Por Fidel Castro Ruz
Há momentos na história que precisam
de um discurso, embora seja tão breve como o "Alia
jacta est" de Julio César quando atravessou o
Rubicão. Era necessário atravessá-lo nesse dia,
justamente quando os ministros da Defesa dos Estados
soberanos do hemisfério ocidental estavam reunidos
na cidade de Santa Cruz, onde os ianques têm
estimulado o separatismo e a desintegração da
Bolívia.
Era segunda-feira 21, e as agências
de notícias dedicavam-se a divulgar e fazer
comentários sobre a reunião da OTAN em Lisboa, onde
essa instituição belicosa, em linguagem arrogante e
grosseira, proclamou seu direito de intervir em
qualquer país do mundo onde seus interesses se
sentissem ameaçados.
Ignorava-se por completo a sorte de
milhares de milhões de pessoas, e as verdadeiras
causas da pobreza e do sofrimento da maioria dos
habitantes do planeta.
O cinismo da OTAN merecia uma
resposta, e ela veio na voz de um indígena aimara da
Bolívia, no coração da América do Sul, onde uma
civilização mais humana floresceu antes que a
conquista, o colonialismo, o desenvolvimento
capitalista e o imperialismo impusessem o domínio da
força bruta, baseada no poder das armas e das
tecnologias mais desenvolvidas.
Evo Morales, presidente desse país,
eleito pela imensa maioria de seu povo, com
argumentos, dados e fatos incontestáveis, talvez sem
conhecer ainda o infame documento da OTAN, deu
resposta à política que o governo dos Estados Unidos
pratica historicamente com os povos da América
Latina e do Caribe.
A política da força expressa através
de guerras, crimes, violações da constituição e das
leis; treinamentos de oficiais dos institutos
armados para participar em conspirações, golpes de
Estado, crimes políticos que foram usados para
derrubar governos progressistas e instalar regimes
de força aos quais oferecem sistematicamente apoio
político, militar e da mídia.
Jamais um discurso foi tão
oportuno.
Usando muitas vezes as formas
expressivas de sua língua aimara, disse verdades que
passarão à história.
Tentarei fazer uma apertada síntese,
usando suas próprias frases e palavras,
Muito obrigado.
"Apraz-me imenso receber em Santa
Cruz de la Sierra os ministros e ministras da Defesa
da América, Santa Cruz, terra de Ignácio Warnes, de
Juan José Manuel Vaca, homens rebeldes de 1810 que
lutaram e morreram a favor da independência da nossa
querida Bolívia".
"Homens como Andrés Ibáñez,
Atahualipa Tumpa, irmãos indígenas que durante a
república lutaram por sua autonomia e pela igualdade
dos povos em nossa terra".
"Bem-vindos a Bolívia, terra de
Túpac Katarí, terra de Bartolina Sisa, de Simón
Bolívar e de tantos homens que lutaram durante 200
anos pela independência da Bolívia e de muitos
países na América".
"A América Latina [...] vive nos
últimos anos profundas transformações democráticas
buscando a igualdade e a dignidade dos povos..."
"... seguindo os passos de Antonio
José de Sucre, de Simón Bolívar, de vários líderes
indígenas, mestiços, crioulos que viveram há 200
anos."
"Há exatamente uma semana,
celebramos o bicentenário do Exército da Bolívia,
que em 14 de novembro de 1810 indígenas, mestiços,
crioulos se organizaram militarmente para combater
contra a dominação espanhola..."
"Nos últimos tempos a América Latina
retoma essa decisão de se libertar, como uma segunda
libertação não só social nem cultural, mas também
econômica e financeira, dos povos da América
Latina".
"... esta 9ª Conferência de
ministros da Defesa visa o debate sobre gênero e
multiculturalidade nas Forças Armadas, democracia,
paz e segurança das Américas, desastres naturais,
ajuda humanitária e o papel das Forças Armadas,
temário acertado, temário bem colocado para debater
a esperança dos povos, não só da América Latina, mas
também do mundo."
"Em 1985 [...] só tinham direito a
serem eleitos ou eleger autoridades, aqueles que
tinham dinheiro, que tinham profissão e os que
falavam espanhol ou o castelhano".
"Menos de 10% da população boliviana
podia, por conseguinte, participar das eleições ou
ser eleita como autoridade, e mais de 90% não tinha
direito [...] tiveram lugar diferentes processos
[...] algumas reformas, mas no ano 2009, com a
participação pela primeira vez do povo boliviano,
uma nova Constituição do Estado Plurinacional foi
aprovada pelo povo boliviano."
"... nesta nova Constituição,
logicamente os setores mais marginalizados [...] não
tinham direito a serem eleitos nem a eleger às
autoridades do Estado, da República da Bolívia.
"Tiveram que passar mais de 180 anos
para fazer profundas transformações e incorporar
estes setores marginalizados historicamente na
Bolívia, e confio em não estar errado, mas acho que
é o único país, não só na América, mas também no
mundo com 50% de mulheres ministras e 50% de
homens.
"É lógico que, com respeito às
normas da Constituição [...] sinto que é mais
importante a decisão política que deve ser tomada
para incorporar os setores mais abandonados; é
depois da aprovação da Constituição pelo povo
boliviano em 2009, que os mais marginalizados, os
mais desprezados, os considerados animais, que era o
movimento indígena, têm sua representação na
Assembléia Legislativa Plurinacional e também nas
assembléias departamentais".
"Algo importante, para os movimentos
indígenas que não têm muita população foram criadas
circunscrições especiais para que estejam presentes
os irmãos indígenas do planalto, do vale, do leste
da Bolívia".
"As circunstâncias uninominais
também permitem que os irmãos indígenas estejam
representados na Assembléia Legislativa
Plurinacional..."
"Desta forma, permitimos a presença
desses irmãos indígenas que estavam abandonados,
condenados ao extermínio."
"... isso não existia antes..."
"... quando eu era muito jovem, como
líder sindical, às vezes me opus às Forças Armadas e
depois, quando assumo a presidência percebo que uma
boa parte das Forças Armadas provêm das comunidades
camponesas, principalmente do vale ..."
"Quero dizer-lhes queridos
ministros, ministras, que nunca houve participação
como agora, anteriormente apenas a cor da pele
determinava o nível hierárquico da sociedade, agora
um indígena, um líder sindical, um intelectual, um
profissional, um líder empresarial, um militar, um
general, qualquer pessoa pode ser eleita presidente,
democraticamente, antes não existia essa
possibilidade, de mudar a Bolívia e nossa
Constituição.
"Quando esta Conferência enfoca
apenas a democracia, a segurança e a paz, rever a
história, revisar as normas para mim é muito
interessante, é bom revisar, não só revisar por
revisar, mas fazer qualquer coisa a favor da
democracia na América Latina, da segurança, da paz
na América ou no mundo.
"Se falamos da democracia no
passado, na Bolívia apenas existia uma democracia
pactuada, não existia um partido que pudesse ganhar
com mais de 50% dos votos como expressa a
Constituição Política do Estado Plurinacional..."
" ... na Bolívia, até 2005, desde
1952, na década dos anos 50, só existiam democracias
pactuadas, os partidos ganhavam com 20%, 30% ..."
"Um Partido que ocupasse o terceiro
lugar podia ser presidente, dependia dos pactos e da
distribuição dos ministérios, este tipo de pactos
era justamente organizado pelo embaixador dos
Estados Unidos; nossos compatriotas, irmãs, irmãos,
bolivianas e bolivianos, devem lembrar, por exemplo,
o ano 2002, quando ninguém ganhava com mais de 50%,
o partido com mais votos conseguiu 21% dos votos, e
aí estava o embaixador dos Estados Unidos, Manuel
Rocha, juntando, unindo os partidos neoliberais para
que pudessem governar, e esses governos não duraram,
não agüentaram.
"Felizmente, graças à consciência do
povo boliviano vamos vencendo esta classe de
democracias, agora não temos uma democracia
pactuada, e sim uma democracia legítima a partir do
sentimento do povo boliviano que acompanha um
pensamento, um sentimento que vem do sofrimento dos
povos sob um programa de governo."
"... um programa de dignificação dos
bolivianos, um programa que busca a igualdade dos
bolivianos, das bolivianas, um programa que recupera
seus recursos naturais, um programa que permite que
os serviços básicos sejam um direito humano .."
"... quando alguns de nossos
adversários, como vocês em cada país têm sua
oposição, nos dizem, um governo totalitário, governo
autoritário, governo ditador, que culpa eu tenho, se
este programa de governo proposto por um partido tem
mais de dois terços nas diferentes estruturas do
Estado Plurinacional?, só não consegui ganhar na
prefeitura da cidade de Santa Cruz.
"Respeitamos nosso prefeito, nos
ganharam, mas cumprimento o senhor prefeito pelas
ações que realizou na semana passada para combater o
ágio, a especulação [...] parabéns, meu respeito,
senhor prefeito..."
"E alguns nos dizem que temos
pensamento único, não há pensamento único algum,
apenas um programa elaborado pelos diferentes
setores sociais à frente dos movimentos sociais
originários e operários consegue esse apoio para
mudar a Bolívia.
"Mas que enfrentamos no caminho se
falamos de democracia, conspiração, golpe de Estado,
tentativas de golpes de Estado em 2008 [...]
quem era o organizador de este golpe de Estado, o
ex-embaixador dos Estados Unidos.
"Estava revendo sobre história [...]
sobre o golpe de Estado de 1964 quando o presidente
era o tenente-coronel Gualberto Villarroel, que
disse como presidente: ‘não sou inimigo dos ricos,
mas sou mais amigo dos pobres’, este militar
patriota foi o primeiro presidente que convocou um
congresso indígena".
"Outro presidente, Germán Bush, que
disse: ‘não cheguei à presidência para servir aos
capitalistas’, um militar.
"O primeiro presidente que
nacionalizou os recursos naturais, também foi um
militar, David Toro, refiro-me ao ano 1937 ou 38
[...] porém este militar foi assassinado no Palácio,
em 1946."
" ... nesse então a ofensiva
concentrou-se no Palácio Quemado que foi atacado
pela rua Illimani, pela esquina Bolívar, pela rua
Comércio, pela polícia e pela parte de atrás do
edifício de La Salle e do edifício Kersul onde fica
o consulado dos Estados Unidos."
" ... ao observar o fogo que
provinha do edifício Kersul, do consulado
norte-americano, contra este militar patriota que
garantiu o primeiro congresso indígena, do consulado
dos Estados Unidos, metralhando, disparando para
acabar com a vida de um militar, aí estão os
documentos que revisamos.
"... a história se repete, eu tive
que enfrentar que um embaixador organizara,
planificara acabar antidemocraticamente com meu
mandato, e eu sinto que isso se repete em todo o
mundo".
"Mas um companheiro, um compatriota
nosso, vítima de tantos golpes militares, me disse,
‘Evo, temos que cuidar-nos da embaixada dos Estados
Unidos, sempre houve golpes de Estado em toda a
América Latina’ e me disse, ‘só não há golpes de
Estado nos Estados Unidos porque não existe uma
embaixada dos Estados Unidos, realmente compreendi
que na história não escutei a respeito de golpes de
Estado.
"... os países que suportamos
tentativas de golpes de Estado, em 2002 na
Venezuela; em 2008 na Bolívia; em 2009 em Honduras,
em 2010 no Equador, temos que reconhecer
compatriotas latino-americanos ou da América, que os
Estados Unidos venceram em Honduras, conseguiram
consolidar o golpe de Estado, o império
norte-americano ganhou, mas também os povos da
América na Venezuela, na Bolívia, no Equador,
vencemos [...] o que será no futuro, veremos o
futuro."
"... esta avaliação interna deve ser
um debate profundo dos ministros da Defesa para
garantir democracias [...] meus antepassados,
meu povo têm sido permanentemente vítima de golpes
de Estado, golpes sangrentos, não porque assim o
queriam os militares, as Forças Armadas, mas sim por
decisões políticas internas e externas para acabar
com os governos revolucionários, com os governos que
surgem do povo, essa é a história da América
Latina."
"... temos direito a decidir quais a
formas para garantir a democracia em cada país, mas
sem golpes, nem tentativas de golpes".
"Gostaríamos que esta conferência de
ministras e ministros de Defesa possa garantir uma
democracia verdadeira dos povos, respeitando as
nossas diferenças em cada região, em cada setor".
"Mas também quando falamos de paz,
eu pergunto, como pode existir a paz com a presença
de bases militares, e também posso falar com certo
conhecimento porque eu fui vítima dessas bases
militares dos Estados Unidos, sob o pretexto da luta
contra o narcotráfico".
"Quando eu era soldado, soldado sem
patente, das Forças Armadas em 1978, os oficiais,
suboficiais me ensinaram a defender a Pátria, as
Forças Armadas têm que defender a Pátria, as Forças
Armadas não podem permitir que outro militar
estrangeiro uniformizado e armado permaneça na
Bolívia".
" ... como dirigente tenho sido
testemunha de que não somente a DEA uniformizada e
armada conduzia as Forças Armadas, nem conduzia a
Polícia Nacional, mas também com sua metralhadora,
sob pretexto de lutar contra o tráfico de
narcóticos, combatia os movimentos sociais,
perseguia com seus teco-tecos as marchas de Santa
Cruz, de Cochabamba, de Oruro, e não nos podiam
encontrar nem com seus teco-tecos, e diziam que eram
marchas fantasmas, nada disso, eram milhares os
companheiros procurando a reivindicação, a dignidade
e a soberania de nossos povos."
"... convencido de que se os povos
lutamos por nossa dignidade, por nossa soberania,
isso não pode ser feito nem com bases militares nem
com intervenções militares; todos nós, por pequenos
que sejamos, países chamados subdesenvolvidos, em
vias de desenvolvimento, temos dignidade, temos
soberania; além disso quando era membro do
Parlamento, tentaram que aprovasse a imunidade para
os funcionários da embaixada dos Estados Unidos.
"O que é a imunidade?, que os
funcionários da embaixada dos Estados Unidos,
incluída a DEA norte-americana, se cometem algum
delito não sejam julgados com as leis bolivianas,
isso era uma carta aberta para matar, para ferir,
mesmo como fizeram em minha região."
"... a paz é a filha legítima da
igualdade, da dignidade que é a justiça social, sem
dignidade, sem igualdade, sem justiça social será
impossível garantir a paz, porque há povos que se
rebelam porque existe a injustiça."
"... escutando falar nosso
secretário geral das Nações Unidas sobre as
doutrinas, as doutrinas que conhecemos na Bolívia,
doutrinas anticomunistas com golpes de Estado para
intervir militarmente os centros mineiros, porque os
movimentos sociais, os centros mineiros eram grandes
revolucionários para transformar a Bolívia".
"Na década de 50 e 60, acusavam-nos
de comunistas, de vermelhos, aos dirigentes
sindicais do setor mineiro, para nos encerrar nos
cárceres, para nos condenar ao exílio, para nos
processar até sermos massacrados, essa época passou,
agora não nos podem acusar de vermelhos nem de
comunistas, todos temos direito a pensar diferente.
Se para um país, se para uma região
a solução é o comunismo, muito bem; se para outro é
o socialismo, muito bem; se para outro é o
capitalismo, muito bem; isso é decisão democrática
de qualquer país.
"Mas quando ganhamos essa luta, que
já não podem justificar com uma doutrina
anticomunista para fazer calar os povos, para mudar
de presidentes, para mudar governos, então aparece a
outra doutrina, a guerra contra a droga".
"Logicamente é nossa obrigação
combater as drogas [...] a Bolívia não é a cultura
das drogas, a Bolívia não é a cultura da cocaína,
mas de onde vem a cocaína?, do mercado dos países
desenvolvidos, isso não é responsabilidade do
governo nacional, mas é obrigado combatê-la" .
"... por trás da luta contra o
tráfico de drogas não podem existir interesses
geopolíticos, que sob pretexto de lutar contra o
narcotráfico demonizam os movimentos sociais,
criminalizam os movimentos sociais, confundem a
folha de coca com a cocaína, confundem o produtor da
folha de coca com o narcotraficante, ou o consumo
legal da folha de coca com o narco dependente".
"Por que não combateram a coca
antes, no século passado, se a coca provocava dano,
os europeus foram os primeiros proprietários de
terras que exploraram a folha de coca, com certeza
não se desviava a cocaína.
"Os governos dos Estados Unidos
entregava uma certidão de reconhecimento aos
melhores produtores de folha de coca, para que?,
para que esse produtor de folha de coca pudesse
manter, atender a folha de coca, e aos mineiros que
exploravam o estanho também fazia um reconhecimento,
e dessa forma puder levar o estanho para os Estados
Unidos".
"... o mundo sabe, vocês sabem, a
chamada guerra contra a droga fracassou, essas
políticas têm que mudar, logicamente, qual seria a
nova política? como por exemplo, acabar com o
segredo bancário, esse grande narcotraficante, o
peixe grande do narcotráfico, anda com sua mochila
carregada de dinheiro, também sua mala, viajando de
avião, não circula nos bancos; por que não acabar
com o segredo bancário para dessa forma acabar
também com o narcotráfico, para controlar esse
traficante de narcóticos".
"Por que não cada país defende a
entrada de qualquer droga a seu território?, com
essa tecnologia, fazendo uso de radares, eu sinto
que existe capacidade para controlar, e não podemos
controlar, e só sob pretexto da luta contra o
narcotráfico impor políticas de controle e
sobretudo, encaminhados a como recuperar os recursos
naturais para as transnacionais."
"... o ex-embaixador dos Estados
Unidos, Manuel Rocha disse: Não votem em Evo
Morales, Evo Morales é o Bin Laden andino e os
cocaleiros os talibanes".
"Quer dizer, caros ministros,
ministras da Defesa, segundo este tipo de doutrinas,
vocês estão neste momento reunidos como o Bin Laden
andino e meus companheiros, os movimentos sociais,
são os talibanes, semehantes acusações, às vezes
tergiversações."
"... agora quando tampouco podem
sustentar essas teses e doutrinas anticomunistas,
anti-terroristas, existe outra nova doutrina que há
dias ouvimos, e quero aproveitar esta oportunidade
para informar a povo através dos meios de
comunicação".
"No dia 17 deste mês, uma reunião da
qual participaram alguns latino-americanos e alguns
congressistas norte-americanos, realizada nos
Estados Unidos, tinha como lema: perigo dos Andes,
ameaças à democracia, aos direitos humanos e à
segurança interamericana".
"... a congressista Ileana
Ros-Lehtinen disse: nos últimos anos temos observado
com preocupação os esforços de vários presidentes na
região, como Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales,
na Bolívia, Daniel Ortega, na Nicarágua, Rafael
Correa, no Equador, para consolidar seu poder custe
o que custar. Os membros da aliança ALBA com Chávez
como líder, um após o outro, manipulam o sistema
democrático de seus países para servir a seus
próprios objetivos autocráticos.
"É a oportunidade para dizer a essa
congressista que não ganhamos como nos Estados
Unidos com uma diferença de 1%, 2%; aqui ganhamos
com mais de 50, ou mais de 60%, e em algumas regiões
com mais de 80%, essa é a verdadeira democracia".
"O que diz a agenda sobre Daniel
Ortega, mas a agenda cocaleira impulsada por Evo
Morales, é uma nascente aliança com o Irã e a
Rússia, a respeito do caso de Rafael Correia, as
duvidosas reformas constitucionais com postulados
anti-americanos.
"... a Bolívia sob minha direção
terá acordos, alianças com todo o mundo, ninguém
pode me proibir, temos direito, somos a cultura do
diálogo."
"... sem sócios democráticos
estáveis não pode haver segurança regional, também
procuram segurança regional para os Estados Unidos,
tal como agora mais do que nunca é o momento em que
os Estados Unidos apóiem seus inimigos ou debilitem
seus inimigos, agora é o momento em que a
Organização dos Estados Americanos absolva seu
legado de dupla moral e que finalmente faça com que
todos os estados membros cumpram os princípios e
obrigações fundamentais da carta democrática
interamericana, bom, haverá que revisar a carta
interamericana".
"O segundo congressista (fala de
Connie Mack, e explica suas idéias com as palavras
seguintes), tenho sua intervenção, mas para ganhar
tempo vou tentar resumir, quero falar sobre algumas
observações dos últimos seis anos como membro deste
Congresso, eu vi francamente as duas administrações:
o governo republicano e o governo democrata.
"Nessa linha acho que está a idéia
de ambas as administrações a respeito de Hugo
Chávez, que não intervenhamos, que nos sentemos e o
deixemos explodir em si próprio, e o outro
pensamento é que talvez Hugo Chávez esteja doido, e
ele disse, eu não acredito em nenhuma dessas noções,
não acho que Hugo Chávez esteja doido, e não acho
que deixá-lo explodir em si próprio funcionará. Hugo
Chávez é uma ameaça para a liberdade e para a
democracia na América Latina e ao redor do mundo."
"isto é o que mais me preocupa,
confio em que quando viremos maioria no próximo
Congresso, como presidente do subcomitê, façamos
justamente isso, nos encarregaremos de Chávez,
derrotá-lo politicamente ou fisicamente."
A seguir Evo expressa:
"Eu diria que este congressista
Connie Mack já é um assassino confesso ou um
conspirador confesso do irmão presidente da
Venezuela, Hugo Chávez" .
"Se acontecer alguma coisa com a
vida de Hugo Chávez, o único responsável será este
congressista norte-americano, ele o diz publicamente
e aparece escrito nos meios de comunicação e em sua
intervenção."
"Companheiro, irmão,
secretário-geral da OEA, você tem que expulsar a
Venezuela, o Equador e a Bolívia e também a
Nicarágua, e aplicar sanções, o que significa isso?,
seguramente um bloqueio econômico como a Cuba."
"Acho que a isso se referem as
sanções, então como podemos alguns países da América
garantir a segurança, a paz, quando estas são as
expressões de alguns congressistas, de alguns
latino-americanos".
"Estava revisando qual o motivo, por
que Cuba foi expulsa em 1962, por ser leninista,
marxista, e comunista. Agora a nova doutrina é uma
doutrina anti-ALBA, como esses países organizamos,
cumprimentamos Fidel, cumprimentamos Chávez, e
outros presidentes, por construírem um instrumento
como a ALBA, um instrumento de integração, de
solidariedade, solidariedade sem condicionamentos,
como compartilhar em vez de competir, como praticar
políticas de complementaridade e não de
competitividade.
"... dentro dessa competitividade
somente grupos pequenos beneficiar-se-ão e não as
maiorias que esperam de seus presidentes".
"Dentro de estas políticas de
competitividade e não de complementaridade nem o
capitalismo já é uma solução para o capitalismo,
essa é a crise financeira.
"... a nova doutrina como antes
vinham as doutrinas da escola de Panamá, o comando
sul treinava nossos militares, fecharam isso graças
às lutas dos povos e agora já não existe a escola
das Américas, o que é que há?, operações conjuntas
mediante forças especiais."
"...admiro alguns oficiais das
Forças Armadas da Bolívia que informaram em detalhe
sobre esses treinamentos que realizam todos os anos
de maneira rotativa nos diferentes países da
América, para que?, para ensinar-lhes como acabar
com esses países revolucionários, países que fazem
profundas transformações democráticas, treinamentos
inclusive para ensaiar ou ensinar os
franco-atiradores como matar os líderes.
"... com muita indignação vi algumas
imagens dessas operações conjuntas mediante forças
especiais que vão passando de um povo para o outro.
É lógico que a Bolívia já não participa e jamais
participará enquanto eu continue na presidência
neste tipo de operações conjuntas para continuar
atentando contra a democracia".
"... para o movimento indígena [...]
este planeta ou a Pachamama pode existir sem o ser
humano, mas o ser humano não pode viver sem o
planeta, sem a Pachamama."
"... o capitalismo não é a
propriedade privada, porque às vezes tentam
confundir e nos dizem que o presidente Evo questiona
o capitalismo, que vai tirar nossas casas, nossos
carros; não, a propriedade privada está garantida."
"... a nova Constituição garante uma
economia plural, e essa economia plural garante a
propriedade privada, é garantida a propriedade
comunal, estatal, de todos os setores sociais, mas
quando falamos de capitalismo estamos falando deste
desenvolvimento irracional, irresponsável,
ilimitado."
"Nossos companheiros já não
encontram água na Amazônia, quando começamos a
perfurar em alguma região encontramos a água cada
vez mais profunda e em poucas quantidades, e quando
não garantimos água por causa da seca, justamente
produto do aquecimento global, essa família fica
abandonada a sua sorte, são milhares, milhões no
mundo, são imigrantes climáticos".
"Isso não vamos resolver com a
participação das Forças Armadas, não o poderemos
resolver com a participação dos ministros da
Defesa, nem com a cooperação, esse é um tema
estrutural de caráter mundial."
"... gostaríamos de resolver aqui a
médio e longo prazo; a melhor solução para acabar
com os desastres, ou acabar com os desastres
naturais é acabando com o capitalismo, modificando
essas políticas de exagerada industrialização".
"Logicamente, todos os países
queremos industrializarmos, industrializarmos para a
vida, para o ser humano e não uma industrialização
para acabar com a vida, com os seres humanos,
existem doutrinas que proclamam e promovem a guerra,
existem povos ou Estados que vivem da guerra, isso
tem que acabar, e para acabar com isso temos que
eliminar as grandes indústrias de armamentos que
acabam com a vida."
"... eu sei que muitos ministros
trazem a mensagem de seus presidentes, de seus
governos, de seus povos, mas sejamos responsáveis
pela vida, e ser responsável pela vida significa ser
responsável pelo planeta ou pela Pachamama, pela Mãe
Terra, e ser responsável pela Mãe Terra, pelo
planeta ou pela Pachamama é respeitar os direitos da
Mãe Terra."
"... tomara que a América possa
encabeçar através de vocês ministras e ministros da
Defesa a garantia do direito da Mãe Terra para
garantir os direitos humanos, a vida, a humanidade,
não somente para a América, mas também para todo o
mundo, sinto que temos uma enorme responsabilidade
nesta conjuntura".
"Quero saudar a participação de
nossas Forças Armadas, e também ser sincero com
vocês, eu tinha muito medo, temor, nos anos 2005 e
2006 quando assumi a presidência, de se as Forças
Armadas me acompanhariam ou não neste processo."
"... as Forças Armadas participando
de trabalhos sociais, das mudanças estruturais,
recuperando as minas, apoiando as políticas de
recuperação dos recursos naturais, essas Forças
Armadas agora são queridas pelo povo boliviano."
"... o povo sente que tem umas
Forças Armadas para o povo, agora felizmente temos
duas estruturas importantes no Estado Plurinacional,
os movimentos sociais que defendem seus recursos
naturais e as Forças Armadas que também defendem
seus recursos naturais, e se voltamos ao ano 1810,
claro as Forças Armadas nasceram defendendo seus
recursos naturais, a identidade, a soberania de
nossos povos, só em alguns tempos fizeram mal uso de
nossas Forças Armadas, não por culpa dos
comandantes, mas sim por interesses oligárquicos ou
alheios aos povos, que evidentemente nos fizeram
muito dano."
"... com as imposições de políticas
do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial,
privatizações, desnacionalização das empresas
públicas."
"... dos lucros só [...]
ficava 18% para os bolivianos e 82% para as empresas
multinacionais.
"Em1o de maio de 2006 mediante
decreto supremo, primeiro decidimos o controle do
Estado de nossos recursos naturais, segundo, se
convencidos de que aquele que investe tem direito a
recuperar seu investimento e tem direito a ter
lucros, dizemos que agora com 18% eles podem obter
lucros e recuperar seu investimento, assim os
técnicos mo demonstraram, e a partir de 1º de maio
de 2006, 82% passou para os bolivianos e 18% para as
empresas que investem, essa é a nacionalização,
respeitando seu investimento."
Evo conclui seu discurso aportando
dados incontestáveis sobre os resultados econômicos
atingidos pela revolução.
"Antes o produto interno bruto era
de US$9 bilhões, em 2005; agora em 2010, é de US$18,5
bilhões".
"... com o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional a receita média por pessoa
era de mil dólatres ao ano [...] em nosso
governo 1. 9000 dólares."
"... em 2005, a Bolívia era o
penúltimo país em reservas internacionais, agora
conseguimos melhorar, em reservas
internacionais tinha US$1,7 bilhão, neste ano temos
US$ 9,3 bilhões..."
"... quando os governos dependiam
dos Estados Unidos nem sequer podíamos erradicar o
analfabetismo, graças à cooperação incondicional de
Cuba especialmente, bem como da Venezuela, há dois
anos atrás declaramos a Bolívia território livre de
analfabetismo, depois de quase 200 anos".
"Em troca dessa cooperação Cuba não
pede nada, isso é solidariedade, isso é compartilhar
o pouco que temos e não compartilhar o que nos
sobra, isso aprendi com o companheiro Fidel a quem
admiro muitíssimo."
Por pura modéstia Evo não falou dos
avanços obtidos pelo povo boliviano no setor da
saúde. Somente na oftalmologia, por volta de 500 mil
bolivianos foram operados da visão, os serviços da
saúde chegam a todos os bolivianos e por volta de 5
000 especialistas em Medicina Geral Integral se
estão formando e em breve receberão seu título. Esse
irmão país latino-americano tem razões demais para
se sentir orgulhoso.
Evo conclui:
"... sem o Fundo Monetário
Internacional, isto é, que não imponham políticas
econômicas de privatizações, de leilões, podemos
melhorar ainda no democrático, se não dependemos dos
Estados Unidos podemos melhorar nossa democracia na
América Latina, este é o resultado de cinco anos de
meu desempenho como presidente."
"Logicamente, com isso não digo que
a Bolívia não precisa de cooperação, Bolívia ainda
precisa de créditos internacionais, de cooperação
internacional, agradeço aos países da Europa que
cooperam, aos da América Latina, que oferecem
facilidade de créditos porque estamos em um processo
de profundas transformações..."
"... que os povos tenham direito a
decidir por si próprios sobre sua democracia, sobre
sua segurança, mas enquanto tenhamos atitudes de
intervencionistas com qualquer pretexto [...]
certamente vai demorar a libertação dos povos, porém
mais cedo ou mais tarde, como estamos vendo, os
povos vão continuar rebelando-se".
"É por isso que estou convencido da
rebelião à revolução, da revolução à descolonização..."
Após o discurso de Evo, apenas 48
horas depois, caiu como um relâmpago o discurso de
Chávez. As luzes da rebelião iluminavam os céus da
Nossa América.
Fidel Castro Ruz