Frei Betto no CORREIO DA CIDADANIA |
Dona Europa livrou-se, há séculos, da tutela do Senhor Feudal, ao qual esteve submetida ao longo de mil anos. Cabeça feita por Copérnico, Galileu e Descartes, casou-se com o Senhor Moderno Liberal e montou casa no bairro da Democracia. Dona Europa puxou o tapete dos nobres, deu um chega pra lá no papa e elegeu governos constitucionais que trocaram a permuta pela moeda, evitaram fazer uso de mão de obra escrava, transformaram antigos camponeses em operários merecedores de salários. Dona Europa passou a nutrir ambições desmedidas. Fitou com olho gordo no imenso mapa-múndi que enfeitava a sala de sua casa. Quantas riquezas naquelas terras habitadas por nativos ignorantes! Quantas áreas cultiváveis cobertas pela exuberância paradisíaca da natureza! Dona Europa lançou ao mar sua frota em busca de ricas prendas situadas em terras alheias. Os navegantes invadiram territórios, saquearam aldeias, disseminaram epidemias, extraíram minerais preciosos, estenderam cercas onde tudo, até então, era de uso comum. Dona Europa praticou, em outros povos, o que se negava a fazer na própria casa: impôs impérios, reinados e ditadores; inibiu o acesso à cultura letrada; implantou o trabalho escravo; proibiu a industrialização; internacionalizou normas econômicas que lhes eram favoráveis, em detrimento dos povos alhures. Um dos povos de além-mar dominados por Dona Europa ousou rebelar-se em 1776, emancipou-se da tutela e se tornou mais poderoso do que ela – o Tio Sam. O professor Maquiavel ensinou à Dona Europa que, quando não se pode vencer o inimigo, é melhor aliar-se a ele. Assim, ela associou-se a Tio Sam para exercer domínio sobre o mundo. Dona Europa e Tio Sam acumularam tão espantosa riqueza que cederam à ilusão de que seriam eternos o luxo e a ostentação em que viviam. Tudo em suas casas era maravilhoso. E suas moedas reluziam acima de todas as outras. Ora, não há casa sem alicerce, árvore sem raiz, riqueza sem lastro. Para manter o estilo de vida a que se acostumaram, Dona Europa e Tio Sam gastavam mais do que podiam. E, de repente, constataram que se encontravam esmagados sob dívidas astronômicas. O que fazer? A primeira medida foi a adotada em turbulência de viagem de avião: apertar os cintos. Não deles, óbvio. Mas de seus empregados: despediram alguns, reduziram os salários de outros, deixaram de consumir produtos importados. Assim, a crise da dupla se alastrou mundo afora. Dona Europa e Tio Sam não são burros. Sabem onde mora o dinheiro: nos bancos. Tio Sam, ao ver o rombo em sua economia, tratou de rodar a maquininha da Casa da Moeda e socorreu os bancos com pelo menos US$ 18 trilhões. Dona Europa tem várias filhas. Segundo ela, algumas não souberam administrar bem suas fortunas. A formosa Grécia parece ter perdido a sabedoria. Gastou muito mais do que podia. O mesmo aconteceu com a sedutora Itália, a encantadora Espanha e a inibida Irlanda. Como o cofre da família é de uso comum, Dona Europa se cobriu de aflições. Puniu as filhas gastadoras e apelou à mais rica de todas, a severa Alemanha, para ajudá-la a socorrer as endividadas. A Alemanha é manhosa. Disse que só socorre as irmãs se puder controlar os gastos delas. O que significa cortar as asinhas das moças – o que em política equivale a anular a soberania. Soberana hoje, na casa de Dona Europa, só a pudica Alemanha. O resto da família é dependente e está de castigo. A mais cheirosa das filhas, a França, anda rebelde. Após aparecer de mãos dadas com a Alemanha, agora que arrumou namorado novo encara a irmã com desconfiança. Nós, aqui do sul do mundo, que ainda não cortamos o cordão umbilical com Tio Sam e Dona Europa, corremos o risco de ficar gripados se Dona Europa continuar a espirrar tanto, alérgica ao espectro de um futuro tenebroso: a agonia e morte do deus Mercado, cujos fiéis devotos mergulharam em profunda crise de descrença. Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros. Website: www.freibetto.org Twitter: @freibetto. Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal(0)terra.com.br) |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Dona Europa e suas filhas
terça-feira, 17 de julho de 2012
Eleições. Mas pode chamar de Contrarreforma
Retomo um tema que continua me entalando a garganta. No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos.
Centenas de milhares queimaram até as cinzas.
Albert Einstein, Sigmund Freud, Thomas Mann, entre outros, foram perseguidos por ousarem pensar diferente da maioria. A Alemanha “purificou pelo fogo” as idéias imundas deles, da mesma forma que, durante a Contra-Reforma, a Santa Inquisição purificou com fogo a carne, o sangue e os ossos daqueles que ousaram não concordar com seu ponto de vista sobre o mundo. A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu.
Amigos jornalistas contam que membros de igrejas e templos pediram a fiéis que destruam escritos que tratassem de direitos humanos. Que se livrassem de tudo o que não tenha a ver com a visão violenta e, portanto, errada que eles têm do que seja amor. O pessoal que sente saudades da Idade Média saiu do armário. Armados por muitos de nós, da imprensa, que conseguimos cristalizar a imagem deturpada de que “direitos humanos” é coisa de defender bandido, matar crianças e proibir as pessoas de terem fé.
Direitos humanos tratam exatamente do contrário. Considerando que todas as pessoas nasçam iguais e livres, por todas compartilharem da raça humana, merecem ser tratadas com o mesmo quinhão de Justiça e dignidade.
Direitos humanos, portanto, incluem liberdade religiosa e de associação, direito à saude, à educação, à cultura, a ter uma identidade, a andar livremente, a falar e defender posições sem ser agredido, a não ter medo de passar fome ou de viver na miséria, poder participar do processo político, de eleger e ser eleito, do direito a não ser expulso de sua casa e ter uma moradia, do direito à segurança, à integridade do seu corpo, a um julgamento justo, de ser tratado com respeito.
De ser visto pelo outro como um semelhante e ser tratado como tal.
Mas também de ser amado por quem quisermos, de decidir o destino de nosso próprio corpo e de nossa vida, de não ter medo da opressão da maioria.
Nesta eleições municipais, não importa em quem você vote, não importa quem você queira no poder.
Mas não deixe os mesmos ventos que sopraram em 1933 continuarem a se espalhar pelo Brasil do início do século 21. Em 2010, estratégias eleitorais equivocadas alimentaram um monstro, a Intolerância, que continua sendo incentivado a cada dia, pelo ódio, pelo irracional. Pelo medo.
O problema é que, dependendo de como forem as campanhas eleitorais, ele não vai parar nos dias 7 ou 28 de outubro. Vai seguir crescendo. E quando tiver devorado o pouco de dignidade que conseguimos garantir às minorias, não se dará por satisfeito. Virá atrás das míseras liberdades individuais que não corresponderem às crenças e opiniões de parte da população.
Se assim for, que este período não seja chamado de eleições, mas de Contra-Reforma. Agora com a participação de protestantes e grupos católicos que foram perseguidos séculos atrás.
Analfabetismo funcional atinge 38% dos estudantes universitários
Pesquisa aponta que alunos não conseguem interpretar e associar informações
Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. O indicador reflete o expressivo crescimento de universidades de baixa qualidade. Criado em 2001, o Inaf é realizado por meio de entrevista e teste cognitivo aplicado em uma amostra nacional de 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos. Elas respondem a 38 perguntas relacionadas ao cotidiano, como, por exemplo, sobre o itinerário de um ônibus ou o cálculo do desconto de um produto. O indicador classifica os avaliados em quatro níveis diferentes de alfabetização: plena, básica, rudimentar e analfabetismo.
Aqueles que não atingem o nível pleno são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar informações. Segundo a diretora executiva do IPM, Ana Lúcia Lima, os dados da pesquisa reforçam a necessidade de investimentos na qualidade do ensino, pois o aumento da escolarização não foi suficiente para assegurar aos alunos o domínio de habilidades básicas de leitura e escrita. "A primeira preocupação foi com a quantidade, com a inclusão de mais alunos nas escolas", diz. "Porém, o relatório mostra que já passou da hora de se investir em qualidade", afirma.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cerca de 30 milhões de estudantes ingressaram nos ensinos médio e superior entre 2000 e 2009. Para a diretora do IPM, o aumento foi bom, pois possibilitou a difusão da educação em vários estratos da sociedade. No entanto, a qualidade do ensino caiu por conta do crescimento acelerado."Algumas universidades só pegam a nata e as outras se adaptaram ao público menos qualificado por uma questão de sobrevivência", comenta. "Se houvesse demanda por conteúdos mais sofisticados, elas se adaptariam da mesma forma", fala.
Para a coordenadora-geral da Ação Educativa, Vera Masagão, o indicativo reflete a "popularização" do ensino superior sem qualidade: "No mundo ideal, qualquer pessoa com uma boa 8ª série deveria ser capaz de ler e entender um texto ou fazer problemas com porcentagem, mas no Brasil ainda estamos longe disso." Segundo ela, o número de analfabetos só vai diminuir quando houver programas que estimulem a educação como trampolim para uma maior geração de renda e crescimento profissional. "Existem muitos empregos em que o adulto passa a maior parte da vida sem ler nem escrever, e isso prejudica a procura pela alfabetização", afirma.
Entre as pessoas de 50 a 64 anos, o índice de analfabetismo funcional é ainda maior, atingindo 52%. De acordo com o cientista social Bruno Santa Clara Novelli, consultor da organização Alfabetização Solidária (AlfaSol), isso ocorre porque, quando essas pessoas estavam em idade escolar, a oferta de ensino era ainda menor. "Essa faixa etária não esteve na escola e, depois, a oportunidade e o estímulo para voltar e completar escolaridade não ocorreram na amplitude necessária", diz. Ele observa que a solução para esse grupo, que seria a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ainda tem uma oferta baixa no País.
Novelli cita que, levando em conta os 60 milhões de brasileiros que deixaram de completar o ensino fundamental de acordo com dados do Censo 2010, a oferta de vagas em EJA não chega a 5% da necessidade nacional. "A EJA tem papel fundamental. É uma modalidade de ensino que precisa ser garantida na medida em que os indicadores revelam essa necessidade", conta. Ele destaca que o investimento deve ser não só na ampliação das vagas, mas no estímulo para que esse público volte a estudar.
Segundo o cientista social, atualmente só as pessoas "que querem muito e têm muita força de vontade" acabam retornando para a escola. Ele cita como conquista da EJA nos últimos dez anos o fato de ela ter passado a ser reconhecida e financiada pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Considerar que a EJA está contemplada no fundo que compõe o orçamento para a educação é uma grande conquista", ressalta. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Aqueles que não atingem o nível pleno são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar informações. Segundo a diretora executiva do IPM, Ana Lúcia Lima, os dados da pesquisa reforçam a necessidade de investimentos na qualidade do ensino, pois o aumento da escolarização não foi suficiente para assegurar aos alunos o domínio de habilidades básicas de leitura e escrita. "A primeira preocupação foi com a quantidade, com a inclusão de mais alunos nas escolas", diz. "Porém, o relatório mostra que já passou da hora de se investir em qualidade", afirma.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cerca de 30 milhões de estudantes ingressaram nos ensinos médio e superior entre 2000 e 2009. Para a diretora do IPM, o aumento foi bom, pois possibilitou a difusão da educação em vários estratos da sociedade. No entanto, a qualidade do ensino caiu por conta do crescimento acelerado."Algumas universidades só pegam a nata e as outras se adaptaram ao público menos qualificado por uma questão de sobrevivência", comenta. "Se houvesse demanda por conteúdos mais sofisticados, elas se adaptariam da mesma forma", fala.
Para a coordenadora-geral da Ação Educativa, Vera Masagão, o indicativo reflete a "popularização" do ensino superior sem qualidade: "No mundo ideal, qualquer pessoa com uma boa 8ª série deveria ser capaz de ler e entender um texto ou fazer problemas com porcentagem, mas no Brasil ainda estamos longe disso." Segundo ela, o número de analfabetos só vai diminuir quando houver programas que estimulem a educação como trampolim para uma maior geração de renda e crescimento profissional. "Existem muitos empregos em que o adulto passa a maior parte da vida sem ler nem escrever, e isso prejudica a procura pela alfabetização", afirma.
Entre as pessoas de 50 a 64 anos, o índice de analfabetismo funcional é ainda maior, atingindo 52%. De acordo com o cientista social Bruno Santa Clara Novelli, consultor da organização Alfabetização Solidária (AlfaSol), isso ocorre porque, quando essas pessoas estavam em idade escolar, a oferta de ensino era ainda menor. "Essa faixa etária não esteve na escola e, depois, a oportunidade e o estímulo para voltar e completar escolaridade não ocorreram na amplitude necessária", diz. Ele observa que a solução para esse grupo, que seria a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ainda tem uma oferta baixa no País.
Novelli cita que, levando em conta os 60 milhões de brasileiros que deixaram de completar o ensino fundamental de acordo com dados do Censo 2010, a oferta de vagas em EJA não chega a 5% da necessidade nacional. "A EJA tem papel fundamental. É uma modalidade de ensino que precisa ser garantida na medida em que os indicadores revelam essa necessidade", conta. Ele destaca que o investimento deve ser não só na ampliação das vagas, mas no estímulo para que esse público volte a estudar.
Segundo o cientista social, atualmente só as pessoas "que querem muito e têm muita força de vontade" acabam retornando para a escola. Ele cita como conquista da EJA nos últimos dez anos o fato de ela ter passado a ser reconhecida e financiada pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Considerar que a EJA está contemplada no fundo que compõe o orçamento para a educação é uma grande conquista", ressalta. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Fonte: Radio Guaiba
segunda-feira, 16 de julho de 2012
“Uma quadrilha está prestes a assaltar o povo paraguaio”, afirma líder de frente pró-Lugo
Felipe Prestes no SUL21
Subsídios aos grandes produtores de soja, manutenção de terras nas mãos de grileiros, acordo com uma multinacional do alumínio e privatizações. Assim, Ricardo Canese resumiu os primeiros passos do governo de Federico Franco. Secretário-geral da Frente Guasú, que reúne mais de dez partidos de esquerda do Paraguai, Canese não mediu as palavras para qualificar os liberais e colorados oviedistas que hoje estão no poder: “É uma quadrilha que está prestes a assaltar o povo paraguaio”, disparou.
O dirigente partidário atendeu o Sul21, por telefone, na última quinta-feira (12). Revelou que a atual ação de inconstitucionalidade da destituição de Lugo, que tramita na Justiça paraguaia, é mera formalidade para que se possa recorrer a organismos internacionais. “A Corte está comprometida com os golpistas”.
Canese conversou por mais de meia hora com a reportagem e também falou sobre as estratégias da esquerda para as eleições presidenciais do ano que vem, bem como as ações de resistência. O secretário-geral da Frente Guasú (guasú, em guarani, quer dizer “ampla”) também rechaçou que houvesse má relação entre o Governo Lugo e os brasiguaios e disparou contra o latifundiário catarinense, naturalizado paraguaio, Tranquilo Favero, a quem definiu como “amigo de Stroessner”.
Sul21 – Como o senhor avalia o informe do secretário-geral da OEA (José Miguel Insulza), que considerou constitucional a destituição de Lugo?
Ricardo Canese – Na prática, o informe do senhor Insulza foi rechaçado pela assembleia da OEA. A organização não aprovou este informe. Ao contrário, a assembleia disse que as chancelarias vão aprofundar os estudos sobre o Paraguai. Então, diplomaticamente se entende que há um rechaço do informe de Insulza, por ser absolutamente insuficiente, por não refletir o que Mercosul, Unasul e SICA (Sistema de Integração Centro-Americana) assinalaram como uma quebra do Estado de Direito, um atentado contra a Constituição, uma destruição da democracia. São três blocos da América Latina que se manifestaram muito claramente. A OEA deixou de lado o informe de Insulza e instou as chancelarias analisem com mais profundidade o tema.
Sul21 – O senhor ainda crê que é possível reverter a destituição de Lugo?
Ricardo Canese – É o mais sensato revertê-la. A democracia se constrói com democracia, não com golpes de estado. Por isto é que é chamativo que alguns setores da OEA e, particularmente, Estados Unidos e Canadá, que têm interesses muito fortes pela América Latina, estejam tratando de minimizar o golpe de estado. É lamentável que alguns países que se dizem democráticos queiram avalizar um golpe de estado. Não houve apresentação de provas. Os próprios parlamentares que acusaram disseram que não apresentariam provas. Eu não sei como se pode julgar alguém sem apresentar provas. Como se pode julgar alguém se não há um devido processo? Se elaborou o regulamento do julgamento depois da acusação. Nossa Constituição é muito clara: a lei tem que ser prévia à acusação, não se pode acusar uma pessoa e fazer uma lei especial para a pessoa acusada. Isto é gravíssimo, é um atentado contra os direitos humanos e aos direitos constitucionais. Ademais, não se permitiu direito à defesa. Enfim, tudo foi ilegal e inconstitucional.
Sul21 – O senhor tem esperança de que a Corte Constitucional reverta a destituição?
Ricardo Canese – A Corte está comprometida com os golpistas, não temos nenhuma esperança. Mas apresentamos a ação de inconstitucionalidade para que, se rechaçarem, como é previsível, possamos recorrer a instâncias internacionais. É uma Corte que não apenas avalizou o golpe de estado, mas avalizou o roubo de terras mal havidas. Quando nosso governo e governos anteriores, inclusive, quiseram recuperar as terras roubadas do Estado, roubadas do povo paraguaio, disseram que o Estado deveria receber apenas as custas judiciais. Esta é a Corte Suprema que temos. Uma Corte que protege os ladrões de terras públicos, os grandes narcotraficantes, os grandes sonegadores de impostos. O Governo Lugo tentou mudar esta situação e o golpe de estado vem justamente para, como disse o presidente uruguaio José Mujica, que o narco-coloradismo volte a imperar como imperou durante setenta anos. Esta é a essência deste golpe de estado que foi gestado pelo Partido Colorado com a participação dos liberais.
Sul21 – O stronismo ainda está muito arraigado nas estruturas do Estado paraguaio?
Ricardo Canese – Está na sociedade paraguaia. Os grandes negócios seguem nas mãos de stronistas. Quase a totalidade dos meios de imprensa é propriedade de pessoas que roubaram com Stroessner, que enriqueceram com Stroessner. Por isto, não é casualidade que a imprensa esteja a favor deste golpe de estado. Ademais, as grandes fortunas do Paraguai são de amigos e cúmplices do Alfredo Stroessner. Obviamente há algumas exceções, mas em sua grande maioria o grande empresariado paraguaio não é honesto, forjado com seu esforço, com negócios limpos como há em outros países da América Latina. Aqui, o grande empresariado roubou ao Estado, roubou ao povo paraguaio, faz negócios ilícitos, narcotráfico, roubo de terras. O Governo Lugo buscou democratizar, dar participação ao povo, potencializar empresários honestos. Este grupo golpista não quer justamente ceder estes privilégios.
Sul21 – Como o senhor analisa os primeiros passos de Governo Franco?
Ricardo Canese – Uma de suas primeiras medidas é dizer que não vai haver imposto para a soja. Há uma pessoa que fatura US$ 1,5 bilhão: o senhor Tranquilo Favero, que é um brasiguaio, amigo do ditador Alfredo Stroessner, que possui um milhão de hectares. Uma das primeiras medidas do Governo Franco é não cobrar imposto a estes grandes produtores de soja. Os sojeiros também querem subsídios que viam nos governos anteriores, colorados, para não somente deixar de pagar impostos, mas também receber do governo. Outra medida tomada por Franco é a de permitir as sementes transgênicas, algo a que nos opúnhamos. Imediatamente, o Governo Franco deu luz verde às sementes transgênicas. Uma terceira medida é abrir negociação — dizem que há já um decreto em elaboração e um contrato que vai ser aprovado pelo Congresso golpista em 90 dias – para dar à Rio Tinto Alcan (empresa canadense, líder mundial em produção de alumínio) US$ 14 bilhões em subsídios de energia elétrica que vão sair do consumidor paraguaio. A ditadura militar do Brasil também fez concessões de subsídios a empresas eletro-intensivas, como as de alumínio, o que faz com que hoje as tarifas de energia elétrica sejam muito caras, porque alguém tem que pagar por este subsídio. Nós, como governo, nunca abrimos negociação com Rio Tinto Alcan, apesar de três anos de pressão. Agora, Franco abriu negociação imediatamente e vai concretizar tudo em menos de 90 dias. Está anunciando também que vai fazer uma privatização massiva de nada menos que o sistema elétrico paraguaio. Também telefonia, água corrente, cimentos, todas as empresas públicas (na semana passada o ministro da Fazenda, Manuel Brusquetti, anunciou que será elaborado um marco regulatório de concessões públicas). É uma quadrilha que está prestes a assaltar o povo paraguaio.
Sul21 – Se pode dizer que, para o senhor, o novo governo atende aos interesses dos latifundiários e de multinacionais, ou há outros grupos interessados?
Ricardo Canese – Fundamentalmente, são latifundiários e transnacionais, além das cúpulas corruptas dos partidos tradicionais, que vão receber enormes benefícios. Para ter sustentação política estão começando uma campanha de ataque massivo a todo aquele que não seja golpista. Se acusa de ser esquerdista, subversivo, todo este tipo de coisa, como na época de Stroessner, quando todo aquele que não estava com o ditador era um antipatriota, um comunista. Já temos na administração pública centenas de despedidos pelo fato de serem simpatizantes de Fernando Lugo, ou não serem golpistas. Estamos apresentando estas denúncias a organizações internacionais: violações de direitos trabalhistas, constitucionais e, inclusive, direitos humanos.
Sul21 – Que papel tiveram os brasiguaios na deposição de Lugo?
Ricardo Canese – Os brasiguaios que estão em um nível popular, que têm alguns poucos hectares de terra, estão integrados com a população paraguaia. Estes apoiam a democracia e o governo constitucional de Fernando Lugo. Com eles não há problema, mas sim com brasiguaios como o senhor Favero, amigos do ditador Alfredo Stroessner, que roubaram com ele, que possuem grandes quantidades de terra, que expulsam não só o camponês paraguaio, mas o pequeno agricultor brasiguaio. Não é uma questão entre brasiguaios e camponeses paraguaios. É uma questão entre os latifundiários, como o senhor Favero e como o senhor (Blas) Riquelme (em cujas terras houve morte de camponeses e policiais que foi o estopim do golpe de estado), que é muito paraguaio, e os camponeses pobres, que são tanto paraguaios como brasiguaios, que são os que estão sofrendo as consequências deste modelo excludente.
Sul21 – Costuma-se dizer na imprensa brasileira que o Governo Lugo perseguia os brasiguaios. Como o senhor vê isto?
Ricardo Canese – Totalmente falso. O senhor Favero dizia que o perseguiam. Ele é um conhecido stronista e é ele um dos que levantava isto com outros latifundiários brasiguaios, não são muitos. Favero disse que é preciso que tratar o camponês como “mulher de malandro”, fazendo apologia à violência contra o camponês e contra a mulher. Nenhum juiz da República lhe condenou por esta apologia à violência que está publicada extensamente na imprensa há uns meses. Eles são impunes. Não só não havia perseguição, como conta com toda a proteção do Judiciário e da imprensa. Fernando Lugo não expropriou um só hectare do senhor Favero ou de outro latifundiário. É de inteira falsidade que tenha havido a mais mínima perseguição aos brasiguaios, nem sequer aos proprietários de terra, porque não houve nenhuma expropriação ou confisco de terras.
Sul21 – Por que, então, os latifundiários se incomodavam com o Governo Lugo?
Ricardo Canese – Porque queriam seguir ostentando suas terras mal havidas, roubadas; queriam seguir sem pagar imposto, como eu assinalei. O Governo Lugo apresentou uma proposta para que os grandes produtores de soja paguem imposto. Aqui em nosso país, um industrial, um comerciante, uma empresa que presta serviços paga 100 mil vezes mais imposto que um produtor de soja. Então, este foi um dos focos principais. Também o movimento campesino exigiu durante muito tempo a recuperação de terras mal havidas e o Governo Lugo acionou várias vezes a Justiça para que estas terras voltem ao Estado. Os proprietários de terra se opuseram e obtiveram a cumplicidade do Poder Judiciário. Agora, os proprietários de terra tinham o profundo temor de que finalmente pudesse haver uma decisão diferente do Judiciário, ou uma maioria no Congresso que pudesse fazer com que estas terras voltem ao Estado e que a produção de soja tenha que pagar imposto. A nove meses das eleições, a popularidade de Fernando Lugo era alta. Havia uma grande possibilidade de que triunfássemos nas eleições. Então, estas foram as motivações, para justamente manipular, impedir eleições livres e limpas.
Sul21 – O senhor, então, não crê que serão livres as próximas eleições.
Ricardo Canese – Estamos preocupados, porque os golpistas estão buscando, por um lado, inabilitar algumas candidaturas, como a própria candidatura de Fernando Lugo, que tem uma popularidade enorme. Também querem inabilitar outras personalidades, como o governador de San Pedro, José Gregório Ledesma, e os senadores Sixto Pereira e Carlos Filizzola. Tudo isto aponta que buscam eliminar como candidatos nossas principais figuras. Buscam ter eleições condicionadas, porque sabem que com eleições livres vão perder. Por isto, denunciamos à opinião pública internacional que é importante que, se não se quer prolongar este golpe de estado, haja garantias para que as eleições se desenvolvam com inteira normalidade e que não haja um cerceamento às liberdades públicas.
Sul21 – Qual deve ser a estratégia da esquerda nas eleições?
Ricardo Canese – Não é uma questão de esquerda e direita, mas de democracia versus ditadura, democracia versus golpe de estado. Estamos tendo o apoio neste momento de setores democráticos do Partido Colorado e do Partido Liberal. Então, pensamos em não somente unir as forças de esquerda, que já estão reunidas na Frente Guasu, mas uma frente muito mais ampla, a Frente em Defesa da Democracia – ainda se analisará se este nome será mantido. Será uma frente abarcando partidos de centro, ou até de direita, mas democráticos.
Sul21 – É surpreende que Lugo tenha sido eleito e, ao mesmo tempo, o Congresso tenha tão poucos parlamentares de esquerda. Por que isto ocorreu?
Ricardo Canese – Todos os partidos progressistas foram em distintas listas. Toda a esquerda e centro-esquerda teve 12% dos votos, o que poderia ter permitido uma bancada interessante. Lugo foi eleito pela Aliança Patriótica, que era formada também pelos liberais, que tiveram 28%. Já nas eleições municipais tivemos mais de 15%. As pesquisas antes do golpe davam a esquerda e centro-esquerda com20 a 25%. Por isto veio o golpe, porque a esquerda estava crescendo muito forte e unida. Ademais, setores democráticos e populares do Partido Liberal e do Partido Colorado estavam coincidindo com os partidos que estão na Frente Guasu. Isto é o que está acontecendo agora também. Domingo Laino, que é praticamente o fundador do Partido Liberal, várias vezes candidato à presidência, está conosco. Também estão o governador de San Pedro, um dos departamentos mais populares do país; e o deputado Victor Rios (ambos liberais). Dentro do Partido Colorado também ocorre o mesmo. Estamos ampliando enormemente as perspectivas da esquerda e da centro-esquerda. Neste momento, estamos com possibilidade de ganhar as eleições de 2013, se forem limpas e democráticas, com um espectro democrático amplo. Volto a dizer: a alternativa é golpe x democracia. Acreditamos que as forças democráticas do país vão fazer maioria aplastante nas eleições.
Sul21 – Como está a resistência popular agora? Que ações estão sendo realizadas?
Ricardo Canese – Começamos com 25 mil pessoas na rua em uns 40 lugares nas primeiras semanas. Agora estamos planificando uma campanha de resistência de 20 de julho a 15 de agosto, que termine neste dia com um grande ato de resistência, de repúdio ao golpe, nacional e internacional, mobilizando os paraguaios que estão em todo o mundo. Hoje (quinta-feira, 12), havia um ato em Londres, por exemplo. Diariamente, temos tido manifestações em Assunção e distintos pontos da República. No sábado, temos uma grande conversação do presidente Lugo com o povo no Bañado Sur, uma zona popular de Assunção, na próxima semana teremos outros acontecimentos mais. Mas, como te disse, vamos ter um plano bastante bem estruturado de mobilização, de difusão, de intervenção em distintos âmbitos. Incluirá um julgamento ético ao juicio político, ao golpe de estado. Vamos julgar os golpistas. Inclusive, queremos fazer na sala bicameral do Congresso. Depois de 15 de agosto, provavelmente vamos dar ênfase à preparação para as eleições.
domingo, 15 de julho de 2012
Sabra e Chatila: a linha do tempo da barbárie
Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Vamos esquecer aquele junho de 1982?
Gilson Caroni Filho no CARTA MAIOR
Trinta anos depois, é preciso indagar novamente. Vamos esquecer aquele junho de 1982, em que Beguin e Sharon não pestanejaram ao perpetrar o genocídio? Ao mesmo tempo em que massacravam as populações palestina e libanesa, restringiam ao máximo a manifestação de quaisquer segmentos contra a guerra, acabando com a ilusão de vários setores da sociedade israelense que acreditavam nas maravilhas de viver na "única sociedade democrática do Oriente Médio".
Desta forma, paralelamente a uma ação de pinças visando estabelecer no Líbano um estado títere – chefiado por um grupo fascista cristão, aliado incondicional de Israel – que assinasse a "pax beginnis” (como fez o Egito em Camp David) isolando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), foi deflagrado um processo que terminaria numa ocupação com a tomada da capital Beirute.
Num primeiro momento, a ação de Beguin alcançou seus resultados. A OLP e a população libanesa foram totalmente abandonadas por seus “aliados”. Síria e Jordânia, entre outros, saíram de cena, deixando que todo o peso da ação militar fosse sustentado por palestinos e libaneses. Com total proteção de Washington, o exército sionista cometeu toda sorte de atrocidades. Milhares de mortos, desaparecidos ou feridos. Um milhão de pessoas sem teto. Foram varridos da face da Terra: três cidades, 32 povoados libaneses e 14 acampamentos de palestinos. Contra cidades foram lançadas bombas de fragmentação: fosfóricas, de napalm e bengalas.
Para matar crianças, os invasores, armados e manobrados por Ronald Reagan, usaram as chamadas "minas e armadilha" e "minas-surpresa", que explodiam ao leve toque da mão infantil. O Líbano, palco de tragédias de colonialismos e neocolonialismos, guerra fria e lutas internas com intervenção de potências externas, seria o último solo das vítimas de uma solução final para o "problema palestino".
Frente à barbárie, os estados árabes recusaram-se até mesmo a receber os militantes palestinos, com medo do impacto de sua organização e nível de consciência em suas próprias populações – como ocorreu na Jordânia em 1970.
A pressão sobre a OLP foi, então, enorme. Enquanto sua direção buscava um recuo organizado que lhe permitisse conservar a unidade territorial dos combatentes palestinos, evitando um banho de sangue maior, os "aliados" pressionavam para uma "solução diplomática" que espalhasse os palestinos por vários países e destruísse sua direção.
Estava claro que a nova diáspora era carta jogada não só para os países árabes como para os dirigentes sionistas. Beguin e Sharon não aceitariam, na verdade, qualquer solução que preservasse um mínimo de organização do movimento palestino, que mantivesse intactas as possibilidades de unificação de um movimento anti-imperialista em toda a região. Os novos kaisers de Israel sabiam que a destruição total obedecia a uma estratégia geopolítica de domínio pleno.
Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Como relembrou o jornalista Diego Cruz, em artigo sobre os 24 anos do massacre:
"No entanto, na madrugada de 16 de setembro, a Falange, milícia libanesa cristã aliada de Israel, sob o comando direto do então Ministro da Defesa judeu, Ariel Sharon, invadiu os campos de refugiados de Sabra e Chatila, no subúrbio de Beirute, protagonizando um verdadeiro genocídio. Cerca de 3.500 mulheres, crianças e idosos foram cruelmente mortos com tiros e facadas."
A sorte estava lançada. Beguin quis destruir a OLP como foco de organização e polarização das forças revolucionárias. Ao destampar essa garrafa, o líder israelense liberou um vinho que, se num primeiro momento, produziu o que lhe pareceu um excelente perfume, liberou poderosos gases, forças sociais com as quais Israel terá que se haver até que o direito à existência soberana seja reconhecido. Enquanto isso não ocorrer, a democracia israelense será uma ficção preservada por muros e pela proteção estadunidense.
Não é sobre corpos de mulheres, crianças e idosos que se constrói um país democrático. Israel deveria, pela linha do tempo da memória coletiva, saber disso há mais de 60 anos.
Desta forma, paralelamente a uma ação de pinças visando estabelecer no Líbano um estado títere – chefiado por um grupo fascista cristão, aliado incondicional de Israel – que assinasse a "pax beginnis” (como fez o Egito em Camp David) isolando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), foi deflagrado um processo que terminaria numa ocupação com a tomada da capital Beirute.
Num primeiro momento, a ação de Beguin alcançou seus resultados. A OLP e a população libanesa foram totalmente abandonadas por seus “aliados”. Síria e Jordânia, entre outros, saíram de cena, deixando que todo o peso da ação militar fosse sustentado por palestinos e libaneses. Com total proteção de Washington, o exército sionista cometeu toda sorte de atrocidades. Milhares de mortos, desaparecidos ou feridos. Um milhão de pessoas sem teto. Foram varridos da face da Terra: três cidades, 32 povoados libaneses e 14 acampamentos de palestinos. Contra cidades foram lançadas bombas de fragmentação: fosfóricas, de napalm e bengalas.
Para matar crianças, os invasores, armados e manobrados por Ronald Reagan, usaram as chamadas "minas e armadilha" e "minas-surpresa", que explodiam ao leve toque da mão infantil. O Líbano, palco de tragédias de colonialismos e neocolonialismos, guerra fria e lutas internas com intervenção de potências externas, seria o último solo das vítimas de uma solução final para o "problema palestino".
Frente à barbárie, os estados árabes recusaram-se até mesmo a receber os militantes palestinos, com medo do impacto de sua organização e nível de consciência em suas próprias populações – como ocorreu na Jordânia em 1970.
A pressão sobre a OLP foi, então, enorme. Enquanto sua direção buscava um recuo organizado que lhe permitisse conservar a unidade territorial dos combatentes palestinos, evitando um banho de sangue maior, os "aliados" pressionavam para uma "solução diplomática" que espalhasse os palestinos por vários países e destruísse sua direção.
Estava claro que a nova diáspora era carta jogada não só para os países árabes como para os dirigentes sionistas. Beguin e Sharon não aceitariam, na verdade, qualquer solução que preservasse um mínimo de organização do movimento palestino, que mantivesse intactas as possibilidades de unificação de um movimento anti-imperialista em toda a região. Os novos kaisers de Israel sabiam que a destruição total obedecia a uma estratégia geopolítica de domínio pleno.
Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Como relembrou o jornalista Diego Cruz, em artigo sobre os 24 anos do massacre:
"No entanto, na madrugada de 16 de setembro, a Falange, milícia libanesa cristã aliada de Israel, sob o comando direto do então Ministro da Defesa judeu, Ariel Sharon, invadiu os campos de refugiados de Sabra e Chatila, no subúrbio de Beirute, protagonizando um verdadeiro genocídio. Cerca de 3.500 mulheres, crianças e idosos foram cruelmente mortos com tiros e facadas."
A sorte estava lançada. Beguin quis destruir a OLP como foco de organização e polarização das forças revolucionárias. Ao destampar essa garrafa, o líder israelense liberou um vinho que, se num primeiro momento, produziu o que lhe pareceu um excelente perfume, liberou poderosos gases, forças sociais com as quais Israel terá que se haver até que o direito à existência soberana seja reconhecido. Enquanto isso não ocorrer, a democracia israelense será uma ficção preservada por muros e pela proteção estadunidense.
Não é sobre corpos de mulheres, crianças e idosos que se constrói um país democrático. Israel deveria, pela linha do tempo da memória coletiva, saber disso há mais de 60 anos.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
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Werner Herzog - God's Angry Man (1980)
Créditos: MakingOff God's Angry Man (Glaube und Wärhung – Dr. Gene Scott, Fernsehprediger) Werner Herzog - God's Angry Man (1980) | |||||||
Poster | Sinopse | ||||||
Documentário para TV a respeito do pregador Gene Scott. (maiores informações na crítica abaixo) LEGENDAS EXCLUSIVAS!!!
|
Elenco | Informações sobre o filme | Informações sobre o release |
Gene Scott | Gênero: Documentário Diretor: Werner Herzog Duração: 44 minutos Ano de Lançamento: 1983 País de Origem: Alemanha / EUA Idioma do Áudio: Alemão / Inglês IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0080796/ | Qualidade de Vídeo: DVD Rip Vídeo Codec: XviD Vídeo Bitrate: 1.936 Kbps Áudio Codec: MPEG1/2 L3 Áudio Bitrate: 135 kbps 48 KHz Resolução: 576 x 432 Aspect Ratio: 1.333 Formato de Tela: Tela Cheia (4x3) Frame Rate: 23.976 FPS Tamanho: 652.5 MiB Legendas: No torrent |
Crítica | ||
Enquanto esperava o período de pré-produção transcorrer para as filmagens de Fitzcarraldo no Peru, Werner Herzog não perdeu tempo, investindo na realização de dois filmes irmãos sobre desdobramentos da religiosidade americana. God's Angry Man e o posterior O Sermão de Huie, ambos de 1980, são frutos de um estado de espírito muito particular dentro do momento vivido pelo diretor em sua carreira, justamente o da realização de seu mais ambicioso projeto artístico, a ser lançado somente dois anos depois sob um véu de obstáculos como raramente o cinema terá enfrentado. Ainda que ambos os médias tenham sido relegados a um patamar próximo ao esquecimento, justificado inclusive pelo barulho que Fitzcarraldo gerou da gestação à estréia, não é possível ignorar a relevância que ambos os trabalhos possuem, mesmo após três décadas, de iluminar alguns dos interesses centrais e correntes no legado de Herzog. God's Angry Man, filme sobre a comercialização da fé — e por isso muito próximo ao que atualmente se intensifica no Brasil —, coloca em foco a controversa personalidade de Gene Scott (1929-2005), pastor protestante que, entre os anos 70 e 80, tornou-se um ícone da comunicação através de um programa (Festival da Fé) que liderava a audiência e convencia seu público, por meio de um discurso emotivo e ironicamente raivoso, a ofertar generosas quantias financeiras em nome de Deus. O curioso é que, ao invés de organizar seu material (arquivos found footage do programa, entrevistas exclusivas com Scott, registro de bastidores da TV) em tom de denúncia ou crítica direta aos questionáveis atos de quem observava, Herzog optou por aproximar-se do homem que se escondia atrás da imagem midiática evidenciando uma ambigüidade que ora se compadece, ora abomina, ora simpatiza com aquele que finalmente deixa sua máscara cair. Ao nos mostrar a rotina de um homem que vive para as câmeras — à época, os programas de Scott duravam entre 6 e 8 horas diárias e ininterruptas — e que, por isso, já diluíra sua identidade num conjunto de expectativas e códigos de conduta indiferentes à sua vontade, Herzog desconstruiu todo um conceito fílmico baseado no desequilíbrio que a realidade e a ficção sempre nele tensionam. O que seu filme faz com Gene Scott é o que nenhuma das incontáveis horas de TV poderiam extrair dele e, em contrapartida, o que ele jamais revelaria para alguém não mediado por uma câmera. Consciente de sobreviver num 'mundo de celulóide', de ocultar uma profunda tristeza sob a fachada do estrelato, finalmente Scott encontrará a possibilidade de uma imagem que não se preocupe em vesti-lo de sentidos e significados exteriores, pois ao contrário, vem dela o mais pleno desnudamento, o desejo simples e puro de ser. E se procurarmos identificar o tempo da restituição, aquele momento em que Scott é brevemente devolvido para si mesmo, este não poderá estar em outro movimento senão o do incisivo close-up dedicado por Herzog ao entrevistado, durante vários e longos minutos. Certamente o mais belo e funcional — sim, Herzog consegue fundir opostos — close já efetuado pelo diretor, eis uma proximidade que recupera todo o caráter trágico (chapliniano) do referido movimento técnico: há uma eterna dor na face que se deixa tocar pela lente, naquilo que da pele pulsa, dos vincos e rugas, de cada contorno. São nestas cenas que God's Angry Man deixa de ser um filme sobre o mercado da religião para tornar-se um retrato do desamparo humano, do corpo que, abandonado solitariamente num mundo esquecido por Deus, agoniza uma espiritualidade impossível. Parece desnecessário apontar a relação entre Gene Scott e o protagonista de Fitzcarraldo, megalomaníacos que precisaram ultrapassar os limites da razão para sobreviver num domínio simbólico da existência. Desnecessário procurar neles um reflexo de Herzog, que otimizando a espera pelo seu próximo filme, comprovou ser o movimento cinemático uma conseqüência do saber aguardar. Nandodijesus (Multiplot) |
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sábado, 14 de julho de 2012
Liberalismo brasileiro
Senador Requião detonando com o PIG comparando o Golpe no paragaui com o Golpe contra Jango no Brasil....belo discurso, bem fundamentado e irônico...
As 10 Estratégias de Manipulação Midiática
1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".
2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, bastaaplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".
6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...
7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".
8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto...
9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, bastaaplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".
6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...
7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".
8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto...
9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
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Sem política habitacional, remoções e despejos avançam em SP
Moradores de prédios ocupados e ameaçados por anel viário realizaram ato para garantir direito à moradia
Daniele Silveira,
De São Paulo, da Radioagência NP
Moradores do centro e da periferia de São Paulo se reuniram para a realização de um ato em protesto contra as ordens de despejo e reintegração de posse que podem desalojar milhares de famílias em toda a capital paulista. A concentração para a manifestação, realizada na quarta-feira (11), iniciou na rua Mauá, no bairro da Luz. Os manifestantes percorreram o centro da cidade, até chegarem ao prédio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Cerca de 1500 pessoas participaram da ação.
Os manifestantes reivindicam que o poder público garanta alternativas habitacionais, oferecendo moradia digna para as famílias. Além disso, denunciam as ações de violência e intimidação que ocorrem antes e durante as remoções. Somente na Região Central de São Paulo, as ordens de reintegração de posse atingiram 560 famílias que ocuparam imóveis abandonados, e residem no local há pelo menos cinco anos.
A Justiça havia determinado a reintegração de posse a partir do dia 16 de julho do prédio da rua Mauá, onde residem mais de 200 famílias. A sentença foi suspensa por tempo indeterminado mediante recurso apresentado pelos moradores. O integrante da Assembleia Popular Jonathan Constantino considera uma vitória parcial o Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo ter aceitado o recurso e ressalta a importância dos movimentos por moradia ficarem em alerta e resistirem.
“A gente não pode recuar, porque o histórico que a gente tem no estado de São Paulo, e aqui na cidade, é que quando a gente recua na nossa luta as forças de repressão e a Justiça do estado vêm pra cima da gente pela madrugada para tirar a gente do nosso lar. Então, a gente tem que permanecer na rua, permanecer construindo, lutar, reivindicando o direito de permanecer ali, pedindo a desapropriação daquele prédio para a construção de moradia social”, afirma Constantino.
Rodoanel
As ameaças de despejo não atingem somente o centro da cidade. As grandes obras também têm gerado remoções nas regiões mais afastadas. O governo de São Paulo, no início do mês de abril, publicou no Diário Oficial do estado a reabertura da licitação do trecho norte do Roadoanel e assinou decretos para desapropriar aproximadamente 250 imóveis. O empreendimento, orçado em R$6,5 bilhões, recebe recursos do governo do estado, do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e pode desalojar 10 mil pessoas.
Famílias residentes de Perus, distrito da região noroeste de São Paulo, até a cidade de Guarulhos podem ser afetadas pela construção. Com uma extensão de cerca de 44km, o trecho norte do Rodoanel pretende interligar a Rodovia Fernão Dias e a Avenida Inajar de Souza aos trechos Leste e Oeste do anel viário.
Duilia Simões, moradora do bairro Jardim Paraná, região que será impactada pelas obras, relata o desencontro de informações sobre as moradias que serão atingidas.
“A Dersa [empresa responsável pelo gerenciamento da obra] alega que já tem os terrenos para as novas moradias, mas não abre para nós, não diz onde é. O Ministério Público deixou claro para nós que esses terrenos não existem. A obra já está quase na fase de cadastramento das famílias e nós não sabemos ainda sequer se existe um terreno ou não para as novas moradias”, relata Duilia.
Além dos problemas sociais, o empreendimento poderá trazer grandes impactos ambientais. A Serra da Cantareira, considerada a maior floresta em área urbana do mundo, terá suas reservas naturais atingidas. A serra possui o principal sistema de água da capital e abriga diversas espécies da Mata Atlântica.
Nos trechos já implantados do Rodoanel (sul e oeste), a construção da rodovia afetou a dinâmica da vida dos moradores. Jonathan Constantino conta que as obras não tiveram planejamento adequado para atender as pessoas que vivem na região. “Da noite para o dia uma rodovia passa onde tinha uma avenida e você tem que tentar pular por cima de uma rodovia para ir para a escola que fica do outro lado. Têm regiões que os professores não conseguem mais chegar para dar aula, que as famílias não têm como atravessar a rodovia porque não tem passarelas. Os moradores tem que pagar pedágio, dar volta para entrar dentro de casa ou dar volta para sair para trabalhar”, descreve.
Itaquerão
Na Zona Leste de São Paulo, a construção do estádio “Itaquerão” para a Copa de 2014 também ameaça os moradores atingidos pela obra. O coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Benedito Barbosa, relaciona as remoções ao interesse do capital imobiliário.
“A gente sabe que essas obras na verdade estão abrindo fronteiras para a especulação imobiliária na cidade de São Paulo. Esse processo de remoção e despejo está atingindo quase 70 mil famílias na cidade de São Paulo, que estão sofrendo algum tipo de deslocamento em função desses megaprojetos e dessas megaobras, e uma agenda concentrada para terminar pelo menos grande parte desses projetos e dessas intervenções até 2014 com a realização da copa do mundo no Brasil”, alega Barbosa.
Na capital, há ainda outros projetos que podem gerar despejos, como o Nova Luz, as Operações Urbanas Água Branca e Lapa-Brás e o Parque Linear Várzea do Tietê. A estimativa dos movimentos de moradia é que o déficit habitacional do estado de São Paulo seja de 2 milhões de unidades.
Durante o ato foi tirada uma comissão de representantes dos moradores atingidos pelas remoções para se reunir com o presidente da CDHU. Entre os principais compromissos assumidos pelo órgão está a garantia de 660 unidades habitacionais na Região Central. O pagamento da bolsa aluguel para as famílias que ficaram desabrigadas após despejo na zona sul também foi retomado. O beneficio estava suspenso há 14 meses.
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sexta-feira, 13 de julho de 2012
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