Finalmente,
depois de muito resmungar, o PDT acertou a sua participação no governo
de Tarso Genro no RS. Nada de mais, quando se trata da negociação de
espaços num governo de coalizão, onde as diversas forças políticas que o
integrarão disputam espaços visando a respectiva afirmação no cenário
geral da política.
No
entanto, a coisa fica irônica quando este partido concorreu, na mesma
eleição, inclusive participando da chapa com o vice, CONTRA a
candidatura vencedora de cujo governo agora faz exigências para
integrar.
Pois
foi exatamente o que ocorreu no Rio Grande do Sul. O PDT, que concorreu
na chapa de José Fogaça (PMDB), inclusive oferecendo o vice, e que foi
derrotado por Tarso Genro no primeiro turno, “aceitou” fazer parte do
governo petista, fazendo diversas exigências quanto aos espaços a serem
ocupados no futuro governo.
É
algo como entrar num restaurante lotado e querer a melhor mesa, mesmo
que para isso os atuais ocupantes, em plena refeição, tenham que ser
enxotados. É por essa e outras que o PDT caminha a passos largos para se
tornar um partido nanico no cenário da política nacional.
Quando
do fim do bipartidarismo, em 1979, uma das grandes promessas da
política brasileira era o ressurgimento do trabalhismo. Criado por
Getúlio Vargas, sob o manto do antigo PTB foram instituídos os
principais direitos dos trabalhadores, além do fortalecimento do
nacionalismo em defesa das riquezas nacionais. Com Leonel Brizola,
quando governador do Rio Grande do Sul, ganhou relevo a educação, que
viria a ser a marca do trabalhismo moderno.
No
entanto, a perda da sigla PTB para o grupo ligado pela falecida
deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, por obra e graça do
general Golbery do Couto e Silva, ideólogo do regime militar de 64, e a conduta
muitas vezes errática de Brizola, o PDT, criado a partir da perda da
sigla histórica, foi perdendo espaço na política nacional, até virar um
partido de expressão cada vez menor, mesmo no RS.
Inicialmente,
quando da reorganização do trabalhismo, Brizola, a partir das relações
firmadas com líderes da social-democracia européia, decidiu dar ao novo
PDT uma inflexão mais à esquerda.
Esta
nova fase, que se inicia com o histórico "Encontro dos Trabalhistas do
Brasil com os Trabalhistas no Exílio", ocorrida em Lisboa em 1979,
visava modernizar o velho trabalhismo, cujo apelo ainda era muito forte em nosso País,
mercê dos avanços trazidos pelos governos nacionais de Getúlio e Jango,
bem como de Brizola em nível regional. Neste contexto, Brizola criou
uma até uma expressão, para designar a inflexão ideológica do novo
projeto, que ficaria famosa: “Socialismo Moreno”.
No
entanto, com o andar da carreta, os grupos remanescentes do antigo
trabalhismo, que a par dos avanços referidos produziu, como subproduto
do populismo, um paternalismo voltado à prática de favores e compadrios,
acabaram por vencer a disputa com os que viam neste renascimento a
oportunidade de dar ao trabalhismo histórico uma feição modernizada,
voltada ao socialismo democrático.
A
partir daí, o PDT passou a gravitar cada vez mais em torno de figura de
Brizola que, apesar de ser homem com idéias sociais avançadas (quando
governou o RS, além de uma campanha inédita pela educação, com a
construção de milhares de escolas, nacionalizou empresas estrangeiras e
implantou um projeto de reforma agrária revolucionário), devia também a
sua formação ao passado caudilhesco e populista do getulismo cujo
modelo, como soi acontecer na espécie, remete à intuição e ao carisma do
líder todo o destino do partido.
Dono
de uma personalidade marcante e algo autoritária, Brizola passou a
agregar e romper com aliados, alguns antigos, sem deixar surgir novas
lideranças, levando-o paulatinamente ao isolamento.
Após
fazer um governo bem sucedido no Rio de Janeiro (1983-1986), com a
criação, concebida pelo inesquecível Darcy Ribeiro, do monumental
projeto de educação através dos Centros Integrados de Educação Pública -
CIEPs, cuja proposta era dar atenção integral ao aluno, não repetiu o
desempenho em seu segundo governo carioca (1991-1994), quando fez uma
administração apagada.
Em
1989 quase chega ao segundo turno da eleição presidencial, perdendo
para Lula por apenas 0,5% dos votos. É o melhor momento do PDT. Apoiou
Lula no segundo turno e chegou a ser seu vice em 1998, rompendo após,
como era do seu hábito.
Mas
Brizola foi colecionando desafetos e fazendo acordos e alianças
eleitorais que ninguém entendia muito bem. No RS merece destaque a
desastrosa aliança de 1986 com o PDS (sucessor da ARENA, partido do
regime militar). Brizola justificava com o mesmo argumento utilizado
para firmar uma aliança com o integralismo em 1958, quando se tornou
governador do Rio Grande: seriam os trabalhistas quem chefiariam o
governo.
A
morte de Brizola, em 2003, não melhorou as coisas, pois o PDT continuou
funcionando na mesma lógica: no plano federal, integra o governo Lula e
integrará o Dilma (que deixou o PDT, em 2001, exatamente pela
inconstância política do partido), e aqui, no RS esteve nos últimos três
governos, de características políticas muito diversas (o governo Olívio
foi marcadamente de esquerda; o de Germano Rigotto, do PMDB, de
centro-direita, e o da tucana Yeda, neoliberal). Ficou até o fim apenas
no governo do PMDB, rompendo com os dois outros no curso dos mandatos.
Em
2004, o PDT aliou-se novamente ao PMDB para tirar o PT da prefeitura de
Porto Alegre, apresentando como candidato a vice o ex-petista José
Fortunati, o qual ficou com o cargo quando José Fogaça renunciou para
concorrer ao governo do Estado, aliás na chapa na qual os trabalhistas
também entraram com o vice.
Perdendo
a eleição e convidado por Tarso para integrar o governo do PT, os
pedetistas ficaram criando caso, querendo escolher secretarias e
desfiando a paciência do novo governador. Aliás, apesar de alardear o
seu compromisso histórico com a educação, estranhamente o PDT gaúcho não
reivindicou a secretaria respectiva, fato novamente a apontar a falta
de rumo do partido (más línguas afirmam que os trabalhistas ficaram com
medo de que o ex-governador Alceu Collares forçasse a indicação de sua
mulher, Neusa Canabarro, criadora do desastrado calendário rotativo no
governo do marido e responsável pelo seu naufrágio político).
Esta
conduta errática acaba por confundir a posição política do partido
perante o seu eleitorado. Ao aderir a governos de todos os matizes
ideológicos, acaba por se parecer com o seu arqui-rival, o PTB
“fake”criado pela ditadura, eclético no apoio a governos em troca de
cargos.
Lamentável ocaso para uma herança de grandes conquistas para o povo brasileiro.