O Diário
- Primeiro foram os protestos em Argel contra a subida dos preços.
Depois ocorreram as grandes manifestações da Tunísia, reprimidas com
ferocidade pela ditadura de Zin Ben Ali.
O protesto evoluiu para
rebelião nacional. Em Washington acreditou-se que a fuga de Ben Ali e a
formação imediata de um governo transitório presidido pelo
primeiro-ministro Ghanuchi «normalizaria» a situação. Mas isso não
aconteceu. O povo manteve-se nas ruas exigindo o afastamento de todos os
ex-ministros do ditador incluindo o primeiro-ministro e a punição dos
elementos da engrenagem corrupta do Poder.
Na Casa Branca e no
Pentágono a inquietação cedeu lugar a uma atmosfera de alarme quando os
acontecimentos da Tunísia começaram a abalar o mundo árabe, do Atlântico
ao Tigre e ao Golfo Pérsico.No Cairo e depois em Suez e noutras cidades os egípcios decidiram também desafiar o poder despótico de um regime corrupto e vassalo. Hosni Mubarak respondeu com a repressão. Mas o povo não se intimidou e, em manifestações gigantescas, exigiu a renúncia do presidente e da sua camarilha. Isso no momento em que Mubarak, na presidência há três décadas, se preparava para designar como seu sucessor o filho Gamal. Quase simultaneamente, em efeito de contágio dominó, os iemenitas tomaram as ruas em Sana, a capital, num movimento de protesto torrencial. Em Marrocos, o rei, dócil instrumento dos EUA e da França, assustado, decide impedir a subida do preço dos alimentos e de bens essenciais, temendo pelo futuro da monarquia feudal. Na Arábia Saudita o clima é de tensão. O mesmo ocorre no Sultanato de Oman e na Jordânia, um estado artificial criado pelos ingleses após a I Guerra Mundial. Registe-se que todos esses países eram (ou são) oprimidos por regimes ditatoriais, tutelados por Washington, cujos governantes actuam como instrumentos da sua estratégia para o Médio Oriente e a África muçulmana. OS EUA temem sobretudo o rumo imprevisível da situação criada no Egipto, um gigante com quase 80 milhões de habitantes, o país tampão entre a África e a Ásia que controla o Canal de Suez e tem uma fronteira explosiva com a Palestina (Gaza) e Israel. Mubarak tem sido ao longo dos 30 anos do seu consulado o mais submisso dos aliados de Washington. Com excepção de Israel, é o maior recebedor da «ajuda» financeira norte-americana, 1.300 milhões de dólares por ano, grande parte investida na compra de armamento. O Egipto foi o primeiro país árabe a estabelecer relações diplomáticas com o Estado sionista de Israel e sem a sua cumplicidade a estratégia de dominação imperialista na Região seria inviável. É compreensível portanto o temor de Washington (e de Tel Aviv) nascido da rebelião em marcha dos povos árabes contra os regimes ditatoriais que suportam há décadas. Como era de esperar, os analistas de serviço nos media portugueses acumulam disparates nos comentários aos acontecimentos da Tunísia e do Egipto. Fazer previsões sobre o desfecho das rebeliões populares árabes que alarmam a Casa Branca e as burguesias europeias, suas aliadas seria uma imprudência. Mas pode-se afirmar que a saída torrencial das massas às ruas em países aliás muito diferentes, exigindo o fim de regimes autocráticos e corruptos, configura uma derrota do imperialismo. É significativo que El Baradei (um politico que goza da confiança do Departamento de Estado) tenha voado imediatamente para o Cairo, apresentando-se como alternativa a Mubarak. Cumprir ali a missão de bombeiro no incêndio social egípcio é o seu objectivo. Também na Tunísia, os EUA tudo farão para evitar a radicalização do processo. Seja qual for o desenvolvimento das lutas populares em curso, a atitude de intelectuais que se apressaram a antever na rebelião tunisina o prólogo de um 25 de Abril árabe é romântica. Não devemos esquecer o ensinamento de Lenine segundo o qual não há revolução social profunda vitoriosa, que dure, sem que a sua direcção seja assumida por um partido ou organização revolucionária. E tal partido não é identificável na rebelião árabe, marcada pelo espontaneismo. O tsunami político que agita o mundo árabe deve porém ser saudado com firmeza e entusiasmo pelas forças progressistas em todo o mundo. As massas, assumindo-se como sujeito histórico, tomam as ruas. A rebelião pode desembocar em revoluções democráticas nacionais. Os editores de Odiário.info |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 29 de janeiro de 2011
O mundo árabe desperta
Filme Russo sobre um conto de Anton Tchekhov...
A Dama do Cachorrinho
(Dama s sobachkoy)
The Lady With a Little Dog (1959)
(Dama s sobachkoy)
The Lady With a Little Dog (1959)
Poster
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Sinopse
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Ialta,
verão de 1899. Dmítri Gurov, banqueiro moscovita, apaixona-se pela
jovem Ana Sierguéievna, que passeia sempre com seu cachorrinho. Ele vive
um infeliz casamento arranjado; ela afunda-se numa união sem amor.
Ambos de férias sem seus cônjuges, Dmítri e Ana começam uma relação
amorosa. Após breve período, ela regressa a Saratov e ele a Moscou,
acreditando que ser este um adeus definitivo. Por todo o inverno, Dmítri
sente-se infeliz, melancólico e irritadiço. Em desespero, ele decide ir
a Saratov, surpreendendo Ana num concerto. Temendo ser descoberta em
sua cidade natal, ela promete ir a Moscou revê-lo. Abdicarão eles de
suas reputações para viverem juntos ou será uma relação inconstante,
marcada por encontros furtivos em quartos de hotel?
Baseado no conto de Anton Tchekhov, A Dama do Cachorrinho é um belíssimo filme sobre o amor, nomeado à Palma de Ouro em Cannes. Legendas Exclusivas !!
CRÉDITOS: cinebaixar, POSTADO NO MAKINGOFF.ORG
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Elenco
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Informações sobre o filme
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Informações sobre o release
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Iya Savvina...Ana Sierguéievna Aleksey Batalov...Dmítri Gurov Nina Alisova...Madame Gurov Pantelejmon Krymov...von Didenitz | Gênero: Drama Diretor: Iosif Kheifits Duração: 83 minutos Ano de Lançamento: 1960 País de Origem: Rússia Idioma do Áudio: Russo IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0053746/ | Qualidade de Vídeo: DVD Rip Vídeo Codec: XviD Vídeo Bitrate: 1.051.662 Kbps Áudio Codec: MPEG1/2 L3 Áudio Bitrate: 96 kbps 48 KHz Resolução: 576 x 432 Aspect Ratio: 1.333 Formato de Tela: Tela Cheia (4x3) Frame Rate: 25.000 FPS Tamanho: 700.3 MiB Legendas: Em anexo |
Premiações
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- Nomeado à Palma de Ouro em Cannes, em 1960. - Prêmio Especial pelo Nobre Humanismo e Excelência Artística em Cannes, em 1960. - Nomeado ao Prêmio BAFTA de Melhor Filme, em 1963. | ||
Curiosidades
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Sobre o conto de Tchekhov: Anton Tchekhov escreveu o conto A dama do cachorrinho, uma de suas obras-primas, no final de 1899, quando se encontrava em Ialta, época em que sua saúde estava seriamente abalada. Maximo Gorki, amigo de Tchekhov, escreveu-lhe, após ter lido esse conto: “Li sua Dama. Sabe você o que está fazendo? Está matando o realismo. E acabará de matá-lo. Em breve há de liquidá-lo por muito tempo. Essa forma já viveu o que tinha de viver – é um fato! Ninguém pode ir mais longe que você por esta senda, ninguém pode escrever com tamanha simplicidade sobre coisas tão simples, como você sabe. Depois do mais insignificante de seus contos, tudo o mais parece grosseiro e escrito não com a pena, mas com um pedaço de pau. E, principalmente, tudo parece não simples, isto é, inverídico. É verdade (...) E quanto ao realismo, você vai exterminá-lo mesmo. Estou contente ao extremo. Chega! Diabo que o carregue!” Gorki prossegue com sua carta para o amigo Tchekhov: “Com efeito, chegou o tempo de se necessitar de algo heróico: todos desejam algo excitante, colorido, que não seja parecido com a vida, mas sim mais elevado que ela, melhor, mais belo. É absolutamente indispensável que a literatura atual comece a enfeitar um pouco a vida e, logo que ela o comece, a vida se embelezará, isto é, os homens viverão de modo mais veloz e vibrante. E, agora, veja que olhos ordinários eles têm: enfastiados, turvos, congelados”. [...] Ainda, sobre a repercussão do conto de Tchekhov, A dama do cachorrinho, agora com a manifestação de Tolstoi, como foi anotado no seu diário, em 16 de janeiro de 1900: “Li A dama do cachorrinho, de Tchekhov. Sempre Nietzsche. Pessoas que não elaboraram em si uma clara visão do mundo, que separe o bem e o mal. Antes se intimidavam, ficavam à procura, mas agora, acreditando encontrar-se além do bem e do mal, permanecem aquém, isto é, quase uns animais”. Em A dama do cachorrinho, Tchekhov criou o personagem Guru, homem casado, que, na estação de veraneio de Exalta, conheceu a dama do cachorrinho, Ana Sierguieivna, mulher também casada, que, uma semana após o primeiro encontro, levou-o ao seu quarto. O que se passa na mente de Ana e Gurov, nesse primeiro encontro, é contado com sutileza e maestria por Tchekhov. Passado algum tempo, Ana regressa para sua casa, numa província perto de Moscou, e Gurov regressa a Moscou e reassume o seu trabalho no banco. Gurov não conseguindo esquecer Ana, procurou-a mais tarde em sua casa; com medo de ser descoberta pelo marido, prometeu encontra-se com ele em Moscou. A partir daí passaram a encontrar-se a cada dois ou três meses; os amantes convencem-se de que foram feitos um para o outro; mas não há uma solução definitiva para o caso; Tchekhov deixa o desfecho por conta do leitor. Essa falta de conclusão no conto A dama do cachorrinho espantou os críticos de Tchekhov, como V. Burênin, que escreveu no Nórvíe Vrênia, em 25 de janeiro de 1900: “O final nas obras deste literato de talento surge no ponto em que, segundo parece, deveríamos esperar o verdadeiro trabalho do criador”. Além do caráter fragmentário do conto, outros críticos fizeram restrições ao conto sob o aspecto moral. Hoje, evidentemente, tais críticas não seriam feitas por críticos sérios, quer quanto à forma, quer quanto ao seu conteúdo. Texto de Pedro Luso de Carvalho em: http://panorama-dire...achorrinho.html | ||
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
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- os arquivos anexos podem ser solicitado pelo email:turcoluis@gmail.com
Restrição à propriedade cruzada é medida urgente
Laurindo Lalo Leal Filho no Correio do Brasil
É uma falácia afirmar que a
convergência de mídias tornou obsoleta a discussão sobre propriedade
cruzada.
Formas de produção e circulação de dados e noticiários em
diferentes
plataformas não têm nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz
respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais
importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A mídia derrotada
nas eleições presidenciais prossegue em campanha para pautar o novo
governo segundo seus interesses. A última é do Estadão de quinta-feira,
informando em manchete de primeira página que o governo desistiu de
incluir a propriedade cruzada no projeto de regulação da mídia.
O
blogueiro Eduardo Guimarães perguntou logo cedo ao ministro Paulo
Bernardo, via twitter, se isso era verdade. Resposta: “Bom dia, meu
caro! Basta ler a matéria para concluir que não decidimos nada. Quando
houver decisão enviaremos ao Congresso”.
É verdade, não há nenhum
dado concreto que confirme a manchete da capa: “Convergência de mídias
leva governo a desistir de veto à propriedade cruzada”.
O texto,
além disso estabelece uma confusão entre meios impressos e eletrônicos.
Chega a dizer que “propriedade cruzada é o domínio, pelo mesmo grupo de
comunicação, de concessões para operar diferentes plataformas (TV,
jornal e portais)”.
Mistura na mesma frase meios que legalmente
são concedidos pelo Estado em nome da sociedade (TV, e também o rádio)
com aqueles que operam em circuitos privados, sem interferência direta
do poder público, como jornais, revistas e portais na internet.
No
Brasil uma nova lei de meios tem que dar conta, entre outras coisas, de
dois tipos de regulação. Uma específica para o rádio e a TV cujos
concessionários ocupam o espectro eletromagnético, escasso e finito.
Outra dando conta da mídia em geral.
No primeiro caso, trata-se de
um bem público (o espectro eletromagnético) utilizado por particulares
que, por isso, devem se submeter a regras precisas de controle social.
Nada
ilegal ou arbitrário. Ao se candidatarem a uma concessão os
interessados deveriam deixar claro que tipo de serviço será prestado à
sociedade e de que forma.
Assinariam um compromisso com o Estado,
conhecido em alguns países como “caderno de encargos”, onde estariam
detalhados seus direitos e deveres. Ao final, o contrato deveria ser
avaliado pelo órgão regulador (hoje inexistente) podendo vir a ser
renovado ou não.
A lei atual, benevolente, estabelece um período
de dez anos para as concessões de rádio e de quinze para a televisão. E
as renovações são praticamente automáticas passando por trâmites
burocráticos, ainda que submetidas ao Congresso nacional.
O
segundo caso, referente aos jornais e revistas não tem nada a ver com
isso. São empreendimentos particulares que trafegam por canais privados.
Não se submetem a concessões como sugere o Estadão.
Mas nem por
isso podem deixar de se submeter à leis específicas, como a de imprensa
que garantia o direito de resposta e foi suprimida.
E também aos
limites da propriedade cruzada. O Estadão afirma que “o desenvolvimento
tecnológico tornou a discussão (sobre propriedade cruzada) obsoleta” e
que “o conceito de convergência de mídias, que consolidou o tráfego
simultâneo de dados e noticiários em todas as plataformas – da impressa à
digital -, pôs na mesa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um
projeto de concessão única”.
Nada mais falacioso. Primeiro porque
formas de produção e circulação de dados e noticiários em diferentes
plataformas não tem nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz
respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais
importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A lei atual,
ainda que burlada, determina um máximo de cinco concessões de TV para o
mesmo grupo, em cidades diferentes, sendo cinco em VHF e cinco em UHF.
Mas não impede que esses concessionários sejam proprietários de jornais
ou revistas, por exemplo.
Pela lei implacável do mercado, a
tendência é que alguns grupos se tornem gradativamente hegemônicos em
suas regiões e mesmo no país.
Com isso passam a monopolizar todas
as formas de comunicação existentes, impedindo o confronto de idéias e
restringindo a diversidade cultural.
Os limites à propriedade
cruzada, portanto, devem ter como referência o tamanho do público
atingido pelas empresas de comunicações, sejam ouvintes, leitores,
telespectadores e até mesmo internautas. Junto com restrições mais
rigorosas à propriedade de diferentes meios nas mesmas áreas
geográficas.
É o que ocorre em países democráticos como forma de
evitar que o pensamento único se consolide. Trata-se de garantir a
liberdade através da multiplicação de vozes e não de restringi-la como
alardeiam os interessados em manter tudo como está. Apelando algumas
vezes, como se viu, para a confusão.
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Os Povos Turcos Na aventura do Homem
Miguel Urbano Rodrigues no Odiario.info
Miguel
Urbano Rodrigues evoca neste artigo a grande aventura dos povos turcos,
satanizada pelos historiadores do Ocidente.
Recorda a origem turca de povos tão diferentes como os hunos, os ávaros,
os seljucidas, os fundadores do Império indiano do Grão Mogol, os
búlgaros, os húngaros, os finlandeses e os estónios, e povos que hoje
falam línguas turcas, os usbeques, os cazaques, os kirguizes, os
turquemenos, os iakutos. Reflectindo sobre a Turquia, lembra que os
antigos Otomanos criaram uma grande cultura e que, na época de Solimão, o
Magnífico, o Império turco, então o maior do mundo, cobria uma área de 8
milhões de quilómetros quadrados com 60 milhões de habitantes.
Conheci Istambul quando me iniciava no ofício de escrever. Voltei agora, transcorridas quase seis décadas.
Foi um estranho reencontro.
A cidade, quando a descobri, tinha um milhão de habitantes; hoje tem
mais de 15 milhões e é uma das maiores megalopolis do planeta. Em 1953
camelos pachorrentos ainda deambulavam por ruelas enlameadas; hoje o
aeroporto da antiga Constantinopla é um dos mais movimentados da Europa.
Na juventude a Turquia aparecia-me como porta de um Oriente
misterioso. Tinha lido os Sete Pilares da Sabedoria de T. E. Lawrence e
muita coisa sobre as Cruzadas.
Como a maioria dos jovens da minha geração via na Turquia o país dos
turcos, que se ocidentalizara no governo de Ataturk após a desagregação
do Império Otomano.
A névoa da ignorância tardou a dissipar-se. Foi somente a partir dos
anos 70, em viagens pela Ásia Soviética, que, lentamente, principiei a
tomar conhecimento da grande aventura dos povos turcos e da sua
contribuição para o progresso da humanidade.
UMA SAGA ESQUECIDA
Em livros que então me ofereceram aprendi que o berço das tribos
turcas da antiguidade foi a taiga siberiana. Das montanhas da
Transbaikalia, do Orkhon e das margens do Selenga, os primeiros turcos
começaram, muito antes do início da Nossa Era, a descer para o Sul. Nas
suas lentas migrações, trocaram as florestas pelas estepes da actual
Mongólia, e aí essas tribos transformaram-se de sedentárias em nómadas
criadores de cavalos, bois, camelos e ovelhas.
Mais tarde, entraram pela China e destruíram e fundaram ali
impérios. Muitos séculos depois, correram para Ocidente e invadiram
províncias do Império Romano, semeando o terror por onde passavam.
Com o passar dos séculos, ao disseminarem-se pelo mundo, empurrados
por grandes fomes ou após guerras com vizinhos agressivos, os turcos
diferenciaram-se muito e os idiomas das primitivas sociedades tribais
evoluíram, distanciando-se.
Mas turcófonos eram os Hunos de Átila; os Heftalitas que invadiram a
China, a Índia e a Pérsia sassânida; os Ávaros que chegaram até à
Hungria; os Uigures, professores dos Mongóis e criadores de um alfabeto;
os primeiros Búlgaros; os Mamelucos Egípcios.
Turcófonos eram os Seljucidas vindos da Sogdiana (actual
Uzbequistão) que reconquistaram Jerusalém aos Cruzados e quase
expulsaram Bizâncio da Ásia Menor; os Kazhar, os Kiptchak, os
Ptechenegos que povoaram as estepes da Ucrânia e do Sul da Rússia, povos
dos quais descendem dezenas de milhões de russos. Os Polovtses, das
crónicas medievais russas, eram também nómadas turcos.
Turcófonos são os actuais Kazaks, Uzbeques, Kirguizes, Turquemenos, Azeris.
Turcofónas eram as tribos Karluk, da Sogdiana, que, aliadas aos árabes na cavalgada destes para Oriente, lutaram contra os chineses em Talas, uma batalha que no ano 751 travou definitivamente a avançada da China para o Ocidente.
Turcofónas eram as tribos Karluk, da Sogdiana, que, aliadas aos árabes na cavalgada destes para Oriente, lutaram contra os chineses em Talas, uma batalha que no ano 751 travou definitivamente a avançada da China para o Ocidente.
O finlandês e o estónio mergulham as raízes nos dialectos turcos falados pelos seus antepassados, vindos da Alta Ásia.
A historiografia europeia desconhece, com poucas excepções, a grande
aventura dos povos turcos ao longo de mais de dois milénios. A maioria
dos chamados «Mongóis da conquista» era turca. Mas poucos historiadores,
incluindo os árabes e iranianos, assinalam nas suas obras que mais de
dois terços dos exércitos dos filhos e netos de Gengis Khan falavam não o
mongol, mas línguas turcas com ele aparentadas.
A minha geração «aprendeu» no liceu que os turcos eram muçulmanos
fanáticos quando irromperam na Europa. Nos compêndios escolares do meu
tempo não era minimamente clara a diferença entre árabes e turcos.
Alguns professores aludiam a choques entre os portugueses e os turcos
nos mares da Índia, mas as referências eram superficiais, vagas.
Na Espanha, na Itália e em França o panorama não era muito
diferente. A derrota da armada otomana na batalha de Lepanto era
celebrada como uma grande vitória da Cristandade contra a barbárie.
Dos turcos foi durante séculos projectada a imagem de gente selvagem
e cruel, imagem que o cinema, já na nossa época, contribuiu para levar
às massas.
Voltaire, entre outros grandes escritores, apresentou Tamerlão como
demónio com figura humana, um flagelo da humanidade. A personagem desse
turco chagatai, o maior conquistador do século XIV, único vencedor dos
turcos Otomanos, inspirou gerações de dramaturgos, poetas e
historiadores que o amaldiçoaram. Foi satanizado em óperas famosas.
É inegável que Tamerlão cometeu crimes comparáveis aos das hordas de
Gengis Khan. Mas o autor das chacinas de Isfahan, Damasco e Delhi,
entre outras, o turco que ao perseguir as Hordas Mongóis através da
Rússia arrasou tudo o que encontrou pela frente, o emir devoto que
mandava construir pirâmides com as cabeças dos vencidos, não deixou na
História somente um rasto de violência irracional. Tamerlão atraiu a
Samarcanda os maiores artistas e sábios do Islão asiático e fez dela, na
época, a mais bela cidade do mundo muçulmano. Alguns dos seus
descendentes foram príncipes cultos, que promoveram o chamado
renascimento timurida que renovou a arquitectura, a poesia, a pintura, a
musica nos países por eles governados. Babur, seu trineto, fundou o
Império do Grão Mogol na Índia onde durante dois séculos floresceu uma
cultura que criou monumentos maravilhosos como o Tahj Mahal de Agra.
Outro efémero império turco que os historiadores somente recordam
como responsável por hecatombes inesquecíveis teve o seu pólo em Ghazni,
uma cidade, hoje em ruínas, situada no actual Afeganistão. Um sultão,
Mahmud, nas suas campanhas pelo Norte da Índia, actuou como um genocida.
Mas esse grande bárbaro foi uma personalidade contraditória. Ghazni,
cujo nome está hoje esquecido, emergiu em poucas décadas como a mais
prestigiada metrópole cultural do Islão oriental. Admite-se que a sua
população rondou o milhão de habitantes. No século XI, nos territórios
governados pelos Ghaznividas nasceram, viveram e criaram ciência,
cultura e beleza alguns dos mais famosos sábios e artistas do Islão,
entre os quais Al Biruni, etnólogo, astrónomo, matemático; Ferdauci, o
autor do poema épico Xá Naama (o livro dos reis), considerado o criador
do persa moderno; Sanai, um sufista que foi um precursor de Dante; Ibn
Sina, o Avicena, cujo tratado de Medicina foi referencia na Europa
durante cinco séculos.
Turco era o Xá Ismail, o primeiro dos Safévides, a dinastia de
mecenas durante a qual a arquitectura e a pintura persas atingiram o
apogeu, adquirindo prestígio mundial.
DO ÁRCTICO AO MEDITERRÂNEO
Não esqueci o choque recebido em l974 ao visitar a República da
Iakutia no grande Norte siberiano. Estava instalado num hotel
confortável, mas fora o termómetro descera a 45 graus negativos. Os
Iacutos, pelo aspecto físico, traziam-me à memória os inuit da
Groenlândia e falavam uma língua muito diferente do russo. Alguns não o
entendiam. Um jovem traduzia para o meu intérprete que vertia para o
português.
Perguntei que idioma era aquele?
Quando ouvi que se expressavam num dos muitos dialectos turcos da
Sibéria, a resposta lançou-me numa meditação inesperada sobre o longo
caminho percorrido por antepassados daquela gente, empurrada para o
Norte por outros povos turcófonos.
Perante o meu espanto, um professor russo que acompanhava a conversa
esclareceu que das terras geladas do Estreito de Behring, frente ao
Alasca, ao Adriático, numa faixa que atravessa a Ásia e a Europa,
continuam a viver comunidades turcófonas.
Uma das mais prodigiosas aventuras dos antigos turcos foi a das
tribos Oghuz que, saindo no século XII das margens orientais do Cáspio,
vieram em vagarosa caminhada fixar-se na Ásia Menor como vassalas dos
emires seljucidas que então lutavam contra o Império Bizantino. Do nome
do seu chefe, Othman, ficaram conhecidos como os Otomanos, fundadores de
um Império gigantesco. Ao longo de duzentos anos foram a primeira
potência militar do mundo.
Durante séculos, os primitivos turcos permaneceram fiéis à religião
animista que os acompanhou nas suas migrações, da taiga às estepes,
muito semelhante à dos Mongóis. Acreditavam num deus supremo, Tengri, o
céu azul, criador do universo e veneravam e temiam forças da Natureza.
Era uma religião tolerante aberta à compreensão das praticadas pelos
povos dos países conquistados ou vizinhos. A rápida absorção de
culturas muito mais elaboradas do que a das estepes levou os primitivos
turcos a assumir grandes religiões da antiguidade. Na China tornaram-se
budistas na época em que o budismo por algum tempo ali penetrou. No
oásis do Tarim (actual Sinkiang Uigur) aderiram ao maniqueísmo. Uma
pequena minoria adoptou o cristianismo nestoriano. Os Khazars da Rússia
converteram-se ao judaísmo. Mas foi no primeiro contacto com os árabes,
sobretudo na Sogdiana (actual Uzbequistão), que a avalancha das tribos
turcas na sua deslocação para ocidente fez a opção religiosa que viria a
ter uma grande influência no rumo da História.
Em meados do século VIII, o Califado Abássida exercia uma soberania
nominal sobre uma área enorme, da China ao Egipto, do Indo à Sicília. A
fase de expansão findara, iniciava-se a defensiva. Os árabes eram
poucos, os territórios imensos. As turbulentas tribos turcas
forneceram-lhe os soldados de que necessitava. Formidáveis guerreiros,
os turcos tornaram-se a coluna vertebral dos exércitos do Islão
asiático. E aconteceu o inevitável. O poder militar conquistou
rapidamente o poder político. Primeiro na Sogdiana, depois no actual
Afeganistão, no Irão, no Iraque, no norte islamizado da Índia surgiram
sultanatos turcos. Em Bagdad, o Califa, o chefe religioso, já era uma
figura pouco mais do que decorativa, quando os Seljucidas enfrentaram a
invasão dos Cruzados no século X.
ERAM POUCOS E DIFERENTES
ERAM POUCOS E DIFERENTES
Os turcófonos não constituem uma comunidade de povos etnicamente
homogénea. Os antigos Kirguizes da Alta Ásia eram louros e de pele
clara; a maioria dos Petchenegos, segundo as crónicas russas medievais,
tinham os olhos azuis e os cabelos claros; a fisionomia dos Kiptchak
também não era oriental. O príncipe Igor, herói lendário da Rússia
antiga, era um Polovtse e a sua língua materna o turco. O denominador
comum do mundo turco foi o idioma e não a raça.
Eram muitos os turcos da conquista? Não, eram poucos, tal como os
visigodos que se estabeleceram em Espanha e os Francos na Gália Romana. O
historiador Claude Cahen avalia em 300.000 no máximo o total dos
seljucidas que invadiram a Ásia Menor, procedentes do Irão, e ali se
fixaram. Muito menos numerosas eram as tribos otomanas que se instalaram
no planalto com a concordância dos Bizantinos.
No século XIII, os turcos constituíam apenas 10% da população da
Anatólia, não obstante o poder militar dos sultanatos existentes.
A mestiçagem foi um processo complexo. Os persas, com raras
excepções, não se fundiram com os turcos. Na Geórgia e na Arménia
ocorreu o mesmo: as populações locais não se misturaram com os invasores
turcos.
Foi nas regiões helenizadas do Império Bizantino que a turquização
das populações avançou embora lentamente. Mas no século XX, mais de um
terço dos habitantes da Ásia Menor eram gregos, kurdos, arménios. Não
exageram os historiadores que identificam na Turquia actual um
Estado-nação criado e viabilizado pela vontade de um homem.
O FURACÃO OTOMANO
Os otomanos, de pequena comunidade tribal estabelecida em terras
bizantinas transformaram-se rapidamente num Sultanato que alastrou pela
Ásia Menor e, ganhando força e prestígio, construíram os alicerces de um
grande Império. Em meados do século XIV já estavam solidamente
implantados no coração da Península Balcânica e infligiram sucessivas e
esmagadoras derrotas aos príncipes romenos, búlgaros, sérvios e
húngaros.
Quando em 1453 Mehmet II, o jovem sultão otomano, se apresentou com
um grande exército perante as muralhas de Constantinopla, a grande
cidade era tudo o que restava do Império Romano do Oriente.
As potências ocidentais não atenderam aos pungentes apelos de ajuda
chegados de Bizâncio. As querelas religiosas que tinham separado Roma do
Patriarcado Ortodoxo haviam gerado uma seara de ódios.
Durante mais de um milénio, a orgulhosa Bizâncio, filha de Roma e da
Grécia, resistira vitoriosamente às investidas de godos, celtas,
persas, árabes, búlgaros, russos. Mas os cavaleiros da IV Cruzada,
financiados por Veneza, tomaram a cidade por dentro, saquearam os seus
palácios igrejas e criaram um efémero império Latino.
Restaurado em 1261,o Império Bizantino sobreviveu por quase dois
séculos. Dizia-se que as muralhas de Constantinopla eram inexpugnáveis.
Mas cederam perante a avalancha otomana. No cerco, o sultão, para abrir
brechas nas muralhas, utilizou os maiores canhões até então fabricados.
Para os historiadores do Ocidente, a queda de Constantinopla foi um acontecimento trágico que assinalou o fim da Idade Média.
Na perspectiva dos muçulmanos, a tomada da cidadela dos cristãos
marcou o inicio da era de ouro do Império Otomano. Selim I derrotou os
persas, conquistou a Síria, a Palestina e o Egipto e somou o poder
religioso ao político, assumindo-se como herdeiro do Califado. Durante o
longo reinado do filho, Solimão I, o Magnífico, a expansão prosseguiu
num ritmo que alarmou as grandes monarquias cristãs. Os exércitos
otomanos ultrapassaram o Eufrates e o Tigre e as suas esquadras
enfrentaram os portugueses nos mares da Índia. A bandeira do crescente
foi hasteada em Tripoli, Tunis, Argel e Budapeste e o Mediterrâneo, até
ao Adriático, tornou-se um lago turco.
A basílica de Santa Sofia, transformada em mesquita, foi uma fonte
de inspiração para os arquitectos otomanos. Istambul no final do século
XVI tinha recuperado o antigo esplendor de Constantinopla e era a maior e
mais próspera capital da Europa com uma população que excedia 600.000
habitantes.
O Império tinha uma superfície de oito milhões de quilómetros
quadrados (16 vezes o tamanho da Espanha) e uma população superior a 60
milhões de habitantes.
Uma nova cultura surgiu de um sincretismo nascido da fusão difícil
da persa, da árabe e da bizantina. Na arquitectura, na pintura, na
cerâmica, na tapeçaria, os otomanos inovaram durante dois séculos. As
grandes mesquitas imperiais, como a Suleimanieh e a Sultanahmet, são
obras de arte maravilhosas, património da humanidade.
No século XVII principiou a decadência, lenta, mas irreversível.
Ao terminar a primeira guerra mundial, o Império Otomano, derrotado,
desapareceu. Os vencedores tomaram conta das Províncias Árabes e a
própria Turquia – berço e núcleo do Estado imperial multinacional –
ocupada, retalhada e invadida, esteve prestes a desaparecer.
Foi então que surgiu um daqueles raros homens que, em situações
excepcionais, alteram o caminhar dos povos. Mustafa Kemal, o Ataturk,
desafiou a lógica da História. Pela guerra e pela negociação garantiu a
continuidade da Turquia. Transformou em realidades concretas o
impossível aparente. Expulsou as tropas estrangeiras em quatro anos de
guerra, depôs o último sultão, aboliu o Califado, proclamou a República
laica, proibiu o vestuário tradicional, atribuiu à mulher a igualdade de
direitos, adoptou o calendário gregoriano e impôs a substituição do
alfabeto árabe pelo latino.
Poucas revoluções mudaram tão profundamente a vida de um povo num
espaço de tempo tão breve. Uma cultura milenária, asiática, oriental,
foi anatemizada e reprimida e incentivada a adesão a uma cultura
ocidental que durante séculos aparecera aos turcos otomanos como hostil.
A Turquia sobreviveu, mas a transição, traumática, dolorosa, deixou sequelas cujos efeitos continuam a manifestar-se.
Os turcos contemporâneos sabem que todas as civilizações quando
morrem não voltam. Mas as sementes ficam e a sua germinação é complexa e
imprevisível.
Voltarei ao tema em texto de reflexão sobre o meu reencontro com
Istambul, uma cidade fascinante, implantada num dos mais belos cenários
do mundo.
A revolução no Egito está sendo televisionada
Para quem quiser ver, é seguir a Al Jazeera em inglês, aqui.
*****
Enquanto os aliados observam…
Egito: o dia do acerto de contas
Robert Fisk: The Independent, UK
Dia de orações ou dia de ira? Todo o Egito está à espera do sabbath
muçulmano hoje – para nem falar dos assustados aliados do Egito –,
enquanto o envelhecido presidente do país agarra-se ao poder depois de
noites de violência que já fazem os EUA duvidarem da estabilidade do
regime de Mubarak.
Até agora, há cinco mortos e mais de 1.000 presos, a polícia bateu em
mulheres e, pela primeira vez uma das sedes do Partido Nacional
Democrático reinante foi incendiada. Aqui, os boatos são perigosos como
granadas de gás lacrimogêneo. Um diário do Cairo publicou que um dos
principais conselheiros do presidente Hosni Mubarak fugiu para Londres
com 97 malas de dinheiro; outros falam de um presidente enfurecido, que
grita com os comandantes da polícia, exigindo mais força na repressão
das manifestações.
Mohamed ElBaradei, líder da oposição, Prêmio Nobel e ex-funcionário
da ONU retornou ao Egito ontem à noite, mas ninguém acredita – exceto
talvez os norte-americanos – que venha a converter-se em ímã que dê foco
aos movimentos de protesto que se alastram por todo o país.
Já aparecem sinais de que muitos, cansados do governo corrupto e
antidemocrático de Mubarak, tentam persuadir os policiais que patrulham
as ruas do Cairo a unir-se a eles. “Irmãos! Irmãos! Quanto eles pagam a
vocês?” um grupo de manifestantes pôs-se a gritar para os policiais no
Cairo. Mas ninguém negocia coisa alguma – não há o que negociar, exceto a
partida de Mubarak, e o governo egípcio nada diz e nada faz, mais ou
menos exatamente como nos últimos trinta anos.
Há quem fale de revolução, mas não há ninguém para ocupar os lugares
dos homens de Mubarak – jamais houve sequer um vice-presidente – e um
jornalista egípcio disse-me ontem que conversou com amigos de Mubarak,
preocupados com ele, presidente, isolado, solitário. Mubarak está com 82
anos e deu sinais de que se candidatará novamente à presidência – o que
é ultraje para milhões de egípcios.
A dura verdade, porém, é que, exceto pela força policial brutal e um
exército escandalosamente dócil – o qual, aliás, não apoia a indicação
de Gamal, filho de Mubarak – o governo está impotente. Essa é revolução
pelo Twitter e revolução pelo Facebook, e a tecnologia, já há muito,
derrubou as regras da censura.
Os homens de Mubarak parecem ter perdido toda a noção de iniciativa.
Os jornais do partido governista vêm carregados de falsas ilusões
autoimpingidas, empurrando as vastas manifestações de rua para os
rodapés, como se bastasse a diagramação para esvaziar as ruas – e como
se, de tanto esconder os fatos, conseguissem convencer-se de que as
manifestações não existiram.
Mas ninguém precisa dos jornais, para ver o que não deu certo. A
sujeira das ruas e das favelas, os esgotos a céu aberto e a corrupção de
todos os funcionários do estado, as prisões sobrecarregadas, as
eleições risíveis, o vasto, esclerosado edifício do poder, tudo isso,
afinal, arrastou ou egípcios para as ruas das cidades.
Amr Moussa, presidente da Liga Árabe, observou ponto interessante, na
recente reunião de cúpula dos líderes árabes no resort de Sharm
el-Sheikh, no Egito. “A Tunísia não está longe de nós”, disse ele. “Os
árabes estão quebrados”. Mas… será que estão? Um meu velho amigo
contou-me história assustadora sobre um egípcio pobre, que lhe disse que
não tinha interesse algum em arrancar os líderes corruptos das
fortalezas superprotegidas onde vivem no deserto. “Hoje, pelo menos,
sabemos onde eles moram” – disse o homem. O Egito tem hoje mais de 80
milhões de habitantes, 30% dos quais com menos de 20 anos. E perderam o
medo.
Nas manifestações, observa-se uma espécie de nacionalismo egípcio –
mais do que algum islamismo. 25 de janeiro é Dia Nacional da Polícia –
dia em que se homenageia a força policial que morreu em combate contra o
exército britânico em Ishmaelia – e o governo não poupou discursos,
para dizer à multidão que estariam traindo os próprios mártires. A
multidão gritou “Não. Os policiais que morreram em Ishmaelia eram
valentes, nada a ver com os policiais de hoje.”
Mas o governo não é completamente cego. Há uma espécie de
inteligência na gradual liberação da imprensa e das televisões, nessa
pseudodemocracia em cacos. Os egípcios ganharam uma lufada de ar fresco,
o suficiente para respirarem, para que se acalmem e calem-se, e voltem à
docilidade de sempre, nessa terra de pastores. Pastores e agricultores
não fazem revoluções, mas quando são amontoados aos milhões nas grandes
cidades, nas favelas, nas casas e nas universidades em ruínas, que lhes
dão diplomas, mas não dão trabalho, alguma coisa pode ter acontecido.
“Os tunisianos ensinaram aos egípcios o que é poder orgulhar-se do
que se faz” – disse-me ontem outro jornalista egípcio. “São inspiração
para nós, mas o regime egípcio é mais esperto que o de Ben Ali na
Tunísia. Lá foi preservada uma semente de oposição, ao não meterem na
cadeia a Fraternidade Muçulmana, mas, ao mesmo tempo, dizerem aos EUA
que o grande inimigo seria o Islã, e que Mubarak ali estava para
proteger os EUA do “terror” – mensagem que os EUA sempre gostam de ouvir
já há dez anos”.
Há vários indícios de que o poder no Cairo percebeu que algo estaria
para acontecer. Ouvi de vários egípcios que dia 24 de janeiro já havia
soldados arrancando cartazes de Gamal Mubarak dos muros das favelas –
para evitar mais provocações. Mas o alto número de prisões, a violência
policial – que espancou homens e mulheres pelas ruas – e o virtual
colapso da Bolsa de Valores no Cairo mais sugerem pânico, que astúcia
política.
Um dos problemas foi criado pelo próprio regime; foram
sistematicamente afastados do poder todos que tivessem algum carisma,
mandados para o interior, castrando politicamente qualquer possível
oposição verdadeira, muitos, diretamente para a prisão. Hoje, EUA e
União Europeia dizem ao regime que ouçam o povo – mas que povo? Onde
estão as vozes de liderança?
O levante no Egito não é – embora possa vir a converter-se em –
levante islâmico, mas, além do grito em massa de milhões de egípcios que
despertam de décadas de humilhação e fracassos, só se ouve nas
manifestações o discurso de rotina da Fraternidade Muçulmana.
Quanto aos EUA, a única coisa que parecem capazes de oferecer a
Mubarak é uma sugestão de reformas – conversa que os egípcios ouvem há
muito tempo. Não é a primeira vez que a violência toma conta das ruas do
Cairo, é claro. Em 1977, ouve manifestações imensas de gente que pedia
comida – eu estava no Cairo, e vi multidões famintas, de mortos de fome
–, mas o governo de Sadat conseguiu controlar a revolta mediante preços
mais baixos e muitas prisões e tortura. Também houve motins nas forças
policiais – um deles reprimido a ferro e fogo pelo próprio Mubarak. Mas,
agora, está acontecendo algo de diferente.
Interessante de observar, não há nenhuma animosidade contra
estrangeiros. Várias vezes aconteceu de a multidão proteger jornalistas e
– apesar do vergonhoso apoio que os EUA garantem aos ditadores no
Oriente Médio – nenhuma bandeira dos EUA foi queimada. Já se vê que há
aí alguma novidade. Talvez a multidão que amadurece – e descobre que
vive sob um governo que é, ao mesmo tempo, senil e imaturo.
Ontem à noite as autoridades egípcias cortaram todos os serviços de
internet e de transmissão de texto por celulares, na tentativa de
impedir que os manifestantes se organizassem através de redes sociais. A
medida foi tomada no mesmo momento em que uma unidade policial de
elite, de forças antiterrorismo, recebeu ordem para tomar posição em
pontos estratégicos em toda a capital, preparando-se para o que se
estima que sejam as maiores manifestações até agora, previstas para
hoje.
Dentre os pontos estratégicos selecionados pelas forças
antiterrorismo está a Praça Tahrir, cenário das maiores manifestações
até agora. Facebook, Twitter, YouTube e outros sites de contato social
tiveram papel vital nos protestos no Egito, exatamente como na Tunísia,
para manter os manifestantes em contato e planejar a movimentação dos
grupos.
O Governo Dilma Rousseff e a democratização da comunicação
O artigo a seguir é uma colaboração especial de Lucas Morais* via Jornalismo B
Em entrevista à TV Brasil, o ministro das Comunicações, Paulo
Bernardo (PT), concordou que os meios de comunicação de massas (TV e
Rádios) no Brasil precisam ser desmonopolizados, “Mas não vamos fazer
isso por lei”, advertiu. “Não dá para fazer uma lei que diga que vai
desconcentrar, até porque não haveria mecanismos para isso.” Ora, então o
ministro quer confrontar a realidade? A Argentina aprovou a Ley de
Medios que prevê uma maior democratização do espectro televisivo e de
rádio que anuncia o fim da hegemonia dos oligopólios. Será que as
palavras do ministro refletem conhecimento técnico ou simplesmente
negligenciam a necessidade de um novo marco regulatório para os meios de
comunicação de massa?
Só no setor de televisão, a Globo passou a controlar neste ano 342
empresas; o SBT, 195; a Bandeirantes, 166; e a Record, 142. Além disso,
61 congressistas eleitos em 2010 possuem concessões de rádio e TV. O
cenário é de um monopólio/oligopólio absurdo e a resposta que o Governo
Federal promete dar nos próximos quatro anos é a massificação da banda
larga – que é necessária em um país onde as transnacionais das
telecomunicações atuam somente em cidades de médio e grande porte,
privilegiando o serviço a bairros comerciais, de classes médias e
elites.
Entretanto, a massificação da internet não significa uma
democratização efetiva dos meios de comunicação de massas – não nos
esqueçamos que a rede mundial de computadores não possui espectros para
transmissão para apenas algumas empresas, como na TV e no rádio,
portanto não se trata de um “meio de comunicação de massas”, apesar de
ser instrumento de comunicação das massas. Os meios de comunicação que
atingem mais diretamente as massas são a TV e o rádio, portanto o
problema deve ser combatido neste terreno, apesar de que a luta se
reforce também com a massificação do acesso à internet e a diversidade
de informações que o usuário pode se imbuir.
O governo, e principalmente o PT, por questão de sobrevivência
política, deverá rever este posicionamento em relação às concessões das
empresas de TV e rádio. Prova disto é a utilização perversa do histórico
de resistência à ditadura militar da então candidata Dilma Rousseff,
tentando taxá-la como terrorista. Que dizer então da Bolinha de Papel
Gate promovida por Ali Kamel em pleno auge das eleições no Jornal
Nacional da Rede Globo?
Podemos visualizar a dimensão do problema com a campanha dos
oligopólios capitalistas da mídia, primeiro escalão do entreguismo
neoliberal capitalista e do imperialismo global, em favor da extradição
do “terrorista” Cesare Battisti. Interessa à mídia esta extradição
porque uma vitória de um processo jurídico-político tão absurdo como
este, baseado em delação premiada, sem provas e julgado à revelia,
significará uma vitória do consenso autoritário da direita italiana e,
no Brasil, um exemplo do que acontece com aqueles que resistem à ordem,
mesmo que seja aquela ordem dos “anos de chumbo” italianos ou
brasileiros.
Para a Rede Globo especificamente, ver Berlusconi desfilar com a
cabeça de Battisti no parlamento da direita italiana, seria o mesmo que
desfilar com a cabeça de Lula no Jornal Nacional e Jornal da Globo, dado
que a extradição só é possível com base em um golpe constitucional que
pode ser promovido pelo Supremo Tribunal Federal, contrariando as ordens
do ex-presidente num precedente perigoso. Para empresas golpistas como a
Globo, a extradição significa um cala a boca no Governo Dilma e na
autoridade do ex-presidente Lula. Esta campanha adquire uma força
brutal, apesar da mobilização pela extradição ser de apenas setores da
direita, da mídia e até de uma certa centro-esquerda; nas ruas, somente
na Itália houve demonstrações da extrema direita, fascistas e setores de
uma esquerda ressentida. O que vale, para eles, é mostrar que o Brasil
não é uma nação soberana.
Uma ampla coalizão da direita brasileira, como o PSDB e DEM, os
oligopólios desafetos ao PT como a Rede Globo, Folha de S. Paulo, O
Estado de S. Paulo, Veja (entre outros, conhecidos na blogosfera da
esquerda como Partido da imprensa Golpista, por serem politicamente uma
espécie de primeira coluna do antipetismo e antissocialismo, de
ideologias antitrabalhadores e criminalizantes dos movimentos sociais),
começou cedo os ataques. A Folha, por exemplo, conseguiu bater de
largada um recorde de golpismo, com 35 manchetes negativas relativas ao
Governo Dilma em 7 dias, forçando a barra e tratando o leitor como
idiota.
Resta saber se a presidenta Dilma Rousseff e seu governo irão avançar
em pautas tão urgentes como a efetiva democratização da comunicação,
abertura dos arquivos, julgamento dos torturadores através de uma
Comissão da Verdade e a realização da sempre adiada reforma agrária, ou
se ajoelharão perante as exigências daqueles que investiram mais de
R$150 milhões para financiar a campanha eleitoral.
*Lucas de Mendonça Morais é jornalista e editor brasileiro do Diário Liberdade
Dia da Visibilidade das Travestis: Brasil se mobiliza pela visibilidade positiva das travestis
Do sitio dos direitos humanos
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República (SDH/PR) participa, a partir desta sexta-feira (28), de uma
série de eventos relacionados com 29 de Janeiro – Dia da Visibilidade
das Travestis, a data celebra a primeira vez que este grupo de
brasileiras entrou no Congresso Nacional, em Brasília (DF), no ano de
2004. Era o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, do
Departamento DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Foi a
primeira campanha nacional idealizada e pensada pelas próprias travestis
para promoção do respeito e da cidadania.
"A afirmação dos direitos de travestis e transexuais é uma das prioridades da Secretaria dos Direitos Humanos”, afirma a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Segundo ela, é preciso reduzir as vulnerabilidades de travestis e transexuais no Brasil para que se possa fazer o enfrentamento da violência e do preconceito.
Carla Amaral, diretora-presidente do Transgrupo Marcela Prado, da Associação de Travestis e Transexuais, de Curitiba, afirma: "a vulnerabilidade das travestis e transexuais infelizmente é algo que em todos os estados e cidades é um fato do cotidiano. A violência que sofremos é algo que precisa ser notado não somente por nós e sim por todos. Também precisam ser tomadas providências de forma igualitária sem distinção. Travestis e transexuais não devem ser sinônimo de violência, assassinatos e marginalidade."
As atividades deste ano são as mais diversas possíveis, desde a divulgação da campanha “Olhe, olhe de novo e veja além do preconceito. Sou travesti tenho direito de ser quem eu sou”, seminários, pit stops, encontros, manifestos, etc.
São Paulo (SP) - Nesta sexta-feira (28) em São Paulo (SP), o Ministério da Saúde, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e a Secretaria Municipal de Saúde promovem solenidade alusiva à data, às 19h30, na Casa das Rosas, avenida Paulista, nº 37. A assessora especial da SDH Salete Valesan Camba, representa a ministra Rosário na cerimônia.
A parceria com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, o Ministério da Saúde, e outros órgãos governamentais federais, estaduais e municipais se dá pelo reconhecimento da vulnerabilidade da população de travestis e transexuais, em especial à violência e às doenças sexualmente transmissíveis. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, entre 1980-2011 foram assassinadas 962 travestis e transexuais no Brasil, uma média de um homicídio a cada 10 dias.
Brasília (DF) - 3º Seminário da Visibilidade de Travestis e Transexuais do Distrito Federal:
O 3º Seminário da Visibilidade de Travestis e Transexuais do Distrito Federal, promovido pela ONG Elos LGBT/DF e AnavTrans, acontece hoje (28), a partir das 19h, no auditório da CUT/DF, localizado no endereço SDS Ed. Venâncio V Subsolo, Brasília (DF).
O coordenador-geral do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, Igo Martini, representa a ministra Maria do Rosário no encontro.
O debate abordará a realidade de travestis e transexuais no Distrito Federal e Entorno, na vida social, afetiva, da educação, da saúde, da segurança pública, do trabalho, fundamentalmente, dos direitos humanos, em razão do Dia da Visibilidade das Travestis e Transexuais que se comemora no dia 29 de janeiro.
O objetivo é propiciar debate para a a voz de pessoas travestis e transexuais, sua realidade, obstáculos e oportunidades na sociedade, a partir da interação com representantes da sociedade civil, do governo local e federal, do poder legislativo, do poder judiciário, das entidades sindicais, das entidades em defesa dos direitos humanos e da universidade.
O tema central do ddebate será “Despatologização da Transexualidade – A Realidade das Travestis e Transexuais de Brasília e do Brasil” e retomar a interlocução com o governo do Distrito Federal acerca do andamento das demandas no âmbito da educação, da saúde, da segurança pública, trabalho e demais setores governamentais.
A idealização, organização e execução do evento estão sob a responsabilidade da ONG Elos LGBT/DF e da Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à Vida de Travestis e Transexuais do Distrito Federal e Entorno - ANAV-TRANSDF/DF.
Porto Alegre (RS) - Sou travesti e tenho o Direito de ser quem eu sou" é o slogan da Campanha que será mostrada neste sábado, na Feira de Artesanato da rua José Bonifácio, em Porto Alegre, entre as 14h e 17h, para marcar o Dia Nacional da Visibilidade das Travestis. O Coordenador-geral de Promoção dos Direitos de LGBT, Gustavo Bernardes, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República participará da mobilização.
A Igualdade, Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul, responsável pela campanha no Estado, irá distribuir material gráfico e expor banners da campanha "Veja além do preconceito". Em Porto Alegre os banners serão colocados em todos os postos municipais de saúde.
A campanha tem como objetivo sensibilizar a população contra a discriminação social e todo tipo de preconceito contra travestis, transexuais e transgêneros. Para Marcelly Malta, presidente da ONG Igualdade, "o importante é mostrar que as travestis tem os mesmos direitos que qualquer cidadão. Direito à saúde, a habitação, ao trabalho, a ter uma vida afetiva e ser respeitada pelo seu nome social", conclui.
Pauta - Outra reivindicação é que todos os municípios e estados reconheçam o nome social de travestis e transexuais nas escolas. Desde 2008 uma campanha de sensibilização nacional vem sendo realizada em parceria entre a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a ABGLT e outras organizações junto às secretarias estaduais de educação, com o objetivo à criação de portarias ou outras medidas para adoção do nome social de travestis e transexuais. 16 estados já aprovaram medidas neste sentido, com o objetivo de promover a inclusão de travestis e transexuais no ambiente escolar. Tathiane Araújo, Secretária de Direitos Humanos da ABGLT, esclarece: “através de pesquisa realizada pela ASTRA-Sergipe por meio do projeto Transpondo Barreiras nos anos de 2009 e 2010, identificamos que mais de 87% das travestis e transexuais acessadas pelo projeto se afastaram da escola ou não procuraram o serviço de saúde pelo constrangimento de ser chamada pelo seu nome de registro. Acho que esta é a atual bandeira de luta do movimento de travestis e transexuais que precisam deste reconhecimento, pois é constrangedor viver sendo tratada por um nome que não reflete sua identidade de gênero. As legislações estaduais e municipais junto alguns decretos já concretizam uma grande conquista.”
Segundo Toni Reis, presidente da ABGLT, “no dia 29 de janeiro temos alguns avanços para comemorar, mas ainda há muito o que fazer.” Afirmou ainda que “é fundamental diminuir a vulnerabilidade institucional, social e individual para que as travestis não sejam vítimas do HIV/aids, de assassinatos e de exclusão. O importante é o respeito à identidade de gênero de cada pessoa. É fundamental o acesso a educação, trabalho, justiça, segurança para todos e todas.”
“Vamos conclamar a todos que respeitem as travestis não só no dia 29 de janeiro, mas em todos os dias do ano”, acrescenta Keila Simpson.
Utilidade - Disque 100 | O Governo Federal por meio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República lançou em dezembro de 2010 o Disque Direitos Humanos – módulo LGBT. O serviço é gratuito, funciona 24 horas e pode ser acessado ligando para o número 100. “Disque 100”.
"A afirmação dos direitos de travestis e transexuais é uma das prioridades da Secretaria dos Direitos Humanos”, afirma a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Segundo ela, é preciso reduzir as vulnerabilidades de travestis e transexuais no Brasil para que se possa fazer o enfrentamento da violência e do preconceito.
Carla Amaral, diretora-presidente do Transgrupo Marcela Prado, da Associação de Travestis e Transexuais, de Curitiba, afirma: "a vulnerabilidade das travestis e transexuais infelizmente é algo que em todos os estados e cidades é um fato do cotidiano. A violência que sofremos é algo que precisa ser notado não somente por nós e sim por todos. Também precisam ser tomadas providências de forma igualitária sem distinção. Travestis e transexuais não devem ser sinônimo de violência, assassinatos e marginalidade."
As atividades deste ano são as mais diversas possíveis, desde a divulgação da campanha “Olhe, olhe de novo e veja além do preconceito. Sou travesti tenho direito de ser quem eu sou”, seminários, pit stops, encontros, manifestos, etc.
São Paulo (SP) - Nesta sexta-feira (28) em São Paulo (SP), o Ministério da Saúde, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e a Secretaria Municipal de Saúde promovem solenidade alusiva à data, às 19h30, na Casa das Rosas, avenida Paulista, nº 37. A assessora especial da SDH Salete Valesan Camba, representa a ministra Rosário na cerimônia.
A parceria com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, o Ministério da Saúde, e outros órgãos governamentais federais, estaduais e municipais se dá pelo reconhecimento da vulnerabilidade da população de travestis e transexuais, em especial à violência e às doenças sexualmente transmissíveis. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, entre 1980-2011 foram assassinadas 962 travestis e transexuais no Brasil, uma média de um homicídio a cada 10 dias.
Brasília (DF) - 3º Seminário da Visibilidade de Travestis e Transexuais do Distrito Federal:
O 3º Seminário da Visibilidade de Travestis e Transexuais do Distrito Federal, promovido pela ONG Elos LGBT/DF e AnavTrans, acontece hoje (28), a partir das 19h, no auditório da CUT/DF, localizado no endereço SDS Ed. Venâncio V Subsolo, Brasília (DF).
O coordenador-geral do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, Igo Martini, representa a ministra Maria do Rosário no encontro.
O debate abordará a realidade de travestis e transexuais no Distrito Federal e Entorno, na vida social, afetiva, da educação, da saúde, da segurança pública, do trabalho, fundamentalmente, dos direitos humanos, em razão do Dia da Visibilidade das Travestis e Transexuais que se comemora no dia 29 de janeiro.
O objetivo é propiciar debate para a a voz de pessoas travestis e transexuais, sua realidade, obstáculos e oportunidades na sociedade, a partir da interação com representantes da sociedade civil, do governo local e federal, do poder legislativo, do poder judiciário, das entidades sindicais, das entidades em defesa dos direitos humanos e da universidade.
O tema central do ddebate será “Despatologização da Transexualidade – A Realidade das Travestis e Transexuais de Brasília e do Brasil” e retomar a interlocução com o governo do Distrito Federal acerca do andamento das demandas no âmbito da educação, da saúde, da segurança pública, trabalho e demais setores governamentais.
A idealização, organização e execução do evento estão sob a responsabilidade da ONG Elos LGBT/DF e da Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à Vida de Travestis e Transexuais do Distrito Federal e Entorno - ANAV-TRANSDF/DF.
Porto Alegre (RS) - Sou travesti e tenho o Direito de ser quem eu sou" é o slogan da Campanha que será mostrada neste sábado, na Feira de Artesanato da rua José Bonifácio, em Porto Alegre, entre as 14h e 17h, para marcar o Dia Nacional da Visibilidade das Travestis. O Coordenador-geral de Promoção dos Direitos de LGBT, Gustavo Bernardes, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República participará da mobilização.
A Igualdade, Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul, responsável pela campanha no Estado, irá distribuir material gráfico e expor banners da campanha "Veja além do preconceito". Em Porto Alegre os banners serão colocados em todos os postos municipais de saúde.
A campanha tem como objetivo sensibilizar a população contra a discriminação social e todo tipo de preconceito contra travestis, transexuais e transgêneros. Para Marcelly Malta, presidente da ONG Igualdade, "o importante é mostrar que as travestis tem os mesmos direitos que qualquer cidadão. Direito à saúde, a habitação, ao trabalho, a ter uma vida afetiva e ser respeitada pelo seu nome social", conclui.
Pauta - Outra reivindicação é que todos os municípios e estados reconheçam o nome social de travestis e transexuais nas escolas. Desde 2008 uma campanha de sensibilização nacional vem sendo realizada em parceria entre a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a ABGLT e outras organizações junto às secretarias estaduais de educação, com o objetivo à criação de portarias ou outras medidas para adoção do nome social de travestis e transexuais. 16 estados já aprovaram medidas neste sentido, com o objetivo de promover a inclusão de travestis e transexuais no ambiente escolar. Tathiane Araújo, Secretária de Direitos Humanos da ABGLT, esclarece: “através de pesquisa realizada pela ASTRA-Sergipe por meio do projeto Transpondo Barreiras nos anos de 2009 e 2010, identificamos que mais de 87% das travestis e transexuais acessadas pelo projeto se afastaram da escola ou não procuraram o serviço de saúde pelo constrangimento de ser chamada pelo seu nome de registro. Acho que esta é a atual bandeira de luta do movimento de travestis e transexuais que precisam deste reconhecimento, pois é constrangedor viver sendo tratada por um nome que não reflete sua identidade de gênero. As legislações estaduais e municipais junto alguns decretos já concretizam uma grande conquista.”
Segundo Toni Reis, presidente da ABGLT, “no dia 29 de janeiro temos alguns avanços para comemorar, mas ainda há muito o que fazer.” Afirmou ainda que “é fundamental diminuir a vulnerabilidade institucional, social e individual para que as travestis não sejam vítimas do HIV/aids, de assassinatos e de exclusão. O importante é o respeito à identidade de gênero de cada pessoa. É fundamental o acesso a educação, trabalho, justiça, segurança para todos e todas.”
“Vamos conclamar a todos que respeitem as travestis não só no dia 29 de janeiro, mas em todos os dias do ano”, acrescenta Keila Simpson.
Utilidade - Disque 100 | O Governo Federal por meio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República lançou em dezembro de 2010 o Disque Direitos Humanos – módulo LGBT. O serviço é gratuito, funciona 24 horas e pode ser acessado ligando para o número 100. “Disque 100”.
Cem anos da Revolução Mexicana
Escrito por Grupo São Paulo no Correio da Cidadania | |
O legado da Revolução Mexicana nos traz dilemas e feridas ainda abertas
até os dias de hoje. Nesse momento histórico e político da realidade
contemporânea, em que o princípio das grandes revoluções parece ter se
esgotado, será que compreendemos de fato quais foram as forças políticas
atuantes naquele período? Para pensadores, como Adolfo Gilly, tratou-se
de uma "revolução inacabada", nome dado inclusive para o seu célebre e
ainda fundamental livro.
Os chamados neo-zapatistas estariam completando, em pleno século XXI, o
que não tem sido feito há cem anos? Para refletir sobre isso é
necessário, antes de tudo, compreender como estava, historicamente
falando, o México pré-revolução. O quadro político do período que
antecedeu à data oficial da revolução - 20 de novembro de 1910 – começou
a ser delineado após declaração de independência do país, em 16 de
setembro de 1810.
Daquele período em diante, conservadores, moderados e liberais iniciaram
uma luta, muitas vezes sangrenta, para colocar em prática os seus
interesses. Enquanto os conservadores ansiavam por um retorno ao
passado, em que a hegemonia do poder estava nas mãos da Igreja Católica,
os moderados perfilaram-se com os liberais mais radicais sem, no
entanto, propor o fim dos privilégios da Igreja.
A aprovação da constituição mexicana de 1857 foi uma vitória dos
moderados. Ela retirou da Igreja Católica o título de religião oficial,
mas não aboliu os seus privilégios, desagradando tanto conservadores,
como liberais. Essa turbulência política só veio a se dissipar após a
chamada Guerra da Reforma (dezembro de 1857 a janeiro de 1861), quando o
liberal Benito Juárez assumiu o poder.
Em seu longo governo (1858-1872), Benito Juárez delineou os primeiros
contornos do que é o México hoje. Venerado como herói carismático, de um
lado, ele jamais abandonou a sua origem indígena nem deixou a defesa de
teses como respeito e liberdade; por outro lado, foi contraditório ao
retirar as terras dos indígenas sob a justificativa de que o campo não
deveria ficar para trás em relação ao frenético ritmo exigido pelo
capitalismo.
Com a morte de Benito Juárez, o novo presidente, Sebastian Lerdo de
Tejada, radicalizou as idéias liberais do Estado mínimo e da liberdade
de mercado, o que desagradou os seguidores de Porfírio Díaz, alinhados à
teoria positivista do Estado. Para os porfiristas, que ficaram no poder
de 1876 a 1911, o capitalismo só progrediria se coibisse os excessos do
individualismo liberal e reprimisse "desvios" de quaisquer espécies, o
que significou a eliminação dos Ejidos (terras comunais indígenas) e o
massacre de povos indígenas, considerados "primitivos" e contrários ao
capitalismo monopolista. Resultado: entre 1876 e 1900, o México cresceu
algo em torno de 8% ao ano, mas à custa do aumento da miserabilidade da
grande maioria da população.
Estavam criadas todas as condições para a Revolução Mexicana de 1910. A
frente revolucionária ficou dividia entre, de um lado, o grupo liberal
democrata burguês, representado, entre outros, por Camilo Arriaga e
Francisco Madero e, de outro lado, Emiliano Zapata e Pancho Villa, que
dariam o tom mais progressista e realmente interessado em defender os
interesses dos camponeses e indígenas.
Influenciados por um liberalismo mais radical e depois ligados à teoria
anarquista, temos ainda os irmãos Ricardo e Enrique Flores Magón, que
foram defensores de uma coligação com operários e camponeses na luta
contra a desigualdade social, condenando um país em que a elite branca
acumulava cada vez mais renda.
No período da revolução, o então ditador e presidente Porfírio Díaz
temia que o avanço de Madero pudesse insuflar ainda mais os
revolucionários Zapata e Villa. Já Madero desejava uma mudança pacífica,
que abriria as portas do México para o capitalismo moderno. Na prática,
o seu interesse era o de combater as massas e impedir que os movimentos
camponeses e indígenas radicalizassem a revolução.
No outro lado dessa complexa realidade, apesar de muitos camponeses e
indígenas terem sido cooptados pelos grandes fazendeiros, foram eles que
revelaram o chamado "México profundo", um modo de vida que a
subjetividade capitalista não conseguiu liquidar. O grito de "Ya Basta",
proferido pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em
1994, revelou que o México dos indígenas e camponeses de 1910 permaneceu
vivo e pulsante.
Essa "memória coletiva", que não foi substituída pela crença no
progresso e na homogeneização das relações humanas e culturais, manteve
acesos os principais pilares deixados por Emiliano Zapata e Pancho
Villa: Terra para quem nela trabalha. Foi esse o principal legado
deixado pela revolução de 1910. Em nenhum momento, Zapata e Villa
assumiram o poder. No entanto, eles não deixaram que a revolução
seguisse apenas o pressuposto da homogeneidade. "Queremos um mundo onde
caibam todos os mundos". Essas palavras, proferidas pelos zapatistas no
final do século XX, vão ao encontro do que Zapata e Villa plantaram no
início do século.
Guga Dorea, Marietta Sampaio, Andrea Paes Alberico, Elisa Helena
Rocha de Carvalho, José Juliano de Carvalho Filho, João Xerri e Thomaz
Ferreira Jensen, do Grupo de São Paulo - um grupo de pessoas que se
revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto
Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima
para a Liberdade, de Petrópolis, RJ.
Colaborou Alejandro Buenrostro.
Contato:
gruposp@correiocidadania.com.br
|
A valorização docente e a qualidade da educação: equação necessária
Isabel Letícia Pedroso de Medeiros (*)
A rede municipal de ensino de Porto Alegre, já há alguns anos, é alvo
de questionamentos sobre a qualidade de ensino ofertada, seja pela
organização em ciclos de formação (que supostamente, pelo “afrouxamento”
da avaliação entendida como reprovação, estimularia professores e
alunos à indolência), seja pelo resultado dos estudantes nas avaliações
padronizadas, sempre inferiores a outras redes, não obstante o bom
salário, boa formação acadêmica dos docentes e as boas condições das
escolas.
Muito embora esse questionamento tenha origem na perspectiva
mercadológica em educação, na “gestão de resultados”, feita via de regra
por atores que ocuparam funções de gestão educacional ser ter deixado
no seu legado nenhuma evidência/resultado de elevação da qualidade, ao
contrário, em geral contribuíram para a precarização e sucateamento das
redes públicas, devemos levá-la a sério, buscar analisá-la e respondê-la
não a partir do intencional simplismo matemático que povoa o
questionamento, mas na sua complexidade e profundidade que merece, com o
compromisso genuíno com a elevação da qualidade social da educação,
reconhecendo que no nosso
país recém podemos falar em educação como política pública e direito de todos a partir das duas últimas décadas, período bastante tardio no qual estamos acompanhados apenas pelos países mais miseráveis do globo, bem como concordando que os professores podem e devem avançar nas suas estratégias didático metodológicas, o que certamente contribuirá para um cenário mais favorável nos processos de ensino aprendizagem. Não é pretensão aqui fazer esse necessário aprofundamento analítico, mas apenas apresentar alguns elementos para a reflexão.
país recém podemos falar em educação como política pública e direito de todos a partir das duas últimas décadas, período bastante tardio no qual estamos acompanhados apenas pelos países mais miseráveis do globo, bem como concordando que os professores podem e devem avançar nas suas estratégias didático metodológicas, o que certamente contribuirá para um cenário mais favorável nos processos de ensino aprendizagem. Não é pretensão aqui fazer esse necessário aprofundamento analítico, mas apenas apresentar alguns elementos para a reflexão.
O primeiro elemento a considerar são as avaliações padronizadas,
importadas de modelos educacionais de outros países: como todo o padrão,
esse tipo de avaliação é questionável por “passar uma régua cega” sobre
uma população cuja diversidade cultural e desigualdade social atingem
níveis abismais. A padronização que buscam estabelecer é firmemente
criticada pelos defensores do respeito às diferenças e à diversidade.
Sem querer banalizar a discussão, é como se todos devessem ter altura
suficiente para firmar-se no varão dos ônibus, ou usar o mesmo número de
roupa, ou caber nas poltronas dos cinemas. Por que deveria haver um
padrão cognitivo?
Essas avaliações, a partir das análises feitas nos Estados Unidos
inclusive por eximplementadores dessas políticas, não elevam a
qualidade, apenas criam efeitos a partir do treinamento para responder a
testes, deixando de lado a formação crítica e integral. Afortunadamente
o Brasil deixou de gastar muito dinheiro público em vão com essas
avaliações e aproveitou-as para uma iniciativa louvável: o Governo
Federal passou a destinar mais recursos para aqueles municípios e
escolas que não apresentam o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB), nos valores desejados.
Se faz necessário dar um salto qualitativo na gestão educacional e
buscar modelos de avaliação institucional que considerem o “efeito
escola”, ou seja, como o estudante chegou, qual o seu contexto de
existência, e o que a escola agregou a ele e a sua comunidade. Quem é o
melhor professor? Aquele que aprovou um estudante oriundo da classe
média que já entrou alfabetizado na escola ou aquele que alfabetizou em
um ou dois anos, mesmo que com ortografia insipiente, uma criança filha
de analfabetos que desconhecia as letras e não sabia pegar o lápis? Quem
tem mais condições de aprendizagem? O órfão do “crack” que consegue
aprender a ler na escola ou a criança que, acolhida em uma família com
condições afetivas, sociais e econômicas cria um ambiente alfabetizador
desde o berço? São questões complexas e relativas que devemos
considerar.
Ao focalizarmos no local, se faz necessário dizer que a rede
municipal de ensino ampliou-se nas duas últimas décadas justamente na
periferia, onde se concentram as populações em condições de
miserabilidade. Conforme exaustivos estudos no campo da sociologia da
educação, as condições sociais interferem significativamente na
escolarização, o diferente e desigual “capital cultural”, como nos
ensina o sociológo francês Bourdieu, constitui relações diferentes e
desiguais com a cultura escolar. O sítio Observatório da Cidade de Porto Alegre”
traz importantes informações que podem fundamentar projetos específicos
para essa parcela da população, bem como mapear as diferenças e
desigualdades no território da cidade.
Outro aspecto importante: apesar da cobertura relativamente reduzida
de matrículas da cidade – vinte por cento do total -, a rede municipal
de ensino é responsável por cinquenta por cento das matrículas ditas de
inclusão/pessoas com necessidades especiais da cidade e sessenta por
cento das matrículas em educação de jovens e adultos (EDUCACENSO 2010).
Portanto, a rede municipal de ensino atua firmemente na inclusão de
parcelas da população historicamente excluídas. Em nenhum outro período
histórico o nível de escolarização na cidade (assim como no nosso país)
foi tão alto, nunca antes as pessoas com necessidades especiais tiveram
tanto acesso, nem os adultos excluídos, tampouco o índice de
analfabetismo foi tão baixo no município. Esse cenário se deve ao
trabalho dos professores da rede municipal de ensino, que diferente de
outras redes, incluem essas populações que “baixam” os índices dos
testes padronizados.
Assim, fazemos um apelo para que a mídia e as autoridades proponham
uma discussão séria a esse respeito, e não busquem escusas para os
baixos salários e a precarização das condições das escolas. Podemos
qualificar nosso trabalho e elevar a qualidade social da educação?
Certamente. Para isso continuaremos atuando na defesa de salários
dignos, formação continuada, condições de trabalho para nós. E nos
somando as lutas por uma vida digna, com trabalho, saúde, moradia digna,
proteção à infância e à juventude, enfim, direito à cidadania, para a
população de Porto Alegre.
(*) Professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre desde
1989, doutora em educação pela FACED/UFRGS e diretora geral da
Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre –
ATEMPA.
Mudanças nas comunicações geram especulação na mídia
Redação do Portal vermelho
Na esteira do debate sobre a comunicação, o governo Dilma Rousseff tem dado sinalizações que podem resultar em posições divergentes sobre o assunto. E, por sua natureza, o tema tem gerado também especulações variadas na imprensa. Por um lado, segundo noticiou a Folha de S.Paulo hoje (28), a presidente estaria pretendendo buscar o consenso junto ao setor empresarial antes de enviar projeto de regulação da mídia ao Congresso e defenderia um “debate técnico” e “sem contaminações ideológicas”.
Se for verdade, pode haver um
impasse no debate. Afinal, recentemente o ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, indicou a intenção de discutir o tema com a sociedade
por meio de audiências públicas. Ainda que os dois eixos não se excluam,
é importante ressaltar que empresários e movimentos sociais – que farão
parte desse debate público – costumam ter visões muitas vezes
antagônicas sobre o tema. Enquanto os donos da mídia buscam manter tudo
como está, os movimentos buscam pressionar para que haja maior
democracia e menos concentração.
Soma-se a isso o fato de analistas da mídia alternativa e de fóruns de debate sobre o assunto sustentarem que, embora positiva a indicação de debater o tema com a sociedade, tal posicionamento acabaria excluindo os resultados da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
O artigo do jornal paulista, assinado por Valdo Cruz, Ana Flor e Breno Costa, foca-se, no entanto, em desqualificar a relação que Lula manteve com a mídia e na especulação sobre como deverá ser o perfil de Dilma no tratamento com a imprensa.
O fato é que neste primeiro mês de governo, há muitos desencontros sobre o tema, desencontros esses alimentados pela mídia hegemônica preocupada em manter seu poder concentrado e inabalável. Exemplo disso é o caso da concessão de licença única para que as empresas de telefonia possam oferecer acesso à internet via banda larga, tevê a cabo e telefonia fixa e móvel.
O Estado de S.Paulo desta quinta-feira (27) noticiava: “o governo vai abandonar o debate sobre a proibição da propriedade cruzada nos meios de comunicação por estar convencido de que o desenvolvimento tecnológico tornou a discussão obsoleta. O conceito de convergência das mídias, que consolidou o tráfego simultâneo de dados e noticiários em todas as plataformas - da impressa à digital -, pôs na mesa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um projeto de concessão única”. Por erro ou má fé, o jornal confundia no texto propriedade cruzada com licença única.
Em seu blog, o jornalista Luís Nassif apontou a confusão e disparou: “Chamei atenção, aqui, que radiodifusão nada tinha a ver com convergência de mídia. Esta, trafega pela Internet; a outra, pelo espectro eletromagnético, que, por limitado, necessita ser regulado. Como a matéria foi assinada por três diretores de redação, houve a suspeita geral de que a convergência de mídias estivesse sendo utilizada como álibi para não mexer na propriedade cruzada”.
Paulo Bernardo, por sua vez, negou que o governo estivesse analisando a possibilidade de haver apenas uma licença para o setor de radiodifusão e deixou claro que o debate está apenas no começo. "É uma discussão que está sendo feita na agência (Anatel) sobre a possibilidade da licença única para a área de telecomunicações, com a possibilidade, nesse processo de convergência de mídias, que as empresas licenciadas possam fazer outras mídias", afirmou.
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse ontem que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estuda conceder uma licença única para empresas de telefonia oferecerem acesso à internet via banda larga, TV a cabo e telefonia fixa e móvel. O tema segue sendo debatido, sem definições estabelecidas.
Na reunião da Comissão Política do PCdoB que está sendo realizada hoje em São Paulo, o tema veio à tona: os comunistas reafirmam que a democratização da comunicação é uma das reformas estruturais inadiáveis.
Soma-se a isso o fato de analistas da mídia alternativa e de fóruns de debate sobre o assunto sustentarem que, embora positiva a indicação de debater o tema com a sociedade, tal posicionamento acabaria excluindo os resultados da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
O artigo do jornal paulista, assinado por Valdo Cruz, Ana Flor e Breno Costa, foca-se, no entanto, em desqualificar a relação que Lula manteve com a mídia e na especulação sobre como deverá ser o perfil de Dilma no tratamento com a imprensa.
O fato é que neste primeiro mês de governo, há muitos desencontros sobre o tema, desencontros esses alimentados pela mídia hegemônica preocupada em manter seu poder concentrado e inabalável. Exemplo disso é o caso da concessão de licença única para que as empresas de telefonia possam oferecer acesso à internet via banda larga, tevê a cabo e telefonia fixa e móvel.
O Estado de S.Paulo desta quinta-feira (27) noticiava: “o governo vai abandonar o debate sobre a proibição da propriedade cruzada nos meios de comunicação por estar convencido de que o desenvolvimento tecnológico tornou a discussão obsoleta. O conceito de convergência das mídias, que consolidou o tráfego simultâneo de dados e noticiários em todas as plataformas - da impressa à digital -, pôs na mesa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um projeto de concessão única”. Por erro ou má fé, o jornal confundia no texto propriedade cruzada com licença única.
Em seu blog, o jornalista Luís Nassif apontou a confusão e disparou: “Chamei atenção, aqui, que radiodifusão nada tinha a ver com convergência de mídia. Esta, trafega pela Internet; a outra, pelo espectro eletromagnético, que, por limitado, necessita ser regulado. Como a matéria foi assinada por três diretores de redação, houve a suspeita geral de que a convergência de mídias estivesse sendo utilizada como álibi para não mexer na propriedade cruzada”.
Paulo Bernardo, por sua vez, negou que o governo estivesse analisando a possibilidade de haver apenas uma licença para o setor de radiodifusão e deixou claro que o debate está apenas no começo. "É uma discussão que está sendo feita na agência (Anatel) sobre a possibilidade da licença única para a área de telecomunicações, com a possibilidade, nesse processo de convergência de mídias, que as empresas licenciadas possam fazer outras mídias", afirmou.
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse ontem que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estuda conceder uma licença única para empresas de telefonia oferecerem acesso à internet via banda larga, TV a cabo e telefonia fixa e móvel. O tema segue sendo debatido, sem definições estabelecidas.
Na reunião da Comissão Política do PCdoB que está sendo realizada hoje em São Paulo, o tema veio à tona: os comunistas reafirmam que a democratização da comunicação é uma das reformas estruturais inadiáveis.
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