Algo
de maravilhoso e histórico está a acontecer no pequeno país das
Honduras na América Central. Apesar do terror imposto pelas classes
governantes dos Estados Unidos e das Honduras, apesar dos espancamentos e
dos assassinatos, apesar da pobreza de séculos e da miséria, as massas e
as suas organizações estão a organizar-se, mobilizando e respondendo
aos ataques.
De facto, os acontecimentos nas Honduras trazem hoje brilhantemente à vida o velho dito “A repressão gera resistência”.
Há três anos, em Junho de 2009, o popular presidente Manuel Zelaya
democraticamente eleito foi ilegalmente deposto num golpe de estado
apoiado pelos EUA. O golpe de estado marcou o começo de um reinado de
terror. Mas, também deu luz à resistência.
O golpe foi sintomático da desesperada vontade do imperialismo
norte-americano e seus compinchas corruptos de fazerem retroceder a maré
revolucionária que varre a América Latina e as Caraíbas.
Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e outros países são parte de um
movimento de esquerda que está a romper com o imperialismo
norte-americano e tratando de construir sociedades que ponham as
necessidades do povo à frente dos lucros da Wall Street.
As Honduras não foram uma excepção. Zelaya tentou levar a cabo
mudanças que permitiam aliviar a miséria das massas hondurenhas, como
aumentar o salário mínimo e tomar controlo dos recursos naturais das
Honduras.
Devido à sua ação, foi levado a cabo um golpe de direita com pleno
conhecimento e cumplicidade de Washington. De facto, o plano para o
golpe de estado foi urdido na base aérea americana de Palmerola que
Zelaya tinha tentado converter num aeroporto civil internacional.
Foi imposto um governo bem pró-capitalista, contra os pobres,
anti-laboral e a favor da elite quando, apesar da resistência popular, o
presidente fraudulento Pepe Lobo assumiu ilegitimamente o governo.
Contudo, como disse Karl Marx, a classe capitalista cria os seus próprios coveiros. É o que está a acontecer hoje nas Honduras.
Nova etapa na luta de resistência
O golpe de Estado abriu um novo capítulo na luta revolucionária nas
Honduras. As massas despertaram e estão a tomar o assunto em suas
próprias mãos. Activistas e militantes de há muito tempo uniram-se aos
jovens, trabalhadores, estudantes, mulheres, camponeses, comunidade
lésbica/gay/bissexual/transgénero, organizações garifunas (grupo étnico
da costa do Belize e Honduras – N.T.) e indígenas e formaram
organizações populares e frentes unidas.
Isto inclui a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), formação com 3 anos que se está fortalecendo todos os dias.
A 1 de Julho, a resistência anunciou ao mundo uma nova fase da luta.
Este anúncio extraordinário resume-se com o lema da FNRP: “Vamos da
Resistência para o Socialismo!”.
Este anúncio de um apelo à construção do socialismo nas Honduras é
um sinal tanto para os aliados das Honduras, como para os seus inimigos
de que o movimento está preparado para assumir a luta tanto quanto for
possível.
O histórico anúncio tem importância para a luta de classes em todo o
mundo. Deve ser ouvido em cada bairro, centro comunitário, sindicato ou
praça do mundo. Cada jovem e trabalhador que fez ocupação no Wisconsin,
no parque Zuccotti, na praça Tahrir ou no Zócalo deve conhecer o que
está a acontecer nas Honduras.
Campanha eleitoral revolucionária
A FNRP decidiu há uns meses, através de assembleias, reuniões e
debates fecundos, que a resistência participaria nas eleições
presidenciais de 2013. O movimento formou um novo partido, o Partido
Liberdade e Refundação (Partido Libre), que organizaria os passos
necessários para entrar na disputa eleitoral.
Os revolucionários e marxistas de todo o mundo sabem que as eleições
não provocam mudanças fundamentais. São as massas os agentes reais da
mudança, não as eleições. Pôr fim às relações capitalistas e expropriar
os meios de produção dos patrões dos trabalhadores, é isso que é
necessário para o fim da exploração. Cuba, por exemplo, teve a sua
revolução completa – os cubanos expulsaram a Wall Street e Washington do
seu país para sempre e começaram a organizar a sociedade em benefício
de todos os trabalhadores.
Os revolucionários sabem também que há muitos passos e processos complicados no caminho para a libertação.
As eleições de 2013 nas Honduras podem ser o marco que estabelece um ponto de inflexão nesse caminho para a libertação.
No dia 1 de Julho, na província de Galeras em Santa Bárbara, o
Partido Libre lançou formalmente as candidaturas de Xiomara Castro de
Zelaya, nomeada para presidente, e Juan Barahona, presidente da
Confederação Sindical (FUTH), nomeado para vice-presidente. As massas
viajaram pelos seus próprios meios mais de 130 km em terrenos difíceis
desde a principal cidade Tegucigalpa e de todo o país para se reunirem
em Santa Bárbara, onde Castro nasceu e se criou.
Ambos os candidatos são bem conhecidos, não só nas Honduras, como
também fora do país. Castro, chamada carinhosamente pelo seu primeiro
nome Xiomara, foi a “primeira-dama” no mandato de Zelaya, ao passo que
Barahona é um dirigente sindicalista de há muitos anos. Ambos são
membros e dirigentes da resistência.
Os trabalhadores que vêm de fora de Tegucigalpa sabem que devem
dirigir-se ao salão do sindicato STIBYS para obterem não apenas
informação sobre onde se realizará a ação seguinte, mas também
alimentos, abrigo e água. Grande parte do movimento junta-se no salão do
sindicato.
A esperança na mudança atrai as massas
O povo das Honduras é um dos mais pobres do mundo. É o segundo país
mais pobre do hemisfério a seguir ao Haiti. Segundo o Banco Mundial, 65
por cento da população vive abaixo do nível de pobreza. Mais de 30 por
cento da população, num país de 8 milhões, vive em extrema pobreza.
Desta maneira, não é pouca coisa para um trabalhador viajar de uma
cidade para outra por sua vontade própria para participar num evento de
campanha por uma eleição a mais de um ano de distância. No entanto,
vieram milhares e milhares de pessoas! O que as impeliu?
Tive o privilégio de viajar para as Honduras não muito depois do golpe
de estado e tive também o privilégio de ver o vídeo do lançamento da
campanha de 1 de julho com alguns dos dirigentes da resistência nos
Estados Unidos.
É evidente pelas entrevistas com hondurenhos obtidas pelo Workers
World Party (Partido do Mundo Operário) e pelas palavras dos candidatos
de 1 de Julho que o que levou as massas a Santa Bárbara foi a esperança.
Esperança que a vida nas Honduras não vá continuar a mesma. Esperança
que a sociedade esteja mudando para algo melhor, que as centenas de
camponeses, jornalistas, sindicalistas e pessoas LGBT que foram
assassinadas desde 2009 não tenham morrido em vão.
O que motivou as massas foi a perspectiva de que muitos sectores da
sociedade finalmente se estão a unir sob uma unidade revolucionária sem
precedentes para mudar nos seus fundamentos a sociedade hondurenha.
Esta unidade surge no contexto dos últimos três anos quando o
movimento não se deteve apesar da repressão e da brutalidade. O ponto
principal da unidade entre todos os sectores sociais promulgado pela
FNRP e pelo Partido Libre parece ser a não-aceitação do golpe. Não se
trata de pouca coisa frente à repressão e aos soldados americanos e aos
agentes da Agência Antidrogas dos EUA que estão sempre presentes.
Sejam estudantes ou camponeses, mulheres ou desempregados, homossexuais
ou heterossexuais, intelectuais ou operários, o povo das Honduras está a
construir heroicamente uma ampla frente unida não apenas contra o
golpe, mas também para dar um passo em frente revolucionário e radical.
Ao ler as palavras da candidata à presidência no dia da sua nomeação, torna-se claro que um novo dia desponta nas Honduras.
“Construamos uma sociedade socialista”
Xiomara Castro de Zelaya disse sob o sol brilhante da manhã na
plataforma rodeada por camponeses e camponesas e membros de sindicatos,
com seu filho, filha e esposo (o ex-presidente Zelaya) “Vem, gente das
Honduras, construamos uma sociedade socialista e democrática. Vamos
derrotar o estado burguês e construir um estado socialista.”
Xiomara evocou a luta global enquanto rendeu homenagem à resistência
no Médio Oriente, ao movimento Ocupar Wall Street e aos “indignados” em
Espanha.
A intervenção, um apelo às armas, pareceu-se mais com um discurso
nalguma assembleia da Cuba socialista do que a intervenção de uma
candidata a presidente. Foi um exemplo de como a luta das massas
hondurenhas e a unidade do movimento impulsionou uma consciência
revolucionária.
Um grupo de dirigentes nas Honduras decidiu condenar-se ao suicídio
classista, romper com a elite e unir-se às massas na sua luta pela
libertação. Para ajudar a garantir que os dirigentes se mantenham com as
massas torna-se mais importante que nunca fazer o trabalho necessário
para erguer a luta, tarefa muito difícil e arriscada, mas que a
resistência está claramente empreendendo e ganhando.
O apelo das Honduras despertará a ira da classe governante dos EUA para
sempre. Para Xiomara, Barahona, Mel Zelaya, e a Frente e o Partido
Libre, declarar que a luta das massas hondurenhas seja pelo socialismo é
equivalente a declarar guerra contra Washington, uma guerra que os
hondurenhos devem ganhar.
A gente progressista e revolucionária quer ser parte deste momento
histórico e não ficar de fora. As massas foram despertadas pelo golpe,
mas foram-no igualmente outros setores da sociedade.
Por esta razão, agora é a hora para entrar nas fileiras do movimento
revolucionário nas Honduras. Construir a luta pela solidariedade e
unidade com as Honduras, especialmente aqui no ventre da besta
imperialista americana, ajudará a garantir que o movimento possa dar
passos em frente para transformar as Honduras num país que defende os
interesses dos trabalhadores e não as elites capitalistas.
Viva a FNRP e o Partido Libre! Viva a resistência e viva o povo em luta nas Honduras!
Para ler a versão completa das intervenções de Xiomara Castro e Juan Barahona, visite resistenciahonduras.net.
Tradução: Jorge Vasconcelos