segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pós modernidade”, moda cultural do neoliberalismo




Enraizado no passado do pensamento burguês, o pós-modernismo emergiu em contraposição ao marxismo e prega a fragmentação e o “vale-tudo” cultural, o apoliticismo, a rejeição ao conhecimento científico e a ideia de que a sociedade (e a história) não podem ser mudadas pela ação coletiva dos homens.


Por José Carlos Ruy (*) no PORTAL VERMELHO


A “pós-modernidade” é um tema que emergiu especialmente após a década de 1970, embora suas teses fossem anteriores. Sua emergência (nos anos 70) refletiu as mudanças que ocorriam no sistema capitalista. O termo “pós-moderno” acaba trazendo alguma confusão para os desatentos. Há um sentido explícito de superação da modernidade. Ele não representa propriamente uma novidade no campo do pensamento, mas a acentuação de tendências mais antigas e permanentes no pensamento burguês.

Muitas das ideias que surgem como “novidade” estão enraizadas nesse pensamento burguês que vem desde o século 19, com uma ênfase no indivíduo e no conflito (ou contradição) entre este e a sociedade, ideia que se fortaleceu desde Kant (pensador alemão do século 18).

A pós-modernidade enfatiza e superestima o papel individual sobre o social e apregoa isso com um sentido retrógrado, especialmente após a queda do Muro de Berlim e a extinção do socialismo nos países do Leste europeu, quando se proclamou o “fim da história” e a vitória final do capitalismo sobre o socialismo.

O pós-modernismo, como um modismo cultural, é paralelo à hegemonia do neoliberalismo e corresponde a ela. Sua emergência está fortemente vinculada às mudanças ocorridas nos países de capitalismo desenvolvido (na Europa e nos EUA, particularmente) a partir da década de 1960.

Uma derrota para os trabalhadores

O arranjo político estabelecido depois da II Guerra Mundial, que fundamentou o estado do bem-estar social, trouxe para o núcleo do aparelho estatal correntes ligadas ao movimento operário. Partidos socialistas e comunistas e a estrutura sindical passaram a fazer parte do bloco governante, com impacto na própria política defendida por aqueles partidos e organizações.

Quando o capitalismo começou a dar os primeiros sinais da crise de que ainda sofre hoje, mais de meio século depois, o movimento operário representado por aquelas organizações sindicais e políticas não conseguiu formular uma proposta avançada para ela. Refém de políticas reformistas, foram incapazes de assumir papel dirigente quando a resistência operária e popular eclodiu sob forma insurrecional, nos famosos movimentos de 1968. E em países como Itália e França juntaram-se aos governos contra aqueles movimentos.

Neste sentido, a efervescente atividade operária na Europa e nos EUA na década de 1960, decaiu do status de revolução social, de luta de classes, para uma mera transformação cultural. Dava ênfase a aspectos superestruturais (liberação feminina, luta contra o racismo, pela afirmação da juventude etc.) e na resistência contra a guerra do Vietnã.

Isto é, incapaz de formular uma saída proletária para a crise do capitalismo, as organizações políticas e sociais ligadas aos trabalhadores entraram num processo de degenerescência política e eleitoral cuja culminância seria, poucas décadas depois, na crise organizativa vivida a partir dos anos 80.

Aqueles acontecimentos têm uma qualificação: representaram uma derrota para os trabalhadores, para a luta do proletariado e para o avanço para o socialismo. Eles prepararam o caldo de cultura político que, já no final da década de 1970, levou à hegemonia neoliberal com a ascensão de Margareth Thatcher (em 1979) como primeira ministra britânica, a eleição de Ronald Reagan para a presidência dos EUA (em 1980), e à virada privatizante do governo de François Mitterrand (eleito em 1981) na França.

O alto ritmo de crescimento das economias capitalistas, que vinha desde o final da II Guerra Mundial, começou a desacelerar desde o final da década de 1950. Os trabalhadores resistiam também às rotinas alienantes e repetitivas do trabalho nas empresas capitalistas e, ao mesmo tempo, exigiam salários mais altos e condições de trabalho mais adequadas. A saída conservadora para aquela crise deu à burguesia os instrumentos políticos que lhe permitiram dobrar a resistência operária e impor perdas sociais, salariais, e organizativas para os trabalhadores.

Financeirização

Em sua busca para potencializar os lucros, as empresas capitalistas adotaram várias estratégias para derrotar os trabalhadores. Uma delas foi a migração das instalações industriais para locais onde os salários fossem mais baixos e a organização dos operários mais frágil.

Nos EUA, por exemplo, as empresas iniciaram uma migração dos tradicionais centros operários do nordeste do país (como Michigan, Pensilvânia, Nova York) para estados do sul; ultrapassar a fronteira foi um passo, em busca da mão de obra barata na América Latina, transbordando depois para nações mais distantes na Ásia, como a Indonésia ou, na década de 1980, a China.

Na Europa a ânsia por mão de obra barata moveu a produção capitalista rumo ao leste, principalmente depois das mudanças radicais vividas pelas antigas democracias populares do bloco soviético, e também à atração de fortes correntes de migrantes vindos de países latino-americanos, asiáticos e africanos, que vendiam a preços aviltados sua força de trabalho nos países ricos europeus.

Neste período a acumulação capitalista mudou de rumo; a produção fabril, nos países ricos, deixou de ser seu eixo principal, substituída preferencialmente por investimentos financeiros cada vez maiores e mais sofisticados. A produção industrial começou a declinar, o número de trabalhadores ligados à produção encolheu, e houve um acentuado crescimento no setor de serviços. O trabalhador típico deixou de ser aquele que antes manipulava peças de automóveis e seu lugar foi ocupado crescentemente por trabalhadores precarizados.

A ética “produtivista” anterior, que legitimava o lucro obtido na produção e preconizava a vida austera e a economia para o futuro, foi crescentemente substituída por uma lógica de jogo, de cassino, guiada pela lógica do “destino”, do “azar”, sob a qual o que vale é viver o presente (carpe diem, como dizia um filme que fez época, “Sociedade dos Poetas Mortos”).

As mudanças no pensamento acompanham e correspondem a essas transformações ocorridas na sociedade. A França foi um dos lugares pioneiros da formulação do que se convencionou chamar de pós-modernismo. Lá, no pós-guerra, o prestígio do comunismo e da União Soviética foi a base para a presença marcante do marxismo entre os intelectuais e artistas, fomentando um debate cujos desdobramentos ocorreram de forma paralela às mudanças na produção, e na própria luta de classes, que se aprofundou principalmente depois do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956. O choque das denúncias feitas pelo dirigente soviético Nikita Kruschev provocou, inicialmente, uma divisão no movimento comunista, opondo os marxistas que se pode chamar de “ortodoxos” àqueles que manifestavam seu desencanto através da busca de um marxismo “humanista”, sem compromissos claros com a mudança social e a luta de classes, e fortemente crítico em relação à ortodoxia soviética.

Anti-marxismo

O passo seguinte foi o crescente abandono do marxismo por inúmeros intelectuais e a passagem para formas de pensamento que, ainda reivindicando algum precário compromisso libertário (Michael Foucault é um exemplo veemente), que rompiam com a compreensão da história como um processo que pode ser conhecido e no qual se pode intervir, e com o próprio conhecimento científico. Saltavam para o primeiro plano, desta forma, linhas teóricas que defendiam uma história sem processo e enfatizavam o discurso, desprezando a correlação entre o pensamento conceitual, o mundo material e objetivo, e a ação prática concreta dos homens.

Estava aberta a porta, assim, para a hegemonia do “pós-modernismo”, uma forma de pensamento que rompeu com o materialismo e com qualquer compromisso com a compreensão do mundo real e com programas coletivos de intervenção no curso dos acontecimentos. E que corresponde à “lógica de jogo” que passou a predominar, na qual não se pode ter certeza de nada a não ser do efêmero presente – e também que, como nos jogos de azar, há poucos vencedores e muitos perdedores que, por partilhar a lógica do azar, “não podem reclamar” do destino, nem interferir nele.

"Atitude intelectual genérica"

Outra consequência foi a inauguração de um relativismo radical na consideração de todas as atividades culturais, sociais, humanas; esta é a raiz dio “multiculturalismo” que acompanha esta maneira de pensar e que valoriza de forma equívoca a relevância das múltiplas contribuições culturais dos variados grupamentos humanos. Enfim, esta é a faceta do “vale-tudo” pós-modernista, em cuja esteira estão: a desvalorização de movimentos políticos organizados, da ação coletiva e dos partidos, a atomização da ação social em movimentos fragmentários, a valorização do efêmero e do instantâneo, a recusa à pesquisa e compreensão da mudança e do avanço. Dentro do vale tudo pós-modernista, tudo é igual, tudo permanece, tudo é valorizado pelo que “parece ser” e não pelo que “é”.

A dificuldade em se definir o que seja pós-modernismo decorre disto. É um rótulo que designa inúmeras e muitas vezes contraditórias correntes artísticas e intelectuais, que o historiador espanhol Julio Ariostégui definiu, em minha opinião com uma precisão paradoxal, com a expressão “atitude intelectual genérica”.

Um dos marcos fundamentais na formulação do pós-modernismo foi a publicação na França, em 1979, do livro La condition postmoderne, de Jean-Francois Lyortard (traduzido no Brasil com o título O pós-moderno, em 1985), obra que se transformou numa espécie de catecismo inicial desta forma de pensar. Ali está o rompimento com o marxismo e com a tradição iluminista, a pretexto dos desastres que a “razão instrumental” teria provocado. Em outro lugar, Lyotard cita os assassinatos em escala industrial ocorridos no campo de concentração nazista de Auschwitz como exemplo da degeneração da “razão”. Ali está também o “giro linguístico” que punha a ênfase no discurso.


Tudo passava a ser considerado dentro do campo do discurso, sendo o mundo encarado como um conjunto de fenômenos linguísticos. O critério de verdade deixa de ser a correspondência entre o enunciado e o mundo real e objetivo ao qual ele se refere, substituído apenas pela coerência interna do enunciado. Neste sentido, toda e qualquer questão filosófica passa a ser tratada apenas como um problema de linguagem. Ao contrário do processo de conhecimento que busca uma aproximação do Real, houve um deslocamento discursivo do Real. A partir daí, nem mesmo o conhecimento científico é mais importante e há uma recusa a ele (há mesmo uma denúncia do conhecimento científico, como “técnica” ou “razão instrumental”) que fundamenta o desprezo a qualquer possibilidade de explicação objetiva do mundo. E se fortaleceu a ideia relativística de que tudo é válido e todas as explicações verbais (discursivas) seriam legítimas.

O que é "modernidade"?

Termino com uma reflexão e uma pergunta: o que é a modernidade? Para os comunistas e os marxistas, a questão pode estar mal colocada e a “modernidade” se contrapõe ao problema da revolução. A ideia de modernidade define a modernização capitalista do mundo, que se manifestou nos séculos passados na luta contra o passado feudal, e antigo, que precisava ser superado. E a “modernidade” continua descrevendo, na época do declínio do capitalismo e da necessidade da abertura da transição para o socialismo, a modernização capitalista. Neste sentido, ela não traz nada de fundamentalmente novo, pois o moderno, numa compreensão mais profunda e contemporânea, significa rompimento com o capitalismo e alteração não da aparência das relações sociais (com seus modismos consumistas e tecnológicos), mas da essência destas relações, transitando para formas de sociabilidade baseadas na busca do atendimento das necessidades humanas prementes, e não do lucro. Assim, “modernidade” não significa ruptura dentro do sistema capitalista, mas apenas acomodações teóricas sempre com a finalidade de perpetuá-lo e a seu status quo.


(*) Este texto é um resumo de minha apresentação ao debate “Pós-modernidade, Cultura e Educação: tensões e contradições”, realizado pelo Coletivo de Cultura do Comitê Distrital do PCdoB de São Paulo (SP), em 6/9/2011. Agradeço à Mazé Leite por ter anotado minha fala e organizado este texto, que revisei para esta publicação e portanto assumo a responsabilidade pelos erros que possam existir nele.

domingo, 18 de setembro de 2011

EUA prometem barrar Estado palestino. Europa está dividida



No próximo dia 23 de setembro, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, pedirá na ONU o reconhecimento da Palestino como Estado de pleno direito. Aliados incondicionais de Israel, os EUA, que nada fizeram desde que Obama chegou ao poder para desbloquear o processo de paz, manifestaram-se rapidamente para julgar "contraproducente" a iniciativa de Abbas enquanto que a União Europeia está dividida. O artigo é de Eduardo Febbro.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, acendeu um pavio que fez voar em pedaços a máscara das potências ocidentais. Abbas anunciou que no próximo dia 23 de setembro pedirá ante o Conselho de Segurança da ONU o reconhecimento da Palestina como Estado de pleno direito. 

Aliados incondicionais de Israel, os Estados Unidos, que nada fizeram desde que Obama chegou ao poder para desbloquear o processo de paz, manifestaram-se rapidamente para julgar « contraproducente » a iniciativa de Abbas enquanto que a União Europeia, por meio da chefe da diplomacia europeia, a escandalosa e inoperante Catherine Ashton, defendeu uma « solução construtiva » que conduza à retomada das negociações entre Israel e Palestina.

A fórmula da comissária europeia é de um cinismo calamitoso: ao cabo de 18 anos de negociações o processo não conduziu a nenhum acordo tangível. Os europeus, lúcidos na hora de falar, mas imobilistas na hora de agir, não conseguiram influir em nenhuma das administrações israelenses enquanto Washington foi incapaz de obter de Israel a mais mínima concessão capaz de fazer o processo avançar.

A proclamação de um Estado palestina pretende por fim ao infrutífero regime de negociação instaurados pelos acordos de Oslo. Por outro lado, o movimento de Mahmud Abbas não tem saída já que os EUA adiantaram que exercerão seu poder de veto no Conselho de Segurança. A Palestina não se converterá então no Estado número 194 das Nações Unidas. O máximo que pode conseguir é um estatuto semelhante ao do Vaticano. 

Contudo, a decisão do presidente da Autoridade Plaestina é tanto mais emblemática na medida em que ela ocorre no momento em que os países árabes passam por um intenso processo revolucionário. Resulta incongruente para Estados Unidos e União Europeia opor-se a um Estado palestino, ou seja, seguir apoiando Israel incondicionalmente, ao mesmo tempo em que, ainda que tardiamente, apoiraram a primavera árabe. O cinismo sempre se faz evidente quando chega o momento de tomar uma posição.

Mahmud Abbas ignorou as insistentes recomendações dos emissários norteamericanos, da União Europeia e do inócuo Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Russia, União Europeia e ONU). Ainda que os diálogos tenham fracassado, o Velho Continente insiste em dizer que a União Europeia vai « redobrar » seus esforços para « retomar as negociações entre as partes o mais rápido possível ». Segundo disse a senhora Ashton, « esse é o único meio de por fim ao conflito ». 

Assim como ocorre com outras grandes temas cruciais da política internacional, os países da União Europeia estão profundamente divididos sobre a questão. Itália, República Tcheca, Holanda e Polônia se mostram hostis à criação de um Estado palestino reconhecido pela ONU. Ainda que em menor medida, a Alemanha não simpatiza com a ideia. O resto dos países da UE tem uma tendência favorável, mas sabem que a iniciativa palestina pode causar divisões na unidade do grupo. Paris afirmou que « assumirá suas responsabilidades » e precisou que a posição francesa está « guiada pela tripla preocupação de preservar a perspectiva de uma reativação do processo de negociação, evitar a confrontação diplomática e manter a unidade europeia ». As três aspirações simultâneas parecem hoje inalcançáveis.

O portavoz do Departamento de Estado norteamericano, Mark Toner, considerou que a proclamação de um Estado palestino não conduzirá à meta desejada, ou seja, a existência de « dois Estados convivendo em paz e segurança ». Washington e os europeus clamam por um acordo de paz « completo », mas esta perspectiva foi se evaporando com a ampliação da colonização israelense na Cisjordânia. 

A posição de Mahmud Abbas tampouco é confortável. Desde maio passado não consegue formar um governo de unidade nacional, seu mandato já expirou, e o território palestino de Gaza permanece mais dividido do que nunca através de suas respectivas administrações, os fundamentalistas do Hamas e a OLP. Quando anunciou que falaria na ONU no próximo dia 23, Abbas manteve intactas as reivindicações históricas da OLP : um Estado palestino dentro das fronteiras do armistício de 1948, um Estado com Jeruslaém Oriental como capital, o retorno dos refugiados e a plena soberania. 
A atuação da administração Obama na crise palestina tem sido um fracasso total. Obama suscitou enormes esperanças quando foi eleito e, há pouco mais de dois anos, em um discurso pronunciado no Cairo (junho de 2009), realimentou-as quando disse : « A situação dos palestinos é intolerável ». Mas, até agora, não foi capaz sequer de impedir que Israel siga construindo colônias na Cisjordânia.

Tradução: Katarina Peixoto

O fim da ética da IstoÉ, a revista que vende reportagens por quilo


Da Direção Nacional do MST


A revista IstoÉ publica na capa da edição desta semana um boné do MST bem velho e surrado, sob terras forradas de pedregulhos.
Decreta na capa “O fim do MST”, que teria perdido a base de trabalhadores rurais e apoio da sociedade.Premissa errada, abordagem errada e conclusões erradas.A mentiraA IstoÉ informa a seus leitores que há 3.579 famílias acampadas no Brasil, das quais somente 1.204 seriam do MST.A revista mente ou equivoca-se fragorosamente. E a partir disso dá uma capa de revista.Segundo a revista, o número de acampamentos do MST caiu nos últimos 10 anos. E teria chegado a apenas 1.204 famílias acampadas, em nove acampamentos em todo o país.Temos atualmente mais de 60 mil famílias acampadas em 24 estados.Levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aponta que há 156 mil famílias acampadas no país, somando todos os movimentos que lutam pela democratização da terra.A revista tentou dar um tom de credibilidade com as visitas a uma região do Rio Grande do Sul, onde nasceu o Movimento, e ao Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Se contassem apenas os acampados nessas duas regiões, chegariam a um número bem maior do que divulgou.A reportagem poderia também ter ido à Bahia, por exemplo, onde há mais de 20 mil famílias acampadas que organizamos.O repórter teve oportunidade de receber esses esclarecimentos e até a lista de acampamentos pelo país.Mas não quis ou não fez questão, porque se negou a mandar as perguntas por e-mail para o nosso setor de comunicação.Outra forma seria perguntar para o Incra ou pesquisar no cadastro do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Tampouco isso a IstoÉ fez.Se foi um erro, além de incompetente, a direção da IstoÉ é irresponsável ao amplificá-lo na capa da revista.Se não foi um erro, há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia, como escreveu William Shakespeare.O desvioA IstoÉ se notabilizou nos últimos tempos nos meios jornalísticos como uma revista venal. A revista é do tipo “pagou, levou”. Tanto é que tem o apelido de "QuantoÉ".Governos, empresas, partidos, entidades de classe, igrejas (vejam a capa da semana anterior) compram matérias e capas da revista. E pagam por quilo, pelo “peso” da matéria.A matéria da IstoÉ não é fruto de um trabalho jornalístico, mas de interesses de setores que são contra os movimentos sociais e a Reforma Agrária.Não é de se impressionar uma vez que a revista abandonou qualquer compromisso com jornalismo sério com credibilidade, virando um “ativo” para especuladores.Nelson Tanure e Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, banqueiro marcado por casos de corrupção, disputaram a compra da revista em 2007.Com o que esses tipos têm compromisso? Com o dinheiro deles.Reação do latifúndioA matéria é uma reação à nossa jornada de lutas de agosto.Foram mobilizados mais de 50 mil trabalhadores rurais, em 20 estados.Um acampamento em Brasília, com 4 mil trabalhadores rurais, fez mobilizações durante uma semana e ocupou o Ministério da Fazenda para cobrar medidas para avançar a Reforma Agrária.A jornada foi vitoriosa e demonstrou a representatividade social e a solidez das nossas reivindicações na luta pela Reforma Agrária.O governo dobrou o orçamento para a desapropriação de terras para assentar 20 mil famílias até o final do ano, liberou o orçamento para cursos para trabalhadores Sem Terra, anunciou a criação de um programa de alfabetização e a criação de um programa de agroindústrias.Interesses foram contrariados e se articularam para atacar o nosso Movimento e a Reforma Agrária. Para isso, usam a imprensa venal para alcançar seus objetivos.Os resultados da jornada e a reação do latifúndio do agronegócio, por meio de uma revista, apenas confirmam que o MST é forte e representa uma resistência à transformação do Brasil numa plataforma transnacional de produção de matéria-prima para exportação e à contaminação das lavouras brasileiras pela utilização excessiva de agrotóxicos.
A luta vai continuar até a realização da Reforma Agrária e a consolidação de um novo modelo agrícola, baseado em pequenas e médias propriedades, no desenvolvimento do meio rural, na produção de alimentos para o povo brasileiro sem agrotóxicos por meio da agroecologia.

Wes Montgomery - The Incredible Jazz Guitar of - 1960



wesmontgomeryincredible.jpg (400×396)
  1. "Airegin" (Sonny Rollins) – 4:26
  2. "D-Natural Blues" (Wes Montgomery) – 5:23
  3. "Polka Dots and Moonbeams" (Burke, VanHeusen) – 4:44
  4. "Four on Six" (Montgomery) – 6:15
  5. "West Coast Blues" (Montgomery) – 7:26
  6. "In Your Own Sweet Way" (Dave Brubeck) – 4:53
  7. "Mr. Walker" (Montgomery) – 4:33
  8. "Gone With the Wind" (Magidson, Wrubel) – 6:24
41a0skapcfl.jpg (300×300)

Wes Montgomery- electric guitar
Tommy Flanagan - piano
Percy Heath - bass
Albert Heath - drums

Música Cigana - Djelen (viagem) - Nova Consciência

Flamenco - o canto dos camponeses, ou dos camponeses sem terra


Hoje vou dar uma folga aos leitores.

Vou falar da maravilhosa música de origem árabe, o flamenco.

Para quem não sabe ainda, o flamenco é uma palavra árabe que possui dois significados, dependendo da região.

No Marrocos, significa o canto dos camponeses - fallah-mangu.

Nos demais países de língua árabe, seu significado muda para - Fallah-min-ghair-ard, camponês-sem-terra.

É claro que depois o flamenco sofreu influência cigana e mudou um pouco a coreografia.

Mas isso só valoriza sua origem.

Não vou me alongar mais porque o flamenco é para ser visto e ouvido e, porque não?, participado.

Portanto, assista abaixo um pequeno trecho original do flamenco, que ainda se dança nos países árabes.
 

Redes sociais e mobilizações


Frei Betto


 A 7 de setembro, data da independência do Brasil, ocorreu algo novo: as ruas foram ocupadas por mobilizações populares convocadas através da internet.

 As pessoas saíram em passeatas para protestar contra a corrupção, o sucateamento da educação, e por reforma agrária e auditoria da dívida pública, entre outros temas. E fizeram questão de imprimir às manifestações caráter apartidário. Quem se atrevesse a desfilar com sigla de partido político era imediatamente rechaçado. Ali, no 7 de setembro, uniram-se o Grito dos Excluídos e o grito dos indignados.

 As ruas do Brasil, até então acostumadas a ver, nos últimos tempos, apenas manifestações de evangélicos, gays e defensores da liberação da maconha, voltaram a ser palco de pressão política e reivindicação popular.

 O poder convocatório das redes sociais é inegável. Elas possuem uma capilaridade que supera qualquer outro meio de comunicação. E carecem de censura ou editoração falaciosa.

 Há, contudo, duas limitações que podem afetar seriamente os efeitos da mobilização internáutica. A primeira, a falta de proposta. Não basta gritar contra a corrupção ou aprovar a faxina operada pela presidente Dilma Rousseff. É preciso exigir reforma política, e propor critérios e métodos.

 Reforma política com o atual Congresso – composto, em sua maioria, por parlamentares capazes de absolver uma deputada federal flagrada e filmada recebendo propina – é acreditar que Ali Babá é capaz de punir os 40 ladrões...

 É preciso, primeiro, reformar, ou melhor, renovar o Congresso para, em seguida, obter reforma política minimamente decente. De modo que sejam instituídos mecanismos que ponham fim às duas irmãs gêmeas madrinhas da corrupção: a imunidade e a impunidade.

 Essa renovação deve se iniciar, ano que vem, pela eleição de prefeitos e vereadores, todos submetidos ao crivo da Ficha Limpa, e pressionados a apresentar metas e objetivos, como propõe o Movimento Nossa São Paulo.

 A segunda limitação é o caráter apartidário das manifestações. Em si, é positivo, pois impede que algo nascido da mobilização cidadã venha a se converter em palanque eleitoral deste ou daquele partido político.

 Porém, na democracia não se inventou algo melhor para representar os anseios da população que partidos políticos. Eles fazem a mediação entre a sociedade e o Estado. O perigo é as manifestações não resultarem na eleição de candidatos eticamente confiáveis e ideologicamente comprometidos com as reformas de estruturas, como a política e a agrária. Ou desaguar no pior: o voto nulo.

 Quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E os maus políticos torcem para que tenhamos todos bastante nojo de política. Assim, eles ficam em paz, entretidos com suas maracutaias, embolsando o nosso dinheiro e ampliando suas mordomias e seus patrimônios.

 As redes sociais são, hoje, o que a ágora era para os gregos antigos e a praça para os nossos avós – local de congraçamento, informação e mobilização. Foram elas que levaram tunisianos e egípcios às ruas para derrubar governos despóticos. São elas que divulgam, em tempo real, as atrocidades praticadas pelas tropas usamericanas no Iraque e no Afeganistão.

 As redes sociais têm, entretanto, seu lado obscuro e perverso: a prostituição virtual de adolescentes que exibem sua nudez; o estímulo à pedofilia; a difusão de material pornográfico; o incitamento à violência; a propaganda de armas; o roubo virtual de senhas de cartões de crédito e contas bancárias.

 Espero não tardar o dia em que as escolas introduzirão em seus currículos a disciplina Redes Sociais. Crianças e jovens serão educados no uso dessa importante ferramenta, aprimorando o olhar crítico, o senso ético e, em especial, a síntese cognitiva, de modo a extrair sentidos ou significações do incessante fluxo de informações e dados.

 Graças à internet, qualquer usuário pode se arvorar, agora, em sujeito político e protagonista social, abandonando a passivo papel de mero espectador. Resta vencer o individualismo e o comodismo e sair à rua para congregar-se em força política.

- Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.


Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

 

sábado, 17 de setembro de 2011

“A Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros”



 
Para o jornalista Jorge Kajuru, a Copa do Mundo de 2014 no Brasil é um evento para turistas. E quem vai pagar a conta é o brasileiro
Danilo Augusto


Jorge Kajuru - Foto: Reprodução
O Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014. Desde 2007, quando o país foi escolhido como sede do mundial, vários questionamentos surgiram em torno desse evento.
Em entrevista a Radioagência NP – parceira do Brasil de Fato – o jornalista Jorge Kajuru afirma que o país tem plenas condições e estrutura para realização do evento. Porém, relata que o problema da Copa ser no Brasil está relacionado “à crise moral dos representantes.” Ele critica o financiamento através de dinheiro público do BNDES no evento e pede mais postura da presidenta Dilma sobre o tema. Para Kajuru, a Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros. E acrescenta: “É uma Copa para turistas. Quem vai pagar a conta é o brasileiro, vai sair do imposto”.
Conhecido por sua coragem de enfrentar os cartolas do futebol, Kajuru também detalha a relação entre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, a qual ele descreve como “ladrões públicos do futebol mundial.” O jornalista também acusa a Rede Globo. “O Ricardo Teixeira também é intocável pela proteção da Rede Globo de Televisão”. Segundo ele, a emissora é sócia em negócios envolvendo futebol, principalmente, monopólio e exclusividade de transmissões. Leia a seguir a entrevista.

O Brasil será sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Como você avalia a realização deste evento em nosso país?
Jorge Kajuru – Não sou contra a Copa do Mundo no Brasil. O país tem condições e estrutura. O problema da Copa ser aqui não é estrutural, e sim, de crise moral. Vão roubar de nós brasileiros, pagadores de impostos, porque sairá de forma pública a maior parte do dinheiro gasto na Copa do Mundo. O governo federal, em pleno o governo do presidente Lula, teve que assinar um documento no qual a Fifa ganhará todo o dinheiro da Copa sem pagar qualquer centavo de tributos. A Fifa aceitou o Brasil como sede da Copa tendo essa condição como base de negócio. Todo dinheiro faturado aqui ela (Fifa) vai levar para a Suíça e fazer a divisão entre os ladrões públicos do futebol mundial.

Você já declarou que vai torcer contra a seleção brasileira na Copa. Por quê?
Vou torcer contra o Brasil na Copa de 2014. Também vou rezar para que na final o Brasil esteja, e que, exatamente na final, o Brasil perca de forma vergonhosa. E que haja, no Maracanã, com o segundo maracanasso, um linchamento público verbal contra a fi gura do senhor Ricardo Teixeira. O estádio inteiro em eco para que ele criasse vergonha na cara e deixasse a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e também o Brasil, e se juntasse ao seu bando e quadrilha lá da Suíça.

A realização da Copa demanda um investimento financeiro muito alto. Grande parte vem por meio do financiamento do BNDES. Você é a favor de financiamento público em um evento, que como você disse, terá o lucro dividido em meios privados?
A Copa é no Brasil, mas não é para os brasileiros. É uma Copa para turistas. Quem vai pagar a conta é o brasileiro, vai sair do imposto. O BNDES já colocou R$ 4,8 bi na Copa. Até 2014 pode dobrar esse valor. O mais grave é que quando foi definido o Brasil como sede da Copa, fi cou estabelecido de forma pública, para todos os brasileiros – nas palavras do então presidente Lula e do Ricardo Teixeira – que não se gastaria nenhum centavo público para Copa do Mundo, que todas as despesas seriam privadas. O governo e o Ricardo Teixeira mentiram, foram canalhas.

E como você avalia o papel da presidenta Dilma neste processo?
O que ela disse foi o mais grave. A presidente Dilma afirmou que não poderia divulgar os valores fi nanceiros gastos pelo governo até 2014, que eram informações sigilosas. Isso é revoltante. Qualquer brasileiro minimamente sério, qualquer jornalista minimamente descente e qualquer veículo de comunicação minimamente ético teriam que cobrar da presidente essa postura lamentável. Não pode gastar dinheiro público e não informar e divulgar para onde foi.


Manifestantes pedem saída de Ricardo Teixeira na avenida Paulista
Foto: Guilherme Zocchio
Recentemente, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebeu uma série de acusações. Mesmo assim, ele continua impune. Por que essas acusações não surtem efeito internacionalmente, dentro da Fifa?
O Ricardo Teixeira é blindado porque ele faz parte da quadrilha da Fifa. Ele é intocável porque é sócio do Joseph Blatter [presidente da Fifa] e protegido por João Havelange, presidente de honra da Fifa e dono da máfia do futebol internacional. Havelange e Ricardo Teixeira são donos da Traffic – a empresa que detêm os direitos internacionais de venda de transmissão de futebol para veículos de comunicação do mundo inteiro. A Traffic não é do jornalista Jota Ávila. O Jota é “laranja” do Havelange e do Ricardo, a imprensa esportiva sabe disso é ignora de forma vergonhosa.

E no âmbito nacional, por que nada acontece?
Primeiro porque o povo brasileiro não tem coragem de protestar. O povo brasileiro é uma decepção no que se refere a protesto contra coisas públicas horríveis. Ninguém tem coragem de falar isso, falar isso é brigar com o povo, mas não faço média com o povo. Amo o povo porque é a maior celebridade deste país, é feliz recebendo um salário mínimo de R$ 600. Mas não vou dizer que o povo tem cultura de protesto. O Ricardo Teixeira também é intocável pela proteção da Rede Globo de Televisão. A Globo é sócia em negócios envolvendo futebol, principalmente monopólio e exclusividade de transmissões. Isso se chama ditadura da audiência.

Mas a Globo não vende direitos de transmissão para a Bandeirantes?
A Band não paga pelos direitos de transmissão. Ela é presenteada pela Rede Globo desde que, editorialmente, cumpra as mesmas regras da Globo para com o Ricardo Teixeira.

Muitas pessoas defendem que a CBF teria uma melhor gestão se as eleições fossem mais democrática, com participação popular. Você concorda com essa proposta?
Tudo isso não passa de uma fantasia neste Brasil dirigido e presidido por quem é. O PT fará com que a CBF se perpetue com esses mesmos canalhas que estão lá. Embora o ex-presidente Lula – nas eleições de 2002 – tenha prometido que tiraria o Ricardo do comando do futebol brasileiro e que abriria a caixa da CBF. Foi mentira dele. No primeiro mês de governo ele já era melhor amigo do Teixeira. Ninguém é amigo do Teixeira sem que financeiramente tenha nenhum benefício. Portanto, o PT como partido político deve ter ganhado muita grana do futebol brasileiro – da CBF. É um sonho essa história de eleição direta, do povo votando.

E qual a participação das federações, dos clubes e da Rede Globo nesse processo de permanência do Ricardo Teixeira dentro da CBF?
As federações são Ricardo Teixeira. Já nos clubes isso não acontece mais. Na última votação para escolher o presidente do Clube dos 13, a CBF e a Rede Globo tomaram uma derrota vergonhosa. Eles queriam uma vitória do Cleber Leite contra o Fábio Koff. E como isso não aconteceu, o São Paulo foi punido, o Morumbi foi punido e não será sede de abertura da Copa do Mundo. O Ricardo Teixeira, ao lado do seu amigo Andrés Sanchez – presidente do Corinthians – não quiseram. Se o país fosse sério, Andrés e Ricardo Teixeira estariam presos. É por isso que agora a Rede Globo quer tirar o Fábio Koff do comando dos 13 e ameaça acabar com o Clube e montar uma Liga Nacional para mandar mais ainda no futebol brasileiro.

Recentemente, a Rede Record entrou na disputa com a Globo para transmitir jogos do campeonato Brasileiro. Essa quebra de monopólio seria boa para o futebol?
Não existe nenhuma diferença na maneira em que Record e Rede Globo cresceram e se transformaram em império. A Globo nasceu de um escândalo chamado Time Life e a Record se transformou em império com dinheiro de fiéis. Acrescente, além do monopólio, a expressão ditadura de audiência. Mesmo não havendo diferença, também na parte editorial, é preciso reconhecer que a proposta da Record é três vezes maior. E ainda, a Record garantia que o jogo, em sua grade de programação, seria às 20h e não às 22h. Hoje, ainda temos que esperar a novela acabar para começar um jogo. Pior, esses jogos acabam meia noite ou 1h quando já não tem mais transporte público. Isso é um absurdo, um crime. Tudo ficou na mesma e seja o que Deus quiser.

Qual o papel da Rede Globo e dos veículos de comunicação no Brasil para que essas mazelas do futebol se perpetuem?
O papel da Globo é somente o dinheiro. Quanto ao papel dos demais veículos de comunicação deveria ser o jornalismo. A imprensa foi feita para servir o povo, e não se servir do povo. E o que acontece com a maior parte da imprensa, nesta questão que estamos debatendo aqui, é que a imprensa está se servindo do povo. São raras as exceções que não fazem isso, como a ESPN, o jornal o Lance. Também existem alguns jornalistas independentes, como o Juca Kfouri. Poucos veículos ousam falar de Ricardo Teixeira. O problema é que as grandes empresas brasileiras também são amigas do senhor Teixeira. E são todas calhordas quanto Ricardo Teixeira essas grandes agências de publicidade, esse monopólio de grandes empresas que só anunciam em veículos que não praticam o jornalismo esportivo independente, investigativo, sério e decente. É mais que uma máfia, é um cartel.

Muitas pessoas te classificam como um pessimista e inimigo do futebol. Você realmente gosta deste esporte?
Tem pessoas que me consideram um crítico, um louco, um do contra e um pessimista. Eu amo o futebol nas quatro linhas. Quem não vai gostar de um drible do Neymar [Santos Futebol Clube]? Uma bela jogada e um passe de calcanhar do jogador Ganso [Santos Futebol Clube] e do Lucas [São Paulo Futebol Clube]? Ninguém vai me fazer deixar de gostar, de ver e de falar bem do bom futebol. Vou defender e aplaudir jogadores e treinadores acima da média. Agora não queiram que eu dê uma entrevista e que deixe de falar em relação a essa escumalha que comanda o futebol brasileiro. Se eu não denunciasse isso eu não seria um jornalista, e sim, um picareta e assessor do Ricardo Teixeira. Mas o futebol dentro de campo é minha paixão e alegria. (Ouça o áudio desta entrevista na Radioagência NP)

Jorge Reis da Costa – conhecido como Jorge Kajuru – é jornalista esportivo, radialista e apresentador de televisão

Campanha declara apoio à luta do povo haitiano por ensino público de qualidade


Karol Assunção
Jornalista da Adital


O artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que "toda pessoa tem direito à educação” e que "a educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental”. Entretanto, não é bem isso que se observa no Haiti. Se antes do terremoto de janeiro de 2010 o sistema educacional no país já era deficiente, com uma taxa de analfabetismo de 60% e com mais de 80% de escolas privadas; a situação após o sismo, que destruiu 5 mil escolas, continua crítica, sem a promoção de uma educação pública e de qualidade.
Foi por conta desse quadro que a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade) divulgou, no mês passado, uma "Declaração de apoio ao povo haitiano em sua luta por uma educação pública e gratuita para todos e todas sem discriminação”. No documento, a rede se solidariza com a população haitiana e com o Reagrupamento Educação para Todos e Todas (Rept), coalizão do Haiti que luta por uma educação pública, de qualidade e sem discriminação no país.

Notícias apontam que 80% das escolas que existem atualmente no país são particulares. Situação que agrava ainda mais a realidade do Haiti, que possui cerca de 70% de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza.As organizações alertam para as ações promovidas pelo Governo haitiano no campo educacional após o terremoto do ano passado. De acordo com elas, autoridades do país e Instituições Financeiras Multilaterais estão "direcionando a reconstrução do sistema educativo no país para aprofundar a privatização da educação no Haiti e a desresponsabilização do Estado”.
"Recordamos que durante o processo de campanha eleitoral no Haiti, Joseph Michel Martelly tinha como uma de suas bandeiras a garantia da gratuidade da educação no país. Ao contrário do compromisso assumido, o presidente eleito hoje promove, com fundos das Instituições Financeiras Multilaterais, um sistema de transferência de recursos às famílias para que ponham seus filhos e filhas nas escolas do setor privado”, ressaltam.
As organizações - que levantam a bandeira de uma educação pública, gratuita, de qualidade, e disponível, acessível, aceitável e adaptável a todos e todas – ainda aproveitam o documento para repudiar a criminalização dos movimentos sociais e pedir justiça para os casos de violência ocorridos contra os lutadores sociais haitianos.
"Em tal sentido, manifestamos nossa preocupação pela impunidade que se mantém no caso de Jean Anil Louis Juste, professor da Universidade do Estado do Haiti (UEH), assassinado no dia 12 de janeiro de 2010 antes do terremoto, assim como o assassinato do professor sindicalista Jean Louis Filbert, ocorrido quando participava de uma marcha a favor do direito à educação pública. Também repudiamos a violência sofrida pelo estudante Mathieu Frantz Junior, da Faculdade de Etnologia, quem foi ilegalmente detido dentro deste espaço universitário e maltratado por forças do corpo da Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti] há um ano”, destacam.
As organizações reforçam o pedido de desmilitarização do país ao mesmo tempo em que pedem ao Estado a garantia da integridade dos protestos pacíficos e dos defensores de direitos humanos que lutam por uma educação pública no país, e a aprovação de uma Lei Geral de Educação que assegure o direito humano à educação pública, gratuita e de qualidade.
A declaração completa está disponível em: http://www.campanaderechoeducacion.org/financiacion/?p=326

Comandante Carlos Lamarca (1937-1971): vencer ou morrer


170911_lamarcaOusar Lutar Ousar Vencer - [Celso Lungaretti] 
No dia 17 de setembro de 2011 completam 40 anos da morte do comandante Carlos Lamarca, que estava debilitado e indefeso quando foi covardemente executado pela repressão ditatorial no sertão baiano, em 17 de setembro de 1971, numa típica vendetta de gangstêres.

O que há, ainda, para se dizer sobre Lamarca, o personagem brasileiro mais próximo de Che Guevara, por história de vida e pela forma como encontrou a morte?
Foi, acima de tudo, um homem que não se conformou com as injustiças do seu tempo e considerou ter o dever pessoal de lutar contra elas, arriscando tudo e pagando um preço altíssimo pela opção que fez.
Teve enormes acertos e também cometeu graves erros, praticamente inevitáveis numa luta travada com tamanha desigualdade de forças e em circunstâncias tão dramáticas.
Mas, nunca impôs a ninguém sacrifícios que ele mesmo não fizesse. Chegava a ser comovente seu zelo com os companheiros -- via-se como responsável pelo destino de cada um dos quadros da Organização e, quando ocorria uma baixa, deixava transparecer pesar comparável ao de quem acaba de perder um ente querido.
Dos seus melhores momentos, dois me sensibilizaram particularmente.
Logo depois do Congresso de Mongaguá (abril/1969), quando a VPR saía de uma temporada de luta interna e de quedas em cascata, o caixa estava a zero e a rede de militantes, clandestinos em sua maioria, carecia desesperadamente de dinheiro para manter as respectivas fachadas -- qualquer anomalia, mesmo um atraso no pagamento de aluguel, poderia atrair atenções indesejáveis.
Mas, o chamado grupo tático fora o setor mais duramente golpeado pelas investidas repressivas.
Então, quando se planejou a expropriação simultânea de dois bancos vizinhos, na zona Leste paulistana, o pessoal experiente que sobrara não bastava para levá-la a cabo.
Eu e os sete companheiros secundaristas que acabáramos de ingressar na Organização fomos todos escalados -- na enésima hora, entretanto, chegou a decisão do Comando, que me designou para criar e coordenar um setor de Inteligência, então fiquei de fora.
Lamarca, procuradíssimo pelos órgãos repressivos, fez questão de estar lá para proteger os recrutas no seu batismo de fogo. Os outros quatro comandantes tudo fizeram para demovê-lo, em nome da sua importância para a revolução. Em vão. A lealdade para com a tropa nele falava mais alto.
Depois de muita discussão, chegou-se a uma solução de compromisso: ele não entraria nas agências, mas ficaria observando à distância, pronto para intervir caso houvesse necessidade.
Houve: um guarda de trânsito, alertado por transeunte, postou-se na porta de um dos bancos, arma na mão, pronto para atingir o primeiro que saísse.
Lamarca, que tomava café num bar a 40 metros de distância, só teve tempo de apanhar seu .38 cano longo de competição, mirar e desferir um tiro dificílimo -- tão prodigioso que, no mesmo dia, a ditadura já percebeu quem fora o autor. Só um atirador de elite seria capaz de acertar.
Segundo o Darcy Rodrigues, foi a vida dele que Lamarca salvou. O próprio, contudo, contou-nos que seria um dos novatos o primeiro alvejado.
Como resultado, a repressão teve pretexto para fazer de Lamarca o inimigo público nº 1 -- e, claro, o fez. A imagem dele foi difundida à exaustão, obrigando-o a redobrar cuidados e até a submeter-se a uma cirurgia plástica.
Também teve de brigar muito com os demais dirigentes e militantes, para salvar a vida do embaixador suíço Giovanni Butcher, quando a ditadura se recusou a libertar alguns dos prisioneiros pedidos em troca dele e ainda anunciou que o Eduardo Leite (Bacuri) morrera ao tentar fugir.
Dá para qualquer um imaginar a indignação resultante -- afinal, as (dantescas) circunstâncias reais da morte do Bacuri ficaram conhecidas na Organização.
Mesmo assim Lamarca não arredou pé, usando até o limite sua autoridade para evitar que a VPR desse aos inimigos o monumental trunfo que as Brigadas Vermelhas mais tarde dariam, ao executarem Aldo Moro. O episódio foi tão traumático que ele acabou deixando a VPR.
E, no MR-8, novamente divergiu da maioria dos companheiros -- quanto à sua salvação.
Pressionaram-no muito para que saísse do Brasil, preservando-se para etapas posteriores da luta, pois em 1971 nada mais havia a se fazer. Aquilo virara um matadouro.
Conhecendo-o como conheci, tenho a certeza absoluta de que não perseverou por acreditar numa reviravolta milagrosa. Em termos militares, suas análises eram as mais realistas e acuradas. Nunca iludia a si próprio.
O motivo certamente foi a incapacidade de conciliar a idéia de fuga com todos os horrores já ocorridos, a morte e os terríveis sofrimentos infligidos a tantos seres humanos idealistas e valorosos. Fez questão de compartilhar até o fim o destino dos companheiros, honrando a promessa, tantas vezes repetida, de vencer ou morrer.
Doeu -- e como! -- vermos os militares exibindo seu cadáver como troféu, da forma mais selvagem e repulsiva.
Mas, ele havia conquistado plenamente o direito de desconsiderar fatores políticos e decidir apenas como homem se preferia viver ou morrer.
Merece, como poucos, nosso respeito e admiração.
Celso Lungaretti é jornalista e ex-preso político da ditadura militar brasileira (64-85), tendo participado da luta armada.