstrução não é possível”.
“Condeno todas as ações militares que levam à morte de israelenses e palestinos. Os conflitos só podem ser solucionados através de negociações”, afirmou.
Passo insuficiente
O sul-coreano também anunciou que as autoridades israelenses deram um “passo positivo”, mas “insuficiente”, ao aprovar um “projeto humanitário” da ONU que prevê a construção, em Khan Yunes, de 150 casas e um moinho de farinha, entre outras instalações.
Escoltado por veículos da ONU, Ban começou seu breve visita a Gaza pelo bairro de Izbet Abed Rabbo, onde algumas casas continuam destruídas devido ao bloqueio israelense, que impede a entrada de materiais de construção na região.
Pela manhã, Ban se reuniu com representantes de diferentes agências das Nações Unidas e fez visitas a projetos humanitários.
Na agenda do diplomata, não está prevista nenhuma reunião com representantes do Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Ainda neste domingo, Ban voltará a Jerusalém para se reunir com o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak; com vice-ministro das Reções Exteriores, Dany Ayalon, e com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu
Siga o Opera Mundi no Twitter
“Condeno todas as ações militares que levam à morte de israelenses e palestinos. Os conflitos só podem ser solucionados através de negociações”, afirmou.
Passo insuficiente
O sul-coreano também anunciou que as autoridades israelenses deram um “passo positivo”, mas “insuficiente”, ao aprovar um “projeto humanitário” da ONU que prevê a construção, em Khan Yunes, de 150 casas e um moinho de farinha, entre outras instalações.
Escoltado por veículos da ONU, Ban começou seu breve visita a Gaza pelo bairro de Izbet Abed Rabbo, onde algumas casas continuam destruídas devido ao bloqueio israelense, que impede a entrada de materiais de construção na região.
Pela manhã, Ban se reuniu com representantes de diferentes agências das Nações Unidas e fez visitas a projetos humanitários.
Na agenda do diplomata, não está prevista nenhuma reunião com representantes do Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Ainda neste domingo, Ban voltará a Jerusalém para se reunir com o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak; com vice-ministro das Reções Exteriores, Dany Ayalon, e com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu
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sábado, 20 de março de 2010
Qualquer semelhança com o Déficit zero de Yeda não é mera coincidência...
James Galbraith: em defesa dos déficits
públicos
Um programa de forte redução do déficit
pública destruiria a economia dos Estados Unidos em dois anos de crise. A
fobia de déficit de Wall Street, da imprensa, de alguns economistas e
praticamente de todos os políticos é uma dos perigos mais profundos que
enfrentamos. Não são apenas os velhos e doentes que estão ameaçados;
todos nós estamos. Pois cortar o déficit atual sem antes reconstruir a
engrenagem do sistema de crédito privado é um caminho certo para a
estagnação, para um segundo mergulho na recessão - e mesmo para uma
segunda Grande Depressão. A análise é de James Galbraith, e encontra-se no sitio Carta Maior, leia a integra do artigo no original aqui
James Galbraith - The Nation
[Documentário] Taxi para o Inferno (2007) – Alex Gibney
Créditos: Ebooksgratis
Toda a verdade sobre a tortura
perpetrada pelos Estados Unidos, através de uma investigação que parte
do percurso e morte de um taxista afegão em 2002… “Taxi to the Dark
Side” conquistou o Oscar de melhor documentário na 80ª cerimônia
do Oscar, em Hollywood.
A morte de um taxista afegão detido por
militares americanos é o ponto de partida deste documentário pertubador
sobre aquilo que o governo de Bush designa por “técnicas de interrogação
de suspeitos”, mas que o realizador e as leis internacionais chamam
pelo seu verdadeiro nome: tortura. A autópsia revelou que o taxista
tinha sido pendurado ao tecto pelas mãos e que foi depois pontapeado
brutalmente até à morte durante cinco dias…
Direção: Alex Gibney
Elenco: George Walker Bush, Colin Powell, Dick Cheney, Dilawar
Gênero: Documentário
Idioma: Inglês
Legendas: Português
Tamanho: 499 MB
Formato: avi
Elenco: George Walker Bush, Colin Powell, Dick Cheney, Dilawar
Gênero: Documentário
Idioma: Inglês
Legendas: Português
Tamanho: 499 MB
Formato: avi
Sobre o sionismo internacional...
Cuba, Israel e a dupla moral
Breno Altman*
Tem sido educativo acompanhar, nos últimos
dias, a cobertura internacional dos meios de comunicação, além da
atitude de determinadas lideranças e intelectuais. Quem quiser conhecer o
caráter e os interesses a que servem alguns atores da vida política e
cultural, vale a pena prestar atenção ao noticiário recente sobre Cuba e
Israel.
Na semana passada, em função de declarações do presidente Lula
defendendo a autodeterminação da Justiça cubana, orquestrou-se vasta
campanha de denúncias contra suposto desrespeito aos direitos humanos na
ilha caribenha. Mas não há uma só matéria ou discurso relevante, nos
veículos mais destacados, sobre como Israel, novo destino do presidente
brasileiro, trata seus presos, suas minorias nacionais e seus vizinhos.
Vamos aos fatos. No caso cubano, Orlando Zapata, um pretenso
“dissidente” em greve de fome por melhores condições carcerárias, preso e
condenado por delitos comuns, foi atendido em um hospital público por
ordem do governo, mas não resistiu e veio a falecer. Não há acusação de
tortura ou execução extralegal. No máximo, insinuações oposicionistas de
que o atendimento teria sido tardio – ainda que se possa imaginar o
escândalo que seria fabricado caso o prisioneiro tivesse sido alimentado
à força.
Mesmo não havendo qualquer evidência de que a morte do dissidente,
lamentada pelo próprio presidente Raúl Castro, tenha sido provocada por
ação do Estado, os principais meios e agências noticiosas lançaram-se
contra Cuba com a faca na boca. Logo a seguir o Parlamento Europeu e o
governo norte-americano ameaçaram o país com novas sanções econômicas.
Outro oposicionista, Guilherme Fariñas, com biografia na qual se
combinam muitos atos criminosos e alguma militância anticomunista,
aproveitou o momento de comoção para também declarar-se em jejum.
Apareceu esquálido em fotos que rodaram o mundo, protestando contra a
situação nos presídios cubanos e reivindicando a libertação de eventuais
presos políticos. Rapidamente se transformou em figura de proa da
indústria do martírio mobilizada pelos inimigos da revolução cubana a
cada tanto.
O governo ofereceu-lhe licença para emigrar a Espanha e lá se
recuperar, mas Fariñas, que não está preso e faz sua greve de fome em
casa, recusou a oferta. Seus apoiadores, cientes de que a constituição
cubana determina plena liberdade individual para se fazer ou não
determinado tratamento médico, o incentivam para avançar em sacrifício,
pois não será atendido pela força até que seu colapso torne imperativa a
internação hospitalar. Aliás, para os propósitos oposicionistas, de que
grande coisa lhes valeria Fariñas vivo?
O presidente Lula tornou público, a seu modo, desacordo com a
chantagem movida contra o governo cubano. Talvez fosse outra sua
atitude, mesmo que discreta, se houvesse evidência de que a situação de
Zapata ou Fariñas tivesse sido provocada por ato desumano ou arbitrário
de autoridades governamentais. Para ir ao mérito do problema, comparou a
atitude dos dissidentes com rebelião hipotética de bandidos comuns
brasileiros. Afinal, ninguém pode ser considerado inocente ou
injustiçado porque assim se declara ou resolva se afirmar vítima através
de gestos dramáticos.
Sem provas bastante concretas que um governo constitucional feriu
leis internacionais, é razoável que o presidente de outro país oriente
seus movimentos pela autodeterminação das nações na gestão de seus
assuntos internos. O presidente brasileiro agiu com essa mesma cautela
em relação a Israel, país ao qual chegou no último dia 14, apesar da
abundância de provas que comprometem os sionistas com violação de
direitos humanos.
Mas as palavras de Lula em relação a Cuba e seu silêncio sobre o
governo israelense foram tratados de forma bastante diversa. No primeiro
caso, os apóstolos da democracia ocidental não perdoaram recusa do
mandatário brasileiro em se juntar à ofensiva contra Havana e em
legitimar o uso dos direitos humanos como arma contra um país soberano.
No segundo, aceitaram obsequiosamente o silêncio presidencial.
A bem da verdade, não foram apenas articulistas e políticos de
direita que tiveram esse comportamento dúplice. Do mesmo modo agiram
alguns parlamentares e blogueiros tidos como progressistas, porém
temerosos de enfrentar o poderoso monopólio da mídia e ávidos por pagar o
pedágio da demagogia no caminho para o sucesso, ainda que ao custo de
abandonar qualquer pensamento crítico sobre os fatos em questão.
Um observador isento facilmente se daria conta de que, ao contrário
dos eventos em Cuba, nos quais o desfecho fatal foi produto de decisões
individuais das próprias vítimas, os pertinentes a Israel correspondem a
uma política deliberada por suas instituições dirigentes.
A nação sionista é um dos países com maior número de presos
políticos no mundo, cerca de 11 mil detentos, incluindo crianças, a
maioria sem julgamento. Mais de 800 mil palestinos foram aprisionados
desde 1948. Aproximadamente 25% dos palestinos que permaneceram em
territórios ocupados pelo exército israelense foram aprisionados em
algum momento. As detenções atingiram também autoridades palestinas: 39
deputados e 9 ministros foram sequestrados desde junho de 2006.
Naquele país a tortura foi legitimada por uma decisão da Corte
Suprema, que autorizou a utilização de “táticas dolorosas para
interrogatório de presos sob custódia do governo”. Nada parecido é
sequer insinuado contra Cuba, mesmo por organizações que não guardam a
mínima simpatia por seu regime político.
Mas o desrespeito aos direitos humanos não se limita ao tema
carcerário, que é apenas parte da política de agressão contra o povo
palestino. A resolução 181 das Nações Unidas, que criou o Estado de
Israel em 1947, previa que a nova nação deteria 56% dos territórios da
colonização inglesa na margem ocidental do rio Jordão, enquanto os
demais 44% ficariam para a construção de um Estado do povo palestino,
que antes da decisão ocupava 98% da área partilhada. O regime sionista,
violador contumaz das leis e acordos internacionais, hoje controla mais
de 78% do antigo mandato britânico, excluída a porção ocupada pela
Jordânia.
Mais de 750 mil palestinos foram expulsos de seu país desde então.
Israel demoliu número superior a 20 mil casas de cidadãos não judeus
apenas entre 1967 e 2009. Construiu, a partir de 2004, um muro com 700
quilômetros de extensão, que isolou 160 mil famílias palestinas,
colocando as mãos em 85% dos recursos hídricos das áreas que compõem a
atual Autoridade Palestina.
Pelo menos seiscentos postos de verificação foram impostos pelo
exército israelense dentro das cidades palestinas. Leis aprovadas pelo
parlamento sionista impedem a reunificação de famílias que habitem
diferentes municípios, além de estimular a criação de colônias judaicas
além das fronteiras internacionalmente reconhecidas.
São, essas, algumas das características que conformam o sistema
sionista de apartheid, no qual os direitos de soberania do povo
palestino estão circunscritos a verdadeiros bantustões, como na velha e
racista África do Sul. O corolário desse cenário é uma escalada
repressiva cada vez mais brutal, patrocinada como política de Estado.
Mas os principais meios de comunicação, sobre esses fatos, se
calam. Também mudos ficam os líderes políticos conservadores. Nada se
ouve tampouco de alguns personagens presumidamente progressistas, sempre
tão céleres quando se trata de apontar o dedo acusador contra a
revolução cubana.
Talvez porque direitos humanos, a essa gente de dupla moral, só
provoquem indignação quando seu suposto desrespeito se volta contra
vozes da civilização judaico-cristã, da democracia liberal, do livre
mercado, do anticomunismo. Não foi sem razão que o presidente Lula
reagiu vigorosamente contra o cinismo dos ataques ao governo de Havana.
A mobilização do magistério do RS continua....
Só a
luta pode garantir reajuste
A Assembleia Geral do dia 19 de março
reafirmou a necessidade de se lutar pelo reajuste emergencial de 23,14%,
pois estamos desde 2007 com os salários congelados. Na Secretaria da
Educação, depois de reunião no último dia 18, ficou claro que só a luta
da categoria poderá obrigar o governo a negociar.
O CPERS/Sindicato rejeita qualquer tipo de debate que signifique a retomada dos projetos retirados da Assembleia Legislativa no final do ano passado e que atacavam os nossos planos de carreira. Essa proposta não tem trânsito na categoria.
O CPERS/Sindicato rejeita qualquer tipo de debate que signifique a retomada dos projetos retirados da Assembleia Legislativa no final do ano passado e que atacavam os nossos planos de carreira. Essa proposta não tem trânsito na categoria.
No mesmo dia da nossa Assembleia, logo
após uma passeata e um ato público em frente ao Palácio Piratini, o
governo, através do secretário Otomar Vivian (Casa Civil), tentou fazer
chantagem com a categoria. Disse que poderia receber o sindicato desde
que retirássemos a reivindicação de reajuste salarial. Um verdadeiro
absurdo.
Para
pressionar o governo a atender nossas reivindicações, a Assembleia
também aprovou um calendário de lutas, com manifestações em Porto Alegre
nos próximos dias 24 e 30 de março. Aprovou ainda a realização de
panfletagens junto à comunidade, envio de correios eletrônicos e cartas
aos deputados estaduais, busca de apoio nas câmaras de vereadores e
envio de e-mails aos ministros do Supremo Tribunal Federal pedindo
agilidade na votação e apoio à lei do piso.
Para garantir a reposição da inflação, o
piso nacional e a manutenção dos planos de carreira, organize sua
escola e participe do calendário de mobilização.
Dia 24 de março – Vigília na Praça da
Matriz, em Porto Alegre
Dia
30 de março – Ato Unificado dos Servidores, na Praça da Matriz, em
Porto Alegre
João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato
Foto: Caco Argemi
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