domingo, 30 de outubro de 2011

Dostoiévski: um gênio ainda atual aos 190 anos de nascimento


 
Milton Ribeiro no SUL21

Há um período de nossa adolescência ou logo após, quando somos ou não universitários com algum tempo tempo livre — como diria Kafka, com mais energia do que necessidade de produzir –, em que usamos nosso tempo lendo clássicos. Neste período, procuramos ler os maiores ícones e, dentre estes, estará inevitavelmente Dostoiévski. E ele costuma ser uma experiência inesquecível. Como literatura e visão de mundo, é algo arrebatador. Se a aventura de lê-lo jovem nos causa profundas marcas, também tolhe-nos, pela inexperiência, a análise das razões de tal assombro.
Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (Moscou, 30 de Outubro de 1821 — São Petersburgo, 28 de Janeiro de 1881) foi um escritor russo, considerado um dos maiores romancistas e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.
Fiódor foi o segundo dos sete filhos nascidos do casamento entre o médico Mikhail Dostoiévski e Maria Fedorovna. A mãe do escritor morreu quando ele ainda era muito jovem, de tuberculose, e o pai foi provavelmente assassinado pelos próprios servos, que o consideravam autoritário. Alguns biógrafos afirmam que o assassinato do pai causou a primeira crise epilética em Dostoievski, fato considerado controverso por seus atuais estudiosos.
A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e aspectos ético-religiosos, além de analisar os estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio. A literatura moderna e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias. Por exemplo, seu último romance, Os Irmãos Karamazovi, foi considerado por Sigmund Freud como o melhor romance até então escrito e uma grande influência.
Porque Dostoiévski é diferente?
Há um outro clássico russo — Problemas da Poética de Dostoiévski, de Mikhail Bakhtin — ,que investiga os procedimentos ficcionais do escritor russo e aquilo que neles há de original. Em um dos capítulos, A Ideia em Dostoievski, é analisado o motivo do assombro e sedução que um escritor nascido há quase dois séculos ainda exerce sobre seus leitores.
Antes de chegar a Dostoiévski, Bakhtin nos fala de Sócrates e sobre a natureza dialógica da idéia. Segundo o grego, o habitat natural das idéias é o diálogo. A idéia internalizada é algo inútil e morto; porém, se a mera divulgação de uma idéia já a altera pelas limitações da linguagem e de quem a expressa, imaginem as transformações que nela ocorrem quando em choque com outras. O diálogo socrático influenciou tanto Dostoievski que ele direcionou sua arte no sentido de tornar-se principalmente um regente de personagens, retirando de seu texto a voz onisciente (que tudo sabe) do autor. Seu objetivo era o de deixar suas criaturas livres e de colocar-se à altura delas, nunca acima. Para fazer isto, o escritor tinha de converter seu pensamento numa arena na qual as diversas vozes do romance lutavam, sofriam, amavam, decidiam e se debatiam, sempre com sua própria lógica interna e verossimilhança — mas sem a aparente mediação do autor. Com esta disposição, Dostoiévski coloca-se como um criador de biografias pessoais e de situações que falam simbolicamente por si mesmas; mas que, pronto isto, deixa seus personagens livres, agindo e opinando de forma independente, enquanto anota o que dizem. Não é simples.
A tal projeto artístico, a esta quase insanidade de tornar sua obra uma arena, temos que acrescentar o fato de que Dostoiévski dá razão a todos e a ninguém, pois NUNCA EMITE JULGAMENTOS DEFINITIVOS. O escritor-voz-da-razão, o que elabora belas teses e aforismos infalíveis foi misturado a seus personagens. Dostoiévski não é divino nem definitivo.
A partir de Crime e Castigo – isto significa eliminar apenas as obras da juventude – só se conhecem as ideias de cada personagem, não a opinião do autor sobre elas. E muito menos se saberá quem o representa dentre os personagens. Ele não nos deixa pistas, pois permanece distante. Some-se a isto uma imensa capacidade de observação, um talento artístico ímpar e o fato de ser um manancial de preocupações éticas muito a frente de seu tempo, e estaremos no caminho de entender porque Dostoiévski é tão apaixonante.
Dostoiévski ou Tolstói?
Esta é uma pergunta provocativa não somente porque coloca frente a frente dois monstros do romance russo do século XIX, mas também porque compara dois projetos literários muitíssimo bem sucedidos e distintos. Não chega a ser lógica uma comparação entre seres humanos e romancistas tão diferentes entre si — seja nas posturas, seja nas vivências de cada um — , porém, ao mesmo tempo sabemos que nada é mais lógico do que comparar dois contemporâneos importantíssimos, como hoje fazemos com Saramago e Lobo Antunes, por exemplo. Aqui a armadilha que devemos evitar é o elogio de um para desvalorizar o outro. Eram ambos autores de grandes painéis. Seus romances eram tudo: psicológicos, sociais, filosóficos, picarescos, metafísicos (no caso de Dostoiévski) e tão grandes que empurraram as fronteiras dos gêneros para poderem se acomodar dentro delas.
Tolstói talvez seja o maior de todos os narradores clássicos — por que mesmo não recebeu o Nobel se faleceu em 1910? Seus romances são perfeitos, têm ritmo, excelente prosa, envolvem. Se fossemos obrigados a compará-lo com alguém, seria com Turguênev ou com certa parte da obra de Tchékhov. E aqui voltamos às questões de foco narrativo. Tolstói era o típico narrador onisciente que, apesar de detalhista, não era capaz de abandonar sua posição aristocrática, o senso comum da época e o certo e errado da concepção cristã do mundo. Já Dostoiévski, quando comparado a Tolstói, parece um alucinado. O narrador de Dostoiévski localiza-se sob a pele dos personagens, saltando de um para outro, deixando-se reger de tal forma por suas lógicas (ou loucuras) que faz sumir o narrador-julgador.
Tolstói, é claro, chamava os romances de Dostoiévski de mal-acabados. O acabamento era fundamental para clássicos como ele e Thomas Mann, por exemplo. Tolstói não tinha razão ao chamar os romances de Dostoiévski de mal-acabados. Eram muito diferentes. Pois livros como Crime e Castigo e O Idiota — sôfregos, nervosos e tão viscerais — , sob o filtro de Tolstói se transformariam em outra coisa. Quem pensa em acabamento quando quer descobrir quem matou o velho Fiódor? E quem criticaria o acabamento absolutamente impecável da Parábola do Grande Inquisidor — apenas para me referir a dois temas de Os Irmãos Karamázovi? Ora, Dostoiévski não estava preocupado com o acabamento porque as regras vigentes da beleza literária o atrapalhavam; porém, quando precisou, fez uso delas brilhantemente. Na verdade, uma das últimas preocupações que temos ao ler Dostoiévski é com o acabamento. Os personagens de Tolstói sofrem com dignidade, os de Dostô berram e se escabelam. Não obstante, o horror metafísico que cresce de O Idiota não fica nada a dever ao de Ivan Illich.
Enquanto Guerra e Paz é um panorama, Os Irmãos Karamázovi aponta para o fim de uma era, como Dostoiévski já mostrara em Os Demônios. Tolstói é um burguês, Dostoiévski pensa um apocalipse ético e moral. São muito diferentes. E muito bons.
Dostoiévski, o que e que traduções ler?
As gerações passadas leram Dostoiévski nas Obras Completas do autor russo da Editora José Olympio. Hoje sabemos que não era nada completa. Eram livros bonitos, vermelhos, de capa dura, o que havia de melhor. Os tradutores eram Rachel de Queiróz, Ledo Ivo, Brito Broca, etc. Todos os livros vinham com esplêndidos prefácios de gente como Otto Maria Carpeaux e Wilson Martins. Minha geração engoliu aqueles livros como se fossem o melhor Dostoiévski possível. Não eram. O que tinham de bom eram os prefácios…
Nos anos 80, começaram a aparacer novas traduções, totalmente diferentes. A explicação era incrível. As traduções antigas, aquelas da José Olympio, eram feitas a partir de outras traduções, francesas, do início do século XX. Os tradutores franceses daquela época não eram nada respeitosos, açucaravam expressões, situações e até criavam frases facilitadoras. Ou seja, eles adaptavam os autores ao gosto francês, aparavam as arestas, retiravam espinhos, deixavam-no… mais bonitos…
Porém, nos anos 90, a Editora 34 montou um time de tradutores para retraduzir todo Dostoiévski. Antes, aqui e ali, já aparecera o verdadeiro autor: havia as traduções de Boris Schnaiderman dos grandes russos; nos anos 80, Moacir Werneck traduziu O Jogador e O Eterno Marido direto do russo. O resultado foi um autor muito mais direto e sem firulas. Muito melhor, limpo e impactante, certamente. Mas a revelação do verdadeiro e completo Dostoiévski veio nos anos 90 com Paulo Bezerra na Editora 34. Digo com a maior tranquilidade que quem leu O Idiota e Crime e Castigo nas traduções antigas, leu outros livros. Dizem meus olhos e minha mente que estes romanções só foram verdadeiramente traduzidos há pouco. As novas versões estão certamente bem mais próximas de Dostoiévski, por mais que Brito Broca tenha feito milagres com sua versão francesa de Crime e Castigo.
Então, indicamos a coleção da 34 ou outras traduções diretas. Para este humilde leitor, O Idiota só se tornou uma obra-prima após a leitura da tradução de Bezerra. A tradução da José Olympio tem todos os méritos associados ao pioneirismo e às parcas possibilidades dos anos 50, mas vão me desculpar, os dois Idiotas têm pouco a ver um com outro. Toda a transcedência e o valor altamente filosófico da obra perdeu-se na passagem para o francês ou para o português.
Dostoiévski não é nada, mas nada romântico. É um escritor bem mais duro do que fazem crer as antigas traduções. Porém, se não houver dinheiro e o leitor do Sul21 encontrar uma das antigas traduções que têm reaparecido ainda hoje a preços módicos, compre do mesmo jeito. Um mau Dostoiévski é superior a quase tudo que haverá em torno.
O que ler? Ora, tudo o que foi escrito após Crime e Castigo, incluindo este, com destaque para Os Irmãos Karamazóvi, Os Demônios, O Idiota, O Jogador e O Eterno Marido.. São todos volumes de mais de 500 páginas, mas é puro tempo ganho.

Protocolos dos Sábios de Sião, aqui, não!


 
Por Katarina PeixotoCarta Maior

Tem gente querendo reprisar a farsa dos Protocolos dos Sábios de Sião na política brasileira. Pouco importa que haja emprego e que as crianças pobres do Recife não expilam lombrigas pela boca nos sinais de trânsito. A farsa está na invenção de um inimigo bestial a ser revelado e denunciado como responsável por uma suposta onda gigantesca de corrupção.

“Há uma grande conspiração em curso no Brasil. Trata-se da conspiração do PT e da esquerda em geral para assaltar o bolso das famílias, para imporem um modo politicamente correto de pensar, para censurarem o machismo, a homofobia, o sexismo e o nosso direito de andar armados. Essa gente quer assaltar os cofres públicos para nos fazer pagar impostos, com os quais eles só fazem roubar e enriquecer, enquanto eu me sinto vilipendiado e cada vez mais envergonhado. Nunca houve tanta corrupção neste país, nunca. É aquela coisa do pobre que jamais teve algo e que agora se lambuza, minha avó já dizia. Aqui, comediante é levado a sério, só porque é fascista, homofóbico, machista e age contra a lei, enquanto os políticos, ah, os políticos, esses seguem sem ser levados a sério. Por isso eu gosto mesmo é do Bolsonaro, inclusive. Ele vem sendo vítima do festival de autoritarismo e corrupção que assolam este país. Esses petralhas que estão mais preocupados em atacar a liberdade de imprensa do que em governar o país. Sim, porque o país só vai bem graças a Fernando Henrique, que não fosse ele, esses petralhas iam ver. O PT não faz nada que preste e só rouba o nosso dinheiro. O filho de Lula é milionário, Dilma sabe e acoberta Orlando Silva, aquele moleque safado que está podre de rico, caiu porque é culpado, óbvio”.
“Outro dia um jornal muito importante disse no seu editorial que o país precisava de uma limpeza ética! Eu concordo! Cresce no país a consciência de que chega de tudo isso que aí está! E ainda querem mais imposto para a saúde, e fraudam até provas de ensino médio, que são de alta importância para os nossos filhos! Como eles terão certeza de que entrarão por seus próprios méritos na Universidade? Não basta ter direitos negados pelas vagas dadas de presente – às nossas custas – a quem se diz negro (como se houvesse racismo no Brasil, ora essa!), aos desqualificados das escolas públicas e, pasmem, para indígenas. Chega! Está na hora da nossa marcha, da marcha pela dignidade, contra essa gente que quer mandar em nós, que quer controlar o nosso modo de pensar, que pretende ganhar dinheiro às minhas custas e fazer demagogia com os impostos que eu e minha família e você paga!”
Diariamente a Carta Maior recebe comentários de leitores que compartilham o balaio de enunciados contraditórios acima. Essa babilônia de crenças incompatíveis, que não sobrevivem a um inquérito minimamente lógico a respeito da relação entre uma e outra reina na mídia e, até aqui, parece apavorar setores poderosos do governo. Trata-se de uma onda de depravação consciente e deliberada, que convida a barbárie para uma grande orgia semântica, voltada para criar uma farsa. Não porque é contra o PT ou o governo ou a esquerda. A farsa está na invenção de um inimigo a ser revelado e denunciado como responsável pelas ameaças e fragilidades que o poder vem enfrentando. Mas que poder? O da mídia, o do tal do PIG, o da CIA e do FMI? E que fragilidades?
O Protocolo dos Sábios de Sião é uma farsa criada por um serviçal do Czar Nikolai II para tentar, sem sucesso, enfrentar as ameaças ao seu poder. Essa farsa, da virada do século XIX para o XX, denuncia a existência de um grupo de judeus que se reúnem e deliberam como controlar o mundo. Eles traçam planos e estabelecem metas para a empreitada. O texto é tão autêntico que todo judeu denega a sua veracidade, revelando, assim, a sua força, dizem as sumidades de todo tipo que acreditam nessa mentira.
O modelo desse embuste é muito simples e imbecilizante: ele mobiliza o medo do lobo mau que habita as memórias infantis apontando um inimigo ao mesmo tempo genérico e específico que introduz, contamina e assegura a permanência de todo o mal na floresta, quer dizer, na sociedade. Na Rússia czarista, eram os judeus. Depois, no nazismo, eram os judeus comunistas, porque, como se sabe, a Revolução de 17 foi coisa de judeu, segundo nos disse Hitler, o sábio. Já na década de 30, quando as trevas do stalinismo assaltaram o Partido Comunista, os Protocolos foram recuperados, porque ali estariam claros os planos trostskistas – portanto judeus – para atacar o guia dos povos.
Quando os delinquentes argentinos que agora estão sendo condenados (finalmente) deram o golpe de estado em 1976, com a missão de exterminar a esquerda, usaram essa bíblia de oligofrenia e irracionalidade para levarem a cabo o extermínio de aproximadamente 30 mil pessoas. Talvez fosse o caso dizer que, no caso da Argentina dos anos Videla-Massera – com o auxílio de refugiados nazi –, da Alemanha nazista e da barbárie stalisnista os tais sábios de Sião tenham aumentado um pouco o número. Porque somando esse horrores se chega na casa dos milhões de “sábios”. Mas não é o caso dizer, quando se respeita a verdade e a razão que viabiliza o seu acesso.
A Política e a inocência são e devem ser inimigas desde a gestação. Disso obviamente não se segue que a Política seja coisa de bandidos; só as pedras são inocentes, disse Hegel, dessa vez com razão: disso se segue que a defesa da inocência é a defesa de uma quimera, não apenas do reino que seria próprio às coisas do poder, mas do da razão. A origem da reclamação de inocência e pureza no mundo está na crônica mítica do pecado original, a primeira corrupção que teve sua CPI vendida pelo governo de Deus, no caso em tela.
 
Até hoje há gente séria da teologia que debate se Adão levou a serpente a sério por curiosidade intelectual ou por desejo. A primeira vertente de interpretação defenderia que o livre arbítrio dos homens deriva da sua racionalidade; a segunda vertente, que deriva do seu desejo. Mas a coisa mais importante é que a liberdade dos homens, na qual, aliás, veio a se fundar a Política, não deriva nem pode derivar da inocência. Já na sua origem, a liberdade tem a ver com as condicionalidades da contingência.
É claro que não é por isso que o Ministro x ou y cai ou não; por isso se torna evidente, apenas, que a gritaria por inocência não é nem pode ser inocente: ou tem alguma racionalidade, ou tem um desejo incontrolável. Em ambos os casos, é o poder, e não a inocência e a pureza de intenções, que organiza a sua inteligibilidade.
Essas observações também vigoram quanto ao PT e aos seus aliados, em tempo. Não são poucos os que se lembram dos anos 90, no Brasil. Mas eu lembro como se fosse ontem do quanto me indignava com o PT, com o PCdoB e com muitos outros da oposição ao governo Fernando Henrique e Paulo Renato, no MEC de então, naqueles anos tristes. Enquanto a Vale do Rio Doce era entregue à iniciativa privada com financiamento do BNDES, enquanto a CSN e as companhias de energia elétrica eram entregues, enquanto bancos públicos estatais eram praticamente doados, enquanto tudo isso acontecia com o discurso de que era para se qualificar o Estado e este, no período em que o dinheiro das supostas vendas de patrimônio público deveriam estar entrando nos seus cofres, definhava, com os banheiros nas universidades fedendo e os professores doutores ganhando salários ridículos, o que fazia a esquerda, em geral?
Denunciava a corrupção e berrava por CPIs, no Congresso. Eram poucos os que, à esquerda, investigavam e buscavam, amiúde, diagnosticar a destruição que estava em curso no país e que apontavam as dificuldades que viriam pela frente, não apenas para um eventual governo do PT, mas para o país mesmo – este que não se resume ao bolso e ao imaginário classe média cuja vida é do tamanho do sábado com uísque e os amigos, para reclamar do que a revistinha semanal declara.
No início dos anos 2000 e no começo da primeira gestão de Lula na presidência ficou claro que essa tática tinha sido inconsequente: a destruição do Estado, o definhamento da República e o sequestro de seu financiamento pela política parasitária do sistema financeiro causaram uma gigantesca confusão em muitos que, como eu, tinham apostado na interdição do horror que assolou o país nos anos 90. A confusão não acabou, mesmo que muito daquele horror tenha sido revertido, pelo menos quanto ao futuro ou às gerações posteriores às dos beneficiários do Bolsa Família, quanto ao futuro da pesquisa, da Universidade, da ciência, do financiamento público-estatal por meio dos bancos públicos do Estado, do PAC, do Minha Casa, Minha Vida, da redução das desigualdades, enfim, de tudo isso que se tornou o Brasil, dos últimos 6 anos para cá, ao menos.
E qual é a inconsequência, mesmo? É trazer a farsa dos Protocolos dos Sábios de Sião para a cena Política. A inconsequência, que emergiu na mais regressiva e violenta campanha eleitoral da jovem democracia brasileira, em 2010, é convidar o adão de antes da maçã para juiz das coisas do poder. Pouco importa que ditadura alguma leve a sério a pesquisa e a universidade, como se leva a sério no Brasil, hoje. Não interessa à imbecilidade que não entendeu o que aconteceu há quinze anos, saber o que realmente aconteceu no Ministério dos Esportes hoje ou no do Planejamento, em 1995. Pouco importa que haja emprego e que as crianças pobres do Recife não expilam lombrigas pela boca nos sinais de trânsito. Nada importa que a abundância tenha se tornado regra até para a classe média, mesmo que nos cartões de crédito. Não se preocupam com o valor, sobretudo nas próprias vidas, do automóvel, desde que se angustiem com os impostos a pagar. Desde que os Sábios de Sião sejam os culpados.
É desnecessário e inútil dizer o quanto esse convite à orgia semântica dos Protocolos dos Sábios de Sião é depravado e perigoso. É desnecessário porque na mídia das oito famílias abundam declarações com documentos e atas das reuniões dos Sábios que conspiram para prejudicar as pessoas de bem deste país. E é inútil porque parte do PT aceitou esse convidado indecente, o adão de antes da maçã, para juiz da Política. Então, não é útil, aqui, lembrar que não adianta denunciar a mídia das 8 famílias, nem lembrar que houve, sim (mesmo que seja verdade), um gigantesco e brutal saque do erário no processo de privatização. Não se combate a criação de monstros com uma briga de arquibancada. Na melhor das hipóteses, a briga contra o tal do PIG enche o saco de quem pensa e quer saber o que diabos está acontecendo, até mesmo quando não se tem mais muita esperança de que se vai, afinal, ter alguma ideia do que realmente ocorreu com aquela licitação ou com aquela fraude declarada numa manchete daquele panfleto com papel jornal.
A história dos Protocolos dos Sábios de Sião não parece nem próxima do fim, mas isso não implica que o seu uso seja ou deva ser triunfante. Porque a única vitória dessa irracionalidade é a destruição e o empobrecimento, a morte e a barbárie. No início dos anos 2000, o Rio Grande do Sul foi sequestrado pelos profetas que denunciavam uma grande conspiração petista para destruir a propriedade, os valores das famílias de bem e as mentes das criancinhas. O que aconteceu aqui não se compara à tragédia argentina nem ao horror alemão e nem mesmo ao stalinismo, obviamente.
Mas é um bom exemplo de um estado que, “livre dos Sábios de Sião”, empobreceu, destruiu suas escolas, sucateou os serviços públicos, empobreceu no campo e dilacerou-se nas cidades, com o aumento da violência e do tráfico. É um exemplo de emburrecimento midiático, de estupidez cultural, de indigência literária, de depauperamento geral.
Não dá para dizer quem é o Nikolau II da vez, no Brasil. Quem está exatamente frágil e quem se sente ameaçado, porque a confusão não é pouca e porque o governo não parece estar contribuindo muito para elucidar o estado do que é racional e do que não pode sê-lo. Mas dá para dizer, e se deve dizer, que essa imbecilidade dos balaios de crenças contraditórias e incompatíveis deve ser combatida.
Aqui, na Carta Maior, essa farsa não tem vez.

Agora que o bando ao serviço da CIA assassinou Kadafi, que país se seguirá à Líbia?


Paul Craig Roberts
Paul Craig Roberts 
Com a Líbia conquistada, o AFRICOM arrancará para os outros países africanos em que a China tem investimentos em energia e mineração. Washington ressuscitou o Jogo da Superpotência e está a competir com a China. Mas enquanto a China faz investimentos e ofertas de infra-estrutura à África, Washington envia tropas, bombas e bases militares. Mais cedo ou mais tarde a agressividade de Washington em relação à China e à Rússia irá explodir nas nossas caras.


Se os planos de Washington tiverem êxito, a Líbia tornar-se-á mais um estado fantoche americano. A maior parte das cidades e infra-estruturas foi destruída por ataques das forças aéreas dos EUA e dos seus fantoches da NATO. Firmas dos EUA e europeias agora obterão contratos sumarentos, financiados pelos contribuintes estado-unidenses, para reconstruir a Líbia. O novo parque imobiliário será cuidadosamente concedido a uma nova classe dirigente escolhida por Washington. Isto colocará a Líbia firmemente sob a pata de Washington.
Com a Líbia conquistada, o AFRICOM arrancará para os outros países africanos em que a China tem investimentos em energia e mineração. Obama já enviou tropas americanas para a África Central sob o pretexto de derrotar o Exército da Resistência de Deus, uma pequena insurgência contra o ditador vitalício. O porta-voz republicano da Câmara, John Boehner, saudou a perspectiva de mais uma guerra ao declarar que o envio de tropas dos EUA para a África Central “promove os interesses estado-unidenses de segurança nacional e a sua política externa”. O senador republicano James Inhofe acrescentou uns litros de palração acerca de salvar “crianças ugandesas”, uma preocupação que o senador não tem para com crianças da Líbia ou da Palestina, do Iraque, do Afeganistão e do Paquistão.
Washington ressuscitou o Jogo da Superpotência e está a competir com a China. Mas enquanto a China faz investimentos e ofertas de infra-estrutura à África, Washington envia tropas, bombas e bases militares. Mais cedo ou mais tarde a agressividade de Washington em relação à China e à Rússia irá explodir nas nossas caras.
De onde está a vir o dinheiro para financiar o Império Africano de Washington? Não do petróleo líbio. Grandes porções do mesmo foram prometidas aos franceses e britânicos por lhe proporcionarem cobertura a esta última guerra aberta de agressão. Não de receitas fiscais de uma economia estado-unidense em colapso onde o desemprego, se medido correctamente, é de 23 por cento.
Como o défice do orçamento anual de Washington tão enorme como é, o dinheiro só pode vir das máquinas de impressão.
Washington já fez as máquinas de impressão trabalharem o suficiente para elevar o índice de preços no consumidor para todos os consumidores urbanos (CPI-U) a 3,9% ao ano (até o fim de Setembro), o índice de preços no consumidor para assalariados e empregados administrativos (CPI-W) a 4,4% ao ano e o índice de preço no produtor (PPI) a 6,9% ao ano.
Como mostra o estatístico John Williams ( shadowstats.com ), as medidas oficiais de inflação são manipuladas a fim de manter baixos os ajustamentos de custo de vista para os que recebem da Segurança Social, portanto poupando dinheiro para as guerras de Washington. Quando medida correctamente, a presente taxa de inflação nos EUA é de 11,5%.
Que taxa de juro podem obter os poupadores sem assumir riscos maciços com títulos gregos? Os bancos dos EUA pagam menos do que meio por cento nos depósitos de poupança assegurados pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation). Títulos a curto prazo do governo dos EUA pagam essencialmente zero.
Portanto, de acordo com estatísticas oficiais do governo estado-unidense, os poupadores americanos estão a perder anualmente entre 3,9% e 4,4% do seu capital. Segundo a estimativa de John Williams da taxa real de inflação, os poupadores dos EUA estão a perder 11,5% das suas poupanças acumuladas.
Quando americanos reformados não recebem juros sobre as suas poupanças, eles têm de gastar o seu capital. A capacidade de mesmo os mais prudentes reformados sobreviverem com as taxas de juro negativas que estão a receber e a erosão pela inflação de quaisquer pensões que recebam chegará a um fim uma vez que os seus activos acumulados sejam exauridos.
Excepto para os mega-ricos protegidos de Washington, o um por cento que capturou todos os ganhos de rendimento dos últimos anos, o resto da América foi remetido para o caixote do lixo. Nada, o que quer que seja, foi feito para eles desde o golpe da crise financeira de Dezembro de 2007. Bush e Obama, republicanos e democratas, centraram-se em salvar o 1 por cento enquanto faziam um manguito para os 99 por cento.
Finalmente, alguns americanos, embora não os suficientes, entenderam o “patriotismo” do desfraldar a bandeira que os remeteu para o caixote do lixo da história. Eles não vão afundar sem um combate e estão nas ruas. O Occupy Wall Street propaga-se. Qual será o destino deste movimento?
Será que a neve e o gelo do tempo frio acabará os protestos, ou os remeterá para dentro de edifícios públicos? Quanto tempo as autoridades locais, subservientes a Washington como são, toleram o sinal óbvio de que falta à população qualquer confiança que seja no governo?
Se os protestos perdurarem, especialmente se crescerem e não declinarem, as autoridades infiltrarão os manifestantes com provocadores da polícia que dispararão sobre a polícia. Isto será a desculpa para abaterem os manifestantes e prenderem os sobreviventes como “terroristas” ou “extremistas internos” e enviá-los para os campos de 385 milhões de dólares construídos por contrato do governo dos EUA pela Halliburton de Cheney.
A SEGUIR AO ESTADO POLICIAL AMERIKANO
O Estado Policial Amerikano terá dado seu passo seguinte para o Estado de Campo de Concentração Amerikano.
Enquanto isso, perdidos na sua inconsciência, conservadores continuarão a resmungar acerca da ruína do país devido ao casamento homossexual, ao aborto e aos media “liberais”. Organizações liberais comprometidas com a liberdade civil, tais como a ACLU, continuarão a equiparar o direito da mulher a um aborto com a defesa da Constituição dos EUA. A Amnistia Internacional apoiará Washington demonizando o seu próximo alvo de ataque militar enquanto fecha os olhos aos crimes de guerra do presidente Obama.
Quando consideramos que Israel, sob a protecção de Washington, tem escapado impune – apesar de crimes de guerra, assassinatos de crianças, a expulsão em total desrespeito do direito internacional de palestinos da sua terra ancestral, do arrasamento das suas casas com bulldozers e do arrancamento dos seus olivais a fim de entregar terras a “colonos” fanáticos – podemos apenas concluir que Washington, o viabilizador de Israel, pode ir muito mais longe.
Nestes poucos anos de abertura do século XXI, Washington destruiu a Constituição dos Estados Unidos, a separação de poderes, o direito internacional, a responsabilidade do governo e sacrificou todo princípio moral a fim de alcançar hegemonia no mundo todo. Esta agenda ambiciosa está a ser empreendida enquanto simultaneamente Washington removeu toda regulamentação sobre a Wall Street, o lar da cobiça maciça, permitindo ao horizonte de curto prazo da Wall Street arruinar a economia dos EUA, destruindo portanto a base económica para o assalto de Washington ao mundo.
Será que os EUA entrarão em colapso, num caos económico, antes de dominarem o mundo?

O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=27205
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

sábado, 29 de outubro de 2011

Notícias da Antiguidade Ideológica - Marx, Eisenstein, O Capital

extraído do MAKINGOFF por rpessoa
(Nachrichten aus der ideologischen Antike - Marx, Eisenstein, Das Kapital)
Nachrichten aus der ideologischen Antike - Marx – Eisenstein – Das Kapital
Poster
Sinopse
Filme baseado no projeto inacabado do diretor russo Sergei Eisenstein de filmar O Capital, de Karl Marx, a partir da estrutura literária de Ulisses, de James Joyce. Realizado em 2008, no auge da crise financeira mundial, Notícias é uma obra que reflete sobre a atualidade do pensamento de Marx na sociedade capitalista contemporânea.
Screenshots




Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Galina Antoschewskaja, Claudia Buckler, Oksana Bulgakowa, Jan Czajkowski, Dietmar Dath, Hans Magnus Enzensberger, Agnes Ganseforth, Boris Groys, Durs Grünbein, Ute Hannig, Johannes Harneit, Hannelore Hoger, Rudolf Kersting, Sophie Kluge, Felix Kramer, Charlotte Müller, Oskar Negt, Thomas Nichans, Heather O’Donnell, Gabriel Raab, Lucy Redler, Irmela Roelcke, Sophie Rois, Helge Schneider, Werner Schroeter, Peter Sloterdijk, Rainer Stollmann, Andreas Tobias, Joseph Vogt, Samuel Weiss, Stephanie WüstGênero: Documentário
Diretor: Alexander Kluge
Duração: 570 minutos
Ano de Lançamento: 2008
País de Origem: Alemanha
Idioma do Áudio: Alemão
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1423964/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1301 Kbps
Áudio Codec: AC3
Áudio Bitrate: 224 Kbps
Resolução: 640 x 496
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 6,12 Gb
Legendas: No torrent e em anexo
Sumário


Sumário das 3 partes

I. Marx e Eisenstein na mesma casa
Uma aproximação àquilo que Eisenstein planejava e ao tom dos textos de Marx como ecos de um tempo distante


1. Dos cadernos de trabalho de Eisenstein, com Heather O’Donnell (piano), Irmela Roelcke (piano), Hannelore Hoger (narradora), Charlotte Müller, Thomas Niehans (15’07”); 2. Projetos 1927 – 1929, com a biógrafa de Eisenstein, Oskana Bulgakowa, Saudade da infância dos pensamentos. Como soam os textos de Marx no ano de 2008?; 3. Três textos do Capital e dos Grundrisse (2’30”); 4. deve/é. Linha de montagem ainda com muitos vivos (1’30”); 5. Paisagem com indústria pesada clássica Música: Maeror Tri, “The Revenger”, do disco Multiple Personality Disorder (Korm Plastics1993) (1’40”); 6. O livro das forças essenciais humanas, com Sir Henry; música: Guiseppe Verdi, Rigoletto (2’10”); 7. “Um homem é o espelho do outro”, com Sophie Rois (narradora) e Jan Czaikowski (piano); música: Vincenzo Bellini, Norma (2’00”); 8. O lamento da mercadoria não comprada (3’18”); 9. Máquinas abandonadas pelos homens (2’11”); 10. O habitante do cosmos (3’26”); 11. “Magia da Antiguidade”, com Sophie Rois (narradora) e Jan Czaikowski (piano); música: Vincenzo Bellini, Norma (1’22”); 12. “Tornar líquido” (3’08”); 13. “Poder soviético e eletrificação” ou Duas agentes da Stasi se preparam para sua missão (6’45”); 14.O latim de Marx ou preparação para o exame para a escola de suboficial no exército popular (9’13”); 15. “Foram tempos desconfortáveis”, Hans Magnus Enzensberger sobre seu ano de nascimento 1929 (23’); 16. A sexta-feira negra (25 de outubro de 1929): O Capital refuta a si mesmo (4’49”); 17. A sobrinha-neta da intérprete de Lênin: “A formação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a história do mundo.”, com Galina Antoschewskaja (23’01”); 18. “O capital pode dizer “eu”?, com Dietmar Dath (45’00”); 19. Amor mais duro do que cimento, com Sophie Rois (15’00”); 20. O renascimento do Tristão no espírito do Encouraçado Potemkin, com Werner Schroeter (12’)


II. Todas as coisas são pessoas enfeitiçadas
Sobre o assim chamado fetiche da mercadoria e a ressonância de revoluções passadas


1. O homem na coisa, um filme de Tom Tykwer (12’); 2. Tocha da liberdade (7’25”); 3. O monumento e o verdadeiro túmulo (4’58”); 4. “Todas as coisas são pessoas enfeitiçadas”, Peter Sloterdijk sobre as metamorfoses da mais-valia (46’30”); 5. Gravação em aúdio de uma luta trabalhista que não existe mais (10’10”); 6. Canção do Krans Milchsack nº4 (2’14”); 7. O que significa falhar alegremente na sociedade do risco?, com Oskar Negt (4’50”); 8. Breve história da burguesia, por Hans Magnus Enzensberger (3’13”); 9. Revoluções são locomotivas da história, com Oskar Negt (4’15”); 10. A razão é uma tocha. Um artigo de Condorcet da Enciclopédia (1’48”); 11. Demanda de tempo da revolução. Um episódio da Revolução Francesa (1’50”); 12. Despedida da revolução, com Peter Konwitschny, Martin Kusej e Martin Harneit; trecho de Luigi Nono, Al gran sole carico d’amore (Sob o grande sol cheio de amor), Azione scenica de Luigi Nono; com um comentário de Joseph Vogls sobre a questão: “O que é um revolucionário?” (8’02”); 13. “Guerra antes do que a paz”, Texto da introdução aos Grundrisse. Com Sophie Kluge und Gabriel Raab (1’40”)


Extras da parte II

1. Manifestos da imortalidade, Boris Groys sobre utopias biopolíticas na Rússia – antes e depois de 1917 (15’); 2. Rosa Luxemburgo e o chanceler do Império (8’); 3. “Eu acredito em solidariedade!”, Lucy Redler sobre greve política e resistência social (15’); 4. Rainha vapor, imperatriz eletricidade, de Rudolf Kersting e Agnes Ganseforth (6’); 5. O que significa subjetivo-objetivo?, com Joseph Vogl (12’49”); 6. O trabalhador total diante de Verdun, com Helge Schneider (17’)


III. Paradoxos da sociedade de troca
Sobre a presença geral da troca e a chance de responder a isso de modo multimidiático

1. A teoria do ataque relâmpago de Karl Korsch (2’18”); 2. Navios na neblina, com Sophie Kluge e Gabriel Raab (0’46”); 3. A Concierge de Paris, com Ute Hannig (2’01”); 4. Sobre a gênese da burrice, de “Dialética do Esclarecimento” de Max Horkheimer e Theodor W. Adorno (6’32”); 5. Maquinista Hopkins, Ópera industrial de Max Brand do ano de 1929 (10’10”); 6. O primeiro Marx e o Marx tardio (3’36”); 7. O hexâmetro de Brecht sobre o Manifesto Comunista, com Durs Grünbein (21’30”); 8. Despedida da revolução industrial: Poderiam os russos ter comprado o capital? Um episódio por ocasião da quebra da bolsa de 1929 (11’); 9. Como se lê no Capital?, com Oskar Negt (segundo Karl Korsch) (32’30”); 10. “Quanto sangue e horror está sobre o solo de todas as ‘boas coisas’!” (4’9”); 11. Impregnação violenta da troca (3’); 12. “Eu nunca vi dois cachorros trocarem um osso”, Rainer Stollmann sobre o valor de troca (18’17”); 13. Robinsonistas socialistas de 1942 (16’); 14. Palavras-chave: “ideologia”, “alienação”, “vitalidade das coisas?”, “Existe um direito humano das coisas?”, com Joseph Vogl (28’); 15. A grande cabeça de Chemnitz (3’); 16. “Quem tiver a melhor música será o filme principal”, com Helge Schneider como Atze Mückert, como ator de Marx e como compositor do filme de Eisenstein (34’)

Prefácio


Prefácio

Podemos aproximar-nos do projeto de Eisenstein de modo imparcial por vários motivos: ele nos escapou; sob massas de entulho histórico pode-se, de certo modo, desenterrar:

1. um plano do filme, surgido em 1927 e alcançando seu auge em 1929;
2. o livro de Marx (rodeado de fragmentos, excertos e planos).

Além disso, outros dois pontos de partida já são passado para nós: a possibilidade de uma revolução europeia parece ter desvanecido; com isso também a confiança num processo histórico que pode ser moldado diretamente pela consciência das pessoas. Por esse desaparecimento cessou a agitação, a pressa que determinou a publicação da segunda edição de O Capital no ano de 1872 (o ano de nascimento de minha avó) e o “caótico ano de 1929” (o ano de nascimento de Hans Magnus Enzensberger e de Jürgen Habermas). Podemos nos confrontar com os pensamentos estranhos de Marx e com o esquisito projeto de Eisenstein como num jardim, porque representam notícias da antiguidade ideológica. Podemos nos confrontar de modo tão imparcial como tratamos da Antiguidade, que abrange os melhores textos da humanidade.

Não precisamos declarar nada de novo, julgar nada de modo conclusivo, podemos mudar pouco e não precisamos imitar nada da realização de Marx e Eisenstein. Isso pode ser considerado como despedida ou como começo.

Quando Marx nasceu em maio de 1818 (cinco anos após Richard Wagner), na Inglaterra ainda havia trabalho infantil e tráfico de escravos. Em novembro de 1918, após o fim da primeira guerra que desolou o século XX, Marx tem cem anos e meio. No ano de 1943 ele tem 125 anos – tráfico de escravos e trabalho infantil foram abolidos, no entanto temos deportação e Auschwitz.

Os instrumentos analíticos de Marx não estão ultrapassados.

Também a abordagem de Sergej Eisenstein me interessa muito. Esse diretor, audacioso e teimoso, não somente quis “cinematizar” O Capital, senão derrubar toda a arte cinematográfica e construí-la novamente. Suas propostas sobre “constelações visuais”, sua continuação da montagem (para além do que alcançara em seus próprios filmes), a inclusão de escritos e pensamentos, as sequências seriais e o tratamento com entretons e harmônicos, em suma: a modernidade de Eisenstein é útil para todos os temas do nosso tempo, não apenas para a filmagem do Capital.

Alexander Kluge

Textos
Notícias da Antiguidade ideológica Marx – Eisenstein – O Capital
Apresentação do filme por Alexander Kluge

Notas para um filme de O Capital
Por Sergei Eisentein

Percursos subterrâneos do Capital: uma entrevista com Alexander Kluge
Por Gertrud Koch

"Todas as coisas são pessoas enfeitiçadas" – anotações sobre Notícias da Antiguidade Ideológica de Alexander Kluge
por Christian Schulte

Marx and Montage
Por Fredric Jameson
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.


As legendas para os trechos falados foram extraídas do DVD lançado no Brasil pela Versátil em parceria com o Goethe Institut, o Instituto de Tecnologia Social e o SESC-SP, revisadas e sincronizadas para o release ripado do DVD da filmedition suhrkamp. As legendas para os letreiros foram criadas por mim utilizando, com poucas modificações, a tradução muito boa feita para o DVD da Versátil. A Versátil, infelizmente, optou por traduzir os letreiros diretamente na tela, e não na legenda, o que impede o acesso ao texto original do filme. Este release postado tem os letreiros originais em alemão. A legenda dos letreiros acabou ficando com algumas entradas um pouco longas, mas foi o jeito que houve para encaixar nessas entradas a quantidade de texto que estava na tela e sendo falado ao mesmo tempo. De qualquer forma, são poucas perto do total.


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Jornalistas de Rebelión e Democracy Now! divergem sobre potencial das novas mídias

O espanhol Pascual Serrano, um dos criadores do site Rebelión, diz que movimentos que derrubaram ditadores em países árabes e seriam baseados em grupos online mudaram pouco a realidade desses países. Já Andrés Thomas Conteris, fundador do serviço em espanhol do site Democracy Now!, defende a força de movimentos como o Occupy Wall Street.


Foz do Iguaçu - É comum ouvir análises sobre a importância da internet e das redes sociais no sucesso de eventos políticos recentes, como a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, e as revoltas da primavera árabe que derrubaram ditadores na Tunísia e no Egito.

Ainda que reconheça o papel democratizador da rede global, o jornalista espanhol Pascual Serrano, um dos criadores do site Rebelión, contém seu entusiasmo. "As revoluções das redes sociais não mudaram nada nos Estados Unidos e nem nos países árabes", disse ele, com certa ironia, ao participar do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, nesta sexta-feira (28). "É aquela história de mudar um pouco para não mudar nada no final", criticou.

O argumento de Serrano é que as novas mídias não são capazes de tratar de assuntos relevantes com profundidade e sem fragmentá-los. Seria o caso do twiter, com seus textos telegráficos, e do youtube, cujos vídeos têm entre três e quatro minutos, os quais perigosamente cruzariam a fronteira entre a informação e o entretenimento. "Há um caráter primário de política em tudo isso", afirmou.

O jornalista espanhol lembrou ainda que as redes sociais estão sob controle de grandes empresas, em geral norte-americanas, que podem fazer uso - e o fazem - da censura para retirar conteúdos políticos que julguem inapropriados. "A possiblidade de intoxicação e manipulação nas redes sociais é muito grande", apontou Serrano, que, no entanto, disse que é possível mudar o rumo dessa história.

Para isso, ele defendeu que as novas mídias adotem "rigor e verdade" como seus valores, denunciem o modelo de oligopólio que predomina no setor da comunicação mundial e invistam em uma nova geração de jornalistas com valores humanísticos. "Precisamos incorporar algumas coisas mesmo que não gostemos delas, porque os novos cenários de comunicação não estarão livres de controle", concluiu.

Contraponto
 
O jornalista Andrés Thomas Conteris, fundador do serviço em espanhol do site Democracy Now!, faz uma avaliação mais positiva sobre o potencial transformador das novas mídias. Segundo ele, que nasceu nos Estados Unidos e possui ascendência uruguaia, veículos alternativos como o Democracy Now! têm colaborado diretamente com movimentos alternativos anti-sistêmicos, do Cairo a Washington.

O exemplo mais recente seria o Occupy Wall Street, através do qual norte-americanos têm ocupado as ruas de várias cidades norte-americanas para protestar contra o sistema financeiro. Através da cobertura alternativa e das mídias sociais, esse movimento, que tem seu DNA nos jovens que tomaram a praça Tahir, no Egito, vem sendo copiado em diversos países do mundo, como Brasil e Alemanha.

Conteris destaca algumas qualidades que têm garantido o sucesso do Occupy Wall Street e suas variantes: há transparência nas ações; há independência de partidos, governos, empresas e corporações; a democracia participativa é exercida através de assembléias gerais; as ocupações são intensas e sem prazo para terminar; há horizontalidade, ou seja, não há chefes e hierarquia; e a visão política possui um caráter global.

"O povo está desempregado e perdeu sua casa, após as fraudes nos bancos. O que o movimento diz é que somos 99% e eles são só 1%, mas, ainda assim, estão no comando do sistema financeiro e são cúmplices dos crimes cometidos. Nós precisamos mudar isso", afirmou o jornalista.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Kirchnerismo, e seu modelo econômico regressivo, emerge como consenso político

291011_Correio da Cidadania - [Julio C. Gambina] Os resultados eleitorais de outubro para a sucessão presidencial assinalam um claro triunfo do oficialismo, liderado por Cristina Fernández de Kirchner (CFK), que obteve 54% da votação (quadro 1), quase 12 milhões de apoios, sobre 28.860.000 (quadro 2), (1), com baixo absenteísmo, apenas 21%, registrando participação de 79% do colégio eleitoral, dentre os quais houve escassos votos em branco, nulos ou recorridos/impugnados – 4%.

A vitória do atual governo inclui as maiorias necessárias no Parlamento, seja na Câmara de Deputados e Senadores, que com legisladores próprios e aliados poderá funcionar com quorum suficiente para as funções legislativas. Só em uma Província não se registrou vitória da base governista (San Luis), e na partilha de governos (por eleições prévias) só não tem em mãos a Cidade de Buenos Aires e as Províncias de Santa Fé, Corrientes e San Luis. A porcentagem obtida é a maior na saga eleitoral desde 1983, o período mais longo de vigência institucional na história da Argentina, superando os 45% que elegeram CFK para seu primeiro mandato em 2007. Raul Alfonsín teve 51,75% em 1983, Carlos Menem 47,49% e 49,98% em 1989 e 1995, respectivamente; Fernando de la Rua alcançou 48,37% em 1999; em 2003, Nestor Kirchner teve 22,24%.
As últimas duas gestões podem ser consideradas parte de um mesmo ciclo, o "kirchnerismo", que terá a partir de agora um terceiro mandato, que alguns poderão definir por "cristinismo". Serão doze anos de um mesmo ciclo político. Cristina é a primeira mulher a alcançar a presidência da nação por votação popular (Maria Estela Martinez assumiu a presidência pelo seu cargo de vice-presidente e a morte de Juan Domingo Perón, em 1974) e também a primeira mulher reeleita para a função.
Os outros resultados são: para a Frente Ampla Progressista (FAP), 16,87%, liderada pelo governador santafesino e socialista Hermes Binner (encabeçaram as listas de deputados da cidade e Província de Buenos Aires dois nomes históricos da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), Claudio Lozano e Victor de Gennaro); já a União para o Desenvolvimento Social, obteve 11,5%, em cuja cabeça estava Ricardo Alfonsín (filho do ex-presidente) e o tradicional Partido Radical (UCR); por sua vez, o Compromisso Federal alcançou 7,98%, liderado pelo governador peronista de San Luis, Alberto Rodriguez Saá (irmão de Adolfo, o ex-presidente por seis dias em dezembro de 2001, declarou a moratória da dívida externa pública de 100 milhões de dólares); já a Frente Popular, recebeu 5,89%, cujo candidato, Eduardo Duhalde, foi presidente entre 2002 e 2003 e vice do governo Menem em 1989; a Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT), uma coalizão de partidos trotskistas liderada por Jorge Altamira, ficou com 2,31%; por fim, a Coalizão Cívica teve 1,84%, encabeçada pela deputada Elisa Carrió (tinha sido segunda, atrás de CFK, em 2007).
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O peso da economia no consenso eleitoral

Não se pode analisar o resultado eleitoral sem considerar o ciclo de 10 anos transcorridos entre a crise de 2001 e o presente. A Argentina vinha de uma larga recessão de cinco anos, entre 1998 e 2002, com uma resistência crescente que nos levantes de fins de 2001 obrigou a renúncia do governo, e após sucessivas administrações emergiu com apenas 22% o governo de Nestor Kirchner, que de sua debilidade original construiu uma estratégia de poder e consenso eleitoral que se manifesta nestes consagradores resultados de CFK. São resultados que seguem demonstrando a crise e a renovação do cenário político argentino.
Desde meados de 2002, o país iniciou uma etapa de crescimento econômico, só diminuída durante 2009, ano de recessão da economia mundial. Os índices sociais melhoraram desde então, mas estruturalmente não alcançaram os níveis históricos de décadas anteriores. As fontes oficiais reconhecem um desemprego atual de 7,3% (2), contra 21,5% de 2002, sendo menor o registro do começo dos anos 90 e abaixo dos 6% de anos prévios. A realidade é que durante o kirchnerismo houve crescimento da economia e do emprego, mantendo elevado o caráter precário dos postos de trabalho, superior a 30% do total da força laboral.
A evolução econômica, com superávit comercial e fiscal facilitou uma política social massiva que aumentou a população idosa com acesso à pensão e aposentadoria, tanto como a assistência social a menores, filhos e desempregados. O crescimento remete principalmente à primarização econômica produtiva e exportadora do país, sendo evidente pela extensão da fronteira agrícola da soja, que ocupa mais da metade do território agrícola semeado e multiplica por 3 ou 4 vezes as colheitas tradicionais de milho e trigo. A Argentina e os países do Mercosul, junto aos EUA, são os principais produtores e exportadores de soja. Junto a isso, o país potencializou nestes anos, por meio da mega-mineração a céu aberto, seu caráter de produtor e exportador de minerais, especialmente o ouro. Em matéria industrial sobressai a indústria automotiva, com recordes anuais de produção, prevendo um total de 850.000 veículos para 2011. Dessa produção, mais de 70% se exporta e o componente de autopeças nacionais é o mais baixo da história da produção automotiva argentina.
Nos anos do kirchnerismo, se processa o crescimento econômico local, fortemente concentrado e estrangeirizado, tal como expressa a Enquete Nacional de Grandes Empresas (ENGE), realizada anualmente pelo INDEC (Instituto Nacional de Estadísticas e Censos), no segmento dos 500 grupos da elite empresarial do país (excluindo o agronegócio e os bancos). Tal evolução econômica recente teve origem em duas medidas prévias. Uma é a suspensão dos pagamentos de 2001, que liberou parte dos compromissos de cancelamento da dívida até a renovação derivada da troca da dívida pública de 2005 a 2010, que incluíram duas décadas de "graça" à anulação do capital "principal". A outra é a desvalorização da moeda, que agravou as condições de penúria da maioria da população, especialmente os trabalhadores e setores de menor renda, que neste ato e por um tempo transferiram recursos ao setor mais concentrado. É certo que a reativação econômica e do emprego criou melhores condições para a disputa da renda popular, o que se viu refletido na expansão das negociações salariais e convenções coletivas.
Sem dúvida, a situação econômica e a sensação relativa a ela explicam o consenso eleitoral do governo de Cristina Kirchner. A ampliação do consumo se expressa no poder aquisitivo dos setores de alta e média renda, assim como na faixa que dispõe de menores recursos. Não houve outra opção econômica na consideração da maioria dos votantes.

Iniciativa política de CFK

Além da economia, a política oferece sinais interessantes. Durante 2008, o governo de Cristina foi atacado pelos setores mais monopolistas do agronegócio, aos quais se uniram as vozes de outros âmbitos das classes dominantes e a direita política. Essa situação interveio na derrota eleitoral de meio tempo do governo (2009). Desde então e especialmente com a morte de Nestor Kirchner (outubro de 2010), a iniciativa política do governo favoreceu a disputa do consenso. Destaca-se nesse sentido a nacionalização do sistema de capitalização de pensões e aposentadorias; a massividade do Auxílio Universal por Filhos de desempregados (abarcará quase 4 milhões de pessoas em 2012); e o casamento igualitário, entre outras medidas de importante aceitação social.
A estes argumentos deve se adicionar o "capital simbólico" construído pelo governo, tanto no âmbito dos direitos humanos e ao se assumir "herdeiro" das Mães da Praça de Maio, como no latino-americanismo esgrimido contra a ALCA e na posterior configuração da Unasul. São elementos que enriquecem a compreensão do consenso gerado e contribuem para explicar o alto percentual de votação.
A oposição de direita não conseguiu capitalizar o triunfo eleitoral de 2009 e correu atrás da iniciativa governamental para ficar sem jogo na eleição de 2011, a ponto de o segundo grupo mais votado, a FAP, se assume no "centro-esquerda" das opções políticas. A principal referência da direita partidária, o prefeito da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, aspira canalizar desde já a liderança de tal espaço político no processo que se inicia com o segundo mandato de CFK. Essas eleições deixaram vaga a liderança da direita tradicional e que está fora do governo. Ao mesmo tempo, posicionaram uma força expectante de centro-esquerda, a FAP, que mesmo muito longe da votação da Frente para a Vitória (cerca de 36% menos) emerge com um coletivo parlamentar e certa capacidade de organizar setores sociais, especialmente trabalhadores da CTA. Uma menção especial merece a esquerda trotskista (FIT), que ainda longe de obter representação conseguiu vencer seu caráter testemunhal e se fazer visível com uma campanha que a aproximou da sociedade. Os grandes perdedores dessas eleições são os setores tradicionais do peronismo e do radicalismo.
O quadro político descrito, incluída a vultosa votação de CFK, é parte do que denominamos "crise política" e buscas por novas representações. O kirchnerismo se construiu a partir da fragilidade, confirmou liderança sucedendo-se em 2007 com Cristina e após a derrota eleitoral de 2009 reconstruiu o consenso eleitoral para 2011. Em nossa formulação, a disputa do consenso segue aberta, especialmente a partir do protesto e conflito social. A partir de um ponto de vista geral, pode se considerar a continuidade da crise do regime político na Argentina. Apesar do peronismo ter vencido, desta vez foi com a identidade da Frente para a Vitória (CFK), apoiada pela burocracia política e sindical do peronismo (PJ e CGT) e nos aliados de centro-esquerda (Novo Encontro, a CTA sob interferência do Ministério do Trabalho e outros).
Resta analisar se esse lastro eleitoral afirma a tradição peronista ou muda para se consolidar como kirchnerismo, ou cristinismo. Fica claro que o bipartidarismo, peronista e radical, voltou a sofrer outro golpe, ainda que exista história de ressurgimentos anteriores. O peronismo e o radicalismo seguem sendo as principais forças de governos provinciais, municipais e nos espaços legislativos, mas em processo estrutural de crise. A esquerda se apresenta em três variantes, dentro do governo, com a FAT, o FIT e ainda a Frente do Sul, com capacidade de atuar no movimento popular, em sua organização e mobilização, restando aprofundamento em sua capacidade de construir poder próprio na conjuntura política e mais além.

Escenarios posibles a futuro

A eleição de Cristina para um novo período não era uma novidade desde a realização das eleições primárias em agosto passado, na qual obteve 50% dos votos. As incógnitas vêm da evolução da crise capitalista mundial e seu impacto na situação da economia, o que gera incerteza sobre o rumo, seja pela menor demanda de compradores em recessão, por redução dos preços internacionais das exportações da Argentina ou pelas pressões sobre o preço da divisa. Situações, todas, que já impactam na diminuição das reservas internacionais.
Na realidade, ninguém espera grandes mudanças na política econômica, mas existem inquietudes sobre a disputa pela renda e a riqueza, podendo implicar em matéria de conflito social. A carestia de vida empurra a reivindicações de melhorias da renda popular que contrastam com a expectativa patronal de manter a taxa de lucro e com o propósito mediador do governo em reduzir a pressão por aumento de salários. As orientações de governo se enfocam em um melhor diálogo com uma cúpula empresarial, diante da qual se apresentaram recentemente dois diferentes planos estratégicos, para o agronegócio e a indústria, até 2020. Em ambos instrumentos, como no Orçamento de 2012, se ratifica o modelo produtivo assentado no monocultivo, na megamineração a céu aberto e uma indústria de montagem de peças de baixo valor.
Uma das interrogações é a perspectiva do que foi manifestado pela FAP. Não é a primeira vez que surge uma força política por fora do bipartidarismo tradicional. Foi assim o Partido Intransigente nos anos 80, a Frente Grande nos 90, e em ambos os casos foram absorvidos, o primeiro pela hegemonia do PJ, o segundo pela UCR. A chave estará na capacidade de construir autonomia a partir da organização e mobilização popular, proposta que inclui setores e dirigentes da CTA envolvidos no projeto. É uma perspectiva que se processa na ampliação das alianças até o conjunto da esquerda e do movimento nacional e popular pela libertação. Resta avaliar se fica afirmada essa tendência ou uma vontade de inserção institucional que possa culminar com a absorção pela lógica política dominante. O grande desafio da esquerda e do movimento popular está na capacidade de construir alternativa frente à crise da política.

Notas:
1) Os dados oferecidos são oficiais, consultados em 24 de outubro de 2011 e obtidos de http://www.elecciones2011.gov.ar/paginas/paginas/dat99/DPR99999A.htm
2) Instituto Nacional de Estadísticas e Censos, INDEC. Em http://www.indec.mecon.ar/ (consultado em 24/10/2011).
Julio Gambina é doutor em Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, professor titular de Economia Política na Universidade Nacional de Rosário e membro do comitê executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Publicado originalmente em: http://alainet.org/active/50398&lang=es
Tradução: Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania.

Crise econômica neoliberal reaviva pensamento de Marx


Karl Marx, um retorno?

Geraldo Hasse
 
Especial para o Sul21

A atual crise do capitalismo financeiro internacional está reabilitando o pensamento do filósofo Karl Marx, o primeiro pensador econômico a fazer – no século XIX – uma profunda análise crítica do sistema de produção dominante no mundo desde a Revolução Industrial. Esta foi a principal conclusão de um debate realizado nesta quinta (27/10) na Fundação de Economia e Estatística (FEE), em Porto Alegre.
Não poderia ser mais oportuna a ideia da FEE de colocar em debate o tema da mais-valia, a maior sacada de Karl Marx (1818-1883), co-autor do Manifesto Comunista de 1848 e autor de O Capital (1867), que se tornou a bíblia do socialismo, embora seja mais citado do que lido.
A mais-valia é a diferença entre o valor da mercadoria e a soma dos meios empregados em sua produção (da mercadoria). Na prática, é desse “plus” tirado do trabalho de cada operário que o empresário constrói o lucro, chave-mestra da dinâmica capitalista.
Entretanto, como a análise marxista se concentrou no binômio agricultura-indústria, generalizou-se nas últimas décadas a crença de que as teorias de Marx perderam a atualidade, não só porque o comunismo pregado por ele faliu na União Soviética no final do século XX, mas porque a economia vem se concentrando em atividades terciárias, especialmente na área de serviços, onde o resultado do trabalho humano é definido como imaterial.
A dúvida sobre a pertinência da teoria da mais-valia no mundo atual foi respondida sem dificuldades pelo professor Eduardo Maldonado, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS. Falando para uma centena de pessoas, mescla de estudantes e veteranos do ensino e da pesquisa, ele lembrou didaticamente que nos anos 1960, quando o capitalismo atravessava um ciclo de prosperidade que vinha desde o Pós-Guerra, estudantes e trabalhadores quiseram mudar o mundo e ressuscitaram Marx, que se tornou muito mais conhecido do que tinha sido até então.
Em 1970, o economista norte-americano Paul Samuelson (1915-2009) ganhou uma bolsa de um ano para escrever um ensaio sobre Marx. Não teve dúvidas em afirmar que o pensamento do filósofo alemão era inconsistente. E deu um conselho: “Jovens radicais, estudem Leontief e Sraffa!” Referia-se a Wassily Leontief (1905-1999), economista russo que migrou em 1933 para os EUA onde elaborou o conceito da matriz insumo-produto; e Piero Sraffa (1898-1983), economista italiano que editou criticamente a obra do economista clássico inglês David Ricardo (1772-1823).
Nas décadas seguintes, houve uma enxurrada de estudos sobre as teorias de Marx. Um dos mais importantes difusores da obra de Marx foi o economista norte-americano Paul Sweezy (1910-2004), um neomarxista que estudou as mudanças da concorrência provocadas pela monopolização da economia e a supremacia do capital financeiro sobre as demais atividades.
Ao fim de tamanha onda, sobraram duas perguntas básicas. Primeira: teriam a concentração econômica e a mudança do padrão de acumulação de capital furado a teoria de Marx, particularmente quanto à mais-valia? Pergunta 2: os conceitos marxistas não se ajustariam mais, estariam obsoletos diante das profundas mudanças do mundo moderno, especialmente após a proliferação das tecnologias da informação?
Eduardo Maldonado no evento Diálogos para Ação em agosto deste ano | Foto: Fetrafi-RS

A resposta é negativa para as duas perguntas, afirma Maldonado. “Hoje toda a crítica feita recentemente a Marx é considerada errada”, diz ele, salientando porém que a crise do neoliberalismo vem provocando uma curiosa releitura das teorias marxistas.
Na esquerda econômica, predomina a ideia de que é preciso voltar a John Maynard Keynes (1883-1946), o economista inglês que pregava a intervenção do Estado na regulagem dos negócios, particularmente na definição dos investimentos.
Pela direita, representada por veículos como o Financial Times de Londres e The Time de Nova York, alguns articulistas escreveram recentemente que Marx estava certo ao afirmar que o capitalismo constrói a sua própria destruição. Já um executivo da União de Bancos Suíços escreveu um artigo intitulado “Dê Uma Chance a Marx” (“naturalmente, para salvar o capitalismo”, acrescentou Maldonado).
A irracionalidade da atual crise econômica internacional vem gerando episódios que seriam inexplicáveis em outro contexto. Maldonado citou um artigo recente de um jornalista inglês que lembrou a visita a um colega operador de Wall Street. Estavam ambos à beira da piscina tomando um campari quando o amigo afirmou: “Quanto mais estou em Wall Street, mais admiro Marx”.
Frase de efeito, fruto do cinismo ou do álcool? O fato é que o neoliberalismo – um mero apelido do capitalismo, segundo se concluiu em outro debate recente da FEE – colocou a economia mundial numa sinuca que, paradoxalmente, reaviva a chama do pensamento marxista. Por incrível que possa parecer, os economistas modernos encontram em textos de Marx abundantes subsídios para analisar aspectos contemporâneos da vida das empresas, como a terceirização da fabricação de artigos de grandes marcas mundiais que oferecem trabalho sem gerar emprego. “Há dois anos, havia em Bangladesh dois milhões de pessoas trabalhando 14 horas por dia, sete dias por semana”, lembrou Maldonado.
Ao mesmo tempo em que os trabalhadores de diversos países se enquadram em modernos esquemas escravagistas, em países mais adiantados cresce o número de pessoas empenhadas em tarefas analíticas ou simbólicas, que dependem de altos níveis de cooperação e cuja produção é imaterial e/ou intangível. Mesmo aí sobrevive o conceito fundamental da teoria econômica de Marx.
“A produção imaterial não é incompatível com a teoria da mais-valia”, concluiu Maldonado, destacando que a economia política contribuiu muito pouco para a compreensão do capitalismo porque se limitou basicamente a duas coisas: de um lado, a negar Marx; de outro, a reabilitá-lo.
Assim, como comentou no final o sociólogo Carlos Roberto Winkler, pauteiro dos debates da FEE, o marxismo se tornou um espectro que mais uma vez ronda o planeta – agora, via internet –, sem que se saiba onde foi parar ou o que estaria premeditando o proletariado, categoria apontada por Marx como agente-coveiro do capitalismo.
Os debates da FEE, realizados em média quinzenalmente, refletem o desejo dos veteranos, em vias de aposentar-se, de preparar as novas gerações para a análise da conjuntura econômica e de outros ramos da ciência. Na mesa e na platéia costumam misturar-se estudantes, professores e pesquisadores. Fundada em 1973, a FEE deu continuidade ao trabalho estatístico iniciado na primeira década do século XX, mas se firmou como uma instituição rigorosamente crítica.

A nova batalha do WikiLeaks


Como as pressões de Washington e grandes instituições financeiras ameaçam asfixiar o site. De que modo colaborar com ele 

Por A. Srivathsan, no The Hindu | Tradução: Daniela Frabasile

Nos últimos quatro anos, o Wikileaks expôs diversos fatos desconhecidos e práticas anti-éticas como nunca antes. Ao combinar o espírito ético de hackers que procuram informações de graça com o desejo de aumentar a transparência publicando informações que os leitores deveriam conhecer, a organização mudou as regras do jogo para os jornais. Introduziu uma nova mentalidade entre os jornalistas, editores e professores e alunos de jornalismo no mundo inteiro. A questão agora é se a organização liderada por Julian Assange, indicado para o Nobel da Paz em 2011, conseguirá continuar com seu trabalho com espírito público – ou se irá ser derrubado por um bloqueio financeiro sem precedentes.
No último ano, desde que o Bank of America, VISA, MasterCard, PayPal e Western Union pararam de processar transações financeiras envolvendo o WikiLeaks, essa organização midiática sem fins lucrativos perdeu dezenas de millhões de dólares em doações. O bloqueio financeiro privou-a de 95% de suas receitas e forçou a queda das suas reservas.
A resposta é uma campanha de arrecadação de fundos, iniciada em 24 de outubro, com o nome de “WikiLeaks Needs You” [o WikiLeaks precisa de você]. Por meio de anúncios em jornais e em sites, apela aos apoiadores ao redor do mundo buscando doações. O bloqueio financeiro dificultou a contribuição. Apesar da possibilidade de transferência bancária ou de contribuições por cheques, taiss doações têm grandes custos de transferência, o que resulta em perda de receita.
O WikiLeaks agora conta com maneiras alternativas de transferência de fundos e divulgou os detalhes no website. Espera que as medidas opressoras de adversários poderosos sejam contornadas, e que se veja livre para retomar o que faz melhor — “oferecer uma maneira inovadora, segura e anônima” para que denúncias verdadeiras sejam difundidas ao mundo.
Em uma declaração emitida no mesmo 24/10, o WikiLeaks disse que o bloqueio dificultou a continuidade suas atividades em 50 países. Em virtude disso, a organização anunciou que parou as publicações temporariamente, e desloca sua atençaõ para arrecadar recursos e lutar contra os obstáculos. Essa luta não é apenas para a sobrevivência própria, mas também pelo direito dos apoiadores a “expressar economicamente o apoio a uma causa na qual acreditam”, diz a declaração.
Os problemas para o site intensificaram-se em novembro de 2010, depois de começou a publicação de trocas de correspondências confidenciais entre diplomatas norte-americanos no mundo inteiro. O WikiLeaks colaborou com cinco jornais – The Guardian, The New York Times, Le Monde, El País e Der Spiegel – e disponibilizou a eles cerca de 250 mil correspondências. Mais tarde, outros jornais, juntaram-se ao projeto. À medida que mais verdades desconfortáveis surgiam na superfície, esforços concentrados para bloquear o WikiLeaks intensificaram-se. Dois dias depois da publicação, o governo dos Estados Unidos anunciou que iria investigar o WikiLeaks por violação de leis de espionagem. Mike Huckabee, um político republicano, pediu a execução de Julian Assange, editor-chefe do site. Outra republicana, Sarah Pailin queria que Assange fosse “caçado”.
As consequências da pressão estadunidense tornaram-se claros. Já em 1º de dezembro de 2010, depois de receber uma ligação de Joe Liberman, presidente do Comitê do Senado dos EUA para Segurança Doméstica, os serviços da Amazon Web pararam de hospedar o website do WikiLeaks. Lieberman continuou o ataque, pedindo que as organizações que ajudavam o WikiLeaks “terminassem imediatamente” sua relação. Em 3 de dezembro, o serviço de pagamento online PayPal anunciou que “restringiu permanentemente” as contas do WikiLeaks usadas para buscar doações e mobilizar recursos. MasterCard, Bank of America e Western Union aderiram em seguida. No final de dezembro, as doações por meio de bancos a cartões de crédito não chegavam mais. A situação na Europa era similar: Visa e MasterCard, que juntos transferiam 95% dos pagamentos por crédito em 2010, bloqueados.
Um aplicativo do WikiLeaks que permitia que usuários da Apple acessassem os documentos foi removido da Apple no final de dezembro de 2010, apenas quatro dias depois de ter sido lançado. Citando Igor Barinov, o criador do aplicativo, o The Guardian anunciou que metade dos lucros obtidos na venda do aplicativo – que custava US$ 1,99 – havia sido doada ao WikiLeaks. Privado dos fundos, o site teve que usar suas reservas para continuar configurando servidores em diferentes países e publicando histórias e furos.
Companhias de cartões de crédito e bancos tentaram defender suas ações alegando que “o serviço de pagamento não pode ser utilizado para qualquer atividade que encoraje, promova ou instrua outros a se engajarem em atividades ilegais”. No entando, nenhuma acusação de ilegalidade foi oficialmente feita contra o WikiLeaks.
Em dezembro de 2010, a polícia federal australiana, que investigou se o WikiLeaks e Assange quebraram alguma lei, ao publicarem documentos confidencias dos Estados Unidos, concluiu que não havia nenhuma evidência para acusação. Em 14 de janeiro de 2011, The Wall Street Journal, citando Dow Jones Newswires, anunciou que o departamento do Tesouro dos Estados Unidos não tinha “evidências suficientes para aplicar alguma sanção contra” Assange ou o WikiLeaks. A Reuters confirmou que o Departamento de Estado dos EUA tinha uma visão similar. Citando um oficial do Congresso, as agências de notícias e de informações financeiras declararam que o governo foi “obrigado a dizer publicamente” que as revelações do WikiLeaks afetaram seriamente interesses americanos.
Como os jornais deveriam lidar com organizações desse tipo, que tiveram um grande impacto no jornalismo e promoveram mudanças nas relações entre o jornalista e a fonte? Essas questões foram debatidas por um grupo no 18º Fórum Mundial dos Editores (WEF), realizado em Viena, em outubro de 2011. À frente das discussões, Julian Assange, em uma conversa com N. Ram, editor chefe do The Hindu e palestrante, ofereceu sua perspectiva sobre o WikiLeaks como uma organzação jornalística e como uma fonte.
“O WikiLeaks é um editor… com notícias e histórias” disse ele. “E é um editor muito generoso. Quando o material que adquirimos é mais do que conseguimos usar ou tem mais relevância em outras regiões, como um ato de generosidade e espírito amistoso chamamos outra organização para compartilhar o tesouro”.
Quanto aos WikiLeaks como fonte, “frequentemente sua fonte não é a pessoa que escreveu o documento”, explicou Assange, “mas alguém em uma cadeia que talvez vá até você [com um material confidencial]. E dessa perspectiva, não somos diferentes de nenhuma outra fonte na cadeia”. O editor-chefe do WikiLeaks ainda ofereceu outra perspectiva: WikiLeaks é também “como um agente para escritores. [Sem um agente] os escritores não costumam obter transações muito boas. Mas se eles tiverem um agente que ofereça o material para editores diferentes, conseguem uma transação muito melhor. Isso é uma perspectiva do WikiLeaks como uma fonte”.
Citando a resposta de Assange na discussão da WEF em Viena, Ram, o editor-chefe do The Hindu, comentou que “a confusão está apenas em nossas mentalidades como jornalistas profissionais que frequentemente trabalham com a suposição de que temos, e seguimos, padrões profissionais aceitos e claros na relação com as ‘fontes’. Essa suposição é um mito. Quando falamos em lidar com fontes, especialmente fontes confidenciais, as práticas do mercado tomam um espaço surpreendente… desde regras éticas e garantias introduzidas pelos supervisores jornalísticos nas organizações midiáticas… até o vale tudo. O vasto meio termo é o ‘nebuloso’”. Quanto à questão da “agenda”, o editor chefe do The Hindu comentou que toda organização de notícias tem uma agenda e que “não há motivo especial para suspeitas, ou desconfianças a respeito da agenda do WikiLeaks” ou de qualquer organização de denúncia, por essa razão. “Você só precisa aplicar processos de verificação jornalística e padrões para lidar tanto com o conteúdo quanto com a fonte”.
Sendo esse o caso, acusar o WikiLeaks por ataques agressivos e sem precedentes cheira a hipocrisia e arbitrariedade. A organização sem fins lucrativos, que depende de voluntários, compreensivelmente tem caracterizado o bloqueio financeiro como ilegal. O bloqueio é visto como “um ataque sem precedentes aos defensores da liberdade de expressão” e “interferência direta na capacidade das pessoas em provocar mudança”.
Comparando as ações com a caça às bruxas da era McCarthy, Ram adverte que, a menos que a ação ilegal seja seriamente desafiada e revertida, “o Greenpeace, a Anistia Internacional e outras ONGs internacionais que trabalham para expor infrações de agentes poderosos correm o risco de ter o mesmo destino que o WikiLeaks”. Mesmo os jornais que publicaram furos podem não ser poupados no futuro, advertiu.
O WikiLeaks anunciou que está agindo para questionar o bloqueio legalmente “em diferentes jurisdições”. Como primeiro passo, junto à DataCell, uma companhia de tecnologia de informação sediada na Islândia, que manipulou as doações de cartões de crédito, o WikiLeaks entrou com uma queixa formal na Comissão Européia contra Visa Europa e MasterCard Europa. A Comissão pediu uma explicação das empresas.