Por Eurides Alves de Oliveira e Magnus Regis no Correio do Brasil
Comercialização
criminosa que coloca as pessoas a serviço do lucro, ferindo gravemente o
ser humano no que tem de mais precioso: sua dignidade e liberdade de
filhos e filhas de Deus,
sujeitos e cidadãos/ãs de direitos. Esta é uma das muitas definições
sobre o Tráfico de Seres Humanos (TSH), prática criminosa hedionda, que
atinge cerca de 2,5 milhões de vítimas, movimentando, aproximadamente,
32 bilhões de dólares por ano. (UNODC Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime). Atualmente, esse crime está relacionado a práticas
criminosas de violações aos direitos humanos, para fins de exploração
sexual comercial, muitas vezes, ligadas a roteiros de turismo sexual, de
mão-de-obra escrava, e também, para remoção e venda e de órgãos.
O
Tráfico de Seres Humanos, cujas vítimas em potencial são as mulheres,
as crianças e adolescentes, constituem uma das formas mais explicitas da
escravidão do século XXI. Vulnera e viola a dignidade e a liberdade de
numerosas mulheres e meninas, mercantilizando e ferindo seus corpos,
matando seus sonhos e direito de viver. O tráfico de pessoas configura
hoje uma das piores afrontas à dignidade humana e uma das mais cruéis
violações dos direitos humanos. Uma rede lucrativa que ocupa o terceiro
lugar na economia mercadológica do crime organizado, perdendo apenas
para o tráfico de armas e drogas. Estima-se que 700 mil mulheres e
crianças passam todos os anos pelas fronteiras internacionais do tráfico
humano. Isso sem contabilizar o tráfico interno, que no nosso País e
alarmante.
A pobreza, o desemprego, bem como a ausência de
educação e de acesso aos recursos constituem as causas subjacentes ao
Tráfico de Seres Humanos. As mulheres são particularmente vulneráveis ao
tráfico de seres humanos devido à feminização da pobreza, à cultura de
discriminação e desigualdade entre homens e mulheres, a cultura
hedonista que transforma o corpo da mulher em objeto de desejo e cobiça…
O clamor das mulheres, adolescentes e crianças traficadas, se impõem,
hoje, como um eloqüente grito pela vida.
A maioria das vítimas do TSH são mulheres, adolescentes e crianças que têm em comum o mesmo perfil social, marcado pela vulnerabilidade social e suas consequências: analfabetismo, desemprego, imigração, exclusão social e vêem na possibilidade de sair do seu espaço uma oportunidade de conseguir melhoria de vida, conforto financeiro, fama, reconhecimento e outras tantas características nessa linha de raciocínio.
A maioria das vítimas do TSH são mulheres, adolescentes e crianças que têm em comum o mesmo perfil social, marcado pela vulnerabilidade social e suas consequências: analfabetismo, desemprego, imigração, exclusão social e vêem na possibilidade de sair do seu espaço uma oportunidade de conseguir melhoria de vida, conforto financeiro, fama, reconhecimento e outras tantas características nessa linha de raciocínio.
É em cima destas
aspirações que agem os aliciadores, na sua maioria homens de
escolaridade superior associados a negócios ilícitos como drogas,
prostituição e lavagem de dinheiro e que aparentam estar acima de
qualquer suspeita, que procuram suas vítimas através das agências de
emprego, casamento, moda, viagens, internet (sites de relacionamento) e
em redes de entretenimento como shoppings, bares, restaurantes, clubes e
danceterias.
Uma vez seduzidas e conquistadas pelos aliciadores,
as vítimas são levadas para Estados ou países distantes, perdem a
referência de local, têm seus passaportes confiscados, vêem-se
endividadas, são privadas do contato com familiares, ameaçadas,
espancadas e forçadas a trabalhar sem carga horária definida, em
situação de cárcere privado na prostituição forçada ou outras prática
análogas à escravidão.
Todos estes fatores alimentam o crescimento
das estatísticas e cifras econômicas. A prática criminosa do TSH é hoje
a terceira fonte de renda mundial do crime organizado, perdendo apenas
para o tráfico de drogas e de armas. As estatísticas mostram que, dos
casos encontrados, 81% são mulheres e meninas com menos de 18 anos. No
Brasil, números da PESTRAF (Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças
e Adolescentes para fins de exploração sexual) realizada pelo CECRIA,
apontam a existência de 241 rotas de tráfico, sendo 131 internacionais e
110 nacionais. Além disso, 75 mil brasileiras são traficadas,
exploradas sexualmente, em regime de escravidão nos países da Europa.
Estes números estão crescendo, e neles há corpos, que gemem e gritam por
socorro. São milhares de mulheres, crianças e adolescentes violentadas,
torturadas física, moral e psicologicamente. Precisamos dar um BASTA
nessa ação criminosa que afronta brutalmente a dignidade humana e o
próprio Deus, criador de todos/as. Urge uma ação determinada e firme das
autoridades competentes, bem coibir, punir os que traficam e ao estado e
toda sociedade no sentido de denunciar, informar, e educar bem como
lutar pela superação das causas geradoras e sustentadora desta iníqua
realidade.
Atentas aos clamores dos empobrecidos e empobrecidas em
cada momento histórico, a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de
Maria (ICM), se deixa interpelar por está realidade e assume, em 2010,
ano da Beatificação de sua fundadora Madre Bárbara Maix: O enfrentamento
ao TSH, intensificando sua integração na Rede “Um Grito pela Vida”,
organização da Vida Religiosa do Brasil em prol da Erradicação do
Tráfico de Seres Humanos, desenvolvendo ações de prevenção, assistência e
incidência política, a fim de coibir a inserção de novas vítimas nesta
rede criminosa e escravista.
Sob o tema e lema: “Um grito, um clamor, um crime
Erradicar
pela solidariedade e promoção da vida: Eis a nossa missão”, a
Congregação ICM, que está presente em 14 Estados brasileiros e em mais
oito países, definiu e estruturou esta nova linha de ação como marco da
Beatificação, uma expressão missionária de volta ao carisma fundacional,
uma vez que a defesa da dignidade das mulheres vítimas da exploração
econômica e moral foi assumida pela Bem-Aventurada Bárbara Maix desde as
origens da Obra, ainda em Viena na Áustria em 1847, conforme cita
documento oficial da Congregação: ”causava-lhe dor ver tantas jovens do
interior, vindas a Viena, com alma pura, em busca de trabalho para uma
vida melhor, sendo aos poucos, levadas à desgraça”.
As Irmãs do
Imaculado Coração de Maria trazem, desde a sua origem, um compromisso
efetivo com as mulheres, jovens e crianças injustiçadas e exploradas.
Como expressão deste compromisso acolhe, hoje, o grito das pessoas
traficadas como uma incisiva convocação evangélica, uma causa que brada
aos céus e as desafia a intervir e agir com força carismático-profética
de forma articulada com todas as pessoas, grupos e organismos que atuam
no enfrentamento desta realidade.
Um marco missionário da
celebração da Beatificação de Bárbara Maix: as Irmãs do Imaculado
Coração de Maria abrem uma nova frente missionária no norte do Brasil e
chegam ao coração da Amazônia. No dia 17 de março de 2011, ao celebrar
os 135 anos da morte e ressurreição Bem-Aventurada Bárbara Maix, será
fundada, oficialmente, a nova comunidade ICM, em Manaus, capital do
Amazonas.
A escolha do Amazonas não é por acaso. Lá está um dos
maiores índices de aliciamento de mulheres e adolescentes para o Tráfico
Humano para países da Europa e para os países vizinhos ao Brasil. Três
Irmãs vão compor a nova comunidade ICM que terá essa finalidade da
prevenção e enfrentamento ao TSH.
Gestos simples que provocam libertação
Compreendendo
que o combate ao Tráfico de Seres Humano é dever do Estado e de toda a
sociedade civil, é importante reagir e agir: Sensibilizar-se e
Informar-se é o primeiro passo para que cada um e cada uma possa ajudar
no enfrentamento. Gestos simples desencadeiam ações de libertação:
Colocar a questão em pauta em todos os espaços possíveis: igrejas,
escolas, hospitais, inserções, obras e projetos sociais, em vista da
formação da consciência e ações de intervenção na realidade. Articular
forças – atuar em redes e parcerias com a sociedade civil e o poder
público. Somar na luta por políticas públicas para a juventude e
mulheres. Rezar e aprofundar esta realidade, à luz da Palavra de Deus.
Ir. Eurides Alves de Oliveira, ICM e Magnus Regis – Irmã do Imaculado Coração de Maria / Magnus é jornalista. Rede Um Grito pela Vida