Entrevista especial com Eduardo Moro | |||
Em contraposição à alimentação fast food, a procura pela alimentação orgânica tem crescido consideravelmente em diversos países do mundo. Escândalos alimentares ocorridos na Europa nos anos 1980, o clima de insegurança, as “dúvidas quanto à capacidade dos peritos em prever ou mesmo controlar incidentes envolvendo o consumo de alimentos” e as incertezas da sociedade do risco, teoria abordada por Ulrich Beck, contribuíram para que os consumidores repensassem as práticas alimentares, diz Moro à IHU On-Line. Apesar de a agricultura orgânica ter avançado nas últimas décadas, e de “mais de 60 milhões de hectares serem destinados” à essa prática, apenas dez países lideram a produção de alimentos orgânicos e “são responsáveis por quase 3/4 do total. (...) Esses dados evidenciam, por um lado, limitações da agricultura orgânica, mas também, ao mesmo tempo, oportunidades de desenvolvimento em outras partes do planeta”, assinala o sociólogo na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Ao analisar a agricultura orgânica brasileira, Moro diz que os desafios estão na produção e na comercialização dos alimentos. Para se desenvolver, esse modelo agrícola precisa de subsídio estatal, especialmente durante o período de “conversão, ou seja, quando o agricultor passa sua produção de convencional para orgânica”. Em relação à comercialização, “o desafio está no fortalecimento do mercado interno. (...) Os relatórios internacionais apontam que 70% a 90% da produção brasileira de alimentos orgânicos é destinada à exportação”, aponta. Eduardo Moro é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, mestre e doutorando em Sociologia Política pela mesma instituição. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: alimentos orgânicos, supermercados, riscos alimentares, consumo alimentar e consumidores. Confira a entrevista. IHU On-Line – Como se caracteriza um alimento orgânico? Quais são as regras para se produzir um alimento orgânico? Eduardo Moro – A partir da década de 1990, inúmeros países passaram a debater definições, normas e regras ligadas à produção e à comercialização de alimentos orgânicos. A partir destes debates, uma série de legislações passaram a vigorar, cada uma delas com especificidades inclusive no que se refere às terminologias e às definições de alimento orgânico. O que no Brasil é chamado de orgânico, por exemplo, pode ser encontrado como ecológico ou biológico em outras partes do mundo. Portanto, não existe uma única definição de alimento orgânico, tendo em vista que podem variar de país para país. Em uma análise recente, baseada em publicações oficiais de países da América Latina e União Europeia, além de Estados Unidos e Canadá, bem como de organizações ligadas à agricultura orgânica no Brasil e no mundo, destaquei quatro aspectos que penso estarem, em maior ou menor grau, presentes na maioria das definições investigadas e que contribuem para formular uma definição “geral” de agricultura orgânica, nos moldes da pergunta. O primeiro deles é mais específico e se refere à não utilização de insumos químicos na produção. Já os demais envolvem uma perspectiva social, uma econômica e outra ambiental, ou ecológica. Esta última pode subdividir-se ainda em proteção do solo, dos recursos hídricos e na defesa do bem-estar animal. Especificamente no caso do Brasil, acredito que a construção da definição de agricultura orgânica dá seu primeiro grande passo a partir dos debates que originaram a Instrução Normativa 007, de 17 de maio de 1999. O segundo e definitivo passo ocorre com publicação da lei n. 10.831, de 23 de dezembro de 2003, regulamentada em 27 de dezembro de 2007 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A definição presente na lei refere-se à utilização de técnicas que visam à sustentabilidade econômica e ecológica em contraposição a materiais sintéticos, organismos geneticamente modificados e radiação ionizante. É importante ressaltar que a produção e a comercialização de alimentos orgânicos envolve ainda inúmeros outros aspectos que se referem à certificação, ao transporte, ao armazenamento, etc., que deram origem a novos documentos que vêm sendo discutidos até os dias atuais. IHU On-Line – A que você atribui o crescimento da produção e consumo de alimentos orgânicos no mundo? Eduardo Moro – Não tenho dúvidas de que o crescimento da produção e do consumo de alimentos orgânicos ocorre por diversos fatores. Uma única razão não dá conta de explicar tal fenômeno, sobretudo dada a especificidade de cada país e a forma como cada cultura percebe a sua alimentação. Portanto a resposta que darei aqui não é a única, mas é talvez umas das mais aceitas na literatura internacional. Para muitos europeus, a década de 1980 ficou marcada pelos diversos escândalos alimentares, o mais importante deles possivelmente tenha sido a encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como a “doença da vaca louca”. Tais acontecimentos trouxeram à tona um clima de insegurança e dúvidas quanto à capacidade dos peritos em prever ou mesmo controlar incidentes envolvendo o consumo de alimentos. Trouxeram também em seu bojo transformações marcantes nos hábitos alimentares de parte importante da população de alguns países, especialmente aqueles cujas organizações de consumidores eram mais estruturadas e atuantes. Esse cenário favoreceu a inserção dos alimentos orgânicos na dieta de muitos consumidores, tidos como mais seguros, saudáveis e livres de qualquer tipo de contaminação. Contudo, essa explicação não se aplica ao Brasil, por exemplo. Acredito que aqui o crescimento tenha se dado muito mais por uma oportunidade de mercado, como uma tendência trazida pelas redes internacionais de supermercados (assunto que ainda pretendo discutir) e como uma oportunidade na exportação de alimentos orgânicos para grandes mercados consumidores. IHU On-Line – Quais são os desafios da produção e do consumo de alimentos orgânicos? Eduardo Moro – Ainda que a agricultura orgânica tenha tido um grande avanço nas últimas décadas, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Apesar de atualmente mais de 60 milhões de hectares serem destinados à agricultura orgânica em todo o mundo (incluindo áreas de extrativismo sustentável e em processo de conversão), os dez países líderes em produção são responsáveis por quase 3/4 do total. Mais do que isso, de um mercado com receita anual superior a 54 bilhões de dólares, 97% deste montante está concentrado na Europa e nos Estados Unidos. Esses dados evidenciam, por um lado, limitações da agricultura orgânica, mas também, ao mesmo tempo, oportunidades de desenvolvimento em outras partes do planeta. No Brasil, o caso não é muito diferente, pois, apesar de o país possuir uma área de mais de 880 mil hectares destinada à agricultura orgânica, isso representa apenas 0,33% do total da área agrícola do país. Da mesma forma, há um caminho longo a ser percorrido. Mas, tratando especificamente dos desafios do Brasil, acredito que eles residam tanto na produção como na comercialização. Não sou muito otimista quanto ao desenvolvimento da agricultura sem subsídios do Estado. Especialmente no caso da agricultura orgânica, sou ainda mais enfático ao defender o apoio do governo, sobretudo no período compreendido como “conversão”, ou seja, quando o agricultor passa sua produção de convencional para orgânica. Esse período de tempo varia de acordo com o cultivo a ser desenvolvido e o uso anterior da unidade de produção (sendo no mínimo de 12 meses), que é quando o produtor encontra dificuldades de comercializar seu produto por não ser considerado ainda um produtor orgânico. No que concerne à comercialização, o desafio está no fortalecimento do mercado interno. Uma das grandes dificuldades em pesquisar agricultura orgânica no Brasil sempre foi a ausência e a confusão de dados acerca da produção e da comercialização. Digo isso, pois os relatórios internacionais apontam que 70% a 90% da produção brasileira de alimentos orgânicos é destinada à exportação. Embora ainda não possua todos os dados empíricos necessários, as pesquisas realizadas nos últimos anos junto ao Instituto de Risco e Sustentabilidade (IRIS-UFSC) me levam a questionar tal fato. Penso que o mercado interno brasileiro está sendo subestimado. Apesar disso, acredito também que um dos desafios da agricultura orgânica no Brasil resida justamente em mensurar de maneira clara esse mercado e, a partir disso, elaborar estratégias envolvendo poder público e privado para fomentar a venda de tais alimentos e assim popularizar cada vez mais a agricultura orgânica nas diversas regiões do país. IHU On-Line – Se, por um lado, cresce a produção de alimentos orgânicos, por outro, o Brasil é um dos maiores usuários de agrotóxicos. Como o senhor explica essa questão? Eduardo Moro – Mesmo me considerando um otimista quanto ao crescimento da agricultura orgânica nos próximos anos, acho pouco provável que ela venha a se tornar o modelo dominante de agricultura no país. Portanto, não me surpreende que o Brasil apresente – por um lado – o crescimento da agricultura orgânica e – por outro – mantenha-se como um dos maiores usuários de agrotóxicos do planeta. A agricultura orgânica encontra-se em um processo de implementação no Brasil e rivaliza com modelos de produção consolidados e amplamente utilizados desde a Revolução Verde. Não podemos esperar que em um curto período a agricultura orgânica promova reduções drásticas na utilização de agrotóxicos, mas “apenas” que se mantenha enquanto uma alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável para aquele produtor que esteja disposto a buscar novas alternativas. Porém, repito que isso será possível somente com planejamento, contando com apoio e diálogo do poder público e da indústria privada. IHU On-Line – Qual o papel dos supermercados na oferta de alimentos orgânicos? Eduardo Moro – Tomando de empréstimo as palavras da professora doutora Julia Guivant, o crescimento dos supermercados levou feiras livres e lojas especializadas a ocuparem um papel secundário na venda de alimentos orgânicos no Brasil. A própria pesquisadora demonstra a importância dos supermercados através de pesquisas em supermercados no Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Justamente na capital catarinense é que realizei minha primeira pesquisa relacionando alimentos orgânicos e o papel dos supermercados no ano de 2006. Naquela oportunidade, visitei doze lojas de sete diferentes redes de supermercados presentes na região, e pela primeira vez presenciei in loco o crescimento na oferta de alimentos orgânicos (principalmente vegetais in natura) nas gôndolas dos supermercados. Uma das conclusões daquele trabalho foi de que a cidade de Florianópolis possuía um mercado consolidado, podendo ser comparado em diversos aspectos com capitais mais populosas, como São Paulo e Rio de Janeiro. Alimentos orgânicos nos supermercados No ano seguinte, voltei a campo, ampliando a pesquisa para as capitais dos estados que compõem a região sul. Novamente pude constatar a presença de alimentos orgânicos na maioria dos supermercados, assim como a crescente oferta de produtos processados em gôndolas não refrigeradas. Mais do que isso, pude observar o papel destacado das grandes redes de supermercados internacionais, que não focavam sua oferta em determinadas cidades ou regiões dos estados. Ao contrário, passavam a inserir os alimentos orgânicos em políticas de venda que envolvia todo o conjunto de lojas. Recentemente, vale ressaltar, surge uma tendência importante na venda de alimentos orgânicos: a comercialização em “pequenos supermercados” ou “supermercados de bairro”. Embora ainda não tenha realizado nenhuma pesquisa acerca desse tema, acredito que essas lojas passam gradativamente a aderir à venda de alimentos orgânicos. Mas o mais importante é o que está por trás do avanço dos supermercados. É fundamental considerar que a relação entre supermercados e consumidores se dá numa perspectiva de ganho para todas as partes, ou seja, ao passo que consumidores demandam alimentos orgânicos e reivindicam a existência destes nas gôndolas do supermercado, consumidores “comuns” – que não teriam informação ou mesmo interesse em buscar alimentos orgânicos em outros canais de venda – “convertem-se” em compradores dada a oferta. Sob essa ótica, a inserção dos supermercados traria uma relação de ganho, para os produtores, para os próprios supermercados e para os consumidores. IHU On-Line – Quais as implicações dos alimentos geneticamente modificados na agricultura orgânica? Eduardo Moro – Minha intenção aqui não é debater os possíveis riscos ou benefícios dos organismos geneticamente modificados. Restrinjo-me a responder como imagino que os transgênicos podem implicar na produção e na comercialização dos alimentos orgânicos. Conforme a lei 10.831, a chamada “Lei dos Orgânicos”, é proibida a utilização de qualquer organismo geneticamente modificado na produção orgânica. Essa informação é central. Diante disso, os transgênicos surgem como um entrave para o avanço da agricultura orgânica. No que se refere à produção, por exemplo, há o risco de contaminação de uma lavoura orgânica pelo pólen oriundo de culturas transgênicas, tanto através de vetores abióticos como biológicos. Já no mercado alimentício, os transgênicos surgem como mais uma opção e passam disputar a atenção de parte importante dos consumidores nas gôndolas dos supermercados. Parece-me claro que, até o momento, o consumidor adepto a um “estilo de vida” dito saudável tem evitado o consumo de transgênicos. Entretanto, devemos considerar o caráter heterogêneo do consumidor no Brasil e os diferentes graus de informação. Diante disso, para muitos indivíduos que poderiam vir a se “converter” em consumidores de alimentos orgânicos, os transgênicos surgem como nova opção de compra. IHU On-Line – A expansão do agronegócio brasileiro impede ou prejudica de alguma maneira a produção de alimentos orgânicos? Eduardo Moro – Dentre os diversos grupos ou “correntes” que defendem a agricultura orgânica no Brasil, alguns defendem que a venda seja mantida num modelo “tradicional”, ou seja, em pequenas feiras livres, com contato direto com o produtor, mantendo relações de proximidade e confiança entre aquele que compra e aquele que vende. Em contrapartida, outros defendem que a produção orgânica seja inserida no agronegócio do país, comercializada em redes de supermercados, certificada por agências especializadas e exportada para grandes mercados consumidores. Essas perspectivas dicotômicas divergem também quanto à expansão do agronegócio. Acredito que o crescimento do agronegócio no país pode representar uma oportunidade para a agricultura orgânica desde que haja incentivo governamental aos pequenos produtores, que a produção atenda às exigências de certificação dos mercados internacionais e de que o mercado interno aquecido contribua na absorção da produção. Portanto, o destaque da produção agrícola brasileira pode contribuir para o aumento na produção, exportação e comercialização de produtos orgânicos, mas para isso necessita-se de planejamento e apoio. IHU On-Line – Quais setores agrícolas costumam investir na produção orgânica? Eduardo Moro – No ano de 2003, logo que comecei a pesquisar sobre a oferta de alimentos orgânicos em feiras livres e em supermercados, os principais produtos ofertados eram vegetais in natura dispostos a granel, embalagens plásticas ou em bandejas de isopor. Os produtos mais comuns eram verduras e legumes (como alface, brócolis, couve, repolho, rúcula e outras), ervas (como hortelã, endro, manjerona, entre outras) e frutas (principalmente ameixas e laranjas). Grande parte desses itens era produzida por pequenos e médios agricultores, organizados em cooperativas ou associações e certificados de forma participativa. Com o passar dos anos, novos itens somaram-se aos que citei anteriormente, sobretudo alimentos processados, como açúcar, farinha, biscoitos, sucos, arroz, achocolatados, cafés, entre outros. Neste caso, a produção passou também a envolver empresas de médio e grande porte, tanto aquelas de nome conhecido no mercado, que adotaram a chamada produção “paralela”, como por empresas dedicadas exclusivamente à produção orgânica. Não vou detalhar aqui as consequências desta transformação, embora tenha se tornado visível a proliferação de itens e marcas de alimentos orgânicos nas gôndolas dos grandes supermercados. IHU On-Line – Como a teoria de Ulrich Beck pode ser aplicada à produção de alimentos orgânicos? Eduardo Moro – O alemão Ulrich Beck publicou em 1986 um livro (traduzido para o inglês em 1992) que tornou bastante conhecida a premissa de viveríamos em um período no qual denominou de Modernidade tardia, caracterizado como uma “sociedade do risco”. Na obra, Beck diferencia os riscos de períodos pré-modernos daqueles presentes nos dias atuais, dando destaque aos que envolvem o meio ambiente e que trazem consigo uma série de transformações na sociedade moderna. Em 2010, o autor escreveu um novo livro com o intuito de “atualizar” a primeira versão e passou a discutir também os riscos gerados pelo terrorismo, marcado pelos ataques de 11 de setembro. Em termos gerais, algumas coisas que falei anteriormente podem ser relacionadas com a teoria de Beck. Muitos dos escândalos alimentares que ocorreram nas últimas décadas trouxeram à mente das populações riscos antes inimagináveis. Esses riscos globais e de graves consequências, “democráticos” em um sentido negativo e, muitas vezes, imperceptíveis pela ciência moderna geraram um cenário altamente favorável para a adoção de hábitos alimentares mais seguros. A crescente “encenação” (ou como diria Beck, “escenificação”) dos riscos no cotidiano dos consumidores de diversas partes do mundo trouxe profundas transformações nos hábitos alimentares, como a diminuição no consumo de carne, por exemplo, ou a adoção de uma dieta composta com alimentos orgânicos. Mesmo sem ter lido Beck, atualmente os consumidores estão conscientes dos riscos alimentares como uma nova forma de risco. IHU On-Line – Qual costuma ser o perfil dos consumidores de alimentos orgânicos? Eduardo Moro – Analisando as principais pesquisas que investigam os consumidores de alimentos orgânicos no Brasil e no mundo, arrisco-me afirmar que a maioria delas está centrada na distinção entre valores individuais e/ou coletivos. Em outros termos, pesquisadores investigam se a compra ocorre motivada pelo cuidado à saúde (do consumidor ou de sua família) e/ou pela proteção ao meio ambiente. Os resultados variam consideravelmente, embora apontem predominantemente para indivíduos inseridos no primeiro grupo (ligados a valores individuais). Em número reduzido surgem pesquisas que investigam possíveis perfis, sobretudo baseados em indicadores socioeconômicos, ou elaboram tipologias dos consumidores de alimentos orgânicos. No Brasil são bastante comuns em meios de comunicação e até mesmo em trabalhos acadêmicos afirmações generalistas baseadas em dados como sexo, idade, renda e escolaridade. Uma delas é que os consumidores de alimentos orgânicos são preponderantemente mulheres, de faixa etária entre 35 e 50 anos, possuidores de um elevado nível de escolaridade e com alta renda. Acredito que tais informações são apenas pistas acerca de um grupo que acredito ser bem mais heterogêneo e repleto de especificidades. Nos últimos anos, novas pesquisas vêm sendo desenvolvidas, algumas delas trazendo novidades em termos metodológicos e na abrangência dos indivíduos investigados, o que poderá contribuir num futuro próximo na percepção de quem são os consumidores de alimentos orgânicos no Brasil. (Por Patricia Fachin) |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Sociedade do risco e o consumo de alimentos orgânicos.
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Ilustração para exportação: uma mostra brasileira na China
Artistas gráficos, designers e ilustradores brasileiros participam do IllustraBrazil, festival que reunirá entre os dias 20 de agosto e 25 de setembro mais de cem obras em Xangai, na China |
por Felipe Machado no LE MONDE-BRASIL |
Há diversos aspectos culturais que influenciam na percepção da identidade de um povo. A música, sem dúvida, é um dos mais populares, mas há muitos outros. A literatura, a gastronomia e o gosto por determinadas atividades esportivas, por exemplo, representam outras expressões culturais que revelam a identidade dessas pessoas que compartilham uma origem geográfica específica. Seria possível, no entanto, afirmar que há uma característica visual própria de um país, um estilo que o diferencie dos outros, apenas pelos traços de seus ilustradores ou artistas gráficos? Se voltarmos no tempo e entrarmos pela porta das grandes escolas de arte, a resposta evidentemente é afirmativa. Difícil imaginar outro berço mais propício para o início do Renascimento do que a Itália do século XVI, assim como seria impossível assistir ao big bang do expressionismo abstrato sem o contexto cultural que brotava em Nova York nos (quase tão) longínquos anos 50. Mas a grande verdade é que o mundo mudou, ficou menor, mais global. E as fronteiras perderam o significado limitador e simbólico que tinham até o final do século XX. Haveria, então, algum país que conseguiria ficar isolado o suficiente para criar uma identidade visual 100% própria? Como é de esperar, a Sociedade dos Ilustradores do Brasil (SIB) não pretende responder a essas questões com palavras, mas com imagens. A entidade, que desde 2001 reúne mais de duzentos associados, é a organizadora do IllustraBrasil, que já está em sua oitava edição. O evento costuma se alternar entre Rio de Janeiro e São Paulo, mas a partir de 20 de agosto ganha sua primeira edição internacional: a mostra IllustraBrazilreunirá, na galeria The Foundry, em Xangai, mais de cem obras de artistas gráficos brasileiros selecionados especialmente para a ocasião. Fábio Sgroi, conselheiro da SIB, acredita que existe, sim, um estilo brasileiro, que pode ser reconhecido nas ilustrações principalmente por suas cores e formas. “Como vivemos em um clima tropical, temos a tendência de enxergar a iluminação natural de maneira mais viva e quente do que nos países do Hemisfério Norte, por exemplo. A combinação das cores de nossa vegetação com a luz dos dias claros no país aparece frequentemente em nossas artes, mesmo quando o tema não é tão alegre. Em relação à forma, também optamos por combinações mais orgânicas e impregnadas de movimento”, afirma Sgroi. O ilustrador Bruno Porto, um dos organizadores da mostra brasileira em Xangai, chegou a essa cidade em 2006, a convite do Departamento de Comunicação Visual do Raffles Design Institute, para dar aulas de Tipografia, Identidade Corporativa e Design Gráfico a alunos chineses. Entre as aulas, trabalhou como consultor para empresas estrangeiras sobre design chinês e ainda sobrou tempo para fazer a curadoria de exposições de cartazes brasileiros e coordenar a 9ª Bienal Brasil de Design Gráfico em Pequim e Xangai. “Mais do que uma mostra de ilustração brasileira, o IllustraBrazil é uma seleção de diversos aspectos de nossa cultura: natureza, esportes, arquitetura, música, sob o olhar de mais de cem profissionais das artes gráficas. A mostra permitirá que o visitante conheça o Brasil por meio da ilustração.” O evento não terá apenas cunho artístico: além das obras de cunho editorial, haverá espaço para filmes de animação, design de embalagens e peças publicitárias. “Será apresentado um seminário de negócios voltado para editoras, agências de publicidade, produtoras e empresários locais. A ideia é mostrar que o mundo descobriu a ilustração, os quadrinhos e a animação brasileira.” É o caso da graphic novel Daytripper, dos irmãos Fabio Moon e Gabriel Ba, que foram campeões de venda no site Amazon e ganharam críticas positivas no New York Times, ou do ilustrador Luiz Catani, que há duas décadas publica livros infantis na França. Porto acredita que essa é a hora de os profissionais de criação brasileiros se prepararem para atender a uma demanda estrangeira crescente, uma vez que o Brasil é a “bola da década”, com Copa do Mundo e as Olimpíadas a caminho. “O mundo todo vai querer ‘vender’ Brasil, e temos de deixar claro que somos os mais indicados para isso. A China também passou por algo semelhante, com as Olimpíadas em 2008 e a Feira Mundial de Xangai em 2010.” A mostra conta com o apoio do Ministério das Relações Exteriores. Joel Sampaio, cônsul-geral adjunto do Brasil em Xangai, acredita que o evento será essencial para aumentar a sensibilidade dos chineses em relação ao Brasil. “Muitos estudantes virão à exposição. Será ótimo para que tenham um conhecimento mais amplo sobre nosso país”, afirma o diplomata. O evento terá ainda a participação dos ilustradores Marcelo Martinez e Orlando Pedroso, profissionais e conselheiros da SIB, que darão palestras e promoverão oficinas em universidades locais. “Um evento deste porte no exterior é uma grande vitrine e, ao mesmo tempo, um espelho”, afirma Orlando Pedroso. A imagem que o Brasil quer refletir não tem preço, mas certamente valerá mais do que mil palavras. Felipe Machado Diretor de mídias digitais do Diário de S. Paulo e Rede Bom Dia, grupo com jornais distribuídos por dez cidades paulistas. Assina também o blog Palavra de Homem e é autor dos livros Bacana bacana: as aventuras de um jornalista pela Copa do Mundo da África do Sul (2010), Ping Pong: as aventura de um jornalista brasieliro na China olímpica (2008), indicado ao Prêmio Jabuti, e dos romances Olhos cor de chuva (2002) e o Martelo dos Deuses (2007). Ilustração: Mario Bag |
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Militante do multiculturalismo, Caroline Fourest teme por tempos 'dolorosos e violentos' na Europa
O racismo passou da retórica aos fatos, pôs o dedo no gatilho de uma metralhadora e estraçalhou os corpos de 76 jovens em julho deste ano, na Noruega. Comeste ato, provocou urros de aprovação numa direita branca, católica, homofóbica e raivosa, desejosa de ver no massacre cometido por Anders Behring Breivik os pilares da recuperação da Europa "monocultural, forte, íntegra e iluminada da Era Medieval".
Wikimedia Commons
Em uma entrevista exclusiva ao Opera Mundi, concedida por e-mail, de Paris, a escritora francesa e professora de multiculturalismo da Sorbonne, Caroline Fourest, falou da nova onda que prega o apartheid mundial como forma de frear os "efeitos nocivos" da mundialização. Colunista do jornal francês Le Monde e fundadora da revista ProChoix, Caroline emergiu nos últimos dez anos como uma das maiores defensoras do multiculturalismo. Razão suficiente para, segundo as teorias de Breivik, ser vítima de um ataque, assim como sua publicação.
Temas ligados à intolerância são cada vez mais presentes na imprensa – às vezes como debate de uma visão de mundo; outras como motivação para atos violentos. Acredita na existência de uma onda favorável a um 'apartheid mundial', onde norte e sul, negro e branco, cristão e muçulmano serão cada vez mais temerosos de viverem juntos?
Nós estamos presenciando hoje o crescimento de um medo que é mais complexo que um "simples" racismo de tipo neocolonial. Já não se trata mais de preconceitos ligados a sentimentos de superioridade para dominar o outro, seja com finalidade econômica, seja com finalidade comercial. Hoje, vemos um medo mais ligado à crise da mundialização e do multiculturalismo. Do ponto de vista de certos europeus, principalmente dos mais desfavorecidos, a mundialização não faz mais que causar problemas como reduzir a proteção social, aumentar a concorrência por salários e levar a perda da identidade nacional.
Trata-se, portanto, muitas vezes, de uma ansiedade que é ao mesmo tempo social e cultural. Ainda que os preconceitos racistas de tipo clássico se retirem, pelo menos no caso da Europa, o medo do estrangeiro apenas muda de forma.
Já não se trata tanto de rejeitar a imigração porque nós acreditamos que os outros são inferiores, mas porque eles podem nos fazer concorrência com os mesmos salários ou mesmo enquanto trabalhadores do sul (em pleno crescimento).
Isso os leva a crer que poderemos desaparecer enquanto cultura, caso todas as minorias que migram para o Norte nos impuserem sua particularidade cultural ou religiosa. É assim, o extremismo religioso irrompe.
O atentado na Noruega permite dizer que a Europa entrou em uma nova etapa no combate à discriminação e da defesa dos direitos humanos? O que mudou depois deste episódio para os que defendem um mundo livre e tolerante?
O massacre na Noruega é um ato isolado de uma pessoa perversa, sádica e narcisista. Mas é claro que ele levanta questões. Seu manifesto de ódio concentra os novos bordões da direita europeia, como a nostalgia de um mundo monocultural, no qual a identidade europeia deve ser reafirmada para que não desapareça.
Os principais perigos que pairam sobre esta identidade são, aos olhos destas pessoas, destes assassinos, a "feminilização da Europa", como um conceito que sabota o patriarcado.
Depois, há o medo do marxismo cultural, que é visto como algo que depões contra o brio masculino do homem branco, cristão e heterossexual. Estes assassinos criticam o multiculturalismo, mas eles nunca o fazem de maneira laica, universalista ou igualitária. É, em vez disso, uma visão machista, homofóbica e patriarcal da identidade europeia, frente ao que eles veem como uma ameaça à virilidade e à vitalidade, provocada também pelo que eles chamam de "islamização" em curso, ou seja, uma invasão muçulmana por meio da imigração.
Muitos chamaram o manifesto de Breivik um novo Mein Kampf. O pensa dessa associação e quais são efetivamente os riscos que um livro como este pode representar, na disseminação de ideias fascistas na Europa de hoje?
É um manifesto de ódio, o qual o autor espera claramente que tenha o mesmo destino do Mein Kampf. Ele já teve uma difusão inquietante pela internet, ainda que grande parte das pessoas o tenha lido para melhor combatê-lo. Mas, diferente de Hitler, seu autor passou aos atos antes de transformar-se num modelo. E que modelo ele propunha? De matar a sangue frio pessoas que tinham entre 12 e 17 anos? Quem pode se identificar com isso?
Le Blog de Caroline Fourest
Mesmo os piores extremistas políticos estão obrigados a condenar este ato absolutamente sem sentido, ao contrário do que o assassino queria fazer crer, e que se parece a terrorismo puro. Sim, devemos estar muito vigilantes para que todos os que ousem se solidarizar com um "modelo" como esse sejam sistematicamente condenados.
A imprensa viveu um dilema confrontada com a decisão de publicar ou não o manifesto de Breivik. Há quem pensa ser preciso discutir o conteúdo como uma forma de confrontar intelectualmente a ameaça. Por outro lado, há quem defenda que não se pode dar mais visibilidade a essas teorias, pois é justamente a publicidade que interessa. Qual sua opinião?
É muito complicado, realmente. De um lado, é preciso ler para melhor compreender. De outro, ele contém efetivamente passagens de incitação ao ódio, à morte; um verdadeiro manual de terrorismo, que faz com que sua proibição me pareça justificada e até mesmo necessária.
Mas como proibir isso na Internet? É impossível. Se você prevê uma sanção aos que possuem o documento, não estará fazendo mais que dar a ele um caráter sulfuroso, ainda mais sedutor. Apesar disso, é preciso penalizar os sites que publicam e difundem este documento.
Em seu documento, Breivik diz a seus seguidores que eles devem realizar ações violentas contra todos os que defendem o multiculturalismo na Europa. Sentiu-se pessoalmente confrontada com uma ameaça tão direta?
Mas como proibir isso na Internet? É impossível. Se você prevê uma sanção aos que possuem o documento, não estará fazendo mais que dar a ele um caráter sulfuroso, ainda mais sedutor. Apesar disso, é preciso penalizar os sites que publicam e difundem este documento.
Em seu documento, Breivik diz a seus seguidores que eles devem realizar ações violentas contra todos os que defendem o multiculturalismo na Europa. Sentiu-se pessoalmente confrontada com uma ameaça tão direta?
Eu trabalho numa fundação para o diálogo entre as diferentes culturas, que foi citada como um dos alvos para estes ataques. Ao mesmo tempo, faço parte dos intelectuais que escreveram livros contra a integralidade (no sentido de pureza) e criticam certo tipo de multiculturalismo, que não passa de uma visão anglo-saxã de multiculturalismo.
Ela leva a tolerar a integralidade sob o pretexto de respeitar "as culturas". Mas a minha crítica é articulada, guiada pelo feminismo e pelo antirracismo. É uma crítica que pede que nós reforcemos a igualdade entre homens e mulheres, que lutemos contra a discriminação e que apliquemos os princípios laicos.
Os assassinos não compartem, absolutamente, desta visão, que eles combatem com todas as suas forças, uma vez que detestam o feminismo e o antirracismo. Este ato atroz (na Noruega) reforça tudo o que eu tenho tentado dizer nos últimos dez anos.
Se não encontrarmos soluções que sejam ao mesmo tempo antirracistas e laicas para a crise da mundialização, estaremos abandonando o terreno em favor dos racistas extremistas e monoculturalistas. Se nós estivermos de acordo sobre estes valores e ao mesmo tempo encontrarmos soluções para mitigar a crise econômica e reduzir as injustiças provocadas pela desregulamentação econômica, a barragem aguentará.
Do contrário, teremos pela frente tempos dolorosos e muito violentos.
Ela leva a tolerar a integralidade sob o pretexto de respeitar "as culturas". Mas a minha crítica é articulada, guiada pelo feminismo e pelo antirracismo. É uma crítica que pede que nós reforcemos a igualdade entre homens e mulheres, que lutemos contra a discriminação e que apliquemos os princípios laicos.
Os assassinos não compartem, absolutamente, desta visão, que eles combatem com todas as suas forças, uma vez que detestam o feminismo e o antirracismo. Este ato atroz (na Noruega) reforça tudo o que eu tenho tentado dizer nos últimos dez anos.
Se não encontrarmos soluções que sejam ao mesmo tempo antirracistas e laicas para a crise da mundialização, estaremos abandonando o terreno em favor dos racistas extremistas e monoculturalistas. Se nós estivermos de acordo sobre estes valores e ao mesmo tempo encontrarmos soluções para mitigar a crise econômica e reduzir as injustiças provocadas pela desregulamentação econômica, a barragem aguentará.
Do contrário, teremos pela frente tempos dolorosos e muito violentos.
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A criação e edição geral é de Alan de Melo Ely.
Expointer e Agricultura Familiar: pasteurização da utopia
Postado por Rubens Filho no AMIGOS DE PELOTAS
Ana Carolina Martins da Silva *
O sonho pelo qual eu brigo exige que eu invente em mim a coragem de lutar ao lado da coragem de amar. (Paulo Freire)
A EXPOINTER, quem diria, começou no Parque da Redenção. Segundo dados da SEAPA (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Gov. Do RS), essa movimentação iniciou em 1901, no Campo da Redenção, hoje Parque da Redenção. Conhecida como Exposição Estadual, em 1972, com a oficialização da participação de outros países, a feira passou a chamar-se Expointer – Exposição Internacional de Animais. Atualmente em Esteio/RS, na sua 34ª edição internacional, a Feira apresenta novidades em agropecuária e agroindústria, sendo divulgada como um cartão de visitas do agronegócio do Rio Grande do Sul [...]
A palavra Agronegócio não parece ter muito a ver com a palavra família. Uma parece ligada ao mundo fora de casa, a outra, ao mundo de dentro. Entretanto, tangenciada cada vez mais para fora de casa, a família tenta sobreviver como pode no mundo do capital e sua estada dentre grandes nomes dos negócios parece merecer um estudo antropológico. A prova disso é o Pavilhão da Agricultura Familiar. Considerando que todos os outros segmentos do Agronegócio são tocados, em sua linha geral, por famílias, como a questão das grandes fazendas, da criação de cavalos crioulos, as plantações de arroz, de soja, dentre outros, o que pode ter de tão diferente nesse tipo de trabalho que mereceu ter o nome “familiar” elevado a título de Pavilhão? Geraldo Hasse, em reportagem no periódico on line Sul21, grafou uma mensagem, no mínimo, assustadora: Expointer 2011 eleva a autoestima da agricultura familiar gaúcha. Pego o título, porque a reportagem em si, reflete o que Hasse viu, não vou debater com seu jornalismo altamente qualificado, tampouco sua opinião que em certos momentos perpassam nas entrelinhas e com a qual me sinto afamiliada.
Reflito sobre o que pensei ao ver o título. Ao desmembrarmos esse título, temos algumas discussões bem graves: o fato de que se existe uma agricultura familiar em destaque, possivelmente existam outras agriculturas que não são familiares; o fato de que a autoestima da agricultura famíliar poderia estar baixa; o fato de que – essa – de 2011, em especial, elevou a autoestima da agricultura familiar.
Pegando a primeira discussão, abordo o que vi, porque não faço parte. São mundos diferentes, dentro do mesmo espaço físico, numa forçação de barra de igualdade que nem de perto existe. As outras agriculturas não são ligadas à vida, considerando o equilíbrio ecológico parte fundamental, ou ao que a família idealizada por alguns de nós se vê, como um ninhozinho de amor envolvendo todos os elementos Planeta Terra. São ligadas ao monocultivo, seja de clássicos, como exemplo, cito o arroz, ou a soja, ou novidades, como o monocultivo de árvores para a celulose.
Essas agriculturas não trabalham para a família, trabalham para o capital. Mesmo as famílias que lidam com isso, longe dos sonhos de manutenção financeira de sua prole, hoje, estão a serviço do capital, são reféns de sua movimentação. É como se a outra agricultura, a dos “pequenos” fosse uma coisa distante, folclórica, quando se compara as duas. Entretanto, essa – de mercado – destrói o ambiente, apossando-se dos recursos naturais que são coletivos e devolvendo à sociedade a natureza violada, sugada, envenenada, desmatada, destruída, enquanto seus produtos, embalados em saquinhos de rótulos maravilhosos são vendidos à própria sociedade por valores que poucos podem pagar. Ao olharmos a pecuária, poderíamos talvez manter um projeto de autosustentabilidade de uma vila inteira por anos, com o valor de apenas um touro, “gordo e lustroso como gato de bolicheiro.” Talvez a das mais graves diferenças entre a família da Agricultura Familiar e a família que vive do grande agronegócio seja a aceitação de todos os passos destrutores do capitalismo. A prova disso é que há anos, o agronegócio vem garantindo, a cada eleição, em todos os níveis, fortunas para políticos profissionais defenderem leis que os protejam nesse abuso. A Agricultura familiar faz campanha para pessoas que representam projetos, o Agronegócio faz campanha para pessoas que obedeçam ao Projeto do Capital. Na minha opinião, é isso.
A segunda discussão é o fato de que a autoestima da agricultura famíliar poderia estar baixa. Circulou em agosto desse ano, um texto de Amilton Fernando Munari, o Amilton das Sementes, de Maquiné, divulgando a participação na EXPOINTER, com o convite para visitá-lo lá. Nas palavras do Amilton não há nada de autoestima baixa, ao contrário. Percebe-se que a ocupação do espaço da EXPOINTER significa uma vitória de uma causa que se sabe grandiosa.
Dizia o texto: “Voltam as sementes a brilhar no Pavilhão da Agricultura Familiar (PAF) na Expointer em Esteio RS, do dia 27 de Agosto a 04 de Setembro,desta vez junto a tempos prometida, polpa de Juçara. Depois do Coletivo da Biodiversidade,com 7 empreendimentos, do qual fiz parte por 6 anos, ter sido cortado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, isto devido a exigência de substituição, me inscrevi novamente junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do qual sou secretário, pela Fetag, foi necessário a Emater fornecer a Declaração de a Aptidão(DAP),mais com meu bloco de notas e alvará sanitário da Agroindústria, assim ocuparei um estande no PAF. Não tinha a pretenção, mas governo e movimentos escolheram a polpa de Juçara o produto destaque em inovação, que será apresentado este ano e a mídia vem aí.”
Essa série de exigências (como a que surgiu nesse ano, de que as agroindústrias terão de atualizar suas máquinas de suco, incluindo outras, que pasteurizam, esterelizam, e outros que tais, cujo custo é uma pequena fortuna) e de subsituições e inovações voltam a confirmar o que se sabe, que a inclusão do termo familiar, muitas vezes é uma forma de exclusão. Contempla a presença, mas não dá condições de atuar. A Associação Içara, da qual Amilton faz parte, ficou apertada num cantinho no Pavilhão, e suas sementes crioulas, que também não poderiam estar presentes, foram foco de maior atenção de todos os produtores familiares e, também de integrantes dos pavilhões dos “ricos”, que vinham sistematicamente à banca procurar a riqueza da biodiversidade. Devido à militância e sua história como Passador de Sementes, Amilton manteve as sementes, em um balcão minúsculo, onde as pessoas faziam fila, se apertavam, perguntavam sobre o plantio e – com muita pena – contavam a ele sobre a perda de diversas espécies, cujas sementes não achavam em lugar nenhum, como a mandioquinha salsa. A quem interessa isso? Eu estive lá, durante três dias fiquei na Banca da Içara, junto com o Amilton e o Ricardo Dalbem, biólogo da Associação, revesando na máquina de Suco, na explicação das sementes e da manutenção da nossa Juçara, a Palmeira que alguns matam para comer o Palmito, e, cujo o fruto tem elementos nutricionais, em muito, superiores ao Açaí da Amazônia. Esse processo todo de resistência da Juçara, por pouco também não está lá, como comenta Amilton em seu texto: “Mesmo não sendo possível a inscrição da Associação Içara da qual sou coordenador, onde seria necessária DAP jurídica, (80% dos sócios comprovarem 80% de renda da agricultura), continua o nome do estande Associação Içara como definimos em reunião e não mais Família Munari como antes, esperando o melhor, que se vejam as possibilidades de atuação dentro do movimento dos agricultores, e consequente visibilidade para projetos futuros.” Consequência de uma escala de produção de pequenos grandes homens e mulheres do litoral, o suco da Juçara levava às pessoas ao delírio.
Todos o achavam delicioso e ficam extremamente chocados ao saber que a Palmeira é morta para se tirar o Palmito, em detrimento de uso dos frutos tão maravilhosos. Segundo Amilton: “A produção está sendo na agroindústria do Isaias em Morro Azul, também nos aplicamos para concretizar o rótulo da Içara, e trabalhar em parceria na Amadecon em Boa União. Em um cenário de frutas, mudas e sementes,o contato com o povo, agricultores, consumidores, será um grande aprendizado.” Ao todo, experimentaram o suco da nossa Juçara gauchinha aproximadamente três mil pessoas. Três mil pessoas que foram tocadas pelo sabor, pela consciência de preservação da Mata Atlântica, pela ação da Associação Içara, de Maquiné. Essa, talvez seja outra diferença entre a Agricultura familiar e as outras. Na Familiar, a idéia é que todos sejam contemplados pela vida, a troca e a solidariedade são constantes. Vai pelo Brasil a mensagem da floresta! Numa passada pela Banca da Associação Içara, o Ministro Afonso Florence confirmou a participação da polpa da Juçara na feira anual em Brasília ¨”Brasil Rural Contemporâneo”.
Isso me joga para o último fato que consigo abarcar nesse texto, o de que – essa – de 2011, em especial, elevou a autoestima da agricultura familiar. Como o Hasse mesmo mencionou em seu texto, essa é “A primeira Expointer do governo Tarso Genro” e ainda “tendo como protagonista central a agricultura familiar”. Para Hasse, o que o levou a crer que a autoestima desse segmento nunca esteve tão elevada, foi que o pavilhão da agricultura familiar foi de longe o mais frequentado da 34ª Exposição-Feira Internacional de Animais e Máquinas. Isso, somado à pressão das organizações familitares presentes, fez com que se decidisse a ampliar a área do segmento familiar em 2012. Para mim, há mais coisas, essa, de ser o Governo do nosso Tarso, essa de vermos Ivar Pavan Como Secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, vermos um Secretário prometendo que o espaço dos produtos orgânicos será maior na próxima feira, ou ainda, estar orgulhoso ao dizer que 86% da totalidade das propriedades rurais do Estado dos estabelecimentos atendidos pela sua secretaria são de base familiar. Políticos de todas as espécies fizeram pose em frente às bancas, políticos do bem e políticos do mal. Os do bem, deixaram saudades e militância, os do mal, deixaram propagandas impressas com seu nome.
Voltando ao antagonismo que vi entre a palavra Agronegócio e a palavra Família e começando a encerrar, cito um dos comentários mais frequentes que ouvi, o sobre o preço dos reprodutores de “puro sangue” de todas as espécies na feira, de galos, touros, cavalos, outros! Parecia que todo mundo estava pasmo. O “estar pasmo” me mostrou que a população está cada vez mais ciente de que isso não tem cabimento, é uma cadeia que libera verba para alguns e aprisiona outros, inclusive os que ainda mantém seus semens, suas sementes. Observei isso em relação aos poucos homens que vi, também muito concorridos na Feira – e lindos – de todas as cores, todas as pilchas, todas as etnias, todas as idades, cada qual com seu sonho no olhar e uma mulher, enquanto centenas de mulheres graçavam sozinhas pelos pavilhões. Sob meu olhar entristecido enquanto espécie, vi estampado o desequilíbrio de gênero, causado pelo estresse, pelos poluentes químicos e tudo mais que influencia na fertilidade e na sexualidade humana. Afinal, quem mais aguenta ser vítima do Capitalismo? O tal do capitalismo que faz “pioramento” de sementes, que faz envenenamento de tudo, que faz pequenos animais monstros, para vender em partes, mais peito, mais pelo, mais carne, mais ovos, mais grades, mais encarceramento para mais produtividade. Quando penso que tal modelo tem trazido fim de espécies, tem trazido endemias, tem trazido evasão rural, miséria, endividamento, suicídios, confilitos por terra e campo, me revolto! Afinal, quem leva vantagem real nesse negócio?
Fim de mais uma EXPOINTER. A vida continua, as lutas continuam. Uns vão para suas mansões em carrões, outros para suas propriedades rurais empilhados em ônibus, outros de trem, para seus ranchos urbanos “apinchados” uns em cima dos outros, outros de carros utilitários, para casas com seus pátios e hortas, enfim, acredito que, como toda Feira, a EXPOINTER deixa esse saldo positivo: o enfrentamento de todos os conceitos, todos os paradigmas que movem o mundo. “Temos de nos mover dentro de uma sociedade capitalista”, disse o Ivar Pavan, citado por Hasse. Eu concordo. Temos de nos mover dentro da sociedade capitalista, fazer a roda dela girar e girar e ir colocando pedrinhas em suas engrenagens, tanto, até quebrá-la.
Como disse, não faço parte do mundo da Agricultura Familiar, nem do Agronegócio. Meu mundo é de todas as lutas no âmbito do Magistério. Conto o que ouvi e vi ao lado do Amilton, do Ricardo, nas filas para tudo, no trem, porque estava lá e, aqui, lendo o SUL21, ainda porque gosto de fazer a informação circular. Portanto, encerro com as palavras de quem é protagonista dessa história, do Amilton das Sementes, de Maquiné, que lembram muito o jeito de sonhar e amar de Paulo Freire: “Viva a organização dos Agricultores Familiares! Basta querer e se comprometer e fará a diferença.” AFM (Mensagem enviada por amiltonsementes@yahoo.com.br em 05/08/2011).
* Ana Carolina Martins da Silva é professora da UERGS, ambientalista e mestre em Comunicação Social
A palavra Agronegócio não parece ter muito a ver com a palavra família. Uma parece ligada ao mundo fora de casa, a outra, ao mundo de dentro. Entretanto, tangenciada cada vez mais para fora de casa, a família tenta sobreviver como pode no mundo do capital e sua estada dentre grandes nomes dos negócios parece merecer um estudo antropológico. A prova disso é o Pavilhão da Agricultura Familiar. Considerando que todos os outros segmentos do Agronegócio são tocados, em sua linha geral, por famílias, como a questão das grandes fazendas, da criação de cavalos crioulos, as plantações de arroz, de soja, dentre outros, o que pode ter de tão diferente nesse tipo de trabalho que mereceu ter o nome “familiar” elevado a título de Pavilhão? Geraldo Hasse, em reportagem no periódico on line Sul21, grafou uma mensagem, no mínimo, assustadora: Expointer 2011 eleva a autoestima da agricultura familiar gaúcha. Pego o título, porque a reportagem em si, reflete o que Hasse viu, não vou debater com seu jornalismo altamente qualificado, tampouco sua opinião que em certos momentos perpassam nas entrelinhas e com a qual me sinto afamiliada.
Reflito sobre o que pensei ao ver o título. Ao desmembrarmos esse título, temos algumas discussões bem graves: o fato de que se existe uma agricultura familiar em destaque, possivelmente existam outras agriculturas que não são familiares; o fato de que a autoestima da agricultura famíliar poderia estar baixa; o fato de que – essa – de 2011, em especial, elevou a autoestima da agricultura familiar.
Pegando a primeira discussão, abordo o que vi, porque não faço parte. São mundos diferentes, dentro do mesmo espaço físico, numa forçação de barra de igualdade que nem de perto existe. As outras agriculturas não são ligadas à vida, considerando o equilíbrio ecológico parte fundamental, ou ao que a família idealizada por alguns de nós se vê, como um ninhozinho de amor envolvendo todos os elementos Planeta Terra. São ligadas ao monocultivo, seja de clássicos, como exemplo, cito o arroz, ou a soja, ou novidades, como o monocultivo de árvores para a celulose.
Essas agriculturas não trabalham para a família, trabalham para o capital. Mesmo as famílias que lidam com isso, longe dos sonhos de manutenção financeira de sua prole, hoje, estão a serviço do capital, são reféns de sua movimentação. É como se a outra agricultura, a dos “pequenos” fosse uma coisa distante, folclórica, quando se compara as duas. Entretanto, essa – de mercado – destrói o ambiente, apossando-se dos recursos naturais que são coletivos e devolvendo à sociedade a natureza violada, sugada, envenenada, desmatada, destruída, enquanto seus produtos, embalados em saquinhos de rótulos maravilhosos são vendidos à própria sociedade por valores que poucos podem pagar. Ao olharmos a pecuária, poderíamos talvez manter um projeto de autosustentabilidade de uma vila inteira por anos, com o valor de apenas um touro, “gordo e lustroso como gato de bolicheiro.” Talvez a das mais graves diferenças entre a família da Agricultura Familiar e a família que vive do grande agronegócio seja a aceitação de todos os passos destrutores do capitalismo. A prova disso é que há anos, o agronegócio vem garantindo, a cada eleição, em todos os níveis, fortunas para políticos profissionais defenderem leis que os protejam nesse abuso. A Agricultura familiar faz campanha para pessoas que representam projetos, o Agronegócio faz campanha para pessoas que obedeçam ao Projeto do Capital. Na minha opinião, é isso.
A segunda discussão é o fato de que a autoestima da agricultura famíliar poderia estar baixa. Circulou em agosto desse ano, um texto de Amilton Fernando Munari, o Amilton das Sementes, de Maquiné, divulgando a participação na EXPOINTER, com o convite para visitá-lo lá. Nas palavras do Amilton não há nada de autoestima baixa, ao contrário. Percebe-se que a ocupação do espaço da EXPOINTER significa uma vitória de uma causa que se sabe grandiosa.
Dizia o texto: “Voltam as sementes a brilhar no Pavilhão da Agricultura Familiar (PAF) na Expointer em Esteio RS, do dia 27 de Agosto a 04 de Setembro,desta vez junto a tempos prometida, polpa de Juçara. Depois do Coletivo da Biodiversidade,com 7 empreendimentos, do qual fiz parte por 6 anos, ter sido cortado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, isto devido a exigência de substituição, me inscrevi novamente junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do qual sou secretário, pela Fetag, foi necessário a Emater fornecer a Declaração de a Aptidão(DAP),mais com meu bloco de notas e alvará sanitário da Agroindústria, assim ocuparei um estande no PAF. Não tinha a pretenção, mas governo e movimentos escolheram a polpa de Juçara o produto destaque em inovação, que será apresentado este ano e a mídia vem aí.”
Essa série de exigências (como a que surgiu nesse ano, de que as agroindústrias terão de atualizar suas máquinas de suco, incluindo outras, que pasteurizam, esterelizam, e outros que tais, cujo custo é uma pequena fortuna) e de subsituições e inovações voltam a confirmar o que se sabe, que a inclusão do termo familiar, muitas vezes é uma forma de exclusão. Contempla a presença, mas não dá condições de atuar. A Associação Içara, da qual Amilton faz parte, ficou apertada num cantinho no Pavilhão, e suas sementes crioulas, que também não poderiam estar presentes, foram foco de maior atenção de todos os produtores familiares e, também de integrantes dos pavilhões dos “ricos”, que vinham sistematicamente à banca procurar a riqueza da biodiversidade. Devido à militância e sua história como Passador de Sementes, Amilton manteve as sementes, em um balcão minúsculo, onde as pessoas faziam fila, se apertavam, perguntavam sobre o plantio e – com muita pena – contavam a ele sobre a perda de diversas espécies, cujas sementes não achavam em lugar nenhum, como a mandioquinha salsa. A quem interessa isso? Eu estive lá, durante três dias fiquei na Banca da Içara, junto com o Amilton e o Ricardo Dalbem, biólogo da Associação, revesando na máquina de Suco, na explicação das sementes e da manutenção da nossa Juçara, a Palmeira que alguns matam para comer o Palmito, e, cujo o fruto tem elementos nutricionais, em muito, superiores ao Açaí da Amazônia. Esse processo todo de resistência da Juçara, por pouco também não está lá, como comenta Amilton em seu texto: “Mesmo não sendo possível a inscrição da Associação Içara da qual sou coordenador, onde seria necessária DAP jurídica, (80% dos sócios comprovarem 80% de renda da agricultura), continua o nome do estande Associação Içara como definimos em reunião e não mais Família Munari como antes, esperando o melhor, que se vejam as possibilidades de atuação dentro do movimento dos agricultores, e consequente visibilidade para projetos futuros.” Consequência de uma escala de produção de pequenos grandes homens e mulheres do litoral, o suco da Juçara levava às pessoas ao delírio.
Todos o achavam delicioso e ficam extremamente chocados ao saber que a Palmeira é morta para se tirar o Palmito, em detrimento de uso dos frutos tão maravilhosos. Segundo Amilton: “A produção está sendo na agroindústria do Isaias em Morro Azul, também nos aplicamos para concretizar o rótulo da Içara, e trabalhar em parceria na Amadecon em Boa União. Em um cenário de frutas, mudas e sementes,o contato com o povo, agricultores, consumidores, será um grande aprendizado.” Ao todo, experimentaram o suco da nossa Juçara gauchinha aproximadamente três mil pessoas. Três mil pessoas que foram tocadas pelo sabor, pela consciência de preservação da Mata Atlântica, pela ação da Associação Içara, de Maquiné. Essa, talvez seja outra diferença entre a Agricultura familiar e as outras. Na Familiar, a idéia é que todos sejam contemplados pela vida, a troca e a solidariedade são constantes. Vai pelo Brasil a mensagem da floresta! Numa passada pela Banca da Associação Içara, o Ministro Afonso Florence confirmou a participação da polpa da Juçara na feira anual em Brasília ¨”Brasil Rural Contemporâneo”.
Isso me joga para o último fato que consigo abarcar nesse texto, o de que – essa – de 2011, em especial, elevou a autoestima da agricultura familiar. Como o Hasse mesmo mencionou em seu texto, essa é “A primeira Expointer do governo Tarso Genro” e ainda “tendo como protagonista central a agricultura familiar”. Para Hasse, o que o levou a crer que a autoestima desse segmento nunca esteve tão elevada, foi que o pavilhão da agricultura familiar foi de longe o mais frequentado da 34ª Exposição-Feira Internacional de Animais e Máquinas. Isso, somado à pressão das organizações familitares presentes, fez com que se decidisse a ampliar a área do segmento familiar em 2012. Para mim, há mais coisas, essa, de ser o Governo do nosso Tarso, essa de vermos Ivar Pavan Como Secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, vermos um Secretário prometendo que o espaço dos produtos orgânicos será maior na próxima feira, ou ainda, estar orgulhoso ao dizer que 86% da totalidade das propriedades rurais do Estado dos estabelecimentos atendidos pela sua secretaria são de base familiar. Políticos de todas as espécies fizeram pose em frente às bancas, políticos do bem e políticos do mal. Os do bem, deixaram saudades e militância, os do mal, deixaram propagandas impressas com seu nome.
Voltando ao antagonismo que vi entre a palavra Agronegócio e a palavra Família e começando a encerrar, cito um dos comentários mais frequentes que ouvi, o sobre o preço dos reprodutores de “puro sangue” de todas as espécies na feira, de galos, touros, cavalos, outros! Parecia que todo mundo estava pasmo. O “estar pasmo” me mostrou que a população está cada vez mais ciente de que isso não tem cabimento, é uma cadeia que libera verba para alguns e aprisiona outros, inclusive os que ainda mantém seus semens, suas sementes. Observei isso em relação aos poucos homens que vi, também muito concorridos na Feira – e lindos – de todas as cores, todas as pilchas, todas as etnias, todas as idades, cada qual com seu sonho no olhar e uma mulher, enquanto centenas de mulheres graçavam sozinhas pelos pavilhões. Sob meu olhar entristecido enquanto espécie, vi estampado o desequilíbrio de gênero, causado pelo estresse, pelos poluentes químicos e tudo mais que influencia na fertilidade e na sexualidade humana. Afinal, quem mais aguenta ser vítima do Capitalismo? O tal do capitalismo que faz “pioramento” de sementes, que faz envenenamento de tudo, que faz pequenos animais monstros, para vender em partes, mais peito, mais pelo, mais carne, mais ovos, mais grades, mais encarceramento para mais produtividade. Quando penso que tal modelo tem trazido fim de espécies, tem trazido endemias, tem trazido evasão rural, miséria, endividamento, suicídios, confilitos por terra e campo, me revolto! Afinal, quem leva vantagem real nesse negócio?
Fim de mais uma EXPOINTER. A vida continua, as lutas continuam. Uns vão para suas mansões em carrões, outros para suas propriedades rurais empilhados em ônibus, outros de trem, para seus ranchos urbanos “apinchados” uns em cima dos outros, outros de carros utilitários, para casas com seus pátios e hortas, enfim, acredito que, como toda Feira, a EXPOINTER deixa esse saldo positivo: o enfrentamento de todos os conceitos, todos os paradigmas que movem o mundo. “Temos de nos mover dentro de uma sociedade capitalista”, disse o Ivar Pavan, citado por Hasse. Eu concordo. Temos de nos mover dentro da sociedade capitalista, fazer a roda dela girar e girar e ir colocando pedrinhas em suas engrenagens, tanto, até quebrá-la.
Como disse, não faço parte do mundo da Agricultura Familiar, nem do Agronegócio. Meu mundo é de todas as lutas no âmbito do Magistério. Conto o que ouvi e vi ao lado do Amilton, do Ricardo, nas filas para tudo, no trem, porque estava lá e, aqui, lendo o SUL21, ainda porque gosto de fazer a informação circular. Portanto, encerro com as palavras de quem é protagonista dessa história, do Amilton das Sementes, de Maquiné, que lembram muito o jeito de sonhar e amar de Paulo Freire: “Viva a organização dos Agricultores Familiares! Basta querer e se comprometer e fará a diferença.” AFM (Mensagem enviada por amiltonsementes@yahoo.com.br em 05/08/2011).
* Ana Carolina Martins da Silva é professora da UERGS, ambientalista e mestre em Comunicação Social
jornalistasinterditados
As relações arcaicas que ainda prevalecem nas redações brasileiras, sobretudo naquelas ancoradas nos oligopólios familiares de mídia, revelam um terrível processo de adaptação às novas tecnologias no qual, embora as empresas usufruam largamente de suas interfaces comerciais, estabeleceu-se um padrão de interdição ideológica dos jornalistas. Isso significa que a adequação de rotinas e produtos da mídia ao que há de mais moderno e inovador no mercado de informática tem, simplesmente, servido para coibir e neutralizar a natureza política da atividade jornalística no Brasil.
Baseados na falsa noção de que o jornalista deve ser isento, as grandes empresas de comunicação criaram normas internas cada vez mais rígidas para impedir a livre manifestação dos jornalistas nas redes sociais e, assim, evitar o vazamento do clima sufocante e autoritário que por muitas vezes permeia o universo trabalhista da mídia. Em suma, a opinião dos jornalistas e, por analogia, sua função crítica social, está sendo interditada.
Recentemente, a ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, opinou que jornalista não deveria ter Twitter pessoal. Usou como argumento o fato de que, ao tuitar algo “ofensivo”, o jornalista corre o risco de, mais para frente, ter que entrevistar o ofendido. A preocupação da ombudsman tem certa legitimidade funcional, mas é um desses absurdos sobre os quais me sinto obrigado a, de vez em quando, me debruçar, nem que seja para garantir o mínimo de dissociação entre a profissão, que tem caráter universal, e os guetos corporativos onde, desde os anos 1980, um sem número de manuais de redação passaram a ditar todo tipo de norma, inclusive comportamental, sobretudo para os repórteres.
Suzana Singer deu um exemplo prosaico, desses com enorme potencial para servir de case em cursinhos de formação de monstrinhos corporativos que pululam nas redações:
“Hoje o jornalista pode estar em um churrasco, com os amigos, e ser ofensivo com os palmeirenses porque eles ganharam o jogo de domingo. E na semana seguinte ele tem que ir entrevistar o presidente do Palmeiras. Ou seja, é uma situação muito desagradável, que poderia ter sido evitada se o repórter tivesse a postura adequada de não misturar as coisas. Não tem como ter dupla personalidade, separar a sua vida pessoal da profissional, assim como não dá para ter duas contas no twitter”.
Bom, primeiro é preciso esclarecer duas coisas, principalmente para os leitores desse blog que não são jornalistas: é possível, sim, separar a vida pessoal da profissional; e, claro, dá para ter duas contas no twitter. Essa história de que jornalista tem que ser jornalista 24 horas é a base do sistema de exploração trabalhista que obriga repórteres, em todo o Brasil, a trabalhar sem hora extra, ser incomodado nas férias e interrompido nos fins de semana, como se fossem cirurgiões de guerra. Também é responsável, na outra ponta, por estimular jornalistas que se tornam escravos de si mesmo, ao ponto de, mesmo em festas de crianças e batizados de bonecas, passarem todo tempo molestando alguma fonte infeliz que calhou de freqüentar o mesmo espaço.
A interdição imposta aos jornalistas pelas empresas de comunicação tem servido, entre outras coisas, para a despolitização das novas gerações de repórteres, instadas a acreditar que são meros repassadores de notícias e tarefeiros de redações. Desse triste amálgama é que surgem esses monstrinhos entusiasmados com teses fascistas, bajuladoras profissionais e bestas-feras arremessados sobre o cotidiano como cães raivosos, com carta branca para fazer, literalmente, qualquer coisa.
Não causa mais estranheza, mas é sempre bom expor o paradoxo dessa posição da ombudsman, que não é só dela, mas do sistema na qual ela está inevitavelmente inserida, desde que o pensamento reacionário e de direita passou a ser bússola fundamental da imprensa brasileira. Digo paradoxo porque o mesmo patronato que confunde, deliberadamente, liberdade de expressão com liberdade de imprensa, para evitar a regulação formal da atividade midiática, é esse que baixa norma sobre norma para impedir seus funcionários de se manifestarem no ambiente de total liberdade das redes sociais, notadamente o Twitter e o Facebook. Não o fazem, contudo, por zelo profissional.
Essa interdição visa, basicamente, evitar que os jornalistas opinem, publicamente, sobre a própria rotina e, assim, exponham as mazelas internas das corporações de mídia. Ou que expressem opiniões contrárias à de seus patrões. Foi assim, por exemplo, no caso da bolinha de papel na cabeça de José Serra, na campanha de 2010. Aquela farsa ridícula foi encampada, sem nenhum respeito ao cidadão consumidor de notícia, por quase toda a imprensa, por imposição editorial. Diversos colegas jornalistas, alguns que sequer conheço, me mandaram mensagens (um me abordou numa livraria de Brasília) implorando para que eu tratasse do assunto nas redes sociais. Todos me informaram que seriam demitidos sumariamente se contestassem, no Twitter e no Facebook, a tese patética do segundo ataque com um rolo de fita crepe. Todos, sem exceção.
A ética do jornalista é a ética do cidadão, dizia um grande jornalista brasileiro, Cláudio Abramo, aliás, responsável pela modernização de O Estado de S.Paulo e da Folha, nos anos 1960 e 1970. Portanto, nada mais natural que tenha o jornalista os mesmos direitos do cidadão, aí incluído o de se expressar. Impedi-lo, sob um argumento funcional, de exercer seu direito de opinião e crítica é, no fim das contas, mais um desses sinais de decadência moral da mídia brasileira. E, claro, retrato fiel do que ela se tornou nos últimos anos.
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Playa del Carmen (Rumba)
Almonte (Fandangos de Huelva)
Dermeval Saviani: a dominação ideológica no nosso tempo
Vídeo com palestra do professor Dermeval Saviani no curso "Singularidades do Capitalismo Contemporâneo"
Dermeval Saviani, professor doutor em filosofia da educação, faz uma profunda abordagem sobre os aspectos principais da dominação ideológica exercida pelo sistema capitalista, identificando seus diversos mecanismos de convencimento, cooptação e manipulação, em palestra ministrada no curso "Singularidades do Capitalismo Contemporâneo" realizado pela Escola Nacional de Formação em 2006
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Do protesto social para a mudança política
Este comunicado do CC do PC Israel analisa o protesto de massas que se tem verificado em Israel: não se trata de “mais um protesto”, mas de um movimento muito amplo em que convergem as camadas mais pobres da sociedade israelense, profundamente desigual e injusta. E o protesto, na apreciação do PCI, vai mais fundo: é anti-capitalista.
Uma forte onda de protesto social tem surgido em Israel. O protesto, que começou com a organização de um acampamento no Rothschild Boulevard, no centro de Tel Aviv, se espalhou pelo país desde Kiryat Shmona, no norte, até Eliat, no sul. O protesto tem sido participado por grandes e diversificados públicos – a classe média em erosão, trabalhadores com média e baixa rendas, moradores de bairros pobres, mães, estudantes – que, na maioria, trabalham para suas sobrevivências. Os líderes dos protestos são jovens, empregados e educados. Começando como um protesto contra o aumento das rendas, em uma semana se tornou um protesto contra as condições de vida sustentadas pelas políticas do governo neoliberal.
É importante entender que não se trata de “mais um protesto” ou “outra manifestação” com uma forma já conhecida em Israel, mas de um desenvolvimento político importante que requer uma análise profunda e uma rejeição do pensamento convencional.
1. Na essência, o novo movimento de protesto social é anti-capitalista: representa uma resistência às políticas dominantes do neoliberalismo de privatização e desmantelamento dos acordos de bem-estar; representa um apoio aos valores socialistas e uma crença na responsabilidade do estado para com os seus;
2. É nosso papel, no contexto do movimento de protesto, continuar a esclarecer e trazer à tona a natureza ideológica da luta básica – uma luta entre dois caminhos diferentes: um estado que é responsável por todos os seus cidadãos e residentes versus um estado que os abandona às forças do mercado e dos magnatas.
Ao mesmo tempo, devemos elucidar a natureza política da luta – e convencer o público de que Netanyahu prefere os interesses dos magnatas e das oligarquias às necessidades do grande público; ele prefere ocupações e assentamentos à vida diária da sociedade Israelense – e que qualquer mudança real requer a derrota do governo de Netanyahu.
1. O protesto anti-capitalista enfraquece, mas não erradica, as perspectivas nacionalistas e as polaridades políticas em torno da questão da ocupação em andamento dos territórios Palestinos e do acordo de paz;
2. É nosso papel, no contexto do protesto, continuar explicando, paciente e sensivelmente, a conexão entre essas duas questões. Nós temos que relembrar aos nossos ouvintes do alto custo económico e social das políticas de ocupação e assentamentos. Uma paz justa facilitará uma mudança de prioridades e mais investimento em moradias, educação, saúde e bem-estar.
Devemos continuar falando contra as tentativas do governo de erradicar os protestos através de meios que levem a outro conflito militar ou, até mesmo, guerra.
Devemos continuar falando contra as tentativas do governo de “dividir e conquistar” enquanto se aprofunda a discriminação nacionalista contra a população Árabe de Israel. O verdadeiro teste do protesto será sua habilidade de manter solidariedade e ampla unidade frente a todos que foram prejudicados pelas políticas dominantes.
1. A luta pela mudança social em Israel pode obter sucesso somente com uma luta conjunta entre Judeus e Árabes. A adopção de um modo Judaico-Árabe de acção é um teste importante para a maturidade do movimento de protesto. A organização de acampamentos de protesto nas comunidades Árabes e nas cidades, liderada por membros do PC de Israel, é um desenvolvimento importante guiado para consolidar o carácter do protesto Judaico-Árabe.
Até agora, o protesto não assumiu o carácter de uma manifestação de massa entre o público Árabe. Os mecanismos de divisão nacional que existem em Israel criam uma sensação de distância do protesto existente dentre os segmentos do público Árabe.
A população Árabe deve ter um lugar importante nesse protesto. A participação da população Árabe no protesto é importante porque seu público sofre muito mais com a falta de moradia e serviços sociais e com a pobreza dobrada, ou quadruplicada, como resultado das políticas discriminatórias de todos os governos Israelenses contra a minoria nacional. A direita tenta empurrar os cidadãos Árabes para fora do campo da actividade social e política em Israel.
1. O protesto social está se espalhando junto com as importantes lutas dos trabalhadores. Os médicos estão liderando uma luta prolongada não somente em relação às suas condições de trabalho, mas também pelo futuro do sistema público de saúde. Os professores universitários estão lutando por empregos justos. Os trabalhadores químicos de Haifa estão conduzindo uma prolongada greve e os trabalhadores das indústrias alimentícias do norte estão lutando contra demissões. De qualquer maneira, até agora os trabalhadores organizados em sindicatos não se juntaram ao protesto com força total. O líder da Federação Histadrut de Trabalhadores, Ofer Eini, está tentando diluir o protesto focando em alguns “itens de compra”, isto é, progressos limitados e localizados;
2. Na essência, o movimento de protesto social é uma progressiva manifestação de força não somente contra o actual modelo de capitalismo neoliberal, mas, também, contra as correntes fascistas que ameaçam o espaço democrático de Israel. O movimento de protesto é prova clara de que a sociedade Israelense também mantém uma quantidade não desprezível de forças saudáveis, as quais podem produzir mudanças progressivas. Essa é uma resposta formidável e convincente para os sentimentos de desespero que, nos anos recentes, tem caracterizado certos grupos na esquerda e na população Árabe.
O PCI nunca compartilhou a sensação de desespero do público Israelense e da sociedade Israelense. Nossa análise Marxista sempre nos permitiu expor a natureza dialéctica da realidade, com suas contradições inerentes e as possibilidades de mudança, que essas contradições produzem continuamente. No 25° Congresso do partido (2007), nós reiteramos nossa análise da estrutura básica da sociedade de classes Israelense. Argumentamos, incisivamente, contra todas as abordagens que subestimam o poder e a importância das contradições internas da sociedade Israelense e a condição que essas contradições têm de criar uma estrutura real de mudança.
1. Nos últimos anos o PCI tem conduzido, sistematicamente, uma forma de “políticas de massa”, dentro do público Judeu também. “Política de massa” consiste em um ponto de virada para o público com slogans que tem o poder de mobilizar. Ao mesmo tempo, continuamente constrói parcerias na luta, tais como a campanha municipal de Tel Aviv por “Uma cidade para todos”, as acções do Primeiro de Maio, as generalizadas manifestações democráticas contra os perigos fascistas, assim como nossa actividade relacionada ao estabelecimento de um estado Palestino, acabando com as ocupações e alcançando uma paz justa. “Política de massa” não significa um abandono do nosso caminho ou nossos princípios. Subjacente, essa política é a compreensão de que determinar os princípios é somente o começo da acção política e não sua nota final: que os princípios não têm força se não forem traduzidos em bandeiras que o público possa entender. Ser uma vanguarda progressista, de acordo com a formação leninista, é, de fato, caminhar antes das massas, mas numa distância que o público possa acompanhar a liderança.
2. As “políticas de massa” do PCI contribuíram, e ainda contribuem muito no desenvolvimento de uma luta progressista em Israel. De qualquer maneira, será um erro grave achar que essa luta nos fortalecerá politicamente. A história está repleta de exemplos de protesto social que não traduziram a verdadeira mudança.
A mudança acontece, somente, quando o protesto social é traduzido para a acção política e dirigido para o poder político. Para que isso aconteça em Israel, um amplo movimento socialista deve surgir do protesto social e se consolidar – um movimento que irá incluir do nosso lado, inclusive, outros grupos, organizações, movimentos da juventude e organizações sociais. Tal movimento deve integrar valores socialistas, luta democrática e deve ter um carácter Árabe-Judeu. Também deve ser baseado na apreciação da conexão entre a ocupação e os problemas da sociedade.
1. Estamos diante de um desafio urgente, nesse contexto, porque as eleições para a Federação Histadrut de Trabalhadores se aproximam. Na iminência dessas eleições, trabalharemos por uma ampla cooperação Judaico-Árabe e socialista, com o Hadash no centro e apresentando um candidato para liderar o Histadrut – como uma alternativa de esquerda à política de colaboração com o regime político e com o capital, que é o que líder do Histadrut tem feito.
2. Uma profunda análise da luta social e das oportunidades que ela nos abre para mudar a sociedade Israelense vai ficar no centro da nossa preparação para o 26° Congresso do PCI, que ocorrerá no final do ano.
Paralelamente, disponibilizaremos nossas mensagens de consciência de classe na imprensa do partido, no nosso trabalho político no Knesset, nos conselhos locais, no Histadrut (Federação de Trabalhadores em Israel), federação Na’amat de mulheres, sindicatos de professores, conselhos de trabalhadores e na nossa actividade entre as mulheres, os estudantes e a juventude.
O Comité Central do PCI saúda os membros do partido que estão activos no movimento de protesto social.
O Comité Central do PCI chama todas as organizações partidárias e Juventudes Comunistas, e nossos parceiros no Hadash, para continuar a organização de acampamentos nas comunidades e na vizinhança e para consolidar planos práticos de trabalho em cada respectiva área de actividade, no espírito dessas decisões.
Traduzido por Mariângela Marques.
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Para Kasparov, Putin cairá pelas mãos das redes sociais na Rússia
Igor Natusch no Sul21
Garry Kasparov é um nome lendário do xadrez. Ex-campeão mundial, considerado por muitos o maior enxadrista que já existiu, Kasparov veio a Porto Alegre, dentro do ciclo de palestas Fronteiras do Pensamento, para exercitar uma outra faceta de sua personalidade: o ativismo político. Notório opositor de nomes como Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, Garry Kasparov é membro fundador do Partido Democrático da Rússia e aproveitou a visita ao Brasil para discutir os desafios globais do século XXI, dentro de uma ótica que toma a situação russa como exemplo maior.
No começo da coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (5), Garry Kasparov explicou que sua palestra inicialmente trataria das dificuldades que a democracia e os direitos humanos enfrentam na Rússia. Depois de conversar com algumas pessoas de Porto Alegre, o conferencista resolveu incluir tópicos sobre o livro “The Blueprint”, ainda sem título em português, que discute o espaço para pensamentos inovadores no mundo atual. “Acaba sendo uma boa combinação de temas, já que regimes não democráticos acabam alcançando a excelência na imitação, abolindo completamente a criatividade. As palavras ‘Rússia’ e ‘inovação’, por exemplo, não combinam”, afirmou Kasparov.
“Não apareço na TV russa há 5 anos”
O enxadrista russo chegou a se candidatar à presidência do país em 2007. Foi forçado a abandonar a campanha, por não conseguir atender algumas das muitas exigências do sistema eleitoral russo. “O Kremlin decide tudo. Quais partidos podem concorrer, os espaços na mídia, cuida até mesmo da contagem de votos. O processo eleitoral em Moscou, por exemplo, parece mais com o do Zimbábue do que com países de democracia consolidada”, lamentou. Kasparov acentua os resultados das chapas governistas em algumas regiões do cáucaso, que mostram números capazes de “causar inveja” em Muammar Kadafi e Saddam Hussein. “Alcançam mais de 100% dos votos”, ironizou.
Na visão de Garry Kasparov, a Rússia está tomada por uma oligarquia da pior espécie. “Afirmações simples, como ‘eleição’, ‘campanha eleitoral’ ou ‘presidente Medvedev’ são enganosas, não refletem a nossa triste realidade”, atacou. “Não apareço na TV russa há 5 anos ou mais, apenas em pequenas matérias sobre xadrez. Como figura política, simplesmente não existo, já que o Estado controla os meios de comunicação de massa.” De acordo com o enxadrista, Putin não tem nenhum compromisso com a democracia e não abandonará o poder pela via eleitoral. “Não temos que perguntar o que será depois de Vladimir Putin, e sim qual o preço que estamos pagando com sua permanência.”
A internet, de acordo com Kasparov, é o único espaço onde a contestação política ao regime é possível. Ainda que sem o mesmo papel decisivo em países árabes como o Egito, as redes sociais auxiliam na mobilização de setores contrários ao governo. “Nossos protestos sempre foram pacíficos, nunca queimamos carros e nem mesmo quebramos janelas. A resistência pacífica está no espírito da oposição contra Putin. A violência vem sempre do estado”, garantiu. “Os números crescem de forma mais lenta do que gostaríamos, mas ainda assim estão a nosso favor. Putin cairá pelas mãos das redes sociais. Elas são a grande maldição dos tiranos modernos.”
Fundação usa xadrez como modo de aprendizado
Mesmo que a palestra fique restrita ao aspecto político das atividades de Garry Kasparov, o russo não deixou de comentar sobre xadrez – mais especificamente, sobre os planos de expansão da Fundação Kasparov de Xadrez. O objetivo do projeto é ensinar professores a ministrar xadrez, como forma de estabelecer uma ligação sobre o modelo tradicional de ensino e as tecnologias digitais. Os planos incluem a instalação de sedes em Buenos Aires e São Paulo. “Foi uma agradável surpresa ver como as ideias que defendo sobre educação recebem acolhida calorosa no Brasil”, afirmou Kasparov.
A agenda do enxadrista no país envolveu uma visita a Brasília, para reunião com os ministros Aloízio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Fernando Haddad (Educação), Paulo Bernardo (Comunicações) e Orlando Silva (Esporte). Além disso, Kasparov reuniu-se também com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Na manhã de segunda, Kasparov encontrou-se com o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati – reunião que garantiu ter sido muito positiva. “Nossa ideia é, a partir de São Paulo, espalhar o nosso trabalho pelo país todo”, disse Kasparov, que agora busca patrocínios junto à iniciativa privada para financiar o projeto.
De qualquer modo, a terça-feira será dedicada ao xadrez em sua forma mais pura. O ex-campeão mundial enfrentará 20 pessoas simultaneamente, em uma maratona enxadrística no Chalé da Praça XV, em Porto Alegre. Entre os desafiantes, gente como o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, e integrantes do Metrópole Xadrez Clube.
O ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento terá, nos próximos meses, a presença de nomes como o escritor Orhan Pamuk, o ativista político Lech Walesa e o escritor suíço Alain de Botton. Pela primeira vez, as palestras estão sendo realizadas também em São Paulo.
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