segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A crise que se matura: do sub-imperialismo à bolha dos alimentos

  Fernando Marcelino   no Correio da Cidadania
 
Conjuntura internacional e o papel do Brasil
 
Hoje, o sentimento geral impulsionado pelas mídias, grandes corporações e governos é que vivemos num mundo "pós-crise". Afinal, pacotes econômicos na escala de trilhões de dólares foram feitos urgentemente para o salvamento de bancos e o restabelecimento do crédito.
 
Entretanto, num contexto amplo dos grandes países centrais, incluindo EUA, Europa Ocidental e o Japão, a recessão, o endividamento público, o colapso fiscal e os planos de austeridade têm se generalizado. Todos sabem que se cortarem os "auxílios estatais" aos bancos o fantasma da depressão reaparecerá e poderá ser muito pior que em 2008. Todos os presidentes e ministros estão atrapalhados e oscilam entre a continuidade do socorro e/ou a introdução de ajustes fiscais drásticos contra o povo.
 
Num panorama mais abrangente a crise global apresenta algumas tendências claras. Estamos vendo: 1) um processo em que o centro capitalista entra em recessão e em que as conquistas sociais do pós-guerra estão sendo – e têm que ser – destruídas; 2) um terrível empobrecimento da periferia mais pobre do planeta, com a multiplicação de desastres sociais que se generalizam, dentre outras razões, pelo encarecimento dos alimentos e a expropriação dos recursos naturais; 3) a ascensão de economias intermediárias (semi-periferia?) como China, Índia, Brasil, África do Sul e Rússia. São países com experiência prévia de dominação regional ou com grandes recursos demográficos e naturais. Existem diversas denominações para descrever estes novos atores (emergentes, BRICS), porém o mais importante é o aumento de seu poder de barganha geopolítica no sistema internacional.
 
De qualquer forma, esses países não atuam em sintonia com projetos de emancipação popular. Cada sub-potência destas tende ainda a privilegiar seus próprios interesses regionais em detrimento de uma ação conjunta e expressam, em última análise, os interesses de setores enriquecidos que aspiram a consolidar seus negócios e seu poder com ações no exterior.
 
Em síntese, na atual fase da crise existem três mudanças de largo alcance: uma reorganização geral das economias mais desenvolvidas, um maior empobrecimento da periferia e a ascensão de vários países intermediários com características sub-imperialistas. Ruy Mauro Marini costumava definir o sub-imperialismo como a "forma que assume a economia dependente ao chegar à etapa dos monopólios e capital financeiro", desdobrando-se em: 1) exercício de uma política externa expansionista relativamente autônoma; 2) uma composição orgânica média na escala mundial dos aparatos produtivos nacionais capazes de apontar nos mercados externos como forma de resolver as contradições internas; 3) contextos de luta de classes em que as alianças da burguesia se dão pela ampliação do mercado externo.
 
No caso do Brasil contemporâneo esse processo coincide com: 1) orientação da política externa brasileira de maior destaque internacional – busca pelo assento no Conselho de Segurança da ONU, comando das tropas MINUSTAH para a "estabilização social" do Haiti desde 2004; 2) a consolidação de uma fração local da burguesia que retoma o interesse no mercado externo por meio da exportação de capitais, principalmente na forma de investimentos diretos. O aumento da composição orgânica das empresas brasileiras transnacionais ampliou a escala da massa de valor em busca de valorização, recolocando a insuficiência do mercado interno para a continuidade do processo de acumulação.
 
Esse processo se reflete na brusca elevação dos Investimentos Diretos brasileiros no exterior, que acumularam entre 2000 e 2008 mais de sete vezes o volume de toda a década de 1990, tendo como espaço privilegiado a América do Sul. Essa internacionalização da burguesia concentra-se setorialmente em recursos naturais (Gerdau, Vale, Petrobrás, Votorantim), engenharia e construção civil (Odebrecht, Andrade Gutierrez) e manufaturas (Marcopolo, Sabó, Embraer, WEG e Tigre). A expansão das transnacionais brasileiras caracteriza-se por ganhar posições monopolistas.
 
Por exemplo, em 2006, a Petrobrás correspondia a 17% do PIB da Bolívia, e grandes produtores brasileiros controlavam 95% da produção de soja paraguaia; na Argentina, a Camargo Correa controla 50% do mercado de cimento e a FrigoBoi controla o mercado de carnes; no Peru, a Votorantim controla 62% da produção de zinco;
 
Por fim, temos o aumento dos conflitos envolvendo a burguesia brasileira em países da América do Sul – empresários da soja em terras paraguaias e bolivianas, Petrobrás na Bolívia, Odebrecht no Equador.
 
O governo Lula procurou trabalhar pelo fortalecimento das relações Sul-Sul a fim de diversificar os destinos das exportações brasileiras. Enquanto a burguesia industrial interna se beneficia com o aumento do acesso aos mercados de países periféricos, bem como da instalação das suas empresas nestes países, a burguesia agrária (agrobusiness) depende em grande medida dos mercados dos países centrais, tendo como destino os EUA, Europa e China. É uma condição contraditória de dependência e conquista, de servidão e imposição ao mesmo tempo.
 
Da crise imobiliária à crise dos alimentos
 
A população mundial é de 6,5 bilhões de pessoas. Desse total, utilizando uma noção de "fome" extremamente rasa, cerca de um bilhão está subalimentada. Cerca de três bilhões de pessoas vivem em áreas rurais e estima-se que deste contingente 800 milhões passam fome. De acordo com dados da FAO, a distribuição dos famintos do mundo se encontra da seguinte forma: 642 milhões nas áreas da Ásia e do Pacífico; 265 milhões na África Subsaariana; 53 milhões na América Latina e Caribe; 42 milhões no Oriente Médio e 15 milhões nos países mais desenvolvidos.
 
Desde 2002 estamos vendo o aumento do preço de diversas commodities no mercado mundial. Por trás desse aumento encontra-se o inter-relacionamento de diversas causas como a maior demanda por parte de grandes países asiáticos – China e Índia – e o deslocamento da produção de algumas culturas, como a do milho, para a produção de biocombustíveis.
 
O crescimento da China, Índia e outros países "emergentes" exerce uma enorme pressão de demanda, cujos principais sintomas se manifestaram pela elevação dos preços de matérias-primas minerais, do petróleo e, mais recentemente, dos alimentos. O Brasil entrou surfando nessa onda. Entre 2000 e 2007, por exemplo, as exportações brasileiras de soja passaram de 11,5 milhões para 25,5 milhões de toneladas. A exportação de milho passou de 700 mil toneladas para 11 milhões.
 
A trajetória de alta nos preços teve uma subida considerável em 2007 e no primeiro semestre de 2008. Os maiores incrementos foram nos preços dos metais, em especial do minério de ferro, cobre e estanho. No segundo semestre de 2007, petróleo e alimentos passaram a registrar fortes aumentos de preço e volatilidade. A partir do início da crise hipotecária norte-americana, em agosto de 2007, houve uma grande fuga de capitais das aplicações relacionadas aos derivativos dos contratos hipotecários em direção aos mercados internacionais de commodities, em busca de ganhos ou redução de perdas. 
 
As commodities tornaram-se investimentos atraentes ante a menor rentabilidade dos ativos financeiros, resultante tanto dessa depreciação como das turbulências dos mercados financeiros das economias centrais. A atratividade das commodities como forma alternativa de valorização da riqueza aumentou ainda mais com a redução da taxa de juros nos Estados Unidos, a partir de setembro de 2007. 
 
Assim, os fundos de investimento especulativos (os chamados hedge funds) e outros investidores institucionais (como os fundos de pensão) direcionaram suas apostas para os mercados de commodities e seus derivativos. Os investidores institucionais alocaram parcela crescente de suas carteiras em investimentos nos mercados futuros de commodities, que negociam 25 tipos de commodities (doze produtos agropecuários, seis tipos de petróleo e derivados, cinco metais básicos e dois metais preciosos).
 
De um lado, esses mercados de commodities oferecem possibilidade de retorno elevado ante a menor rentabilidade dos ativos financeiros tradicionais, em razão tanto da queda dos juros americano como da depreciação do dólar. De outro lado, fornecem oportunidade de diversificação de risco, uma vez que esses mercados não estão historicamente correlacionados com os mercados de títulos e ações.
 
Os recursos alocados pelos investidores institucionais nos mercados futuros de commodities saltaram de US$ 13 bilhões para US$ 260 bilhões entre o final de 2003 e março de 2008, enquanto os preços das 25 commodities subiram, em média, 183% nesses cinco anos. Essa crescente "financeirização" gerou hiperinflação nos preços dos ativos financeiros em tais mercados internacionais, em especial petróleo e alimentos.
 
As pressões inflacionárias tomaram as cotações de soja, milho e trigo, com forte impacto no preço de carnes, ovos e leite. O índice de preços de alimentos da ONU/FAO, que engloba 55 commodities agrícolas, apresentou alta de 57% entre março de 2007 e março de 2008.  Os preços globais dos alimentos ainda atingiram recorde de alta em janeiro de 2011. O índice subiu pelo sétimo mês seguido ultrapassando o recorde anterior alcançado em julho de 2008.
 
A bolha de ativos globais cresce diariamente. Um dia essa bolha vai estourar levando ao maior estouro coordenado de ativos já visto. A questão não é se a bolha vai estourar ou não, mas quando e como poderá impulsionar rebeliões populares capazes de apresentar uma alternativa ao funcionamento político da economia.
 
Poderá essa bolha deflagrar uma crise generalizada no capitalismo, atingindo EUA, Europa, China, Índia, Rússia, Brasil e outros países conjuntamente? Qual será o papel do Estado para socorrer a bancarrota capitalista e para reprimir os possíveis levantes sociais? Quais serão as medidas anti-crise articuladas pelos governos? Elas aumentarão a desigualdade social e internacional? E o imperialismo, terá que se intensificar? E as forças sociais do trabalho, conseguirão resistir a uma nova empreitada da "acumulação primitiva" do capital para "administrar a crise"?
 
A situação é alarmante: grosso modo, a divisão internacional do trabalho com crescente importância da China está impulsionando o Brasil a se retomar uma espécie de "vocação agrícola", a partir de uma ligação umbilical entre as finanças e o modelo exportador de commodities. É o agrobussiness da fração da burguesia brasileira que está fundindo os interesses do modelo primário-exportador com o mundo da especulação dos altos preços das commodities globais. É esse processo que sustentou o crescimento econômico e as políticas redistributivas de que o governo petista tanto se vangloria e que a nova presidente buscará aprofundar.
 
A falta de debate sobre esse modelo ainda é (quase) completa, principalmente na esquerda. De forma geral, tem se aceitado que este modelo é viável, possível e adequado para "seguir mudando" o país. O Brasil se apresenta como uma espécie de vanguarda da financeirização do capital primário exportador, mas tudo bem, isso já seria feito ‘para o crescimento econômico que iria redistribuir a riqueza’... ou não? É cada vez mais difícil não nos atentarmos para o caráter domesticador das políticas sociais que aliviam a pobreza – não é a toa que essa é uma recomendação do Banco Mundial. Por mais que menos pessoas passem fome, é incontestável que a desigualdade não pára de crescer.
 
Entretanto, a capacidade dos atores sociais de se lançarem ao conflito diminui numa clara tendência de "transformismo às avessas", não apenas de dirigentes, mas de organizações inteiras. Na realidade, a cooptação e a redistribuição são dois lados da mesma moeda.
 
Existem alternativas ao modelo social-liberal tão popularizado na América Latina e festejado pela esquerda de todo o mundo? Existem atores sociais capazes de combater esse modelo? Quais são as alternativas e pautas comuns para a refundação da esquerda diante do fracasso do governo Lula?
 
Fernando Marcelino é analista internacional e secretário de formação política do PSOL-Curitiba. 

JUREMIR MACHADO:Tambores menosprezados

<br /><b>Crédito: </b> Arte Pedro Lobo

Crédito: Arte Pedro Lobo
Juremir Machado da Silva no Correio do Povo
Vou falar de literatura brasileira. Sei que isso não dá muito Ibope. Muitas pessoas só se inflamam realmente com quatro assuntos: cachorros, carros, jogadores de futebol e reality shows. Se falo do "BBB", recebo 50 mensagens. Se trato do Ronaldinho Gaúcho, cem e-mails. Se abordo a origem do Fusca, 150 comentários. Se meto meu focinho com os cachorros, 300 torpedos. É a vida. Cada época com as suas preocupações e prioridades. O cronista deve humildemente perceber o que anda no espírito do seu tempo. Afinal, não passa de uma caixa de ressonância.

Mas vou falar de literatura brasileira. Tem autores que sofrem para usar uma expressão do querido professor de Cinema Aníbal Damasceno Ferreira, de "feiura de pajé". Não empolgam. Todo mundo debocha deles. Até eu. Josué Montello é um desses casos. Parece que escreveu 150 livros. Fez parte da Academia Brasileira de Letras. Nada que abone o currículo de um escritor por si. É comum rotular-se Montello de medíocre. Na melhor das hipóteses, mediano, se isso não for pior. Certo é que Josué Montello nunca abafou. Mas ele tem um livro, sua obra-prima, "Os Tambores de São Luís", que é melhor do que todos os livros da nova geração de escritores juntos. Certamente um dos melhores do século XX no Brasil. Acabei de reler.

"Os Tambores de São Luís" conta a saga da escravidão no Brasil através da história do negro Damião. Por que esse livro não alcançou a mesma repercussão de algumas obras de Jorge Amado, de "O Tempo e o Vento", de Erico Verissimo, ou "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa? Não há dúvida de que formalmente Guimarães Rosa foi muito mais escritor. "Grande Sertão" consegue malabarismos de linguagem altamente originais. "Os Tambores Silenciosos", no entanto, além de ser bem escrito, embora não tanto quanto "Grande Sertão", tem, se me permitem uma expressão fora de moda, maior relevância social. Aí está. Depois da fúria dos "cachorrólatras", despertarei a ira dos adoradores de Guimarães Rosa. Serei explícito: "Tambores de São Luís" tem mais conteúdo.

Outro escritor desprezado, Mario Palmério, publicou, sobre o sertão, um livro, "Chapadão do Bugre", que merecia rivalizar com "Grande Sertão". Guimarães Rosa, contudo, foi o homem certo na hora certa: o modernismo obcecado pela linguagem. Por que, por outro lado, Josué Montello, com seus "Tambores de São Luís", não ombreia com Jorge Amado e Erico Verissimo, que, do ponto de vista formal, são menos vanguardistas que Rosa? Por uma razão bem simples: Montello é da escola do nosso Cyro Martins. Não idealiza. É sem glamour. Os negros no seu livro são vítimas. Não há espaço para atos heroicos. O mito fica de fora. O sistema escravista tudo sufoca. Sem a positividade marqueteira, não há muito orgulho regional.

O livro de Montello é lindo e triste, desses de chorar. Quando a gente termina de ler, pensa assim: cotas para negros nas universidades? É muito pouco. Todo negro deveria ter lugar garantido, nos próximos 50 anos, em nossas universidades, sem vestibular, sem nada, como pálida compensação pela dívida impagável que temos com seus antepassados. Josué mostra a ferida. Aí é medíocre.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Palestra com Boaventura de Sousa Santos


Na avaliação do sociólogo português, protestos como os que ocorrem no norte da África e no Oriente Médio podem derrubar ditadores, mas para acabar com o capitalismo é preciso uma sinergia maior entre ações no âmbito global. “O desafio do FSM agora é se renovar e encontrar uma forma de dialogar com os cidadãos não organizados”, afirmou.

EUA estão seguindo seu manual no Egito

Em entrevista a Amy Goodman, do Democracy Now, Noam Chomsky analisa o desenrolar dos protestos no Egito e o comportamento do governo dos Estados Unidos diante deles. Na sua avaliação, o governo Obama está seguindo o manual tradicional de Washington nestas situações: "Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome".

Nas últimas semanas, os levantes populares ocorridos no mundo árabe provocaram a destituição do ditador Zine El Abidine Bem Ali, o iminente fim do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak, a nomeação de um novo governo na Jordânia e a promessa do ditador de tantos anos do Yemen de abandonar o cargo ao final de seu mandato. O Democracy Now falou com o professor do MIT, Noam Chomsky, acerca do que isso significa para o futuro do Oriente Médio e da política externa dos EUA na região. Indagado sobre os recentes comentários do presidente Obama sobre Mubarak, Chomsky disse: “Obama foi muito cuidadoso para não dizer nada; está fazendo o que os líderes estadunidenses fazem habitualmente quando um de seus ditadores favoritos têm problemas, tentam apoiá-lo até o final. Se a situação chega a um ponto insustentável, mudam de lado”.

Amy Goodman: Qual é sua análise sobre o que está acontecendo e como pode repercutir no Oriente Médio?

Noam Chomsky: Em primeiro lugar, o que está ocorrendo é espetacular. A coragem, a determinação e o compromisso dos manifestantes merecem destaque, E, aconteça o que aconteça, estes são momentos que não serão esquecidos e que seguramente terão consequências a posteriori: constrangeram a polícia, tomaram a praça Tahrir e permaneceram ali apesar dos grupos mafiosos de Mubarak. O governo organizou esses bandos para tratar de expulsar os manifestantes ou para gerar uma situação na qual o exército pode dizer que teve que intervir para restaurar a ordem e depois, talvez, instaurar algum governo militar. É muito difícil prever o que vai acontecer.

Os Estados Unidos estão seguindo seu manual habitual. Não é a primeira vez que um ditador “próximo” perde o controle ou está em risco de perdê-lo. Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome.

Presumo que é isso que está ocorrendo agora. Estão vendo se Mubarak pode ficar. Se não aguentar, colocarão em prática o manual.

Amy Goodman: Qual sua opinião sobre o apelo de Obama para que se inicie a transição no Egito?

Noam Chomsky: Curiosamente, Obama não disse nada. Mubarak também estaria de acordo com a necessidade de haver uma transição ordenada. Um novo gabinete, alguns arranjos menores na ordem constitucional, isso não é nada. Está fazendo o que os líderes norteamericanos geralmente fazem.

Os Estados Unidos tem um poder constrangedor neste caso. O Egito é o segundo país que mais recebe ajuda militar e econômica de Washington. Israel é o primeiro. O mesmo Obama já se mostrou muito favorável a Mubarak. No famoso discurso do Cairo, o presidente estadunidense disse: “Mubarak é um bom homem. Ele fez coisas boas. Manteve a estabilidade. Seguiremos o apoiando porque é um amigo”.

Mubarak é um dos ditadores mais brutais do mundo. Não sei como, depois disso, alguém pode seguir levando a sério os comentários de Obama sobre os direitos humanos. Mas o apoio tem sido muito grande. Os aviões que estão sobrevoando a praça Tahrir são, certamente, estadunidenses. Os EUA representam o principal sustentáculo do regime egípcio. Não é como na Tunísia, onde o principal apoio era da França. Os EUA são os principais culpados no Egito, junto com Israel e a Arábia Saudita. Foram estes países que prestaram apoio ao regime de Mubarak. De fato, os israelenses estavam furiosos porque Obama não sustentou mais firmemente seu amigo Mubarak.

Amy Goodman: O que significam todas essas revoltas no mundo árabe?

Noam Chomsky: Este é o levante regional mais surpreendente do qual tenho memória. Às vezes fazem comparações com o que ocorreu no leste europeu, mas não é comparável. Ninguém sabe quais serão as consequências desses levantes. Os problemas pelos quais os manifestantes protestam vem de longa data e não serão resolvidos facilmente. Há uma grande pobreza, repressão, falta de democracia e também de desenvolvimento. O Egito e outros países da região recém passaram pelo período neoliberal, que trouxe crescimento nos papéis junto com as consequências habituais: uma alta concentração da riqueza e dos privilégios, um empobrecimento e uma paralisia da maioria da população. E isso não se muda facilmente.

Amy Goodman: Você crê que há alguma relação direta entre esses levantes e os vazamentos de Wikileaks?

Noam Chomsky: Na verdade, a questão é que Wikileaks não nos disse nada novo. Nos deu a confirmação para nossas razoáveis conjecturas.

Amy Goodman: O que acontecerá com a Jordânia?

Noam Chomsky: Na Jordânia, recém mudaram o primeiro ministro. Ele foi substituído por um ex-general que parece ser moderadamente popular, ou ao menos não é tão odiado pela população. Mas essencialmente não mudou nada.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para RBS, quem sofre são as empresas de ônibus

Do Somosandando da Cris



A primeira pergunta do jornalista André Machado ao presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), Enio Roberto dos Reis, no programa Gaúcha Atualidade, na rádio do grupo RBS, hoje (09) de manhã, foi quanto ficaria a passagem de ônibus se não houvesse gratuidades. Referia-se à isenção de cobrança a idosos e outros que têm direito legal ao passe livre, além da meia-passagem para estudantes e o dia de transporte gratuito que ocorre quase todo mês na capital, os verdadeiros culpados pelo aumento acima da inflação, segundo a lógica de André Machado.
André Machado tentava amenizar as fortes críticas que têm recaído sobre a Prefeitura de Porto Alegre nos últimos dias. Ontem (08) à tarde foi decidido que a passagem subiria de R$ 2,45 para R$ 2,70, um aumento de 10,2%. Hoje pela manhã eu tive que buscar mais moedinhas na carteira porque a nova tarifa já estava em vigor. Incrível como algumas coisas são tão rápidas!
Foi assim que o representante naquele momento do grupo RBS começou a entrevista. Terminou com um afago ao entrevistado e aos que ocupam posição semelhante na escala social: “eu recebo aqui no programa muitas críticas dos ouvintes com relação aos empresários. Está difícil ser empresário hoje em dia?”.
É, deve estar. Dá até pena quando os vejo trocando seus carros só uma vez por ano. Já nós, ingratos reclamões, temos uma frota superultramegamoderna de ônibus circulando em nossas ruas, com média, segundo o próprio Reis, de quatro anos e meio. Alguns até tem ar condicionado. Claro, não dá pra escolher se morro de calor ou de frio, porque depende do humor do motorista, quando tem. Mas isso é detalhe.
Reis queixou-se muito do passe livre, dia em que, segundo ele, 700 mil passageiros são transportados de graça. Foi esse o número que usou para justificar o prejuízo, comparando com a arrecadação do mesmo montante de pessoas em dias de cobrança normal. Esqueceu, no entanto, que em dias normais essas mesmas 700 mil pessoas andam em muito mais ônibus, gastando muito mais combustível, tendo em vista que em dias de passe livre é possível esperar quase dez vezes mais pelo coletivo. Ou seja, menos ônibus transportam esses passageiros.
De acordo com o portal Sul 21, o valor das passagens aumentou 629,73% desde 1994. Nos mesmos 17 anos, a inflação foi 257,44%. Recomendo a leitura da matéria completa, que fornece vários dados importantes para a interpretação desses aumentos.
Transporte é necessidade do cidadão e dever do governo
O fato é que o transporte coletivos de passageiros tem duas pontas: de um lado, os cidadãos comuns, que usufruem do serviço; de outro, as empresas, sedentas por lucro. Seguindo a lógica capitalista, nenhum dos dois pode ser condenado. Acontece que o transporte coletivo deve ser um serviço público. As pessoas precisam dele, assim como precisam de escola, de posto de saúde, de viaturas de polícia.
Só que, no caso do transporte, o serviço é repassado a empresas, que não estão ali para se preocupar com o bem estar dos cidadãos, mas para obter lucro. A diferença dessas empresas para qualquer outra é que nesse caso o passageiro não tem a opção de não comprar ou trocar de marca caso ache caro. O preço lhe é imposto e ele é obrigado a engolir.
Ou seja, a relação da população com esse serviço não é nem bem de cidadão nem bem de consumidor. Como o transporte deve ser um direito, cabe ao poder público, eleito para prezar pelos bem estar de seus cidadãos, fazer o meio de campo e garantir a melhor equação – para os passageiros, fique claro.
Reis falou na necessidade de subsídios governamentais para reduzir os custos. Certo, quem tem que arcar com o prejuízo causado às empresas pela gratuidade são as prefeituras – que é a esfera de governo responsável pelo serviço -, não os outros passageiros. Afinal, como sustentar o discurso de que é preciso ter menos carros nas ruas se a passagem sobe acima da inflação (e dos salários)?
É preciso entender que o resultado é cíclico. Se o transporte coletivo é mais caro – e não é cada vez melhor, como dizem -, todos que puderem correrão para adquirir seu automóvel – pobres dos que não tiverem condições para tal! -, as ruas precisarão de mais manutenção, o ambiente precisará de mais cuidados. Ou seja, mais investimentos da Prefeitura. Um ciclo que não compensa, porque muito desse resultado é irreversível, como os prejuízos ao meio ambiente.
E ele já alertou que, como será implementado um sistema em que a passagem sairá de graça quando um segundo ônibus for pego menos de meia hora depois do primeiro, para quem precisa de mais de um coletivo para chegar ao destino, é possível que no ano que vem o aumento seja ainda maior.

A Vida ferida Grita por Misericórdia e Justiça! Basta de Tráfico de Seres Humanos

  Por Eurides Alves de Oliveira e Magnus Regis no Correio do Brasil

Comercialização criminosa que coloca as pessoas a serviço do lucro, ferindo gravemente o ser humano no que tem de mais precioso: sua dignidade e liberdade de filhos e filhas de Deus, 
sujeitos e cidadãos/ãs de direitos. Esta é uma das muitas definições sobre o Tráfico de Seres Humanos (TSH), prática criminosa hedionda, que atinge cerca de 2,5 milhões de vítimas, movimentando, aproximadamente, 32 bilhões de dólares por ano. (UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime). Atualmente, esse crime está relacionado a práticas criminosas de violações aos direitos humanos, para fins de exploração sexual comercial, muitas vezes, ligadas a roteiros de turismo sexual, de mão-de-obra escrava, e também, para remoção e venda e de órgãos.
O Tráfico de Seres Humanos, cujas vítimas em potencial são as mulheres, as crianças e adolescentes, constituem uma das formas mais explicitas da escravidão do século XXI. Vulnera e viola a dignidade e a liberdade de numerosas mulheres e meninas, mercantilizando e ferindo seus corpos, matando seus sonhos e direito de viver. O tráfico de pessoas configura hoje uma das piores afrontas à dignidade humana e uma das mais cruéis violações dos direitos humanos. Uma rede lucrativa que ocupa o terceiro lugar na economia mercadológica do crime organizado, perdendo apenas para o tráfico de armas e drogas. Estima-se que 700 mil mulheres e crianças passam todos os anos pelas fronteiras internacionais do tráfico humano. Isso sem contabilizar o tráfico interno, que no nosso País e alarmante.
A pobreza, o desemprego, bem como a ausência de educação e de acesso aos recursos constituem as causas subjacentes ao Tráfico de Seres Humanos. As mulheres são particularmente vulneráveis ao tráfico de seres humanos devido à feminização da pobreza, à cultura de discriminação e desigualdade entre homens e mulheres, a cultura hedonista que transforma o corpo da mulher em objeto de desejo e cobiça… O clamor das mulheres, adolescentes e crianças traficadas, se impõem, hoje, como um eloqüente grito pela vida.
A maioria das vítimas do TSH são mulheres, adolescentes e crianças que têm em comum o mesmo perfil social, marcado pela vulnerabilidade social e suas consequências: analfabetismo, desemprego, imigração, exclusão social e vêem na possibilidade de sair do seu espaço uma oportunidade de conseguir melhoria de vida, conforto financeiro, fama, reconhecimento e outras tantas características nessa linha de raciocínio.
É em cima destas aspirações que agem os aliciadores, na sua maioria homens de escolaridade superior associados a negócios ilícitos como drogas, prostituição e lavagem de dinheiro e que aparentam estar acima de qualquer suspeita, que procuram suas vítimas através das agências de emprego, casamento, moda, viagens, internet (sites de relacionamento) e em redes de entretenimento como shoppings, bares, restaurantes, clubes e danceterias.
Uma vez seduzidas e conquistadas pelos aliciadores, as vítimas são levadas para Estados ou países distantes, perdem a referência de local, têm seus passaportes confiscados, vêem-se endividadas, são privadas do contato com familiares, ameaçadas, espancadas e forçadas a trabalhar sem carga horária definida, em situação de cárcere privado na prostituição forçada ou outras prática análogas à escravidão.
Todos estes fatores alimentam o crescimento das estatísticas e cifras econômicas. A prática criminosa do TSH é hoje a terceira fonte de renda mundial do crime organizado, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. As estatísticas mostram que, dos casos encontrados, 81% são mulheres e meninas com menos de 18 anos. No Brasil, números da PESTRAF (Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e Adolescentes para fins de exploração sexual) realizada pelo CECRIA, apontam a existência de 241 rotas de tráfico, sendo 131 internacionais e 110 nacionais. Além disso, 75 mil brasileiras são traficadas, exploradas sexualmente, em regime de escravidão nos países da Europa. Estes números estão crescendo, e neles há corpos, que gemem e gritam por socorro. São milhares de mulheres, crianças e adolescentes violentadas, torturadas física, moral e psicologicamente. Precisamos dar um BASTA nessa ação criminosa que afronta brutalmente a dignidade humana e o próprio Deus, criador de todos/as. Urge uma ação determinada e firme das autoridades competentes, bem coibir, punir os que traficam e ao estado e toda sociedade no sentido de denunciar, informar, e educar bem como lutar pela superação das causas geradoras e sustentadora desta iníqua realidade.
Atentas aos clamores dos empobrecidos e empobrecidas em cada momento histórico, a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria (ICM), se deixa interpelar por está realidade e assume, em 2010, ano da Beatificação de sua fundadora Madre Bárbara Maix: O enfrentamento ao TSH, intensificando sua integração na Rede “Um Grito pela Vida”, organização da Vida Religiosa do Brasil em prol da Erradicação do Tráfico de Seres Humanos, desenvolvendo ações de prevenção, assistência e incidência política, a fim de coibir a inserção de novas vítimas nesta rede criminosa e escravista.

Sob o tema e lema: “Um grito, um clamor, um crime

Erradicar pela solidariedade e promoção da vida: Eis a nossa missão”, a Congregação ICM, que está presente em 14 Estados brasileiros e em mais oito países, definiu e estruturou esta nova linha de ação como marco da Beatificação, uma expressão missionária de volta ao carisma fundacional, uma vez que a defesa da dignidade das mulheres vítimas da exploração econômica e moral foi assumida pela Bem-Aventurada Bárbara Maix desde as origens da Obra, ainda em Viena na Áustria em 1847, conforme cita documento oficial da Congregação: ”causava-lhe dor ver tantas jovens do interior, vindas a Viena, com alma pura, em busca de trabalho para uma vida melhor, sendo aos poucos, levadas à desgraça”.
As Irmãs do Imaculado Coração de Maria trazem, desde a sua origem, um compromisso efetivo com as mulheres, jovens e crianças injustiçadas e exploradas. Como expressão deste compromisso acolhe, hoje, o grito das pessoas traficadas como uma incisiva convocação evangélica, uma causa que brada aos céus e as desafia a intervir e agir com força carismático-profética de forma articulada com todas as pessoas, grupos e organismos que atuam no enfrentamento desta realidade.
Um marco missionário da celebração da Beatificação de Bárbara Maix: as Irmãs do Imaculado Coração de Maria abrem uma nova frente missionária no norte do Brasil e chegam ao coração da Amazônia. No dia 17 de março de 2011, ao celebrar os 135 anos da morte e ressurreição Bem-Aventurada Bárbara Maix, será fundada, oficialmente, a nova comunidade ICM, em Manaus, capital do Amazonas.
A escolha do Amazonas não é por acaso. Lá está um dos maiores índices de aliciamento de mulheres e adolescentes para o Tráfico Humano para países da Europa e para os países vizinhos ao Brasil. Três Irmãs vão compor a nova comunidade ICM que terá essa finalidade da prevenção e enfrentamento ao TSH.

Gestos simples que provocam libertação

Compreendendo que o combate ao Tráfico de Seres Humano é dever do Estado e de toda a sociedade civil, é importante reagir e agir: Sensibilizar-se e Informar-se é o primeiro passo para que cada um e cada uma possa ajudar no enfrentamento. Gestos simples desencadeiam ações de libertação: Colocar a questão em pauta em todos os espaços possíveis: igrejas, escolas, hospitais, inserções, obras e projetos sociais, em vista da formação da consciência e ações de intervenção na realidade. Articular forças – atuar em redes e parcerias com a sociedade civil e o poder público. Somar na luta por políticas públicas para a juventude e mulheres. Rezar e aprofundar esta realidade, à luz da Palavra de Deus.

Ir. Eurides Alves de Oliveira, ICM e Magnus Regis – Irmã do Imaculado Coração de Maria / Magnus é jornalista. Rede Um Grito pela Vida

Hipocrisia exposta pelos ventos da mudança


por Robert Fisk, The Independent, UK via Viomundo

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Nada como uma revolução árabe para expor a hipocrisia dos amigos. Sobretudo, se a revolução é revolução de civilidade e humanismo, movida pelo desejo de viver em democracia do tipo que conhecemos na Europa e na América.
A quantidade estrondosa de bobagens enunciadas por Obama e por La Clinton nas últimas duas semanas é só uma parte do problema. De “estabilidade” até “tempestade perfeita” – o Departamento de Estado deve andar assistindo muito “E o vento levou…”, em matéria de copiar Hollywood no eterno fracasso de jamais conseguir ver valores morais no Oriente Médio –, chegamos aos presidenciais “agora-significa-ontem” e “transição ordeira”, cuja tradução é: nenhuma violência até o ex-general Mubarak da Força Aérea afastar-se um pouco, para que o ex-chefe da segurança general Suleiman possa assumir o governo em nome dos EUA e de Israel.
O canal Fox News já informou seus telespectadores nos EUA que a Fraternidade Muçulmana – o mais “soft” dos grupos islamistas no Oriente Médio – estaria manipulando os valentes homens e mulheres que se atreveram a resistir à polícia política da ditadura. E magotes de ‘intelectuais’ franceses (as aspas são essenciais, no caso de figuras como Bernard-Henri Lévy, na inolvidável manchete do Le Monde) inventaram “a intelligentsia do silêncio”[1].
Todos sabemos por quê. Alain Finkelstein fala de sua “admiração” pelos democratas, mas também da necessidade de “vigilância” – o que sempre garante nota baixa para qualquer ‘filósofo’ – “porque hoje sabemos sobretudo que não sabemos em que dará tudo isso”. Essa citação quase rumsfeldiana só é superada pela ideia absolutamente ridícula, pela obviedade, da lavra de Lévy, segundo a qual “é essencial considerar a complexidade da situação”. Curiosamente, é exatamente o que os israelenses sempre dizem quando algum ocidental desorientado sugere que Israel pare de roubar terras árabes na Cisjordânia para lá instalar seus colonos de ocupação.
De fato, a própria reação de Israel aos acontecimentos no Egito – que ainda não seria hora de o Egito chegar à democracia (para não ameaçar o título de Israel como “a única democracia no Oriente Médio”) – tem tanto de inadmissível quanto de autoderrotista.
Israel estará sempre mais segura, se cercada por democracias verdadeiras, do que, como vive hoje, cercada de ditadores pervertidos e viciosos, ou de monarcas autocratas. Para seu alto crédito, o historiador francês Daniel Lindenberg disse uma verdade, essa semana: “Temos, infelizmente, de admitir a realidade: muitos intelectuais creem, sinceramente, que os povos árabes seriam geneticamente atrasados”.
Sem novidade. Aplica-se aos sentimentos subterrâneos dos europeus sobre todo o mundo muçulmano.
A chanceler Merkel da Alemanha anuncia que o multiculturalismo não funciona, e um aspirante ao trono da família real da Bavária disse, há pouco tempo, que há turcos demais na Alemanha porque “os turcos não querem ser parte da sociedade alemã”. E quando a própria Turquia – a mais perfeita combinação de Islã e democracia que há hoje no Oriente Médio – aspira a unir-se à União Europeia e quer partilhar nossa civilização ocidental, a Europa tenta por todos os meios, inclusive por meios racistas, impedir que a Turquia integre-se.
Em outras palavras, queremos que eles sejam iguais a nós, desde que fiquem bem longe. E então, se eles mostram que podem ser como nós, mas não querem invadir a Europa, fazemos o possível para instalar lá, no governo ‘deles’, mais um general adestrado nos EUA, para controlá-los.
Exatamente como Paul Wolfowitz reagiu ao Parlamento turco (porque não autorizara que as tropas que invadiriam o Iraque passassem por território turco), perguntando se “os generais nada disseram sobre aquela decisão?”, a Europa, agora, nos reduzimos a ouvir o que o secretário de Defesa Robert Gates dos EUA diz, rastejante, elogiando o exército egípcio por sua “contenção” – e aparentemente sem nem perceber que deveria elogiar, isso sim, o povo do Egito, os que desejam democracia, eles sim, magnificamente “contidos”, militantes da não-violência, em vez de elogiar um magote de generais-brucutus.
E é assim que, quando os árabes reivindicam dignidade, respeito e autorrespeito, quando clamam pelo futuro que o próprio Obama delineou no então elogiado – e hoje, suponho, já amaldiçoado – discurso na Universidade do Cairo em junho de 2009, nós desrespeitamos os árabes e manifestamos desprezo. Em vez de a Europa festejar que os egípcios estejam lutando por democracia, tratamos a luta e a reivindicação como um desastre.
É infinito alívio descobrir um jornalista norte-americano sério, Roger Cohen, que está “por trás das linhas” na praça Tahrir, e de lá fala a indesmentível verdade sobre essa nossa hipocrisia. E é desgraça sem alívio, quando falam os ‘líderes’. Macmillan deixou de lado as pretensões colonialistas, sobre a África não estar preparada para a democracia, e falou de “ventos de mudança”. Agora, os ventos de mudança sopram no mundo árabe. E nós lhes damos as costas.
++++
[1] O artigo, “A Paris, l’intelligentsia du silence”, de Thomas Wieder, foi publicado no Le Monde do domingo, 6/2/2011 em http://www.lemonde.fr/cgi-bin/ACHATS/acheter.cgi?offre=ARCHIVES&type_item=ART_ARCH_30J&objet_id=1147799, só para assinantes; pode ser lido na íntegra em http://www.protection-palestine.org/spip.php?article10086 (em francês).

Dilma reafirma compromisso com a educação de qualidade e com o combate à miséria

Nubia Silveira no Sul21

A presidenta Dilma Rousseff fez, nesta quinta-feira (10) — dia em que o PT comemora 31 anos –, o seu primeiro pronuncimaneto à nação, em rede de rádio e televisão. Dilma dirigiu-se aos estudantes, a seus pais e a todos os professores brasileiros. Ela reafirmou seu compromisso com uma educação de qualidade. “Nenhuma área pode unir melhor a sociedade que a Educação. Nenhuma ferramenta é mais decisiva do que ela para superarmos a pobreza e a miséria”, afirmou.
Dilma ressaltou que este é o momento de investir nos professores, na criação de mais creches, pré-escolas e escolas técnicas e na inclusão digital. “É hora de acelerar a inclusão digital, pois a juventude brasileira precisa incorporar, ainda mais rapidamente, os novos modos de pensar, informar e produzir que hoje se espalham por todo o Planeta”, disse a presidenta.
Ao final de sua fala de pouco mais de seis minutos, Dilma reafirmou seu governo vai combater a miséria, de forma obstinada. “Isso significa fortalecer a economia, ampliar o emprego e aperfeiçoar as políticas sociais. Isso significa, em especial, melhorar a qualidade do ensino, pois ninguém sai da pobreza se não tiver acesso a uma educação gratuita, contínua e de qualidade”, afirmou.
Leia aqui a íntegra do pronunciamento de Dilma Rousseff
Pronunciamento à Nação da Presidenta da República, Dilma Rousseff
Brasília-DF, 10 de fevereiro de 2011
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Nossos jovens estão de volta às aulas. A abertura do ano escolar é sempre uma festa de alegria, de fé e de esperança. É com esse sentimento que saúdo os estudantes, seus pais e, muito especialmente, todos os professores brasileiros.
Estou aqui para reafirmar o meu compromisso com a melhoria da educação e convocar todos os brasileiros e brasileiras para lutarmos juntos por uma educação de qualidade. Vivemos um momento especial de nossa história. O Brasil se eleva, com vigor, a um novo patamar de nação. Temos, portanto, as condições e uma imensa necessidade de darmos um grande salto na qualidade do nosso ensino. Um desafio que só será vencido se governo e sociedade se unirem de fato nesta luta, com toda a força, coragem e convicção.
Nenhuma área pode unir melhor a sociedade que a Educação. Nenhuma ferramenta é mais decisiva do que ela para superarmos a pobreza e a miséria. Nenhum espaço pode realizar melhor o presente e projetar com mais esperança o futuro do que uma sala de aula bem equipada, onde professores possam ensinar bem, e alunos possam aprender cada vez melhor. É neste caminho que temos que seguir avançando com passos largos.
É hora de investir ainda mais na formação e remuneração de professores, de ampliar o número de creches e pré-escolas em todo o país, de criar condições de estudo e permanência na escola, para superar a evasão e a repetência. E, muito especialmente, acabar com essa trágica ilusão de ver aluno passar de ano sem aprender quase nada.
É hora de fazer mais escolas técnicas, de ampliar os cursos profissionalizantes, de melhorar o ensino médio, as universidades e aprimorar os centros científicos e tecnológicos de nível superior. É hora de acelerar a inclusão digital, pois a juventude brasileira precisa incorporar, ainda mais rapidamente, os novos modos de pensar, informar e produzir que hoje se espalham por todo o Planeta. Em suma, esta é a grande hora da Educação brasileira. Isso só será possível se cada pai, cada aluno, cada professor, cada prefeito, cada governador, cada empresário, cada trabalhador tomar para si a tarefa de acompanhar, discutir, cobrar, propor e construir novos caminhos para a nossa Educação. Como Presidenta, como mãe e avó, darei tudo de mim para liderar esse grande movimento.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Pouco mais de um mês depois de assumir a Presidência, tenho algumas coisas a anunciar na Educação. Vamos lançar, ainda neste trimestre, o Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica, o Pronatec, que, entre outras vantagens, levará ao ensino técnico a bem-sucedida experiência do ProUni.
Estamos também acelerando a implantação do Plano Nacional de Banda Larga, não só para que todas as escolas públicas tenham acesso à internet como, também, para que, no médio e longo prazos, a população pobre possa ter internet em sua casa ou no seu pequeno negócio a preço compatível com sua renda.
Informo, também, que o governo está tomando medidas para corrigir e evitar falhas no Enem e no Sisu, pois é fundamental aperfeiçoar e aumentar a credibilidade destes instrumentos, que são muito importantes na avaliação do aluno e da escola e, portanto, na melhoria da qualidade do ensino.
Para concluir, reafirmo que a luta mais obstinada do meu governo será o combate à miséria. Isso significa fortalecer a economia, ampliar o emprego e aperfeiçoar as políticas sociais. Isso significa, em especial, melhorar a qualidade do ensino, pois ninguém sai da pobreza se não tiver acesso a uma educação gratuita, contínua e de qualidade. Nenhum país, igualmente, poderá se desenvolver sem educar bem os seus jovens e capacitá-los plenamente para o emprego e para as novas necessidades criadas pela sociedade do conhecimento.
País rico é país sem pobreza. Este será o lema de arrancada do meu governo. Ele está aí para alertar permanentemente a nós, do governo, e a todos os setores da sociedade, que só realizaremos o destino de grandeza do Brasil quando acabarmos com a miséria.
Sem dúvida, essa é uma tarefa para toda uma geração. Mas nós temos determinação para realizar a parte importante que falta, para que a única fome neste país seja a fome do saber, a fome de grandeza, a fome de solidariedade e de igualdade. E para que todos os brasileiros possam fazer da educação a grande ferramenta de construção do seu sonho.
Muito obrigada e boa noite.
Com informações da Secretaria de Imprensa da Presidência da República

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A ideologia


Sem a ideologia, tendemos a atrofiar e empobrecer nossa relação conosco mesmos.

Leandro Konder

A ideologia, como sabemos, é uma distorção no conhecimento do outro. Minha mente, conforme sustentam pensadores dogmáticos, não distorce nenhuma apreensão da realidade.
O que eu vejo é o que todo mundo devia estar vendo. O que eu ouço é o que os outros deviam estar ouvindo. Não preciso mudar nada no meu conhecimento da realidade.
Os antigos romanos criaram a palavra alter, que em português passou a significar outro. Se formos fiéis à história dessa palavra, veremos que o termo original já nos diz com clareza que só podemos conhecer de fato o outro, alterando-o. Quer dizer: para entender o que é diferente, é necessário ir ao outro. Viver a aventura de se modificar.
Nós, neste valente semanário, que é o Brasil de Fato, reunimos e transformamos realidades empíricas que precisamos usar contra as mentiras contadas pelos nossos inimigos. Evitamos, porém, alimentar a ilusão de que vamos convencê-los.
Não sei da existência de nenhum banqueiro, de nenhum latifundiário, de nenhum milionário, que se ponha realmente à disposição dos grandes movimentos sociais. Eles alegarão que estão sempre sob a pressão plebeia, cercados por adversários implacáveis; dirão que, se não se defenderem, com energia acabarão tendo seus bens confiscados e, eventualmente, suas vidas tolhidas.
A força de Marx está no fato de ele ter mostrado como a história humana tem se realizado através das duas coisas: de um lado, o desenvolvimento econômico, o avanço tecnológico, o “progresso”. De outro, a divisão que os privilegiados mantêm a qualquer custo, reprimindo os movimentos dos de “baixo”.
Nesse segundo sentido, a educação que a burguesia organizou e proporciona ao povo ensina os trabalhadores a repetir velhos preconceitos e acaba desmoralizando a própria ideologia.
Nas discussões a respeito das inevitáveis distorções ideológicas, aparecem sempre alguns “mussolinis” que proclamam desavergonhadamente o assassinato da verdade pela ideologia. Para proteger o caroço de verdade que a ideologia possui (ao lado da mentira), a esquerda teve o mérito de inspirar um poeta/cantor brasileiro – Cazuza – que reivindicou para ele e seus camaradas a liberdade de possuir sua própria ideologia (Ideologia, eu quero uma pra viver...).
Em Marx, a atitude em face da ideologia é afrontosamente negativa. O poeta Cazuza, entretanto, dispõem-se a enfrentar a confusão ideológica dos seus inimigos (e, se for o caso, também de alguns amigos).
Marx e Cazuza se dão conta, por diferentes caminhos, do uso da distorção ideológica e tratam de combatê-la. Para o filósofo alemão, ideologia é uma categoria que diminui muito a credibilidade do conceito. Marx sustenta que a chave da ideologia está no fato de que a burguesia explora o trabalhador, deixando oculta a chamada mais valia.
Cazuza é menos “radical”. Seu canto o mostra plenamente inserido na realidade, mas sem se comprometer com as categorias do pensamento teórico-político. Seus heróis “morreram de overdose” e seus inimigos estão no poder. Por isso, ele canta: “ideologia, eu quero uma pra viver”.
Atualmente, o que se vê é a presença do pensamento conservador pragmático que desfaz as críticas que lhe são feitas em nome de critérios exclusivamente utilitários e deixa de lado a análise critica dos fenômenos ideológicos. Para a superação da ideologia, é imprescindível abrir espaço no pensamento para a autocrítica. Não uma lenga-lenga que finge ser autocrítica, contudo é apenas o auto-elogio de intelectuais a serviço da burguesia.
Sem autocrítica, é impossível aprofundar nossas ideias a respeito da ideologia. Sem a ideologia, tendemos a atrofiar e empobrecer nossa relação conosco mesmos.
Temos manifestado falhas e deficiências no nosso trabalho teórico. O que nos consola é o fato de a burguesia não ter resolvido nenhum dos problemas que ela vem enfrentando nas últimas décadas.

Leandro Konder é colunista semanal do Brasil de Fato.
Publicado originalmente na edição 414 do Brasil de Fato

“A comunicação compartilhada é estratégica para o FSM”

A discussão das novas tecnologias e seu papel estratégico ocuparam lugar de destaque neste FSM, em Dacar. O poder político das novas ferramentas, as redes de comunicação que se transformam em grandes negócios, como lidar com tudo isso para a democratização da comunicação e a transformação da realidade estiveram em debate, com a presença do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.

Por Terezinha Vicente na Revista Fórum

Nunca a informação e a comunicação estiveram tão disputadas no mundo. A discussão das novas tecnologias e seu papel estratégico ocuparam lugar de destaque neste FSM, em Dacar. O poder político das novas ferramentas, as redes de comunicação que se transformam em grandes negócios, como lidar com tudo isso para a democratização da comunicação e a transformação da realidade estiveram em debate, com a presença do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Para os participantes, é necessário que os movimentos e organizações entendam a comunicação como estratégica e prioritária, elemento a ser incorporado em todas as lutas.

“Penso que o grande problema que temos é o de saber quem vai se beneficiar com o Wikileaks, pois o imperialismo aprende sempre mais depressa do que as forças anti -capitalistas”, diz o professor. Ele cita como exemplo paradigmático a revolução cubana; enquanto as esquerdas na América Latina debatiam a revolução, o imperialismo tratou de criar logo uma “aliança para o progresso” a fim de combatê-la. “O wikileaks é uma metáfora da comunicação insurgente, porque viola segredos do Estado e das corporações, porque os segredos são fundamentais para eles. Penso que temos que ter acesso às informações do wikileaks antes de ser tratada pelos grandes meios, pois há informações importantes para os movimentos sociais que não estão a ser transmitidas”.

Para Jamie Mccielland, da “May first people link”, organização associativa focada na discussão da internet, em Nova York, o reconhecimento do trabalho do wikileaks, os ataques que receberam depois da divulgação das informações secretas e a resistência e mobilização que gerou no mundo, “mostra que esta discussão é mais complicada e que não estamos protegidos contra esse tipo de ataques, mas mostrou também a fraqueza do sistema capitalista, que usa as mesmas ferramentas, e que o ativismo na internet hoje é bastante representativo”.

Como diz o professor Boaventura, em 2003 foi fundamental a informação rápida na justificativa dos EUA para a invasão do Iraque, mas a luta não foi eficaz. Agora, vimos semanas atrás como a informação pode ser rápida e eficaz, no caso da Tunísia e do Egito. “Não queremos Cairos globais, mas muitos Cairos ao mesmo temo, penso que o desafio é sincronizar nossos movimentos, fazendo pressão de maneira convergente”. Para o intelectual, ligado desde o início ao FSM, este é nosso grande desafio. “Somos capazes de sincronizar ações a nível nacional, ainda não somos capazes de sincronizar ações a nível internacional, para desestabilizar os governos contra outro mundo possível”.

Sincronizar ações é necessário

“Como obter informações não divulgadas pelo Wikileaks?”, pergunta Boaventura. “ Para isso o FSM deveria mudar, faço o desafio ao Conselho Internacional, no sentido de dar mais capacidade à comissão da comunicação, pois há muitas informações uteis aos movimentos e quando tivermos essas informações será possível tratá-las, deveríamos formar uma comissão de investigação. Este é o meu grande desafio, para que pudéssemos nos beneficiar de todas as informações do Wikileaks”.

Como as informações foram divulgadas, o papel dos jornalistas, a mediação da grande mídia, são aspectos questionados por Hilde Stephansen, ativista de comunicação, da Goldsmiths, universidade de Londres. “Precisamos refletir como a grande mídia foi responsável pela mediação, como a mídia alternativa pode trabalhar com o wikileaks de forma similar, pois a comunicação envolve essa coisa dialógica, que vem e vai , precisamos falar do processo, não basta falarmos de tecnologia”. Este aspecto, assim como a questão da falta de privacidade que temos ao utilizar estas ferramentas, foi bastante questionado pelos presentes.

Ferramenta política, poderosa em si mesma, “a internet e o uso das tecnologias está no contexto das disputas mundiais pelo tipo de mundo que temos e o mundo que queremos ter”, diz Rita Freire, coordenadora da Ciranda, que faz a cobertura desde o primeiro encontro em Porto Alegre. O conceito de comunicação compartilhada “foi cunhado pelo FSM, quando se introduziu o acordo entre comunicadores e mídias alternativas de como utilizar as tecnologias de modo coletivo e colaborativo, uma proposta que tem acompanhado os 10 anos do FSM, incorporando novas iniciativas de comunicação”.

“Não há gozo no bailar virtualmente”

Outro aspecto destacado é a questão das mobilizações no norte da África terem se iniciado, passando ao largo dos partidos políticos e dos movimentos sociais, mostrando que existe um terreno fértil para a insurgência contra os Estados antidemocráticos. “Toda a comunicação virtual hoje é realmente um grande desafio aos movimentos sociais, pois penso que esta divisão que fazemos dos movimentos com os cidadãos não organizados tem que ser superada, pois eles podem se mobilizar e engajar num determinado momento”. “Estas manifestações, por exemplo, são muito eficazes para derrubar ditadores, como o da Tunísia, mas temo que queiram mudar o sistema para passar a outra ditadura, pró americana, pró Israel, anti palestina e anti Hamas”, analisa Boaventura. “Penso que devemos ter outra relação entre o movimento social e virtual, este fórum é um cara a cara fundamental, mesmo com os problemas de organização, precisamos de outra conexão entre o mundo real e o virtual”.

Temos esperança que essas novas tecnologias cheguem rapidamente a todas as pessoas, mas a maioria das pessoas e das organizações ainda não alcançou o contato com a informação direta, nem consegue comunicar para todos. “Lutamos ao mesmo tempo por infraestrutura e atuamos pela colaboração, pela solidariedade”, diz Rita Freire. “Não entendemos a comunicação compartilhada apenas como a internet compartilhada, a nossa expectativa era de estar trabalhando mais fortemente com as rádios comunitárias, em parcerias que permitissem a quem produz conteúdo, distribuir esse conteúdo a quem fala e dialoga diretamente com as comunidades, através dos meios disponíveis”.

Para o professor, é necessário desenvolver-se a proposta da universidade popular, surgida em 2003, para que possamos juntar os movimentos sociais mais diversos, discutir os problemas e os preconceitos que impedem de ações conjuntas realmente. “Entre os movimentos a comunicação deveria ser horizontal”, segue o professor, “e não é devido a uma hierarquização existente”. Outro problema são as diferenças culturais que geram conceitos diferentes; por exemplo, “o conceito de diáspora é uma coisa na América do Norte, outra na Ásia, e outra ainda na África; o socialismo, conceito apoiado por muitos de nós, é considerado uma armadilha dos brancos para os indígenas”.

“O contato real, o face a face vai ser sempre fundamental, não há gozo no bailar virtualmente”, conclui Boaventura. “A gente continua a fazer uma diferença entre comunicar e agir, e este é o grande problema. Por isso penso que a comissão de comunicação tem que ser mais central no FSM, temos que mudar o paradigma da comunicação. A comunicação partilhada é o grande desafio”.

Publicado por Ciranda.net. Foto por http://www.flickr.com/photos/wagnerinno/.