Waldemar Rossi no CORREIO DA CIDADANIA |
Como indicava a movimentação popular nos últimos meses de 2010, o ano que finda começou quente. Em várias partes do planeta, povos se manifestaram, e se manifestam, seja contra sistemas políticos autoritários, seja contra os ataques do poder econômico sobre os direitos trabalhistas ou contra a economia popular. Mais especificamente, na Europa unificada pelo euro, tanto na Grécia quanto na Itália as ruas foram ocupadas pelo povo, enfrentando governantes por conta de suas políticas econômicas, polícias violentas e a opinião da mídia conservadora. Isto não quer dizer que o capital financeiro esteja sendo derrotado. Por enquanto sua vitória sobre os povos é significativa. Governos fazem acordos com o poder político e econômico europeu e continuam impondo pesadas perdas sociais e econômicas às suas populações. Porém, nada está sedimentado e o melhor exemplo nos vem da Grécia com a população não dando tréguas aos seus governantes. Tudo indica que ao menos Itália, Espanha, Irlanda e Portugal terão um novo ano muito “aquecido”, apesar do inverno. É possível até que outros povos europeus venham a se indispor contra os governos da Alemanha e França devido às exigências impostas à Grécia e à Itália, cujos governos se submetem às exigências dos banqueiros credores. As últimas notícias mostram que o clima poderá esquentar também por conta da nova estrutura que vem sendo montada para tentar salvar a Europa unificada em torno do euro, novamente por imposição da Alemanha e França. Tudo leva a crer, por isso, que outros países sofrerão as mesmas pressões da política econômica franco-alemã, com as respectivas reações dos setores prejudicados. Países do Oriente Médio e do norte da África continuaram com suas convulsões intermináveis. Sabe-se que por trás disso tudo estão os interesses capitalistas sobre a enorme reserva de petróleo daquela área. Ditadores foram e são protegidos enquanto servem aos interesses das nações consumidoras do “ouro negro”, mas entram em crise quando não mais servem aos interesses dos seus protetores. E o povo vem pagando o preço com suas vidas. O despertar da consciência popular vem resultando em revoltas coletivas, com quedas de governos, mas também com derramamento de sangue e perdas de milhares de vidas de gente do povo. Acontecimentos já esperados pelo histórico recente da região. O que quase ninguém esperava eram as reações populares nos Estados Unidos, que atingem o vizinho Canadá. Desde as várias manifestações dos mais pobres, passando pelo movimento estudantil (omitidos pela grande imprensa brasileira), chegando aos protestos do movimento Ocupy Wall Street contra os grandes banqueiros larápios. Os fatos mostram que o norte está como o clima do planeta: em aquecimento. No caso do Brasil, a mobilização começou por onde menos se esperava: a construção civil. Já nos primeiros meses do ano, as obras da barragem do Jirau e Santo António foram alvo de uma greve que mobilizou mais de três mil operários contra o grau da exploração das condições de trabalho e de alojamento praticada pelas grandes empreiteiras responsáveis pelas obras superfaturadas. Tal fato inesperado forçou o governo Dilma a enviar pessoas de sua inteira confiança para jogar água na fervura, uma vez que os representantes das centrais sindicais disputavam apenas o controle do movimento, mas não conseguiam demover os trabalhadores e convencê-los a retornar ao trabalho. Daí para frente foram greves nos estádios de futebol, que estão sendo construídos ou em reformas, e que se espalharam também para outras obras faraônicas financiadas pelo PAC (dinheiro do povo em favor das empreiteiras). Ou seja, os operários da construção civil foram a alavanca de tantas outras manifestações que se desenrolaram no país: Correios, bancários, metalúrgicos, ferroviários, químicos, petroleiros, servidores públicos municipais, federais e estaduais. Entretanto, são os professores que vêm dando as cartas na contestação crescente à política educacional brasileira. Em vários estados os trabalhadores do ensino resolveram sair do marasmo reinante, começando a questionar não apenas salários medíocres e aviltantes, mas também a qualidade do ensino praticado no Brasil a partir da ditadura militar e aprofundada por todos os governos eleitos pelo povo. A educação vem sendo tão duramente rebaixada no país que todas as avaliações internas e externas a colocam como das piores entre as ruins. E isso está mexendo com a consciência dos educadores. Outro aspecto positivo nessas manifestações tem sido o apoio de alunos aos movimentos dos seus professores, apesar da total apatia e ausência da UNE, comandada pelo PC do B há muitos anos. Portanto, nota negativa para a direção da UNE pactuada com o governo federal e responsável pela desmobilização estudantil no país inteiro. Merecem destaque também as várias manifestações populares em defesa da moradia popular, contra o criminoso Código Florestal, contra as barragens destruidoras do meio ambiente, contra a política financeira para as obras da Copa e das Olimpíadas. Entre as nações indígenas brasileiras percebe-se o crescimento da resistência aos constantes crimes contra elas praticados por latifundiários, mineradoras, desmatadores e empreiteiras encarregadas pela construção de barragens - Belo Monte, por exemplo. Pode ser que as nações indígenas ainda venham a ter algum sucesso em suas lutas contra o sistemático extermínio a que vêm sendo submetidas há mais de 500 anos, cujos criminosos restam impunes pela conivência dos governantes. Os trabalhadores sem terras não desanimam de lutar pela Reforma Agrária, tantas vezes prometida por políticos mentirosos e sem escrúpulos. Infelizmente, devido à corrupção reinante em nossa “Justiça”, centenas de trabalhadores rurais sem terra já perderam suas vidas e, em sua imensa maioria, os criminosos continuam impunes. Mas as lutas pela terra continuam. Apesar dos avanços das mobilizações populares, fica evidente a falta de organizações capazes de unificar tantas lutas do povo. As forças de esquerdas que ainda resistem não conseguem ter um projeto para uma política unificadora dos vários movimentos. Ainda estamos no estágio de franco-atiradores, cada setor lutando desesperadamente em defesa dos seus interesses particulares. E isto ainda nos enfraquece, permitindo que o capital e os políticos inescrupulosos (poucos se salvam, como vemos a cada dia pelas informações) deitem e rolem sobre os interesses e a própria vida do povo. A falta de política e de instrumentos unificadores permite, por exemplo, que governos municipais, estaduais e federal soneguem o dinheiro público destinado à educação e à saúde públicas, desviando-o para obras sem real interesse popular, que favorecem o capital sempre ávido por lucros e mais lucros, obras sempre marcadas pela corrupção. Tais limitações revelam que estamos apenas no reinício das mobilizações populares necessárias e com força para impor mudanças profundas nas estruturas política, econômica, social e cultural que tanto almejamos. Estando em fase de retomada das mobilizações semelhantes às dos fins dos anos 70 e das décadas de 80 e 90, podemos esperar que haja a devida evolução e que os setores sociais busquem logo mais construir um novo processo, agora mais coletivo que antes, que permita ao povo assumir seu papel de protagonista na construção de uma nova sociedade, justa, fraterna e realmente participativa. Missão histórica para as atuais e futuras gerações. Que o ano de 2012 seja, portanto, mais “quente” e organizado que 2011. Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O movimento social e seu protagonismo
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critica social,
politica internacional
O Papai Noel dos banqueiros
Por Altamiro Borges
O Papai Noel existe sim e é muito dadivoso. Que o digam os banqueiros da Europa e EUA, que receberam generosos presentes de Natal nos últimos dias – apesar de todas as suas sacanagens. É certo que milhões de trabalhadores europeus, desempregados, desalojados e desesperados, não terão um final de ano feliz – nem mesmo um 2012 feliz. Mas os banqueiros estão a salvo!
Presente de 1,2 trilhão de reais
Nesta semana, o Banco Central Europeu (BCE) concedeu empréstimo de 489,2 bilhões de euros (cerca de 1,2 trilhão de reais) para 523 instituições rentistas do velho continente. Os juros são os mais baixos do mercado (1% ao ano), os prazos de pagamento são longos e as regras para uso do dinheiro público são flexíveis, nos marcos da libertinagem financeira neoliberal. Um presentão!
“Praticamente 100% dos bancos dos 17 países que utilizam a moeda comum européia correram ao guichê do BCE para obter um total de € 489,2 bilhões na primeira operação que a autoridade monetária fez com prazo de três anos. A demanda dos bancos foi duas vezes maior do que previsto pelo mercado”, relata o jornal Valor, surpreso com a agilidade dos banqueiros.
O povo que se dane!
Animado com o presentão de Natal, o jornal também informa que “em fevereiro de 2012, haverá outra rodada de financiamento do BCE nas mesmas condições, quando ficará mais claro até que ponto chega o apetite dos bancos. Ou seja, a operação de ontem dissipa o risco de crise de liquidez no começo de 2012”. Só não dissipa a tragédia das famílias desempregadas e desesperadas!
Como adverte a Folha, nada indica que o socorro aos bancos vai recuperar a economia européia. Um empréstimo semelhante foi feito pelo BCE em 2009, de 442 bilhões de euros, e não deu em nada. Os banqueiros embolsaram a grana e a sociedade ficou mais miserável. A tendência é que agora os 523 bancos também usem “a maior parte do dinheiro para se proteger”. Dane-se o povo!
Os caloteiros são perdoados
Nos EUA, a situação é a mesma. O espírito natalino abençoou os banqueiros e o Papai Noel continua com as suas ações generosas. Após bilionários empréstimos aos bancos, agora o governo Obama decidiu reduzir as punições aos caloteiros. Na semana passada, quatro ex-executivos do Washington Mutual (WaMu), grande banco ianque que faliu em 2008, tiveram suas dívidas perdoadas.
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, que garante os depósitos nos bancos dos EUA) tinha processado os quatro por crimes financeiros, já que “eles sabiam que o mercado imobiliário caracterizava uma bolha". A FDIC queria recuperar US$ 900 milhões, mas os executivos acabaram fechando acordo por US$ 64 milhões, dos quais arcarão com apenas US$ 400 mil.
Como ironiza Simon Johnson, num texto no jornal Valor, “Papai Noel chegou mais cedo neste ano... Os executivos levam a melhor quando as coisas vão bem e quando riscos se concretizam eles nada (ou quase nada) perdem”. Enquanto isso, a crise resultou em 8 milhões de desempregados nos EUA. Os banqueiros terão, novamente, um farto Natal. Já os trabalhadores...
Presente de 1,2 trilhão de reais
Nesta semana, o Banco Central Europeu (BCE) concedeu empréstimo de 489,2 bilhões de euros (cerca de 1,2 trilhão de reais) para 523 instituições rentistas do velho continente. Os juros são os mais baixos do mercado (1% ao ano), os prazos de pagamento são longos e as regras para uso do dinheiro público são flexíveis, nos marcos da libertinagem financeira neoliberal. Um presentão!
“Praticamente 100% dos bancos dos 17 países que utilizam a moeda comum européia correram ao guichê do BCE para obter um total de € 489,2 bilhões na primeira operação que a autoridade monetária fez com prazo de três anos. A demanda dos bancos foi duas vezes maior do que previsto pelo mercado”, relata o jornal Valor, surpreso com a agilidade dos banqueiros.
O povo que se dane!
Animado com o presentão de Natal, o jornal também informa que “em fevereiro de 2012, haverá outra rodada de financiamento do BCE nas mesmas condições, quando ficará mais claro até que ponto chega o apetite dos bancos. Ou seja, a operação de ontem dissipa o risco de crise de liquidez no começo de 2012”. Só não dissipa a tragédia das famílias desempregadas e desesperadas!
Como adverte a Folha, nada indica que o socorro aos bancos vai recuperar a economia européia. Um empréstimo semelhante foi feito pelo BCE em 2009, de 442 bilhões de euros, e não deu em nada. Os banqueiros embolsaram a grana e a sociedade ficou mais miserável. A tendência é que agora os 523 bancos também usem “a maior parte do dinheiro para se proteger”. Dane-se o povo!
Os caloteiros são perdoados
Nos EUA, a situação é a mesma. O espírito natalino abençoou os banqueiros e o Papai Noel continua com as suas ações generosas. Após bilionários empréstimos aos bancos, agora o governo Obama decidiu reduzir as punições aos caloteiros. Na semana passada, quatro ex-executivos do Washington Mutual (WaMu), grande banco ianque que faliu em 2008, tiveram suas dívidas perdoadas.
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, que garante os depósitos nos bancos dos EUA) tinha processado os quatro por crimes financeiros, já que “eles sabiam que o mercado imobiliário caracterizava uma bolha". A FDIC queria recuperar US$ 900 milhões, mas os executivos acabaram fechando acordo por US$ 64 milhões, dos quais arcarão com apenas US$ 400 mil.
Como ironiza Simon Johnson, num texto no jornal Valor, “Papai Noel chegou mais cedo neste ano... Os executivos levam a melhor quando as coisas vão bem e quando riscos se concretizam eles nada (ou quase nada) perdem”. Enquanto isso, a crise resultou em 8 milhões de desempregados nos EUA. Os banqueiros terão, novamente, um farto Natal. Já os trabalhadores...
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Anatomia de um escândalo zumbi
Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania: via BLOG DO MIRO
Durante a década dessas privatizações, além das estatais federais os Estados e municípios foram compelidos, mediante condicionamentos financeiros, a privatizarem empresas públicas que, juntas, geraram uma dinheirama que até hoje não se sabe aonde foi parar, pois, ao fim do governo que mais privatizou, o de Fernando Henrique Cardoso, o país estava quebrado e sem reservas próprias em dólares, tendo em caixa apenas o que lhe fora emprestado pelo governo dos Estados Unidos, pelo FMI e pelos bancos europeus do Clube de Paris a fim de evitar a literal quebra do Brasil.
Apesar da dimensão paquidérmica das denúncias e dos fatos que sugerem que os políticos que conduziram o PND durante a última década do século XX foram subornados para entregarem a preço vil à iniciativa privada o que fora privatizado, a imprensa nacional jamais dedicou ao caso uma mera fração da atenção que vem dedicando ao escândalo do mensalão, que não envolveu nem 0,1% dos valores envolvidos no que o livro supramencionado chama de “privataria”.
O processo foi tão danoso à imagem do governo FHC que o Partido dos Trabalhadores elegeu e reelegeu facilmente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, a atual presidente, Dilma Rousseff, ainda que o que tenha pesado mais tenha sido a situação social e econômica desastrosa em que terminou o governo tucano. Todavia, há até prova científica da percepção da sociedade de que as privatizações pioraram a vida dos brasileiros.
O que comprova a rejeição da sociedade ao processo de privatização é a única pesquisa de opinião sobre o assunto que se conhece. Entre os dias 24 e 31 de outubro de 2007, o instituto Ipsos, sob encomenda do jornal O Estado de S. Paulo, realizou uma pesquisa sobre a opinião do brasileiro sobre as privatizações com mil entrevistas em setenta cidades e nove regiões metropolitanas. Essa pesquisa apontou que 62% dos entrevistados eram contra a privatização de serviços públicos. Apenas 25% se mostraram favoráveis.
De acordo com o jornal, “a percepção dos brasileiros é a de que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica, água e esgoto”. As mais altas taxas de rejeição (73%) surgiram no estrato social de nível superior e nas classes A e B.
Segundo mostrou a pesquisa, a rejeição à privatização não tinha, naquele 2007, razão partidária ou ideológica, atingindo por igual as privatizações feitas em diversos governos, tanto o federal quanto os estaduais e municipais. Enquanto 55% acharam que o governo FHC fez mal em privatizar a telefonia, apenas 33% disseram que fez bem. Em nenhuma região a maioria da população aprovou a privatização. O Nordeste registrou a maior taxa de rejeição (73%), enquanto o Norte e o Centro-Oeste registram a menor (51%).
Por razões óbvias, nunca mais surgiu outra pesquisa de opinião sobre o assunto – e, se houve, foi pouco ou nada divulgada -, pois quem costuma empreender tais pesquisas são os meios de comunicação de massa, os quais se tornaram sócios do que foi chamado pelo jornalista Elio Gaspari de “privataria”, termo que comparou a condução do PND pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um saque de piratas.
Abaixo, tabela que mostra que grupos de comunicação como as Organizações Globo, o Grupo Estado e o Grupo Folha adquiriram parte das empresas privatizadas sem informar aos seus leitores que participavam do processo enquanto o defendiam em longos e incontáveis editoriais, artigos e reportagens.
É nesse ponto que surge a figura central do processo de privatização que ora se encontra sob escrutínio da sociedade. José Serra, então ministro do Planejamento, elaborou e tocou o processo de privatização no Brasil em seu período mais intenso.
O livro “A Privataria Tucana” trata de um suposto esquema de corrupção montado no governo de Fernando Henrique Cardoso por ocasião das privatizações. O livro é, na verdade, uma profunda reportagem investigativa com 200 páginas de texto apoiada em mais de uma centena de páginas de cópias autenticadas de documentos oficiais recolhidos em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça.
O obra descreve a trajetória de bilhões de dólares – que seriam pagamento de propina a parentes e assessores de Serra, que teria se valido de “laranjas” e de empresas offshores de fachada – apresentando documentos com fé pública sobre negócios financeiros vultosos envolvendo grandes corporações financeiras.
O autor do livro acusa o envolvimento e a conivência de parte dos meios de comunicação, crimes de corrupção ativa e passiva, favorecimento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, invasão de privacidade, vazamento de dados tributários, tudo associado ao desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos. A trajetória do dinheiro ilícito ao voltar ao Brasil, segundo os documentos, explicaria as fortunas pessoais do grupo ligado a Serra.
Os documentos apresentados no livro pretendem demonstrar como teria funcionado o suposto esquema de propinas e de lavagem de dinheiro. Quem pagou a propina a teria enviado a empresas offshores em paraísos fiscais como as Ilhas Virgens e o dinheiro retornava ao Brasil como “investimento estrangeiro”.
A investigação do jornalista Amaury Ribeiro Jr. apurou que os beneficiários desses bilhões de dólares que entraram no país eram os mesmos que assinavam os dois lados da operação, como procuradores das empresas de fachada sediadas no Caribe e como donos das empresas brasileiras receptoras do suposto investimento estrangeiro.
O esquema envolve nomes como Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro das campanhas de FHC e José Serra, descrito na página 38 do livro como “o chefe da lavanderia do tucanato”), Carlos Jereissati, José Serra, sua filha Verônica Serra e o marido, Alexandre Bourgeois, além de empresas como a Oi (na época Telemar), IConexa, Citco Building, Andover, Westschester e, sobretudo, a Decidir.com, da filha de Serra em sociedade com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas.
Para demonstrar o montante de dinheiro envolvido, o livro revela que entre 1998 e 2002 Gregório Preciado, marido de uma prima de José Serra, teria depositado 2,5 bilhões de dólares na conta de Ricardo Sérgio de Oliveira, que, como diretor do Banco do Brasil, interferiu na liberação de recursos para empresas sem capacidade financeira adquirirem parte do que estava sendo privatizado.
O método de lavagem de dinheiro também teria sido utilizado por Paulo Maluf, por Ricardo Teixeira e pela quadrilha da advogada Jorgina de Freitas, que fraudou a previdência em R$ 1 bilhão, e por Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ricardo Sergio, segundo o livro-reportagem, por ser banqueiro experiente foi o arquiteto do esquema que inseria dinheiro de origem duvidosa no Brasil. Os documentos, obtidos legalmente, demonstram que Alexandre Bourgeois, genro de José Serra, abriu empresas offshores imediatamente após as privatizações. Essas empresas tinham o mesmo endereço da Decidir, empresa de Verônica Dantas e de Verônica Serra.
Na página 25 do livro ainda há detalhes de como Serra, então no governo federal, teria utilizado arapongas, pagos com dinheiro público, para criar dossiês contra adversários políticos, e de como sua filha e a irmã de Daniel Dantas teriam quebrado o sigilo de milhões de brasileiros para obterem informações privilegiadas dentro do governo, o que gerou inquérito na Polícia Federal que originou denúncia do Ministério Público e que agora tramita na Justiça contra as duas Verônicas.
Detalhe: os meios de comunicação e os seus colunistas que procuram desacreditar o livro e o autor se valem de denúncia feita no calor da eleição do ano passado contra o autor de Privataria de que ele é que teria quebrado o sigilo fiscal da mesma Verônica Serra que hoje está sendo processada por quebrar sigilo não de uma pessoa, mas de dezenas de milhões de pessoas, o que jamais veio à tona por iniciativa da imprensa, com exceção da revista Carta Capital.
As fortunas que foram amealhadas pelos familiares do homem que comandou as privatizações da era Fernando Henrique Cardoso no exato momento em que as vendas de patrimônio público ocorriam, segundo as denúncias do livro-bomba decorreram do pagamento de propina pelos grupos econômicos que compraram aquele patrimônio por preços subavaliados.
Um dos casos mais clamorosos diz respeito à primeira grande empresa estatal a ser privatizada no governo FHC, a Companhia Vale do Rio Doce, então a maior exportadora de minério de ferro do mundo e que ostenta esse título até hoje, permanecendo líder mundial na exportação de minério de ferro.
A privatização da Vale S.A. foi polêmica por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de ferro sob controle da companhia na época. Para avaliar o preço pelo qual seria vendida foi computado apenas o valor de sua infraestrutura. As reservas minerais que controlava foram simplesmente ignoradas. Ou seja, computaram-se bens imóveis, máquinas, equipamentos, mas não o potencial de exploração que havia sob a terra. Minas de ferro com potencial para 400 anos não foram computadas na avaliação.
O processo em que ocorreu a subavaliação da Vale mereceu do Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz o apelido de briberization (“propinização”). Segundo o economista, essa “propinização” das privatizações teria ocorrido em todos os países que adotaram o programa de estabilização então engendrado pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, que previa privatizações como uma das principais vertentes, e que, no Brasil, foi chamado de “Plano Real”.
A venda do controle acionário da Vale ocorreu em 1997 por 3,3 bilhões de dólares, ao dólar da época. Hoje, o valor da mineradora, após investimentos dos que a adquiriram, chega próximo a 160 bilhões de dólares. Os defensores da venda da empresa dizem que essa valorização só foi possível devido aos investimentos dos seus compradores, mas essa mesma valorização indica o potencial que a empresa tinha e que não foi computado em seu preço de venda.
Essas vendas de empresas públicas a preço vil seriam a origem dos bilhões de dólares que pingaram em contas bancárias de familiares e assessores de Serra. Milhões de dólares que a filha dele recebeu do exterior – e que, até hoje, não têm origem comprovada –, receberam obsequioso silêncio da Justiça e até do governo petista que sucedeu o governo federal tucano, que jamais fizeram mísera menção a investigar denúncias que em 2003 já apareciam na CPI do Banestado.
O grupo de Serra, sob sua batuta, além de tudo ainda faria uso de métodos de filmes de espionagem visando antecipar e esvaziar denúncias contra ele, vitimizando-o perante a opinião pública com a ajuda da Globo, da Folha, do Estadão e da Veja, sempre dispostos a acusar os adversários dele de estarem por trás de armações contra si.
O livro A Privataria Tucana, por fim, gera questionamento ao Partido dos Trabalhadores, ao governo Lula, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à própria Justiça por terem permanecido impassíveis diante de fartura de evidências que a obra oferece e que em parte já eram conhecidas. Por que até os adversários políticos do grupo que conduziu processo tão nebuloso permaneceram silentes por tanto tempo?
Devido à resistência da imprensa a se aprofundar em um dos escândalos mais clamorosos de que se tem notícia, ainda falta muito para que amaine a tempestade de reportagens e análises de jornalistas independentes, de blogueiros, de tuiteiros, de facebookers e de assemelhados sobre um escândalo que do ponto de vista dos valores envolvidos e da gravidade dos crimes cometidos pode ser considerado o maior escândalo de corrupção da história brasileira e um dos maiores do mundo.
À diferença do que pode parecer, porém, não se irá tratar, aqui, do escândalo preferido da imprensa brasileira, o dito “escândalo do mensalão”, cujos valores envolvidos, independentemente da veracidade – ou não – da tese de que se tratou de suborno de parlamentares pelo governo federal, não pode sequer ser comparado ao escândalo que brotou do Programa Nacional de Desestatização (PND), instituído no governo Fernando Collor a partir de 1991 e incrementado pelo primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
Para que se entenda a razão de tal afirmativa, basta lembrar que, de 1991 até 2000, o conjunto de privatizações nas telecomunicações, nos setores elétrico, petroquímico, de mineração, portuário, financeiro, de informática, de malhas ferroviárias e de empresas estatais dos Estados gerou receita total de 91,1 bilhões de dólares.
Se o critério para um grande escândalo de corrupção, portanto, for a quantidade de dinheiro envolvido, as denúncias que envolvem o programa brasileiro de privatizações constituem, sem dúvida, o maior da história do país. E o que é mais grave: pode ter sido empreendido por uma quadrilha formada por grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, por políticos e até por grandes meios de comunicação nacionais, o que lhes explica a reticência em tocar no assunto.
Esses são os fatos narrados pelo livro-denúncia A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro, um dos maiores fenômenos editoriais de que se tem notícia devido a ter se tornado best-seller em menos de uma semana e à revelia desse impressionante boicote dos grandes meios de comunicação de massa, que, após desistirem de ocultar o livro, passaram a acusá-lo de “farsa” e “ficção”, bem como ao seu autor de “bandido” por ter sido indiciado pela Polícia Federal durante a campanha eleitoral de 2010 por supostamente estar envolvido na quebra de sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo José Serra, o político que comandou boa parte do período mais intenso de privatizações (1994 – 1998).
No período de 1991 a 2000, ocorreram no Brasil privatizações de 65 empresas estatais federais consideradas jóias da coroa do patrimônio público brasileiro. Abaixo, a relação dessas empresas.
À diferença do que pode parecer, porém, não se irá tratar, aqui, do escândalo preferido da imprensa brasileira, o dito “escândalo do mensalão”, cujos valores envolvidos, independentemente da veracidade – ou não – da tese de que se tratou de suborno de parlamentares pelo governo federal, não pode sequer ser comparado ao escândalo que brotou do Programa Nacional de Desestatização (PND), instituído no governo Fernando Collor a partir de 1991 e incrementado pelo primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
Para que se entenda a razão de tal afirmativa, basta lembrar que, de 1991 até 2000, o conjunto de privatizações nas telecomunicações, nos setores elétrico, petroquímico, de mineração, portuário, financeiro, de informática, de malhas ferroviárias e de empresas estatais dos Estados gerou receita total de 91,1 bilhões de dólares.
Se o critério para um grande escândalo de corrupção, portanto, for a quantidade de dinheiro envolvido, as denúncias que envolvem o programa brasileiro de privatizações constituem, sem dúvida, o maior da história do país. E o que é mais grave: pode ter sido empreendido por uma quadrilha formada por grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, por políticos e até por grandes meios de comunicação nacionais, o que lhes explica a reticência em tocar no assunto.
Esses são os fatos narrados pelo livro-denúncia A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro, um dos maiores fenômenos editoriais de que se tem notícia devido a ter se tornado best-seller em menos de uma semana e à revelia desse impressionante boicote dos grandes meios de comunicação de massa, que, após desistirem de ocultar o livro, passaram a acusá-lo de “farsa” e “ficção”, bem como ao seu autor de “bandido” por ter sido indiciado pela Polícia Federal durante a campanha eleitoral de 2010 por supostamente estar envolvido na quebra de sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo José Serra, o político que comandou boa parte do período mais intenso de privatizações (1994 – 1998).
No período de 1991 a 2000, ocorreram no Brasil privatizações de 65 empresas estatais federais consideradas jóias da coroa do patrimônio público brasileiro. Abaixo, a relação dessas empresas.
Durante a década dessas privatizações, além das estatais federais os Estados e municípios foram compelidos, mediante condicionamentos financeiros, a privatizarem empresas públicas que, juntas, geraram uma dinheirama que até hoje não se sabe aonde foi parar, pois, ao fim do governo que mais privatizou, o de Fernando Henrique Cardoso, o país estava quebrado e sem reservas próprias em dólares, tendo em caixa apenas o que lhe fora emprestado pelo governo dos Estados Unidos, pelo FMI e pelos bancos europeus do Clube de Paris a fim de evitar a literal quebra do Brasil.
Apesar da dimensão paquidérmica das denúncias e dos fatos que sugerem que os políticos que conduziram o PND durante a última década do século XX foram subornados para entregarem a preço vil à iniciativa privada o que fora privatizado, a imprensa nacional jamais dedicou ao caso uma mera fração da atenção que vem dedicando ao escândalo do mensalão, que não envolveu nem 0,1% dos valores envolvidos no que o livro supramencionado chama de “privataria”.
O processo foi tão danoso à imagem do governo FHC que o Partido dos Trabalhadores elegeu e reelegeu facilmente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, a atual presidente, Dilma Rousseff, ainda que o que tenha pesado mais tenha sido a situação social e econômica desastrosa em que terminou o governo tucano. Todavia, há até prova científica da percepção da sociedade de que as privatizações pioraram a vida dos brasileiros.
O que comprova a rejeição da sociedade ao processo de privatização é a única pesquisa de opinião sobre o assunto que se conhece. Entre os dias 24 e 31 de outubro de 2007, o instituto Ipsos, sob encomenda do jornal O Estado de S. Paulo, realizou uma pesquisa sobre a opinião do brasileiro sobre as privatizações com mil entrevistas em setenta cidades e nove regiões metropolitanas. Essa pesquisa apontou que 62% dos entrevistados eram contra a privatização de serviços públicos. Apenas 25% se mostraram favoráveis.
De acordo com o jornal, “a percepção dos brasileiros é a de que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica, água e esgoto”. As mais altas taxas de rejeição (73%) surgiram no estrato social de nível superior e nas classes A e B.
Segundo mostrou a pesquisa, a rejeição à privatização não tinha, naquele 2007, razão partidária ou ideológica, atingindo por igual as privatizações feitas em diversos governos, tanto o federal quanto os estaduais e municipais. Enquanto 55% acharam que o governo FHC fez mal em privatizar a telefonia, apenas 33% disseram que fez bem. Em nenhuma região a maioria da população aprovou a privatização. O Nordeste registrou a maior taxa de rejeição (73%), enquanto o Norte e o Centro-Oeste registram a menor (51%).
Por razões óbvias, nunca mais surgiu outra pesquisa de opinião sobre o assunto – e, se houve, foi pouco ou nada divulgada -, pois quem costuma empreender tais pesquisas são os meios de comunicação de massa, os quais se tornaram sócios do que foi chamado pelo jornalista Elio Gaspari de “privataria”, termo que comparou a condução do PND pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um saque de piratas.
Abaixo, tabela que mostra que grupos de comunicação como as Organizações Globo, o Grupo Estado e o Grupo Folha adquiriram parte das empresas privatizadas sem informar aos seus leitores que participavam do processo enquanto o defendiam em longos e incontáveis editoriais, artigos e reportagens.
É nesse ponto que surge a figura central do processo de privatização que ora se encontra sob escrutínio da sociedade. José Serra, então ministro do Planejamento, elaborou e tocou o processo de privatização no Brasil em seu período mais intenso.
O livro “A Privataria Tucana” trata de um suposto esquema de corrupção montado no governo de Fernando Henrique Cardoso por ocasião das privatizações. O livro é, na verdade, uma profunda reportagem investigativa com 200 páginas de texto apoiada em mais de uma centena de páginas de cópias autenticadas de documentos oficiais recolhidos em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça.
O obra descreve a trajetória de bilhões de dólares – que seriam pagamento de propina a parentes e assessores de Serra, que teria se valido de “laranjas” e de empresas offshores de fachada – apresentando documentos com fé pública sobre negócios financeiros vultosos envolvendo grandes corporações financeiras.
O autor do livro acusa o envolvimento e a conivência de parte dos meios de comunicação, crimes de corrupção ativa e passiva, favorecimento ilegal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, invasão de privacidade, vazamento de dados tributários, tudo associado ao desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos. A trajetória do dinheiro ilícito ao voltar ao Brasil, segundo os documentos, explicaria as fortunas pessoais do grupo ligado a Serra.
Os documentos apresentados no livro pretendem demonstrar como teria funcionado o suposto esquema de propinas e de lavagem de dinheiro. Quem pagou a propina a teria enviado a empresas offshores em paraísos fiscais como as Ilhas Virgens e o dinheiro retornava ao Brasil como “investimento estrangeiro”.
A investigação do jornalista Amaury Ribeiro Jr. apurou que os beneficiários desses bilhões de dólares que entraram no país eram os mesmos que assinavam os dois lados da operação, como procuradores das empresas de fachada sediadas no Caribe e como donos das empresas brasileiras receptoras do suposto investimento estrangeiro.
O esquema envolve nomes como Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro das campanhas de FHC e José Serra, descrito na página 38 do livro como “o chefe da lavanderia do tucanato”), Carlos Jereissati, José Serra, sua filha Verônica Serra e o marido, Alexandre Bourgeois, além de empresas como a Oi (na época Telemar), IConexa, Citco Building, Andover, Westschester e, sobretudo, a Decidir.com, da filha de Serra em sociedade com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas.
Para demonstrar o montante de dinheiro envolvido, o livro revela que entre 1998 e 2002 Gregório Preciado, marido de uma prima de José Serra, teria depositado 2,5 bilhões de dólares na conta de Ricardo Sérgio de Oliveira, que, como diretor do Banco do Brasil, interferiu na liberação de recursos para empresas sem capacidade financeira adquirirem parte do que estava sendo privatizado.
O método de lavagem de dinheiro também teria sido utilizado por Paulo Maluf, por Ricardo Teixeira e pela quadrilha da advogada Jorgina de Freitas, que fraudou a previdência em R$ 1 bilhão, e por Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ricardo Sergio, segundo o livro-reportagem, por ser banqueiro experiente foi o arquiteto do esquema que inseria dinheiro de origem duvidosa no Brasil. Os documentos, obtidos legalmente, demonstram que Alexandre Bourgeois, genro de José Serra, abriu empresas offshores imediatamente após as privatizações. Essas empresas tinham o mesmo endereço da Decidir, empresa de Verônica Dantas e de Verônica Serra.
Na página 25 do livro ainda há detalhes de como Serra, então no governo federal, teria utilizado arapongas, pagos com dinheiro público, para criar dossiês contra adversários políticos, e de como sua filha e a irmã de Daniel Dantas teriam quebrado o sigilo de milhões de brasileiros para obterem informações privilegiadas dentro do governo, o que gerou inquérito na Polícia Federal que originou denúncia do Ministério Público e que agora tramita na Justiça contra as duas Verônicas.
Detalhe: os meios de comunicação e os seus colunistas que procuram desacreditar o livro e o autor se valem de denúncia feita no calor da eleição do ano passado contra o autor de Privataria de que ele é que teria quebrado o sigilo fiscal da mesma Verônica Serra que hoje está sendo processada por quebrar sigilo não de uma pessoa, mas de dezenas de milhões de pessoas, o que jamais veio à tona por iniciativa da imprensa, com exceção da revista Carta Capital.
As fortunas que foram amealhadas pelos familiares do homem que comandou as privatizações da era Fernando Henrique Cardoso no exato momento em que as vendas de patrimônio público ocorriam, segundo as denúncias do livro-bomba decorreram do pagamento de propina pelos grupos econômicos que compraram aquele patrimônio por preços subavaliados.
Um dos casos mais clamorosos diz respeito à primeira grande empresa estatal a ser privatizada no governo FHC, a Companhia Vale do Rio Doce, então a maior exportadora de minério de ferro do mundo e que ostenta esse título até hoje, permanecendo líder mundial na exportação de minério de ferro.
A privatização da Vale S.A. foi polêmica por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de ferro sob controle da companhia na época. Para avaliar o preço pelo qual seria vendida foi computado apenas o valor de sua infraestrutura. As reservas minerais que controlava foram simplesmente ignoradas. Ou seja, computaram-se bens imóveis, máquinas, equipamentos, mas não o potencial de exploração que havia sob a terra. Minas de ferro com potencial para 400 anos não foram computadas na avaliação.
O processo em que ocorreu a subavaliação da Vale mereceu do Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz o apelido de briberization (“propinização”). Segundo o economista, essa “propinização” das privatizações teria ocorrido em todos os países que adotaram o programa de estabilização então engendrado pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, que previa privatizações como uma das principais vertentes, e que, no Brasil, foi chamado de “Plano Real”.
A venda do controle acionário da Vale ocorreu em 1997 por 3,3 bilhões de dólares, ao dólar da época. Hoje, o valor da mineradora, após investimentos dos que a adquiriram, chega próximo a 160 bilhões de dólares. Os defensores da venda da empresa dizem que essa valorização só foi possível devido aos investimentos dos seus compradores, mas essa mesma valorização indica o potencial que a empresa tinha e que não foi computado em seu preço de venda.
Essas vendas de empresas públicas a preço vil seriam a origem dos bilhões de dólares que pingaram em contas bancárias de familiares e assessores de Serra. Milhões de dólares que a filha dele recebeu do exterior – e que, até hoje, não têm origem comprovada –, receberam obsequioso silêncio da Justiça e até do governo petista que sucedeu o governo federal tucano, que jamais fizeram mísera menção a investigar denúncias que em 2003 já apareciam na CPI do Banestado.
O grupo de Serra, sob sua batuta, além de tudo ainda faria uso de métodos de filmes de espionagem visando antecipar e esvaziar denúncias contra ele, vitimizando-o perante a opinião pública com a ajuda da Globo, da Folha, do Estadão e da Veja, sempre dispostos a acusar os adversários dele de estarem por trás de armações contra si.
O livro A Privataria Tucana, por fim, gera questionamento ao Partido dos Trabalhadores, ao governo Lula, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à própria Justiça por terem permanecido impassíveis diante de fartura de evidências que a obra oferece e que em parte já eram conhecidas. Por que até os adversários políticos do grupo que conduziu processo tão nebuloso permaneceram silentes por tanto tempo?
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Sufocar o Dieese na esteira da faxina moralista é novo golpe contra população
Gabriel Brito, da Redação do CORREIO DA CIDADANIA |
Nos últimos dias, chamou pouca atenção do grande público a notícia veiculada pelo jornal Valor Econômico a respeito de uma crise financeira que estaria sufocando o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos), causada basicamente pela suspensão de todos os contratos e convênios do governo federal com ONGs, após a chuva de escândalos de corrupção fabricados e inflados pela mídia e parasitas do poder, dando origem à suposta ‘faxina’ da presidente Dilma. Como se sabe, boa parte desses escândalos se apoiou em denuncismo, via de regra hipócrita, pois vindo de setores que sempre se locupletaram com os mesmos esquemas. A mídia, em sua eterna chantagem aos governos que tenham o mínimo traço de ameaça a seus privilégios, não poupou munição para derrubar ministros - de pastas, sublinhe-se, secundárias. No entanto, nada disso se relacionava ao Dieese, organização que realiza diversos estudos das conjunturas sócio-econômicas e do mundo do trabalho para o Ministério do Trabalho e Emprego há mais de 30 anos, sendo praticamente visto como um órgão oficial. É uma das raras entidades que expõem brechas de um sistema excludente, anunciando em alto e bom som que, diante dos atuais custos de vida, o salário mínimo deveria estar perto de 2.200 reais. Mesmo assim, se vê agora em apuros, pois não receberá 10 milhões de reais anteriormente conveniados com o Planalto, de modo que são altíssimas as chances de atrasar toda sua folha de pagamento e encargos de fim de ano. Também mantida pelas centrais e os sindicatos, terá de contar com o esforço destes para não perder suas décadas de registros históricos sobre o mundo do trabalho brasileiro. Onda ‘moralista’ O que se insinua é uma punição desproporcional a quem não tem relação alguma com as nomeações desde o início descabidas de ministros, dentro das “cotas” de cada partido da base aliada e com vistas a atender interesses descaradamente alheios aos da sociedade. Todos sabem disso desde o primeiro dia de mandato, mas deixam a carta guardada na manga pra promover a chantagem e o tumulto no momento conveniente. Através do caso do enriquecimento pessoal (esperado a partir da lógica da ordem capitalista) de Antonio Palocci, então chefe da Casa Civil, foi inaugurada a temporada de “escândalos de festim”. Na seqüência, mesmo com base em denúncias sem provas, suspeitas, achismos (um tipo de jornalismo em geral interesseiro e sem compromisso público, como Caco Barcellos explicou a Eliane Cantanhêde), o expediente funcionou. Todo o clamor por degola aos “corruptos” foi atendido, com os ministros (independentemente do gosto que tenhamos pelo seu desempenho político) tendo suas cabeças servidas uma a uma, em seguida a manchetes e à gritaria contra os alvos de ocasião. Voltou-se a pregar contra as ONGs e a facilidade com que acessam os corredores do poder. Trata-se de uma verdade, pois, com a despolitização dos anos neoliberais, tais organizações passaram a desfrutar de espaço privilegiado em diversas frentes, ocupando de modo oportunista e inapropriado, em grande parte das vezes, a lacuna deixada pelo setor público. No entanto, na nação dos desajustes, uma panacéia puxa a outra, e nunca se alcança a raiz verdadeira dos problemas. E é na esteira da panacéia do momento, com a caça indiscriminada de convênios de ONGs, que chegamos ao possível desmonte do Dieese, importante aliado da luta popular e sindical na busca por melhores condições laborais e sociais do povo brasileiro. Como se todas as ONGs fossem mesmo deixar de receber financiamentos... Quem acreditar que grandes tubarões políticos e corporativos terão suas ‘parcerias’ com o setor público cortadas pela raiz, que acenda a primeira vela... Objetivamente, o que a situação sugere vai além da tão aclamada ‘faxina’ do governo Dilma, que só tocou aonde a grande mídia e a direita apontaram. Afinal, deixa-se intacto ministério cartelizado pelo clã Sarney, cujo comandante causa tamanho asco em especialistas conceituados do setor energético que muitos sequer se animam a pronunciar seu nome. Outro setor que passa incólume à “vigilância” da mídia é o das telecomunicações, notadamente um dos mais esfalfados pela promiscuidade público-privada à época de seu inglório loteamento. Como já se noticiou intensamente à época, e a se confirmarem as novas e explosivas alusões do livro Privataria Tucana, tratou-se de um dos mais acintosos assaltos ao patrimônio público na história. Nova e refinada versão de desmonte do Estado? A possível inviabilização do Dieese nos leva a puxar um novelo bem maior. Como se viu, 2011 foi um ano desastroso do ponto de vista agrário e ambiental. Ciente da guarida que encontra no Congresso e no Executivo, o agronegócio empreende enorme ofensiva para descaracterizar nosso Código Florestal e liberar o meio ambiente brasileiro. Já o Incra, órgão responsável pela distribuição de terras e reforma agrária que nunca promovemos, segue inane, e a própria reforma agrária é riscada do caderno do Partido dos Trabalhadores. Por outro lado, o BNDES segue aportando recursos a perder de vista em projetos que avançam vorazmente pela Amazônia, alimentando um modelo econômico regressivo, concentrador e promotor de violência e exploração. Já no Nordeste, o governo toca projetos hidrelétricos, portuários, ferroviários, dentre outros, com o mesmo viés agro-exportador, ao passo que o aclamado projeto de implantação de 1 milhão de cisternas no semi-árido nordestino está praticamente abortado pelo governo Dilma, conforme informações da Articulação do Semi-Árido. A Funai não fica atrás e continua sem capacidade de ação nas questões indígenas mais cruciais. E é acusada por diversas etnias e tribos até de jogo duplo, pois trabalharia também de olho na preservação dos interesses empresariais sobre as terras indígenas pertencentes à União. “Não gosto de dizer que o Estado é ‘ausente’ nessas regiões (rurais e violentas), seria um erro do ponto de vista conceitual. Mas as instituições que servem para garantir a efetividade dos direitos fundamentais da parcela mais humilde são mal estruturadas, defeituosas ou insuficientes. Enquanto isso, aquelas criadas para garantir o desenvolvimento econômico, seja através do agronegócio, do extrativismo ou dos grandes projetos de engenharia, funcionam que é uma beleza”, resumiu em artigo recente o jornalista Leonardo Sakamoto. Como se vê, o nono ano do Partido dos Trabalhadores no Planalto não foi pródigo em oferecer esperanças de um futuro melhor e um país mais justo e emancipado, se não no presente, tampouco como projeto em marcha. O Estado segue seqüestrado pelos interesses corporativos e as sonhadas reformas estruturais jamais saem do papel. Uma era muito bem resumida pelo nosso entrevistado de final de ano, Ariovaldo Umbelino: “Estamos num momento de ausência de luta política por parte da sociedade civil. E num momento desses, o que faz o governo? Tudo que deseja o capital. Aprofunda suas ações no sentido de retirar conquistas sociais e direitos, que permitem a construção de uma sociedade e um país mais humanos, com melhor distribuição de renda”. Sufocar o Dieese parece apenas mais uma atitude de traição e esquecimento do Partido dos Trabalhadores em relação a todos os seus laços e programas originais. Mas paremos por aqui, para não melindrar aqueles que ainda depositam esperanças neste governo. Deixemos que a reforma da previdência que virá à baila no próximo ano e novas reiterações deste modelo respondam com mais eloqüência. Gabriel Brito é jornalista. |
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Comitê Organizador de Porto Alegre dá a largada para o Fórum Social Temático 2012
O Comitê Organizador Municipal de Porto Alegre para o Fórum Social Temático – Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental será lançado oficialmente nesta terça-feira (20), às 16 horas, na sala do Fórum Democrático da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O Fórum Social Temático, encontro preparatório para a Cúpula dos Povos da Conferência Rio+20, será realizado em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, de 24 a 29 de janeiro de 2012.
O Comitê Organizador de Porto Alegre promete trabalhar com o objetivo de “tornar a capital gaúcha sede permanente de discussões, onde se possa debater e refletir sobre as desigualdades e injustiças políticas e sociais, fazendo um contraponto ao Fórum Econômico realizado em Davos, na Suíça”. A ideia é firmar Porto Alegre como referência nesses temas e que todos os anos o debate por outro mundo possível, que se consolidou desde o primeiro FSM, no ano de 2001, aconteça aqui, independentemente de se realizar em qualquer outra parte do mundo.
Na página do Cômitê de Porto Alegre podem ser feitas inscrições para oficinas, hospedagem solidária, cadastro de voluntários e para Acampamento Intercontinental da Juventude, que em 2012 estará ocupando o parque Harmonia. O endereço do site é: www.forumsocialportoalegre.com
O site oficial do evento é http://www.fstematico2012.org.br/ e é nele que podem ser feitas as inscrições para participação individual, para as atividades autogestionárias (já há mais de 300 atividades inscritas), para a economia solidária e os serviços de alimentação. É aí também que está o formulário de credenciamento de imprensa.
O Fórum Social Temático, em janeiro, terá a tradicional marcha de abertura, que sairá do centro de Porto Alegre e irá até a orla do Guaíba. No final do dia, vários shows musicais ocorrerão no Anfiteatro Pôr-do-Sol. Outros destques do encontro serão o Fórum Mundial de Educação, a Feira de Economia Solidária e a Aldeia da Paz, que pretendem servir como exemplos de espaços de sustentabilidade ambiental e social.
Os Grupos Temáticos se encontrarão em Porto Alegre nos dias 25 e 26 de janeiro de 2012 para a sistematização dos debates do Fórum. Nos dias 27 e 28 de janeiro haverá articulação dos vários diálogos entre si ao redor dos seguintes eixos temáticos: fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação; direitos humanos, povos, territórios e defesa da Mãe-Terra; produção, distribuição e consumo: acesso à riqueza, bens comuns e economia de transição; sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.
Serra e FHC estão na mira da CPI da Privataria, que prevê o depoimento de ambos
Ao reunir apoio mais do que suficiente para ingressar, ainda nesta quarta-feira, com o requerimento para abertura da CPI da Privataria na Câmara, o deputado e delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiróz (PCdoB-SP) não descarta a convocação do candidato tucano derrotado à Presidência da República no ano passado, José Serra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) para depor perante os deputados. Ambos são citados como cúmplices em uma série de possíveis crimes contra o Erário, durante o processo de privatização, segundo denúncia contida no livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
– A Câmara não precisa de autorização do STF nem de ninguém para convocar o ex-presidente FHC a depor. Depende apenas da CPI, que já conta com mais de 250 assinatura, das 171 necessárias regimentalmente – esclarece o parlamentar, em entrevista exclusiva para o Correio do Brasil, na manhã desta segunda-feira.
Protógenes indica, ainda, que a CPI da Privataria, uma vez instalada, passará imediatamente à fase de apuração da veracidade de todos os documentos contidos no livro-reportagem do jornalista Amaury Jr, A Privataria Tucana. O autor revela, entre outras denúncias, que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio participou, ativamente, no envio de mais de R$ 60 bilhões ao exterior, entre os anos de 1998 e 2002. Entre os documentos anexados está um laudo da própria Polícia Federal, com a assinatura dos peritos criminais Renato Barbosa e Eurico Montenegro. Ricardo Sérgio aparece, posteriormente, como principal arrecadador de recursos para as campanhas eleitorais de Serra, tanto ao governo do Estado de São Paulo quanto à Presidência da República, em 2010.
– Iremos, inicialmente, levantar a veracidade de um por um dos documentos citados no livro. O primeiro passo da CPI será a formação de um grupo de trabalho com esta finalidade. Os fatos revelados no livro, para nós, já são suficientes para a abertura de um procedimento dessa natureza e, uma vez confirmados tanto a origem quanto a autenticidade documental, estes fatos serão fortalecidos. Aferidas as provas apresentadas, o passo seguinte será a convocação de todas as pessoas envolvidas, entre elas o ex-presidente FHC e o ex-governador José Serra – afirmou.
“Antes de assumir como o homem do dinheiro de Serra e FHC, Mr Big (como é conhecido Ricardo Sérgio) trabalhou durante 30 anos na área privada. Serviu ao banco Crefisul e ao Citibank e, mais tarde, estabelecendo-se por conta própria, abriu duas empresas. Sempre teve um confortável padrão de vida, mas tornou-se milionário mesmo depois de três anos no timão da área internacional do Banco do Brasil. Foi o único diretor do BB não indicado pelo presidente do banco, Paulo César Ximenes, e também o único com acesso a FHC”, acrescenta o jornalista Amaury Jr., em seu livro. Para o delegado Protógenes, se ele ainda estivesse na ativa “já teria aberto um inquérito”.
– Mas, como estou na Câmara, a medida adequada é a abertura desta CPI. O requerimento será entregue nesta quarta-feira porque muitos deputados, que querem assinar o documento para a abertura das investigações, não o puderam fazer na sexta-feira. Muitos ainda estão me ligando aqui para também assinar o requerimento – disse o parlamentar.
Delegado federal
Licenciado da Polícia Federal e deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, Protógenes Queiroz foi o delegado no comando da Operação Satiagraha que desvendou um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha do país. Ela resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, citado no livro A Pirataria Tucana como um dos colaboradores do esquema mafioso. Também participou da prisão do especulador Naji Nahas, do contrabandista Law Kin Chong, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) e de outros 14 acusados de corrupção. Protógenes coordenou, em parceria com a Promotoria de São Paulo, as investigações do caso Corinthians/MSI , por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em 2005, também foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco. O delegado presidiu o inquérito sobre remessas ilegais de dinheiro para paraísos fiscais que descobriu movimentações de quase cinco milhões de dólares das quais o ex-prefeito Celso Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito Paulo Maluf foi investigado no mesmo inquérito. Foi de Protógenes o relatório final do inquérito sobre desvios de dinheiro na Prefeitura de São Paulo durante os governos de Maluf (1993-1996) e Pitta (1997-2000).
Na Câmara, o parlamentar é suplente nas comissões de Reforma Política, Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, Turismo e Desporto, Reforma Política, Políticas Públicas de Combate às Drogas e na Subcomissão Permanente para tratar do sistema de segurança pública, seus órgãos institucionais, carreiras e programas de valorização dos policiais.
Da redação do CORREIO DO BRASIL
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Cesária Évora: África perde uma voz, o Céu ganha uma alma
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Não seria exagero dizer que Cesária Évora foi, é e será sempre a voz da África para milhões de pessoas. De facto, Cesária Évora é património mundial para os países membros da CPLP e constituirá uma eterna mais-valia para o espaço lusófono… porque Cesária Évora é mais do que uma voz, é mais do que um coração e ainda mais do que uma alma.
Há duas palavras que surgem do riquíssimo vocábulo da língua portuguesa para a descrever, e estas duas palavras são Cesária Évora. Definem-na no seu espaço, no seu contexto, colocam-na na Pátria que ela amava e cuja voz de referência ela se tornou. Se cantava de pé descalço foi porque ela sentia a sua terra a percorrer as suas veias, é porque Cabo Verde, primeiro e em segundo lugar, África, é parte integral da sua plasma. Quando pegava num microfone num palco, foi porque dignou-se a enriquecer a cultura mundial com aquele dom com que ela já tinha honrado todos os recantos da sua Ilha, São Vicente, e há muitos anos.
Aos 70 anos de idade, o corpo de Cesária Évora nos deixou no Hospital Baptista de Sousa, ilha de São Vicente, Cabo Verde neste sábado, 17 de dezembro. Mas vai continuar a viver entre nós muito mais do que a voz dela, pois esta era simplesmente um veículo para transmitir seu coração, sua alma e o coração e a alma da África. O que vai continuar a viver entre nós é a melancolia, a nostalgia, o amor correspondido e não, a esperança e o desejo vividos, usufruídos e queimados, a humanidade, a morna, a lágrima, a tristeza e nobreza e alegria ... da África e dos africanos, do Cabo Verde e dos cabo-verdeanos na voz de Cesária Évora, singular, ímpar, digna.
E isso, ninguém nem nada poderá destruir ou tirar de nós, nunca. Esse anjo da cultura mundial, nasceu no Mindelo, Capital da ilha de São Vicente, Cabo Verde em 27 de agosto de 1941, passou os primeiros anos da sua vida cantando e encantando São Vicente com o seu talento, e somente em 1988, aos 47 anos de idade, ela gravou seu primeiro álbum, em Paris.
Cesária Évora saltou para o palco mundial em 1992, aos 50 anos de idade, depois de apresentar seu quarto álbum, Miss Perfumado, em Paris, e depois dos shows subseqüentes, na cidade de Paris Theatre. Seis álbuns tinham referências Grammy, um prêmio que ela ganhou em 2004 (World Music, Voz d'Amor). Onze álbuns são apenas parte do seu legado, sendo o último Nha Sentimento (2009).
Cesária Évora, ou "Cize" para seus amigos, havia nascido em uma família musical - seu pai Justiniano da Cruz tocava cavaquinho, viola e violino, seu irmão tocava saxofone e entre os amigos da família, estava o compositor cabo-verdiano, B. Leza. O instrumento da Cesária Évora, porém, foi sua alma, através da sua voz, e desde tenra idade ela cantou nas ruas, nas praças "para esquecer as coisas tristes" nas suas palavras. Mais tarde acrescentou como palcos abençoados, acariciados e honrados pela sua voz bares, hotéis, salas de concerto. Acrescentaram-se mas nunca substituíram os caminhos, as ruas e as praças que ela pisava sem sapatos, a Rainha da Morna não precisava.
Sua interpretação da canção Sôdade dá asas a qualquer coração ou alma de qualquer geração de qualquer idade em qualquer lugar na Terra. Quem ouve a voz de Cesária Évora ouve uma alma a voar, ouve a história contada de milhares de anos de segredos africanos, ouve o espírito de Cabo Verde, o coração da África, a nobreza da Mulher.
Quão feridos os corações da África, de Cabo Verde, do espaço CPLP hoje. Porém, o legado da Cesária Évora é tornar a tristeza em alegria. E que rico legado é esse…
Timothy Bancroft-Hinchey
Director e Chefe de redacção do PATRIALATINA
Versão portuguesa
Pravda.Ru
Mídia vassala do império rufa os tambores de alegria e mancheteia morte de Kim –Jong – Il
Coreanos choram a morte de Kim-Jong-Il
Praticamente, a mesma manchete em toda a mídia.
Afinal, sabe-se que mais de 90 por cento dos freqüentadores da mídia não têm o mínimo interesse pela Coréia do Norte.
Por que então tamanha importância?
Comercial?
Não é.
Ideológica?
Não é.
Educacional, turística e outras mais?
Também não.
Por que tanto regozijo midiático?
Simples.
A Coréia do Norte é uma potencia Nuclear.
Os Estados Unidos já tentaram por diversas vezes invadir o país.
As ameaças de invasão pela turma que se locupleta com o sangue dos seus e dos outros, foram inúmeras, mas recuavam sempre na Hora H.
A Coréia do Norte estava sempre com o dedo no botão nuclear.
Pronto para disparar.
Coréia do Norte não possui a riqueza de um Iraque, de uma Líbia.
De uma geografia como o do Afeganistão e da ameaçada Síria.
Mas ao contrario dessas nações, possui o que de mais precioso hoje para revidar a qualquer tentativa de invasão e ocupação.
Possui a Bomba Atômica que qualquer nação que se preze, que se autodenomine de nação, precisa ter.
Se até uma tribo como Israel possui, por que o Brasil não pode ter?
Pense nisso, se você acredita que o seu país é uma nação.
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