Otaviano Helene no CORREIO DA CIDADANIA | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
O país A tem um sistema de ensino bastante orientado pelos e para
testes aplicados periodicamente aos estudantes. Como o desempenho dos
estudantes nesses testes é considerado fundamental, professores são
premiados ou punidos em função dos resultados obtidos por seus alunos.
Escolas podem ser entregues à eficiência da administração privada com o
objetivo de melhorar o desempenho dos estudantes. Com a mesma
finalidade, aulas de Artes, História e atividades físicas são reduzidas
em favor das disciplinas incluídas nos testes. Esse país A aplica, entre
investimentos públicos e privados, 7,4% do seu PIB em educação. E,
ainda, as dificuldades econômicas desse país têm sido atribuídas aos
professores, que preparam mal suas crianças e seus jovens. Por causa
disso e considerando os resultados dos alunos, professores ineficientes
devem ser descartados rapidamente e normas e leis que dificultam ou
impedem isso devem ser (e têm sido) eliminadas.
No país B não há testes padronizados aplicados às crianças. Segundo
um pesquisador acadêmico desse país, caso os professores fossem
avaliados a partir de teste aplicados a seus alunos, eles simplesmente
abandonariam a profissão “e não retornariam até que as autoridades
abandonassem essa idéia maluca”. As escolas do país B são administradas
apenas pelo setor público e professores e professoras são estáveis,
sendo muito difícil removê-los de suas funções. Nesse país, os
professores têm liberdade do que e de como ensinar, desde que os
currículos nacionais sejam respeitados. Esse país aplica, no total, 7,0%
do PIB em educação e sua renda per capita é cerca de 20% inferior à
renda per capita do país A.
Como se saem os estudantes desses dois países quando submetidos aos
testes padronizados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(PISA), (1), aplicados a estudantes de 15 anos de idade? Será que os
estudantes do país A, mais rico e que tem suas escolas e professores
orientados para os testes, se saem melhor? Não. Os estudantes do país B
se saem melhor, até mesmo, muito melhor. Paradoxal?
Não. De fato, há aspectos fundamentais que explicam esse aparente
paradoxo. Os países A e B são, respectivamente, os EUA e Finlândia (2)
e os resultados obtidos no PISA aplicado em 2009 aparecem,
resumidamente, na tabela 1. Os testes aplicados são em leitura,
matemática e ciências e em cada um desses quesitos o desempenho dos
estudantes é classificado em níveis de um a seis. Os valores que
aparecem na tabela correspondem a médias simples dos resultados naquelas
três áreas avaliadas. Todos os resultados mostram um desempenho
significativamente melhor dos estudantes finlandeses. E além da média
finlandesa ser significativamente superior à média estadunidense, aquele
país tem um percentual muito menor de estudantes com desempenho muito
baixo (abaixo do nível 1) e um percentual significativamente maior de
estudantes classificados no nível mais alto (nível 6). E, mais ainda, e
possivelmente refletindo a menor desigualdade de renda, a dispersão
relativa das notas recebidas pelos estudantes finlandeses, de 16%, é
menor do que a dispersão das notas dos estadunidenses, de 19%.
O que pode explicar as diferenças entre os dois países?
Certamente, o modelo educacional dos dois países faz a grande
diferença. Entretanto, tentou-se procurar explicações para a diferença
de desempenho entre os dois países em várias causas, evitando culpar o
estilo empresarial de administração escolar e baseado em avalições
permanentes de estudantes e em premiações e punições aos professores com
base no desempenho dos seus alunos e das escolas onde trabalham. Um dos
argumentos foi baseado na maior homogeneidade étnica populacional da
Finlândia, um argumento de viés racista. Entretanto, esse argumento não
sobreviveu, uma vez que, entre os 65 países ou regiões participantes do
PISA, havia países homogêneos e heterogêneos nos dois extremos da
classificação. Ou seja, o desempenho não está correlacionado com a
homogeneidade da população. Outro argumento baseou-se no tamanho
relativo das duas populações, 314 milhões nos EUA e 5,4 milhões na
Finlândia. Entretanto, esse argumento também não prosperou. Primeiro,
porque, como no caso da heterogeneidade da população, há países
populosos e não populosos distribuídos entre os de melhor e pior
desempenho: não há uma correlação entre o tamanho do país e o desempenho
de seus estudantes. Além disso, nos EUA, como em muitos países mais
populosos, a educação é administrada autonomamente pelos estados e
muitos deles têm populações bastante pequenas, menores do que a
finlandesa.
Outro aspecto diz respeito às condições (educativas e acadêmicas) de
trabalho dos professores. Na Finlândia, idéias que incluem a cultura dos
testes, dos vouchers (que permitem mercantilizar o acesso às escolas),
do pagamento de professores por mérito medido pelo desempenho dos
estudantes em testes padronizados e da competição e avaliação dos
professores a partir do desempenho de seus alunos são totalmente
rejeitadas. Provas são usadas apenas para informar aos professores o
andamento do trabalho, jamais para classificar, punir ou recompensar
alunos, escolas ou professores. Como a profissão é respeitada e há boas e
agradáveis condições de trabalho, as instituições de formação de
professores são bastante procuradas e formam excelentes profissionais.
Avaliações comparativas por meio de testes, prêmios e punições não
fazem parte do panorama educacional finlandês. A responsabilidade e a
liberdade de adaptar o ensino aos seus estudantes são práticas usuais
das escolas, dos diretores e dos professores.
Investimentos públicos versus privados
E quanto ao financiamento? Afinal os EUA aplicam um percentual maior
do seu PIB em educação, 7,4%, contra 7,0% na Finlândia. Há aqui outro
paradoxo? Não. O financiamento da educação na Finlândia é quase
totalmente público, com apenas 0,2% do PIB correspondendo a gastos
privados. Nos EUA, os gastos privados chegam a 2,0% do PIB. Portanto, o
gasto público anual por estudante em comparação com a renda per capita é
mais alto na Finlândia do que nos EUA, como mostra a tabela 2.
Aparentemente, a relevância dos investimentos por estudante parece estar
relacionada não apenas ao valor total, mas, especialmente, à origem,
pública ou privada da fonte.
(Vale a pena observar aqui que esse mesmo efeito da maior eficiência
dos gastos públicos em relação aos privados existe também na área de
saúde. Enquanto os EUA gastam em saúde, por pessoa, mais do que 15% de
sua renda per capita, contra uma média da ordem de 9% a 10% nos países
europeus mais avançados, os seus indicadores de saúde são piores. De
fato, a mortalidade infantil nos EUA é mais do que 50% superior à dos
países europeus mais avançados e a expectativa de vida é entre um e dois
anos menor. Mais um paradoxo? Não. Novamente, a grande diferença é
possivelmente devida ao fato de que mais do que a metade dos gastos nos
EUA são privados, contra cerca da quinta parte nos outros países
considerados. Parece, portanto, que, como em educação, os gastos
privados em saúde são muito menos eficientes do que os gastos públicos
no que diz respeito a se alcançarem os objetivos básicos que se
esperaria.)
Com quem devemos aprender?
A comparação entre os dois países, EUA e Finlândia, mostra que
caminho tomar. Premiação e punição de professores e escolas baseadas no
desempenho dos estudantes em testes padronizados, feitos à exaustão, não
são boa idéia, até mesmo para se conseguir bom desempenho em testes
padronizados! Professores muito bem formados, respeitados e com
liberdade de trabalho são condições fundamentais para o bom
funcionamento de um sistema educacional. Escolas administradas pelo
setor público, por mais altissonante que possa parecer o discurso em
favor de uma administração empresarial e eficiente, são melhores quando
todas as demais condições são equivalentes. Respeito às necessidades dos
estudantes, tanto individuais como coletivas, é outro caminho para se
construir um bom sistema educacional. E, também, uma melhor distribuição
de renda pode tanto contribuir para a qualidade de vida dos professores
como para o desempenho dos estudantes.
Além dos fatores considerados, vários outros problemas afetam o
sistema estadunidense de educação. Entre esses problemas estão: o
fundamentalismo religioso, que interfere nos currículos das escolas; as
limitações de recursos materiais e institucionais que impeçam que as
desigualdades entrem nas escolas e afetem seu funcionamento; a
existência de grandes contingentes populacionais marginalizados, em
especial no que diz respeito a crianças vivendo em situação de pobreza;
ensino superior pago, mesmo quando público, constituindo-se uma barreira
a mais no caminho dos estudantes; tratamento negativamente diferenciado
para crianças e jovens provenientes de famílias de imigrantes. Muitos
desses fatores têm origem em princípios religiosos, políticos e
ideológicos e como e com que intensidade cada um deles afeta
negativamente o desenvolvimento educacional das crianças e jovens
naquele país tem sido motivo de estudos acadêmicos.
Embora a comparação até aqui tenha sido apenas entre Finlândia e EUA,
as conclusões se repetem quando examinamos outros países. Por exemplo,
entre quatro países latino-americanos similares em vários aspectos e
cujas rendas per capita estão na faixa entre 9 e 12 mil dólares anuais
(pelo critério PPC), Cuba, Venezuela, Brasil e Colômbia, os dois
primeiros, menos afetados por políticas de avaliação quantitativa e por
práticas liberais do tipo vauchers, mostram indicadores educacionais
quantitativos e qualitativos melhores ou muito melhores do que os dois
últimos. Outros quatro países também similares quanto à renda per capita
(próximas a 15 mil dólares) e demais características, Argentina,
Uruguai, Chile e México, os dois primeiros, menos liberalizados e menos
voltados a uma educação de resultados (nos testes), apresentam melhores
desempenhos.
Cabe, assim, uma pergunta impertinente. Por que, apesar das
evidências, imitamos, especialmente no estado de São Paulo, políticas e
práticas educacionais e sociais que já se mostraram tão perniciosas em
muitos países? Por que não aprendemos com aqueles que melhor acertam?
Nota:
(1) O PISA, Programme for International Student Assessment, é um
teste padronizado, aplicado a cada três anos a estudantes de dezenas de
países e que inclui avaliações de leitura, matemática e ciências.
(2) Parte das informações e das análises deste texto são baseadas no
artigo Schools We Can Envy (Escolas que nós podemos invejar), escrito
por Diane Ravitch e publicado no New York Review of Books em 8 de março
de 2012. A autora ocupou cargos relativamente altos na Secretaria
(equivalente ao nosso Ministério) de Educação dos EUA.
Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi
presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep).
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 5 de junho de 2012
Considere estes países
“Precisamos resistir à vigilância digital”, diz fundador do movimento pelo software livre

Richard Stallman falou sobre a luta pelo software livre no Palácio Piratini | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Samir Oliveira no SUL21
O Palácio Piratini recebeu nesta segunda-feira (4) um convidado
totalmente diferente das autoridades afeitas a formalismos que costumam
frequentar a sede do governo gaúcho. O norte-americano Richard
Stallmann, liderança histórica do movimento em defesa do software livre,
estava bem à vontade com uma calça jeans bastante surrada e uma
camiseta vermelha de mangas curtas em pleno inverno.
Fundador da Free Software Foundation,
Stallman falou durante mais de 1h30min sobre a luta que empreende há
mais de de 30 anos, quando inventou o GNU, que mais tarde se agregaria
aos componentes criados por Linus Torvalds, originando o Linux – sistema
operacional desenvolvido e distribuído de forma totalmente livre e
gratuita.
Stallman se mostrou extremamente preocupado com a vigilância exercida
por governos e corporações através da internet. Na verdade, a crítica
de Richard é direcionada para qualquer equipamento eletrônico que opere
com aplicativos fornecidos pelas corporações tradicionais do ramo, como a
Microsoft e a Apple.
“A sociedade digital vive sob a ameaça da vigilância. Nem Stálin
tinha como vigiar o que todos faziam o tempo inteiro, mas hoje isso é
possível”, disse o ativista. Ele não poupou nem as redes sociais e pediu
ao público que não colocasse fotos suas no Facebook. “Não deem ao
Facebook mais uma oportunidade para me vigiar”, apelou.
Ele fez questão de manifestar que o receio de ter informações sobre a
sua vida rastreadas por equipamentos eletrônicos fará com que nunca
mais vá à Argentina. “Amanhã à noite visitarei a Argentina pela última
vez. Eles estão desenvolvendo um sistema de vigilância que recolhe a
impressão digital de todos os que entram no país. No momento, está
operando apenas em Buenos Aires, e eu consegui achar uma maneira de
entrar por outra cidade, sem precisar ser tratado como se fosse um
criminoso. Algumas coisas não devem ser toleradas, é nosso dever não
tolerá-las”, indignou-se.
Ele considera necessária a utilização das ferramentas tecnológicas no
combate ao crime, por exemplo, mas questiona a facilidade com que as
informações podem ser acessadas hoje em dia. “Um cidadão europeu
resolveu exigir do Facebook todas as informações que a empresa tinha
sobre ele. Foram mais de 200 páginas. Durante o império soviético, a
polícia secreta não poderia reunir essa quantidade de informações sobre
uma pessoa comum, sem nenhuma importância política”, comparou.
Stallman atenta para o perigo de as informações compartilhadas na
rede serem utilizadas contra os próprios usuários. “Na Inglaterra,
prenderam manifestantes antes que eles chegassem a um protesto. A
vigilância digital é utilizada para atacar os direitos humanos e a
democracia”, alertou.
“As escolas e os governos devem trabalhar somente com software livre”, defende
Richard Stallman acredita que os softwares patenteados restringem a
liberdade das pessoas, já que seus códigos de produção são fechados e
não permitem que sejam feitas modificações. Por isso, ele defende que as
escolas e os governos utilizem somente sistemas livres.
“As escolas têm a missão de educar bons cidadãos para uma sociedade
livre, forte, independente e cooperativa. Jamais deveriam ensinar seus
alunos a mexer em programas pagos, pois estariam ensinando dependência.
Por que as corporações distribuem sistemas operacionais de graça para as
escolas? Querem que as crianças fiquem dependentes de seus produtos. É
como dar agulhas com drogas para que os alunos fiquem viciados. A
primeira dose é de graça. Mas depois será preciso pagar”, comparou.
Stallman considera que os programas desenvolvidos de maneira fechada e
paga colocam o indivíduo a mercê dos caprichos da empresa que detém os
direitos sobre o produto. “Ou o usuario controla o programa, ou o
programa controla o usuário. E por trás desse programa, há uma
corporação que o controla. É por isso que os aplicativos pagos são um
instrumento para subjugar as pessoas e sua própria existência é um
problema social a ser enfrentado”, opinou.
Ele disse que é preciso fazer a defesa do software livre “como um
direito humano” e atacou as duas principais empresas que produzem
sistema operacionais e aplicativos de forma paga e fechada: a Microsoft e
a Apple. Stallmann observou que o Windows possui sistemas de vigilância
e interfere na autonomia dos usuários ao modificar os programas sem
permissão “de quem deveria, teoricamente, ser o dono do computador”.
E fez questão de dizer que “a Apple não é melhor”, apesar de as duas
companhias serem rivais no mercado. “Os computadores da Apple foram
fabricados para serem jaulas. A genialidade de Steve Jobs foi fabricar
uma jaula tão confortável que milhões de idiotas desejam viver nela”,
disparou.
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segunda-feira, 4 de junho de 2012
Jair de Souza: Documentário Catastroika em português
por Jair de Souza no VIOMUNDO
Creio que você já conhece o documentário grego Catastroika,
recentemente lançado ao público pelos mesmos realizadores de outro
importante documentário, Dividocracia.
Fiz a adaptação das legendas ao português do Brasil e gostaria de contar com a ajuda do Viomundo para sua divulgação entre nós.
Neste novo documentário, podemos constatar como se originou a
política global de privatizações em massa, com a aplicação dos métodos
muito bem relatados por Naomi Klein em seu conceituado livro
A doutrina do choque.
Podemos ver que, para implementar o propalado modelo de “Estado
mínimo”, é preciso usar ao máximo a força do Estado, especialmente
forças militares e policiais, para vencer as enormes resistências de
grande parte da população. Ou seja, os defensores do “Estado mínimo”
apelam para o Estado máximo para impor suas condições a toda a
sociedade.
A partir dos postulados do neoliberalismo, entenderemos que o Estado
só deverá manter-se afastado na hora da apropriação dos recursos gerados
pelo conjunto da nação (para evitar que os mesmos caiam nas mãos
erradas da maioria). Estes recursos devem sempre ficar à disposição dos
grupos econômicos (especialmente os representantes do capital
financeiro) que de fato comandam o Estado. A participação estatal na
questão da distribuição da renda só será admitida (e, na verdade,
exigida) quando o modelo entrar em crise e gerar situações que ponham em
risco os interesses dos grupos econômicos dominantes. Aí, sim, o Estado
precisa desempenhar um papel de primeira linha e deve atuar para fazer
com que o conjunto da sociedade assuma os custos da crise originada
pelas ações especulativas daqueles que vinham se beneficiando do
sistema.
O documentário nos mostra em detalhes como se gestou a crise na
Grécia. Também nos deixa muito claro que permanece plenamente em vigor a
máxima do neoliberalismo econômico, a qual reza que: “Todo lucro deve
sagradamente ser apropriado de forma privada, e todos os prejuízos que
surjam desse processo de apropriação devem necessariamente ser assumidos
pelo conjunto da sociedade”.
Em outras palavras, o neoliberalismo defende a ideologia
robinhoodiana com sinal trocado: “Tirar dos pobres para servir aos
ricos”.
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domingo, 3 de junho de 2012
A toga, a língua e o caçador de blogs

Saul Leblon no CARTA MAIOR
Escudado na proteção republicana da toga, o
ministro Gilmar Mendes desnudou uma controversa agenda política pessoal
na última semana de maio. Onipresente na obsequiosa passarela da mídia
amiga, lacrou seu caminho na 6ª feira declarando-se um caçador de blogs
adversários de suas ideias e das ideias de seus amigos. Em preocupante
equiparação entre a autoridade da toga e a arbitrariedade da língua,
Gilmar decretou serem inimigos das instituições republicanas todos
aqueles que contestam os seus malabarismos discursivos, a adequar
denúncias a cada 24 horas, num exercício de convencimento à falta de
testemunhas e fatos que as comprovem.
A fragilidade desse discurso impele-o agora ao papel de censor a exigir da Procuradoria Geral da República, e do ministro Mantega, que sufoque blogs adversários asfixiando-os com o corte da publicidade oficial. Sobre veículos que incluem entre suas fontes e 'colaboradores informais', notórios acusados de integrar quadrilhas do crime organizado, o ministro nada observa em relação à presença da publicidade oficial. Cabe ao governo Dilma dar uma resposta ao autonomeado censor da República.
O ataque da língua togada contra a imprensa crítica não é aleatório. O dispositivo midiático conservador vive em andrajos de credibilidade e pautas. A semana final de maio estava marcada para ser um desses picos de desamparo, na despedida humilhante de seu herói decaído. E de fato o foi: em depoimento no Conselho de Ética do Senado, na 3ª feira, o ex-líder dos demos na Casa, Demóstenes Torres, deixaria gravado no bronze dos falsos savonarolas a lapidar confissão de que um chefe de quadrilha pagava as contas, miúdas, observaria, de seu celular. E ele, o centurião da moralidade, a direita linha dura assim cortejada pela língua togada e pelo aparato conservador --quem sabe até para vôos maiores em 2014--, não viu nenhum tropeço ético nesse pequeno mimo que elucida todo um perfil.
O fecho de carreira do tribuno goiano contaminaria as manchetes que ele tantas vezes ancorou à direita não fosse a providencial intervenção da língua amiga do ministro do STF, Gilmar Mendes. Na mesma 3ª feira desde as primeiras horas da manhã, lá estava ela a falar pelos cotovelos. Diuturnamente, contemplou a orfandade da mídia amiga naquele dia cinzento. A cada qual ofereceu uma frase brinde para erguer a moral da tropa e justificar a manchete com o carimbo 'exclusivo' no alto da página. Não se poupou. O magistrado, não raro em destemperados decibéis, esfregou na opinião pública recibos e documentos que comprovariam o pagamento, com recursos próprios --'tenho-os para umas três voltas ao mundo'-- de seu giro europeu, em abril de 2011, onde se encontraria com Demóstenes Torres.
Peremptória, a língua emitiu ordens e ordenou o que pode e o que não pode em vários: 'Vamos parar com essas suspeitas sobre viagens", determinou. Para depois admitir em habilidosa antecipação: por duas vezes utilizou carona aérea do amigo Demóstenes; por duas vezes voou sob os auspícios do amigo que não possui veículo aéreo próprio; do amigo que não paga nem as contas de celular. Contas miúdas, diga-se, a revelar um vínculo orgânico com a ubíqua carteira gorda de acusados de integrar o condomínio criminoso goiano.
Gilmar estava determinado a servir de redenção ao dispositivo midiático demotucano num dia tão aziago. Não desapontou amigos, ainda que tenha escandalizado o país que espera serenidade e equidistância dos que vocalizam um Supremo Tribunal Federal. Ofensivo, execrou blogs e sites críticos -- esses sim, bandidos e gangsters-- que arguiram e ainda arguem as fronteiras da identidade de valores que aproximou o magistrado do senador decaído.
Fez mais ainda: acusou Lula de ser a central de boatos contra ele para 'melar o julgamento do mensalão' --como se o ex-presidente Lula não pudesse, não devesse ter opinião sobre fatos relevantes da vida política nacional --prerrogativa que outras togas mais serenas não contestam e legitimam. Ao jornal O Globo, na linha da frase à la carte, facilitou a manchete pronta para dissolver a terça-feira de cinzas do conservadorismo: 'O Brasil não é a Venezuela onde Chávez manda prender juiz'. O diário retribuiu a gentileza em manchete garrafal de duas linhas no alto da página. Um contrafogo sob medida à humilhante baixa no Senado. Incansável, a língua foi provendo xistes e chutes a emissários de redações sedentas, mas cometeu alguns deslizes.
Esqueceu que um pilar de sua versão sobre a famosa conversa com Lula --origem de toda celeuma que descambou em ataque à liberdade de imprensa-- residia nos pequenos detalhes que emprestam veracidade ao bom contador; um deles, o cenário: a cozinha. Teria sido naquele recinto profano do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, abrigado de qualquer solenidade e sem a presença do anfitrião, que ocorrera o assédio moral inesperado de um Lula chantageador contra um Gilmar irretocável.
Quadro perfeito. Exceto pelo fato de não se sustentar nem mesmo no matraquear do interessado. Sim, o mesmo magistrado suprimiu o precioso cenário despido de testemunhas na versão apresentada ao jornal Valor do dia 30-05 quando afirmou literalmente: 'Jobim esteve presente durante todo o tempo'. Como? E a cozinha? E a privacidade a dois que lubrificou o assédio de um Lula irreconhecível?
Evaporou-se: Jobim estava presente o tempo todo. A contradição ostensiva mirava agora outro alvo: o próprio Jobim, em retribuição ao desmentido categórico do anfitrião para o relato original do episódio à VEJA. No mesmo Valor, Gilmar insinuaria contra Nelson Jobim uma suspeita de cumplicidade com Lula por ter lançado na mesa da conversa o nome de um desafeto: Paulo Lacerda. Ex-dirigente da ABIN, Lacerda foi demitido em 2008 depois que a mesma lingua togada denunciou aos mesmos parceiros da mídia uma suposta escuta da PF em seu escritório --fato nunca comprovado. Na 5ª feira (31-05) o entendimento da investida contra Jobim ficaria completo: Serra, o candidato predileto do conservadorismo, amigo de Gilmar, prestou-se à colaborar com Veja; desinteressadamente; a exemplo do que tantas vezes o fez desinteressado o também o colaborador Dadá, araponga de aluguel do esquema Cachoeira. Serra incitou o amigo Jobim a falar com a revista sobre o encontro. É um traço do veículo da Abril --comprovado nos documentos disponíveis na CPI do Cachoeira-- recorrer a colaboradores desse espectro para obter 'provas' que sustentem suas matérias pré-fabricadas.
Surpreendido pela trama rasteira Jobim tirou a escada de VEJA e deu troco duplo: desmentiu Gilmar no Estadão; confirmou a Monica Bergamo, da Folha, o que tantos sabem: Serra não falha; sua biografia de bastidores está, esteve e estará sempre entrelaçada a golpes e denúncias que contemplem a regressividade udenista da qual VEJA constitui a corneta mais atuante e Gilmar o novo expoente da agressividade lacerdista.
Diante do maratonismo verbal não sobraria fôlego aos jornais e jornalistas amigos para conceder ao leitor um pequeno espaço de reflexão sobre a momentosa semana final de maio, que deixa mais dúvidas do que certezas. Ademais da evanescente cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, outros pontos de interrogação merecem retrospecto. Por exemplo:
a) a reportagem publicada por Carta Maior no dia 29-04 " Cachoeira arruma avião para Demóstenes e 'Gilmar' --com aspas por conta da identificação incompleta do ilustre viajante e um dos motivos da fluvial verborragia togada, não tratava de pagamento de vôo a Berlim patrocinado pela 'agência de viagens' Demóstenes & Cachoeira;
b) o texto, conciso e claro baseado em escutas públicas da PF teve como foco uma 'carona aérea' no trecho SP-Brasília, solicitada ao esquema Cachoeira para o dia 25-04 de 2011;
c) as tratativas telefônicas da quadrilha Cachoeira apontam que os passageiros da carona viriam da Alemanha e seriam, respectivamente, Demóstenes e 'Gilmar' ;
d) a data da chegada a São Paulo é a mesma do retorno informado pelo próprio Gilmar Mendes em seu rally jornalístico;
e) o horário de chegada do seu vôo originário da Alemanha guarda proximidade com aquele informado à quadrilha. Essas as coincidências notáveis. A partir daí os fatos e comprovantes apresentados por Gilmar Mendes desmentem que ele tenha utilizado a dita carona solicitada à quadrilha, fato que Carta Maior noticiou imediatamente após os esclarecimentos do magistrado. O desencontro entre essas evidências e as providencias tomadas pela quadrilha Cachoeira, todavia, autoriza uma indagação que não se dissolve no aluvião verborrágico da semana, a saber: quantos Gilmares havia em Berlim com Demóstenes Torres? E, mais que isso: quem seria o 'Gilmar' cuja inclusão na carona, aparentemente desativada, não causou qualquer surpresa a Cachoeira, que nas escutas reage à menção do nome e da presença como algo se não habitual, perfeitamente compatível com a extensão de seus tentáculos e zonas de influência?
Carta Maior reserva-se o direito de continuar praticando um jornalismo crítico e auto-crítico, comprometido única e exclusivamente com a democracia e as aspirações progressistas da sociedade brasileira, abraçadas pela ampla maioria de seus leitores. Isso naturalmente a coloca na margem oposta daqueles que até ontem consideravam Demóstenes Torres, seus valores, agendas, contas de celular e caronas em jatinhos uma referência ética e republicana.
Fiel a esse compromisso com o leitor, Carta Maior cumpre a obrigação de manter em pauta algumas perguntas ainda sem resposta satisfatória: quantos gilmares havia em Berlim? Quantos gilmares havia no escritório de Jobim (um na cozinha e um na sala)? E, ainda mais urgente, quantas ameaças de fuzilamento da liberdade de expressão serão necessárias para que os partidos democráticos e o governo tomem a iniciativa de desautorizar a língua arvorada em extensão da toga? Não só em palavras, mas sobretudo na impostergável democratização afirmativa da publicidade oficial, antes que novos e velhos caçadores de jornalistas consigam transformá-la em mais um torniquete da pluralidade de opinião.
A fragilidade desse discurso impele-o agora ao papel de censor a exigir da Procuradoria Geral da República, e do ministro Mantega, que sufoque blogs adversários asfixiando-os com o corte da publicidade oficial. Sobre veículos que incluem entre suas fontes e 'colaboradores informais', notórios acusados de integrar quadrilhas do crime organizado, o ministro nada observa em relação à presença da publicidade oficial. Cabe ao governo Dilma dar uma resposta ao autonomeado censor da República.
O ataque da língua togada contra a imprensa crítica não é aleatório. O dispositivo midiático conservador vive em andrajos de credibilidade e pautas. A semana final de maio estava marcada para ser um desses picos de desamparo, na despedida humilhante de seu herói decaído. E de fato o foi: em depoimento no Conselho de Ética do Senado, na 3ª feira, o ex-líder dos demos na Casa, Demóstenes Torres, deixaria gravado no bronze dos falsos savonarolas a lapidar confissão de que um chefe de quadrilha pagava as contas, miúdas, observaria, de seu celular. E ele, o centurião da moralidade, a direita linha dura assim cortejada pela língua togada e pelo aparato conservador --quem sabe até para vôos maiores em 2014--, não viu nenhum tropeço ético nesse pequeno mimo que elucida todo um perfil.
O fecho de carreira do tribuno goiano contaminaria as manchetes que ele tantas vezes ancorou à direita não fosse a providencial intervenção da língua amiga do ministro do STF, Gilmar Mendes. Na mesma 3ª feira desde as primeiras horas da manhã, lá estava ela a falar pelos cotovelos. Diuturnamente, contemplou a orfandade da mídia amiga naquele dia cinzento. A cada qual ofereceu uma frase brinde para erguer a moral da tropa e justificar a manchete com o carimbo 'exclusivo' no alto da página. Não se poupou. O magistrado, não raro em destemperados decibéis, esfregou na opinião pública recibos e documentos que comprovariam o pagamento, com recursos próprios --'tenho-os para umas três voltas ao mundo'-- de seu giro europeu, em abril de 2011, onde se encontraria com Demóstenes Torres.
Peremptória, a língua emitiu ordens e ordenou o que pode e o que não pode em vários: 'Vamos parar com essas suspeitas sobre viagens", determinou. Para depois admitir em habilidosa antecipação: por duas vezes utilizou carona aérea do amigo Demóstenes; por duas vezes voou sob os auspícios do amigo que não possui veículo aéreo próprio; do amigo que não paga nem as contas de celular. Contas miúdas, diga-se, a revelar um vínculo orgânico com a ubíqua carteira gorda de acusados de integrar o condomínio criminoso goiano.
Gilmar estava determinado a servir de redenção ao dispositivo midiático demotucano num dia tão aziago. Não desapontou amigos, ainda que tenha escandalizado o país que espera serenidade e equidistância dos que vocalizam um Supremo Tribunal Federal. Ofensivo, execrou blogs e sites críticos -- esses sim, bandidos e gangsters-- que arguiram e ainda arguem as fronteiras da identidade de valores que aproximou o magistrado do senador decaído.
Fez mais ainda: acusou Lula de ser a central de boatos contra ele para 'melar o julgamento do mensalão' --como se o ex-presidente Lula não pudesse, não devesse ter opinião sobre fatos relevantes da vida política nacional --prerrogativa que outras togas mais serenas não contestam e legitimam. Ao jornal O Globo, na linha da frase à la carte, facilitou a manchete pronta para dissolver a terça-feira de cinzas do conservadorismo: 'O Brasil não é a Venezuela onde Chávez manda prender juiz'. O diário retribuiu a gentileza em manchete garrafal de duas linhas no alto da página. Um contrafogo sob medida à humilhante baixa no Senado. Incansável, a língua foi provendo xistes e chutes a emissários de redações sedentas, mas cometeu alguns deslizes.
Esqueceu que um pilar de sua versão sobre a famosa conversa com Lula --origem de toda celeuma que descambou em ataque à liberdade de imprensa-- residia nos pequenos detalhes que emprestam veracidade ao bom contador; um deles, o cenário: a cozinha. Teria sido naquele recinto profano do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, abrigado de qualquer solenidade e sem a presença do anfitrião, que ocorrera o assédio moral inesperado de um Lula chantageador contra um Gilmar irretocável.
Quadro perfeito. Exceto pelo fato de não se sustentar nem mesmo no matraquear do interessado. Sim, o mesmo magistrado suprimiu o precioso cenário despido de testemunhas na versão apresentada ao jornal Valor do dia 30-05 quando afirmou literalmente: 'Jobim esteve presente durante todo o tempo'. Como? E a cozinha? E a privacidade a dois que lubrificou o assédio de um Lula irreconhecível?
Evaporou-se: Jobim estava presente o tempo todo. A contradição ostensiva mirava agora outro alvo: o próprio Jobim, em retribuição ao desmentido categórico do anfitrião para o relato original do episódio à VEJA. No mesmo Valor, Gilmar insinuaria contra Nelson Jobim uma suspeita de cumplicidade com Lula por ter lançado na mesa da conversa o nome de um desafeto: Paulo Lacerda. Ex-dirigente da ABIN, Lacerda foi demitido em 2008 depois que a mesma lingua togada denunciou aos mesmos parceiros da mídia uma suposta escuta da PF em seu escritório --fato nunca comprovado. Na 5ª feira (31-05) o entendimento da investida contra Jobim ficaria completo: Serra, o candidato predileto do conservadorismo, amigo de Gilmar, prestou-se à colaborar com Veja; desinteressadamente; a exemplo do que tantas vezes o fez desinteressado o também o colaborador Dadá, araponga de aluguel do esquema Cachoeira. Serra incitou o amigo Jobim a falar com a revista sobre o encontro. É um traço do veículo da Abril --comprovado nos documentos disponíveis na CPI do Cachoeira-- recorrer a colaboradores desse espectro para obter 'provas' que sustentem suas matérias pré-fabricadas.
Surpreendido pela trama rasteira Jobim tirou a escada de VEJA e deu troco duplo: desmentiu Gilmar no Estadão; confirmou a Monica Bergamo, da Folha, o que tantos sabem: Serra não falha; sua biografia de bastidores está, esteve e estará sempre entrelaçada a golpes e denúncias que contemplem a regressividade udenista da qual VEJA constitui a corneta mais atuante e Gilmar o novo expoente da agressividade lacerdista.
Diante do maratonismo verbal não sobraria fôlego aos jornais e jornalistas amigos para conceder ao leitor um pequeno espaço de reflexão sobre a momentosa semana final de maio, que deixa mais dúvidas do que certezas. Ademais da evanescente cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim, outros pontos de interrogação merecem retrospecto. Por exemplo:
a) a reportagem publicada por Carta Maior no dia 29-04 " Cachoeira arruma avião para Demóstenes e 'Gilmar' --com aspas por conta da identificação incompleta do ilustre viajante e um dos motivos da fluvial verborragia togada, não tratava de pagamento de vôo a Berlim patrocinado pela 'agência de viagens' Demóstenes & Cachoeira;
b) o texto, conciso e claro baseado em escutas públicas da PF teve como foco uma 'carona aérea' no trecho SP-Brasília, solicitada ao esquema Cachoeira para o dia 25-04 de 2011;
c) as tratativas telefônicas da quadrilha Cachoeira apontam que os passageiros da carona viriam da Alemanha e seriam, respectivamente, Demóstenes e 'Gilmar' ;
d) a data da chegada a São Paulo é a mesma do retorno informado pelo próprio Gilmar Mendes em seu rally jornalístico;
e) o horário de chegada do seu vôo originário da Alemanha guarda proximidade com aquele informado à quadrilha. Essas as coincidências notáveis. A partir daí os fatos e comprovantes apresentados por Gilmar Mendes desmentem que ele tenha utilizado a dita carona solicitada à quadrilha, fato que Carta Maior noticiou imediatamente após os esclarecimentos do magistrado. O desencontro entre essas evidências e as providencias tomadas pela quadrilha Cachoeira, todavia, autoriza uma indagação que não se dissolve no aluvião verborrágico da semana, a saber: quantos Gilmares havia em Berlim com Demóstenes Torres? E, mais que isso: quem seria o 'Gilmar' cuja inclusão na carona, aparentemente desativada, não causou qualquer surpresa a Cachoeira, que nas escutas reage à menção do nome e da presença como algo se não habitual, perfeitamente compatível com a extensão de seus tentáculos e zonas de influência?
Carta Maior reserva-se o direito de continuar praticando um jornalismo crítico e auto-crítico, comprometido única e exclusivamente com a democracia e as aspirações progressistas da sociedade brasileira, abraçadas pela ampla maioria de seus leitores. Isso naturalmente a coloca na margem oposta daqueles que até ontem consideravam Demóstenes Torres, seus valores, agendas, contas de celular e caronas em jatinhos uma referência ética e republicana.
Fiel a esse compromisso com o leitor, Carta Maior cumpre a obrigação de manter em pauta algumas perguntas ainda sem resposta satisfatória: quantos gilmares havia em Berlim? Quantos gilmares havia no escritório de Jobim (um na cozinha e um na sala)? E, ainda mais urgente, quantas ameaças de fuzilamento da liberdade de expressão serão necessárias para que os partidos democráticos e o governo tomem a iniciativa de desautorizar a língua arvorada em extensão da toga? Não só em palavras, mas sobretudo na impostergável democratização afirmativa da publicidade oficial, antes que novos e velhos caçadores de jornalistas consigam transformá-la em mais um torniquete da pluralidade de opinião.
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sábado, 2 de junho de 2012
A nova economia política brasileira
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Na
década atual, a generalizada melhoria do quadro social se deve à
combinação de importantes fatores: estabilidade monetária, expansão
econômica, reforço das políticas públicas, elevação do salário mínimo,
ampliação do crédito popular, reformulação e alargamento dos programas
de transferência de renda, entre outros
|
![]() |
por Marcio Pochmann no LeMondeBrasil |
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(Beneficiários do Bolsa Família em Anhanguera - GO)
O Brasil não tem arraigada tradição democrática. Ao longo de mais de
cinco séculos de história, o país mal registra cinquenta anos de
democracia. Isso porque a herança política do Império (1822-1889) à
República Velha (1889-1930) foi o prolongamento do antigo e carcomido
regime da democracia censitária, em que votavam e eram votados tão
somente homens de posse, o que significou a participação de não mais do
que 5% do total da população nos períodos eleitorais.
Desde 1932, com a introdução do voto secreto e sua ampliação para
homens e mulheres, a experiência democrática não foi contínua, tendo em
vista que passou por duas interrupções abruptas durante o Estado Novo
(1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985). Por força disso, a
economia política brasileira se fundamentou na apartação dos interesses
das classes populares do conjunto dos objetivos da expansão das forças
produtivas.
Ao mesmo tempo, as tradicionais reformas clássicas do capitalismo
contemporâneo, realizadas em praticamente todos os países desenvolvidos,
como a fundiária, a tributária e a social, deixaram simplesmente de ser
efetivadas. Num país de dimensão continental e grande população, a
estrutura produtiva manteve sua dinâmica prisioneira, sobretudo,
daqueles segmentos sociais de maior poder aquisitivo e mais
privilegiados pela atuação do Estado.
Assim, a economia política do desenvolvimento assentou-se na máxima de
primeiro crescer para depois distribuir. E o crescimento econômico
possível se tornou associado à concentração da renda e poder, o que
concedeu ao Estado o papel policial a ser exercido sempre que o
desconforto das classes populares começasse a ser mobilizado.
O resultado foi uma enorme exclusão social, cujos indicadores de
pobreza e desigualdade tornaram o Brasil uma referência mundial do
exemplo a não ser seguido. Em 1980, por exemplo, a economia nacional
encontrava-se entre as oito mais importantes do planeta, embora
registrasse o primeiro lugar no ranking mundial da desigualdade de
renda, com dois terços de sua população na condição de pobreza absoluta.
Para piorar, as duas décadas seguintes (1980 e 1990) foram de regressão
social e econômica em razão da substituição das velhas políticas
desenvolvimentistas pela hegemonia neoliberal. Por força disso, o país
regrediu, em 2000, ao posto de 13ª economia do mundo, com o rendimento
dos proprietários (lucros, juros, aluguéis e renda da terra) respondendo
por 68% da renda nacional (ante 50% em 1980) e o desemprego atingindo
quase 12 milhões de trabalhadores (contra menos de 2 milhões em 1980).
Atualmente, percebe-se que foi a grande política que salvou o Brasil da
pequenez do destino imposto pelo neoliberalismo, assim como impediu o
retorno das políticas do desenvolvimentismo tradicional.
O vigor da marcha reestruturadora das políticas públicas encadeadas
pela Constituição Federal de 1988 deu o primeiro impulso, seguido depois
da estruturação vertical dos grandes eixos de intervenção do Estado no
campo da proteção e do desenvolvimento social (saúde, educação,
assistência e previdência, infraestrutura social, trabalho, entre
outros). O país avançou no sentido já experimentado pelas economias
desenvolvidas, de construção do Estado de bem-estar social.
Mesmo durante o longo período da superinflação (1980-1994) e a
prevalência do baixo dinamismo econômico e contenção fiscal na década de
1990, a regulamentação de diversas políticas públicas no campo da
assistência e previdência contribuiu para evitar que o contexto social
desfavorável apresentasse ainda maior regressão, para além do
crescimento do desemprego e a piora na distribuição funcional da renda.
Posteriormente, com a inflexão da política nacional na primeira década
do século XXI, a nova economia política ganhou dimensão até então
inédita e contribuiu decisivamente para a melhora socioeconômica
generalizada no país.
As evidências do processo de expansão do bem-estar são expressão do
padrão de inclusão possibilitado pela ampliação do consumo. De um lado, o
enfrentamento da pobreza extrema, com o acesso à renda mínima
garantindo a sobrevivência, e de outro a atuação na pobreza absoluta,
por meio da complementação da renda para o consumo básico (alimentação,
habitação, transporte, entre outros).
O processo atual de inclusão social é um avanço no contexto do
capitalismo contemporâneo, enunciando o conjunto de méritos da nova
economia política brasileira. Nesse sentido, o enfrentamento das
necessidades básicas de todos, sobretudo das classes populares, gera
inquestionáveis melhoras nos indicadores de redução da pobreza e da
desigualdade de renda.
Assim, o movimento de inclusão social, por meio da ampliação do nível
de renda na base da pirâmide social que tradicionalmente era excluída do
acesso aos meios básicos de vida, segue cada vez mais a reorientação do
Estado, que busca a universalização dos serviços públicos de qualidade
(educação, saúde, saneamento, moradia, entre outros). Isso pode,
inclusive, fazer a pobreza extrema ser superada, assim como o
analfabetismo e outros estrangulamentos do desenvolvimento humano, nesta
segunda década do século XXI.
Da exclusão à inclusão social
Grande parte dos avanços atualmente alcançados pelo Brasil no campo do
enfrentamento da questão social está, direta e indiretamente, associada
ao conjunto das políticas públicas motivadas pela Constituição Federal
de 1988.
A consolidação de grandes e complexas estruturas verticais de
intervenção do Estado de bem-estar social (saúde, educação, assistência e
previdência, infraestrutura social, trabalho, entre outros)
possibilitou obter resultados positivos no Brasil mais rapidamente e na
mesma direção dos já alcançados pelos países desenvolvidos.
Mas para isso foi necessário avançar o gasto social. No último ano do
regime militar (1985), o gasto social realizado no Brasil representava
apenas 13,3% do PIB. Com a Constituição, ele aumentou para 19%,
permanecendo estacionado nesse mesmo patamar ao longo da década
neoliberal.
A partir dos anos 2000, o gasto social retomou a trajetória
ascensional, alcançando atualmente 23% do PIB. Isso se tornou possível
após o estabelecimento de uma nova maioria política, comprometida com o
crescimento da economia e com a melhor distribuição das oportunidades
desde 2003.
Em boa medida, os avanços sociais podem ser observados na tabela desta
página, que apresenta sinteticamente os seis grandes complexos de
intervenção social do Estado, bem como o contingente da população
coberta pelas diversas políticas sociais. Essa estrutura do Estado
brasileiro que se encontra voltada à atenção social não se distancia da
registrada nas economias avançadas.
Para além da montagem dos grandes eixos estruturadores da intervenção
social do Estado brasileiro e a expansão do gasto social em relação ao
PIB, convém destacar dois fatores decisivos nas políticas públicas após a
Constituição de 1988.
O primeiro resulta do movimento de descentralização da política social,
isto é, do crescimento do papel do município na execução das políticas
sociais, sobretudo em termos de educação, saúde e assistência social.
Em 2008, por exemplo, o conjunto dos municípios teve participação no
gasto social brasileiro 53,8% maior que o verificado em 1980.
Em sentido inverso, a participação relativa dos estados no total do
gasto social foi 7,6% inferior no mesmo período de tempo, ao mesmo tempo
que a União registrou presença 5,9% menor.
O segundo fator relaciona-se à participação social no desenho e na
gestão das políticas sociais brasileiras. De maneira geral, todas as
principais políticas sociais possuem conselhos de participação social
federal, estadual e municipal, quando não são acompanhadas por
conferências populares que evidenciam a maior transparência e eficácia
na aplicação dos recursos públicos.
A sucessiva regulação das diversas políticas públicas ao longo da
década de 1990 teve o importante papel de impedir o maior agravamento do
quadro social, para além do crescimento do desemprego e da concentração
da distribuição funcional da renda nacional, motivados pelo baixo
dinamismo econômico do período, assim como os constrangimentos impostos
pela superinflação até 1994 e pela política macroeconômica de
estabilização monetária (elevados juros, valorização cambial, contenção
fiscal e ajustes no gasto social), que terminou por inibir a melhora dos
resultados sociais no Brasil.
Na década atual, a generalizada melhoria do quadro social no Brasil se
deve à combinação de importantes fatores: a continuidade da estabilidade
monetária, a maior expansão econômica, o reforço das políticas
públicas, a elevação real do salário mínimo, a ampliação do crédito
popular, a reformulação e o alargamento dos programas de transferência
de renda para os estratos de menor renda, entre outras ações.
Emergência da economia social
Como se sabe, o ciclo de expansão produtivo entre as décadas de 1930 e
1980 atribuiu à economia social um papel secundário e subordinado às
decisões referentes a gastos privados e públicos. Como já dito, imperava
até então a máxima de crescer para depois distribuir, o que abriu um
espaço em geral estreito para o avanço e autonomia relativa do gasto
social no desempenho de suas funções.
Basta lembrar que a escola brasileira somente se tornou universal um
século após a proclamação da República (1889). Somente em 1988, com a
Constituição, o Brasil definiu recursos necessários para que o ensino
fundamental se tornasse capaz de atender a todas as crianças do país.
Com a nova maioria política estabelecida desde 2003, percebe-se o
avanço do gasto social. De cada R$ 4 investidos no Brasil, um está
vinculado diretamente à economia social. Se for contabilizado também seu
efeito multiplicador (elasticidade de 0,8), pode-se estimar que quase a
metade de toda a produção de riqueza nacional se encontra relacionada
direta e indiretamente à dinâmica da economia social.
Apesar disso, o impacto econômico do Estado de bem-estar social não tem
sido muito bem percebido. Tanto que se mantém reinante a visão
liberal-conservadora que considera o gasto social secundário, quase
sempre associado ao paternalismo de governantes e, por isso, passível de
corte.
Novas referências técnicas têm lançado luzes sobre a emergência da
economia social no país. Quase um quinto das transferências monetárias
derivadas das políticas previdenciárias e assistenciais da seguridade
social brasileira são fontes de rendimento familiar. Antes da
Constituição de 1988, as famílias não chegavam a deter, em média, 10% de
seus rendimentos provenientes das transferências monetárias.
Os segmentos de menor rendimento foram os mais beneficiados pela
constituição do Estado de bem-estar social. Em 2008, a base da pirâmide
social (10% mais pobres) tinha 25% de seu rendimento dependente das
transferências monetárias, enquanto em 1978 ele era somente de 7% − uma
elevação de 3,6 vezes. No topo da mesma pirâmide social (10% mais
ricos), as transferências monetárias respondiam, em 2008, por 18% do
rendimento per capitados domicílios, ante 8% em 1978. Ou seja, um aumento de 2,2 vezes.
Em 1978, somente 8,3% dos domicílios cujo rendimento per capitadas
famílias se situava no menor decil da distribuição de renda recebiam
transferências monetárias. Já no maior decil, as transferências
monetárias alcançavam 24,4% dos domicílios. Quarenta anos depois, 58,3%
das famílias na base da pirâmide social recebem transferências
monetárias, assim como 40,8% do total dos domicílios mais ricos do país.
Aumento de sete vezes nas famílias de baixa renda e de 1,7 vez nas
famílias de maior rendimento.
É muito significativo o impacto das transferências previdenciárias e
assistenciais sobre a pobreza. Sem elas, o Brasil teria, em 2008, 40,5
milhões de pessoas recebendo um rendimento de até 25% do salário mínimo
nacional. Com a complementação de renda pelas transferências, o Brasil
registra 18,7 milhões de pessoas com até um quarto de salário mínimo
mensal.
Resumidamente, são 21,8 milhões de pessoas que conseguem ultrapassar a linha de pobreza extrema (até 25% do salário mínimo per capita). Em 1978, as políticas de transferência monetária impactavam somente 4,9 milhões de pessoas.
Com a emergência da economia social, o impacto das transferências
monetárias nas unidades da federação é diferenciado. Observa-se maior
peso das transferências no rendimento médio das famílias nos estados
nordestinos, como Piauí (31,2%), Paraíba (27,5%) e Pernambuco (25,7%),
bem acima da média nacional (19,3%). Até aí, nada muito destoante do
senso comum, salvo pela constatação de o Rio de Janeiro ser o quarto
estado da federação com maior presença das transferências no rendimento
das famílias (25,5%) e o estado de São Paulo receber abaixo da média
nacional (16,4%).
Já as famílias pertencentes aos estados mais ricos da federação
absorvem a maior parte do fundo público comprometido com as
transferências monetárias. Assim, a região Sudeste incorpora 50% do
total dos recursos anualmente comprometidos com as transferências
previdenciárias e assistenciais da seguridade social, ficando São Paulo
com 23,5% do total, seguido do Rio de Janeiro (13,7%) e Minas Gerais
(10,9%).
A economia social sustenta hoje parcela significativa do comportamento
geral da demanda agregada nacional, além de garantir a considerável
elevação do padrão de vida dos brasileiros, sobretudo daqueles situados
na base da pirâmide social, o que corresponde aos compromissos da nova
economia política brasileira. A descoberta dessas novidades no interior
da dinâmica econômica brasileira atual impõe reavaliar a eficácia dos
velhos pressupostos da política macroeconômica tradicional.
*Marcio
Pochmann é professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de
Estudos Sindicais e de Economia do TRablho da Universidade Estadual de
Campinas. Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Ilustração: Alan Marques / Folhapress |
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Apesar de legalizada, poligamia é foco de controvérsia na África do Sul
Gleyma Lima e Polyanna Rocha no OPERAMUNDI
Recentemente o presidente do país, Jacob Zuma, se casou pela quarta vez. Há até um bairro habitado por polígamos
O tema da poligamia é frequentemente alvo de debates na África do Sul,
ainda mais após o atual presidente Jacob Zuma se casar pela quarta vez. A
prática é legalizada no país desde 1990, porém, apenas 10% da população
é adepta da prática, segundo dados oficiais. A justificativa para a
falta de adesão é que a poligamia é cara: pela lei, todas as mulheres
devem ter os mesmos direitos econômicos.
Gleyma Lima/Opera Mundi

Na Cidade do Cabo, na África do Sul, o bairro de Bo Kaap reúne muitas famílias de polígamos
Segundo os jornais locais, Zuma, que completou 70 anos em abril, casou com Gloria Ngema Bongekile durante uma cerimônia tradicional em sua casa rural. As quatro esposas são tratadas oficialmente como primeiras-damas e são presenças confirmadas nos compromissos oficiais do presidente. Zuma se considera pai de mais de 20 crianças.
A educadora Yusrah Salaam, de 39 anos, afirma que não vê problemas no sistema poligâmico. Ela é a segunda esposa do marido. “Hoje, cada uma vive na sua casa, não convivemos e também não somos amigas, apenas nos respeitamos. Eu não vejo problemas, pois divido as obrigações com outra pessoa como cozinhar, lavar e passar já que ele não fica todos os dias em casa”. Ela conta que já é casada há três anos e a primeira esposa esta casada há dez. Ela tem dois filhos e a primeira esposa, nenhum.
Gleyma Lima/Opera Mundi
O
jardineiro Sedick Slamang, de 45 anos, diz que tem sorte por ter duas
esposas. Mas, “alerta” que o homem deve ter renda, pois o custo de vida é
alto para manter várias famílias. “Tenho apenas uma esposa, porém,
gostaria de ter outra. É muito bonito ver uma família grande e com duas
boas mulheres. Apesar da vontade, não tenho condições financeiras”,
explica.
Em um casamento polígamo, o homem deve passar a mesma quantidade de dias com cada esposa. Caso tenha duas, fica 15 dias do mês com a primeira e os outros com a segunda. As duas mulheres devem ser tratadas de forma igual. Se o marido resolver comprar um carro para a primeira mulher, todas as outras têm direito a um veículo do mesmo valor. A mesada para o pagamento das despesas da casa também. As esposas igualmente devem receber a mesma quantidade de presentes e os filhos irão estudar em escolas semelhantes e receber a mesma atenção do pai.
Na maioria dos casos, por questões logísticas, as esposas vivem em casas próximas, pois o marido consegue se revezar entre suas obrigações. Um bairro na Cidade do Cabo chamado Bo Kaap possui casas idênticas e habitado por homens poligâmicos com duas esposas ou mais.
Segundo a pesquisadora e defensora do tema Rayda Jacobs, a poligamia é considerada atraente por jovens mulheres em busca de estabilidade. “Como querem concluir a universidade, ter marido, família etc, a poligamia é uma saída”, explica. Ela defende que é uma prática necessária, pois a população feminina é superior à masculina no mundo.
Rayda acredita que a poligamia, em vários casos, é também um ato de caridade, na visão do sul-africano. “Muitos homens acabam se casando com mulheres acima dos 30 anos, solteiras ou viúvas. Muitos herdam a esposa do pai ou do irmão falecidos”. Segundo a pesquisadora, a justificativa é que a mulher não se preocupará com as necessidades sexuais, sociais, psicológicas e econômicas, pois o responsável será o atual marido”, diz.
Onde acontece
Poligamia é um casamento que engloba dois ou mais parceiros e não há vínculo matrimonial entre as mulheres. Na África do Sul, a poligamia é um direito consagrado na Constituição e o sul-africano pode ser casado com até quatro mulheres. Nesse caso, todas as esposas receberam seu sobrenome e terão os mesmos direitos perante a lei.
A prática acontece principalmente na África Ocidental e Oriental. No Sudão, é incentivado pelo presidente, devido à supremacia populacional feminina. Outros países, como Líbia e Marrocos, requerem a permissão por escrito da primeira esposa.
Na Nígeria, Mohammed Bello Abubakar é conhecido por ter 82 esposas e 170 filhos. Já no Quênia, Akuku Danger foi além e se casou com 100 mulheres.
Na Cidade do Cabo, na África do Sul, o bairro de Bo Kaap reúne muitas famílias de polígamos
Segundo os jornais locais, Zuma, que completou 70 anos em abril, casou com Gloria Ngema Bongekile durante uma cerimônia tradicional em sua casa rural. As quatro esposas são tratadas oficialmente como primeiras-damas e são presenças confirmadas nos compromissos oficiais do presidente. Zuma se considera pai de mais de 20 crianças.
A educadora Yusrah Salaam, de 39 anos, afirma que não vê problemas no sistema poligâmico. Ela é a segunda esposa do marido. “Hoje, cada uma vive na sua casa, não convivemos e também não somos amigas, apenas nos respeitamos. Eu não vejo problemas, pois divido as obrigações com outra pessoa como cozinhar, lavar e passar já que ele não fica todos os dias em casa”. Ela conta que já é casada há três anos e a primeira esposa esta casada há dez. Ela tem dois filhos e a primeira esposa, nenhum.
Gleyma Lima/Opera Mundi
Em um casamento polígamo, o homem deve passar a mesma quantidade de dias com cada esposa. Caso tenha duas, fica 15 dias do mês com a primeira e os outros com a segunda. As duas mulheres devem ser tratadas de forma igual. Se o marido resolver comprar um carro para a primeira mulher, todas as outras têm direito a um veículo do mesmo valor. A mesada para o pagamento das despesas da casa também. As esposas igualmente devem receber a mesma quantidade de presentes e os filhos irão estudar em escolas semelhantes e receber a mesma atenção do pai.
Na maioria dos casos, por questões logísticas, as esposas vivem em casas próximas, pois o marido consegue se revezar entre suas obrigações. Um bairro na Cidade do Cabo chamado Bo Kaap possui casas idênticas e habitado por homens poligâmicos com duas esposas ou mais.
Segundo a pesquisadora e defensora do tema Rayda Jacobs, a poligamia é considerada atraente por jovens mulheres em busca de estabilidade. “Como querem concluir a universidade, ter marido, família etc, a poligamia é uma saída”, explica. Ela defende que é uma prática necessária, pois a população feminina é superior à masculina no mundo.
Rayda acredita que a poligamia, em vários casos, é também um ato de caridade, na visão do sul-africano. “Muitos homens acabam se casando com mulheres acima dos 30 anos, solteiras ou viúvas. Muitos herdam a esposa do pai ou do irmão falecidos”. Segundo a pesquisadora, a justificativa é que a mulher não se preocupará com as necessidades sexuais, sociais, psicológicas e econômicas, pois o responsável será o atual marido”, diz.
Onde acontece
Poligamia é um casamento que engloba dois ou mais parceiros e não há vínculo matrimonial entre as mulheres. Na África do Sul, a poligamia é um direito consagrado na Constituição e o sul-africano pode ser casado com até quatro mulheres. Nesse caso, todas as esposas receberam seu sobrenome e terão os mesmos direitos perante a lei.
A prática acontece principalmente na África Ocidental e Oriental. No Sudão, é incentivado pelo presidente, devido à supremacia populacional feminina. Outros países, como Líbia e Marrocos, requerem a permissão por escrito da primeira esposa.
Na Nígeria, Mohammed Bello Abubakar é conhecido por ter 82 esposas e 170 filhos. Já no Quênia, Akuku Danger foi além e se casou com 100 mulheres.
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Mundo tem 20,9 milhões de vítimas de trabalho forçado, diz OIT

Relatório divulgado nesta sexta (1o), pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT), aponta que 20,9 milhões de pessoas são vítimas de
trabalho forçado em todo o mundo, sujeitas a emprego impostos através de
coação ou de fraude, dos quais elas não podem sair. Do total, 11,4
milhões são mulheres e meninas e 9,5 milhões são homens e meninos. Cerca
de 5,5 milhões possuem menos de 18 anos;
A organização, ligada às Nações Unidas, não divulga o cálculo por
país mas por macrorregiões. A margem de erro é de 7%, ou seja, a
estimativa – considerada conservadora por seus realizadores – vai de
19,5 milhões a 22,3 milhões. Alguns dados do estudo:
- Do total, 18,7 milhões (90%) são explorados no setor privado.
Destes, 4,5 milhões (22%) são vítimas de exploração sexual forçada e
14,2 milhões (68%) de exploração do trabalho forçado em atividades
econômicas, como agricultura, construção civil, trabalho doméstico ou
industrial;
- Outros 2,2 milhões (10%) estão sujeitos a formas de trabalho
forçado impostas pelo Estado, como o que ocorrem em algumas prisões ou
em forças armadas rebeldes ou exércitos nacionais;
- A incidência por mil habitantes é maior na Europa Central, no Leste
Europeu e na região da Comunidade de Estados Independentes (ex-União
Soviética), com 4,2 casos/mil habitantes e na África, com 4/mil. É mais
baixa nos países com economias desenvolvidas e na União Européia
(1,5/mil);
- Em termos absolutos, a região da Ásia e Pacífico apresenta o número
mais alto de trabalhadores forçados no mundo: 11,7 milhões (56% do
total). O segundo maior número é registrado na África, com 3,7 milhões
(18%), seguido pela América Latina, com 1,8 milhão de vítimas (9%). Nas
economias desenvolvidas e na União Européia existem 1,5 milhão (7%) de
trabalhadores forçados, enquanto que nos países da Europa Central e
Leste Europeu e na Comunidade de Estados Independentes são registrados
1,6 milhão (7%) de pessoas. No Oriente Médio, o número de vítimas é
estimado em 600.000 (3%);
- Há 9,1 milhões de vítimas (44%) que se deslocaram, seja dentro de
seus países ou para o exterior. A maioria, 11,8 milhões (56%), está
submetida a trabalho forçado em seus países de origem ou residência. Os
deslocamentos entre fronteiras estão estreitamente vinculados com a
exploração para fins sexuais.
Em nota divulgada pela OIT, a diretora do Programa Especial de Ação
para Combater o Trabalho Forçado, Beate Andrees, afirma que “tivemos
progresso ao assegurar que a maioria dos países tenha uma legislação que
penalize o trabalho forçado, o tráfico de seres humanos e as práticas
análogas à escravidão”. Contudo, segundo ela, “ainda é complicado ter
êxito em processos judiciais contra indivíduos que causam tal sofrimento
a tantas pessoas”.
Para ilustrar, no Brasil, há cerca de quatro dezenas de casos que
resultaram em condenações criminais por conta de trabalho escravo
contemporâneo em um universo de mais de 3 mil fazendas fiscalizadas por
denúncias relativas a esse crime e 42 mil trabalhadores libertados desde
1995. Não há informação de empregador que tenha cumprido pena na cadeia
após sentença transitada em julgado.
De acordo com a OIT, a metodologia utilizada pela instituição, em
2005, para estimar que o mundo tinha, ao menos, 12,3 milhões de pessoas
submetidas ao trabalho forçado foi revista e melhorada. O dado anterior
por exemplo, tinha margem de erro de 20%, em comparação aos 7% da
estimativa divulgada hoje. Por isso, não é possível afirmar que o número
de escravos aumentou.
“Produzimos estas novas estatísticas em nível regional e mundial
utilizando uma grande variedade de fontes secundárias, complementadas
pelos resultados de nossos estudos nacionais realizados em colaboração
com contrapartes locais, o que nos permite extrapolar dados provenientes
de meios de comunicação ou de outras fontes indiretas. No entanto,
ainda estamos longe de uma situação ideal na qual os países possam
realizar suas próprias medições. A OIT poderá apoiar o fortalecimento
das capacidades necessárias para cumprir esta difícil tarefa”, afirma
Andrees.
Em 2001, a Comissão Pastoral da Terra, organização ligada à Igreja
Católica e uma das mais importantes no combate ao trabalho escravo no
país, propôs 25 mil como o número mínimo de trabalhadores rurais que,
anualmente, eram submetidos à escravidão na Amazônia brasileira. Essa
estimativa resultava de interações entre os números anuais de pessoas
encontradas pela fiscalização, a observação do fluxo de trabalhadores
migrantes e a uma análise da instituição de que para cada pessoa
libertada outras três continuariam em cativeiro. A preocupação da CPT
foi de alertar a sociedade com um número que sinalizasse a relevância
numérica do problema sem cair num exagero insustentável cientificamente.
Na falta de outra, a estimativa foi aceita e utilizada por várias
entidades. Em 2003, o governo brasileiro endossou o número ao colocá-lo
no Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Em 2004, uma
delegação brasileira nas Nações Unidas reconheceu também o número de 25
mil como estimativa mínima e, posteriormente, a própria Organização
Internacional do Trabalho. Outra estimativas apareceram, como a de 40
mil ou 100 mil trabalhadores nessas condições, mas nenhuma delas foi
utilizado pelas principais entidades estatais ou da sociedade civil que
atuam no combate a esse crime.
Apesar do esforço estatístico trazido pela Comissão Pastoral da
Terra, ele não seguiu normas científicas ou passou por uma atualização. A
Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae),
que reúne instituições públicas e da sociedade civil para monitorar as
políticas públicas contra esse crime no país, parou de utilizar a
estimativa da CPT e qualquer outra em 2007.
No ano passado, a OIT ofereceu ao Brasil apoio técnico para o
desevolvimento de uma estimativa do número de escravos no país. Os
custos de tal levantamento estão sendo analisados pela Conatrae e o
governo brasileiro.
Por outro lado, devido às informações dos trabalhadores colhidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego no momento do resgate, há um perfil
traçado de quem é a vítima no Brasil. Por exemplo, no caso de exploração
econômica, entre 2003 e 2009, os libertos foram homens (95%), entre 18 e
44 anos (82%), analfabetos ou com até quatro anos de estudo (68%),
oriundos de Estados como o Maranhão e o Pará.
Veja proclama vitória e diz que Lula deu tiro no pé #VejanaCPI
Por Luiz Muller
Piada Pronta 2 – A Veja agora faz monólogo. Ela publicou mais
uma mentira, na mesma semana o Presidente Lula deu entrevista que
desbancou todas as mentiras antigas e novas que a Veja tem publicado,
Nelson Jobim desmentiu a mentira do Gilmar Mendes, mas a Veja disse que
Lula deu”um tiro no pé”. Não precisa escrever muito. É só ler a matéria
do Brasil 247. E dar risada. O problema é que a turma da CPI do
Cachoeira parece não querer tocar na Veja e nem nas suas co-irmãs,
filiadas do PIG. E aí, se não colocar a mão agora nestas cópias
tupiniquins do Murdoch, outros golpes virão contra a sociedade
brasileira. Aí o riso virará choro. Infelismente. Para além de colocar a
Veja e o Civita na CPI, é preciso implementar a Lei dos Meios, para que
esta corja mentirosa não avance mais.
Foto: Edição/ 247
Segundo a revista, ex-presidente agiu como aloprado ao tentar chantagear Gilmar Mendes e a estratégia se voltou contra o PT, que terá que administrar a CPI da Delta; só que, até agora, quem realmente está vencendo é a sociedade brasileira
247 – Uma semana depois de denunciar uma chantagem
feita pelo ex-presidente Lula contra o ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal, que foi desmentida pela única testemunha do
encontro, o ex-ministro Nelson Jobim, em 24 horas, Veja voltou ao tema,
neste fim de semana, para proclamar vitória.
Numa capa intitulada “Um tiro no pé”, a revista argumenta que tudo
deu errado na estratégia do “aloprado” cérebro do ex-presidente –
quando, curiosamente, seria possível argumentar que Veja também deu um
tiro no pé com sua reportagem, que apenas serviu para lançar suspeitas
sobre sua conduta política e sobre o decoro dos ministros do STF.
A revista comparou a estratégia de Lula a um plano da Primeira Guerra
Mundial, o Plano Schlieffen, que pretendia dar à Alemanha uma vitória
esmagadora sobre França e Rússia em poucas semanas de combate. Os
alemães, como se sabe, perderam. Assim como Lula, segundo Veja, também
perdeu. Mas a revista se comporta como aquela tropa abatida, que chega
em casa aos farrapos, sem munição, sem quadros e sem canhões, dizendo-se
vitoriosa, de cabeça erguida. Veja venceu porque, simplesmente,
proclamou sua vitória.
A prova da vitória da revista seria um documento da liderança do PT
na Câmara dos Deputados, que listava alguns pontos a serem abordados
pelos parlamentares que integram a CPI do Cachoeira. Pontos como a
viagem de Gilmar Mendes a Berlim e o fato de o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, ter prevaricado ao engavetar as investigações
sobre a Operação Vegas – aliás, quem fez essa acusação na semana
passada foi o “mosqueteiro da ética” Demóstenes Torres.
A CPI deu em nada
Ainda que a CPI fosse fruto de um plano mirabolante do cérebro
aloprado de Lula, será que deu mesmo em nada, como argumenta a revista
Veja? Eis o que se tem até agora:
- um governo, como o de Marconi Perillo, em situação extremamente
delicada, em razão de sua ligação umbilical com o esquema de Carlos
Cachoeira.
- a prova de que despesas de campanha deste mesmo governo foram pagas com caixa dois do esquema Cachoeira.
- uma empreiteira aparentemente inidônea sendo expelida do mercado de obras públicas.
- indícios veementes de que o procurador-geral da República engavetou uma investigação importante.
- um senador que posava como “mosqueteiro da ética”, Demóstenes
Torres, desmoralizado por seus pares, depois que decidiu se calar no
parlamento.
- o esquema de um bicheiro, infiltrado em todos os poderes da República, inclusive a mídia, sendo passado a limpo.
Não é pouca coisa o que se tem até agora. E quem está vencendo, neste
clima de confronto entre forças políticas antagônicas, é a sociedade
brasileira.
Mujica oferece palácio presidencial como refúgio para sem-teto
Do blog CONTEXTOLIVRE

José Mujica
Presidente do Uruguai nunca se mudou para mansão, que poderá ser abrigo no inverno
Ao ser eleito, o presidente do Uruguai, José Mujica, disse que não iria
se mudar para o palácio presidencial e cumpriu sua promessa. Agora,
ele parece ter encontrado uma outra utilidade para a Casa Suárez y
Reyes, em Montevidéu. Ele ofereceu o palacete no bairro do Prado como
alternativa para abrigar pessoas que vivem nas ruas, principalmente
durante o inverno.

José Mujica
Não seria todo o palácio, mas algumas de suas instalações, o que mesmo
assim não deixou de surpreender os funcionários do Ministério de
Desenvolvimento Social, responsável pelo assunto.
De acordo com a imprensa uruguaia, a utilização seria possível caso os
abrigos não sejam suficientes. E a mansão por pouco não recebeu sua
primeira hóspede no último dia 24: uma mulher e seu filho, mas o
ministério acabou encontrando vaga num abrigo para eles na última hora.
O inverno uruguaio é rigoroso. E no ano passado, a morte de cinco
pessoas por hipotermia gerou uma crise que culminou com a destituição
da ministra de Desenvolvimento Social, Ana Vignoli. Por isso, mesmo
antes de o inverno chegar oficialmente este ano, já começaram as
remoções de sem-tetos para os abrigos.
Mujica mora na chácara de Rincón del Cerro, na zona rural de
Montevidéu, a mesma na qual vivia antes da eleição presidencial. A Casa
de Suárez y Reyes era o local em que costumavam viver os presidentes
uruguaios, mas começou a ser desprezada com a ascensão da esquerda.
Antecessor de Mujica, Tabaré Vázquez também não quis se mudar para ela.
Hoje é usada para reuniões com governantes estrangeiros ou do Conselho
de Ministros.
O palácio é uma obra do arquiteto Juan María Aubriot. Conta com 42
funcionários, tem três andares e é visitada pela população no Dia do
Patrimônio. Agora poderá ter novos moradores. Pelo menos, durante o
inverno.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
A RESPEITO DE NOSSAS BUSCAS... ESPERANÇAR!!
professor Marcio Abip*
“De
tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria
interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho
novo, fazer da queda um passo de dança, do medo, uma escada, do
sonho, uma ponte, da procura, um encontro”. (Fernando Pessoa)
Assim,
devemos nos portar como seres humanos de busca, como seres
inconclusos, porque eternamente grávidos da esperança da vida na
luta transformar...Disso trata-se quando se fala e pratica o ato de
educar, revolucionar-se individualmente e coletivamente de forma
permanente. O que ontem nos bastava, hoje História Viva queremos
mais e distinta de ontem, "A
História é um profeta com o olhar voltado para trás. Pelo que foi
e contra o que foi, anuncia o que será." (Eduardo Galeano).
Quem parte, sai de algum lugar onde estava e como estava sendo, não
somos seres vazios e sem pertença ao contexto que nos influencia e
no qual colocamos nosso “pitaco” , nosso tempero existencial. Por
isso se diz que devemos partir da realidade e do universo de vida dos
educandos, mas vai além, nos fala da humildade de querermos mais
junto com nossos companheiros de caminhada, queremos nos apropriar do
que a humanidade historicamente criou porque esta obra inacabada nos
pertence enquanto humanos, são construções coletivas. Não
inventamos a roda, sim sabemos, mas devemos, para que as coisas
andem, colocá-la em movimento. “Um
passo a frente e você não estará no mesmo lugar” (Chico
Science).
Desta forma, instigados pelo mundo que se põe a nossa frente,
curiosos, humildes e persistentes, investigamos, pesquisamos, nos
encharcamos de realidade, de realidades, para que possamos, ato
continuo, construir pontes, edificar caminhos pelo tudo que andamos a
fazer, para que possamos criar outros mundos distintos do que ai
está, novos portos, novas naus, novas incertezas, novas esperanças:
“Talvez
seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a
escrever a sua vida, como autor e como testemunha da sua história.
Isto é, biografar-se, existencializar-se, historicizar-se.”
(Ernani Maria Fiori).
Escrever e Viver pelo exemplo a palavra-ação. Disponibilizar-se ao
dialogo que emancipa porque problematizador, refletir sobre o que
estou fazendo e de que forma estou fazendo, investigo-me enquanto
interveio no mundo, com a necessária generosidade de quem aprende de
quem ensina, ter compromisso com tudo isso, com o que faço, com o
que sou, com o mundo de gentes que comigo estão sendo,
comprometimento ético de intervenção no mundo. Romper os silêncios
que nos aprisionam, minha voz não tem sentido sem o direito dos
outros a voz, “Tu
não podes ensinar a ninguém a amar, tu tens que amar, A única
forma de ensinar a amar é amando” (PF).
Se colocar em movimento, a andar...”A
marchar revelando o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo
...”Me alegraria ver o Brasil em seu tempo histórico cheio de
Marchas: as marchas dos Sem-Terra, marcha dos que não tem escola,
marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem,
marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se
rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser, marchas
que nos afirmam como gente, como sociedade querendo democratizar-se.
(PF).
Estar não muito certo de nossas certezas...este deve ser nosso
horizonte próximo, a dignidade humana, a justiça e a liberdade
nosso horizonte da vida e da alma. Paulo Freire...Aqui entre nós
Presente!! Agora e Sempre!. "Aos
esfarrapados do mundo e aos que neles se encontram e, assim
descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam".
(Paulo Freire).
BEM
VINDOS A TODAS (OS) AO – I CURSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO
POPULAR – Sintam-se em sua casa em nossa morada.
"Aos
esfarrapados do mundo e aos que neles se encontram e, assim
descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam"
... Quem é esse menino que atende pelo nome de Paulo? Que aprendendo
e ensinando em barracos, em clarões na mata - mundo afora - anda
falando de palavras que libertam, de utopias que alguns nos tentaram
crer estarem mortas, diziam não mais existir espaço, que a História
e nossos mais ternos sonhos, de um mundo justo e solidário haviam
acabado. Onde andará este Menino - Paulo Freire? Uns dizem terem
visto Paulo empinando pandorgas da esperança - bem alto - acima da
arrogância dos poderosos, do individualismo, da estupidez de
qualquer tipo de miséria. Outros afirmam que Paulo virou mais uma
humilde estrela da constelação dos que fizeram de suas vidas palco
de luta. "E se nada ficar destas palavras, algo, pelo menos,
esperamos que permaneça: nossa confiança no povo, nossa fé nos
homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar".
Texto:
Marcio Abip - trechos grifo - Paulo freire e Educadores Populares.
¿Quién
dijo que todo está perdido? /Quem
disse que tudo esta perdido / yo vengo a ofrecer mi corazón / Eu
venho oferecer meu coração. Luna
de los pobres siempre abierta,
/ Lua
dos pobres sempre aberta, yo vengo a ofrecer mi corazón, como un
documento inalterable
/ como
um documento inalterável / yo vengo a ofrecer mi corazón.
Y
hablo de países y de esperanzas,
/ E
falo de paises e de esperança / Hablo por
la vida, hablo por la
nada, / Falo pela vida, falo por nada. Hablo de cambiar ésta,
nuestra casa, / Falo de trocar esta nossa casa, de cambiarla por
cambiar, nomás... Quem
disse que tudo esta perdido? Eu venho te oferecer meu coração.
Trechos música Fito Paez.
Das
coisas suaves, dos cheiros, das cores das flores...do mundo dos
pequenos...dos humildes gestos e atos sem preço...do justo...do
beija-flor e do néctar, do arco-íris, das coisas que fazem da vida
existência, disso lembro quando penso em vocês, me lembram
húmus...mata...os seres que nela habitam...o feminino, a essência
das deusas, as crianças que brincam, o simples, aquilo que eles não
vêem nem imaginam existir, o mistério que acalenta a noite e a faz
menina, as estrelas cadentes, a possibilidade de vida que
humildemente ofertam pra todos as sementes, as mãos femininas que
carregam flores também levantam bandeiras de múltiplas cores que
incitam a primavera e a liberdade dos povos da Terra...Gaia ao útero
voltar.
* Marcio
Abip é professor da rede pública estadual do RS e atualmente exerce a função de Diretor da E.E.Arnaldo Faria, em Bagé-RS
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