Valéria Nader, da Redação do Correio da Cidadania | |
A ‘tropa de choque’ do agronegócio deve contar, a partir de agora, com um de
seus mais poderosos interlocutores em um dos veículos de maior visibilidade e
circulação do país, o jornal Folha de S. Paulo. Kátia Abreu, a senadora do DEM
que se destaca como uma das figuras mais famosas e entusiastas da bancada
ruralista no Congresso, passará a escrever quinzenalmente no diário.
O tema escolhido para a estréia de sua coluna no caderno Mercado, no último
sábado, 19 de março, não foi nada gratuito. Em uma conjuntura em que volta a se
insinuar fortemente no cenário mundial a crise alimentar, com falta de produtos
e conseqüente aumento de preços, a senadora fez veemente artigo em defesa da
reforma do Código Florestal.
Trata-se de texto habilíssimo na captura do momento adequado para desferir
sua bateria de argumentos em favor do agronegócio.
O pulo do gato
Em introdução ao seu texto, Kátia Abreu enumera superficialmente os fatores
que nos últimos meses vêm sendo apontados por vários estudiosos como
deflagradores dessa crise. Evita, desta forma, possíveis acusações de
desconhecimento do fenômeno a partir de suas causas multifatoriais. Depois
disso, passa ao que realmente pretende: o estabelecimento de um vínculo ‘direto’
e ‘indiscutível’ entre o atual Código Florestal e a crise de alimentos.
Para a senadora, a especulação nos mercados futuros de produtos agrícolas não
tem praticamente nada que ver com o aumento atual dos preços dos alimentos.
Convencida dos poderes do livre mercado na solução dos desajustes entre oferta e
demanda, as cotações dos produtos não se descolariam desse fundamento básico a
não ser por períodos curtos. Quanto aos fatores climáticos, seriam reais, mas
não determinantes, uma vez que, para Kátia Abreu, o mercado também se
encarregaria de estabelecer os vasos comunicantes entre "grãos e carnes
produzidos hoje em tantas latitudes diferentes".
O único motivo que, no espectro da senadora, explicaria a atual subida de
preços seria "a demanda nas regiões pobres do mundo, em especial na Ásia, onde
centenas de milhões de pessoas estão saindo da miséria e comendo mais, comendo
melhor". Neste cenário determinístico e unidirecional, em que o problema é o
excesso de demanda, a solução não poderia, obviamente, ser outra: o aumento da
oferta, com maior produção de grãos, carnes e frutas.
Aqui vem o pulo do gato. Conforme Kátia Abreu, os últimos governos
compreenderam a importância de não ceder a deletérias tentações
intervencionistas, como controle de preços e formação de estoques. Contudo,
ainda viveríamos sob o império de leis retrógradas, anteriores à revolução
agrícola dos anos 70. Este seria o caso do Código Florestal, um obstáculo, para
ela, à expansão da produção agrícola e, portanto, da oferta tão necessária em
meio a uma conjuntura de crise alimentar. Urgente, portanto, se faria sua
‘revisão’ e ‘atualização’, o que não implicaria em desmatamento - faz questão de
ressalvar a senadora -, mas apenas na regularização de áreas de produção abertas
com ‘grande sacrifício e elevados custos’.
Crise alimentar e a complexidade de causas
O discurso da senadora não chega a ser surpreendente em um país em que a
causa ruralista não raramente se impõe no cenário econômico e político. Em um
momento anterior de agravamento da crise alimentar, em 2008, o então governador
do Mato Grosso e hoje também senador, Blairo Maggi, chegou a sugerir o aumento
do desmatamento legal como uma saída para se lidar com as altas de preços. Nada
muito diferente do que aquilo que propõe agora a senadora, mesmo que de modo,
sem dúvida alguma, muito mais engenhoso.
Já naquele momento, o geógrafo e professor aposentado da USP Ariovaldo
Umbelino, em artigos variados na imprensa e em entrevista ao Correio da
Cidadania, ressaltava o desatino por trás dessa abordagem. Num país que tem 120
milhões de hectares de terras comprovadamente improdutivas, registradas no
próprio cadastro do Incra, e que não faz uma reforma agrária porque o governo
não quer, esta avaliação deveria ser encarada como uma loucura do modelo do
agronegócio. Enfatizava ainda Umbelino as causas multifatoriais que desde então
estavam em jogo: a começar pelos fatores conjunturais, como o aumento do preço
do petróleo, até aqueles estruturais, relacionados às novas modalidades em curso
de organização da produção capitalista.
Ainda que a melhoria das condições econômicas em países de grande população,
sobretudo China e Índia, tenha ampliado a importação de alimentos, repercutindo
sobre a elevação dos preços, essa não era, e não é, a principal razão para esta
elevação, como se quer fazer crer no Brasil, e como pretende a senadora.
No início da década de 90, houve uma mudança evidente na sistemática da
produção e comercialização de alimentos, com o aprofundamento do modelo
neoliberal e a imposição das novas regras da OMC (Organização Mundial de
Comércio), baseadas no livre comércio e na regulação pelo mercado. A partir de
então, abolida a regulamentação para o mercado de commodities, contratos de
compra e venda de alimentos puderam ser transformados em derivativos de várias
espécies, sem qualquer vínculo com as atividades agrícolas.
Daí à especulação com os alimentos foi somente um instante. Desde o ouro e o
petróleo, até alimentos básicos como soja, café e açúcar, tornaram-se todos
commodities globais negociáveis nos mercados futuros.
Fato é que a especulação com commodities de alimentos tem sido alimentada com
ferocidade crescente após a explosão da crise do ‘subprime’ (hipotecas ‘podres’)
nos EUA, a qual evoluiu para a crise financeira mundial de 2008. Aproveitando-se
da desregulamentação de preços nos mercados globais de commodities, os mesmos
investidores cujas transações financeiras resultaram na crise de 2008 correram
em busca de negócios mais seguros, entre os quais estava o de alimentos. Boa
parte dos fundos de investimentos foi dirigida, assim, à compra de commodities
(mercado de futuro), o que acelerou a redução de estoques de alimentos, com
impactos diretos nos preços.
Uma avaliação e seus múltiplos interlocutores
Em face desta discussão, é bom assumir uma postura de precaução contra
eventuais e previsíveis acusações de ‘parcialidade’. Não são somente os
estudiosos e especialistas de visão dita mais progressista, ligados a causas
agrárias e aos movimentos sociais, não raramente tidos como ‘jurássicos’, que
trazem estas noções à tona. Vejamos.
Segundo apontado por Francisco López Ollés, especialista em matérias-primas e
divisas, citado por Belén Carreño em Público.es no dia 7 de março, "não
há praticamente outro produto no qual investir neste momento cuja procura real
seja tão clara, isto é, que tenha tão bons fundamentos (...) No final, tudo isto
é resultado das operações dos bancos centrais para que haja mais liquidez nos
mercados (conhecido como quantitative easing). O dinheiro tem que procurar
rentabilidade em algum lado", conclui.
Para Paulo Picchetti, doutor em Economia pela Universidade de Illinois e
professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas), em artigo no caderno Mercado da
Folha de S. Paulo no dia 19 de fevereiro, "qualquer novo anúncio de previsão de
queda de produtividade é seguido por um movimento intenso de preços nos mercados
à vista e de futuros. Nesse último, principalmente, o comportamento especulativo
passa a ser apontado como fator adicional de pressão sobre os preços dos
alimentos".
Como um exemplo dessa apreciação de Picchetti, Belén Carreño narra um caso
muito revelador: "um só hedge fund tem agarrados pelo pescoço há meses todos os
produtores de chocolate do mundo. O fundo Armajaro, dirigido por um conhecido
executivo britânico, Anthony Ward (...), comprou no passado mês de julho 240.000
toneladas de cacau, o equivalente a 7% da produção mundial, numa só operação. A
compra, que se fez no mercado Euronext, onde não há limites sobre este tipo de
matéria, disparou o preço do cacau até aos seus máximos desde 1977. As milhares
de toneladas de cacau continuam acumuladas (...) nos armazéns de Hamburgo,
Antuérpia e Amsterdã. Ward apostou no cacau, já que um dos seus principais
produtores, a Costa do Marfim, está praticamente em guerra civil, com o que
escasseará o produto em breve".
De acordo ainda com artigo de John Vidal para o The Observer, traduzido para
o site Carta Maior por Wilson Sobrinho em 2 de março, "Olivier de Schutter,
Relator da ONU para o Direito à Alimentação, não tem dúvidas de que
especuladores estão por trás do aumento de preços. Ele diz que ‘os preços do
trigo, do milho e do arroz têm aumentado de modo significante, mas isso não está
ligado a estoques ou colheitas ruins, mas sim a negociantes reagindo a
informações e especulações do mercado’".
Lembremos, ademais, que em 2008, quando chamado a depor no Senado
norte-americano para dar explicações sobre suas atividades especulativas, foi o
próprio George Soros quem admitiu os efeitos altamente desestabilizadores da
especulação para o preço das matérias-primas! Efeitos desestabilizadores esses
que podem, inclusive, ser sentidos bem perto de nós.
No plano do mercado interno brasileiro, os alimentos básicos da população
brasileira, como arroz, feijão e mandioca, não têm aumento significativo da
produção desde 1992, conforme já ressalvou por diversas vezes o geógrafo
Ariovaldo Umbelino. O feijão chegou até mesmo a faltar no mercado nacional. Por
um lado, trata-se de distorção resultante de uma política agrícola que não
permite que os produtores, especialmente os pequenos, reponham até mesmo os seus
custos de produção. De outro lado, está a própria especulação, com seus impactos
sobre os deslocamentos de terras dos cultivos menos lucrativos em direção
àqueles que são a menina dos olhos do mercado internacional. Como, por exemplo,
a cana-de-açúcar, a base de nosso tão prestigiado etanol, e que tem novamente
tornado as regiões sul e sudeste em um extenso canavial.
Ressalte-se o controle oligopólico que algumas poucas empresas possuem
atualmente sobre o comércio agrícola mundial. Com seu poder quase absoluto na
imposição de preços, independentemente dos reais custos de produção, estas
empresas potencializam os efeitos deletérios da ciranda especulativa sobre a
oferta e os preços dos alimentos.
Finalmente, em face dessas circunstâncias reais e pouco animadoras, fiquemos
atentos ao alerta de Umbelino. Segundo o geógrafo, "somos o único país do mundo
em que se prega essa tese maluca do neoliberalismo, de que comida tem de ser
oferecida no mercado a quem puder pagar mais. Isso tira do país a possibilidade
de obter uma mínima segurança alimentar, nem digo soberania. O mercado de
alimento não pode sobreviver ao mercado livre. Seguir essa trilha é colocar em
risco a possibilidade de sobrevivência da humanidade. O mercado não é capaz de
regular nada, exceto as vantagens dos capitalistas. E o problema da fome está
aí, para demonstrar essa incapacidade".
Coragem ou costas quentes?
Em meio a tamanhas catástrofes naturais, no Brasil e no mundo - a mais
recente delas a tragédia ambiental e humana que abate o Japão -, deve-se admitir
que a senadora Kátia Abreu teve muita coragem para tecer uma argumentação com o
naipe acima narrado. Afinal, não é preciso ser especialista para intuir que a
diminuição das áreas de reservas naturais e de proteção permanente em nossas
matas, objetivo da revisão do Código Florestal, terá, inelutavelmente,
repercussões negativas sobre o clima e o meio ambiente. Mas quando se pensa na
rede de colaborações e cumplicidade na qual está enredada a senadora, parece não
estar envolvida assim tanta coragem.
O movimento de alinhamento da mídia grande com interesses conservadores
ligados a poderosos lobbies e grupos econômicos, na grande maioria das vezes
reforçando a impossibilidade de a população discernir e defender seus interesses
básicos, não é mais novidade. Até mesmo nos órgãos que se auto-intitulam como
progressistas, que teoricamente prezam a comunicação democrática e a
apresentação das diversas opiniões em jogo no tratamento de um tema, tem sido a
cada dia mais escancarado o posicionamento em favor do lado que de fato lhes
interessa. O ‘caminho único’ impõe-se com evidência crescente.
A Folha é aqui um exemplo significativo. Sempre sorrateira em suas
articulações, de modo a poder preservar o caro discurso sobre seu progressismo,
tem tido bem menos peias ultimamente na demonstração de seu verdadeiro caráter.
A recente transformação de seu caderno Dinheiro em Mercado, com a dispensa de
colunistas capazes de tecer considerações mais amplas e profundas sobre a
economia nacional e internacional, e sua substituição por nomes, quando não
mercadistas, ligados a grupos de interesses muito específicos, escancaram de
modo contundente o seu verdadeiro viés. A demissão, há alguns meses, do renomado
economista Paulo Nogueira Batista Júnior, e a estréia de nomes como Antonio
Palloci, hoje menina dos olhos do sistema financeiro, e agora de Kátia Abreu,
dispensam maiores comentários.
Mais alarmante, no entanto, do que o apoio que figuras como a da senadora
encontram na mídia é a constatação inequívoca do suporte que vem do próprio
governo a estas posturas. Para aqueles que acompanham de perto a conjuntura
agrária e agrícola do país e os movimentos sociais a ela associada, não é
estranho o fato de que os números advindos do governo Lula indicam privilégio
aos grandes produtores e obras polêmicas. Os pequenos produtores, a promessa de
uma efetiva reforma agrária e a postura de respeito verdadeiro ao meio ambiente
foram lançados às calendas. E nada indica, por sua vez, que o novo governo vá
traçar rumos diferenciados.
Rumos inusitados estão fora de perspectiva não somente pelo fato de ser o
novo governo apoiado pelo anterior, cuja presidente eleita foi praticamente
arremetida ao Planalto pelas mãos de Lula. No clima de lua de mel com o público
típico dos inícios de mandatos, e enquanto ainda se pode surfar na estupenda
popularidade deixada por Lula, algumas sugestivas medidas foram anunciadas. Elas
devem dar o tom da preocupação com o que vem pela frente.
Para além das políticas gerais já em andamento, como o maior arrocho na
economia, a partir de restrições orçamentárias e elevações das taxas de juros,
há outras providências mais específicas e de menor visibilidade. Em sintonia com
o estilo tecnocrático da nova presidente, está em estudo, por exemplo, um
‘choque de gestão’ na área de licenciamento ambiental. Buscam-se regras mais
simples, além de prazos menores e redução de custos para os investidores, com o
objetivo imediato de acelerar a aprovação às grandes obras do PAC (o Plano de
Aceleração do Crescimento), a maioria delas envolta em consideráveis polêmicas
sociais e ambientais.
É neste tipo de ‘providências’ aparentemente mais prosaicas que se deve ficar
de olho... A partir delas, o governo - que ainda se pretende e se auto-intitula
‘popular’ - poderá encontrar os artifícios para aprofundar a inexorável rota
conservadora imposta pelo modelo econômico escolhido.
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Agronegócio apropria-se da crise alimentar para aprovar novo Código Florestal
Governo oferece aumento de 10,91% aos professores. Cpers reivindica o piso nacional
O governo gaúcho aumentou a proposta de reajuste salarial aos
professores para 10,91% sobre o básico do magistério. O anúncio foi
feito após reunião com a direção do sindicato da categoria, o Cpers,
nesta quinta-feira (24), no Palácio Piratini. O valor é a proposta final
do Executivo e representa um ganho real em relação à inflação de 2010
de 4,7% (IPCA) e de 4,2 (INPC). Porém, o reajuste ainda não atinge o
piso nacional estipulado pelo Ministério da Educação, não alcançando,
desta forma, a proposta dos professores.
Segundo a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, a categoria
aprovará ou não o valor final oferecido pelo governo estadual na
Assembleia Geral do dia 8 de abril, no Gigantinho. “Vamos debater com a
categoria pois queremos o Piso Nacional como básico do plano de
carreira. O governo já disse em outra audiência que o piso será o básico
no plano de carreira, mas não apresenta uma proposta concreta neste
sentido. Se tivesse apresentado, o valor seria de R$ 1.597 para 40
horas”, calcula. Segundo Rejane, o reajuste de 10,91% não irá
desmobilizar os professores, que vão batalhar pela implementação do piso
nacional ainda em 2011. “A nossa mobilização irá garantir esta
implementação da lei do piso”, reforçou aos jornalistas ao final da
conversa com o governo.
O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, foi quem recebeu a direção do
Cpers, acompanhado dos secretários de Educação, José Clóvis, e da
Administração, Stela Farias. Na visão do governo, o aumento representa o
maior reajuste já oferecido ao Cpers nos últimos dez anos. E, para um
mandato que não tem 100 dias de gestão, uma demonstração de respeito aos
professores e de valorização da categoria. “Estamos propondo um
reajuste de quase 11% e mais uma complementação. A proposta valerá para
todos os professores ativos e inativos e funcionários de escola. O
impacto será de R$ 334 milhões”, argumentou Pestana.
Com o reajuste, 88% dos professores do estado (114 mil) receberão
mais que R$ 1.187,00 e 83% (108 mil) passarão a ter vencimentos entre R$
1.541,00 e R$ 2.541,00. Para chegar a esta proposta, o governo
reconheceu o pleito de complementação da parcela autônoma, passando dos
atuais R$ 42,90 para R$ 77,83 e incorporou 50% deste novo valor ao
salário básico do magistério. De acordo com Pestana, com este aumento, a
diferença para alcançar o Piso Nacional cai de 66% para 51%. “Ao longo
dos quatro anos de governo queremos alcançar o piso nacional. Não
pudemos fazer isso agora, pois, ainda não temos clareza da receita e
problemas como a Lei Brito. Foi sinalizada uma proposta e não foi paga.
Nós queremos assumir compromissos e poder cumpri-los”, disse Pestana
sobre a cautela na progressão do reajuste.
Ainda assim, para a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, se o
governo objetiva alcançar o piso, teria que ser mais contundente. “O
governo deveria apresentar um calendário de percentuais e de prazo para
chegar ao piso nacional. Não fez isso, se eles têm esta intenção está
fazendo isso de forma muito tímida e sem nenhuma consistência que nos
leve a pensar que querem alcançar o piso nacional”, defendeu.
Na ocasião, o Cpers reafirmou os 16 pontos que reivindica para os
professores gaúchos. O governo prometeu apresentar um relatório com as
possibilidades de cumpri-las na próxima segunda-feira, 28.
A Primeira Guerra Mundial da Globo
Luis Nassif
As Organizações Globo estão enfrentando sua Primeira Guerra Mundial,
desde que tiraram da Tupi o cetro de emissora de maior audiência do país
- nos longínquos anos 70.
Nos próximos dias será decidida a questão da transmissão do
campeonato de futebol brasileiro. Não se trata de um mero evento
esportivo. Se perder a disputa, a Globo colocará em xeque toda sua
programação do horário nobre – baseada no hábito diário de
acompanhamento de novelas e de jornais televisivos.
Pela primeira vez, poderá perder a liderança de audiência no país.
***
A ameaça é da TV Record, que promete uma proposta de
R$ 550 milhões para conseguir os direitos de transmissão junto ao Clube
dos 13. Por trás da disputa, há mudanças relevantes na legislação de
direito econômico brasileiro.
***
Cada clube esportivo detém direitos de imagem sobre seus jogos.
Para administrar seus interesses, anos atrás a Globo incentivou a
formação do Clube dos 13, incumbido de negociar em bloco os direitos dos
seus associados – maiores clubes nacionais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes clubes recebem direitos de
arena superiores aos pequenos clubes. Sob o argumento de que as
condições brasileiras eram diferentes, a Globo conseguiu equalizar os
direitos de transmissão – todos recebendo a mesma quantia, tática
fundamental para transmissões pela televisão aberta, na qual não é
possível o pay-per-view (pagar para assistir).
Se um clube com maior audiência ia reclamar, era encaminhado ao Clube dos 13, que tratava de demovê-lo de suas pretensões.
Mais ainda. Através de um contrato leonino, a Globo tinha uma
cláusula de preferência, direito ao último lance em cada leilão de
transmissão de campeonato. Ou seja, depois do último lance, ela tinha o
direito de cobrir a proposta apresentada.
***
Esse modelo foi questionado no CADE (Conselho Administrativo de
Direito Econômico). A Globo e o Clube dos 13 foram obrigados a assinar
um termo de compromisso estabelecendo condições transparentes de
disputa. Isto é, cada concorrente chegando com um envelope com sua
proposta.
***
Primeiro, a Globo chamou os clubes e tentou convencê-los a baixar o
preço, sob a alegação de que a audiência do futebol vem caindo há tempos
e o mercado não aceitaria pagar grandes lances pelos direitos de
transmissão.
Não conseguiu disfarçar sua preocupação maior: no mundo todo, a
emissora que tem o esporte mais popular lidera a audiência. Se perder o
futebol, perde a liderança.
O problema maior surgiu na seqüência.
Em outros tempos, não haveria competidores. Apenas uma vez o SBT
ousou competir, levando o Campeonato Paulista. Band e Rede TV nunca
tiveram bala na agulha.
Agora, apareceu a TV Record dispondo-se a elevar o lance a R$ 550
milhões para a TV aberta. No setor de TV fechada, começa a competição
com as teles e, na área da Internet, com os portais.
***
A reação da Globo foi tentar implodir o Clube dos 13. Através de
Ronaldo e de comentaristas esportivos conseguiu cooptar o presidente do
Corinthians.
Seja qual for o resultado da pendenga, trata-se de um capítulo central nas transformações pelas quais passa a mídia brasileira.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Governo gaúcho deverá elevar proposta de reajuste salarial dos professores
Rachel Duarte no Sul21
A negociação do reajuste salarial para magistério gaúcho segue em
modo de espera até a próxima quinta-feira (24), quando ocorrerá a nova
audiência entre o governo estadual e a direção do Cpers. Nesta
terça-feira (22), uma reunião no Palácio Piratini preparou o governo
para uma contraproposta, que será apresentada aos professores. A
tendência é que o índice de 8,5%, defendido até agora pelo Executivo,
aumente. Nesta quinta-feira (24), às 10h15min ocorrerá uma nova
audiência com o sindicato da categoria.
Participaram do encontro desta terça (22), o chefe da Casa Civil,
Caros Pestana; o secretário de Educação, José Clóvis; o secretário da
Fazenda, Odir Tonollier; a secretária de Administração, Stela Farias, e a
Assessoria Superior do Governador. Segundo assessores do Executivo, a
reunião se prolongou durante toda a tarde e a tendência é que os
professores recebam uma proposta um pouco mais elevada, mas, não muito
diferente dos 8,5% já definidos.
A proposta apresentada pelo governo inclui abonos proporcionais aos
níveis iniciais para garantir que nenhum professor ganhe menos do que o
piso nacional, de R$ 593,98 para 20 horas de trabalho. Mas, é
considerada insuficiente pelos professores. “Nós temos a mesma posição e
aguardaremos a próxima audiência”, afirmou a presidente do Cpers,
Rejane de Oliveira. Na última audiência, a presidente qualificou “a
política de abonos” do governo estadual como uma proposta que não incide
sobre o todo da categoria.
O governador Tarso Genro disse, no I Seminário de Proteção e
Integração de Refugiados, que tem uma contraproposta, mas que aguarda o
Cpers. Em outras oportunidades, ele já explicou que a intenção é
conceder um aumento progressivo de modo que os professores possam
alcançar o piso nacional.
Diálogo Permanente
O tema do reajuste não é o único de interesse da categoria e não se
esgotará em audiências com o governador. A Secretaria de Administração
colocou em funcionamento o Comitê de Diálogo Permanente para
interlocução com os servidores públicos, atingindo um maior contingente,
como nas áreas da Educação, da Saúde e da Segurança. Por meio de
encontros mensais com as entidades representativas das categorias, o
governo irá receber as demandas e discutir alternativas para benefícios
trabalhistas, planos de carreira e outras necessidades dos funcionários
públicos.
terça-feira, 22 de março de 2011
Jean-Luc Ponty - Aurora - 1975
1. Is Once Enough?
2. Renaissance
3. Aurora - Part I
4. Aurora - Part II
5. Passenger Of The Dark
6. Lost Forest
7. Between You And Me
8. Waking Dream
Jean-Luc Ponty - Violin, Violectra, Electric Violin, Keyboards, Autoharp
Daryl Stuermer - Guitars (Acoustic & Electric)
Patrice Rushen - Synthesizer, Electric & Acoustic Piano
Tom Fowler - Bass
Norman Fearrington - Drums & Percussion
Reflexão de Fidel Castro: Os sapatos me apertam
Em mais uma de suas Reflexões, o comandante da Revolução cubana, Fidel Castro, comenta com fina ironia o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos no Chile, na última segunda-feira (21). Aproveitou para comentar sobre o papel que desempenhou à frente de seu país e reiterou: " Continuarei sendo um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar".
Enquanto os reatores sinistrados despejam fumaça radiativa no Japão, e aviões de monstruosa aparência e submarinos nucleares lançam mortíferas cargas teleguiadas sobre a Líbia, um país norte-africano do Terceiro Mundo com apenas seis milhões de habitantes, Barack Obama contava aos chilenos uma fábula parecida com as que eu escutava quando tinha quatro anos: “Os sapatos me apertam, as meias fazem calor; e o beijinho que me deste levo no coração”.
Alguns de seus ouvintes ficaram pasmos naquele “Centro Cultural” em Santiago do Chile.
Quando o presidente mirou ansioso o público depois de mencionar a pérfida Cuba, esperando uma explosão de aplausos, houve um silêncio glacial. Às suas costas – Ah! Feliz coincidencia! – entre as demais bandeiras latino-americanas, estava exatamente a de Cuba.
Se por um segundo desse uma volta sobre seu ombro direito, teria visto, como uma sombra, o símbolo da Revolução na Ilha rebelde que seu poderoso país quis, mas não pôde, destruir.
Qualquer pessoa seria, sem dúvida, extraordinariamente otimista se espera que os povos de Nossa América aplaudam o 50º aniversário da invasão mercenária de Giron, 50 anos de cruel bloqueio econômico de um país irmão, 50 anos de ameaças e atentados terroristas que custaram milhares de vidas, 50 anos de projetos de assassinato dos líderes do histórico processo.
Senti-me aludido em suas palavras.
Prestei, efetivamente, meus serviços à Revolução durante muito tempo, mas nunca eludi riscos nem violei princípios constitucionais, ideológicos ou éticos; lamento não ter tido mais saúde para seguir servindo-a.
Renunciei sem vacilação a todos os meus cargos estatais e políticos, inclusive ao de Primeiro Secretário do Partido, quando adoeci e nunca tentei exercê-los depois da Proclamação de 31 de julho de 2006, nem quando recuperei parcialmente minha saúde mais de um ano depois, embora todos continuassem intitulando-me afetuosamente dessa forma.
Mas sigo e seguirei sendo como prometi: um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar.
Quando perguntaram a Obama sobre o golpe de Estado contra o heróico presidente Salvador Allende, promovido como outros muitos pelos Estados Unidos, e a misteriosa morte de Eduardo Frei Montalva, assassinado por agentes da Dina, uma criação do governo norte-americano, perdeu sua presença de espírito e começou a tartamudear.
Foi certeiro, sem dúvida, o comentário da televisão do Chile ao final de seu discurso, quando expressou que Obama já não tinha nada que oferecer ao hemisferio.
De minha parte, não quero dar a impressão de que experimento ódio a sua pessona, e muito menos ao povo dos Estados Unidos, a cujos muitos de seus filhos reconheço o aporte à cultura e à ciência.
Obama tem agora pela frente uma viagem a El Salvador nesta terça-feira. Ali terá que inventar bastante, porque nessa nação centro-americana irmã, as armas e os treinadores que recebeu dos governos de seu país, derramaram muito sangue.
Desejo-lhe boa viagem e um pouco mais de sensatez.
Fidel Castro Ruz
Fonte: Cubadebate
Tradução da Redação do Vermelho
O Imperialismo sem máscara na agressão ao povo da Líbia
Os Editores do Odiario.info
Uma vaga de indignação varre o mundo, levantada pela agressão imperialista ao povo da Líbia.
A Resolução do Conselho de Segurança que abriu a porta ao crime – mascarado de «intervenção humanitária» – foi preparada com antecedência. Concebida em Washington, coube à França e ao Reino Unido apresentar e defender o texto porque não convinha aos EUA, atolados nas guerras do Iraque do Afeganistão, surgirem como país patrocinador. Essa Resolução desrespeita a Carta a da ONU, mas, embora criminosa, os agressores não a consideraram suficiente.
A França iniciou os bombardeamentos aéreos e navios de guerra dos EUA e do Reino Unido dispararam quase simultaneamente salvas de mísseis de cruzeiro contra Tripoli e outras cidades. Alguns atingiram um hospital e áreas residenciais, matando dezenas de civis.
Os discursos de Obama, Sarkozy e Cameron que pretendem justificar a agressão – montada e dirigida pela África Comand dos EUA -serão recordados como peças oratórias de refinada hipocrisia.
Dois objectivos motivaram o ataque à Líbia: o saque dos recursos naturais - petróleo e gás - e a necessidade de controlarem através do medo, o rumo das rebeliões populares que na Tunísia e no Egipto derrubaram as ditaduras de Ben Ali e Mubarak, ambos aliados de Washington.
Enquanto invocam a defesa da liberdade e da democracia e motivos humanitários para bombardear a Líbia, os EUA apoiam as matanças praticadas pela ditadura feudal do Iémen e incentivaram a monarquia islamista da Arábia Saudita a invadir o Bahrein, sede da V Esquadra da US Navy – para reprimir a insurreição do seu povo.
A contradição ilumina bem o farisaísmo de Washington.
Os governos responsáveis pelo ataque à Líbia garantem que não haverá desembarque de tropas terrestres. Mas é imprevisível a desenvolvimento da agressão. O motivo alegado para o ataque ao Afeganistão foi a suposta permanecia ali de um homem, Bin Laden, apontado então como inimigo numero um dos EUA. Agora é outro individuo, Muamar Khadafi , o pretexto invocado para a agressão imperial.
Khadafi nunca mereceu o nosso respeito. Mas manifestamos irrestrita solidariedade com o povo da Líbia, ameaçado de recolonização, nestes dias em que nas suas cidades e campos explodem bombas e mísseis.
É oportuno sublinhar e lamentar que o Parlamento Europeu tenha aprovado uma resolução que o tornou cúmplice da agressão, iniciativa que contou com os votos do PS, PSD e CDS, e também com o voto do partido da Esquerda Europeia, incluindo o do Bloco de Esquerda. O PCP, consequentemente, votou contra.
O Conselho Português para a Paz e a Cooperação convocou para o dia 23 uma concentração de protesto contra a agressão, junto da Embaixada Americana.
Fazemos nosso o seu apelo à participação do povo de Lisboa. O imperialismo estadounidense é o grande inimigo da humanidade.
segunda-feira, 21 de março de 2011
A "operação Líbia" e a batalha pelo petróleo: redesenhar o mapa da África
As implicações geopolíticas e econômicas
de uma intervenção militar do bloco EUA-OTAN contra a Líbia são de grande
alcance.
A Líbia
está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com aproximadamente
3,5% das reservas globais de petróleo, mais que o dobro das dos EUA.
A
"Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no
Oriente Médio e na Ásia Central, a qual consiste em ganhar controle e
propriedade corporativa sobre mais de 60% da reservas mundiais de petróleo e
gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.
"Países
muçulmanos, incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emirados Árabes
Unidos, Qatar, Iêmen, Líbia, Egito, Nigéria, Argélia, Cazaquistão,
Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei, possuem de 66,2 a 75,9 por cento do
total das reservas de petróleo, conforme a fonte e a metodologia da
estimativa" (ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of
Muslims and the Battle for Oil, Global Research, 04/01/2007).
Com
46,5 bilhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do Egito), a Líbia é
a maior economia petrolífera do continente africano, seguida por Nigéria e
Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas provadas dos EUA são
da ordem dos 20,6 bilhões de barris (dezembro de 2008), segundo a Energy
Information Administration - U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas
Liquids Reserves.
Nota
As
estimativas mais recentes situam as reservas de petróleo da Líbia nos 60
bilhões de barris. As suas reservas de gás em 1.5 trilhão de metros cúbicos.
A sua produção tem estado entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia e a produção
de gás de 2,6 bilhões de pés cúbicos por dia, segundo números da National Oil
Corporation (NOC).
A BP
Statistical Energy Survey de 2008 (em alternativa) colocava as reservas
provadas da Líbia nos 41.464 bilhões de barris no fim de 2007, os quais
representam 3,34% das reservas provadas do mundo (Mbendi Oil and Gas in
Libya - Overview).
O
petróleo é o "troféu" das guerras conduzidas pelos EUA-OTAN
Uma
invasão da Líbia sob um pretexto humanitário serviria os mesmos interesses
corporativos da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque. O objetivo
subjacente é tomar posse das reservas de petróleo da Líbia, desestabilizar a
National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria
petrolífera do país, nomeadamente transferir o controle e propriedade da
riqueza petrolífera Líbia para mãos estrangeiras.
A
National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 25 maiores
companhias de petróleo do mundo (The Energy Intelligence ranks NOC
25 among the world's Top 100 companies – www.Libyaonline.com).
A
planejada invasão da Líbia, a qual já está em curso, é parte da "Batalha
pelo petróleo" mais vasta. Aproximadamente 80% das reservas de petróleo
da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental (ver
mapa abaixo).
A Líbia
é uma economia valiosa. "A guerra é bom para os negócios". O
petróleo é o troféu das guerras efetuadas pelos EUA-OTAN.
A Wall
Street, os gigantes anglo-americanos do petróleo e os produtores de armas dos
EUA e União Européia seriam os beneficiários tácitos de uma campanha militar
dos EUA-OTAN contra a Líbia, pois seu petróleo é uma mina de ouro para eles.
Embora
o valor de mercado do petróleo bruto esteja atualmente pouco acima dos 100
dólares por barril, o custo do petróleo líbio é extremamente baixo, tão baixo
como US$1,00 por barril (segundo estimativas). Como comentou um perito do
mercado algo criticamente: "A US$110 no mercado mundial, a simples
matemática da a Líbia uma margem de lucro de US$109" ( Libya Oil , Libya Oil One
Country's $109 Profit on $110 Oil, EnergyandCapital.com March 12, 2008).
Interesses
petrolíferos estrangeiros na Líbia
Dentre
as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na
Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National
Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL,
ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.
Muito
significativamente, a China desempenha um papel central na indústria
petrolífera líbia. A China National Petroleum Corp (CNPC) tinha, até o seu
repatriamento, uma força de trabalho de 30 mil chineses na Líbia. A British
Petroleum (BP), em contraste, tinha uma força de trabalho de 40, a qual foi
repatriada.
Onze
por cento (11%) das exportações de petróleo líbias são canalizadas para a
China. Se bem que não haja números sobre a dimensão e importância da produção
e atividades de exploração da CNPC, há indicações que são apreciáveis.
Mais
geralmente, a presença da China na África do Norte é considerada por
Washington como uma intrusão. De um ponto de vista geopolítico, a China é uma
intrusa. A campanha militar dirigida contra a Líbia pretende excluir a China
da África do Norte.
O papel
da Itália também tem importância. A ENI, o consórcio italiano, extrai 244 mil
barris de gás e petróleo por dia, os quais representam quase 25% do total das
exportações da Líbia (Sky News: Foreign oil firms halt
Libyan operation , 23/02/2011).
Dentre
as companhias estadunidenses na Líbia, a Chevron e a Occidental Petroleum
(Oxy) decidiram há cerca de seis meses (outubro de 2010) não renovar as suas
licenças de exploração de petróleo e gás na Líbia (Why are Chevron and Oxy leaving Libya?: Voice of Russia ,
06/10/2010). Em contraste, em novembro de 2010 a companhia
alemã R.W. DIA E assinou um acordo de grande alcance com a NOC da Líbia, que
envolve a exploração e partilha de produção (AfricaNews - Libya: German
oil firm signs prospecting deal - The AfricaNews).
As
apostas financeiras bem como "os despojos de guerra" são
extremamente elevados. A operação militar pretende desmantelar instituições
financeiras da Líbia e também confiscar bilhões de dólares de ativos
financeiros líbios depositados em bancos ocidentais.
Deve
ser enfatizado que as capacidades militares da Líbia, incluindo o seu sistema
de defesa aérea, são fracas.
Redesenhar
o mapa da África
A Líbia
tem as maiores reservas de petróleo da África. O objetivo da interferência
dos EUA-OTAN é estratégico: consiste no roubo sem rodeios, em roubar a
riqueza petrolífera do país sob o disfarce de uma intervenção humanitária.
Esta
operação militar pretende estabelecer a hegemonia dos EUA na África do Norte,
uma região historicamente dominada pela França e em menor extensão pela
Itália e Espanha.
Em
relação à Tunísia, Marrocos e Argélia, o desígnio de Washington é enfraquecer
os laços políticos destes países com a França e pressionar pela instalação de
novos regimes políticos que tenham um estreito relacionamento com os EUA.
Este enfraquecimento da França, como aspecto do desígnio imperial dos EUA,
faz parte de um processo histórico que remonta às guerras na Indochina.
A
intervenção dos EUA-OTAN que conduza à futura formação de um regime fantoche
dos EUA pretende também excluir a China da região e por para fora a chinesa
National Petroleum Corp (CNPC). Os gigantes anglo-americanos, incluindo a
British Petroleum que em 2007 assinou um contrato de exploração com o governo
Kadafi, estão entre os potenciais "beneficiários" da proposta operação
militar EUA-OTAN.
Mais na
generalidade, o que está em causa é o redesenho do mapa da África, um
processo de redivisão neocolonial, o descarte das demarcações da Conferência
de Berlim de 1884, a conquista da África pelos Estados Unidos em aliança com
a Grã-Bretanha, numa operação conduzida pelos EUA-OTAN.
Líbia:
Portão saariano estratégico para a África Central
A Líbia
tem fronteiras com vários países que estão na esfera de influência da França,
incluindo a Argélia, Tunísia, Níger e Chade.
O Chade
é potencialmente uma economia rica em petróleo. A ExxonMobil e a Chevron têm
interesses no Chade do Sul, incluindo um projeto de oleoduto. O Chade do Sul
é um portão de entrada para a região do Darfur, no Sudão, a qual também é
estratégica em vista da sua riqueza petrolífera.
A China
tem interesses petrolíferos tanto no Chade como no Sudão. A China National
Petroleum Corp (CNPC) assinou em 2007 um acordo de grande alcance com o
governo do Chade.
O Níger
é estratégico para os Estados Unidos devido às suas vastas reservas de
urânio. No presente, a França domina a indústria de urânio no Níger através
do conglomerado nuclear francês Areva, anteriormente conhecido como Cogema. A
China também tem interesse na indústria de urânio do Níger.
Mais
geralmente, a fronteira sul da Líbia é estratégica para os Estados Unidos na
busca pela extensão da sua esfera de influência na África francófona, um
vasto território que se estende desde a África do Norte até a África Central
e Ocidental. Historicamente, esta região fazia parte dos impérios coloniais
da França e da Bélgica, cujas fronteiras foram estabelecidas na Conferência
de Berlim de 1884.
Os EUA
desempenharam um papel passivo na Conferência de Berlim de 1884. Esta nova
redivisão no século XXI do continente africano, baseada no controle sobre o
petróleo, gás natural e minerais estratégicos (cobalto, urânio, cromo,
manganês e platina) apoia amplamente os interesses corporativos
anglo-americanos.
A
interferência dos EUA na África do Norte redefine a geopolítica de toda uma
região. Mina a China e ensombra a influência da União Europeia.
Esta
nova redivisão da África não enfraquece apenas o papel das antigas potências
coloniais (incluindo a França e a Itália) na África do Norte. Ela também faz
parte de um processo mais vasto de deslocamento e enfraquecimento da França
(e da Bélgica) sobre uma grande parte do continente africano.
Regimes
fantoches dos EUA foram instalados em vários países africanos que
historicamente estavam na esfera de influência da França (e Bélgica),
incluindo a República do Congo e o Ruanda. Vários países na África Ocidental
dentro da esfera da França (incluindo a Costa do Marfim) estão destinados a
tornarem-se estados proxy dos EUA.
A União
Europeia está fortemente dependente do fluxo de petróleo líbio. Oitenta e
cinco por cento do seu petróleo é vendido para países europeus. No caso de
uma guerra com a Líbia, a oferta de petróleo à Europa Ocidental poderia ser
interrompida, afetando grandemente a Itália, França e Alemanha, as quais
estão fortemente dependentes do petróleo líbio. As implicações destas
interrupções são de extremo alcance. Elas também têm relação direta sobre o
relacionamento entre os EUA e a União Europeia.
Observações
conclusivas
A mídia
de referência, através da desinformação maciça, é cúmplice na justificação de
uma agenda militar, que se executada teria conseqüências devastadoras não
apenas para o povo líbio: os impactos sociais e econômicos seriam sentidos em
escala mundial.
Há
atualmente três diferentes teatros de guerra na região do Oriente Médio e
Ásia Central: Palestina, Afeganistão, Iraque. No caso de um ataque à Líbia, o
quarto teatro de guerra seria aberto na África do Norte, com o risco de
escalada militar.
A
opinião pública deve tomar conhecimento da agenda oculta por trás deste
empreendimento alegadamente humanitário, apregoado por chefes de Estado e
chefes de governos de países da OTAN como uma "Guerra Justa". A
teoria da Guerra Justa, tanto nas suas versões clássica como contemporânea,
defende a guerra como uma "operação humanitária". Ela apela à
intervenção militar sobre bases éticas e morais contra "Estados
vilões" e "terroristas islâmicos". A teoria da Guerra Justa
demoniza o regime Kadafi na sua fase de preparação.
Os
chefes de Estado e de governo dos países da OTAN são arquitetos da guerra e
destruição no Iraque e no Afeganistão. Numa lógica absolutamente enviesada,
eles são apregoados como as vozes da razão, como os representantes da
"comunidade internacional".
As
realidades são invertidas. Uma intervenção humanitária é lançada por
criminosos de guerra em altos cargos, os quais são os guardiões da teoria da
Guerra Justa.
Abu
Ghraib, Guantánamo, baixas civis no Paquistão resultantes de ataques dos EUA
com aviões sem piloto a cidades e aldeias, ordenados pelo presidente Obama,
não estão nas primeiras páginas dos noticiários nem tampouco as duas milhões
de mortes civis no Iraque. Não existe isso de "Guerra Justa".
A
história do imperialismo dos EUA deveria ser entendida. O Relatório 200 do Project
of the New American Century (PNAC) intitulado "Rebuilding Americas'
Defenses" apela à implementação de uma longa guerra, uma
guerra de conquista. Um dos principais componentes desta agenda militar é: "Combater
e vencer decisivamente em múltiplos teatros de guerra simultâneos".
A
operação Líbia faz parte desse processo. É um outro cenário na lógica do
Pentágono de "teatros de guerra simultâneos".
O
documento PNAC reflete fielmente a evolução da doutrina militar dos EUA desde
2001. Os planos dos EUA para se envolver simultaneamente em vários teatros de
guerra em diferentes regiões do mundo.
Embora
a proteção da América, nomeadamente a "Segurança Nacional" dos EUA,
seja mantida como objetivo, o relatório do PNAC explica claramente porque
estes teatros de guerra múltiplos são requeridos. A justificativa humanitária
não é mencionada.
Qual é
o objetivo do roteiro militar da América?
A Líbia
é alvejada porque é um dentre os vários países que permanecem fora da esfera
de influência da América, por não se acomodar às exigências dos EUA. A Líbia
é um país que foi selecionado como parte de um "roteiro" militar
que consiste de "múltiplos teatros de guerra simultâneos". Nas
palavras do antigo comandante-chefe da OTAN, general Wesley Clark:
"No
Pentágono em novembro de 2001, um dos oficiais superiores do staff teve tempo
para uma conversa. ‘Sim, ainda estamos a caminho de ir contra o Iraque’,
disse ele. Mas havia mais. Isso estava sendo discutido como parte de um plano
de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países,
começando com o Iraque e seguindo por Síria, Líbano, Líbia, Irã, Somália e
Sudão (Wesley Clark, Winning Modern Wars, p. 130).
Parte III: "War is
Good for Business": The Libya Insurrection has Triggered a Surge in Oil
Prices. Speculators
Applaud... (a publicar)
O
original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23605
Este
artigo foi retirado de http://resistir.info/.
Michel
Chossudowsky é membro do Centro de Pesquisas sobre a Globalização e autor de
‘A globalização da pobreza’.
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