sábado, 27 de agosto de 2011

Líbia: A agressão Imperial Aclamada como vitória popular


A entrada em Tripoli dos bandos do auto denominado Conselho Nacional de Transição e a ocupação da residência e quartel general de Muamar Kadhafi foram aclamados pelo presidente Obama, os governos da União Europeia e as media ocidentais como desfecho da cruzada libertadora da Líbia e vitória da democracia e da liberdade sobre a tirania e a barbárie.
Poucas vezes na Historia a desinformação cientificamente montada ao serviço de ambições inconfessáveis terá tido tanto êxito em transformar a mentira em verdade, ocultando o significado da agressão a um povo.
Desde o inicio em Março dos bombardeamentos selvagens a Tripoli, a oratória farisaica de Obama, Sarkozy e Cameron funcionou como cobertura de um projecto imperial que, sob o manto de pretensa «intervenção humanitária destinada a proteger as populações», tinha como predestinado objectivo tomar posse do petróleo e do gás, bem como dos importantes activos financeiros do estado Líbio.
Planearam o crime com muita antecedência. A «insurreição» de Benghazi foi preparada por agentes da CIA; comandos britânicos treinaram uma escória de mercenários armada pelos EUA e pela Grã-bretanha; a chamada Zona de Exclusão Aérea não passou de um slogan para facilitar a passagem pelo Conselho de Segurança e iludir o propósito da subsequente intervenção militar; a anunciada não participação da Força Aérea Americana, nos primeiros dias dos bombardeamentos, foi só uma farsa porque a NATO, que assumiu a direcção da guerra, é um instrumento dos EUA por estes controlada, e porque as próprias forças aeronavais estado-unidenses interviriam activamente nos bombardeamentos e na guerra cibernética.
Mas as coisas não correram como eles desejavam. Os «rebeldes» somente entraram em Tripoli transcorridos seis meses. As suas vitórias foram forjadas pela comunicação social. A NATO acreditava poder repetir o que aconteceu na Jugoslávia, onde os bombardeamentos aéreos forçaram Mihailovich a capitular. Kadhafi resistiu, apoiado por grande parte do povo líbio. Independentemente do balanço que se faça da sua intervenção na Historia em quatro décadas de poder absoluto, Muamar Kadhafi resistiu com bravura à agressão desencadeada pelas maiores potencia militares Ocidentais. A tropa fandanga do CNT foi um exército ficcional que somente avançava à medida que as bombas da NATO reduziam a ruínas as infra-estruturas líbias. Milhares de civis líbios foram massacrados nesta guerra repugnante.
Nos últimos dias, uma orgia de violência irracional atingiu Tripoli. O bombardeamento sónico, para aterrorizar a população, coincidiu com as bombas que caíam do céu. Os invasores submeteram a cidade a um saque medieval, matando, saqueando, violando, num cenário de horror. Os media europeus e norte americanos difundiam noticias falsas. A bandeira da corrupta monarquia senussita foi hasteada em Terraços donde «rebeldes» disparavam sobre o povo.
Os muitos milhares de milhões de dólares do povo líbio depositados na banca internacional foram confiscados pelos governos ocidentais.
Mas, para frustração de Washington e seus aliados, a resistência prossegue enquanto que o paradeiro de Kadhafi e outros responsáveis líbios, que não se submeteram, é desconhecido.
Sobre o CNT, um saco de gatos mascarado de governo provisório, chovem agora felicitações.
Cavaco Silva e Passos Coelho, obviamente, associaram-se a esse coro da desvergonha, cumprindo o seu papel de pequenos sátrapas coloniais.

Os Editores de odiario.info

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Água fluoretada, uma herança nazista

Cláudia Rodrigues no Sul21

Em setembro de 2003, e lá se vão oito anos, uma petição internacional assinada por mais de 300 cientistas, químicos, técnicos e ambientalistas de 37 países, pediu a revisão, esclarecimento e discussão sobre os benefícios e malefícios da adição à água encanada do flúor, íon utilizado como preventivo de cáries. Atendendo à petição, foram apresentados vários estudos comprovando os riscos para a saúde geral do corpo, especialmente dos ossos, devido à ingestão desse potente agente químico que quando ultrapassa apenas 1 ppm já causa problema até nos dentes. De lá para cá, muitas pesquisas vêm atestando ligações entre ingestão de flúor e doenças da modernidade. Autistas, por exemplo, não devem beber água fluoretada. Embora não haja confirmação de associação direta entre o flúor e a disfunção, sabe-se que ele potencializa os sintomas do autismo.
O problema da adição de uma droga, venenosa ou não, na água de todas as pessoas, é uma questão delicada. Até que ponto as autoridades têm o direito de institucionalizar um tratamento medicamentoso na água para todos os cidadãos de todas as idades? Sabendo-se da ligação entre tal produto e desencadeamento de patologias, como e por quais razões se mantêm a mesma diretriz?
A retirada, diante das evidências, bate na trave econômica e política. Subproduto da indústria do alumínio, o íon, que mata um corpo adulto com apenas 5 gramas, não pode ser simplesmente jogado na natureza. A confiança inicial de que em doses ínfimas espalhadas pelas águas e alimentos no mundo, só faria bem aos dentes, evitando cáries, fez com as políticas se consolidassem nesse gigantesco contrato comercial mundial, agora difícil de ser desfeito, especialmente em países em desenvolvimento que têm de um lado a população ignorante que aceita as decisões públicas e privadas sem questionamentos e de outro os concentradores de renda, que defendem o status quo a qualquer preço.
Alguns países, já a partir de 2003, outros antes, retiraram o flúor da água e passaram a adicioná-lo ao sal de cozinha, já que se consome menos sal do que água, o que reduziria o risco de ingestão excessiva do íon, cumulativo no corpo humano. Diante das evidências e para reparar a visão equivocada, baseada em pesquisas que só levavam em conta a prevenção de cáries, muitos países simplesmente não utilizam mais o uso sistêmico do flúor como preventivo de cáries; apostam na educação alimentar, higiene e no uso tópico, diretamente aplicado nos dentes. No Canadá, Áustria, Finlândia, Bélgica, Noruega, França e Cuba, alguns dos países que pararam de fluoretar suas águas, os índices de cáries continuaram caindo. Estudos sobre a ingestão do flúor, que a partir da década de 1970 também foi adicionado a alimentos, leites em pós e a alguns medicamentos, apontam malefícios graves e cumulativos para a saúde em geral. Os danos começam pela fluorose, que pode ser leve, causando manchas esbranquiçadas nos dentes ou grave, quando a dentição permanente fica com manchas marrons ou chega a ser perdida, esfacelando os dentes. Para que isso ocorra basta que crianças de zero a seis anos sejam expostas à ingestão diária do íon. O resultado visível só aparece nos dentes permanentes, já a ingestão de flúor na gravidez compromete a primeira dentição da criança.
O flúor no corpo- Quando ingerido o flúor é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sabe-se que 50% dele é eliminado pelos rins e que a outra metade aloja-se junto ao cálcio dos tecidos conjuntivos. Dentes e ossos, ao longo do tempo, passam a ficar deformados, surgem doenças e rachaduras. A hipermineralização dos tecidos conectivos dos ossos, da pele e da parede das artérias é afetada, os tecidos perdem a flexibilidade, se tornam rígidos e quebradiços. Para que tudo isso ocorra, segundo estudo de 1977 da National Academy of Sciences, dos EUA, o corpo humano precisaria absorver durante 40 anos apenas 2mg de flúor por dia. Parece difícil ingerir tanto, mas a fluorose já é um fato, uma doença moderna comprovada. Diversos estudos químicos atestam que o flúor é tão tóxico como o chumbo e, como este, cumulativo. Quanto mais velhos mais aumentamos a concentração de flúor nos nossos ossos, o que traz maiores riscos de rachaduras e doenças como a osteoporose (veja o primeiro link). A versão natural do flúor, encontrada na natureza, inclusive em águas minerais, peixes, chás e vegetais tem absorção de 25% pelo corpo humano, mas a fluoretação artificial é quase que totalmente absorvida. A maior parte se deposita nas partes sólidas do organismo, os ossos, e parte pequena vai para os dentes. Acredita-se que o fluoreto natural tenha algum papel importante para a saúde humana, mas isso ainda não foi completamente comprovado. 
No Brasil a adição de flúor à água começou em 1953 em Baixo Guandu, ES, virou lei federal (6.050/74) e a campanha da fluoretação das águas, abraçada pela odontologia em parceria com sucessivos governos desde a década de 1960, continua em alta e tem como meta atingir 100% da água brasileira encanada. Águas potáveis também recebem flúor e algumas águas minerais possuem mais flúor em sua composição do que é recomendado para evitar a fluorose, que é algo situado entre 0,5 ppm e 1ppm, dependendo da temperatura ambiente, já que no verão ou em locais mais quentes se consome mais água. Os odontologistas que ainda defendem a adição do flúor na água potável e encanada afirmam ser a fluorose, que atingiu adolescentes nas últimas gerações com manchas brancas, um problema menor diante das evidências de redução das cáries, comprovadas por várias teses, elaboradas nos anos 1960 e 1970. Segundo eles esse método é o mais eficaz para reduzir índices de cárie que variam entre 20% e 60%. Da década de 1960 para cá, além da fluoretação das águas brasileiras, a população teve acesso maior às escovas de dentes, que tornaram-se mais baratas e populares. Na Suécia, por exemplo, onde não há fluoretação das águas, a cárie foi erradicada por meio da educação da população.
O flúor nos dentes- A redução de cáries por acesso ao flúor ocorre em decorrência de uma regulação do ph bucal, que teria maior constância via corrente sangüínea a partir da ingestão dessa substância. Após escovarmos os dentes com creme dental fluoretado, mantemos o ph ideal por cerca de duas horas. Apesar da campanha pró-ingestão de flúor, nenhum dentista defende a água fluoretada sem a dobradinha boa higiene e boa alimentação. Não há ph administrado pelo flúor que regule os detritos retidos entre os dentes; esses detritos desregulam o ph local, tornando-o mais ácido, o que favorece o surgimento de cáries e outras doenças periodontais. O açúcar torna o ph do sangue muito ácido e ao lado dele o outro grande vilão é o carboidrato, daí os odontologistas condenarem o abuso de doces, biscoitos e pães entre as refeições, especialmente os feitos com farinhas refinadas. Segundo Pedro Cordeiro, odontologista em Florianópolis, uma boa alimentação e uma escovação bem feita três vezes ao dia são métodos extremamente eficazes para a prevenção de cáries. “Recomendo aos pais que não usem creme dental fluoretado em crianças até cinco anos, pois é possível que engulam o creme acidentalmente ou voluntariamente, o que acarretaria a fluorose.” Uso de fio dental, escovação com água e uma boa alimentação são suficientes para evitar o surgimento de cáries em qualquer idade, garante o dentista.
Medidas seguras- Na água potável encanada são recomendados no máximo 0,6 ppm de flúor, o que causa em crianças menores de sete anos uma fluorose mínima ao nascerem os dentes permanentes. “Acima de 1,5 ppm de flúor na água bebida por crianças menores de sete anos a fluorose é mais agressiva e pode causar má aparência nos dentes permanentes, mas existe tratamento para essa fluorose nos consultórios dentários”, garante o professor Jaime Cury, da Unicamp, defensor da adição de flúor à água. Em Cocalzinho, cidade de Santa Catarina, o flúor contido numa água natural, (1000 ppm) causou sérios danos aos dentes das crianças da região, com perdas parciais e totais dos dentes permanentes. Profissionais de várias partes do Brasil interessaram-se pelo caso, que foi documentado no final da década de 1980. Em 2004 a água mineral Charrua, do RS, apresentava 4ppm de flúor, o que pode resultar em fluorose avançada. O flúor está presente nos cremes dentais desde 1989, inclusive nos infantis, sendo hoje difícil encontrar no mercado convencional um creme dental para uso diário sem o íon. Normalmente os cremes dentais recebem de 1000 ppm a 1800 ppm de flúor. Não há pesquisa que ateste que o flúor aplicado, sem ingestão, cause qualquer mal, mas segundo vários estudos em odontopediatria os problemas de fluorose verificados em todo o Brasil nos últimos anos estão relacionados ao uso de creme dental porque crianças pequenas, além de serem extremamente vulneráveis à ingestão do flúor, engolem acidentalmente ou voluntariamente o creme dental. Uma das razões da ingestão voluntária, em crianças maiores de 3 anos, se deve ao sabor doce dos géis dentais infantis. A fluorose aparente nos dentes de crianças e adolescentes é uma realidade no Brasil.
Diferenças de miligramas são fatais- O argumento que sustenta a adição de flúor à água potável encanada e às águas engarrafadas baseia-se na defesa do controle da cárie infantil, mas quando as águas brasileiras começaram a ser fluoretadas em massa, em 1974, os cremes dentais não eram fluoretados e as informações sobre os hábitos de higiene e de alimentação iniciavam nas capitais e cidades maiores. Naquela época o flúor ainda não era adicionado a medicamentos, chicletes, biscoitos e leites em pó para bebês, que quando somados ao flúor da água ultrapassam o nível recomendado para lactantes em até 80%. O leite humano possui cerca de 00,1ppm de flúor, uma quantidade já bastante inferior à dos leites em pó, mais isso depende, obviamente, da alimentação da mãe. Durante a década de 1980, quando a fama do flúor como preventivo de cáries era inquestionável, muitas mulheres grávidas tiveram prescrição para tomar comprimidos que incluíam o íon na composição. Hoje já não se receitam suplementos de flúor para gestantes, pois as que tomaram enfrentaram problemas de fluorose na primeira dentição de seus filhos. Foi um teste “científico” que não deu certo, mas não foi o primeiro.
Flúor e o nazismo- As primeiras pesquisas com ingestão de flúor em humanos foram feitas em campos de concentração nazistas com o intuito de acalmar os prisioneiros, que ingeriam o íon a partir da água com até 1500 ppm de flúor. O resultado gerava uma espécie de apatetamento, os prisioneiros cumpriam melhor suas tarefas sem questioná-las. Com o mesmo objetivo o flúor é adicionado a alguns medicamentos psiquiátricos hoje em dia. Mais de 60 tranquilizantes largamente utilizados contêm flúor, como Diazepan, Valium e Rohypnol, da Roche, ligada à antiga I.G.Farben, indústria química que atuou a serviço da Alemanha nazista. http://www.theforbiddenknowledge.com/hardtruth/fluoridation.htm
Essa ligação histórica desperta brigas ferrenhas entre os adeptos da adição do flúor à água e os que são contra, esses últimos acusados pelos primeiros de fazer terrorismo e estabelecer o caos social em nome da nova ordem mundial, que está aí a questionar as bases que sustentam a economia.
A Associação Brasileira de Odontologia recomenda a adição de flúor à água potável como método preventivo fundamental para o Brasil, país grande, de população pobre e desinformada sobre os hábitos de higiene e de alimentação. Segundo o professor Jaime Cury,que passou mais de 20 anos estudando a prevenção da cárie, o flúor adicionado à água tem uma importância social inquestionável. “Gostaria de ser o primeiro a anunciar que o flúor não precisa mais ser adicionado à água, mas o povo brasileiro, a maior parte da população, a que é pobre e desinformada, não escova os dentes corretamente, não pode cuidar da alimentação e é beneficiada pela adição de flúor na água.”
Para ele, “a fluorose leve que não causa mal-estar social, nem deveria ser considerada um problema ou doença porque as crianças com fluorose leve, manchinhas brancas, têm dentes mais fortes.”
Questões políticas- A ciência odontológica vê a fluorose média ou grave como problema principal em conseqüência da adição de flúor à água, mas médicos, químicos e toxicologistas afirmam que a fluorose é apenas o começo de um problema espalhado por todos os ossos do corpo, sobrecarregando a glândula pineal e acarretando outras conseqüências na saúde devido a alteração do funcionamento bioquímico. Eles alertam que as doenças podem demorar anos para surgir, pois o flúor é cumulativo. Nunca houve uma denúncia formal ligando o flúor à indústria de alumínio; as pesquisas feitas por químicos e neurologistas focam exclusivamente os danos do íon à saúde humana. Polêmica à parte, algo não está sendo levado em conta: é praticamente impossível encontrar água que não tenha sofrido adição de flúor. Por uma convenção entre sucessivos governos, a ciência odontológica e a indústria de alumínio, o brasileiro perdeu o direito de beber água sem o aditivo.

Cláudia Rodrigues, jornalista, terapeuta reichiana, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, 2008. Centauro Editora. Blog: http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Expansão do ensino universitário e técnico no Brasil: condição para o desenvolvimento

editorial do Sul21

O lançamento da terceira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, ocorrido na última segunda feira (22), marca o esforço que o governo brasileiro vem fazendo para modificar o quadro do ensino universitário e da qualificação técnica e científica no país. O Plano prevê a criação de quatro novas universidades, 47 campi federais e 208 Institutos Profissionais e Tecnológicos, distribuídos em municípios de todos os estados da federação, selecionados entre os que se situam nas faixas de até 50 mil e de até 80 mil habitantes.
No Rio Grande do Sul serão implantados dois novos campi universitários, um da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Cachoeira do Sul, no Vale do Jacuí, região Central, e outro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Tramandaí, no Litoral Norte. Serão criados, até 2014, 16 novos Institutos Federais de Ensino Técnico (IFETs), em todas as regiões do estado, e 40 novas Escolas Técnicas Federais, em 38 municípios gaúchos. O número total de matrículas no ensino universitário federal no Rio Grande do Sul chegará a 84 mil e a 44 mil no ensino técnico e tecnológico.
Em todo o Brasil, a meta fixada para 2014 será atingir 1,2 milhão de matrículas nas universidades federais e 600 mil nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Um esforço importante, que colocará o Brasil e sua população em condições mais favoráveis para enfrentar as transformações em curso no mundo contemporâneo. A passagem da era industrial, baseada no petróleo e nos automóveis, para a era da informática, firmada nas tecnologias de comunicação e informação, produzirá um reordenamento na economia mundial e nos países que a lideram. Só aqueles que estiverem preparados para enfrentar os novos desafios colocados, sejam países ou populações, terão condições de ocupar posição de relevo.
Depois de “dormir em berço esplêndido” durante séculos, o Brasil despertou nas últimas décadas e se lança agora ao esforço de recuperar o tempo perdido. Último país das Américas a criar uma universidade e figurando hoje entre os países com menor número de estudantes universitários proporcionalmente à sua população, o Brasil precisa, de fato, ter pressa.
Segundo o Mapa da Educação Superior, produzido pela UNESCO em 2008, enquanto no Brasil apenas 20% dos jovens na faixa dos 18 aos 24 anos frequentavam universidades, no Chile eles somavam 43% e na Argentina chegavam a 61%. Números que não são muito diferentes dos encontrados na França, na Espanha e no Reino Unido, onde o total de estudantes universitários situa-se sempre acima de 50% dos jovens da referida faixa etária.
De acordo com o mesmo estudo da UNESCO, grande parte dos estudantes universitários brasileiros está matriculada em instituições superiores particulares. Apenas 27% deles estão em universidades públicas, colocando o país no último lugar entre os países pesquisados na América Latina e no Caribe quanto à freqüência de instituições superiores públicas. À frente do Brasil situam-se El Salvador (penúltimo lugar), com 34%, o México, com 66%, e a Argentina (primeiro lugar), com 75% dos estudantes universitários na rede pública.
Vem crescendo, no entanto, nos últimos anos, o acesso das classes C e D ao ensino superior no Brasil. Segundo estudo do Instituto Data Popular, realizado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a classe D ultrapassou, desde 2009, a classe A no número de estudantes nas universidades públicas e privadas brasileiras. Os estudantes das classes C (renda familiar entre  três e dez salários mínimos) e D (renda familiar entre um e três salários mínimos) somados representam 72,4% dos estudantes universitários no país.
O Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, agora anunciado, evidencia um redirecionamento significativo na política educacional brasileira. Iniciado no governo Lula, com a retomada da criação de escolas técnicas federais, com a ampliação das vagas e dos cursos nas universidades federais, bem como com a criação do financiamento estudantil público, o redirecionamento agora se aprofunda. O Estado, por meio do governo federal, assume a tarefa de expandir os ensinos universitário, técnico e tecnológico no país, levando-os a todas as regiões e aos seus municípios de pequeno e médio porte – o que facilitará também o acesso da população de baixa renda ao ensino técnico e universitário públicos.
O Brasil se prepara, finalmente, para ingressar no rol das nações desenvolvidas. Fará isto, ao que tudo indica, incorporando cada vez mais o conjunto amplo de sua população às benesses do desenvolvimento econômico, social e cultural. Aliás, é bom que não se esqueça nunca, tomando por base as Nações desenvolvidas, que as possibilidades de desenvolvimento de um país só se tornam plenas quando se tornam plenas também as possibilidades de desenvolvimento das mais amplas parcelas de sua população.

Outra vez campeão: Leandro Damião dá bi da Recopa ao Inter


por Alexandre Alliatti no Globo Esporte

É uma fonte que não seca, é uma rotina que não cansa, é uma história escrita sem ponto final. Ano após ano, desde 2006, o Inter conquista pelo menos um título de nível internacional. O novo integrante da lista é a Recopa Sul-Americana de 2011. Com excelente primeiro tempo de Leandro Damião, autor de dois gols, o time gaúcho bateu o Independiente por 3 a 1 e conquistou o bicampeonato.
Damião sobrou. Chegou a 34 gols na temporada e virou o grande protagonista do título. Kleber, cobrando pênalti sofrido por Jô, fechou o placar depois de o Independiente descontar. No primeiro jogo, na Argentina, o time de Avellaneda havia vencido por 2 a 1.
Assim, o Inter repete a conquista de 2007. Já são oito títulos internacionais desde 2006 - duas Libertadores, um Mundial, uma Sul-Americana, uma Copa Suruga e uma Copa Dubai completam a coleção. O título embala o Inter para o Campeonato Brasileiro. E tem Gre-Nal. Domingo, os colorados encaram seu maior rival no Olímpico.
O futebol certamente não era a preferência de Nietzsche, pensador dos mais pirados (e dos mais geniais), quando ele criou a tese do eterno retorno. Em um resumo simplista, é como se o mundo vivesse um ciclo em repeteco infinito: o passado, o presente e o futuro ocorrendo repetidas vezes, eternamente, sempre com os mesmos fatos. Se não entendeu, peça explicação a um colorado. Ele acorda, todos os dias, com a certeza de que Leandro Damião fará gol.
O Inter vive em um paradoxo de tempo e espaço. Está em eterno retorno por causa de seu camisa 9. O passado de gols dele, o presente de goleador dele, o futuro certamente de matador dele parecem se juntar a cada instante, se repetir a cada dia. Os gols de ontem são os gols de hoje e serão os gols de amanhã - um pouco diferentes uns dos outros, é bem verdade, mas sempre presentes.
Exageros à parte, não foi brincadeira o que o camisa 9 do Inter fez nos primeiros 45 minutos do jogo contra o Independiente. Ele marcou dois gols, quase deixou mais um, quase encerrou a carreira de Gabriel Milito, zagueiro com pompa de Europa, ex-jogador do Barcelona, que vai passar alguns dias se perguntando de onde saiu esse centroavante.
internacional campeão recopa (Foto: AP)Jogadores do Inter comemoram o título da Recopa, após vitória por 3 a 1 no Beira-Rio (Foto: AP)

Cinco minutos separaram os dois gols. No primeiro, aos 20, Damião passou reto por dois marcadores pela ponta direita, especialmente por Milito, avançou área adentro e bateu. De bico. O mesmo jogador que havia feito um gol de bicicleta contra o Flamengo agora marcou de bico. Belo gol.
Aos 30, aconteceu o segundo. A bola viajou até a direção onde estavam Damião e Milito. No corpo, o colorado ganhou a jogada. A bola tocou no chão, subiu e já encontrou a chuteira do centroavante. Foi uma pancada em diagonal. Golaço.
Não foi tudo. Damião deu chapéu em um marcador e saiu fazendo embaixadinhas de cabeça. O Beira-Rio soltou um grito coletivo de prazer estético. O mesmo centroavante quase fez outro. Mandou uma patada cruzada. A bola voltou a encontrar a rede, mas por fora.
Mas havia um porém, um aviso, um recado. Por duas vezes, o Independiente chegou com força no ataque. Poderia ter diminuído, levado o jogo a um placar que renderia prorrogação. O sinal ficaria mais claro no segundo tempo.
 
Susto antes do título

Parecia encaminhado o título. Só parecia. Veio o segundo tempo, e com ele, a galope, veio o susto. Com apenas três minutos do período final, a defesa colorada vazou (o que também passa um sentimento de eterno retorno: acontece sempre), e Maxi Velázquez recebeu dentro da área, acossado apenas por Elton, para mandar chute forte. Muriel não teve muito a fazer. Era o gol do Independiente.
Ficou ruim. E poderia ter ficado ainda pior. Muriel fez defesa muito difícil em pancada de Ferreyra. No rebote, Pérez arrumou o corpo para empatar, mas Kleber cortou na hora certa.
A torcida tentava apoiar. Mas era palpável a tensão no estádio. O Inter se ajeitou em campo e quase ampliou - primeiro com Índio, de cabeça, depois com Dellatorre, parado pelo goleiro Navarro. E aí veio outra má notícia. D’Alessandro sentiu fisgada muscular e teve de ser substituído.
Andrezinho entrou no lugar dele. Jô também foi a campo, na vaga de Dellatorre. O Independiente passou a dar sinais de satisfação com o resultado. E foi punido. O goleiro Navarro fez pênalti em Jô. Kleber partiu para a cobrança. E fez. Era o gol do título.
Aí foi esperar, foi deixar o tempo passar, foi contar os minutos até mais um título. Doce rotina: desde 2006, ano após ano, o Inter conquista pelo menos um troféu estrangeiro. Também é um eterno retorno...
leandro damião e kleber comemoram gol do Internacional sobre o Independiente (Foto: EFE)Heróis da noite: Damião, autor de dois gols, e Kleber, que marcou o terceiro, comemoram juntos (Foto: EFE)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rádios comunitárias protestam em Porto Alegre



Representantes de rádios comunitárias do Estado protestam em Porto Alegre nesta quarta-feira, dia 24 de agosto. Pela manhã, se dirigem até a Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel) para cobrar o fim da perseguição às emissoras por parte do órgão. Às 14 horas, tem início o seminário que ocorre no Plenarinho da Assembleia Legislativa e que se estende até perto das 17 horas, quando representantes do movimento se reunirão com o governador Tarso Genro e com a secretária de Comunicação e Inclusão Digital, Vera Spolidoro.
A data celebra os 15 anos de fundação da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), ocorrida no dia 25 de agosto de 1996, em São Paulo. Atividades também vão ocorrer em outras partes do país.
Os protestos também vão marcar o início da reconstrução da Lei 9.612, de 1998. De acordo com a Abraço, é preciso melhorar a lei para garantir a manutenção do serviço de radiodifusão comunitária no país. O objetivo é reunir um milhão de assinaturas até 18 de outubro de 2011.
O que as rádios comunitárias reivindicam
- Financiamento público para as emissoras: o Governo Estadual assumiu o compromisso de repassar 20% do bolo publicitário para a mídia alternativa, onde estão incluídas as rádios comunitárias. Ao invés disso, as rádios comunitárias reivindicam o financiamento público, pois integram o setor público de comunicação e precisam de apoio para manter suas estruturas;
- Projetos de capacitação: o artigo 20 da Lei 9.612 diz que o poder público deve “organizar cursos de treinamento, destinados aos interessados na operação de emissoras comunitárias, visando o seu aprimoramento e a melhoria na execução do serviço”. A Abraço apresentou um projeto ao Governo do Estado. Reivindica a sua implantação.
- Choque de sinal, fim da indústria de multas e digitalização do rádio: emissoras dentro da lei têm problemas de transmissão. O caso mais sério é o choque entre o sinal de emissoras situadas em municípios vizinhos. As emissoras querem o aumento de potência e a liberdade para a troca de freqüência. Mesmo com projetos técnicos justificando a necessidade de troca e frequencia, o Ministério das Comunicações tem negado o ajuste para que as emissoras possam ser ouvidas. Essa confusão gera multas pesadas sobre emissoras que modificam a frequência para serem ouvidas. Sobre a digitalização do rádio, as rádios comunitárias reivindicam o desenvolvimento de um sistema brasileiro, evitando o pagamento de royalties (valor anual).

(*) Enviado por Daniel Hammes

A Experiência Socialista na URSS

 
Por Rogério Lustosa*na GRABOIS
 
Durante um período de 27 anos, de 1928 a 1955, o crescimento industrial na União Soviética foi, em média, de 13% ao ano. Um índice jamais visto no mundo capitalista. Em 1954, a produção industrial deste país era 18 vezes maior que a de 1929. Em comparação com este êxito formidável do socialismo, as grandes potências capitalistas apresentaram resultados ridículos. Em 1954, a produção dos EUA representava apenas o dobro, a da Inglaterra 72% a mais, e a da França 14% a mais daquela obtida em 1929.
Mas alguma coisa de muito grave aconteceu depois disto. A tal ponto que o atual dirigente soviético, Mikhail Gorbachev, confessou, em seu livro Perestroika, que, na segunda metade dos anos 1970, "o país começou a perder impulso (...). Começaram a aparecer na vida social elementos do que chamamos de estagnação e certos fenômenos estranhos ao socialismo (...). Nos últimos 15 anos, a taxa de crescimento da renda nacional caíra para mais da metade e, no início dos anos 1980, chegara a um nível próximo da estagnação econômica".

LEIS OBJETIVAS

Sabe-se que o desenvolvimento de um país não se dá aleatoriamente e sim de acordo com leis econômicas objetivas que, como indica Stalin, "refletem o caráter regular de processos que se realizam independentemente da vontade dos homens". O socialismo cresceu de forma extraordinária, não simplesmente pela genial idade de tal ou qual pessoa, mas, fundamentalmente, porque a revolução de 7 de novembro de 1917 socializou os meios de produção, destruiu as bases da exploração burguesa e libertou as forças produtivas das amarras estabelecidas, até então, pela propriedade privada capitalista sobre elas.

No sistema capitalista, enquanto a produção toma cada vez mais um caráter social, com milhões de trabalhadores organizados e escravizados nas fábricas, a forma de propriedade sobre as máquinas e todos os demais meios de produção – e, em consequência, das mercadorias produzidas – é privada. Esta contradição leva fatalmente às crises. Marx dizia que "a sociedade burguesa assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as forças infernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas (...). O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio".

A revolução foi o instrumento concreto para fazer valer a lei da correspondência obrigatória entre as relações de produção e o caráter das forças produtivas. Com a tomada do poder pelo proletariado, a Rússia passou a um novo patamar do desenvolvimento, o socialismo, onde as riquezas e as forças produtivas passam a ser utilizadas em favor da sociedade.

Evidentemente, a simples tomada do poder não resolveu de imediato todos os problemas. Com ela inicia-se "a batalha entre o socialismo, ainda débil, mas vitorioso, e o capitalismo, derrotado mas ainda forte", como indicou Lênin. Deixam de atuar, ou têm seu raio de ação muito reduzido, as leis que regiam o capitalismo e entram em cena as leis econômicas do novo sistema socialista.

Mas, enquanto as leis das ciências naturais ao serem identificadas não encontram grandes obstáculos, a aplicação das novas leis econômicas afeta interesses das classes em decadência, que usufruíam do velho sistema de exploração.

REAÇÃO BURGUESA

Durante três anos, o jovem poder soviético enfrentou a intervenção armada das potências imperialistas e a sabotagem dos "contras" daquela época, igualmente financiados, armados e insuflados pela burguesia internacional. Só em 1920 foi possível estabelecer o primeiro plano econômico, que tinha como objetivo imediato reorganizar a economia, arrasada pela guerra e pela atividade contra-revolucionária. Depois de consolidar o poder político, o proletariado se lançava à tarefa de derrotar economicamente a burguesia.

Na luta de classes que se desenrolou, os antigos donos do poder resistiram desesperadamente na defesa de seus privilégios. E sua resistência encontrava eco dentro do próprio partido de vanguarda do proletariado, através de elementos que não conseguiam assimilar a ideologia marxista.
Era possível bater o capitalismo e passar à construção do socialismo? Era possível, nas novas condições, promover o desenvolvimento acelerado das forças produtivas? A democracia proletária podia realmente funcionar e colocar em atividade milhões e milhões de trabalhadores na edificação de uma nova sociedade?

"Sim", diziam os bolcheviques. "Reorganizar toda a indústria, sobre a base da grande produção coletiva e sobre uma novíssima técnica (baseada na eletrificação de toda a economia)" era a orientação de Lênin para este período. Ele chegou a dizer, naquele momento, que "o comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o país".

"Não", gritava Trotsky. Para ele, o regime soviético só podia avançar se viesse em seu socorro a revolução vitoriosa nos principais países da Europa. "Não", repetia Bukhárin. A Rússia, segundo ele, não estava "madura" para a revolução. Precisava entrar num acordo com os empresários estrangeiros e com os elementos capitalistas russos.

Para impulsionar a economia, o Partido Comunista tratou de interessar mais os camponeses na produção, oferecendo-lhes certas vantagens e permitindo, sob certo controle do Estado, o comércio privado. Ao mesmo tempo, promoveu o funcionamento normal dos sindicatos, nas novas condições da classe operária no poder.

Bukharin, refletindo os sentimentos dos kulaks (burguesia do campo) e dos comerciantes, passou a defender a liberdade completa do comércio privado, o livre jogo dos preços no mercado e a abolição do monopólio estatal sobre o comércio exterior.
Em outras palavras, enquanto os bolcheviques conduziam a economia no sentido de limitar a atuação da lei do valor, que regula o mercado capitalista, Bukharin pregava a capitulação do novo sistema aos mecanismos de oferta e procura da velha sociedade em decadência.

DEMOCRACIA DA CHIBATA

Em relação à democracia socialista, Trotsky se insurgiu de forma mais evidente. Impregnado por concepções burguesas, ele manifestou-se contrário ao abandono da disciplina militar adotada durante o "comunismo de guerra". E defendeu abertamente, no IX Congresso do Partido Comunista, em 1920: "Os operários devem estar ligados a seu emprego, sujeitos a ser transferidos; é necessário dizer-lhes o que devem fazer (...). Quem cuida disso? O sindicato. Ele cria o novo regime. É a militarização da classe operária”. Para isto os sindicatos deveriam ser estritamente subordinados ao Estado, e com dirigentes nomeados pelo governo.

Apesar de derrotado por ampla maioria, ele foi ainda mais longe no III Congresso dos Sindicatos: "É mesmo verdade que o trabalho obrigatório seja sempre improdutivo? Este é o preconceito liberal mais lamentável e mais miserável: os bandos de escravos também eram produtivos”. E ainda recebeu o apoio de Bukharin nesta comparação absurda entre o operário, que se tornara dono de seu destino e força dirigente da sociedade, com o escravo.

Lênin, em nome do Comitê Central do Partido, escreveu um folheto desmascarando estas sandices: "Trotsky e Bukharin apresentam as coisas desse modo: vejam, nós nos preocupamos com o aumento da produção e vocês unicamente com a democracia. Essa imagem é falsa pois a questão se coloca assim: sem uma posição política justa, uma dada classe não pode manter sua dominação e, em consequência, não pode também desincumbir-se de sua tarefa na produção”.

Isto demonstra que embora a revolução e a construção do socialismo sejam decorrência da lei econômica da correspondência obrigatória entre as relações de produção e o caráter das forças produtivas, isto não se realiza, na prática, de forma automática. Para transformar a possibilidade em realidade, é preciso que os homens estudem as leis econômicas, aprendam a aplicá-las e a traçar planos que reflitam corretamente as exigências de cada uma delas. Por isto mesmo, a cada passo é indispensável promover o acompanhamento das tarefas e proceder aos reajustes necessários. Aí, sim, é que se revela a genialidade ou a incompetência dos dirigentes e dos partidos.

ECONOMIA PLANEJADA

Em 1925, concluída a recuperação da economia, a URSS tinha condições de desenvolver a pleno vapor as potencialidades do socialismo. Stalin assinalava então com clarividência: "Marchamos com atraso de 50 a 100 anos em relação aos países adiantados. Em 10 anos temos que cobrir esta distância. Ou o fazemos ou nos aplastam”. O XIV Congresso do Partido colocou a industrialização no centro das preocupações dos trabalhadores soviéticos.

Aqui vale destacar uma característica própria do socialismo. O capitalismo cresce como resultado da busca coordenada do lucro máximo. Por isto mesmo, inicia o seu desenvolvimento pela indústria leve, que proporciona rápido retorno dos investimentos capitalistas. Só a partir de certo grau de acumulação de capital é que pode dedicar-se à indústria pesada. O socialismo, pelo contrário, tem como lei fundamental a satisfação das necessidades materiais e culturais dos trabalhadores. A economia é centralizada nas mãos do Estado e pode ser cientificamente planejada. Em função disto, é possível ao governo arregimentar enormes recursos – antes usados para sustentar a burguesia, pagar dívidas e alimentar a máquina de guerra – e investir na produção de bens de produção, máquinas e equipamentos fundamentais para o crescimento rápido e seguro da economia.

Os resultados da industrialização na URSS mostraram o vigor do novo sistema. Em 1925, dois terços da produção do país vinha da agricultura e apenas um terço da indústria. Em dois anos a indústria elevou a sua participação para 42%. O setor socialista da economia cresceu 81%, entre 1924 e 1925, e 86%, entre 1926 e 1927.

DESENVOLVIMENTO HARMÔNICO

Entra em cena aqui outra lei do desenvolvimento econômico do socialismo. Todos os ramos da indústria crescem harmonicamente, e o mesmo ocorre entre indústria e agricultura. A indústria encontra na agricultura a aplicação para as máquinas construídas e, por sua vez, tem aí sua fonte de matérias-primas e alimentos.

Isto não pode se realizar no capitalismo. Devido à busca do lucro, os capitais são atraídos irresistivelmente para os ramos rentáveis, resultando num crescimento desordenado. E, como regra geral, a agricultura não acompanha os passos da indústria, devido ao fato de os investimentos nesta área terem de se conformar com os prazos relativamente longos entre o plantio e a colheita.

No socialismo, a lei do valor, embora ainda exerça influência pelo fato de haver ainda produção de mercadorias, tem seu campo muitíssimo restringido. Os meios de produção, as máquinas, as terras, deixam de ser compradas e vendidas, não são mais mercadorias, passam a ser propriedade social. Mesmo as terras, quando permanecem nas mãos dos camponeses ou na posse das cooperativas, não podem mais ser vendidas. E a força de trabalho dos operários deixa também de ser mercadoria.
Stalin observa que no socialismo, apesar do campo reduzido em que atua a lei do valor, não se descuida da rentabilidade das empresas. Mas o assunto é tratado de forma diversa daquela do capitalismo. "Se considerarmos a rentabilidade, não do ponto de vista de algumas empresas isoladas ou de ramos da produção isolados, e não no período de um ano, mas sim do ponto de vista de toda a economia nacional e durante um período, digamos de 10-15 anos, que seria aliás a única maneira acertada de enfocar o problema, verificaríamos que a rentabilidade temporária e inconsistente desta ou daquela empresa, ou ramo de produção, não pode em absoluto comparar-se com a forma superior de sólida e permanente rentabilidade que nos dão a ação da lei do desenvolvimento harmonioso da economia nacional e a planificação da mesma, ao livrar-nos das crises econômicas periódicas que destroem a economia nacional, causam enormes danos materiais, e ao assegurar-nos o desenvolvimento ininterrupto da economia e o elevado ritmo desse desenvolvimento”.

AGRICULTURA MODERNA

Com a arrancada da indústria, o poder soviético dotou a agricultura de máquinas modernas capazes de elevar aceleradamente a sua produtividade. E, ao mesmo tempo, criou as condições objetivas para ultrapassar a pequena produção patriarcal camponesa – voltada basicamente para o consumo –, assim como a pequena produção mercantil dos camponeses médios e dos artesãos, e a produção dos kulaks. As relações atrasadas, tanto o trabalho individual ou familiar como a exploração assalariada, podem então ser substituídas pelo trabalho socializado.

Foram criadas as ''estações de máquinas e tratores" – empresas estatais que forneciam equipamentos e técnica avançada para as cooperativas. Estes poderosos meios de produção permaneciam nas mãos do Estado – propriedade social –, mas eram colocados à disposição dos camponeses mediante contrato, de acordo com as condições de cada estabelecimento.
A atividade revolucionária orientou-se no sentido da mecanização do campo e para o estabelecimento do trabalho coletivizado – seja através dos kolkhoses (cooperativas agrícolas) ou dos sovkhoses (fazendas estatais). No início, taticamente, foram feitas restrições aos kulaks e, logo a seguir, com o fortalecimento da coletivização, passou-se à liquidação desse tipo de exploração.

Como não podia deixar de ser, a burguesia resistiu ferozmente. Só nos cinco primeiros meses de 1929, foram praticados 1.141 atos terroristas pelos kulaks. E esta atividade teve sua correspondência na atuação dos oportunistas no seio do Partido.

Os trotskistas argumentavam com a "pouca rentabilidade" dos sovkhoses e pregavam sua dissolução. Afirmavam também que os kolkhoses eram "fictícios". De outro lado, os bukharinistas atacavam, baralhando as diferenças entre camponeses pobres e médios, forças aliadas na construção do socialismo, e os kulaks, inimigos de classe do proletariado. Pregavam a "incorporação" desta burguesia rural ao socialismo. Tendo alcançado postos-chave no Conselho Econômico, elementos deste grupo chegaram a tomar medidas diminuindo o número de máquinas agrícolas destinadas aos camponeses e aumentando o número entregue aos kulaks.

As vitórias da coletivização foram surpreendentes, para desespero dos sabotadores. Entre 1927 e 1930 a produção de cereais das cooperativas multiplicou-se por 10. A produção de trigo, em particular, passou de 573 mil toneladas para 6 milhões e meio de toneladas.

UM NOVO PAÍS

Em 1934, no XVII Congresso do PCUS, Stalin anunciava: "o país se transformou radicalmente. Converteu-se de um país agrário em um país industrial. Converteu-se de um país de pequenas explorações agrícolas individuais em um país de grandes explorações agrícolas mecanizadas".
Como se explica que com um crescimento tão impetuoso não se registrassem crises de superprodução? Nos países capitalistas, com ritmos muito inferiores, rapidamente a sociedade é sacudida por violento antagonismo entre as riquezas incalculáveis acumuladas, de um lado, e pela miséria brutal dos que as produzem. Os armazéns ficam superlotados de mercadorias que não têm saída.

Ocorre que no capitalismo, os trabalhadores transformam, com seu trabalho, a matéria bruta em instrumentos de todo tipo. E, pela propriedade particular de sua força de trabalho, acrescentam valor ao que produzem – a mais-valia, apropriada pelo dono dos meios de produção. Recebem em troca um salário, que mal dá para garantir sua manutenção. O capital cresce à custa do trabalho não pago aos operários. Evidentemente os salários não podem acompanhar o ritmo de crescimento do capital. As crises fazem parte da essência do sistema.

No socialismo, os próprios trabalhadores detêm a propriedade social dos meios de produção. As forças produtivas e as riquezas produzidas passam a ser utilizadas em seu benefício. Eles se apropriam individualmente dos bens de consumo necessários à sua vida, lazer e desenvolvimento cultural, alimentos, roupas, utensílios domésticos etc. Segundo a forma de distribuição socialista, cada um recebe de acordo com seu trabalho.

Mas, socialmente, os trabalhadores se apropriam de tudo o mais que é produzido, que se transforma em fábricas, escolas, hospitais, meios de transporte, e do que é reinvestido para ampliar a produção. Não existe contradição entre a produção e a apropriação. Embora seja possível haver distorções nos planos, que podem não corresponder plenamente às exigências das leis econômicas em dado momento, tais incorreções não conduzem a crises. E podem ser corrigidas durante a sua aplicação.
Os números são mais eloquentes que as teorizações:

Em 1927, existiam 18 mil tratores em todo o país. Até 1932, foram produzidos outros 120 mil novos. Em 1940, já eram 531 mil tratores e 18 mil ceifadeiras debulhadoras. De 1929 a 1937, o ritmo de desenvolvimento anual médio da indústria soviética foi de 20%, enquanto nos países capitalistas a média foi de 0,3%. Em 1937, o capital fixo investido na indústria era 5,5 vezes maior que em 1928. E na indústria de meios de produção em particular, esta cifra alcançava 7,7 vezes. O número de operários industriais cresceu de 3,8 milhões para 10 milhões. E o de trabalhadores especializados cresceu ainda mais rapidamente, 6,8 vezes mais torneiros mecânicos e 13 vezes mais frezadores, entre 1926 e 1939. De 1926 a 1940, a produção industrial cresceu 8,5 vezes! Neste ano, o consumo de leite duplicou em relação ao de 1913, e o de ovos quadruplicou.

REVOLUÇÃO NA CULTURA

O socialismo não cuidou apenas da produção e do bem-estar material do povo. O novo regime fez prodígios na elevação do nível de consciência e na formação cultural dos trabalhadores. Só em 1933, foram enviados ao campo 17 mil ativistas do Partido para atuar como propagandistas junto às estações de máquinas e tratores. A orientação do governo era a da incorporação voluntária dos camponeses aos kolkhoses e sovkhoses, pelo convencimento, pela argumentação e pela demonstração com resultados práticos. Os alunos das escolas primárias passaram de 7,9 milhões, em 1914, para 29,6 milhões, em 1937. Os estudantes dos cursos superiores, de 117 mil para 547 mil. O número de livros editados cresceu de 86,7 milhões para 673,5 milhões e o de jornais publicados foi de 2,7 milhões para 36,2 milhões.

As mulheres, em particular, romperam com entusiasmo os grilhões da ignorância e da submissão a que estavam submetidas pelo regime burguês. Em 1936, cerca de 42% dos alunos nas escolas superiores, e 48% nas escolas técnicas eram do sexo feminino. A proporção de mulheres nas escolas industriais superiores, em 1935, na URSS, era 7 vezes maior que na Alemanha, 10 vezes maior que na Inglaterra e 20 vezes maior que na Itália. Em 1940, 60% dos médicos no país eram mulheres.
O avanço das forças produtivas impulsionava modificações nas relações de produção entre os homens. E estas, por sua vez, facilitavam o maior desenvolvimento dos meios de produção.

CRÍTICA BURGUESA

Gorbachev não tem como negar esta impressionante demonstração da capacidade de os operários construírem um novo mundo. Mas ao falar deste período é obrigado a revelar sua verdadeira posição de classe.

"A viabilidade dos planos do Partido – diz ele no livro Perestroika –, que a massa entendia e aceitava, e dos slogans e projetos impregnados com a energia ideológica revolucionária, manifestou-se no entusiasmo com que milhões de soviéticos se juntaram aos esforços para a construção da indústria nacional”.

E reconhece: "Se finalmente tentarmos fazer uma avaliação correta dos verdadeiros resultados da coletivização, há uma única conclusão inevitável: foi um ato histórico grandioso, a mudança social mais importante desde 1917 (...) O futuro progresso de nosso país teria sido impossível sem ele”.
Mesmo a contragosto, confirmando a genialidade das previsões feitas por Stalin, em 1925, ele observa: "Onde estaria agora o mundo, se a URSS não tivesse impedido o caminho da máquina de guerra de Hitler? Nosso povo derrotou o fascismo com o poder criado nos anos 1920 e 1930. Se não tivesse havido a industrialização, teríamos nos visto desarmados
diante do fascismo e seríamos esmagados pelas esteiras de seus tanques”.
"Todavia – diz ele mostrando de que lado está – os métodos e as formas de executar essas reformas nem sempre se harmonizaram com os princípios, ideologia e filosofia socialistas”.
Que métodos e formas? O povo entendia e aceitava. Os projetos eram impregnados de ideologia revolucionária. Milhões de trabalhadores acorreram ao chamamento do Partido. Era uma tarefa indispensável da qual dependia o futuro do país e mesmo os destinos do mundo, sob a ameaça dos tanques nazistas. Mas, mas... este rumo contrariava os kulaks e as velhas oligarquias derrotadas, enfurecia a burguesia internacional e seus agentes infiltrados dentro da URSS. O ato histórico e grandioso se realizava apesar da sabotagem de Bukharin e Trotsky.

"A ditadura do proletariado – indicava Lênin – é a guerra mais abnegada e mais implacável da nova classe contra o inimigo mais poderoso, contra a burguesia, cuja resistência se vê decuplicada por seu derrocamento”. Entretanto, certas pessoas tentam rever este conceito marxista e dizer que esta guerra implacável não se harmoniza com os princípios socialistas. E que as batalhas de classe devem ser computadas como "métodos brutais de Stalin".

SUPERIORIDADE PROVADA

Na Segunda Guerra Mundial, o nazismo alemão, atuando como ponta-de-lança do imperialismo, atirou-se contra a pátria do socialismo. O exército burguês, melhor apetrechado e treinado para a guerra, lançou, a partir de 22 de junho de 1941, suas divisões de elite contra o povo soviético. Matou 20 milhões de pessoas. Destruiu 1.700 cidades, 70 mil povoados, 31.800 indústrias, 98 mil kolkhoses, 2.890 estações de máquinas e tratores. Mas foi derrotado.

Como se explica que a URSS tivesse capacidade para enfrentar e vencer tamanho poderio? Como se explica, senão pela confiança e unidade inquebrantáveis entre o povo e o Partido, que os soviéticos tenham defendido tão heroicamente sua pátria socialista? E como se pode entender que a URSS tenha recebido manifestações de solidariedade de tão grande intensidade dos povos de todo o mundo? Só um regime que interpretasse fielmente os anseios das grandes massas trabalhadoras poderia executar uma façanha desta envergadura.

A recuperação da URSS depois da guerra mostrou, mais uma vez, a superioridade do socialismo. De 1947 a 1954, o pão e a carne ficaram 3 vezes mais baratos, e o açúcar 2,3 vezes. No geral, em termos relativos, os gêneros essenciais tiveram seus preços rebaixados de 1.000 para 433. Em 1954, o salário real dos trabalhadores já era 74% superior ao de 1940.

O resultado de 37 anos de socialismo, de 1917 a 1954, sem crises e sem estagnação é uma demonstração de que as leis de desenvolvimento deste novo sistema permitem um crescimento seguro e ininterrupto.

A capacidade instalada de energia elétrica passou de 1,9 bilhão de kw/hora, para 149 bilhões. O ganho real dos trabalhadores multiplicou-se por seis. De 1925 a 1954, os meios de produção cresceram 60 vezes. O volume dos artigos de consumo multiplicou-se por 16. O número de estudantes foi de 8 milhões para 50 milhões. Em 1957, revelando a dianteira alcançada também no terreno tecnológico, a URSS lançou ao espaço o primeiro satélite artificial. E, em 1955, colocou em funcionamento a primeira usina de energia nuclear.

Vale registrar que na pequena Albânia a experiência do socialismo continua, nos dias atuais, a confirmar a capacidade de desenvolvimento sem nenhum dos abalos característicos do sistema capitalista. A produção industrial global do país, em 1984, representava 164 vezes a de 1938 (antes da guerra), também num ritmo de crescimento ininterrupto.

COISAS ESTRANHAS

Em 1956, Nikita Kruschev assaltou a direção do PCUS e enveredou pela traição ao socialismo. Em 1957, as estações de máquinas e tratores passaram a ser vendidas para as cooperativas. Os bens de produção voltaram a se integrar no mercado. A lei do valor logicamente expandiu o seu raio de ação. Em 1962, os efeitos se fizeram sentir com a elevação dos preços da carne e dos derivados do leite entre 20 e 30%.

Novas medidas foram sendo adotadas, daí para frente, por seus sucessores, no sentido de dar maior independência aos diretores de empresas. Inclusive para decidir sobre a aquisição de máquinas e até sobre a demissão de trabalhadores. A centralização da economia foi golpeada pela extinção dos ministérios econômicos e sua substituição por 105 conselhos econômicos regionais.

As leis capitalistas, da oferta e da procura, da competição em busca do ganho maior, do desenvolvimento anárquico, foram conquistando espaços cada vez maiores.
Com pouco mais de 10 anos de direção revisionista, a restauração do capitalismo produzia frutos. O crescimento industrial caiu, da média de 13%, entre 1928 a 1955, para 7,4% entre 1971 e 1975 e, em 1980, já estava em 3,6%. Em 1985, o próprio Gorbachev fala em estagnação e crise.
No livro Perestroika, o líder revisionista revela uma série de mazelas na atual sociedade soviética: "a prática de se colocar itens falsos nos relatórios só para auferir ganhos (...) Iniciou-se uma gradual erosão dos valores ideológicos e morais de nosso povo (...) Os elogios e o servilismo foram encorajados (...) Surgiu um clima de vale-tudo e começou-se a negligenciar a disciplina e a responsabilidade (...) Surgiu o desrespeito pela lei e o encorajamento de trapaças e o suborno (...) Uma porção considerável da riqueza nacional transformou-se em capital ocioso”.

Diante deste quadro, Gorbachev defende "inovações" que já estão em curso na URSS, entre elas: "Empreendimentos conjuntos com empresas estrangeiras; indústrias e fábricas, fazendas estatais coletivas, todas auto-financiadas; suspensão de restrições quanto a produtos alimentícios produzidos em fazendas para empresas e administradas por elas; mais atividades cooperativistas; encorajamento de empresa individual com produção e comércio em pequena escala; e o fechamento de fábricas e indústrias que operam com prejuízo”.

Ele prega abertamente "encorajar a competição econômica (entre as empresas) para melhor satisfação das exigências do consumidor, e a renda dos empregados deve depender estritamente dos resultados finais da produção e dos lucros".

FENÔMENOS CAPITALISTAS

Por acaso, toda esta lista de problemas e "soluções" não é típica do sistema capitalista? No socialismo, ainda que possam ser cometidos erros na formulação dos planos, as leis econômicas que regem o sistema não conduzem a tais fenômenos.

As propostas enumeradas por Gorbachev, tais como joint-ventures com empresas multinacionais, mais força para as empresas competirem – através do que ele chama autofinanciamento –, falência para as que sucumbem à concorrência, legalização de pequenas (por ora) empresas individuais, só aprofundam a via capitalista. As consequências dessa degeneração caem logo nas costas dos trabalhadores.

Neste terreno das relações sociais, o inventor da "Perestroika" revela incrível caradurismo. Ele diz: "Os salários de muitos trabalhadores diminuíram, mas a melhoria da qualidade era uma exigência da sociedade, e eles encararam a nova medida com compreensão. Não houve protestos de sua parte pelo contrário, os trabalhadores agora dizem: é vergonhoso receber o que você não ganhou”.

Em relação às mulheres, que deram saltos gigantescos no período em que vigorou o socialismo, Gorbachev é de um cinismo inédito: "Ao longo dos anos de nossa difícil e heróica história, deixamos de dedicar atenção a seus direitos e necessidades específicas, em seu papel de mães e donas-de-casa, e sua indispensável função educacional no que diz respeito às crianças (...) As mulheres não encontraram mais tempo para executar suas tarefas cotidianas no lar – o serviço de casa, a criação dos filhos e a formação de uma boa atmosfera doméstica”.

Fica evidente, com tudo isto, que as coisas estranhas ao socialismo começaram a acontecer com a subida de Kruschev ao poder. E tornam-se cada dia mais estranhas com as orientações da "Perestroika". Estas coisas, ao contrário do que diz Gorbachev, não indicam que o socialismo "não está segurado" contra as crises. Apenas comprovam que o abandono do socialismo e a restauração do capitalismo levam obrigatoriamente à colheita dos frutos podres deste sistema caduco.

Mas, se o restabelecimento do capitalismo já tem como consequência visível o reaparecimento das crises, seria bom os senhores revisionistas recordarem que, junto com o lucro vem, inevitavelmente, o agravamento de um fenômeno sempre presente na sociedade burguesa, a luta de classes. A mesma classe que derrubou a opressão czarista e o domínio burguês, em 1917, mais cedo ou mais tarde, se levantará contra os novos exploradores.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Via Campesina Brasil defende criação do Estado da Palestina

Portal Vermelho


Movimentos e organizações que fazem parte da Via Campesina Brasil divulgaram nota na qual reafirmam seu apoio e solidariedade à luta dos palestinos e o defendem direito deste povo a ter seu próprio Estado, "livre, democrárico e soberano".



De acordo com o texto da entidade, "o colonialismo israelense sempre foi parte da tentativa do imperialismo de sufocar as legítimas lutas de libertação nacional e por transformações sociais". As entidades criticam a inércia da ONU e de vários páises que se omitem ou até apoiam Israel nos mais brutais e violentos crimes que são cometidos todos os dias contra a população que vive nos territórios ocupados em 1948 e em 1967.

"Nosso grande desafio é transformar essa indignação diante da violência do governo de Israel num gigantesco movimento social e político de massas de caráter internacional, que faça recuar esse monstro nazi-sionista", diz o documento.

A Via Campesina convoca à população brasileira a integrar uma campanha em prol do povo palestino, pressionando por desde a criação do Estado palestino, até a libertação de presos políticos e o fim do bloquio à Faixa de Gaza. O grupo também convoca a intensificar a luta contra o Tratado de Livre-Comércio Mercosul-Israel. Leia abaixo a nota completa:
Via Campesina Brasil em defesa do povo palestino


O povo palestino tem direito a ter seu próprio Estado, livre, democrárico e soberano.

Estado da Palestina já!

Nós, trabalhadoras e trabalhadores dos diversos movimentos e organizações que fazem parte da Via Campesina Brasil, mais uma vez reafirmamos nosso total apoio e solidariedade com a justa e legítima luta do povo palestino.


O colonialismo israelense sempre foi parte da tentativa do imperialismo de sufocar as legítimas lutas de libertação nacional e por transformações sociais que se desenvolveram em diversos países do mundo.


Inspirados numa ideologia conservadora, racista e antidemocrática, o sionismo, os sucessivos governos do Estado de Israel violam cotidianamente os direitos inalienáveis do povo palestino.


Infelizmente, a ONU, que se pretende defensora dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, não tem feito mais do que aprovar centenas de resoluções de condenação, reprovação e denúncia contra o Estado de Israel que nunca se transformam em ações concretas. Sob a proteção dos países imperialistas, como EUA, França, Inglaterra e seus lacaios, os mais brutais e violentos crimes são cometidos todos os dias contra a população que vive nos territórios ocupados em 1948 e em 1967.


As “Forças de Defesa de Israel” e todas as outras instituições do aparato repressor colonialista israelense são hoje conhecidas no mundo pela sua covardia e pela prática de genocídio e terrorismo contra o povo palestino e contra todos os que se rebelam em defesa de um Estado Palestino.


Nosso grande desafio é transformar essa indignação diante da violência do governo de Israel num gigantesco movimento social e político de massas de caráter internacional, que faça recuar esse monstro nazi-sionista.


A coragem, a sabedoria e as mobilizações do povo palestino são hoje símbolos e exemplos da resistência popular contra toda injustiça praticada em qualquer lugar do mundo.


O grito de Pátria Livre se faz ouvir em todo o território palestino. Judeus, cristãos, muçulmanos e todas as forças democráticas, progressistas e antiimperialistas dentro e fora da Palestina se mobilizam em um movimento unificado contra o inimigo de toda a humanidade: o governo do Estado de Israel e seus aliados, o imperialismo dos Estados Unidos e da União Européia.


Diante das novas manifestações populares na Palestina, a Via Campesina Brasil vem manifestar sua admiração e sua solidariedade com esse heroico povo, conclamando @s brasileir@s para:


1. Defender o direito legítimo do povo palestino de lutar contra a ocupação israelense e pela constituição do Estado da Palestina, bem como apoiar a campanha da Autoridade Palestina pelo reconhecimento do Estado da Palestina como membro pleno da ONU;


2. Apoiar as decisões soberanas do povo palestino e suas legítimas organizações políticas e sociais no que diz respeito ao caráter do Estado e às fronteiras. Acreditamos que tais decisões serão resultado das lutas e do processo de debate no interior das forças da resistência palestina, portanto, consideramos que não cabe a nós a decisão sobre como deve ser e qual será o caráter do Estado Palestino;


3. Fortalecer a luta pela libertação d@s pres@s polític@s que vivem hoje nos cárceres por participarem da legítima luta de libertação nacional palestina;


4. Fortalecer a luta em defesa dos camponeses, trabalhadores rurais e pescadores, que perderam o direito à terra, à água, ao trabalho e à liberdade com a ocupação colonialista israelense;


5. Intensificar a luta contra o Tratado de Livre-Comércio MERCOSUL-Israel, uma vergonha para o povo brasileiro, pois tal tratado estimula o comércio com um país que não respeita as resoluções da ONU, os direitos humanos e o direito internacional humanitário, além de possibilitar, para Israel, a exportação de produtos dos assentamentos judeus-sionistas que estão hoje ilegalmente nos territórios palestinos de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental;


6. Intensificar, no Brasil, a campanha pelo boicote e desinvestimento contra Israel, para impedir a compra de produtos deste país que pratica hoje um regime de apartheid contra o povo palestino. Boicotar a importação de produtos e/ou serviços, bem como propor também o boicote acadêmico e cultural contra esse país é mais uma forma de lutar pelo fim do apartheid de Israel;


7. Denunciar e lutar contra a compra, por parte dos governos estaduais e do governo federal (em especial as Forças Armadas e o Ministério da Defesa), de equipamentos militares, aviões não-tripulados, veículos blindados, armas e munições israelenses, pois esse tipo de comércio só alimenta e fortalece o complexo industrial-militar israelense-estadunidense, uma indústria que tem lucrado com o assassinato de milhares de pessoas em diversas partes do mundo;


8. Lutar contra o bloqueio econômico, político e militar imposto por Israel ao povo de Gaza, território palestino ocupado que luta cotidianamente e heroicamente pela sua libertação. Fortalecer a solidariedade com Gaza é tarefa de tod@s. Precisamos fazer um esforço para organizar uma missão humanitária de solidariedade à Gaza, com representantes de diversas organizações políticas e sociais da classe trabalhadora brasileira;


9. Intensificar a pressão sob o governo brasileiro para que o mesmo dê um tratamento digno e possa amparar de maneira mais intensa e efetiva os refugiados palestinos que se encontram hoje no Brasil, principalmente os 150 palestinos que saíram do Iraque e ficaram em um Campo de Refugiados na Jordânia, e que se encontram hoje no Estado de São Paulo;


10. Pressionar o governo brasileiro para que o mesmo se utilize de todos os mecanismos disponíveis na Carta das Nações Unidas e outras resoluções internacionais para exigir do governo de Israel que cumpra a decisão do Tribunal Internacional da ONU de derrubar o “muro da vergonha”, que tem cerca de 700 km de extensão e separa o povo palestino, configurando uma situação de apartheid que priva dos palestinos o direito de ir e vir;


11. Discutir com o governo brasileiro ações mais intensas e mais concretas de apoio, estímulo e cooperação para implementar projetos de desenvolvimento econômico, social, cultural e esportivo na Palestina. O Brasil tem condições de dar apoio material e financeiro para garantir melhores condições de vida e de trabalho para o povo palestino. Algumas das propostas da Via Campesina Brasil são: construir as condições para que o Brasil e a América do Sul se transformem em espaços para a comercialização dos produtos dos camponeses palestinos e para intensificar as ações de apoio ao esporte na Palestina, principalmente o futebol, nas modalidades masculino e feminino.


12. Apoiar as lutas dos judeus e israelenses que lutam contra o sionismo e contra a ocupação da Palestina, pois existem dentro do Estado de Israel forças políticas e sociais progressistas, democráticas e anti-colonialistas que são constantemente reprimidas por defender os direitos inalienáveis do povo palestino;


13. Defender o direito de todos os refugiados palestinos de retornarem para sua terra/pátria, bem como o direito de serem reparados pelas perdas que tiveram durante a ocupação militar israelense;


14. Apoiar as mobilizações populares que visam desencadear uma “Terceira Intifada” contra a ocupação israelense. Também acreditamos que só a luta de massas pode alterar radicalmente a correlação de forças nas lutas políticas e sociais.


15. Para discutir como realizar concretamente tais ações propomos organizar um Encontro Nacional de Solidariedade ao Povo Palestino. A Via Campesina Brasil e demais organizações da classe trabalhadora estão convocando este encontro para os dias 26 e 27 de novembro, na Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF, na cidade de Guararema - São Paulo.


Sabemos que o campo de batalha decisivo nesta luta são as ruas, bairros, cidades, vilas, vales e montanhas da Palestina ocupada, e cabe a nós fortalecer as forças vivas da resistência popular palestina.


Sigam em frente irmãos e irmãs palestinos, com uma oliveira numa das mãos e uma pedra na outra, lembrando sempre de sua história, de sua origem e de sua tarefa: lutar permanentemente contra o sionismo e o governo de Israel, mesmo estando em condições bastante desiguais frente ao inimigo-agressor.


Quem não cansa de lutar semeia a cada dia o caminho da vitória. A Palestina será livre, justa e soberana. Esse é o seu caminho e o destino de seu povo. Liberdade e terra para o povo palestino.


VIA CAMPESINA BRASIL: Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF, Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, Movimento das Mulheres Camponesas – MMC, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, Movimentos dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Pastoral da Juventude Rural – PJR.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Desmatamento causado por indústria do tabaco terá monitoramento por satélite



O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, assina segunda-feira (22), no Hotel Everest, em Porto Alegre, um Termo de Compromisso com o Sindicato Interestadual da Indústria do tabaco (Sinditabaco) e Associação dos Fumicultores do Rio Grande do Sul (Afubra), para viabilizar a implantação de um sistema piloto de monitoramento de três áreas que apresentaram problema de desmatamento relacionado com a produção de fumo.
Segundo João Pessoa R. Moreira Junior, superintendente do Ibama/RS, no final de 2010 e no decorrer de 2011 ações de fiscalização constataram desmatamentos em importantes remanescentes de Mata Atlântica na região do Vale do Rio Pardo, que resultaram numa série de Autos de Infração, embargos das áreas desmatadas e exigência de recuperação das áreas. Além das penalidades, a superintendência do Ibama criou um grupo de trabalho que resultou no Termo de Compromisso que será assinado na segunda-feira. O setor fumageiro se responsabilizará pelo monitoramento da produção, utilizando como ferramenta o georeferenciamento.
Além do Projeto intitulado Rastreabilidade da Produção do Tabaco no Bioma Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, será assinado um Acordo de Cooperação, prevendo a padronização e a qualificação das Ações para Recuperação e Conservação do Maciço Segredo, localizado na cidade de mesmo nome, na Região Central do Estado.
O Projeto Piloto de monitoramento será realizado em cerca de 5.900 km2 de áreas de Mata Atlântica e permitirá o acompanhamento da evolução dos sistemas de produção e do estado de conservação dos remanescentes florestais em três das áreas de maior importância para a cultura do tabaco no Rio Grande do Sul. Para tanto, serão utilizadas imagens de satélite com uma resolução capaz de detectar alterações nas diversas formações vegetais em áreas menores de um hectare.
Segundo a Superintendência do Ibama, a partir deste projeto piloto “se descortina a possibilidade de implementação de sistemas análogos nas demais áreas de produção de tabaco nos três estados do sul. O monitoramento, com prazo de duração inicial de três anos (podendo ser renovado), pretende ainda coibir eventuais desmatamentos e conversões de habitats não autorizadas decorrentes de outras atividades rurais, além da cultura do tabaco.

Foto: Ibama/RS

A guerra que se anuncia

 
Por Leandro Fortes no CARTA CAPITAL
 
O movimento era previsível e as razões óbvias, mas não deixa de ser perturbadora a investida dos grandes grupos midiáticos ao governo da presidenta Dilma Rousseff, depois de um curto período de risível persistência de elogios e salamaleques cujo único objetivo era o de indispô-la – e a seu eleitorado – com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Digo que era um movimento previsível não apenas por conta do caráter ideologicamente hostil dos blocos de mídia com relação a Dilma, Lula, PT ou qualquer coisa que abrigue, ainda que de forma distante, relações positivas com movimentos sociais, populares e de esquerda. A previsibilidade da onda de fúria contra o governo também se explica pela transição capenga feita depois das eleições, um legado de ministros e partidos de quinta categoria baseado numa composição política tão ampla quanto rasa, e que, agora, se desmancha no ar.

Assim, pode-se reclamar da precariedade intelectual da atual imprensa brasileira, da sua composição cada vez mais inflada de jornalistas conservadores, repórteres raivosos e despolitizados, quando não robotizados por manuais de redação que os ensina desde a usar corretamente o hífen, mas também como se comportar num coquetel do Itamaraty. É tudo verdade, como também é verdade que, ao herdar de Lula essa miríade de ministros-jabutis colocados na Esplanada dos Ministérios, Dilma aceitou iniciar o governo com diversos flancos abertos, a maioria resultado da aliança com o PMDB, e se viu obrigada a fazer essa tal “faxina” pela mídia, embora se negue a admiti-lo, inclusive em recente entrevista à CartaCapital.

Dilma caminha, assim, sobre a mesma estrada tortuosa do primeiro ano do primeiro mandato de Lula, quando o ex-operário chegou a crer, cegado pela venda de inacreditável ingenuidade, que as grandes corporações de mídia nacionais, as mesmas que fizeram Fernando Collor derrotá-lo, em 1989, poderiam ser cooptadas somente na base do amor e do carinho. Dessa singela percepção infantil adveio a crise do “mensalão”, a adoção sem máscaras do jornalismo de esgoto nas redações brasileiras, a volta do golpismo como pauta de reportagem e a degeneração quase que absoluta das relações entre o poder público e a imprensa.

Em 2010, agregados ao projeto de poder do PSDB e de seu cruzado José Serra, os grupos de mídia formaram um único e poderoso bloco de oposição e montaram um monolítico aríete com o qual tentaram derrubar, diuturnamente, a candidatura de Dilma Rousseff. Não fosse a capacidade de comunicação de Lula com as massas e a consequente transferência de votos para Dilma, essa ação, inconsequente e, não raras vezes, imoral, teria sido vitoriosa. Perdeu-se, contudo, na inconsistência política de seus líderes, na impossibilidade de comparação entre os dois projetos de País em jogo e, principalmente, na transfiguração final – triste e patética – de Serra num fundamentalista religioso, homofóbico e direitista, cuja carreira política se encerrou na melancólica e risível farsa da bolinha de papel na careca.

Ainda assim, Dilma Rousseff foi comemorar os 90 anos da Folha de S.Paulo, sob alegada conduta de chefe de Estado, como se não tivesse sido o jornalão da Barão de Limeira o primeiro condutor do circo de mídia montado, em 2010, para evitar que ela chegasse à Presidência. Foi a Folha que publicou, na primeira página, uma ficha falsa da então candidata, com o intuito de vendê-la como fria guerrilheira de outrora, disposta a matar e sequestrar inocentes, sequer para lutar contra a ditadura, mas para implantar no Brasil uma ditadura comunista, ateia e, provavelmente, abortista. O fim da civilização cristã no Brasil. Dilma sobreviveu à tortura e à prisão, mas não conseguiu escapar dessa armadilha, e foi lá, comemorar os 90 anos da Folha. Agora, instada a fazer a tal “faxina”, talvez esteja recebendo um salutar choque de realidade.

O fato é que o embate entre as partes, haja ou não uma Lei dos Meios, nos moldes da legislação argentina, não é só inevitável, mas também inadiável. A presidenta reluta, naturalmente, em iniciar um conflito entre a lei e os meios de comunicação, não é por menos. Ela sabe o quanto foi dura e a ainda é a vida dos colegas vizinhos da Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e Paraguai com os oligopólios locais. Faz poucos dias, um jornalista brasileiro, encastelado numa dessas colunas de horror da imprensa nativa, chamou a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, de “perua autoritária”, em resposta a leitores que lhe enviaram comentários indignados com um texto no qual ele a acusava, Cristina, de usar o próprio luto (o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, morreu em outubro do ano passado) para fins eleitorais. Implícito está, ainda, a questão do machismo (a “faxina” da nossa presidenta), ou melhor, a desenvoltura do chauvinismo, ainda isento de freios sociais eficazes.

Tenho cá minhas dúvidas se o mesmo jornalista, profissional admirado e reconhecido por muitos, teria coragem de se referir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como “pavão engabelado”, apenas para ficar na mesma alegoria do mundo animal atribuída a Cristina Kirchner, por ter posado de pai amantíssimo ao assumir, 18 anos depois, a paternidade de um filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo – e, aos 80 anos, descobrir que caiu no golpe da barriga. Passou dois mandatos refém da família Marinho por conta de um menino que não era dele. Algum comentário sarcástico nas colunas e blogs da “grande imprensa” a respeito? Necas de pitibiriba. Com a presidenta argentina, mulher que enfiou o dedo na cara de um grupo midiático “independente” que sustentou uma ditadura nazista, responsável pelo assassinato de 20 mil pessoas, o colunista, contudo , se solta e se credencia a nos fazer rir.

Duvido que Cristina Kirchner fosse ao aniversário do Clarín.

A ferro e fogo*


Jorge Cadima
Jorge Cadima 
A explosão inglesa é mais um sinal de que o sistema capitalista dos nossos dias está em profunda crise. Foi quase simbólico que os distúrbios nas ruas acompanhassem os distúrbios nas bolsas e nos mercados. A classe dirigente inglesa só fala em repressão e mão dura. O capitalismo já nada mais tem para oferecer senão miséria, guerra e violência.


O primeiro-ministro inglês não tem dúvidas. As revoltas nas ruas das cidades inglesas são apenas «criminalidade». Resultam dum «colapso moral» e de: «Irresponsabilidade. Egoísmo. Comportamentos que ignoram as consequências dos próprios actos. […] Recompensas sem esforço. Crime sem castigo. Direitos sem responsabilidades» (CNN, 15.8.11). Alguém deveria oferecer um espelho a David Cameron. A sua caracterização assenta que nem uma luva à criminosa, mentirosa e corrupta classe dirigente do seu país, que nos últimos anos enriqueceu de forma obscena através das falcatruas bolsistas e financeiras, da guerra, dos subsídios estatais, das isenções fiscais, das privatizações e pilhagem da riqueza pública, da mentira sistemática do império mediático de Rupert Murdoch. E que agora acha que cabe ao povo britânico pagar a factura dos seus desmandos.
São seguramente condenáveis as destruições de lojas e casas nas cidades inglesas. Mas quem elogiou a incomparavelmente mais grave destruição de Tripoli, Bagdade ou Belgrado? São condenáveis as violências sobre cidadãos inocentes nas ruas inglesas. Mas no dia 8 de Agosto aviões da NATO matavam 85 civis na aldeia de Majar, a 150 km de Tripoli: 33 crianças, 32 mulheres e 20 homens (Globe and Mail, 9.8.11). Violências de gangs são inaceitáveis. Mas quem transformou os gangs narcotraficantes e assassinos do UÇK, dos mudjahedines afegãos ou dos «rebeldes» de Bengasi em «governos», entregando-lhes cidades, territórios e redutos para os seus tráficos e crimes? E o que nos contam na comunicação social sobre os distúrbios será verdade? O Estado inglês tem um extensíssimo historial de violência e mentira. Foi assim nos anos da revolta na Irlanda do Norte (com casos escandalosos como os Birmingham Six ou os Guilford Four). É assim nos nossos dias. Desde 1998 morreram 333 pessoas sob detenção policial, sem que alguma vez um polícia tenha sido condenado (Guardian, 3.12.10). Em 2005 foi assassinado a sangue frio, após perseguição policial, o jovem brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com «um árabe». Na altura a polícia mentiu. No incidente que agora despoletou os distúrbios, depois de inicialmente a polícia ter dito que o jovem Duggan morrera numa troca de tiros com a polícia, a comissão de fiscalização da polícia veio confessar que apenas a polícia disparou (Guardian, 9.8.11). Testemunhas afirmam que Duggan foi assassinado a sangue frio, depois de imobilizado pela polícia. O chefe da Polícia Metropolitana de Londres demitiu-se há poucas semanas, após o escândalo que revelou um grau de podridão assinalável no triângulo imprensa-polícia-governo de Sua Majestade. Curiosamente, o dito trio aparece agora na contra-ofensiva política, distribuindo aos sectores mais pobres da sociedade inglesa sermões de moral e ameaças de duríssima repressão policial e social. O jornalista que despoletou o escândalo apareceu morto, tal como aconteceu com David Kelly, que em 2003 denunciou à imprensa as mentiras do governo Blair sobre a guerra no Iraque. Nada de suspeito, claro.
No Reino Unido como no resto do mundo capitalista, os anos da crise foram fartos para os senhores do dinheiro. Segundo a lista elaborada pelo Sunday Times, só no último ano os mais ricos viram as suas fortunas aumentar 20% (Telegraph, 7.5.11). A manterem-se as tendências actuais, o fosso nos rendimentos será, em 2030, apenas comparável ao que existia no tempo da Rainha Vitória (Guardian, 16.5.11). Lá como cá, os lucros privados são sustentados pelas dívidas públicas e por um ataque selvagem às condições de vida de quem trabalha. Para boa parte da juventude trabalhadora britânica, o sistema apenas oferece como saída combater (e morrer) nas guerras ou nos gangs. Ironicamente, nem mesmo uma carreira na polícia é agora possível, pois os cortes do governo conservador-liberal implicam que 34 mil postos de trabalho na polícia vão desaparecer nos próximos quatro anos (Guardian, 21.7.11).
A explosão inglesa é mais um sinal de que o sistema capitalista dos nossos dias está em profunda crise. Foi quase simbólico que os distúrbios nas ruas acompanhassem os distúrbios nas bolsas e nos mercados. A classe dirigente inglesa só fala em repressão e mão dura. O capitalismo já nada mais tem para oferecer senão miséria, guerra e violência.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1968 de 18.08.2011