terça-feira, 16 de agosto de 2011

Violações dos direitos indígenas

Escrito por Frei Betto   no CORREIO DA CIDADANIA

Reunidos em assembléia anual em São Félix do Araguaia (MT), em julho, missionários e missionárias do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Regional Mato Grosso, vinculado à CNBB, refletiram sobre a problemática dos territórios indígenas invadidos por grileiros e latifundiários ou ainda por demarcar.
  
A situação da terra dos xavante de marãiwatsédé é emblemática. Embora tenham retornado ao seu território tradicional em 2004, após nove meses acampados na beira da BR 158, ainda estão impedidos de tomar posse efetiva de sua terra. Esta continua invadida por grandes fazendeiros e uns poucos pequenos produtores rurais, o que demonstra flagrante desrespeito aos direitos assegurados na Constituição Federal, que lhes garante o usufruto exclusivo daquela área.
  
Desde então, os xavante de marãiwatsédé vêm sofrendo constantes agressões e, inclusive, atentados físicos. Em junho, a ameaça se agravou, devido à lei aprovada pela Assembléia Legislativa do Mato Grosso e sancionada pelo governador. A lei propõe a permuta do território tradicional indígena pelo Parque Estadual do Araguaia, para onde os xavante seriam transferidos, caso aceitassem a proposta.
  
Ora, mudar povo indígena de sua terra originária equivale a arrancar uma criança de sua família e impor outra a ela. Essa tentativa do governo de Mato Grosso visa a, claramente, favorecer o agronegócio, principal beneficiário da invasão daquelas terras. O povo xavante recusou a proposta, considerada inconstitucional e indigna.
  
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Usinas Hidrelétricas (UEH) estão sendo implantadas em vários rios da região, como ocorre na bacia do Juruena. Ali são instaladas diversas PCHs, entre as mais de cinqüenta projetadas.
O efeito cumulativo dessas usinas provocará grandes transformações ambientais, interferindo drasticamente na vida dos povos que dependem daqueles rios. Serão atingidos, sobretudo, os rikbaktsa, enawenê-nawê, nambikwara e mỹky.
    
A implantação desses projetos também fere a Constituição, pois não houve nem as oitivas indicadas no artigo 231, § 3º, nem a consulta livre e informada, de acordo com a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
  
Trata-se de violação dos direitos indígenas, efetivada a favor de interesses políticos e econômicos, apesar de protestos e manifestações contrárias dos diferentes povos da região noroeste do Mato Grosso.
    
Os povos indígenas vivenciam uma relação amorosa com a Mãe Terra, que se contrapõe à exploração mercantilista dos recursos naturais. Cada povo desfruta essa relação em projetos de vida em que os valores da convivência e da partilha concretizam a proposta do Bem Viver. A vida se faz em dimensões não cumulativas, onde a gratuidade é celebrada nos ritos, nas festas, no trabalho, no viver em comunidade e trabalhar em mutirão.   
Esse modo de vida não agride a natureza; ao contrário, considera o ser humano parte dela. Esse é um caminho viável, não só para os povos indígenas, mas também para nossa sociedade, desde que assuma seriamente o projeto de desenvolvimento sustentável.
    
Frente aos grandes impasses a que a humanidade chegou devido à forma devastadora como destrói a própria casa, a Terra, é preciso reaprender com os povos indígenas que a vida tem por objetivo central a felicidade humana em sua dimensão comunitária. Isso só se alcança se a partilha predominar sobre a acumulação, o direito coletivo sobre o individual, o amor sobre o egoísmo, a vida de todos sobre o lucro de uns poucos.
    
Os povos indígenas são nossos ancestrais. Pesquisas genéticas demonstram que nós, brasileiros, deles herdamos mais genes do que dos negros africanos escravizados em nosso país durante o período colonial. Frente ao neorracismo em ascensão na Europa, nossa miscigenação é uma riqueza a ser preservada.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de “O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade” (Agir), entre outros livros. Página na web: http://www.freibetto.org/ ; Twitter: twitter:@freibetto

Qual das ditaduras é pior?


Por Izaías Almada


Meu amigo bissexto, porque nos vemos pouco pessoalmente, mas grande amigo, publicitário e músico, o Luiz Orquestra (Luiz Vidal Rocha em cartório), sempre que pode comenta alguma coisa dos artigos que escrevo, normalmente com o entusiasmo dos amigos.
Não sei se sou sempre merecedor dos elogios dele, mas suas reflexões são também um fator de crítica e de arguta observação sobre muitas das mazelas brasileiras, aquelas que insistem em continuar, e algumas delas ampliadas e magnificadas politicamente pela parte mais calhorda da nossa imprensa, seja no rádio, nos jornais, revistas e na televisão.
Disse-me o Luiz Orquestra que comentando um artigo no blog do Ricardo Kotscho, teve a oportunidade de fazer a ele a seguinte pergunta: Qual a pior ditadura no Brasil, a dos militares, a do Poder Judiciário ou a da Rede Globo de Televisão? Em seguida me desafiou a responder também. Perguntinha danada, mas vou tentar…
Começaria por dizer o óbvio, ululante, nas palavras de Nelson Rodrigues: qualquer tipo de ditadura é condenável.
Curiosamente, as perguntas do Luiz, na ordem em que estão feitas, apresentam uma lógica na sua sequencia, pois vão das botas e dos fuzis à manipulação das ideias, passando pela habilidosa e dissimulada justiça à brasileira.
A ditadura militar é explícita e só não a identifica ou não a vê quem dela se beneficia. Alguns até a consideram branda. Costuma botar os canhões nas ruas, bater e arrebentar, fechar congressos e sindicatos, censurar a imprensa, proibir reuniões, instituir o toque de recolher, prender, torturar e matar.
Embora disseminada pelos vários cantos do mundo através da história da humanidade, a ditadura militar (muitas vezes preparada, sustentada e apoiada pelos civis que covardemente não dão as caras), teve um período de forte presença na América Latina nas décadas de 60 e 70, particularmente no seu cone sul. No Brasil, ela durou 21 anos, entre 1964 e 1985.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem diz em três dos seus artigos o seguinte:
Artigo Três
Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo Cinco
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo Nove
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Os três artigos caracterizam bem o que se passou entre nós. Por ser explícita, violenta e palpável, será sempre possível aos cidadãos de um país confrontá-la até por meio das armas e da rebelião. Não são poucos os exemplos a respeito, inclusive em nosso Brasil.
A ditadura do Poder Judiciário, embora condenável em todos os aspectos, é mais sutil, pois se valendo da independência dos poderes republicanos consegue dissimular muitas das injustiças que pratica. Na democracia formal e representativa, que caracteriza a maioria dos países ocidentais, costuma fazer aquilo que se pode definir como justiça de classe, normalmente em defesa daqueles que possuem o poder econômico.
No Brasil chega a ser constrangedor o desempenho da justiça, onde se pode traçar uma nítida linha divisória entre as decisões que beneficiam os mais poderosos economicamente e as condenações aos menos favorecidos, aos que vivem no andar de baixo e nos porões.
Carregando ainda inúmeros vícios do nosso passado colonial, não é demais afirmar que o Poder Judiciário no Brasil não deixou de todo a Casa Grande, sendo mais inclemente nos casos em que os réus estão mais próximos da senzala.
Pode-se dizer que o judiciário caminha na direção do vento e este pode estar a favor ou contra, mas quando exercido sem o sentido primordial para o qual foi concebido, o exercício imparcial da justiça sem atalhos ou subterfúgios, torna-se um instrumento ditatorial dos mais terríveis. Por vezes, só é possível mudar essa característica com o advento de revoluções e grandes transformações na educação de um povo.
Quanto a Rede Globo de Televisão, e parte do complexo mediático a que pertence, tem a característica de ter sido criada na ditadura militar e de se beneficiar de uma justiça verdadeiramente cega. Beneficiária direta de dois tipos de ditaduras apontadas pelo Luiz Orquestra, o canal do plim-plim vem sobrevivendo há varias décadas e governos no delicado e perigoso terreno da manipulação das ideias e das consciências. Já tentou manipular eleições, distorceu debates políticos, criou inúmeros factóides com o objetivo de lançar a confusão na cabeça dos cidadãos brasileiros e faz do seu jornalismo e das suas novelas, com as cinco ou seis exceções de sempre, uma ardilosa e sibilina lavagem cerebral de milhões de espectadores. Na maioria das vezes com o viés conservador e preconceituoso.
Não é por acaso que a letra de um tema musical de uma das suas novelas dizia: “ê,ê,ê, vida de gado… Povo marcado, povo feliz…” Ironia?
A última denúncia feita aqui nesse mesmo blog pelo Rodrigo Vianna sobre o tratamento que a Rede Globo pretende dar ao recém nomeado Ministro da Defesa, Celso Amorim, já diz bem sobre o conceito de democracia da emissora. Em muitas cabeças, a ditadura é perene. E essa acaba por ser a pior…

A internet ameaçada



Por Emiliano José


Está em curso no Brasil uma clara luta política, envolvendo a internet.  Que ninguém se engane: é uma luta política. Há a posição dos que acreditam, como eu e vários outros deputados e deputadas, como Paulo Teixeira, Luiza Erundina, Jean Willis, Manuela D´Avila, Paulo Pimenta  e tantos outros, que primeiro é o caso de garantir a existência de um marco civil garantidor das liberdades, uma espécie de orientação básica do direito humano de acesso à internet, hoje um instrumento fundamental para o desenvolvimento da cidadania, da cultura, da educação e da própria participação política.

E a posição dos que se apressam a procurar mecanismos de criminalização dos usuários da rede, que hoje no Brasil, com todas as dificuldades de acesso, já chegam perto dos 70 milhões. Como pensar primeiro no crime face a essa multidão, e depois na liberdade de acesso? Só os conservadores, interessados em atender a evidentes interesses econômicos, podem pensar primeiro na criminalização e só então nos direitos democráticos dos usuários.

Creio que a internet, tenho dito isso com frequência, é uma espécie de marco civilizatório, que mudou a natureza da sociabilidade contemporânea, a relação entre as pessoas e os povos, mudou a própria política, impactou a própria noção de representação. Constitui um admirável mundo novo, a ser preservado sob um estatuto de liberdades, e não constrangido sob uma pletora de leis criminalizantes. Talvez seja o seu potencial revolucionário, a possibilidade que ela dá de articulação em rede, que provoque urticária nos conservadores. Talvez, não. Certamente.


Nos últimos dias, os defensores da criminalização navegam num cenário de representação terrorista, como se os últimos ataques de hackers a sites governamentais fossem uma absoluta novidade e como se uma legislação que criminalize usuários ou tente colocá-los sob o guante de um vigilantismo absoluto fosse segurança suficiente para a ação dos hackers. Os ataques aos sites governamentais não tiveram qualquer gravidade, foram coisas de amadores, como já se provou. E curioso é que só tenham sido atacados sites do governo. Não é que não haja leis ou que não deva haver. Deve. Mas, devagar com o andor que o santo é de barro.


Primeiro, vamos pensar nas liberdades. Não devemos nos apressar, como pretende o deputado Azeredo, com o projeto de criminalização de usuários, a pretender uma vigilância absurda ao acabar com a navegação anônima na rede, ao querer guardar por três anos os dados de todo mundo nos provedores, ao estabelecer uma espécie de big brother pairando sobre a multidão de navegantes, que tem o direito de liberdade de expressão e não podem estar submetidos ao grande irmão.

O governo federal se preocupou com isso, com as liberdades, e instalou uma consulta pública sobre o Marco Civil da Internet no Brasil de forma a construir democraticamente um sistema garantidor de princípios, garantias e direitos dos usuários da internet, o que é a atitude mais correta, e primeira, se quisermos tratar a sério das coisas da rede.

Entre outubro de 2009 e maio de 2010 a consulta se desenvolveu, com ampla participação, e, ao que sabemos, o marco civil foi elaborado, só faltando a assinatura do Ministério do Planejamento para voltar à Casa Civil da Presidência da República, para então, assinado pela presidenta Dilma, chegar à Câmara Federal.

Não se trata de primeiro chamar a polícia. Primeiro, vamos garantir liberdades e direitos. Depois, pensar na tipificação dos crimes. Até porque a ideia de que colocar na cadeia um bocado de jovens usuários resolve o problema é uma ilusão de bom tamanho. Os hackers, os mais competentes, os mais habituados aos segredos da rede, costumam entrar em sistemas sofisticados sem grandes dificuldades. A própria rede, no entanto, tem condições amplas de desenvolver sistemas de prevenção, de segurança, reconhecidamente eficientes, embora não se possa dizer nunca que invioláveis.

Creio que o melhor é baixar a bola, insistir junto ao governo para o envio o mais rápido possível do projeto do marco civil da internet para o Congresso, e depois disso, então pensar na tipificação dos crimes e nas punições possíveis, sem nunca mexer nas liberdades dos usuários, e sem estabelecer quaisquer medidas que visem acabar com a navegação anônima, até porque isso, sem dúvida, seria mexer com o princípio sagrado das liberdades individuais e confrontaria com a própria Constituição.

No dia 13 de julho, foi realizado um seminário na Câmara Federal, com a participação de especialistas e de setores da sociedade civil, para debater o assunto. O seminário foi resultado de uma proposta minha, com a visão que expresso aqui, e outra do deputado Sandro Alex, que tem uma visão diversa, embora, como me disse, disposto ao diálogo para chegar a um consenso. Nós juntamos as duas iniciativas, e o debate foi muito esclarecedor de que interesses estão em jogo.

De um lado, aqueles que defendem o projeto Azeredo, estiveram empresas de segurança da área da informática, escritórios de advocacia interessados nos clientes que o projeto Azeredo vai criar, e setores conservadores do Judiciário. Do outro lado, entre os que sustentam as posições que tenho defendido, os que defendem a liberdade na internet e que demonstraram o quanto de atraso poderia significar a aprovação desse projeto, que a rede dos libertários chamou com propriedade de AI-5 digital da internet.

Ficou evidente, durante o seminário, que o projeto Azeredo, além de tudo, atende aos interesses do mundo das empresas que defendem os direitos autorais no sentido mais conservador, inclusive dos grandes centros da indústria cultural dos EUA. É que o projeto pretende impedir a prática tão comum da maioria dos internautas de baixar músicas, por exemplo. Milhões de pessoas seriam criminalizadas se o AI-5 digital fosse aprovado. Os militantes digitais que se colocam contra o projeto entregaram ao presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Bruno Araújo, do PSDB, durante o seminário, por proposta minha, um abaixo-assinado com mais de 163 mil assinaturas contra o projeto, a evidenciar o quanto de revolta ele tem provocado.

Há a previsão de que o projeto seja votado logo no início de agosto deste ano. Lutamos para que não fosse votado imediatamente, como se pretendia, e justiça se faça, o deputado Azeredo concordou com o adiamento. Creio, no entanto, que o melhor seria, como já disse, aguardar a chegada do marco civil para só depois, então, pensar na tipificação de crimes. E vamos tentar isso. Na verdade, o projeto é muito ruim e não deveria ser aprovado. O importante é que todos estejam atentos para que a democracia não seja atingida, para que a liberdade na internet não seja violentada.

Emiliano José é jornalista, escritor, doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia.

Professores fazem greve nacional por cumprimento da Lei do Piso



Professores de escolas públicas de todo o país param as atividades nesta terça-feira (16) para pedir o cumprimento da lei que estabelece um piso salarial para a categoria. A paralisação foi convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pelo menos em 11 estados os sindicatos locais prepararam assembleias e outras atividades de mobilização.


A Lei do Piso foi sancionada em 2008 e determinou que nenhum professor da rede pública com formação de nível médio e carga horária de 40 horas semanais pode ganhar menos do que R$ 950. O valor do piso corrigido para 2011 é R$ 1.187. Naquele mesmo ano, cinco governadores entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionalidade da legislação e só este ano a Corte decidiu pela legalidade do dispositivo. Desde então, professores de pelo menos oito estados entraram em greve no primeiro semestre de 2011 reivindicando a aplicação da lei.

“É uma teimosia e um descaso dos gestores em cumprir essa lei, o que caracteriza falta de respeito com o educador. Prefeitos e governadores estão ensinando a população a desrespeitar a lei quando não cumprem ou buscam subterfúgios para não cumprir”, defende o presidente da CNTE, Roberto Leão.

Um dos pontos da lei que foi questionado pelos gestores é o entendimento de piso como remuneração inicial. O STF confirmou, durante o julgamento, que o piso deve ser interpretado como vencimento básico: as gratificações e outros extras não poderiam ser incorporados à conta como costumam fazer algumas secretarias de Educação. “Isso [incorporação de gratificações] descaracteriza o piso e a carreira. Como a lei determina um piso para professores de nível médio, em alguns estados a diferença do piso do profissional de nível médio para o de nível superior é apenas R$ 30. Desse jeito, a carreira não atrai mais os jovens para o magistério porque ele não tem perspectiva”, diz Leão.

As prefeituras alegam que faltam recursos para pagar o que determina a lei. Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com 1.641 prefeituras mostra que, considerando o piso como vencimento inicial, a média salarial paga a professores de nível médio variou, em 2010, entre R$ 587 e R$ 1.011,39. No caso dos docentes com formação superior, os valores variaram entre R$ 731,84 e R$ 1.299,59. “Eu nunca vi município ir à falência porque construiu biblioteca ou pagou bem a seus professores”, reclama o presidente da CNTE.

Agência Brasil

Os heróis esquecidos de Chernobyl

Por Marco St.
Esse texto é tão magnífico, preciso e esclarecedor que vou postá-lo pela segunda vez aqui. Merece ser conhecido pelo maior número de pessoas. Uma história extraordinária que poucos conhecem.
Os Três Super-Heróis Esquecidos de Chernobyl

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Artigo original de La Pizarra de Yuri

Tradução gentilmente autorizada, colaboração de Jorge Jarufe

Podem-se salvar milhões de pessoas sacrificando a sua própria, sem que ninguém se lembre.
É uma das histórias mais conhecidas do nosso tempo: no dia 26 de abril de 1986, o reator número 4 da central nuclear de Chernobyl explodiu durante um teste de segurança mal executado, depois de 24 horas de manipulações insensatas e mais de duzentas violações do Regulamento de Segurança Nuclear da União Soviética. Estas ações conduziram ao envenenamento por xenônio do núcleo, levando-o a uma acumulação neutrônica seguida por um aumento de energia que causou duas grandes explosões às 01h24 da madrugada.
Sobre Chernobyl foram contadas muitas mentiras. E foram contadas por muitas pessoas, desde as autoridades soviéticas da época até a indústria nuclear ocidental, passando pelos propagandistas de todos os tipos e a coleção de conspiracionistas habituais. Há uma delas que me molesta de modo particular, e é a de que os liquidadores – quase um milhão de pessoas que se encarregaram do problema – eram uma horda de pobres ignorantes levados lá sem saberem a classe de monstro que tinham na frente. E molesta-me porque constitui um desprezo ao seu heroísmo.
E também porque é radicalmente falso. Uma turba ignorante não serve para nada em um acidente tecnológico tão complexo. As equipes de liquidadores estavam compostas, principalmente, por bombeiros, cientistas e especialistas da indústria nuclear; tropas terrestres e aéreas prontas para a guerra atômica e engenheiros de minas, geólogos e mineradores de urânio, pela sua ampla experiência na manipulação dessas substâncias. É néscio supor que estas pessoas ignoravam os perigos de um reator nuclear destripado cujos conteúdos você vê brilhar na frente dos seus olhos num enorme buraco.
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Os liquidadores sabiam o que tinham perante si, e apesar disso realizaram o seu trabalho com enorme valor e responsabilidade. Centenas, milhares deles, de maneira heróica: os bombeiros que se alternavam entre vômitos e diarréias radiológicas para subir ao míticotelhado de Chernobyl, onde havia mais de 40.000 Roentgens/hora, para apagar dali os incêndios (a radiação ambiental normal é de uns 20 microrroentgens/hora); os pilotos que detinham os seus helicópteros por cima do reator aberto e refulgente para esvaziar sobre ele areia e argila com chumbo e boro; os técnicos e soldados que corriam a toda velocidade pelas galerias devastadas comunicando aos gritos as leituras dos contadores Geiger e os cronômetros para romper paredes, restabelecer conexões e bloquear canalizações em períodos de quarenta ou sessenta segundos junto às turbinas (20.000 roentgens/hora); os mineradores e engenheiros que trabalhavam em túneis subterrâneos, inundando-se constantemente com água de sinistro brilho azul, para instalar os canos de um extrator de calor que roubasse algo de temperatura ao núcleo fundido e radiante, a escassos metros de distância; os milhares de trabalhadores e arquitetos que levantavam o sarcófago ao seu redor, retiravam do entorno os escombros furiosamente radioativos e evacuavam a população.
Salvo os soldados submetidos a disciplina militar, ninguém era proibido de ir embora se não quisesse continuar ali; mas quase ninguém o fez. Ao contrário, muitos chegaram como voluntários de toda a URSS, especialmente muitos estudantes e pós-graduados das faculdades de física e engenharia nuclear. Esta foi a classe de homens e não poucas mulheres que alguns acreditam ou querem acreditar que foram uma ignorante e patética turba. Esses foram os liquidadores.
Chamavam-lhes, e chamavam-se a si próprios, os bio-robôs, porque continuavam funcionando quando o aço cedia e as máquinas paravam. Não o fizeram pelo dinheiro, nem pela fama, que foi praticamente inexistente. O fizeram por responsabilidade, pela humanidade e porque alguém tinha que fazer o maldito trabalho. Hoje quero falar de três deles, que fizeram algo ainda mais extraordinário num lugar onde o heroísmo era coisa corrente. Por isso, só ocorre-me denominá-los: os três super-heróis de Chernobyl.
O monstro da água que brilha azul
O único que há de certo nessas suposições sobre a ignorância dos liquidadores é que, nas primeiras horas, não sabiam que o reator havia explodido. Mas não sabiam porque ninguém sabia. A mesma lógica equivocada dos responsáveis das instalações que provocou o acidente os fez crer que havia explodido o trocador de calor, e não o reator, e assim foi informado tanto ao pessoal que acudia como aos seus superiores. Há uma história um tanto sinistra sobre os aviões que levavam destacados membros da Academia de Ciências da URSS ao lugar. Eles deram a volta no ar por ordens da KGB quando esta descobriu, através da sua equipe de proteção da central, que o reator explodira (além das suas atribuições de espionagem, pelas quais é tão conhecida, a “KGB uniformizada", ela desempenhava na União Soviética um papel muito semelhante ao da nossa Guarda Civil, excetuando o tráfico de veículos, mas incluindo a segurança das instalações radiológicas).
Na manhã seguinte ao acidente, um helicóptero militar obteve as primeiras
tomadas de vídeo onde se observava o reator aberto e fundindo-se.
Devido a isto, em um primeiro momento jogaram sobre o buraco milhões de litros de água e nitrogênio líquido com o propósito de manter frio e proteger o reator, que acreditavam a salvo e selado além das chamas e a densa fumaça preta. Isso contribuiu para piorar as conseqüências do sinistro, pois a água vaporizava-se instantaneamente ao tocar o núcleo fundido a mais de 2.000ºC e saía velozmente à estratosfera em grandes nuvens de vapor, que o vento arrastava em todas as direções.
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De qualquer jeito havia pouco o que fazer: era preciso apagar os grandes incêndios. Quando o fogo foi finalmente extinto, a contaminação não só estava no ar, mas também na água acumulada nas piscinas de segurança sob o reator. As piscinas de segurança, conhecidas como piscinas de bolhas, achavam-se em dois níveis inferiores e sua função era conter a água no caso de ser preciso esfriar emergencialmente o reator. Elas também serviam para condensar o vapor e reduzir a pressão no caso em que estourasse algum cano do circuito primário (daí o seu nome), junto a um terceiro nível que atuava como condução, imediatamente abaixo do reator. Assim, em caso de ruptura de alguma canalização, o vapor circularia por esse nível de condução, através de um manto de água, o que reduziria sua periculosidade.
Agora, depois da aniquilação, essas piscinas inferiores estavam cheias e trasbordando de água procedente dos canos arrebentados do circuito primário e da água utilizada pelos bombeiros para apagar o incêndio e pela frustrada tentativa de manter frio o reator. E sobre elas encontrava-se o reator aberto, fundindo-se lentamente em forma de lava de cúrio a 1.660 ºC. Em qualquer momento podiam começar a cair grandes gotas desta lava poderosamente radioativa, ou até o conjunto completo, provocando assim uma ou várias explosões de vapor que projetariam à atmosfera centenas de toneladas de cúrio. Isso teria multiplicado em grande escala a contaminação provocada pelo acidente, destruindo o lugar e afetando gravemente toda a Europa. Além disso, a mistura de água e cúrio radioativos escaparia e se infiltraria no subsolo, contaminando as águas subterrâneas e pondo em grave risco o abastecimento da cidade de Kiev, com dois milhões e meio de habitantes, numa espécie de síndrome da China.
Foi tomada a decisão de esvaziar as piscinas de maneira controlada. Em condições normais, isto seria uma tarefa fácil: bastava abrir as eclusas mediante uma simples ordem ao computador SKALA que administrava a central, e a água fluiria com segurança a um reservatório exterior. No entanto, com os sistemas de controle destruídos, a única maneira de fazê-lo agora era atuando manualmente as válvulas. O problema é que as válvulas estavam sob a água, dentro da piscina, perto do fundo cheio de escombros altamente radioativos que a faziam brilhar suavemente com uma cor azul pela radiação de Cherenkov, logo abaixo do reator que se fundia, emitindo um sinistro brilho vermelho.
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E foi assim, como as máquinas já não funcionavam, que era um trabalho para os bio-robôs. Alguém teria que caminhar, um passo após outro, até o reator exposto e ardente, ao longo de um cinzento campo de destruição onde a radioatividade era tão intensa que provocava um sabor metálico na boca, confusão na mente e uma sensação de agulhadas na pele. Eles viam como as suas mãos se bronzeavam em segundos, como depois de semanas sob o sol. E logo teriam que submergir na água oleaginosa e de suave brilho azul com o instável monstro radioativo por cima das suas testas, para abrir as válvulas a mão. Uma operação difícil e perigosa até em circunstâncias normais.
Essa era uma viagem só de ida.
Ao que parece, a decisão de quem o faria tomou-se de maneira muito simples, com aquela velha frase que, ao longo da história da humanidade, sempre foi suficiente para os heróis:
- Eu irei.
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Os três homens que foram
Os dois primeiros a oferecerem-se como voluntários foram Alexei Ananenko e Valeriy Bezpalov. Alexei Ananenko era um prestigiado tecnólogo da indústria nuclear soviética, que participara extensivamente no desenvolvimento e construção do complexo eletronuclear de Chernobyl. Ele cooperou no desenho das eclusas e sabia exatamente onde estavam as válvulas. Era casado e tinha um filho.
Valeriy Bezpalov era um dos engenheiros que trabalhavam na central, ocupando um posto de responsabilidade no departamento de exploração. Também era casado, e tinha uma menina e dois meninos de poucos anos.
Os dois eram engenheiros nucleares. Os dois compreendiam além de qualquer dúvida que estavam se dispondo a caminhar para a morte.
Enquanto vestiam suas roupas de mergulho, sentados num banco, observaram que precisariam de um ajudante para segurar a lâmpada subaquática desde a borda da piscina enquanto eles fossem trabalhar nas profundidades. E olharam aos olhos dos homens que tinham ao redor. Então um deles, um jovem rapaz trabalhador da central, sem família, chamado Boris Baranov, se levantou e disse aquela outra frase que quase sempre segue a anterior:
- Eu irei com vocês.
No meio da manhã, os heróis Alexei Ananenko, Valery Bezpalov e Boris Baranov tomaram um gole de vodka para se encorajar, pegaram as caixas de ferramentas e começaram a andar em direção à lava radioativa em que se convertera o reator número 4 do complexo eletro nuclear de Chernobyl. Assim, sem mais.
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Perante os olhos encolhidos dos que ficaram para trás, os três camaradas caminharam os mil e duzentos metros que havia até o nível -0,5, dizem que, conversando calmamente entre si: “Como vai? Quanto tempo sem ver você! E seus filhos? Você eu não conhecia, rapaz. … É que eu não sou daqui. Bem, parece que hoje vamos trabalhar um pouco juntos… Podemos descer melhor por aí, eu vou na válvula da direita e você a da esquerda, e você nos ilumina desde lá. … Parece que vai chover, não? Está boa a secretária do engenheiro Kornilov, hem? Sim, e que rebolado! … Parece que este ano os Dínamos de Moscou não vão ganhar o campeonato”. Essas coisas, que possivelmente falam os bio-robôs, enquanto vêem como a sua pele se escurece lentamente, e somem um pouco suas idéias pela ionização dos neurônios e sentem na boca cada vez mais o sabor de urânio causando náuseas, sacudindo-se incomodamente, porque sentem como se milhares de duendes maléficos estivessem dando agulhas na sua pele. Cinco mil roentgens/hora, é como chamam a isso.
E sob aquele céu cinzento e os restos fulgurantes de um reator nuclear, os heróis Alexei Ananemko e Valeriy Bezpalov submergiram-se na piscina de bolhas do nível -0,5, com uma radioatividade tão sólida que se podia sentir, enquanto o seu camarada Boris Baranov lhes segurava a lâmpada subaquática, que aliás, estava com defeito e falhou pouco depois. Do exterior, já ninguém os ouvia nem os via.
De repente, as eclusas começaram a abrir-se, e um milhão de metros cúbicos de água radioativa começou a jorrar para a o reservatório seguro, preparado para tal efeito. Eles haviam conseguido! Alguém murmurou que os heróis Ananenko, Bezpalov e Baranov acabavam de salvar a Europa. É difícil determinar até que ponto isso era verdade.
Há versões contraditórias sobre o que aconteceu depois. A mais tradicional diz que jamais regressaram, e que ainda estão sepultados lá. A mais provável assegura que conseguiram sair da piscina e celebrar a sua vitória rindo e abraçando-se aos mesmíssimos pés do monstro, na borda da piscina; outra diz que até recuperaram os seus corpos, embora não as suas vidas. Morreram pouco depois, de síndrome de radioatividade extrema, nos hospitais de Kiev e Moscou. Ainda outra versão, que parece quase impossível, sugere que Ananenko e Bezpalov morreram, mas que Baranov conseguiu sobreviver e anda ou andou um tempo por aí.
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Esta é a história de Alexei Ananenko, Valeriy Bezpalov e Boris Baranov, os três super-herois de Chernobyl, de quem se diz que salvaram a Europa ou ao menos um ou outro milhão de pessoas a milhares de quilômetros ao redor, num frio dia de abril. Foram à morte conscientemente, deliberadamente, por responsabilidade e humanidade e sentimento da honra, para que os demais pudéssemos viver. Quando alguém pensar que nosso gênero humano não tem salvação, sempre pode lembrar de homens como estes e outras centenas ou milhares desse estilo que também estiveram lá. Não circulam fotos deles, nem fizeram superproduções de Hollywood sobre eles, e até os seus nomes são difíceis de encontrar. Porém hoje, vinte e quatro anos depois, eu brindo à sua lembrança, faço uma continência perante a sua memória e agradeço mil vezes. Por terem ido.

Marcha das Margaridas ocupa Brasília



Por Tatiana Melim, na Rede Brasil Atual:

Via BLOG DO MIRO

Brasília recebe, a partir desta segunda-feira (15), milhares de trabalhadoras do campo, da floresta e da cidade que seguirão em marcha pelas ruas da capital federal para apresentar as pautas da Marcha das Margaridas. Na quarta edição do ato, são esperadas 100 mil mulheres, na maior manifestação feminista da América Latina. A ação acontecerá na Cidade das Margaridas, instalada no Parque da Cidade, no Plano Piloto.

“Sairemos a partir desta segunda-feira de várias regiões do país e vamos cruzar as estradas, rios e céus do Brasil em marcha para transformar a vida de milhões de mulheres”, declara Carmen Foro, coordenadora geral da Marcha das Margaridas, secretária de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade responsável pela marcha.

“Nós temos a absoluta certeza de que a pobreza no nosso país tem sexo, tem a cara feminina; tem cor, pois são negras as pessoas mais pobres; e tem lugar: estão no campo e na periferia das cidades. Portanto, nossa pauta não tem só apelo, mas também legitimidade”, pontua Carmem Foro.

Serão dois dias de atividades, com início na manhã desta terça-feira (16), quando acontece o lançamento de uma campanha contra o uso agrotóxicos e um ato público no Congresso Nacional pela reforma política. Estão previstos ainda atividades culturais, painéis de debates sobre desenvolvimento sustentável e um show, no final da tarde, com a cantora baiana Margareth Menezes.

Por que Marcha das Margaridas?

Marcha das Margaridas foi criada em homenagem ao legado de Margarida Maria Alves, dirigente sindical e símbolo da luta das mulheres por terra, trabalho, igualdade e justiça. Margarida rompeu com padrões de gênero em sua época ao ocupar, durante 12 anos, a presidência do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande (PB), município a 100 quilômetros a oeste da capital.

Ela fundou também o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural e teve a sua trajetória marcada pela luta contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores rurais, contra o analfabetismo e pela reforma agrária. Morreu aos 50 anos, em 1983, assassinada por um pistoleiro, que disparou um tiro de escopeta em seu rosto a mando dos usineiros da Paraíba.

O crime teve repercussão nacional. Porém, como tantos outros cometidos contra trabalhadores rurais, ficou impune. A Marcha das Margaridas foi criada como forma de dar visibilidade às lutas das mulheres do campo e da floresta e para denunciar a impunidade contra as mortes de trabalhadores rurais.

Na quarta (17), a partir das 7h, as mulheres seguirão em marcha à Esplanada dos Ministérios para a grande manifestação em frente ao Congresso Nacional. O ato de encerramento acontecerá na Cidade das Margaridas, às 15h, com a presença da presidenta Dilma Rousseff.

A Marcha se consolidou na luta contra a fome, a pobreza e a violência de gênero a partir de grandes mobilizações nacionais realizadas em 2000, 2003 e 2007. Nesta edição de 2011, as mulheres marcharão com o lema "Desenvolvimento Sustentável com Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade".

De acordo com a coordenação do evento, as pautas de reivindicações levadas ao governo partem da constatação de que a pobreza, a desigualdade, a opressão e a violência predominam entre as trabalhadoras do campo e da floresta. “Nós temos a absoluta certeza de que a pobreza no nosso país tem sexo, tem a cara feminina; tem cor, pois são negras as pessoas mais pobres; e tem lugar: estão no campo e na periferia das cidades. Portanto, nossa pauta não tem só apelo, mas também legitimidade”, pontua Carmem Foro.

Com isso, as mulheres construíram pautas de reivindicações baseadas em sete eixos, divididos em mais de 150 pontos, que abordam questões como democratização dos recursos naturais, atualização dos índices de produtividade, fim da violência no campo, maior participação política da mulheres e melhores condições de trabalho, com autonomia e igualdade

A pauta, com todas as reivindicações da Marcha das Margaridas, já foi entregue ao governo no dia 13 de julho, no Palácio do Planalto, com a participação dos ministros do Desenvolvimento Agrário, do Desenvolvimento Social, do Meio Ambiente, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

“A gente acredita muito neste mandato, acreditamos muito na presidenta Dilma e, acima de tudo, acreditamos na nossa pauta”, afirma Carmem.

Atos espalhados

No deslocamento das mulheres para a Marcha das Margaridas, atos políticos acontecerão nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, coordenados pelas federações de trabalhadores e trabalhadoras rurais de todo o país.

Confira o que acontece em cada região:

Centro-Oeste e Norte

Mais de 2 mil mulheres coordenadas pelas federações de trabalhadores rurais dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Roraima realizarão, nesta terça, às 7h30, um manifestação no município de Anápolis (GO), q 48 quilômetros da capital, denunciando as diversas formas de exclusão e violência contra as mulheres do campo e da floresta.

Nordeste

As federações de trabalhadores e trabalhadoras na agricultura da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Alagoas, Piauí e Sergipe realizam, ainda na tarde desta segunda, na cidade de Barreiras (BA), a 853 quilômetros de Salvador, ato com 10 mil mulheres às 16h, na praça Landulfo Alves, às margens do Rio Grande.

As representações de estados nordestinos vão denunciar a agressão e a invasão do agronegócio nas cidades da região. Em Barreiras, segundo as ativistas, há avanço da ocupação de terras para o plantio de soja.

Norte e Nordeste

Cerca de 3 mil mulheres do campo e da floresta oriundas dos estados do Maranhão e do Pará, se encontram no município de Estreito (MA), a 750 quilômetros de São Luís, desde as 7h desta segunda, às margens da rodovia BR-110.

No local, representantes das comitivas fazem denúncias sobre os impactos negativos de grandes projetos na região, a exemplo da construção de uma hidrelétrica que vai remover comunidades para outras localidades.

Além disso, as mulheres denunciam também a violência da qual são vítimas, referindo-se aos conflitos nas áreas quilombolas e aos assassinatos de lideranças sindicais em seus respectivos estados.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Débora Vaz: As escolas de photoshop do Ceará


Do lamentável estado da educação pública no Ceará

por Débora Vaz, em seu blog

Desde a mais tenra idade sempre ouvi falar que as pessoas que escolhem trabalhar com a educação de crianças e jovens são dotadas de uma vocação especial, algo similar ao que é dito sobre os homens que renunciam a uma série de prazeres materiais para abraçar o sacerdócio católico. A meu ver, por trás desse discurso meigo está escondida uma ideologia lamentável: para alguns, quem trabalha na educação pública, área historicamente desprezada em nosso País, merece um salário ínfimo, afinal, é uma pessoa vocacionada, quase mártir, que certamente terá um lugar reservado no paraíso depois de uma vida de sofrimentos e incompreensão não apenas por parte do poder público, como também pela sociedade de modo geral.
Em meio à constante desvalorização da docência pública do Brasil e, em especial, a do Estado do Ceará, professores articulam greves para alertar os governantes e a sociedade civil sobre as dificuldades vividas cotidianamente dentro e fora das salas de aula, sendo a mais grave delas a questão salarial. Por conta de uma extrema má vontade, o governador cearense Cid Gomes continua se recusando a pagar corretamente o piso salarial dos professores da rede pública estadual, além de não querer tentar qualquer acordo com tal categoria, pois, segundo ele, “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.
Após essa declaração desastrada vinda de um homem que supostamente deveria governar para o povo, não pude deixar de sentir indignação, revolta e um certo sentimento de impotência, já que tanto a imprensa quanto a maioria esmagadora da Assembleia Legislativa de meu Estado dificilmente contestarão a visão torta do governador. Para eles, detentores do poder nas mais diversas esferas da sociedade cearense, é muito mais interessante voltar os holofotes para as belezas naturais desta terra, enaltecendo as possibilidades de lucro com o turismo (que só serão sentidas em seus bolsos), do que centrar esforços para melhorar a educação básica e dar melhores oportunidades às milhares de crianças pobres que jamais frequentarão uma escola privada. Afinal, quem vai querer uma massa de gente esperta e crítica para derrubar os poderosos?
Sei que o descaso com a educação pública não começou na administração de Cid Gomes nem é exclusividade do meu Estado. O Brasil inteiro padece desse problema. Em 2010, comemoramos a derrocada do tucano Tasso Jereissati, cujo mandato prejudicou bastante a educação cearense. Hoje vemos que tal derrota foi apenas simbólica, pois Cid Gomes, que hoje pertence a um partido dito “socialista”, está apenas reproduzindo os mesmos discursos e práticas de seu antigo preceptor, mesmo dizendo que os vínculos políticos entre eles estão rompidos.
Como é possível ter esperança em um futuro melhor para o nosso Ceará com uma liderança de visão torta como Cid Gomes? É terrível pensar que, com a força que ele tem, poderá eleger um sucessor com grande facilidade. E quem sabe até dizendo que seu governo “beneficiou” a educação pública, mostrando, na propaganda eleitoral, escolas fabricadas no photoshop e atores sorridentes fingindo ser professores.

Fonte: VIOMUNDO

Israel autoriza construção de casas em território considerado palestino



Redação Carta Capital

Às vésperas da votação da ONU sobre a criação de um estado palestino, que deve ocorrer em setembro, o ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, aprovou em caráter definitivo, nesta quinta-feira 11, a construção de 1600 casas para colonos em Jerusalém Oriental. O ministério espera aprovar, ao todo, a construção de mais de 2700 casas.
A decisão é criticada pela Autoridade Palestina. De acordo com a BBC, a construção das casas seria para evitar a crise econômica que assola o país, mas vem sendo condenada pela comunidade internacional, pois os assentamentos são considerados ilegais.
Em entrevista à AFP o porta-voz do ministério, Roei Lachmanovich, disse que a construção “não tem nada de político, é apenas econômico”.
A crise em Israel, que vem causando protestos em âmbito nacional desde julho, se intensificou na última semana, tendo o custo elevado de vida como um dos temas centrais. As manifestações, que chegaram a reunir 300 mil em protesto por justiça social, levaram o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a nomear uma comissão para fazer propostas para reformas econômicas.  Na terça-feira 9, a comissão fez sua primeira reunião que terminou sem nenhuma proposta.
Mais de 500 mil israelenses vivem nos colonatos da Cisjordânia, o que inclui Jerusalém Oriental. Considerados assentamentos ilegais pela comunidade internacional, Israel, porém, considera parte do território como bairros judaicos.
Além das 1600 casas com autorização para serem erguidas em Ramat Shlomo, o ministério pretende aprovar mais 2 mil em Givat Hamatos e 700 em Pisgat Zeev.
A ocupação da Cisjordânia por Israel desde 1967 não é reconhecida pela comunidade internacional. No entanto, a aprovação do levantamento dessa casas acontece no mesmo momento em que os palestinos se preparam para levar à Organização da Nações Unidas (ONU) o pedido de reconhecimento do estado palestino, cuja campanha é fortemente combatida por Israel.
A paralisação da construção dos colonatos era uma condição para que os palestinos voltassem a negociar a paz com o governo israelense. Como reação ao anúncio, a ONU apelou para Israel não levar adiante os novos assentamentos. De acordo com reportagem do site de notiícias de Israel, o Haaretz, a ONU considera que esse plano equivaleria a uma ação provocativa para o processo de paz com os palestinos.
“Se confirmada, esta ação provocadora mina os esforços em curso por parte da comunidade internacional sobre as negociações em andamento”, disse Robert Serry, coordenador da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, ao jornal.
ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia, reconhecidos como o quarteto da diplomacia do Oriente Médio, opuseram-se aos novos assentamentos judeus.

Pileque precoce


Frei Betto * Adital  - Coletivo Desenvolvimento Sustentável

Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.

A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.

O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.
É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.

No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.

Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.

Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...

O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?

A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.

Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.

Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.

O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.

Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...

Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.

O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...

O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.

[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.

Amorim e os EUA


Aos olhos do serviço diplomático dos Estados Unidos, em especial durante a era Bush, a posição independente do Ministério das Relações Exteriores, capitaneado por Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, parecia uma constante provocação. Nos telegramas vazados pelo WikiLeaks, o MRE é acusado de dificultar as relações bilaterais por suas “inclinações antiamericanas”, definidas por um ministro “nacionalista” e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães), e secundado por um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia), conselheiro de política externa do presidente Lula.
Leia também:
“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava o embaixador John Danilovich, em novembro de 2004.
Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou convencer Amorim da ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava à região. A resposta “clara” e “seca” do chanceler desapontou o americano: “Nós não vemos Chávez como uma ameaça. Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”. E cortou o assunto.

Comércio: os EUA contavam com o apoio dos militares na licitação dos caças. Foto: Ben Stansall/AFP

O sucessor de Danilovich, Clifford Sobel, teve mais sorte. O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim era interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE, em especial com Pinheiro Guimarães. Tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em proveito próprio, como revelam os telegramas.
Em fevereiro de 2009, já com Obama na Presidência dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três informes, sugerindo formas de contornar o triunvirato “esquerdista” da política externa brasileira. O jeito, afirma, seria fazer aliança com o setor privado, que tem “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo” e tentar uma aproximação direta com Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.
Uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência para o Brasil dos 30 agentes da DEA, a agência americana de combate às drogas, expulsos da Bolívia por Evo Morales no fim de 2008. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o ministro da Justiça (Tarso Genro)”, gaba-se.
O segundo telegrama foca os minguados recursos humanos e financeiros do Itamaraty, apresentando-os como oportunidade para os Estados Unidos. Muitos cargos diplomáticos estavam sendo preenchidos por “trainees e terceiros-secretários” por falta de pessoal para as novas embaixadas brasileiras, observa o embaixador americano, acrescentando que seria “crucial influenciar essa nova geração”.
“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship, e agora têm um diplomata trabalhando no Departamento Europeu do Itamaraty. Uma proposta similar seria válida para conseguir um posto que nos permita observar de dentro esse ministério-chave e mostrar como os Estados Unidos executam sua política externa”, sugere.
No terceiro telegrama, Sobel afirma que, embora o MRE continuasse a ser o líder incontestável da política externa brasileira, o crescimento internacional tendia a erodir seu controle. Apesar da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros, alguns ministérios como o do Meio Ambiente e, principalmente, o da Defesa estabeleceram relações diretas com a embaixada norte-americana em Brasília, relata.
Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático da eficiência dessa estratégia. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim pretendia contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente através do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado pela União Sul-Americana de Nações (Unasul). “Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países sem passar pelo MRE”, escreve, acrescentando que o então ministro da Defesa estaria disposto a envolver os militares no combate ao tráfico nas fronteiras brasileiras. “O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro”, comenta.
Também durante as tratativas frustradas de compra dos caças, Jobim e os líderes militares agiram longe do Itamaraty, como mostram os cerca de 50 telegramas sobre o tema. Em um deles, Sobel relata a visita da comitiva presidencial à França e comenta, com ironia, as reportagens da imprensa brasileira que afirmam o apoio de Lula, Amorim e Jobim à aquisição dos caças Rafale: “Talvez isso seja mais um marriage blanc do que amour veritable”, diz. E explica: “Nos encontros privados com o embaixador, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é o Ministério das Relações Exteriores”.
Sobel também se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” sobre as chances de os caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. Ficou entusiasmado com o resultado: “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito”, relata em telegrama de janeiro de 2009.
O embaixador também obteve “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington), que “permite planejar os próximos passos para os Estados Unidos vencerem a negociação”. Além de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha, o documento informa que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se houvesse “a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.
À luz dos telegramas do WikiLeaks, o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela FAB ao ministro Jobim, colocando a aeronave sueca como melhor opção, exatamente por causa dos custos, traz novas indagações. O Rafale francês foi classificado em terceiro lugar, atrás dos caças americanos, esse sim apontado como o de melhor tecnologia. Mas não era o preço que importava, não é?