quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Comunicado do IV Congresso do Partido Comunista do México


Partido Comunista do México

Dias 20 e 21 de Novembro, integrado nas comemorações do centenário do início da Revolução Mexicana [1] realizou-se o IV Congresso do Partido dos Comunistas Mexicanos, com o objectivo de dar um novo passo organizativo que fará afinar os motores da luta pelo socialismo no nosso país.
O Congresso teve início depois de se ter concluído o processo de unidade entre o Partido dos Comunistas do México e o Comité de Luta pelo Movimento de Emancipação Nacional, COLMENA, onde ambas as partes expuseram as suas razões para dar este importante na unificação dos comunistas, dispostos a cumprir o compromisso histórico com o proletariado e o povo trabalhador da nossa pátria e do mundo.
Depois de numerosas intervenções de militantes, o Congresso discutiu a necessidade de dar um novo passo na constituição organizativa do partido que terá de representar e lutar pelos interesses do proletariado e guiá-lo na sua luta pela conquista do poder, pelo que se tornou necessário adoptar o nome que histórica e cientificamente representa a dita exigência, Partido Comunista do México. Isto, como forma de reivindicar com orgulho e dignidade a nossa tradição histórica de luta comunista, e de reafirmar que o nosso compromisso de luta pela emancipação dos trabalhadores é inquebrantável, afirmando sem peias nem timidez alguma que o nosso guia ideológico é o marxismo-leninismo, cuja compreensão, estudo e prática é a chave para superar efectivamente a exploração capitalista. Ao mesmo tempo, as contribuições dos militantes durante a discussão deram ênfase a que o mais difícil está para vir, e que este novo passo não resolve, só por si, a necessidade de construir a vanguarda do proletariado, pois ainda há muito para fazer até o alcançar, e ainda faltam muitos comunistas e revolucionários honestos e convictos para engrossar esta nova iniciativa.
No Congresso, com uma activa e entusiasta participação dos militantes, foram discutidos e aprovados os estatutos do partido, documento que servirá de guia organizativo para a difícil tarefa que temos pela frente.
Também se aprovou a resolução política em que se denuncia que a miséria e a deterioração das condições de vida dos trabalhadores mexicanos e de grande parte do povo têm como principal beneficiário um seleccionado grupo de capitalistas, nacionais e estrangeiros, que têm vindo a encher os seus bolsos com a degradação das condições de trabalho, a redução dos salários, o aumento da jornada de trabalho e a retirada de direitos historicamente conquistados pelo nosso povo. O inimigo de classe aproveita-se do Estado para reprimir indiscriminadamente todos os trabalhadores, camponeses e povos índios que resistem ferreamente nos embates com o capital, enfrentando com invulgar valor as forças repressivas, policiais e militares, que hoje agem para a manutenção de um estado de sítio permanente. A resolução também ressalta a importância da tradição comunista e do seu papel decisivo na luta pela emancipação de todo o povo e conclui, advertindo, que não há mediação possível na vigente luta de classes, nem há qualquer possibilidade nem esperança nos partidos políticos da burguesia, PRI, PAN, PRD, PT, Convergência, e que o nosso rumo é determinado e indeclinável para a Revolução Socialista.
O Congresso elegeu também os membros do Comité Central do partido e a Comissão de Controlo.
O primeiro Plenário do Comité Central elegeu para a Comissão Política os camaradas Marco V Vinicio Dávila, Xenia Hernández, Diego Torres, Julio Cota, Andrés Avila y Pável Blanco. Também elegeu o camarada Pável Blanco Cabrera como Primeiro Secretário do Comité Central e o camarada Andrés Avila Armella como Segundo Secretário do Comité Central.
Actualmente os militantes do partido estão a discutir as Teses do partido e o seu programa, que serão analisados na segunda etapa do nosso Congresso, nos próximos dias 29 e 30 de Janeiro de 2011. Esta será uma discussão fundamental para definir o rumo e precisar o nosso trabalho e identidade política, o que exige a maior seriedade e estudo por parte de todos os nossos militantes.
Este novo passo está dado. O que temos pela frente exigirá muito trabalho, sacrifício, um compromisso irrevogável com a classe operária e com todos os explorados e oprimidos do nosso país, que exigem, de forma dramática, uma transformação radical da nossa realidade; mas o nosso povo, sedento de justiça, terá em cada um de nós os seus homens e mulheres mais decididos para a fazer de vez a transformação, no rumo apontado por Marx, Engels e Lenine, onde não há outro caminho que o da luta comunista.

Viva o Partido Comunista de México!

Viva a lula comunista internacional!

Proletarios de todos los países, uní-vos!

Auditório 19 de Abril da Secção IX do SNTE-CNTE da Cidade de México, em 21 de Novembro de 2010.
N. do T.:
[1] Dia 20 de Novembro de 1910 foi a data do início da Revolução Mexicana.
Tradução de José Paulo Gascão

Uma geração livre de Aids é possível

É possível conseguir uma geração livre da aids se a comunidade internacional intensificar esforços a fim de providenciar acesso universal a prevenção, tratamento do HIV, bem como proteção social, afirma o relatório da ONU Children and AIDS: Fifth Stocktaking Report 2010, lançado hoje em Nova Iorque.

Por Roshan Khadivi e Genine Babakian

É possível conseguir uma geração livre da aids se a comunidade internacional intensificar esforços a fim de providenciar acesso universal a prevenção, tratamento do HIV, bem como proteção social, afirma o relatório da ONU Children and AIDS: Fifth Stocktaking Report 2010, lançado hoje em Nova Iorque.

Atingir esse objetivo depende, no entanto, da capacidade de chegar aos membros da sociedade mais marginalizados. Embora, de um modo geral, as crianças tenham se beneficiado significativamente dos progressos alcançados nas respostas à Aids, há milhões de crianças e mulheres que têm ficado à margem devido a desigualdades enraizadas em relação a gênero, condição econômica, localização geográfica, nível educacional e status social. Derrubar essas barreiras é, pois, crucial para o acesso universal, para todas as mulheres e crianças, ao conhecimento, a cuidados e à proteção, bem como à prevenção da transmissão da mãe para o filho – a chamada transmissão vertical. “Para se conseguir uma geração livre de HIV, é necessário fazer mais a fim de chegar às comunidades mais atingidas. Todos os dias, cerca de 1.000 bebês são infectados com o HIV na África ao sul do Saara pela transmissão vertical”, declarou Anthony Lake, Diretor Executivo do UNICEF. “O nosso quinto relatório-balanço sobre as crianças e a aids destaca intervenções inovadoras como o Pacote Mãe-Bebê, que pode proporcionar tratamento antirretroviral decisivo a mais mães e bebês do que nunca antes”, disse Lake.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reviu as suas linhas orientadoras no início deste ano, a fim de assegurar serviços de qualidade para a prevenção da transmissão vertical para mulheres grávidas que vivem com o HIV e os seus bebês. No ano de 2009, em países de baixo e médio rendimento, 53% das mulheres grávidas que vivem com HIV receberam antirretrovirais (ARV) para prevenir a transmissão da mãe para o filho, porcentagem que, em 2008, foi de 45%. Um dos aumentos mais significativos ocorreu na África Oriental e Meridional, onde a proporção aumentou dez pontos percentuais, passando de 58%, em 2008, para 68%, em 2009. “Temos provas substanciais de que a eliminação da transmissão vertical é viável”, afirmou Margaret Chan, diretora-geral da OMS. “Mas a concretização desse objetivo vai requerer, em primeiro lugar, muito melhor prevenção entre mulheres e mães”.

Globalmente, a Aids ainda é uma das principais causas de mortalidade entre mulheres em idade reprodutiva e uma importante causa de mortalidade materna em países onde a epidemia é generalizada. Na África ao sul do Saara, 9% da mortalidade materna é atribuível ao HIV e à Aids. “Anualmente, cerca de 370 mil crianças nascem com o HIV. Cada uma dessas infecções é evitável”, disse Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS. “Temos de impedir a morte das mães e evitar a infecção dos bebês com o HIV. Essa é a razão pela qual tenho apelado à eliminação praticamente total da transmissão do vírus da mãe para o filho até 2015”.

A OMS também divulgou novas linhas de orientação sobre ARV para o tratamento de bebês e crianças, abrindo o caminho para que muito mais crianças com HIV sejam alcançadas de imediato pelo tratamento antirretroviral. Em países de baixa e média renda, o número de crianças menores de 15 anos que receberam tratamento subiu de 275.300, em 2008, para 356.400, em 2009. Esse aumento significa que 28% dos 1,27 milhão de crianças que, estima-se, precisam de tratamento antirretroviral recebem-no. Os bebês são particularmente vulneráveis aos efeitos do HIV, o que conferiu um caráter de urgência à campanha global em relação ao diagnóstico precoce em bebês. Embora a disponibilidade de serviços de diagnóstico prematuro tenha aumentado significativamente em muitos países, a cobertura global continua baixa, mantendo-se em apenas 6% em 2009. Sem tratamento, cerca de metade dos bebês infectados com HIV morre antes do seu segundo aniversário.

Em quase todo o mundo, o número de novas infecções com HIV está decrescendo de forma consistente ou se estabilizando. Em 2001, estimava-se que 5,7 milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos viviam com HIV. No final de 2009, esse número caiu para 5 milhões. No entanto, em nove países – todos no sul da África –, pelo menos um em cada 20 jovens vive com HIV. As mulheres jovens ainda carregam o maior fardo da infecção, e, em muitos países, as mulheres enfrentam maior risco de infecção antes dos 25 anos. Globalmente, mais de 60% de todos os jovens que vivem com HIV são mulheres. Na África ao sul do Saara, essa porcentagem é próxima dos 70%. “Precisamos tomar medidas contra as desigualdades de gênero, incluindo as que colocam as mulheres e crianças num risco desproporcionado perante o HIV e a outras consequências adversas da saúde sexual e reprodutiva” declarou Irina Bokova, Diretora-Geral da UNESCO. “Apesar de nos sentirmos encorajados por um declínio da incidência do HIV nos jovens superior a 25% em 15 países-chave da África ao sul do Saara entre 2001 e 2009, devemos fazer todo o possível para manter e aumentar essas tendências positivas a fim de concretizar o objetivo de acesso universal à prevenção, ao tratamento, a cuidados e ao apoio”.

Os adolescentes continuam a ser infectados com HIV porque não têm nem conhecimentos nem acesso a serviços para se proteger. Atingir uma geração livre da Aids significa apagar as desigualdades que alimentam a epidemia e proteger aqueles que continuam à margem. Iniciativas de proteção social – incluindo transferências em dinheiro e esforços para promover acesso a serviços – desempenham um papel importante para quebrar o ciclo da vulnerabilidade. O relatório enfatiza ainda a importância da adaptação de programas educativos destinados aos jovens mais vulneráveis – os que estão fora da escola – com informação sobre prevenção do HIV. “Devemos aumentar o investimento na educação e saúde de jovens, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, para prevenir a infecção pelo HIV e melhorar a proteção social”, disse Thoraya Ahmed Obaid, Diretora Executiva do UNFPA. “Chegar aos jovens marginalizados, incluindo às adolescentes vulneráveis e os que não estão na escola, deve continuar a ser uma prioridade”. O relatório está disponível no site global do UNICEF, somente em inglês.

Fonte ENVOLVERDE: http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=84181&edt=1

Foto: http://www.flickr.com/photos/nygus/2783391591/sizes/z/

WikiLeaks e agressão imperialista dos EUA


Por Altamiro Borges

Para os que acham que não existe mais imperialismo, a revelação do sítio Wikileaks de mais de 250 mil novos documentos sobre as atividades de espionagem dos EUA em todo o planeta representa o fim das ilusões de classe. Os textos “confidenciais” mostram a face verdadeira da diplomacia ianque, que trabalha diuturnamente com o objetivo de prolongar seu domínio imperial sobre mundo.

Para manter a sua hegemonia econômica, política, militar e ideológica, os EUA não vacilam em espionar dezenas de nações, orquestram planos para desestabilizar e derrubar governos eleitos democraticamente, financiam organizações e operações “terroristas” e vigiam até mesmo o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O império não tem qualquer escrúpulo para manter o seu domínio.

Confissão do golpe em Honduras

Os documentos revelados pelo Wikileaks contêm informações levantadas por centenas de diplomatas sobre as prioridades da política externa dos EUA, como as ocupações do Afeganistão e Iraque, o Irã e o Paquistão. Além disso, estão incluídas avaliações sobre negociações bilaterais, conversas privadas e avaliações sobre líderes de vários países. Fica evidente a investida contra o Irã para “cortar a cabeça da cobra”, numa das referências ao presidente Mahmud Ahmadinejad. O esforço para derrubar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também aparece em vários textos.

A base de dados a que o jornal britânico The Guardian teve acesso revela a atividade de espionagem das embaixadas dos EUA em busca de informação que possa ser usada em chantagem contra dezenas de países, alguns deles aliados. Índia, Afeganistão, Paquistão, países árabes e africanos, assim como Honduras, Colômbia, Paraguai, Brasil e Venezuela, na América Latina, foram objeto de espionagem. No caso de Honduras, telegramas de diplomatas confirmam que houve um golpe militar no país – que os EUA e a mídia colonizada tentaram esconder.

Nelson Jobim, o "aliado"

No caso brasileiro, conversas confirmam o desconforto dos EUA com a política externa soberana praticada pelo Itamaraty. O ministro Celso Amorim e o ex-secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães são encarados como inimigos do império. Já o ministro da Defesa, Nelson Jobim – que infelizmente a presidente Dilma Rousseff pretende manter no posto – é tratado como um “aliado” dos EUA.

A vasta documentação tornada pública, num serviço inestimável da ONG Wikileaks, confirma que a luta contra a agressão imperialista é a principal batalha dos povos na atualidade para superar a opressão e a exploração.

Rosa Parks e a luta pelos direitos civis dos negros


Por Edson Joanni

01 de dezembro: um marco na história dos direitos civis dos negros nos EUA.
Foi nesse dia, em 1955 que a costureira Rosa Parks se recusou a ceder seu assento no ônibus a um homem branco. A história, claro, foi ao cinema, com a atriz Angela Basset, nominada ao Oscar por sua brilhante interpretação.
Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913- Detroit, 24 de outubro de 2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo doMovimento dos Direitos Civis. Ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no Autocarro a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado Boicote aos Autocarros de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista.
iNascida em Tuskegee, no estado do Alabama, Estados Unidos da América, Rosa era filha de James e Leona McCauley, e cresceu em uma fazenda. Devido a problemas de saúde na família, foi obrigada a interromper os seus estudos e começou a trabalhar como costureira.
Em 1932 casou-se com Raymond Parks, membro da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), uma organização que luta pelos direitos civis dos negros, da qual Rosa se tornou militante.
Foi através dessa atitude que o então jovem pastor negro Martin Luther King, Jr., concordando com a atitude de Rosa Parks, incentivava em seus sermões os negros fiéis a fazerem o mesmo.
Este movimento teve grande repercussão na década de 50 nos Estados Unidos, pois o honroso pastor pregava pelos direitos civis do negros americanos através da teoria "say at less... I'm black, I'm proud", que mudou completamente a história dos Direitos Civis para os negros americanos e influenciou gerações de negros no mundo inteiro. A atitude solitária de Rosa Parks, ao ser acolhida por Martin Luther King, Jr., nunca mais foi uma atitude solitária. Depois de se aposentar, escreveu sua autobiografia. Os anos finais de sua vida foram marcados pelo Mal de Alzheimer, e no ano de 2005 morreu de causas naturais. (Wikipedia)

Chanceler italiano apoia pedido de prisão contra fundador do Wikileaks


O chanceler italiano, Franco Frattini, expressou hoje (01/12) seu apoio ao mandado de prisão internacional anunciado pela Polícia Internacional, a Interpol, contra Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, por acusações de estupro e abusos sexuais na Suécia.
  
"Acredito que seja a coisa certa. Espero que ele seja capturado logo e que seja interrogado", comentou o ministro das Relações Exteriores da Itália.

Leia mais:
João Pedro Stédile: ''EUA são os maiores terroristas do mundo''
Wikileaks: documento diz que MST e movimentos sociais são obstáculos a lei antiterrorismo no Brasil
Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical
Jobim nega declarações reveladas em documento pelo Wikileaks
  
O "pedido de prisão com fim de extradição", anunciado hoje pela Interpol, foi recebido pela instituição em 20 de novembro, enviado pela Suécia. O "alerta vermelho" foi encaminhado aos 188 países que aderem à Polícia Internacional, entre eles a Grã-Bretanha, onde se acredita que Assange esteja vivendo atualmente.
  
Ele é acusado de estuprar duas mulheres na Suécia, para onde planejava se mudar. Assange queria ter o apoio das leis do país sobre liberdade de imprensa para manter o WikiLeaks.
  
Hoje seu advogado levou um apelo à Justiça de Estocolmo. O fundador do WikiLeaks nega as acusações e insinua que elas são uma campanha coordenada pelos Estados Unidos contra ele por causa do site.


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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Índia e Israel, uma parceria confidencial


A cooperação armamentista entre os países é antiga e movimentou, em dez anos, US$ 10 bilhões. De maneira paradoxal, a aproximação com Israel deu à Índia uma alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da região aprenderam a levar em consideração os interesses indianos
por Isabelle Saint-Mézard no Le Monde


Índia e Israel nasceram com um ano de intervalo, a primeira em 1947 e o segundo em 1948, sobre os escombros do Império Britânico, ao fim de um violento processo de divisão. Apesar de ambos experimentarem, desde o início, conflitos internos complexos, marcados por recorrentes enfrentamentos armados, isso não foi suficiente para criar afinidades entre os dois países. Muito pelo contrário.
A partir dos anos 1920, os chefes do movimento nacionalista indiano uniram-se aos árabes da Palestina contra o imperialismo britânico, opondo-se à vontade sionista de criar um Estado judeu. A Índia votou contra o plano de partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, e só reconheceu Israel em 1950. Até os anos 1980, ela continuou compondo um bloco com os países árabes na defesa do direito dos palestinos a um Estado soberano.
Essa postura, claro, era cheia de segundas intenções. A Índia preocupava-se com um possível alinhamento do mundo muçulmano às reivindicações paquistanesas sobre a Caxemira. Havia também o imperativo da segurança energética: Nova Délhi dependia dos países do Oriente Médio para seu abastecimento de petróleo. Além disso, para atenuar o grave desequilíbrio de sua balança de pagamentos no fim dos anos 1980 e na virada da década de 19901, contava com o dinheiro enviado por seus numerosos cidadãos que trabalhavam nos países do Golfo.
No entanto, com o passar das décadas, o fosso entre Índia e Israel reduziu-se. Desde os anos 1960, os dois países estabeleceram contatos secretos no campo militar e de informação. Israel mostrou-se disposto a ajudar o exército indiano em seus conflitos com a China (em 1962) e depois com o Paquistão (em 1965 e 1971). Em 1978, o então ministro de Defesa do país, Moshe Dayan, chegou a fazer uma visita secreta ao governo indiano para evocar uma eventual cooperação. Finalmente, em 1992, Nova Délhi estabeleceu laços diplomáticos formais com Tel Aviv. Essa decisão foi facilitada por um contexto internacional marcado pelo fim da Guerra Fria e pela conferência de Madrid, em outubro de 1991, sobre o Oriente Médio, que deixava entrever perspectivas de paz. Mas decorria também de uma decepção da Índia diante dos ínfimos resultados de sua política externa: não apenas Nova Délhi não neutralizou a influência do Paquistão junto aos países árabes, mas viu inúmeras vezes a Organização da Conferência Islâmica (OCI) adotar resoluções que condenavam suas posições sobre a Caxemira.
Embora tenha sido o Partido do Congresso, de centro-esquerda, que primeiro estabeleceu relações diplomáticas com Israel, foram os extremistas hindus do Bharatiya Janata Party (BJP) que, no poder entre 1998 e 2004, levaram ao máximo a parceria e deram um novo significado a ela. Desconfiado e até mesmo hostil em relação ao mundo muçulmano, o BJP não teve pudores em declarar abertamente sua simpatia por Tel Aviv. O contexto do pós 11 de setembro reforçou ainda mais esse novo laço, pois o governo de coalizão do BJP começou a promover a ideia de um “front das democracias liberais” face à ameaça do terrorismo islâmico.
 
Antiterrorismo
Essa visão política desembocou no sonho de um triângulo estratégico entre Israel, Índia e Estados Unidos2, ideia enunciada pela primeira vez no dia 8 de maio de 2003 por Brajesh Mishra, então conselheiro nacional de segurança indiano, no jantar de gala anual do American Jewish Committee (Comitê Judaico Americano): “Nosso tema principal aqui é lembrar coletivamente o horror do terrorismo e celebrar a aliança das sociedades livres engajadas no combate contra essa calamidade. Estados Unidos, Índia e Israel foram os principais alvos do terrorismo. Eles devem enfrentar em conjunto essa mesma monstruosa aparição que é o terrorismo dos tempos modernos3.” Em seguida, ocorreram discussões entre representantes dos três governos, sobretudo a respeito das questões de defesa e antiterrorismo.
Em 2004, o retorno do Partido do Congresso à frente de um governo de coalizão atenuou essa dimensão ideológica. Mas, no fundo, a relação israelo-indiana não foi substancialmente afetada. Pelo contrário, os laços diversificaram-se e nasceram colaborações nos setores da agricultura, turismo, ciências e tecnologias. Embora continuem largamente tributárias da indústria do diamante (quase 50% do volume total das importações e exportações entre os dois países em 2008)4, as trocas comerciais passaram de US$ 200 milhões em 1992 para US$ 4 bilhões em 2008. Mas a defesa permanece o centro da cooperação.
A sobrevivência da indústria armamentícia israelense depende de suas exportações. Até o fim dos anos 1990, elas eram realizadas majoritariamente em direção à China. Mas o veto dos Estados Unidos à transferência de tecnologias sensíveis a Pequim forçou Tel Aviv a voltar-se para outros mercados, entre os quais a Índia. Essa reorientação mostrou-se lucrativa, pois se deu num momento em que o crescimento econômico finalmente permitia que Nova Délhi financiasse suas necessidades (consideráveis) em matéria de defesa. A Índia, por sua vez, procurava novos fornecedores, pois os russos só conseguiam suprir parcialmente o vazio deixado pelo desaparecimento da União Soviética. Por fim, os Estados Unidos também aproximaram-se da Índia, facilitando as transferências de tecnologia. Os radares israelenses Phalcon, desenvolvidos pela indústria de defesa de Israel para a força aérea indiana5, são um bom exemplo disso. Depois de ter proibido a venda à China em 2000, Washington autorizou que ela fosse realizada para a Índia. Nova Délhi tirou dessa experiência uma conclusão clara: a aproximação com Tel Aviv permitiria-lhe o acesso às tecnologias de ponta que os Estados Unidos recusavam-se tanto a exportar.
Assim, em uma década, Tel Aviv conseguiu impor-se entre os principais fornecedores de armamento à Índia, que se tornou seu primeiro mercado de exportação. O volume dos contratos assinados ao longo dos dez últimos anos é estimado em algo próximo a US$ 10 bilhões6. Flexibilidade e reatividade foram os grandes trunfos de Israel. Flexibilidade porque o país teve de se adaptar às particularidades das forças armadas indianas, cujos equipamentos são, em sua maioria, de origem russo-soviética – daí os polpudos contratos para a modernização de tanques, porta-aviões, helicópteros e aviões de combate russo – todos equipados com material eletrônico israelense. Reatividade, com o abastecimento de emergência do exército indiano em munição, durante o enfrentamento com o Paquistão na Caxemira, em 1999, a chamada “crise de Kargil7”.
 
Cooperação
A cooperação industrial concentrou-se em dois setores de ponta: de um lado, radares de vigilância e drones; de outro, sistemas de mísseis. No que concerne aos primeiros, um contrato no valor de US$ 1,1 bilhão foi fechado em 2004 para a venda de três Phalcon. Já em relação aos mísseis Barak, a cooperação teve início em 2001, com um contrato de US$ 270 milhões para a venda de um sistema de defesa antinavio. Os negócios deram um passo decisivo em janeiro de 2006, quando os dois países decidiram codesenvolver uma nova geração do míssil. Um ano depois, eles anunciaram um projeto de acordo no valor de US$ 2,5 bilhões para o codesenvolvimento de um sistema de combate antiaéreo baseado no Barak, mas dessa vez destinado à força aérea e ao exército em terra.
As imagens de satélite são outro ponto de troca entre as nações. Em janeiro de 2008, a Índia lançou, por conta de Israel, um satélite de espionagem de última geração, capaz de fornecer informações sobre as instalações estratégicas iranianas. E, por sua própria conta, em abril de 2009 lançou outro, adquirido emergencialmente após os atentados de Mumbai, que, em novembro de 2008, fizeram 170 mortos e revelaram graves lacunas em matéria de vigilância do território. O país também comprou radares israelenses, por um valor de US$ 600 milhões, com o objetivo de reforçar seu dispositivo de alerta ao longo da costa ocidental.
Não há dúvida de que Israel está em posição privilegiada para acompanhar a Índia em seu esforço de aperfeiçoamento do dispositivo de segurança do território e, de maneira mais geral, para aprofundar uma cooperação já estreita em matéria de contraterrorismo. Os israelenses ajudaram na construção de uma barreira ao longo da linha de controle com o Paquistão, forneceram diversos sistemas de vigilância para impedir a infiltração de militantes islâmicos. Mas, acima de tudo, os israelenses estão entre os raríssimos intervenientes externos a fazerem-se presentes no teatro de operações da Caxemira.
 
Hoje Nova Délhi, assim como o conjunto da comunidade internacional, apoia a criação de um Estado palestino independente. Mas, ao longo das sucessivas crises entre Israel e seus vizinhos, sua diplomacia aprendeu a navegar de acordo com a maré. A abordagem indiana consiste em dissociar a relação bilateral dos vaivéns da situação no Oriente Médio – em outras palavras, proteger prioritariamente a cooperação com Israel, evitando voltar as costas aos países árabes. Daí as declarações oficiais cheias de nuances, condenando primeiro uma, depois outra, ponderadamente, tanto a cegueira dos ataques terroristas contra Israel quanto a brutalidade das “represálias”. A diplomacia indiana, aliás, tomou gosto por adotar uma posicão dúbia já que, embora se aproximando de Israel, o país também estabeleceu laços com o Irã no início dos anos 2000. Assim, antes da visita de Ariel Sharon, em setembro de 2003, Nova Délhi recebera, em janeiro do mesmo ano, o presidente Mohammed Khatami. De maneira um pouco paradoxal, a aproximação com Israel deu à Índia uma nova alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da região aprenderam a considerar melhor os interesses indianos.
As tensões da Índia no Oriente Médio trazem muitas lições. Em um nível diplomático, elas são resultado de uma polarização previsível entre os defensores da postura tradicional, pró-árabe, e os partidários da parceria com Israel. Mas, de modo mais sutil, revelam também uma tensão interior, entre a necessidade de lidar com uma minoria de 160 milhões de indivíduos, que faz da Índia o terceiro Estado muçulmano no mundo, e uma fascinação inconfessa pelos métodos expeditivos de Israel. Métodos que alguns em Délhi estariam bem tentados a experimentar contra as esferas de influência terroristas baseadas no Paquistão.
Isabelle Saint-Mézard
é especialista em questões estratégicas na Ásia Meridional e professora do Instituto de Estudos Políticos de Paris e do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco), coautora de Dictionnaire de l’Inde Contemporaine, Armand Collin, outubro 2010.

1 Em junho de 1991, a crise da balança de pagamento indiana, devida principalmente ao fim das transferências de dinheiro dos trabalhadores emigrados para os países do Golfo, levou os dirigentes da Índia a lançar, em comum acordo com o FMI, um grande programa de ajuste estrutural da economia.
2 Louise Tillin, “US-Israel-India: Strategic Axis?”, BBC News, Londres, 9 de setembro de 2003.
3 Discurso disponível no site do AJC: www.ajc.org.
4 Ver a seção Comércio Bilateral do site da embaixada da Índia em Tel-Aviv: www.indembassy.co.il
5 O primeiro radar foi transferido na primavera de 2009 para ser adaptado a aviões Iliuchin renovados pela Rússia. Nova Délhi poderia, dentro em pouco, encomendar três novos AWACS por uma soma mirabolante.
6 Siddharth Srivastava, “Israel rushes to India’s defense”, AsiaTime Online, 2 de abril de 2009.
7 Ler Ignacio Ramonet, “La menace Pakistan”, Le Monde Diplomatique, novembro de 1999.

Rede de Twiteiros independentes e socialistas da Venezuela

Danio Torrealba, explica como o grupo de "Tuiteros Socialistas" nasce com a idéa de unificar a voz dos twiteros no que se chama a "Guerra de quarta geração", para dar uma resposta coordenada frente aos diferentes ataques que sofre a Revolução Bolivariana com o desconhecimento dos seus feitos.O vídeo é da teleSUR...


   
   
   
   
   
   
   
   
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"Fracasso da Convenção do Clima prejudicará humanidade"


Por Alfredo Acedo
Da Minga Informativa de Movimentos Sociais

A 16ª Conferência da Convenção Marco da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16) já é vista como um fracasso, que afetará o futuro da humanidade porque se está fortalecendo a idéia das transnacionais lucrarem com a crise climática, disse Alberto Gómez, da coordenação internacional da Via Campesina.
Nos últimos documentos de discussão, foram eliminadas as propostas do Acordo dos Povos assinado em Cochabamba (Bolívia) e a balança se inclinou em favor do mercado de carbono e do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), mecanismo através do qual avança a privatização mundial de matas, selvas e territórios, explicou
“Já podemos dizer que no processo de negociações rumo a Cancún foram impostos os interesses das transnacionais e virá uma forte impulso para um esquema financeiro que obriga os países a entrar em um ajuste climático mercantilista”.
“Nós não concordamos com as falsas soluções, como o mercado de carbono, porque longe de contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa, gerará cedo ou tarde um sistema especulativo que poderia provocar outra crise financeira global”.
Por isso, as mobilizações da Via Campesina pretendem denunciar a irresponsabilidade da maioria dos governos que optaram por favorecer o grande capital em detrimento do interesse de suas nações e da humanidade, disse Gómez.
“As caravanas internacionais que começaram no domingo 28 buscam desmascarar o governo mexicano, mostrando a devastação ambiental e social em todo o território nacional provocada por políticas públicas contrárias ao interesse da maioria do povo”.
“Nas atividades que desenvolveremos no acampamento que a Via Campesina instalará em Cancún a partir de 2 de dezembro, vamos denunciar estes atos e convocaremos todos a se manifestarem para obrigar que a Conferência adote medidas efetivas contra a crise do clima, como as defendidas pelo Acordo dos Povos”.
“Nós afirmamos que as camponesas e os camponeses são necessários e úteis para a humanidade. Nosso papel é produzir alimentos e o fazemos de maneira sustentável, esfriando o planeta. E se contássemos com um modelo de produção, distribuição e consumo diferente poderíamos acabar com a fome e contribuir com o combate ao aquecimento da atmosfera”.
“A soberania alimentar —concluiu Gómez— é a alternativa da Via Campesina frente ao capitalismo que agora quer privatizar até o ar que respiramos”.

Wikileaks: O maior vazamento da história, o embaraço de Hillary com o Cablegate e a cumplicidade da imprensa dos EUA



Idelber Avelar em seu blog

alg_julian_assange.jpgLiberais e conservadores brasileiros, chegou a hora. Depois do 11 de setembro diplomático desencadeado neste fim de semana pelo mais impactante vazamento da história moderna-- 250.000 comunicações, a maioria secretas, entre o Departamento de Estado e embaixadas estadunidenses ao redor do mundo--, e do completo sufocamento do tema na TV dos EUA, não resta fiapo de credibilidade à ideia da imprensa 'mais livre do mundo', com que tantos brasileiros à direita do espectro político se referem aos conglomerados de mídia norte-americanos. Para quem se lembra da extrema docilidade com que as mídias eletrônica e escrita dos EUA replicaram a patacoada das armas de destruição em massa do Iraque em 2003, esta foi a cereja do bolo. Não importa o partido que esteja no poder (Democratas ou Republicanos), quando se trata dos interesses imperiais estadunidenses, não sobrevive na mídia gringa um farrapo de compromisso com a verdade ou com a pluralidade de pontos de vista. Ponto final. Podemos passar para o próximo assunto? Grato. Continuemos.
Como já tratamos amplamente aqui, os poderosos usam dois pesos e duas medidas nos casos de “vazamento”, “grampo” ou qualquer obtenção de informação que ocorre naquela zona cinza entre o legal e o ilegal. Conforme a conveniência, enfocam-se na forma ou no conteúdo. Assim aconteceu com os dossiês dos aloprados petistas sobre a corrupção realmente existente no Ministério da Saúde de José Serra, do suposto, miraculoso e etéreo grampo sobre Gilmar Mendes e Demóstenes, e da quebra de sigilo da filha de Serra (cuja forma só importava até o momento em que apurou-se que foi tucano mesmo). Inacreditavelmente, aqui nos EUA, tanto o governo como o parlamento só reagiram à montanha de revelações do Wikileaks com ameaças pesadas contra Julian Assange e equipe. Sarah Palin, sem perder a chance de usar o episódio eleitoralmente contra Obama, sugeriu que os EUA "cacem Assange como a Bin Laden". Sobre o conteúdo dos documentos, nem um pio. Para isso, contaram com a sempre dócil imprensa norte-americana que, no pronunciamento de hoje de Hillary Clinton, não fez sequer uma única pergunta que tratasse do conteúdo das revelações.
E revelaram-se coisas para todos os gostos. Os EUA disseram à Eslovênia que lhe conseguiriam uma reunião com Obama caso os eslovenos aceitassem receber prisioneiros de Guantánamo, o que demonstra o tamanho da batata quente em que se transformou o campo de concentração paralegal [pdf] instalado por George W. Bush. Na Alemanha, os EUA ficaram em saia justa. Os vazamentos mostram tentativa de espionagem gringa sobre o Democratas Livres (liberais de centro-direita, uma espécie de DEM desagripinizado) e comentários feitos nos telegramas da embaixada se referem ao Chanceler alemão como “vaidoso e incompetente”. Hillary quis bisbilhotar o histórico de saúde mental da Presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. Revelou-se que Israel fez lobby incessante, permanente por um (na certa irresponsável e catastrófico) ataque americano ao Irã, embora nem só de lobby sionista viva o interesse bélico anti-persa: também o rei saudita, confirmam os documentos do Wikileaks, fez pressão pelo ataque. Aliás, não são só os EUA que ficam mal na fita com esses cabos. Os governos árabes, com sua tradicional combinação de subserviência ante Israel e obscurantismo e truculência ante suas próprias populações, também receberam algumas boas lambadas com os vazamentos.
Até agora, as duas revelações sobre as quais valeria a pena um exame mais detido, pelo menos do ponto de vista brasileiro, são duas bombas: a primeira, a de que o estado espião e desrespeitoso da lei internacional, que se consolidou com Bush, foi mantido com o Departamento de Estado de Hillary sob Obama. A segunda é de que até os EUA sabiam que o golpe em Honduras, com o qual pelo menos setores de sua diplomacia colaboraram, era uma monstruosa ilegalidade.
Confirmando a primeira bomba, há um espantoso telegrama em que se detalham planos para espionar o Secretário-Geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que de forma alguma pode ser descrito como alguém hostil aos interesses americanos. Os planos de espionagem incluíam até mesmo o cartão de crédito de Ki-Moon. A ordem veio diretamente do Departamento de Estado de Hillary que, obviamente, em seu pronunciamento de hoje, nada disse sobre o assunto. Nada lhe foi perguntado tampouco.
Sobre a segunda bomba, Cynara Menezes já disse tudo. Durante meses, bizantinos debates sobre a constituição hondurenha serviram para mascarar o fato cabal de que o golpe que depôs Zelaya não tinha um farrapo de apoio na lei internacional ou mesmo na bizarra legalidade estabelecida pela constituição hondurenha. Ancorados principalmente numa retórica da Guerra Fria herdada da mesma diplomacia estadunidense agora desmascarada, os direitecas brasileiros recorreram aos sofismas de sempre para justificar o golpe. Agora, ficou claro: alô, Revista Veja, nem os gringos acreditavam na mentirada.
Sobre o Brasil, até agora, há pouco, a não ser o já conhecido dado de que os EUA tentaram nos impor uma lei antiterrorismo, da qual o governo Lula-Dilma (o cabo faz explícita referência à atuação dela) conseguiu se safar. De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo.
As bombas vão se sucedendo com rapidez só comparável à desfaçatez com que a mídia dos EUA as ignora. O Wikileaks repassou seus vazamentos a cinco veículos de mídia: Le Monde, Der Spiegel, El País, Guardian e New York Times. Destes, a cobertura mais tímida e manipuladora, sem dúvida, é a deste último, totalmente focado na punição a Assange e na “legalidade” de seus atos, com pouca coisa sobre o conteúdo embaraçoso para os EUA. Uma manchete no lugar de destaque do site, na noite desta segunda-feira, dizia: “"Vazamentos mostram o mundo se perguntando sobre a Coreia do Norte". Haja óleo de peroba.

PS: Como grande destaque desta segunda-feira, o Presidente equatoriano Rafael Correa ofereceu guarida a Julian Assange, “sem perguntar nada”, para que ele “apresente suas informações não só na internet mas em outros fóruns públicos”. Realmente a Sociedade Interamericana de Imprensa deve ter razão: a “liberdade de imprensa” está ameaçada nos regimes “populistas” latino-americanos. É nos EUA que ela vai bem.

Cuba, estrela cintilante

  Gilvander Moreira   no Correio da Cidadania
 
Tive a alegria e a responsabilidade de visitar Cuba durante nove dias, em dezembro de 2006. Ao voltar da Ilha, escrevi o texto "Cuba: os desafios de um grande povo ‘ilhado’" (cf. www.gilvander.org.br/C001.htm). Hoje, dia 15 de novembro de 2010, estou divulgando um novo artigo sobre Cuba, com informações que são fruto de estudo, do que vi e ouvi em Cuba e também do que ouvi de estudantes brasileiros, membros da Via Campesina, que estão estudando em território cubano.
 
Ouço com interesse pessoas que vão a Cuba e procuro me informar o que se passa com o povo cubano, ciente de que não podemos aceitar ingenuamente a criminalização do governo cubano e do socialismo em Cuba feita pela mídia: TV Globo e Cia. Mas a história absolverá os criminalizados injustamente. Fidel Castro será um deles. A mídia, geralmente, desfila um rosário de preconceitos acerca do regime político cubano e da história da Revolução cubana.
 
Falar de Cuba, do povo cubano, do socialismo e dos grandes líderes revolucionários, tais como Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos, exige muita responsabilidade de quem se arrisca, porque, para quem conhece Cuba, convive um pouco com o povo cubano e estuda a história da revolução cubana, é impossível não aprender e não reconhecer o histórico de indignação, a força e a luta por parte dos revolucionários e o grande sentimento de amor por Cuba e por seu povo por parte desses. E se torna impossível não respeitar e admirar o povo cubano e sua história.
 
Cuba é uma ilha de 110.000 km², 20% do estado de Minas Gerais, estreita e comprida, assemelhando-se a um jacaré. Com 11 milhões de habitantes é uma ilha encantada por sua beleza natural e encantadora pelo seu povo. Cristóvão Colombo, ao chegar a Cuba, em 1492, já afirmara: "Esta é a terra mais bela que olhos humanos viram".
 
Desde o início Cuba teve um histórico de luta do povo contra a opressão do imperialismo desde muitos tempos, com lutadores como o grande revolucionário José Marti na luta pela Independência. Cuba foi inicialmente uma colônia espanhola. Em 1898 foi invadida militarmente pelos Estados Unidos. A partir de então, cresceram os negócios dos norte-americanos na ilha.
 
Em dezembro de 1898 Cuba converte-se em uma nova colônia dos Estados Unidos através de um "tratado de paz" absurdo realizado pela Espanha e pelos Estados Unidos onde excluíam os cubanos. Em 1902 surge a "República" e junto dela um documento "Ementa plate" que dava total direito aos Estados Unidos de intervirem em Cuba politicamente e militarmente, de todas as formas.
 
O destino de Cuba foi profundamente marcado pela influência norte-americana tanto no plano político, mediante o apoio a partidos ou grupos, quanto no econômico. A beleza caribenha e a localização estratégica atraíram também para o local o lazer e a orgia dos ianques. Também uma chaga que gera um grande incômodo: uma base militar dos Estados Unidos em território cubano, a de Guantánamo. Essa base militar resultou das negociações para a retirada das tropas americanas na independência.
 
Anos e anos se passam e Cuba fica a mercê do poder dos EUA, mas o povo sempre se organizou e lutou contra o seu poder econômico. Em 1933 aconteceu o Golpe de Estado de Fulgêncio Batista, com seu governo ditador repressor do povo Cubano.
 
O revolucionário Fidel castro, diferente do que a mídia burguesa alardeia, surge em um momento histórico carregado de luta e de sonhos por uma pátria livre. E, principalmente, não sozinho, e sim junto com o povo que lutava com mínimas condições objetivas e subjetivas, o que era possível na época, e de forma popular. O processo revolucionário foi uma construção coletiva.
 
Só existiu o triunfo da Revolução porque o povo estava junto, participando. Fidel, com indignação, coerência e amor por seu país, junto com o povo cubano, nunca desistiu de Cuba e continuou o projeto de libertação iniciado por José Marti. Um grupo de revolucionários realizou no dia 26 de julho de 1953 um assalto ao Quartel Moncada, situado na Província de Santiago de Cuba - na época era a segunda maior força militar de Cuba - como estratégia para conseguir armas e iniciar a Revolução. Houve um erro tático e foram derrotados pelos soldados do ditador Fulgêncio Batista.
 
Neste contexto, muitos revolucionários foram assassinados, presos e torturados. Fidel Castro foi torturado e, quando estava preso, pronunciou a seguinte frase: "Condenar-me não importa. A história me absolverá". Fidel, ao ver companheiros e companheiras sendo assassinados e torturados injustamente, se humanizou ainda mais; a indignação palpitou mais em seu peito e o desejo pela Revolução cubana se fortaleceu muito mais como seu projeto de vida. No momento em que estava preso, Fidel estudou muito, inclusive ‘O Capital’, de Marx. Produziu o documento "A História me absolverá", documento esse que o mesmo usou para se defender em seu julgamento e que mais tarde, com o triunfo, virou plano de governo da Revolução Cubana. Fidel, ao ser solto, foi exilado para o México, mas não desistiu do seu povo. No México, começou a organizar pessoas que tinham a revolução como projeto de vida, e começaram a se preparar para regressarem a Cuba e começarem o processo da revolução.
 
Segundo a História, quando se reuniram para subir a Sierra Maestra, tinham somente quatro armas e disseram: "estamos prontos para iniciarmos a Revolução". Estavam encharcados de coragem, mas com pouca comida. Em um dos combates que durou vinte dias, o exército rebelde comeu somente nove vezes. Esta informação está escrita no livro de Che Guevara "Passagem da Guerra revolucionária". Com pouca estrutura, mas com muita vontade e muita convicção do que buscavam, o grupo de guerrilheiras e guerrilheiros do exército rebelde na Sierra Maestra iniciou um marco da história que culminou no triunfo da Revolução Cubana e na libertação do povo cubano. Fidel Castro é um dos comandantes que lutou junto com seus companheiros e venceu.
 
Em toda a história da Revolução cubana está presente o compromisso, a coerência, o amor e a força dos revolucionários. Não se pode negar essa história e o povo cubano sabe da sua história, respeita e a vive todos os dias. Não podemos aceitar ingenuamente a criminalização do governo cubano e do socialismo por parte da mídia de turistas da sociedade capitalista, que não aceitam a liberdade do povo cubano de viverem o socialismo. O povo cubano ama a Revolução, reconhece os limites materiais hoje existentes em Cuba, mas quer continuar a viver no socialismo. "Capitalismo, jamais!", dizem todos.
 
A Revolução pensa cada detalhe para as pessoas, que vai desde as questões mais complexas de como manter a produção de alimentos no país, como sobreviver com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, até o sagrado direito de tomar um sorvete gostoso por um preço acessível a todos na Sorveteria Popular Copélia, no centro de Havana. Essa Sorveteria Copélia foi um projeto da guerrilheira Haidee Santa Maria, que adorava sorvete. Na Sierra Maestra tinham pouca comida, mas Haidee almejava que com a Revolução todos os cubanos teriam o direito ao prazer de tomar sorvete. Hoje, em todos os municípios de Cuba existe uma sorveteria popular para os cidadãos.
 
A Revolução mudou a vida das pessoas, fez reforma agrária, erradicou o analfabetismo, distribuiu as riquezas etc. Após viver 15 anos no capitalismo antes da revolução, o camponês Sr. Vicente Guillen Granado disse: "Na época do capitalismo em Cuba, eu não era gente; eu era um miserável. Hoje, no socialismo, sou gente; tenho dignidade e um governo que zela por mim e por meu povo. Nunca mais quero ter a experiência de viver no capitalismo". Os cubanos sabem a diferença entre viver em uma sociedade socialista e viver numa sociedade capitalista. Como o próprio Sr. Vicente disse: "O socialismo em Cuba nunca vai acabar, porque o povo cubano não quer, porque aqui quem tem o poder é o povo e o que prevalece é a vontade do proletariado".
 
Então, diferentemente do que a mídia trombeteia, os cubanos são felizes com o socialismo e sabem da importância da Revolução. Sabem que o poder está nas mãos do povo. E o socialismo em Cuba ainda existe e está firme não porque uma pessoa governa, e sim porque o povo governa.
 
Antes de emitir qualquer opinião sobre Cuba é importante entender a história do povo cubano e da Revolução, e acredito ser relevante ter em mente alguns aspectos fundamentais: o primeiro, a localização estratégica da Ilha, que fica a apenas 150 milhas do maior império da atualidade. Esta é a distância que separa Cuba do estado da Flórida nos Estados Unidos. O segundo aspecto é o fato de o país ter sofrido, e continuar sofrendo, ao longo de sua história, permanentes tentativas de invasão, exatamente em vista de sua posição estratégica na entrada do golfo do México. E terceiro, o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba é injusto e covarde, pois dificulta a vida de todos os cubanos. Mas o povo cubano sabe que não é o bloqueio que vai destruir o socialismo, e já mostraram isso para o mundo e para o imperialismo. Pelo contrário, viver com o bloqueio cada dia mais unifica as pessoas, fortalece a solidariedade entre o povo. Os cubanos sabem que mesmo com as dificuldades que o bloqueio proporciona, não existe nenhum cubano analfabeto, as pessoas têm acesso à comida, à educação, à medicina, à cultura, ao esporte etc.
 
Na chegada a Havana, capital de Cuba, já é possível sentir a diferença de se estar em um Estado socialista. Do aeroporto José Marti ao centro da capital há um percurso de aproximadamente 30 quilômetros. Neste trajeto somos presenteados com uma delicada e bem cuidada paisagem, onde não há sequer uma propaganda comercial. Nas ruas de Havana, ocorre o mesmo, nenhum outdoor que estimule o consumo. Só podem ser vistas, e poucas, as propagandas do regime socialista. Lembro-me de algumas: "Neste momento mais de 2 milhões de crianças estão passando fome nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana"; "Pela vida. Não ao bloqueio econômico dos Estados Unidos"; "Che Guevara, teu exemplo é uma luz na nossa marcha socialista"; "Em Cuba, 100% das crianças estão na escola". É obrigatório estudar. Se uma criança é pega na rua em horário de aula, a polícia leva a criança em casa e os pais têm que ir à delegacia dar satisfação. A Educação não é responsabilidade somente dos pais, mas também do Estado. Por lei todos têm que estudar. Não se vêem crianças nas ruas sozinhas, sem os pais, pedindo esmola, vendendo balas, se prostituindo.
 
Em Cuba, na Escola Latino-Americana de Ciências Médicas - ELAM –, criada em 1999, milhares de jovens latino-americanos já se formaram em Medicina. O Estado cubano custeia tudo: além dos professores e da manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros, cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos gastam-se 350 mil dólares para formar um médico, em Cuba 120 mil dólares são suficientes.
 
Há milhares de estudantes estrangeiros em Cuba, na graduação e na pós-graduação. Só do Brasil são mais de mil jovens, mais de 200 dos quais enviados pelo MST para medicina e outros cursos. Dezenas, já formados.
 
Após a Revolução em 1959, muitos cubanos - latifundiários, banqueiros e empresários - migraram para os EUA por discordar do regime, e são, ainda nos dias atuais, manipulados e financiados pelo governo estadunidense com o intuito de derrubar o regime socialista de Cuba. Hoje, incluindo os descendentes, há mais de um milhão de cubanos que vivem naquele país. A grande maioria colabora efetivamente para a economia cubana enviando mensalmente dólares para os parentes que moram na ilha. Uma minoria, conhecida como a máfia cubana de Miami, que perdeu dinheiro e poder após a Revolução de 1959, conspira o tempo inteiro contra a política socialista. Essa pressão de uma minoria cubana interessa à política imperialista dos Estados Unidos, que usa de tais artifícios para isolar o último país de resistência socialista existente no planeta.
 
Basta ver que quando um estrangeiro chega clandestinamente aos Estados Unidos é imediatamente mandado de volta ao seu país. Os cubanos são a exceção. Para incentivar a saída de Cuba, o governo dos Estados Unidos acolhe como cidadãos os cubanos que chegam ao seu território. Ou seja, os únicos estrangeiros que têm visto de permanência incondicional nos Estados Unidos são os originários de Cuba.
 
O bloqueio dos Estados Unidos a Cuba consiste na proibição do comércio dos produtos cubanos nos Estados Unidos e a venda de qualquer produto norte-americano a Cuba. Além, é claro, da proibição do uso de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. Não existe relação diplomática e comercial entre os dois países. Isso gera enormes dificuldades à economia cubana devido ao custo do transporte, que é acrescido a todos os produtos que vêm de países bem mais distantes, como os países europeus, o Canadá ou China. Cuba tem de pagar sobretaxas para importar produtos norte-americanos de outros países.
 
Deste modo, a única forma de o governo cubano sobreviver ao bloqueio é usar de muita criatividade. Mas ocorre um verdadeiro milagre: Cuba conta irrestritamente com o apoio de um povo educado (mais de 34% dos cubanos têm, no mínimo, um curso universitário) e que conhece muito bem a sua história. O governo cubano é tão fiel ao seu povo e facilita em tudo a vida de todos. Eis um exemplo: muitos produtos vendidos em Cuba e no Brasil têm o mesmo preço em Cuba e no Brasil, porém Cuba compra os mesmos produtos muito mais caros do que o Brasil por causa do Bloqueio. Se empresas que atuam no Brasil compram por um preço muito mais barato, poderiam vender para os consumidores por um preço menor. Logo, o povo brasileiro é mais explorado. Em Cuba, o povo não é explorado. Outro exemplo muito importante é na alimentação. Um camponês vende um ovo de galinha a 2,00 pesos para o Estado e o Estado vende o mesmo ovo nas tendas estatais para as pessoas por 0,20 centavos. O camponês vende 1 litro de leite para o Estado a 2,5 pesos e o Estado vende nas tendas a 0,20 centavos. Isso é incrível. Um país que sofre com o bloqueio consegue garantir qualidade de vida para os camponeses que vivem no campo, valorizando o seu produto, com venda garantida dos alimentos para o Estado, incentivando a agricultura na produção de alimentos e repassando os alimentos a baixo custo para a população. Essa é uma estratégia para superar os malefícios do bloqueio.
 
Dessa forma os camponeses se motivam a continuar no campo e produzirem alimentos. E o mais importante: alimentos saudáveis sem uso de agrotóxicos. Cuba vem trabalhando e mostrando na prática que é possível produzir alimentos agroecológicos de forma sustentável. Diferentemente do Brasil, que a cada dia fortalece o agronegócio, a concentração da terra, a intensificação dos monocultivos transforma o país num grande lixão das transnacionais, com uso abusivo de agrotóxicos, poluindo os alimentos da população, o solo e as águas. Não é por acaso que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo: 713 milhões de litros por ano, 3,5 quilos para cada pessoa, em média.
 
Na conjuntura atual, Cuba tem como estratégia principal garantir a soberania alimentar, dependendo o mínimo de alimentos importados. Cuba hoje exporta café, açúcar, tabaco, cacau e outros produtos. E importa em grande quantidade, por exemplo, arroz e leite em pó. Em cima da frase dita pelo comandante Fidel de que "o dever patriótico número um do campesinato cubano é produzir para o povo", está sendo feita uma campanha nacional, traçando linhas políticas de incentivo à agricultura para a produção de alimentos. Com a elaboração da lei 259 - "Entrega de terras em usufruto", de 11 de julho de 2008, segundo a qual o Estado repassa terras que estão ociosas para as pessoas que querem trabalhar na agricultura com o compromisso de produzirem alimentos. Desde o surgimento desta lei, mais de 100 mil famílias já voltaram ao campo para a produção de alimentos. O que mostra que a produção só vem aumentando. E o governo supervaloriza o preço dos alimentos. O que garante a permanência dos agricultores no campo.
 
O Estado, através da ANAP (Associação Nacional de Agricultores Pequenos), presente em todas as Províncias de Cuba, garante a compra de 80% da produção dos camponeses, ficando 20% para consumo da família produtora. E o camponês que quiser vende seus 20% nas feiras, na beira das estradas ou em casa. Para se ter idéia, as pessoas que mais têm poder de ingresso de dinheiro em Cuba são os camponeses. Onde já se viu isso em um país capitalista! É lindo ver a alegria e a satisfação dos camponeses na lida com a terra. Eles têm convicção da sua importância para o país. Orgulham-se de ser camponeses. A meta do governo cubano é não precisar importar nenhum alimento. Há planejamento da produção de alimentos. A demanda é distribuída por região. São informados aos camponeses os alimentos de que o Estado precisa. Os agricultores plantam levando em consideração a demanda da região e do país. Por exemplo, se em uma determinada região há potencial para a produção de milho, arroz e feijão, com certeza essa região potencializa suas forças na produção de tais alimentos, e assim vai se fazendo o planejamento e garantindo uma agricultura diversificada, cumprindo as metas. Os camponeses têm a tarefa de produzir. O transporte e a comercialização são por conta do Estado. Os caminhões do Estado buscam a produção nas propriedades. Os camponeses têm assistência técnica garantida pelo Estado. Cuba, somente em 2009, formou mais de cinco mil agrônomos. Todos os meios de produção são garantidos, como ferramentas, sementes etc.
 
O presidente Raul Castro convocou toda a juventude para vir ao campo contribuir na produção de alimentos. É uma realidade bonita de se ver. Jovens que até trancam suas matrículas na Universidade para prestar ajuda ao Estado, ao seu país; professores universitários que prestam trabalho solidário no campo na produção de alimentos. Em Cuba existe uma solidariedade que contagia as pessoas, o que é um processo de humanização muito grande. Todos os cubanos, desde as crianças até os idosos, sabem do problema que é o bloqueio dos EUA, existe uma consciência fantástica por parte das pessoas. E todos contribuem como podem.
 
Em Havana, vê-se um grande número de pessoas pegando carona e muitos motoristas oferecendo carona, especialmente nos horários de pico. Cerca de 80% dos automóveis são estatais e são orientados a dar carona. Os carros particulares, que são poucos, também cultivam a prática de dar carona. É muito difícil ver uma pessoa sozinha em um automóvel. Normalmente andam duas, três ou quatro pessoas no mesmo automóvel, inclusive nos táxis. Dar e receber carona é um valor socialista e faz parte da cultura, é o normal. Muita gente vai trabalhar e volta sem ter que pagar pelo transporte. Não existe o menor receio de violência como seria de se esperar no Brasil. Além de ser também uma forma bastante inteligente de economizar energia. O petróleo é muito oneroso para o governo cubano. Assim, o povo cubano vai driblando o bloqueio norte-americano.
 
Faz bem considerar o que nos diz Haroldo Brasil, no artigo "Flashes de Cuba" (Jornal Estado de Minas, 31/05/2010):
 
"Quem buscar conhecer por dentro como vive o povo cubano, sua geografia e sua cultura, ao ir a Cuba, deve se hospedar em casas de família. Lá existe, com a autorização do governo, uma rede de casas de família, divididas em pequenos apartamentos, que podem ser alugados a visitantes, preservando uma área para uso próprio. Há sempre a opção de café da manhã e jantar, que são cobrados à parte. É possível assim um melhor conhecimento da intimidade das famílias, através do papo agradável e aberto que foi possível manter com os moradores locais. A exceção acontece em Varadero, praia no norte da ilha, que só recebe turistas, em hotéis, com uso de mão-de-obra cubana.
 
Quem vai a Cuba vê com os próprios olhos um sistema educacional de ótima qualidade em todos os níveis, saúde pública para todos os cidadãos, nível de renda equalizado, segurança pública total, sem policiamento ostensivo, com criminalidade próxima de zero e sem o clássico problema das drogas de nossas sociedades capitalistas. Além disso, o cuidado com o meio ambiente transparece em todos os locais que visitamos. No que diz respeito à educação das crianças e adolescentes, há escolas em quase todos os quarteirões das cidades em tempo integral, com espaço para brincadeiras e esportes. A constituição de Cuba é enfática: ‘O único privilégio que admitimos nesse país é com relação ao tratamento que daremos às nossas crianças’.
 
O bloqueio norte-americano causa muitos danos ao povo cubano. Carência de matérias primas essenciais como papel, tintas, peças sobressalentes para veículos etc. Quem volta de Cuba para o Brasil, no avião, que faz conexão no Panamá, sente um grande contraste quando se observam os brasileiros vindos de Aruba, Cancun, Miami, Nova Iorque, carregando imensas malas com quinquilharias inúteis e despejando um papo furado sobre suas inúteis aventuras consumistas".
 
Conhecer Cuba e poder conviver com o povo cubano é um verdadeiro processo de humanização, é entender que precisamos de muito pouco para ser felizes. E que é possível viver em uma sociedade onde a competitividade e a acumulação de bens não são o mais importante; a vida das pessoas está acima de qualquer coisa. Em Cuba o ser das pessoas é mais importante do que o ter.
 
Os cubanos sabem o que é o socialismo, o quanto foi difícil conquistá-lo e que é este regime que querem que permaneça em Cuba. Também sabem o quanto o governo faz por eles e com eles. Cuba incomoda os capitalistas, pois, mesmo pequena como Davi, nos dá exemplo de que, ainda que sofrendo todo tipo de pressão, segue firme vencendo todos os obstáculos. Os imperialistas já sabem que não conseguirão destruir o socialismo de Cuba, porque Cuba, junto com Fidel, com seu povo, não é governada por uma ditadura, mas sim pelo poder popular. Se existe alguma ditadura em Cuba é a ditadura do proletariado, dos trabalhadores, da classe trabalhadora, do povo. Assim, Cuba, como uma estrela cintilante, resiste sendo exemplo de que uma sociedade livre é possível. Ser livre é difícil, mas possível, nos ensina o povo cubano.
 
Gilvander Moreira é frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor de Teologia Bíblica; assessor da CPT – Comissão Pastoral da Terra, de CEBs – Comunidades Eclesiais de Base , do SAB – Serviço de Animação Bíblica e da Via Campesina; E-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Página na Web e Twitter: http://www.gilvander.org.br/www.twitter.com/gilvanderluis