O Bolsa-família na EuropaJuremir Machado - blog do correio do povo
Dizem que bolsa-família é coisa de país atrasado. Concordo. Todo país
europeu desenvolvido e com algum senso de responsabilidade social tem
bolsa-família. Sem esse nome, claro. A Alemanha tem. A França tem. Os
países escandinavos tem. Até a Inglaterra tem. Os europeus são
dinossauros. Na França, o bolsa-família atende pelo nome de “aides
sociales” (ajudas sociais). A França é totalmente insensível aos novos
tempos. O seguro-desemprego francês pode durar até 36 meses. Depois
disso, se a vida continua dura, o sujeito pode ter acesso ao RMI (renda
mínima de inserção): 447 euros para uma pessoa só, 671 euros para quem
tiver um filho. Quase 2 milhões 500 mil franceses recebem o RMI (nome
válido até este ano). A partir dos 59 anos de idade, a pessoa pode
receber o RMI sem sequer ter a obrigação de procurar trabalho. Não dá!
As famílias francesas recebem ajuda financeira conforme o número de filhos. O Estado ajuda a alugar apartamento e até a tirar férias. O sistema de saúde é universal e gratuito, inclusive os medicamentos. Que atraso! Um estudante estrangeiro em situação regular na França pode receber ajuda do Estado para ter onde morar. É muita mamata. Lembrete: o governo francês atual é, como eles dizem, de direita. Mas o Estado francês é republicano. A concepção de Estado dos europeus é muito esquisita: uma instituição para ajudar a todos e proteger os interesses da coletividade, devendo estimular a livre-iniciativa e dar condições de vida digna aos mais desfavorecidos. Agricultores recebem subsídios. Empresas ganham incentivos. A universidade é gratuita para todos os aprovados no BAC, o Enem deles. Há vagas para todos. Obviamente não há necessidade de cotas. Que loucura! Existem instituições privadas de ensino, cujos salários dos professores são, em geral, pagos pelo Estado, pois se trata de um serviço de utilidade pública. Aí os nossos liberais adoram dizer: “E por isso que a França está quebrada”. Tive a impressão de que a crise mundial mostrou os Estados Unidos mais quebrados do que a França. Os mesmos liberais contradizem-se e afirmam: “A França é rica e pode se dar esse luxo...” É rica ou está quebrada? Quase 30% do PIB francês é distribuído em ajudas sociais. O modelo francês enfurece os capitalistas tupiniquins, leitores de revistas como a Veja, cujas páginas pingam ideologia. Visto que dá mau exemplo de proteção social, o Estado francês é chamado de anacrônico, ultrapassado, assistencialista e outros termos do mesmo quilate usados na guerra midiática. Está certo. Moderno é ajudar a turma dos camarotes e mandar a plebe se virar. Acontece que a plebe do Primeiro Mundo não aceita esse tipo de modernidade tão avançada. É plebe rude. Se precisa, quebra tudo, mas não cede. Os ruralistas de lá são mestres em incendiar prefeituras quando falam em cortar-lhes os subsídios estatais. Nas cidades, a turma adora queimar uns carros para fazer valer seus direitos. Na Europa, pelo jeito, não se melhora o Estado piorando a sociedade. A França tem muito a aprender com o Brasil. Somos arcaicamente modernos. Numa pesquisa recente, a França tem a melhor qualidade de vida da Europa. Nada, claro, que possa nos superar. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Subsidio europeu para a população carente...
Porque o PiG não chama Uribe de ditador e facista??
As mais recentes chacinas têm-se apresentado no
estado de Córdoba, onde fica a fazenda O Ubérrimo, de Álvaro Uribe
Vélez. Nesse estado, segundo analistas e defensores dos Direitos
Humanos, como Iván Cepeda e Jorge Rojas, teve sua origem o modelo
paramilitar que depois foi expandido pelo país todo.
Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.
O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.
Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.
O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.
Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.
As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.
No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.
A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?
Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.
O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.
Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.
O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.
Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.
As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.
No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.
A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?
Hora de acordar |
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Adriano Benayon* | |
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quarta-feira, 24 de março de 2010
O monopolio da midia Australiana....
Bem-vindos à primeira murdocracia mundial
por John Pilger

O que é uma murdocracia? É onde a fidelidade e o acréscimo de editores e gestores de Murdoch existem sem disfarce, uma inspiração ao seu coro em sete continentes, onde mesmo os seus competidores cantam em uníssono e os políticos sagazes prestam atenção ao murdoquismo: "Como é que vai ser? Um cabeçalho por dia ou um balde de merda por dia?"
Embora a veracidade desta famosa observação seja por vezes posta em causa, o espírito dela não é. Atacado por uma pneumonia, o antigo primeiro-ministro John Howard arrastou-se para fora da cama para prestar vassalagem ao homem a quem devia muitos baldes vazios. O seu sucessor, Kevin Rudd, foi a correr a uma audiência obrigatória com Murdoch em Nova Iorque antes da sua eleição. Isto é um padrão em todo o planeta. Antes de subir ao poder, Tony Blair voou até uma ilha ao largo de Queensland para subir à tribuna azul Newscorp e defender o tratcherismo e a desregulamentação dos meios de comunicação diante da cara papuda que acenava com a cabeça na fila da frente. No dia seguinte, o Sun elogiava Blair como alguém que "tem visão [e] fala a nossa linguagem sobre a moral e a vida familiar".
Murdoch sabe que pouco separa os principais partidos políticos da Austrália, da Grã-Bretanha e da América. Porta-se como um homem. Em 1972, apoiou Gough Whitlam da Austrália que se revelou um reformador radical, ameaçando mesmo denunciar as bases espiãs da América. Um Murdoch furioso agitou os seus jornais contra Whitlam com histórias tão escandalosamente deformadas que jornalistas rebeldes do The Australian queimaram o jornal no meio da rua. Isso nunca mais se repetiu.
Os temas dominantes na murdocracia australiana, para além do desporto e das coscuvilhices sobre celebridades, são a promoção da guerra e o nacionalismo exacerbado, a política externa americana, Israel e o paternalismo para com os aborígenes, o povo indígena mais empobrecido do mundo, segundo a ONU. Este antiquado combatente da guerra-fria não se deve inteiramente à imprensa de Murdoch, evidentemente, mas a agenda sim. Quando o tirano indonésio general Suharto esteve prestes a ser derrubado pelo seu próprio povo, o editor-chefe do The Australian, Paul Kelly, chefiou uma delegação de editores da maior parte dos principais jornais da Austrália a Jakarta. Com Kelly ao lado, o assassino de massas, que os pasquins de Murdoch promoveram a "moderado", aceitou o tributo de todos eles.
O lacaio de Murdoch mais descarado, senão mesmo ridículo, é Greg Sheridan, editor do estrangeiro do The Australian. Numa das suas peregrinações aos Estados Unidos, local da sede de Murdoch, Sheridan escreveu, "Os EUA são o melhor argumento possível para a desregulamentação dos meios de comunicação. Todas as manhãs, saltito entre a Fox, a CNN e a MSNBC enquanto como os cereais… porque é que demorou tanto tempo para a TV a pagar chegar à Austrália?" Estava a referir-se, instintivamente, à Foxtel, a companhia de TV paga, do seu patrão. Quanto ao terrorismo, Sheridan acusa o "chomskismo pilgerista" de "alimentar ideologicamente os seguidores de Osama bin Lenin, desculpem, Laden".
Uma das campanhas mais eficazes da murdocracia australiana foi a lavagem dum passado colonial sangrento, incluindo uma série de ataques ao distinto cronista do genocídio aborígene, professor Henry Reynolds, e ao director do Museu Nacional da Austrália, Dawn Casey, por terem ousado apresentar a verdade sobre o sofrimento indígena. O grande historiador independente da Austrália, o falecido Manning Clark, foi caluniado pelo Courier-Mail de Murdoch como um agente vermelho, depois como uma fraude, no mesmo estilo com que o London Sunday Times de Murdoch caluniou o membro do parlamento do partido Labour, Michael Foot, como sendo um agente soviético.
Uma coisa parecida espera todo aquele que questionar a manipulação da recordação do sacrifício de sangue da Austrália em prol do imperialismo, o antigo e o novo. Visando os jovens, um "novo patriotismo" sentimental atinge o clímax anual em 25 de Abril, aniversário do desastre da primeira guerra mundial em Gallipoli [1] , conhecido por Dia Anzac [2] . A mensagem é um militarismo aberto que promove as invasões do Afeganistão e do Iraque. Assim, o primeiro-ministro Rudd diz, de modo absurdo, que as forças armadas são a profissão mais elevada da Austrália.
Estas falsas bandeiras estão constantemente viradas para Israel, que assiste a uma corrente de jornalistas australianos apoiados e pagos por grupos sionistas. O resultado é a reportagem apologética de acções criminosas que evoca os grandes pacificadores como Geoffrey Dawson, editor do The Times nos anos 30. O debate sobre declarados crimes de guerra não chegou à Austrália. Que um antigo e um actual primeiro-ministros britânicos tenham sido convocados a depor perante o inquérito Chilcot em Londres, é encarado com estupefacção porque aqui nunca aconteceria uma coisa dessas. Mas John Howard, que também invadiu o Iraque, detém uma espécie de recorde por ter afirmado 30 vezes num só discurso que sabia que Saddam Hussein tinha um "verdadeiro programa maciço" de armas de destruição maciça.
A emissora nacional, a Australian Broadcasting Corporation, há muito que foi intimidada pela imprensa de Murdoch sob a forma obsessiva da campanha travada contra a BBC. Financiada directamente pelos governos, a ABC não tem a independência nominal e a protecção do sistema britânico através do recurso a uma taxa de TV para a difusão pública. No ano passado, o HarperCollins, propriedade de Murdoch, foi recompensado com uma lucrativa "parceria" com o ramo editorial da ABC, o ABC Books.
Em 1983, havia 50 importantes empresas que dominavam os meios de comunicação mundiais. Em 2002, estavam reduzidas a nove. Rupert Murdoch diz que acabará por haver apenas três, incluindo a sua própria. Se aceitarmos isto, os meios de informação e o controlo da informação serão a mesma coisa, e passaremos a ser todos cidadãos duma murdocracia.
[1] Campanha Gallipoli – batalha na peninsula da Turquia em 1915-1916. Tentativa falhada de conquista de Istambul com pesadas baixas.
[2] ANZAC – Australian and New Zealand Army Corps
O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=569 . Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
terça-feira, 23 de março de 2010
Belo texto de Marcelo Salles sobre João Ripper
JOÃO QUERIDO RIPPER
Por Marcelo Salles,
Ele chega em mangas de camisa, preta, e
calça bege. Usa óculos e tem sempre uma expressão serena, que parece
eterna. A primeira coisa que transmite é paz. Encontro o repórter
fotográfico João Roberto Ripper em Brasília, na casa do diplomata Celso
França, que preparou uma calorosa recepção. Na terça-feira, dia 23,
Ripper inaugura a exposição “Mulheres entre luzes e sombras”, no Espaço
Cultural Zumbi dos Palmares, na Câmara dos Deputados.
De acordo com o rilisi, a exposição mostra “o paralelismo entre as
realidades de mulheres exploradas, violadas, ameaçadas e livres com a
evolução histórica do seu papel na sociedade brasileira. Ao lançar o seu
olhar sobre o assunto, Ripper contamina a todas e todos sobre essa
questão tão antiga e tão importante na atualidade – a quem pertence os
corpos das mulheres?”.

Mulheres, camponeses, índios, favelados, carvoeiros, canavieiros, a
gente mais explorada pelo sistema capitalista. São esses os que movem
Ripper, que nos últimos seis anos alugou uma casa na favela da Maré, no
Rio de Janeiro, onde coordena um curso de fotografia na Escola Popular
de Comunicação Crítica.
O mergulho de Ripper na favela gerou frutos. Os alunos formados por
ele – e outros professores extremamente competentes, como Dante
Gastaldoni e Évlen Bispo – já são centenas. Mais que isso, estão sendo
formados professores capazes de interpretar a realidade sem o filtro das
corporações de mídia.
Nesse ponto Ripper comenta: essa mídia acusa o governo Lula de querer
censurar a imprensa, mas na verdade ela é a grande censora. O exemplo
que ele dá é o da favela. Na medida em que a favela só vira notícia
quando há algum tipo de violência (geralmente tiroteios entre
traficantes varejistas ou entre estes e policiais), a mensagem que fica
é: na favela só há violência, bandidos. A favela passa a ser,
consequentemente, o mal na terra.
Se considerarmos os níveis alarmantes da concentração midiática no
Brasil (ex.: seis emissoras privadas de tv e uma pública recém-nascida
para 190 milhões de habitantes); e se considerarmos que essas emissoras
privadas, que detêm mais de 90% da audiência, defendem o mesmo projeto
político-econômico, ou seja, as ditaduras civil-militares, estrutura
neoliberal que prega o Estado fraco, a exploração dos povos e o
enriquecimento dos monopólios privados; então a consideração de Ripper
fica muito nítida.
Hoje a censura não está no Estado, mas nas Redações, em grande parte
financiadas pelo poder econômico. É o que confirma pesquisa divulgada
pelas Nações Unidas, em 2002, com chefes e ex-chefes latino-americanos. A
pergunta foi: “Quem exerce o poder na América Latina?”. A resposta: 1)
Os grupos econômicos, empresários, o setor financeiro; 2) Os meios de
comunicação; 3) Os poderes constitucionais – Executivo, Legislativo e
Judiciário; 4) As Forças Armadas, a polícia; 5) Partidos políticos, os
políticos, operadores políticos, líderes políticos; 6) EUA, a embaixada
norte-americana, organismos multilaterais de crédito, o fator
internacional, o fator externo, empresas transnacionais.
Essa é a grande batalha política do nosso tempo. “O jornalismo está
implicado numa dinâmica, a disciplinariedade, que é, desde o século
XVIII, a principal estratégia de poder”, anota a professora da USP Mayra
Rodrigues Gomes, no livro “Poder no jornalismo”. A mídia, hoje, é a
instituição com maior capacidade de produção e reprodução de
subjetividades. Ou seja: é a mídia quem, em grande parte, determina
formas de pensar, sentir e agir dos indivíduos e da sociedade como um
todo. Claro que há outras instituições fortíssimas (Família, Igreja,
Governos, Escola…), mas a mídia ganha papel de destaque nos dias de hoje
basicamente por três razões:
1) o desenvolvimento das tecnologias, que permitem um maior alcance
das mídias (outdoor, televisão, rádio, revista, publicidade em ônibus,
em prédio, internet, sites, vídeos, cinema, jornal, orkut, twitter
etc.), de modo que para o cidadão é praticamente impossível evitar as
mensagens da mídia 2) A extrema concentração, conforme mencionado acima;
e 3) O analfabetismo e analfabetismo funcional da população. Segundo o
Instituto Paulo Montenegro, em pesquisa divulgada em 2005, apenas 26% da
população entende o que lê. Para além da limitação causada pelo
analfabetismo ao indivíduo, esse dado joga peso para rádios e tevês, que
são concessões públicas, mas que se encontram sob o controle de
corporações privadas, cujos interesses divergem dos interesses da nação e
de seu povo.
Quem continua ignorando o papel das corporações de mídia, que não é
meramente informativo, como dizem, e sim o de grande sustentáculo do
sistema opressivo, ou é desqualificado ou está mal intencionado.
Por tudo isso, o trabalho de Ripper é um convite à resistência. Ao
mesmo tempo em que dá visibilidade aos que historicamente são
marginalizados pelo sistema, e assim fortalece indivíduos e movimentos
sociais que lutam, o repórter fotográfico é, ele mesmo, um exemplo de
que é possível trabalhar com dignidade sem se submeter aos tiranos. E
assim a gente segue, fazendo mídia, enquanto os medíocres vão fazendo
média por aí.
Gripe suína e a vacina
Gripe suína, vacinar ou não?
por Conceição Lemes - blog viomundo
Para a Fundação Oswaldo Cruz, (Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde
Pública, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica
Brasileira (AMB), a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade
Brasileira de Pediatria, a Federação Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, entre dezenas de instituições médicas e de saúde coletiva
de peso no país, a resposta é sim.
A saúde pública do Brasil tem um grande desafio nos próximos três
meses: vacinar pelo menos 80% das 91 milhões de pessoas que devem ser
imunizadas contra a influenza A (H1N1), ou gripe A, mais conhecida como
gripe suína. A vacinação acontecerá simultaneamente em todo o
território nacional.
“Prioritariamente o objetivo é proteger os profissionais de saúde e
alguns grupos que têm maior risco de desenvolver a forma grave da doença
ou evoluir para o óbito durante a segunda onda da pandemia da gripe
A”, explica o médico epidemiologista Eduardo Hage Carmo, diretor de
vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde. “A segunda onda acontecerá no inverno.”
Os grupos com maior risco de desenvolver a forma grave de gripe suína
são:
* Gestantes
* Indígenas que vivem em aldeias
* Portadores de doenças crônicas, independentemente da idade
* Crianças de 6 meses a 2 anos de idade
* Pessoas de 20 a 39 anos
* Gestantes
* Indígenas que vivem em aldeias
* Portadores de doenças crônicas, independentemente da idade
* Crianças de 6 meses a 2 anos de idade
* Pessoas de 20 a 39 anos
Se você está em uma dessas situações ou é profissional da área de
saúde, o Ministério da Saúde recomenda que se vacine. A vacinação será
feita em cinco etapas, de acordo com os grupos, como mostra o
calendário abaixo.

MINISTÉRIO DA SAÚDE ESCLARECE AS DÚVIDAS FREQUENTES
Preocupado em informar ao máximo a população, o MS selecionou as
dúvidas mais freqüentes nos serviços públicos de saúde e no seu Disque
Saúde (0800 611997). A equipe técnica do próprio
ministério é quem as respondeu.
O que é influenza A, ou gripe suína?
É uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus A (H1N1).
Assim como a gripe comum, a influenza A é transmitida de pessoa a
pessoa, principalmente por meio de tosse, espirro e contato direto com
secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os sintomas podem
aparecer 7 a 14 dias após a pessoa infectar-se pelo novo vírus.
Qual a diferença entre a gripe comum e a suína?
Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os
sintomas são muito parecidos e se confundem: febre repentina, tosse, dor
de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Por
isso, ao apresentar esses sintomas, procure o seu médico ou um posto de
saúde.
O vírus da gripe é mais violento do que o da gripe comum?
Qual mata mais?
Inicialmente, acreditava-se que o vírus A (H1N1) fosse mais
patogênico do que o da gripe sazonal, comum. Porém, até o momento, ele
não demonstrou ser mais violento ou mais mortal na população geral. A
maioria das pessoas desenvolve a forma leve da doença e se recupera sem
uso de medicamentos. Assim como na gripe comum, portadores de doenças
crônicas, gestantes e crianças com menos de 2 anos são os mais
vulneráveis. A principal diferença é que o vírus da gripe A tem
potencial maior de causar doença grave em pessoas saudáveis de 20 a 39
anos. Em compensação, tem afetado menos as com mais de 60 anos.
Por que não vacinar toda a população?
A vacinação em massa não tem sentido por um motivo bem simples: a
contenção de segunda onda da pandemia de gripe A não é mais possível em
todo o mundo.
Que critérios o Ministério da Saúde utilizou para selecionar
os grupos prioritários para a vacinação? Esses grupos são os mais
afetados ou os que têm maior risco?
Comecemos pelos trabalhadores da saúde. Eles precisam estar
protegidos, pois são os que garantirão o funcionamento ininterrupto dos
serviços de pronto-atendimento, vigilância em saúde, laboratório. Deles
dependem todos os serviços de combate à pandemia de gripe A – da
vacinação ao diagnóstico e tratamento. Não se pode correr o risco de
colapso dessas atividades essenciais.
Os indígenas aldeados por dois motivos: são mais vulneráveis a
infecções e têm maior dificuldade de acesso às unidades hospitalares,
caso necessitem.
Os demais grupos prioritários são aqueles que, na primeira onda da
pandemia, tiveram mais frequentemente a síndrome respiratória aguda
grave (SRAG), que é a forma grave da influenza A. Por exemplo, entre as
mulheres em idade fértil que apresentaram SRAG em 2009 devido à gripe
A, 22% eram gestantes. Os jovens de 20 a 29 anos foram o grupo etário
mais afetado: representam 24% do total de casos de SRAG por influenza A
em 2009. Entre os adultos de 30 e 39 anos, ocorreu a maior taxa de
mortalidade: 22% do total de óbitos.
Todos os trabalhadores da área de saúde precisam se vacinar?
Não. Apenas aqueles estão na rede de serviços, atendendo diretamente a
população. Ou seja, aqueles que, em razão das suas funções, têm risco
potencial de contrair a infecção pelo H1N1 no contato com possíveis
suspeitos da doença. Portanto, devem se vacinar os trabalhadores da
atenção básica (postos de saúde e programa de saúde da família), dos
serviços de média e alta complexidade (pequeno, médio e grande porte) e
aqueles que atuam na vigilância epidemiológica, especialmente na
investigação de casos e em laboratório.
É importante que todos os trabalhadores da área de saúde informem-se
nos seus serviços e na Secretaria Municipal ou na Secretaria Estadual
de Saúde para conhecer os detalhes da vacinação, já que a imunização
não será feita em 100%.
E a população indígena que vive em aldeias será 100%
vacinada?
A partir dos 6 meses de idade, sim, devido à maior vulnerabilidade a
infecções.
Por que vacinar portadores de doenças crônicas?
Devido às doenças crônicas eles já são naturalmente mais vulneráveis a
infecções. E a maior vulnerabilidade aumenta a probabilidade de
quadros de maior gravidade e óbito. Na pandemia de 2009, observou-se um
alto percentual de pessoas com doenças crônicas entre os casos de
SRAG.
Quem pode ser considerado portador de doença crônica?
A lista é grande. Estão nesse grupo, por exemplo:
* Pessoas com obesidade grau III, antigamente chamada obesidade mórbida, independentemente da idade.
* Pessoas com doenças renais, pulmonares, cardiovasculares, hepáticas e hematológicas crônicas
* Imunodeprimidos devido ao uso de certos medicamentos (por exemplo, contra rejeição de transplantes, cortiscosteróides e antineoplásicos) e de algumas doenças (como câncer e aids).
* Diabéticos.
* Pessoas com obesidade grau III, antigamente chamada obesidade mórbida, independentemente da idade.
* Pessoas com doenças renais, pulmonares, cardiovasculares, hepáticas e hematológicas crônicas
* Imunodeprimidos devido ao uso de certos medicamentos (por exemplo, contra rejeição de transplantes, cortiscosteróides e antineoplásicos) e de algumas doenças (como câncer e aids).
* Diabéticos.
E os idosos por que não estão entre os grupos prioritários?
Porque a influenza A afeta menos as pessoas com mais de 60 anos.
Porém, se o idoso tiver alguma doença crônica, deverá ser vacinado
contra a gripe suína. A vacina será feita durante a campanha anual de
vacinação do idoso contra a gripe comum, de 24 de abril a 7 de maio.
Portanto, o idoso com doenças crônicas tomará duas vacinas: contra a
influenza A e contra a gripe comum.
O fato de as pessoas terem doenças crônicas não aumenta o
risco de efeitos colaterais da vacina?
Não. A possibilidade de ocorrer um evento adverso após a
administração da vacina em pessoas com doença crônica é a mesma de
qualquer outra pessoa.
Por que as crianças com menos de 6 meses não estão incluídas
nos grupos prioritários? Há alguma contraindicação?
É que não está comprovado que nessa faixa etária a vacina garante
proteção.
Por que vacinar as grávidas contra a gripe suína se
normalmente não são vacinadas contra a gripe comum?
Não há nenhuma contraindicação à vacinação de gestantes contra a
gripe comum. Acontece que as campanhas anuais priorizam a população de
maior risco – a população de 60 anos ou mais. Já em relação à influenza A
as gestantes são consideradas como grupo de risco. Relembramos que, em
2009, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram a forma grave
da gripe A, 22% eram gestantes.
A vacina não oferece risco à grávida? E ao feto? Há risco de
aborto?
Não há risco em vacinar grávidas. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS) e os laboratórios produtores, a vacina contra o vírus
influenza A H1N1 é segura para a gestante. Também não há evidências de
que possa causar aborto ou afetar o feto.
A grávida pode se vacinar em qualquer fase da gestação?
Sim, pois será utilizada para as gestantes a vacina que não contém o
adjuvante. Com base na experiência de outros países que estão
vacinando desde novembro de 2009, a OMS e Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) orienta o uso da vacina com ou sem adjuvante. Porém, por
cautela, a orientação do Ministério é utilizar em grávidas somente a
vacina sem adjuvante.
Suponhamos que a mulher só se descubra grávida depois de 21
de maio. Ela poderá se vacinar, mesmo após o término da campanha de
vacinação contra a gripe A?
As mulheres que se descobrirem grávidas ou engravidarem depois de 21
de maio poderão se vacinar depois, sim.
A vacina que será utilizada no Brasil é segura?
Sim. Ela já está em uso em outros países. Até o momento não foi
observado neles a relação entre o uso da vacina e a ocorrência de
efeitos adversos graves.A segurança da vacinação, porém, não depende
apenas do imunizante. Está relacionada também à: 1) utilização de
seringas e agulhas apropriadas; 2) adoção de procedimentos seguros no
manuseio, no preparo e na administração da vacina, conforme normas
técnicas estabelecidas; 3) conservação da vacina na temperatura
adequada, conforme preconizado; qualidade da capacitação do pessoal
envolvido, bem como da supervisão ao trabalho de vacinação. É
fundamental, no entanto, o monitoramento de eventos adversos associados
temporalmente à vacinação, para investigá-los.
Qual a eficácia da vacina a ser utilizada no Brasil?
Em média, acima de 95%. Proteção máxima é alcançada entre 14º e 21º
dia após a vacinação.
A vacina que será utilizada no Brasil é inalável ou
injetável?
Injetável, administrada por via intramuscular.
Qual a incidência de efeitos colaterais da vacina?
Qual a incidência de efeitos colaterais da vacina?
A grande maioria apresenta os mesmos da vacina contra a gripe em
idosos, são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que
se resolvem em torno de 48 horas.
Tudo bem tomar a vacina em clínica particular?
Tudo bem tomar a vacina em clínica particular?
A vacina vai estar disponível em toda a rede pública de saúde do
Brasil. Mas se você preferir vacinar-se em clínica particular, não há
nenhum problema. O Ministério da Saúde não impôs nenhum obstáculo para o
setor privado adquirir vacina contra a gripe A. O que pode ocorrer é
não haver o produto disponível; isso dependerá da capacidade de
fornecimento dos laboratórios produtores.
Se eu me vacinar contra a gripe comum estarei protegida contra a gripe A?
Se eu me vacinar contra a gripe comum estarei protegida contra a gripe A?
Não. Portanto, se faz parte dos grupos prioritários deverá se vacinar
também contra a gripe A.
Supondo que eu faça parte dos grupos prioritários e não
queira me vacinar, e aí?A vacina é obrigatória?
De modo algum, a vacina contra a gripe A é compulsória. Nós,
enquanto Ministério da Saúde, apenas recomendamos o que do ponto de
vista de saúde pública julgamos necessário. A decisão é individual.
Questão de livre arbítrio. Mas antes de decidir, reflita bem. Nós
esperamos que você espontânea e conscientemente se imunize, caso faça
dos grupos prioritários.
O vírus da gripe suína, como já dissemos, é transmitido da mesma forma que o da gripe sazonal: por gotículas que são expelidas quando a pessoa infectada fala, espirra ou tosse. E as medidas de prevenção são as mesmas para o controle e prevenção da gripe sazonal e de outras doenças respiratórias.Por isso, as medidas de prevenção são muito importantes, principalmente as individuais, pois evitam que uma pessoa doente transmita o vírus para outra. Questão de respeito com a saúde do outro:
O vírus da gripe suína, como já dissemos, é transmitido da mesma forma que o da gripe sazonal: por gotículas que são expelidas quando a pessoa infectada fala, espirra ou tosse. E as medidas de prevenção são as mesmas para o controle e prevenção da gripe sazonal e de outras doenças respiratórias.Por isso, as medidas de prevenção são muito importantes, principalmente as individuais, pois evitam que uma pessoa doente transmita o vírus para outra. Questão de respeito com a saúde do outro:
* Cubra a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir e espirrar; é
para evitar que gotículas atinjam os que estão próximos.
* Lave frequentemente as mãos com água e sabonete. Faça isso, pelo
menos: depois de tossir ou espirrar. Após usar o banheiro; antes de
comer; e antes de tocar os olhos, boca e nariz
* Evite compartilhar pratos, talheres e alimentos.
* Evite colocar as mãos nos olhos, nariz ou boca após pegar mexer com
dinheiro, pegar produtos no supermercado ou ter contato com
superfícies que não estejam devidamente higienizadas.
* Procure ter hábitos saudáveis, como alimentação adequada, ingestão
de líquidos e atividade física.
Afinal de contas, quanto mais prevenção mais proteção.
John Lee Hooker - Live in Montreal (DVDRIP divx)
Críticas a Israel.....
Israel: defensores dos direitos humanos temem “caça às bruxas”
JERUSALÉM – Os especialistas falam de um clima de “caça às bruxas”,
e Gideon Levy, editor independente do jornal Haaretz, não
hesita em denunciar a orientação “macartista” do movimento Im Tirtzu.
Defendendo os “valores do sionismo”, este lançou uma violenta
campanha contra o New Israel Fund (Novo fundo israelense, NIV), uma
fundação que financia as principais organizações de defesa dos direitos
humanos israelenses, e sua presidente, a professora Naomi Chazan.
Segundo o Im Tirtzu, que recebeu o poderoso apoio do jornal popular Maariv,
o NIV financia as dezesseis organizações não governamentais (ONG) que
forneceram “92% das referências negativas” contidas na
relação do juiz sul-africano Richard Goldstone, o qual acusa Israel de
ter cometido “crimes de guerra” durante a guerra de Gaza entre
dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Conhecido por sua orientação de
extrema direita, o Im Tirtzu está próximo dos meios evangélicos
americanos.
Ele acaba de obter uma primeira vitória: Naomi Chazan, editora
respeitada do Jerusalem Post já há dez anos, recebeu
um e-mail anunciando-lhe que seu vínculo havia terminado. Mas o
confronto não acabou: na Knesset, o Parlamento israelense, vários
deputados comandam uma ofensiva brutal, qualificando as ONGs visadas de “traidoras”
pertencendo a uma “quinta colônia”.
Uma proposta de criação de comissão de inquérito parlamentar foi
apresentada, com o objetivo de desvelar as fontes de financiamento do
New Israel Fund. Ele, que foi criado em 1979, tem sua sede em
Washington. Recebe doações dos judeus americanos, e
direcionou após sua criação mais de 200 milhões de dólares a numerosas
organizações que partilham os ideais de democracia e de justiça social.
Entre elas temos B’Tselem, Breaking the Silence, a Associação pelos
Direitos Cívicos em Israel, o Comitê Público contra a Tortura, Médicos
pelos Direitos do Homem, Yesh Din, Adalah, Hamoked, etc., ou seja, as
principais organizações que defendem os direitos dos Palestinos, dão a
palavra aos soldados israelenses amordaçados pela censura militar e, de
uma maneira geral, conduzem o combate da liberdade de expressão.
Movimento de repressão
Em nome de treze dessas organizações, a B’Tselem escreveu ao
presidente Shimon Pérès, ao primeiro ministro, Benyamin Nétanyahou, e ao
porta-voz da Knesset, Reuven Rivlin, para denunciar uma “campanha
crescente e sistemática”. “Uma democracia não deve reduzir ao
silêncio as vozes críticas; defender os direitos do homem é vital”,
sublinha esse manifesto.
As organizações humanitárias israelenses temem que a campanha do Im
Tirtzu se insira em um movimento mais geral de repressão, como aquela
que atinge os militantes palestinos e israelenses que protestam contra a
“cerca de segurança” e as expulsões de famílias palestinas do bairro de
Cheikh Jarrah, na parte leste de Jerusalém.
Laurent Zecchini
Tradução de Liziane Mayer
Para acessar o original clique aqui
segunda-feira, 22 de março de 2010
Yeda e o sonho da ressurreição

Por Paulo Muzell
O tema da “ressurreição” é tão velho quanto o próprio homem, está
presente na mitologia e nas religiões. Traz consigo a sempre alimentada
esperança de superação da morte, além do mistério e da magia de um
retorno inesperado. Das religiões o tema migrou para a literatura e daí
para o cinema. Estórias de vampiros e vampiras há mais de cem anos se
sucedem nas telas, adicionando ao tema a “pimenta” do terror e do sexo,
formando uma mistura tão do agrado do grande público. Bom para a
indústria do cinema e para Hollywood, que encontrou aí um inesgotável
“filão” para ganhar dinheiro.
Mas o tema é, também, velho e recorrente na política. Ao examinarmos o
passado político brasileiro – remoto ou recente – encontramos inúmeros
episódios de “tentativas de ressureição”. Felizmente para nós,
invariavelmente mal sucedidas. Aí estão os exemplos do Ademar de Barros e
do Jânio Quadros, e mais recentemente, do Malluf e do Collor.
Pois é aqui, neste remoto Rio Grande é que surge a mais nova,
insistente, quase frenética, tentativa de ressureição. A
personagem-postulante, a ex-governadora em exercício busca, de todas as
formas e com forte apoio da mídia cabocla – e em especial do Correio do
Povo do grupo Record – a recuperação de sua combalida imagem.
Envolvida em denúncias de desvios antes mesmo de assumir, a
arrogância, a presunção e o autoritarismo foram marcas registradas do
seu (des) governo. O resultado não poderia ser outro: nos últimos meses
teve a pior avaliação dentre todos os governadores do país, sendo sua
rejeição a maior.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
Ela esteve por cair, foi por pouco, salvou-a o apoio incondicional do
dr. Simon e de sua turma do PMDB. É, o dr. Simon aquele mesmo que faz
pose de paladino da ética e que há alguns atrás ameaçou renunciar seu
mandato de senador, alegando “desencanto com a política”.
Neste início de 2010, “salva pelo congo” a personagem-postulante
começa a encenar a “farsa da ressureição”. Não lhe falta o apoio
midiático: todos os dias os veículos locais e, invariavelmente, o Correio
do Povo apresenta em destaque a postulante em “um mundo cor de
rosa”: anunciando superávits, inaugurando obras, prometendo investir 2,8
bilhões em 2010. Se examinarmos o balanço consolidado do Estado de
2009, verificaremos que foram aplicados em investimentos “no amplo
senso”, incluídas aí as inversões financeiras apenas 660 milhões de
reais, o que significa que para obras destinou-se algo na faixa dos 400
milhões. Como investir 2,8 bilhões em 2010? Isso é uma
irresponsabilidade: é anunciar e prometer o impossível!
Fiquem descansados os gaúchos. Apesar deste “generoso apoio” do Correio
do Povo e dessa lamentável mídia cabocla – que não noticia e
analisa fatos, mas que monta e encena pantomimas - a desejada
“ressureição” não vai ocorrer. Ela é apenas mais uma esperança vã.
Ilustrações: Sátiro-Hupper
Socialismo na Bolivia...
Neste estudo sobre o futuro do processo
revolucionário de mudanças em curso na Bolívia, Marcos Domich conclui
respondendo à pergunta como é possível, hoje e na Bolívia, “um país
atrasado, pobre, cercado construir uma nova ordem, a sociedade
socialista. Sim, acreditamos que é possível nas actuais conjunturas
nacional e internacional. Ambas são favoráveis, ainda que à revolução
boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma outra, não se lhe será
aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já sabemos. Será como
disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação heróica».”

O Socialismo na e para a Bolívia (da vitória eleitoral à construção da nova ordem)
Marcos Domich*
Ninguém
duvidava do triunfo de Evo Morales. Todos sabiam que venceria com mais
de 50 por cento dos votos, mas poucos acertaram na percentagem final.
Conseguir 64%, é alcançar um cume pouco habitual. No entanto, ratifica o
facto de onde há unidade das massas pode-se atingir índices que se
aproximam de uma espécie de unanimidade política. Para a outra banda –
para a direita e o imperialismo – o êxito da candidatura popular foi uma
humilhação nunca vista.
O triunfo permitiu chegar ao controlo de importantes alavancas do
poder político, particularmente em ambas as câmaras legislativas. Isto
possibilita a aprovação das leis e códigos, e a nomeação de autoridades
que facilitarão uma aplicação sistemática e efectiva da nova
Constituição Política do Estado (NCPE). Deu-se uma situação sui generis,
agora é possível fazer profundas transformações estruturais e
super-estruturais pelo mandato da Constituição e das leis.
Anteriormente, a revolução, o povo em armas ou o que lhe queiram chamar,
executavam medidas revolucionárias sem outra deliberação para além da
lubrificada vontade popular. E se aí radicava a sua legitimidade, havia o
melindre de não serem «legais», mais ainda, estraçalhavam a velha
legalidade que outra coisa não era que a lei formulada, como obra de
alfaiate, exactamente à medida dos interesses dos patrões e dos
monopólios. Hoje é possível a mudança legítima e completamente legal. Na
verdade consumou-se uma revolução política pacífica e que até tem a sua
própria Constituição.
As eleições bolivianas têm uma dupla projecção: uma exterior e outra
interior. Isso entende-se melhor se falarmos de alguns prolegómenos das
eleições. A eminência do êxito da candidatura de Evo determinou que a
reacção nativa e o imperialismo espremessem os cérebros a imaginar as
maneiras de perturbar o processo eleitoral; como se disse, deram mil e
uma voltas na tentativa de as invalidar. A experiência histórica diz-nos
como se move uma direita em transe de sofrer uma derrota que, no caso
das eleições bolivianas de Dezembro, marcam para ela e para os seus
sustentáculos a possibilidade de uma derrota estratégica. Derrota
estratégica quer dizer que o processo de mudanças continuará a sua
marcha ascendente que inclusive poderá transformar-se num processo
revolucionário, com tudo o que esta definição significa. E aqui está o
cerne da questão. Às classes dominantes apavora-as a possibilidade da
sua extinção histórica.
Entre as medidas perturbadoras estava a tentativa de impedir o voto
de cerca de 400.000 cidadãos. Depois tentaram invalidar cerca de 250.000
votos presumivelmente a favor do MAS, de acordo com sondagens
confiáveis. Outro objectivo era o de impedir que o futuro Parlamento
boliviano contasse com uma maioria de deputados e senadores do MAS,
sobretudo na câmara de senadores. O seu sonho esfumou-se e a direita
elegeu apenas 10 senadores face aos 26 dos MAS. Percebe-se agora a
consigna do voto cruzado. Queriam forçar a diminuição de deputados da
bancada do MAS. No final este partido obteve 86 deputados contra 36 do
seu imediato seguidor.
A campanha da oposição baseava-se numa acção dissuasora, mentirosa e
provocadora, utilizando a poderosa bateria de meios de comunicação de
massas ao seu serviço. Todos tocavam pela mesma partitura. O efeito que
procurava era deteriorar a imagem dos candidatos oficiais, da esquerda,
atribuir-lhe as piores intenções. Chegou-se a tergiversações impossíveis
como no caso do comando mercenário dirigido por Rósza Flores. Apesar de
estar há muito referenciado, inclusivamente denunciado perante a ONU,
de ser encontrado com explosivos na sua própria casa em Budapeste,
pretendiam apresentá-lo como um contratado, um agente do governo de
Morales.
A dimensão externa é a projecção do êxito do povo boliviano na
América Latina. Com o retumbante triunfo de Evo Morales, a chamado
«volta à esquerda» continua e pesará nas próximas eleições e acções
políticas e diplomáticas. José Mujica, da Frente Ampla uruguaia,
derrotou inapelavelmente o direitista branco La Calle. [N. do T.: os
partidos tradicionais, que se revezavam no poder, os Blancos e os
Colorados]
O caso do Chile é diferente e exige uma profunda reflexão. Trata-se
claramente de uma falta de unidade das forças de esquerda e chama a
atenção atitudes como a do ex-deputado da Concertação, Enriquez-Ominami.
Face á sucessão de vitórias das candidaturas democratas,
progressistas e de esquerda, há já uma década, o imperialismo continuará
a procurar por todos os meios - incluindo os mais ilícitos – travá-la e
impedir a passagem a novos escalões. Para os seus objectivos, é uma
contradição que em cada nova eleição prossiga o êxito do progressismo
sobre o conservadorismo, da esquerda sobre a direita. Há provas do que o
imperialismo pretende e as Honduras é o exemplo mais claro. Há mais
países em que chovem as denúncias de maquinações conspirativas do
império: Venezuela, Equador, Nicarágua, Argentina e outros estão debaixo
de mira. Até as catástrofes naturais como a do Haiti são pretextos para
ensaiar ocupações militares. Obviamente, os governos servis tipo Uribe e
as suas sete bases concedidas ao Pentágono são peças importantes da
tramóia contra-revolucionária do imperialismo.
Mas no conjunto há uma circunstância que se levanta contra os planos
imperialistas: em Cancún nasceu um novo agrupamento dos países da
América Latina e do Caribe, a Comunidade de Estados da América Latina e
do Caribe. O imperialismo não vê com bons olhos a emergência de uma nova
organização inter-estatal e integracionista de que não fazem parte nem
os EUA nem o Canadá. Os povos, os governos progressistas, devem
desenvolver os maiores esforços para que esta obra de unidade, de
integração e de soberania atinja o seu ponto mais alto.
Com este panorama devem fixar-se algumas premissas que balizem a
actividade da esquerda, da ampla representação parlamentar sob a sigla
do MAS e até do próprio governo. Em primeiro lugar impõe-se uma atitude
da máxima responsabilidade e coerência política, de uma consciência
precisa das tarefas, do rumo e das metas que há que atingir no processo
de construção de uma nova sociedade.
Ainda que escassa, do mal o menos, haverá uma representação
parlamentar totalmente confiável pela sua firmeza política e ideológica,
pela sua formação e compromisso com a causa da libertação nacional e
social na perspectiva da superação do capitalismo.
Não será uma atitude arrogante ou de satisfação plena pelo rotundo
triunfo de Dezembro e dos que já se avizinham para Abril. A direita, que
perdeu possibilidades no campo da confrontação democrática, voltará ao
caminho anterior e cada vez com mais fúria, fruto da sua impotência
política. Com a facilidade que lhe conhecemos, há que temer a sua
passagem ao terreno do complot, da resistência organizada e da assumpção
da violência social, inclusive do terrorismo.
Também se deve pensar que a reacção, e sobretudo esse amplo diapasão
social chamado conservadorismo, tem outras formas de acção na base dos
elementos de atraso e da contaminação da reversão sobre a consciência
social. O mês de Fevereiro caracterizou-se pela subida dos preços do
açúcar, da carne de frango e outros. Certos sectores como os transportes
provocaram sérios problemas com greves que não têm qualquer fundamento.
Noutros sectores há reivindicações de tipo anárquico e nocivo que,
contudo, se podem combater e controlar. Por fim, as medidas oportunas do
governo resolveram os transtornos, mas ainda não há uma organização
vigilante do povo, das organizações sociais, dos sindicatos e dos
partidos de esquerda. Até agora houve uma espécie de convergência, não
propriamente acordada, entre as organizações e os sectores referidos. Do
que se trata agora é converter a convergência em organização dotada de
objectivos, programa e estruturas definidas. A consigna da unidade
continua a ser a mais importante desta etapa histórica.
Ainda que de forma não calculada nos seus detalhes, emergiu de forma
espontânea o bloco histórico capaz de levar por diante a sua tarefa
histórica da construção da nova sociedade. Camponeses e camponesas,
operários e operárias, povos originários, camadas médias,
intelectualidade avançada e até pequeno empresariado constituem a
matéria-prima desse bloco a que há que infundir consciência
revolucionária. No bloco histórico, ainda se deve trabalhar muito, e
muito arduamente, pela unidade política e pelo esclarecimento
ideológico. Tarefa que não é fácil quando se trata de vários componentes
de classe e de diversidade de povos que, até agora, não só eram
marginalizados e discriminados, como em boa medida eram invisibilizados.
Por outro lado não se pode esquecer e passar por alto sobre as
manifestações que priorizam o étnico nacional como a pedra fundamental
da nova construção social e até adquirem uma matriz excluente que não
estabelece diferenças no seio do outro pólo. Tende-se a ignorar que para
o capitalismo não há muralhas da China e ele penetrou em todos os
resquícios da sociedade e dos povos.
Por último, nesta formulação de tarefas de conteúdo ideológico, não
se pode omitir que só a superação das tendências «naturais» do interesse
privado, do seu crescimento e expansão, impedirá que, mais à frente, se
convertam num obstáculo à universalização e resgate do verdadeiro
sentimento colectivo, solidário, igualitário ou simplesmente
comunitário, se se preferir.
À luz da análise da actual situação boliviana podem inferir-se
várias conclusões que se traduzirão de facto em linhas de acção e
tarefas a derem executadas neste período. Em primeiro lugar há que
procurar a maneira de cumprir uma série de promessas eleitorais que não
têm esse sentido, mas que na realidade são verdadeiras medidas
programáticas transcendentais. Entre outras está a industrialização do
país, com um novo sentido social. Perseguem o fim preciso de desenvolver
as forças produtivas em todos os seus componentes, o conjunto dos
produtores, da classe operária e dos instrumentos de produção. Na
agricultura – além de estimular certos caminhos imprescindíveis para a
alimentação da população e as necessidades de exportação – está a tarefa
de liquidar o latifúndio e libertar as forças produtivas superando o
despojo mais que centenário dos povos originários.
Há outros aspectos que fazem parte do processo de mudanças que
poderão, finalmente, ser aplicados depois do apoio popular ter
ratificado o governo. A NCPE tem inscritas e legalizadas por referendo
popular uma série de disposições constitutivas de um verdadeiro salto
qualitativo no plano da politica social, da educação e da saúde, que
tornem a Bolívia num Estado avançado e moderno. Isto sucede, igualmente,
no que se estabelece a nossa política externa como soberana, pacifista,
solidária e de relações com todos os países do mundo, baseadas no
respeito recíproco, na não ingerência nos assuntos internos de cada país
e no benefício mútuo e na solidariedade com os povos em luta pela sua
emancipação e defesa da sua soberania. Este é o novo carácter da nossa
inserção na comunidade internacional.
Um momento muito importante é o conjunto de disposições que,
mantendo o carácter unitário do Estado plurinacional e republicano,
estabelece o regime das autonomias departamentais, regionais, municipais
e de povos originários. Este novo ordenamento terá de ser aplicado
procurando evitar as possíveis fricções entre os factores concorrentes.
Será uma prova à imaginação e criatividade e sobretudo ao patriotismo
dos bolivianos que privilegiarão o interesse nacional aos interesses
regional ou particular.
Não é objectivo destas notas referir todos os aspectos do plano de
desenvolvimento para refundar o país e efectuar uma verdadeira revolução
que, libertando a dependência, democratizando a sua sociedade,
aceitando e promovendo a unidade na diversidade, conduza à construção de
uma nova ordem social. Foi precisamente isto que pôs na mesa de
trabalho e no debate teórico o binómio presidencial do discurso de
tomada de posse de 22 de Janeiro, para o novo mandato de 5 anos.
O Presidente Morales, sob diversos ângulos, afirmou a caducidade do
sistema capitalista e o imperativo da construção do socialismo. E de
imediato surgiu a pergunta legítima: Como será o socialismo na Bolívia?
Será o socialismo real, o do século XXI, o autogestionário
jugoslavo, o modelo chinês, vietnamita ou cubano? Ou será, por fim, o
socialismo comunitário? Como o definiram teóricos e analistas políticos
bolivianos? A nosso ver a procura de aposições, de adjectivos, é
irrelevante para o objectivo final. Desvia a atenção dos temas centrais,
das essências e do carácter dos fenómenos. O Vice-presidente Garcia
Linera disse, em algum momento das suas intervenções, «não importa como
se chama (o socialismo), o que importa é em que consistirá». Estamos de
acordo e abordemos como entendemos o conteúdo, a essência desse
socialismo.
Fique claro que não partimos do vazio teórico, de uma espécie de
vacuum doutrinal. A nossa concepção de socialismo, confessamo-lo à
partida, não é nenhuma fórmula nova nem um invento. Ela parte da
concepção de Marx, de Engels e de Lenine de uma forma, digamo-lo assim,
radical, se isto significa que partimos dos clássicos e desenvolvemos a
aplicação da teoria do socialismo científico na Bolívia e para a Bolívia
de agora.
Recorremos a uma citação que nos ajuda a aclarar o nosso ponto de
partida: «No materialismo histórico há que continuar a inspirar-se
também no que diz respeito à análise de outras revoluções que, a partir
do Outubro bolchevique, mudaram o rosto do mundo. Não se trata de uma
vivência já encerrada e referida ao passado. Junto dos anticomunistas
profissionais e de todos os comunistas ou ex-comunistas que são presa da
autofobia, há ainda partidos e países que se consideram empenhados nos
projectos de construção de uma sociedade para além do capitalismo.»
Losurdo, Doménico, Fuga da História? p. 60; ed. Cartago, 2007.)
Geralmente fala-se da Revolução como de um processo único. Na
realidade tem duas fases. A primeira é a revolução política que, em
síntese, consiste na mudança das classes no poder central de um Estado
ou de um país. As classes revolucionárias – operárias, camponesas e
outras – substituem as classes dominantes e possuidoras, a oligarquia, a
burguesia, etc.. Esta fase, muito dinâmica, é variável no seu
prolongamento. Nuns casos a deslocação do velho poder político é rápida,
Nalguns casos mais prolongada, em função de numerosos factores que têm a
ver sobretudo com as correlações de forças, nacionais e internacionais,
da força, do empenho dos pólos da contradição.
Depois vem e por vezes corre paralela – sobretudo nalguns aspectos –
a fase da revolução propriamente social. Esta aponta para a
transformação, a mudança da base económica da sociedade, do modo de
produção e do que habitualmente se conhece como a estrutura económica.
Adiantando-nos um pouco, podemos dizer que a fase política muda,
transforma, sobretudo a super-estrutura e o ordenamento jurídico e
político que se levanta sobre a estrutura e que responde aos interesses
das classes dominantes. Demora muito mais transformar a consciência
social, sobretudo aquele extracto que se denomina consciência quotidiana
ou habitual. Por isso se fala tanto da super-vivência do passado, da
conduta e do modo de actuar e pensar das pessoas que se supõe já não
deveriam continuar a ser como são.
Em que consiste a mudança da estrutura, do modo de produção; a
revolução social propriamente dita? Esquematicamente vamos considerar
três elementos que consideramos fundamentais: o sistema de propriedade
dos meios de produção, as relações sociais de produção que resultam
sobretudo da anterior e o modo de distribuição da riqueza social.
O primeiro elemento é o determinante dos outros componentes e
acabará reflectindo-se até em elementos tão etéreos como a psicologia
das pessoas e a vida espiritual de uma sociedade. Da forma das relações
de produção. Na sua forma estabelece a modalidade com que o proprietário
dos meios de produção compra, ou mais exactamente ainda, como se
apropria do trabalho do que vem a ser o «seu» dependente, o seu
assalariado ou o seu peão. Estas relações de produção são as que
encarnam a contradição entre o possuidor e o despossuído e, mais cedo
que tarde, revelar-se-ão como luta de classes.
Finalmente, conforme seja a base económica, os membros de uma
sociedade recolhem a riqueza social (podemos dizer «apropriam-se»,
particularmente do excedente). Marx comparava a riqueza social com uma
grande panela na qual os indivíduos, obrigatoriamente membros de uma
classe social, extraíam da panela uma parte dessa riqueza, de acordo com
o tamanho da sua colher. Ínfima, minúscula, a dos operários e da
pobreza em geral e enorme, extraordinariamente grande, a do burguês. Aí
esta com simplicidade em que consiste a injustiça social.
Não pode haver socialismo de nenhuma classe se não se transforma
essa base económica. Para falar da construção do socialismo com
propriedade deve colocar-se a meta histórica da liquidação da
propriedade privada dos meios de produção. Isto não acontece da noite
para o dia nem significa o desaparecimento de toda a forma de
propriedade; mesmo no socialismo integral, o comunismo, não desaparece a
propriedade pessoal, ainda que a propriedade dos meios de produção, a
propriedade social, seja universal e completa.
No segundo elemento, muda totalmente o carácter das relações de
produção. O operário, o trabalhador, o produtor dos bens materiais
emancipou-se e vai superando o seu estado de alienação, o estado de
dependência de outra vontade e do estado de separação, de perda de si
mesmo e do fruto do seu trabalho.
Por último, num processo que não é imediato, ir-se-á nivelando a
distribuição da riqueza social. O excedente tornar-se-á cada vez mais
colectivo. Por outras palavras terá aumentado de tamanho a colher dos
trabalhadores e dos pobres. Haverá mais justiça social e ir-se-á
estabelecendo essa fórmula da primeira etapa do socialismo «de cada um
segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho». Na
terminologia em voga na Bolívia tornar-se-á realidade a aspiração do
«sumaj causay», quechua, do «sumaj k’amaña», aymara, do «vivir bien»,
castiço.
Concluímos, dizendo que só uma revolução social completa pode
acercar-nos desse ideal, de forma nenhuma uma utopia como era moda dizer
há alguns anos. E nenhuma das suas fases pode ser separada da outra.
Uma revolução, somente política pode facilmente ser revertida, sobretudo
se deixou intacta a base ou se se deixarem intocáveis muitas formas de
propriedade privada dos meios de produção. E não haverá nenhuma
revolução social, nenhuma mudança estrutural se não se tender para a
liquidação da alienação do trabalhador.
Por último, em duas palavras, respondemos à premente pergunta de se é
possível, hoje e na Bolívia, um país atrasado, pobre, cercado construir
uma nova ordem, a sociedade socialista. Sim, acreditamos que é possível
nas actuais conjunturas nacional e internacional. Ambas são favoráveis,
ainda que à revolução boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma
outra, não lhe será aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já
sabemos. Será como disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação
heróica».
Este texto que nos foi enviado pelo autor foi redigido
com base no editorial de Marxismo Militante nº 45, de que Marcos Domich é
director.
* Marcos Domich, Professor da Universidade de La Paz, é
amigo e colaborador de odiario.info.
Tradução de José Paulo Gascão
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