O Partido Comunista do Brasil recebeu na noite de segunda-feira
(18), em sua sede em São Paulo a visita de Theodosius (Attallah) Hanna,
Arcebispo do Patriarcado Greco-Ortodoxo e Patriarca de Jerusalém.
Conhecido internacionalmente pela defesa da causa palestina, terra em
que nasceu, e por várias obras escritas ao longo de sua vida, o
Arcebispo é o responsável, dentre outras funções clericais, pelo Santo
Sepulcro, em Jerusalém.Além de Theodosius, estiveram presentes
vários representantes da comunidade árabe em São Paulo. O Patriarca de
Jerusalém fez um agradecimento ao Partido Comunista do Brasil e também a
outras organizações políticas, sindicais e sociais brasileiras que
apoiam a causa palestina, a independência e o fim da ocupação sionista
da região.
Em sua intervenção Theodosius conta que sua Igreja mantém bom
relacionamento com os partidos nacionalistas da região, desde que não
tenham qualquer tipo de relacionamento com entidades ou organizações
sionistas.
Para que sejam considerados amigos do povo palestino, aqueles que
visitam a região devem definir, de antemão, de que lado estão.
Theodosius conta que o Arcebispo de Canterbury viajou à região e, por
ter sido recebido com pompas pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu, tornou-se persona non-grata para a comunidada ortodoxa
palestina.
“Na questão palestina, nós não negociamos. Somos terminantemente a
favor do povo palestino. Nós recusamos o discurso do intermediário,
daquele que fica em cima do muro”, contou.
“Ao redor do mundo existem muitas pessoas que se dizem amigos de
israel. Eles vão até lá, se colocam como seus aliados, contra os
palestinos. Na verdade, essas pessoas não são amigas de Israel, porque
deveriam dizer com clareza que Israel deveria dar um fim ao sofrimento
que inflinge aos palestinos. Se você comete um erro e alguem aplaude
esse erro, não pode ser considerado seu amigo”, afirmou.
“Não somos contra o judaísmo”
Theodosius conta que a maior oposição que se faz é ao sionismo, à
ocupação militar e ao Estado sionista de Israel, não à religião judaica.
“Respeitamos a religiao e o povo, temos amigos judeus que nos visitam
e os visitamos, que acreditam como nós que a religião não divide as
pessoas. Mesmo que tenhamos diferenças religiosas, somos humanos. Não
somos inimigos do povo judeu nem da religião. Recusamos a usar a
religião a serviço da política. Israel, como estado de ocupação e ao
mesmo tempo judeu, explica a questão judaica e insere a questão sionista
contra o povo”.
“A palestina é o berço das religiões monoteistas, temos de ser
exemplo de relacionamento e de aproximação com os outros. Recusamos que a
religião seja usada para questões políticas. Isso se aplica ao
judaísmo, ao cristianismo e ao islamismo. Não queremos uma pátria
religiosa”, prossegue.
Em relação ao processo atual de “judaicização” do Estado de Israel,
proposto pela extrema-direita quegoverna o país, Theodosius é claro:
“Hoje Isral se propõe ser um estado judeu. Para nós, árabes palestinos,
isso é ruim, porque nega a presença de árabes na região. Isso é uma
falsificação da história. Nos negamos a aceitar um estado judeu ou
islamico, porque nossa experiencia foi muito sofrida com esse tipo de
estado”.
“A Igreja ortodoxa, que neste momento represento e falo em nome dela,
sofreu muitas agressões ao longo de sua história. E as mais graves não
partiram dos muçulmanos, mas dos cristãos do ocidente, que quiseram
fazer da nossa região um estado cristão-ocidental. Isso aconteceu na
época das cruzadas, quando os cristãos ocidentais invadiram a região e
usurparam os locais sagrados das outras religiões, até que veio
Saladino, que devolveu esses lugares sacros aos osrtodoxos”, conta.
Convivio solidário e fraterno
José Reinaldo Carvalho, secretário de Comunicação do PCdoB e editor
do Portal Vermelho, agradeceu a visita de Theodosius ao partido e
discorreu sobre os laços de solidariedade e fraternidade que unem
brasileiros e árabes.
“Em primeiro lugar, quero dar as boas vindas à Vossa Eminência e aos
amigos da comunidade árabe presentes, em nome do Vermelho e do PCdoB.
Queria desejar que ele tenha uma boa estada em nossa terra. O povo
brasileiro é um povo irmão do povo árabe”, falou Carvalho.
O secretário destacou a história de convívio solidário e fraterno dos
brasileiros com os imigrantes árabes, que começaram a chegar ao país no
fim do século 19, trazendo consigo seus costumes e sua cultura e
influenciando com eles os seus anfitriões.
“Nosso país deu abrigo, agasalho e fraternidade aos imigrantes árabes
que chegaram aqui já no fim do século 19 e começo do século 20. O
Brasil adquiriu dos nosos irmãos árabes a cultura, que se traduz em
vários dominios, na religião, na culinária, na língua. Nos temos um
imenso sentimento de fraternidade com os árabes”, afirmou.
“Do ponto de vista político, o Partido Comunista do Brasil tem uma
posição de irrestrita solidariedade com os povos arabes e os palestinos.
Consideramos que os palestinos e outros povos árabes foram martirizados
pelo neocolonialismo sionista” destacou.
“Nós nos opomos à ocupação israelenses dos territórios árabes e da
Palestina e apoiamos todas as reivindicações dos povos arabes e
palestinos pela retirada de Israel desses territórios. Somos favoráveis à
criação do Estado da Palestina e consideramos justa a proclamação e o
reconhencimento desse Estado pela Assembleia das Nações Unidas, no mês
de setembro próximo, de acordo com a proposição encaminhada já pela
Autoridade Nacional Palestina”, destacou .
Carvalho também destacou a posição do partido em relação à ocupação
israelense dos territórios palestinos. “É uma violação do direito
internacional e uma violação da soberania nacional do povo palestino e
corresponde aos planos genocidas do Estado de israel de exterminar o
povo palestino”, diz.
Carvalho também contou a Theodosius um pouco da história do PCdoB,
lembrando que o partido foi o primeiro, na década de 1940, a exigir do
Estado brasileiro o respeito por todas as religiões existentes no país.
“Nós fazemos parte de um partido político que tem uma concepção
filosofica não religiosa, mas respeitamos todas as religiões. O povo
brasileiro é um povo religioso, majoritariamente cristão e o nosso
partido foi o primeiro, nos anos 1940, que exigiu o respeito a todas as
religiões”, lembra.
“Compreendemos que a religião deveria ser um fator de unidade, de
afirmação pessoal das pessoas, e não de desunião. Nesse sentido, nós
valorizamos as palavras de Vossa Eminência e desejamos que a sua igreja
continue desempenhando um papel na luta pela libertação do povo
palestino. Estamos, nosso partido e o povo brasileiro, à disposição
dessa luta”, finalizou.