A
“despolitização” induz a maioria das pessoas a perceber as eleições
como o único meio de fazer política. Essa contração foi acompanhada por
um deslocamento: as eleições “acontecem” na TV e no rádio. Lá chegando,
incorporaram-se a um dispositivo que, além do conteúdo conservador,
transforma tudo em entretenimento
|
por Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida no LE MONDE BRASIL |
Processos de infantilização das campanhas eleitorais sempre ocorrem nas
democracias de massa. No esforço para capturar os votos da maioria em
sociedades em que o poder político e econômico é detido por uma minoria,
algum tipo de manipulação é imprescindível. Referindo-se ao século XIX,
quando surgiram as primeiras democracias eleitorais, Eric Hobsbawm
observou as afinidades entre a era da democratização e a hipocrisia
política.1
Estudiosos sofisticados não apenas teorizaram como justificaram esse
processo, considerando-o um componente positivo de qualquer democracia
possível. Foi o caso de Joseph Schumpeter, em seu clássico Capitalismo, socialismo e democracia,2
publicado em 1942 e hoje mais influente do que nunca. Para esse autor
austríaco exilado nos Estados Unidos, é teoricamente incorreto e
politicamente arriscado levar a sério a etimologia de democracia (poder
do povo). O povo jamais teve ou terá o poder, que sempre foi e será das
elites. Nesse sentido, a democracia se define como um conjunto de
procedimentos que asseguram a concorrência entre elites organizadas em
empresas políticas, ou seja, partidos, que concorrem pela preferência do
consumidor político, isto é, o eleitor. Este, como qualquer consumidor,
não é um exemplo de racionalidade ao fazer sua escolha. Daí algumas
condições para que a democracia prospere, como, por exemplo, um debate
político que não coloque questões estruturais em pauta. E que o eleitor
deixe o eleito em paz. A este, e não àquele, o mandato pertence.
Essa concepção dita procedimental da democracia, ao traçar uma forte
analogia entre a política e o mercado (idealizando este último),
contribui para legitimar a superficialização do debate político, o
alijamento da maior parte da população de questões mais sérias e a forte
presença dos profissionais em propaganda eleitoral. É provável que o
fantasma de Schumpeter ronde as atuais eleições brasileiras,
especialmente no “horário político” da TV e nas matérias publicadas pela
grande imprensa. Até porque, como se trata de pleitos municipais, é
mais fácil a disseminação da ideia de que basta um bom gerente para que
os principais “problemas” estejam em boas mãos.
Não exageremos nas simplificações. Para além da manipulação – e para
que esta funcione em maior ou menor grau –, existem fortes determinações
estruturais. É o caso da construção altamente ideologizada de uma
comunidade de indivíduos-cidadãos livres e iguais, inclusive quanto ao
acesso à informação política, em sociedades marcadas por ferozes
relações de exploração e dominação. Uma propaganda do TSE que apresenta o
eleitor como “patrão” expressa, de modo enviesado e um tanto confuso,
essa construção. Não ficaria mais próximo da vida como ela é apresentar a
maioria dos eleitores como “não patrões”?
Essa maioria não patronal é o grande alvo do “horário político”. A ela
se dirigem os candidatos travestidos de super-heróis, prometendo, a cada
quatro anos, resolver os “problemas” de moradia, assistência
médico-hospitalar, creche, esgoto, água tratada, emprego, habitação etc.
Só não explicam a origem de seus superpoderes ungidos de espírito
público e amor ao próximo, bem como por que, historicamente, tudo isso
desaparece assim que se encerra a estação de caça aos votos.
Na vida real, os “patrões” não costumam rasgar dinheiro. Não gastam seu
precioso tempo assistindo ao show dos horários eleitorais em que um
promete mudar aeroportos ou erguer aerotrens; outro afirma com a maior
seriedade que eliminará congestionamentos de trânsito aproximando locais
de trabalho e de moradia (e vice-versa); um terceiro garante que
nomeará um ministério do nível de ministros (grito socorro?) e que os
serviços públicos funcionarão porque ele aparecerá onde não o esperam
(Jânio vem aí?).
Nenhum se refere a um aspecto importantíssimo para a aplicação de
políticas, inclusive no plano municipal: nessa situação de crise
capitalista que se aprofunda e de forte comprometimento das contas
nacionais com o pagamento da dívida pública a boa parte dos grandes
“patrões” (bancos, fundos de pensão, grandes empresas industriais
brasileiras e transnacionais), é quase nula a capacidade do Estado, em
seus distintos níveis, de colocar em prática políticas sérias,
especialmente sociais. Poupa-se o eleitor desse assunto enfadonho, até
porque – reza o saudável senso comum – crise capitalista não é assunto
de prefeito ou vereador. Melhor destacar que é amigo da presidenta e do
governador; que é administrador experiente e competente; que, assim como
foi o maior ministro de tal área, será o maior prefeito. E que, ao
contrário do adversário, não é amigo do Maluf.
É claro que existem diferenças políticas entre as candidaturas
relevantes, aí se incluindo partidos cuja competitividade eleitoral é
ínfima. E, mesmo em seus melhores momentos, as disputas eleitorais
filtram e refratam os principais interesses das forças sociais. Mas um
importante aspecto comum em uma cidade altamente politizada como São
Paulo consiste no peso extraordinário que adquire a interpelação do
eleitorado como essencialmente passivo. Lutas populares, nem pensar.
Basta o voto (claro que em mim!) para mudar o destino da maioria
daqueles a quem a propaganda eleitoral se dirige. Um grande autor, em
sua fase juvenil, fez uma crítica mordaz desse duplo mundo, o
“celestial”, onde, apagadas as diferenças, todos viram “cidadãos”; e o
“terreno”, onde o homem é o lobo do homem.3 Nas grandes
metrópoles brasileiras, essa dupla vida nos incomoda quando deparamos
com homens e mulheres pobres, expostos ao sol inclemente deste inverno
surreal, segurando cartazes de candidatos com os quais não têm nenhuma
afinidade político-eleitoral, até porque isso é o que menos importa.
Para quem paga, é tirar partido de mão de obra sobrante e, portanto,
barata. Para quem segura o rojão, também tanto faz ser placa de
empreendimento imobiliário ou de qualquer “político”. Melhor do que
“compro ouro”. Para todos nós que passamos de carro, por que se
indignar? No melhor dos casos, cumpriremos nosso dever cívico,
depositando o voto na urna, e esperamos – quem sabe até cobrando – que
as “autoridades” resolvam a situação dessa gente com as quais (situação e
gente) nada temos a ver.
Exatamente devido aos impactos que produz no sentido de desorganizar a
ação coletiva e autônoma dos dominados – inclusive no que se refere à
produção e circulação de informações –, esse processo de
“despolitização” não é politicamente neutro. Ao contrário, contribui, em
São Paulo ou em São Luís, para a reprodução de um dos padrões de
dominação e exploração mais predatórios do planeta.
Também cabe evitar a ideia igualmente simplista de que o esforço de
manipulação opera sobre um terreno vazio e passivo (um espécie de folha
de papel em branco) e sempre obtém os mesmos resultados. No fundamental,
o que está em jogo é, em cada conjuntura, a maior ou menor capacidade
de intervenção popular na vida política.
Essa capacidade sofreu drástica redução nos últimos anos. Partidos
antes combativos passaram por fortes mutações, ao longo das quais
obliteraram seus espaços de participação (inclusive debates internos).
Políticas sociais importantes para, em caráter emergencial, melhorar as
condições de vida de populações que estavam em extrema miséria tampouco
ampliaram aquela capacidade. Ao contrário, reforçaram a percepção de que
o governante é um pai (ou uma mãe), com especial carinho para com os
mais desprotegidos. E, como vimos, no plano nacional, sem tempo para
negociar com a totalidade dos professores das universidades federais
envolvidos numa ação coletiva (uma greve) durante mais de cem dias; e,
no estadual/municipal, o bárbaro massacre dos moradores do Pinheirinho,
em São José dos Campos (SP), também organizados na luta política por
direitos constitucionais elementares. Enquanto isso, o especulador não
tem do que se queixar, e um candidato “do bem” se vangloria de, quando
secretário estadual da Educação, jamais ter deparado com uma greve de
professores.
Sorte dos trabalhadores e trabalhadoras que não se metem em confusão, até porque esse processo de despolitização segue pari passucom
o de judicialização da vida política. Mas por que nos preocuparmos?
Afinal, a essência da maioria dos candidatos pode se resumir no refrão
de um deles: passa o tempo todo pensando nos pobres.
Com essa drástica redução da capacidade de ação popular coletiva, não é
mais necessário, como foi em 1989, que um importante dirigente
industrial, Mário Amato, alerte que, caso determinado candidato
vencesse, 800 mil empresários abandonariam o Brasil; ou, no pleito
seguinte, outro peso pesado dos industriais advertisse que a eleição do
mesmo candidato seria o equivalente a uma bomba de hidrogênio despencar
sobre este país abençoado por Deus. Na campanha eleitoral de 2002, o
marqueteiro-mor do mesmo candidato, ao coordenar importantes figuras
políticas na feitura de uma propaganda televisiva, disse para todos
erguerem a mão em forma de L. “A mão direita ou a esquerda?”, perguntou
alguém. “Como quiser”, respondeu o pragmático guru, “quem for de
direita, com a direita; quem for de esquerda, com a esquerda.”4
Não por mera coincidência, assinou-se a “Carta aos brasileiros”; apesar
de algumas rusgas passageiras, houve forte apoio empresarial; e o
partido concluiu sua passagem para a idade da razão.
Os impactos “despolitizadores” sobre os processos induzem a grande
maioria das classes populares a perceber as eleições como o único meio
legítimo de fazer política. Essa contração foi acompanhada por um
deslocamento: as eleições “acontecem” principalmente na televisão e no
rádio (as chamadas redes sociais ainda engatinham nesse processo). Lá
chegando, incorporaram-se a um dispositivo que, além do conteúdo
abertamente conservador, transforma tudo em entretenimento. Em outros
termos, o centro da atividade eleitoral mais visível se transfere para
meios de comunicação tremendamente oligopolizados e que reproduzem, na
imensa maioria das transmissões, (novelas, noticiários, propagandas)
processos de infantilização. Lutas pelo aprofundamento da participação
política no Brasil requerem democratizar e diversificar os meios de
comunicação.
Quando Schumpeter escreveu seu célebre livro sobre democracia, o
desfecho da Segunda Guerra Mundial, fortemente articulada a uma crise do
capitalismo, ainda estava incerto e restavam poucas democracias
liberais no planeta. Em um livro schumpeteriano bem mais simplista, A terceira onda, Samuel Huntington se congratulava, em 1993, pelo espraiamento desse regime por grande parte do planeta.5
Todavia, no atual contexto de profunda crise capitalista, tendem a
aumentar os desencontros entre esse regime e a participação popular. Se
Schumpeter e tantos outros negam a possibilidade do poder do povo,
diversos estudiosos, como Slavoj Žižek,ao abordar uma questão bem mais
específica, recorrem a uma expressão cada vez mais em voga para nos
referirmos a essa reviravolta sinistra: a democracia se volta contra os
povos.6
Diante dos riscos de que o modelo schumpeteriano de democracia chegue
ao seu esgotamento no bojo da atual crise, é urgente inventar novas e
profundas formas de efetiva participação popular na política.
Resta saber se isso é possível sem reinventar a sociedade.
Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida
é professor do Departamento de Política da PUC-SP
Ilustração: Daniel Kondo
1 E. Hobsbawm, A era dos impérios, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1988, p.130.
2 J. A. Schumpeter, Capitalismo, socialismo e democracia, Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1961.
3 Karl Marx, A questão judaica,Boitempo, São Paulo, 2010.
4 A sequência aparece no documentário Entreatos,de João Moreira Salles.
5 Samuel Huntington,A terceira onda: a democratização no final do século XX, Ática, São Paulo, 1994.
6 Slavoj Žižek, “Democracy versus the people. A new account of Haiti’s
recent history shows how the genuinely radical politics of Lavalas and
its”, New Statesman, 14 ago. 2008.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
"Pode deixar que eu cuido disso": a infantilização do voto
Mídia: "Lula e Dilma deixam a desejar"
Por Nilton Viana, no jornal Brasil de Fato:
A secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, acredita que a comunicação é um direito humano, e que, portanto, cabe ao Estado adotar políticas públicas para assegurar esse direito. Segundo ela, os grandes conglomerados de mídia têm posição cativa ao lado do capital, atuando como correia de transmissão da ideologia mais reacionária, de privatização, desmonte do Estado, arrocho salarial, retirada de direitos sociais e trabalhistas.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Rosane Bertotti fala sobre a importância da mobilização “para garantir a diversidade e a pluralidade de vozes. “Se nós olharmos o tipo de enfrentamento que está sendo feito em alguns países ao nosso redor, infelizmente, é forçoso reconhecer que tanto o governo Lula quanto Dilma deixaram e deixam muito a desejar no quesito comunicacional.
Você participou, de 19 a 22 de setembro, em Quito, Equador, do Encontro Latino- Americano de Comunicação Popular e Bem Viver. Quais são avanços que na questão da comunicação que se podem destacar nos países da região?
Creio que o principal avanço é o da consciência sobre o papel da batalha de ideias e a crescente disposição política dos governos do campo democrático e popular, particularmente os da Argentina e do Equador, de fazer uma nova lei que aposte na democratização da comunicação para garantir a efetiva liberdade de expressão, sequestrada pela velha mídia. São passos muito significativos, como a complementaridade dos sistemas público, privado e estatal, que não teriam sido possíveis sem a atuação de entidades como a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (Aler), que promoveu o encontro em Quito. Somando energia e experiência em torno de pontos comuns, com espírito amplo, de verdadeiras frentes, essas organizações populares conseguiram mobilizar a sociedade e respaldar ações mais ousadas de governos que não se submeteram às calúnias e chantagens dos grandes conglomerados.
No caso do Brasil, qual o embate a ser travado hoje pelos movimentos sociais nessa questão da comunicação?
Temos a convicção de que é preciso afirmar a necessidade de um regramento para o setor, enfrentando a disputa política e ideológica com a mídia comercial, que vê a comunicação como um negócio qualquer, que deve atender unicamente os donos do veículo e seus anunciantes. O mote da campanha do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) é “para expressar a liberdade, uma nova lei para um novo tempo”. Acreditamos que é necessário popularizar o tema, mostrando à população a necessidade de regulamentar os dispositivos da Constituição Cidadã, fundamentalmente o que combate a formação de monopólios e oligopólios, e o que garante a complementaridade dos sistemas. Sem isso não haverá sociedade democrática e uns poucos proprietários de concessões públicas continuarão ditando o que o povo deve ouvir, ver e ler. Para nós a comunicação é um direito humano e, portanto, cabe ao Estado adotar políticas públicas que o assegurem. Senão vira letra morta.
Na sua opinião, houve avanços, nos quase 10 anos de Lula e Dilma, em relação à democratização da comunicação?
A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do governo Lula, contribuiu para que o tema entrasse efetivamente na pauta, estimulando a formação dos Conselhos Estaduais de Comunicação, como conquistamos recentemente na Bahia e no Rio Grande do Sul. Infelizmente vários pontos apontados pela Confecom para a efetivação de mecanismos de controle social, participação popular e auditoria nos meios privados não andam devido a uma defensiva inexplicável do governo. Se nós olharmos o tipo de enfrentamento que está sendo feito em alguns países ao nosso redor, infelizmente, é forçoso reconhecer que tanto o governo Lula quanto Dilma deixaram e deixam muito a desejar no quesito comunicacional.
As verbas publicitárias ainda são investidas majoritariamente na mídia comercial. Qual é a avaliação do FNDC sobre a insistência nessa política?
É necessário mudar os critérios publicitários para que haja uma desconcentração que tem se demonstrado profundamente antidemocrática, ecoando a voz dos grandes conglomerados, os mesmos que atentam todos os dias contra a pluralidade e a diversidade. É preciso garantir principalidade dos recursos para a mídia pública e comunitária, para os blogueiros, para os jornais alternativos. Afinal, a mídia privada já conta com recursos abundantes das transnacionais, do sistema financeiro e das grandes empresas para defender seus interesses, para divulgar a pauta do capital. O governo precisa priorizar a sociedade, necessita democratizar a publicidade.
Qual é a avaliação do movimento pela democratização das comunicações em relação à Confecom, realizada em 2009; o que avançou de lá para cá?
A Confecom foi fruto da sociedade civil que garantiu a realização da conferência inclusive em condições adversas. Foi muito importante enquanto processo de mobilização, porém as propostas não saíram do papel. O então ministro Franklin Martins chegou a ensaiar um projeto, mas que ficou em alguma gaveta para o Paulo Bernardo, que resolveu deixar por lá. O que temos é a síntese dos 20 pontos dos movimento sociais. Na nossa opinião, respaldado pela Confecom, o governo deveria adotar medidas como a regulamentação dos artigos da Constituição Federal (220 a 224) que, entre outros avanços, impedem a propriedade cruzada dos meios e proíbem os monopólios; a garantia da inclusão digital com a aplicação dos recursos do Fundo para Universalização do Serviço de Telefonia (Fust) em programas de extensão da internet banda larga para todo o país, priorizando as regiões afastadas dos grandes centros e a população de baixa renda, a redução de 30% para 10% na participação do capital estrangeiro nas comunicações, a descriminalização das rádios comunitárias.
Como a CUT avalia o papel da mídia brasileira?
Os grandes conglomerados de mídia têm posição cativa ao lado do capital, atuando como correia de transmissão da ideologia mais reacionária, de privatização, desmonte do Estado, arrocho salarial, retirada de direitos sociais e trabalhistas. São emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas e portais de internet que atuam de forma coordenada para distorcer os fatos, criminalizar e invisibilizar os movimentos populares, a luta dos trabalhadores, das mulheres, negros e indígenas. É uma conduta irresponsável e ditatorial.
O STF está julgando o chamado “mensalão”. Como você avalia a cobertura da mídia brasileira nesse caso?
Infelizmente os que se arvoram grandes defensores da liberdade de imprensa são hoje instrumentos que em vez de informar, divulgam as suas opiniões. São meios de manipulação e desinformação em massa. O fato é que a mídia não só divulgou interpretações dos fatos, mas já julgou e condenou. Onde está a imparcialidade tão propalada? Cadê a liberdade de expressão, o respeito à verdade dos fatos ou o direito ao contraditório?
A esquerda brasileira, ao seu ver, está avançando nessa luta pela democratização da comunicação?
Creio que o amplo espectro da esquerda tem avançado no sentido de ter meios próprios, de construir e articular redes, como os blogueiros progressistas. A articulação dos vários movimentos com a luta do FNDC tem potencializado esta caminhada, mas há muito ainda por fazer. Do ponto de vista da CUT, por exemplo, temos ampliado os investimentos no nosso Portal do Mundo do Trabalho (www.cut.org.br), na estruturação de sites das nossas estaduais e Ramos, no aprimoramento da nossa rádio e tv web. Acredito que é um processo em que estamos amadurecendo conjuntamente, com uma consciência e um compromisso crescente de que necessitamos lutar para que todos tenham voz, para que não haja mais mordaças como as impostas pela velha mídia.
Quais são as principais lutas que o movimento pretende travar nos próximos meses?
Acho que precisamos mobilizar para retomar o projeto original do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), em que a Telebrás tem um papel chave como empresa pública de articular e incentivar a construção de uma sólida base material para a universalização dos serviços. Não será se submetendo aos interesses das grandes empresas de telecomunicação, despejando rios de recursos públicos e abrindo mão de impostos que vamos conseguir colocar o país num novo patamar neste setor estratégico para o desenvolvimento nacional, para o avanço da educação, da ciência, da tecnologia. O que temos hoje é uma internet lenta e cara, altamente excludente. É hora de virar esta página.
A secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, acredita que a comunicação é um direito humano, e que, portanto, cabe ao Estado adotar políticas públicas para assegurar esse direito. Segundo ela, os grandes conglomerados de mídia têm posição cativa ao lado do capital, atuando como correia de transmissão da ideologia mais reacionária, de privatização, desmonte do Estado, arrocho salarial, retirada de direitos sociais e trabalhistas.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Rosane Bertotti fala sobre a importância da mobilização “para garantir a diversidade e a pluralidade de vozes. “Se nós olharmos o tipo de enfrentamento que está sendo feito em alguns países ao nosso redor, infelizmente, é forçoso reconhecer que tanto o governo Lula quanto Dilma deixaram e deixam muito a desejar no quesito comunicacional.
Você participou, de 19 a 22 de setembro, em Quito, Equador, do Encontro Latino- Americano de Comunicação Popular e Bem Viver. Quais são avanços que na questão da comunicação que se podem destacar nos países da região?
Creio que o principal avanço é o da consciência sobre o papel da batalha de ideias e a crescente disposição política dos governos do campo democrático e popular, particularmente os da Argentina e do Equador, de fazer uma nova lei que aposte na democratização da comunicação para garantir a efetiva liberdade de expressão, sequestrada pela velha mídia. São passos muito significativos, como a complementaridade dos sistemas público, privado e estatal, que não teriam sido possíveis sem a atuação de entidades como a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (Aler), que promoveu o encontro em Quito. Somando energia e experiência em torno de pontos comuns, com espírito amplo, de verdadeiras frentes, essas organizações populares conseguiram mobilizar a sociedade e respaldar ações mais ousadas de governos que não se submeteram às calúnias e chantagens dos grandes conglomerados.
No caso do Brasil, qual o embate a ser travado hoje pelos movimentos sociais nessa questão da comunicação?
Temos a convicção de que é preciso afirmar a necessidade de um regramento para o setor, enfrentando a disputa política e ideológica com a mídia comercial, que vê a comunicação como um negócio qualquer, que deve atender unicamente os donos do veículo e seus anunciantes. O mote da campanha do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) é “para expressar a liberdade, uma nova lei para um novo tempo”. Acreditamos que é necessário popularizar o tema, mostrando à população a necessidade de regulamentar os dispositivos da Constituição Cidadã, fundamentalmente o que combate a formação de monopólios e oligopólios, e o que garante a complementaridade dos sistemas. Sem isso não haverá sociedade democrática e uns poucos proprietários de concessões públicas continuarão ditando o que o povo deve ouvir, ver e ler. Para nós a comunicação é um direito humano e, portanto, cabe ao Estado adotar políticas públicas que o assegurem. Senão vira letra morta.
Na sua opinião, houve avanços, nos quase 10 anos de Lula e Dilma, em relação à democratização da comunicação?
A Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do governo Lula, contribuiu para que o tema entrasse efetivamente na pauta, estimulando a formação dos Conselhos Estaduais de Comunicação, como conquistamos recentemente na Bahia e no Rio Grande do Sul. Infelizmente vários pontos apontados pela Confecom para a efetivação de mecanismos de controle social, participação popular e auditoria nos meios privados não andam devido a uma defensiva inexplicável do governo. Se nós olharmos o tipo de enfrentamento que está sendo feito em alguns países ao nosso redor, infelizmente, é forçoso reconhecer que tanto o governo Lula quanto Dilma deixaram e deixam muito a desejar no quesito comunicacional.
As verbas publicitárias ainda são investidas majoritariamente na mídia comercial. Qual é a avaliação do FNDC sobre a insistência nessa política?
É necessário mudar os critérios publicitários para que haja uma desconcentração que tem se demonstrado profundamente antidemocrática, ecoando a voz dos grandes conglomerados, os mesmos que atentam todos os dias contra a pluralidade e a diversidade. É preciso garantir principalidade dos recursos para a mídia pública e comunitária, para os blogueiros, para os jornais alternativos. Afinal, a mídia privada já conta com recursos abundantes das transnacionais, do sistema financeiro e das grandes empresas para defender seus interesses, para divulgar a pauta do capital. O governo precisa priorizar a sociedade, necessita democratizar a publicidade.
Qual é a avaliação do movimento pela democratização das comunicações em relação à Confecom, realizada em 2009; o que avançou de lá para cá?
A Confecom foi fruto da sociedade civil que garantiu a realização da conferência inclusive em condições adversas. Foi muito importante enquanto processo de mobilização, porém as propostas não saíram do papel. O então ministro Franklin Martins chegou a ensaiar um projeto, mas que ficou em alguma gaveta para o Paulo Bernardo, que resolveu deixar por lá. O que temos é a síntese dos 20 pontos dos movimento sociais. Na nossa opinião, respaldado pela Confecom, o governo deveria adotar medidas como a regulamentação dos artigos da Constituição Federal (220 a 224) que, entre outros avanços, impedem a propriedade cruzada dos meios e proíbem os monopólios; a garantia da inclusão digital com a aplicação dos recursos do Fundo para Universalização do Serviço de Telefonia (Fust) em programas de extensão da internet banda larga para todo o país, priorizando as regiões afastadas dos grandes centros e a população de baixa renda, a redução de 30% para 10% na participação do capital estrangeiro nas comunicações, a descriminalização das rádios comunitárias.
Como a CUT avalia o papel da mídia brasileira?
Os grandes conglomerados de mídia têm posição cativa ao lado do capital, atuando como correia de transmissão da ideologia mais reacionária, de privatização, desmonte do Estado, arrocho salarial, retirada de direitos sociais e trabalhistas. São emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas e portais de internet que atuam de forma coordenada para distorcer os fatos, criminalizar e invisibilizar os movimentos populares, a luta dos trabalhadores, das mulheres, negros e indígenas. É uma conduta irresponsável e ditatorial.
O STF está julgando o chamado “mensalão”. Como você avalia a cobertura da mídia brasileira nesse caso?
Infelizmente os que se arvoram grandes defensores da liberdade de imprensa são hoje instrumentos que em vez de informar, divulgam as suas opiniões. São meios de manipulação e desinformação em massa. O fato é que a mídia não só divulgou interpretações dos fatos, mas já julgou e condenou. Onde está a imparcialidade tão propalada? Cadê a liberdade de expressão, o respeito à verdade dos fatos ou o direito ao contraditório?
A esquerda brasileira, ao seu ver, está avançando nessa luta pela democratização da comunicação?
Creio que o amplo espectro da esquerda tem avançado no sentido de ter meios próprios, de construir e articular redes, como os blogueiros progressistas. A articulação dos vários movimentos com a luta do FNDC tem potencializado esta caminhada, mas há muito ainda por fazer. Do ponto de vista da CUT, por exemplo, temos ampliado os investimentos no nosso Portal do Mundo do Trabalho (www.cut.org.br), na estruturação de sites das nossas estaduais e Ramos, no aprimoramento da nossa rádio e tv web. Acredito que é um processo em que estamos amadurecendo conjuntamente, com uma consciência e um compromisso crescente de que necessitamos lutar para que todos tenham voz, para que não haja mais mordaças como as impostas pela velha mídia.
Quais são as principais lutas que o movimento pretende travar nos próximos meses?
Acho que precisamos mobilizar para retomar o projeto original do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), em que a Telebrás tem um papel chave como empresa pública de articular e incentivar a construção de uma sólida base material para a universalização dos serviços. Não será se submetendo aos interesses das grandes empresas de telecomunicação, despejando rios de recursos públicos e abrindo mão de impostos que vamos conseguir colocar o país num novo patamar neste setor estratégico para o desenvolvimento nacional, para o avanço da educação, da ciência, da tecnologia. O que temos hoje é uma internet lenta e cara, altamente excludente. É hora de virar esta página.
Porto Alegre 2012: A derrota política da esquerda e o novo consenso liberal
Por Paulo Marques no SUL21
O resultado eleitoral em Porto Alegre, com a reeleição do atual
prefeito José Fortunati(PDT) no primeiro turno, com 65% dos votos, e a
pífia votação do candidato petista com menos de 10% dos votos,
representa bem mais do que as explicações simplistas de aprovação de um
boa gestão e a derrocada inexorável do PT em particular e da esquerda em
geral. O problema fundamental que não está sendo discutido é muito mais
profundo, consiste no que eu denomino de “consenso liberal” que vem se consolidando na cidade.
É, como diria Gramsci, na disputa de uma “visão de mundo”, que se dá a luta central pela “hegemonia política- cultural”. Segundo o marxista italiano a relação de dominação se consolida a partir de dois elementos a coerção e o consenso, sendo que na medida em que este último fator se fortalece a coerção é utilizada somente em casos excepcionais. Ou seja, a maior vitória do dominante é conquistar o “coração e mente” do dominado. Nesse sentido, a hegemonia de um determinado pensamento no campo simbólico-cultural é fundamental para a manutenção do poder.
É, como diria Gramsci, na disputa de uma “visão de mundo”, que se dá a luta central pela “hegemonia política- cultural”. Segundo o marxista italiano a relação de dominação se consolida a partir de dois elementos a coerção e o consenso, sendo que na medida em que este último fator se fortalece a coerção é utilizada somente em casos excepcionais. Ou seja, a maior vitória do dominante é conquistar o “coração e mente” do dominado. Nesse sentido, a hegemonia de um determinado pensamento no campo simbólico-cultural é fundamental para a manutenção do poder.
Só a partir da reflexão sobre esta questão chave é possível analisar a
dimensão real do resultado de domingo passado e os desafios que se
impõe para a esquerda na cidade que outrora já foi referência para
pensar um outro mundo possível.
José Fortunati e sua coligação formada pelo PDT, PMDB, PTB, DEM, PP e
outros nanicos( também incluo o PRBS, partido da RBS, FARSUL e o grande
capital) representam claramente um campo liberal-conservador que
havia sofrido um importante revés nos 16 anos de governos do PT em
Porto Alegre, que chegou ao ápice com a vitória de Olívio Dutra no
Estado(1999-2002).
Todavia, esse campo vêm retomando o espaço perdido ao construir, nos
quase dez anos de gestão na prefeitura, uma nova “hegemonia cultural”,
ou novo “consenso” no que tange ao papel do poder público e sua relação
com o capital. Nessa perspectiva está presente os pressupostos da
dinâmica liberal do prefeito e legislador limitado ao papel de “gestor”
dos interesses do capital, e que se consolida como a principal
característica dessa hegemonia/ consenso.
No caso de Porto Alegre, esse processo de construção de um “consenso
liberal” se deu não só pela ação dos partidos e setores desse campo.
Outro fator que contribuiu fortemente para essa nova hegemonia foram as
transformações que se deram no Partido dos Trabalhadores; primeiro em
âmbito nacional e depois local. Se, no Rio Grande do Sul, e em
particular na cidade de Porto Alegre, o PT se destacava pelo caráter
de esquerda, diferenciando-se do partido nos outros Estados, nos
últimos anos isso mudou. Os setores mais à esquerda do partido sofreram
sucessivas derrotas internas que levou a inevitável perda de hegemonia
no partido para os setores mais alinhados com um ideário social
democrata em consonância com o perfil da direção nacional.
A consequência desse processo foi que a identidade do partido como
organização programática mais à esquerda, que levou o PT a manter-se por
mais de uma década a frente da prefeitura, foi paulatinamente
substituída pela lógica cada vez mais pragmática da “ampliação do arco
de alianças” com partidos liberais, que o governador Tarso Genro
denomina de “centro democrático”. O paradigma dessa opção é a “base
aliada” do governo federal onde cabem os partidos liberais que compõe
aliança vitoriosa de Fortunati (PMDB, PP, PTB) com exceção do DEM e
PSDB(este compôs o governo Fortunati até o ano passado). Mas isso
significa que o PT se transformou em um “partido liberal”?? Minha
resposta é não, eu diria que o PT hoje se consolida como o representante
da social-democracia no Brasil. O que significa claramente o
afastamento de uma perspectiva anti-capitalista.
Mas onde estaria a contribuição do PT para o o novo “consenso”
liberal? Vejo que está fundamentalmente no campo simbólico. Seja nas
políticas de Parceria Público Privada do governo Federal( aeroportos,
ferrovias etc..) seja no discurso de “concertação” , de “não-conflito”,
como se a sociedade capitalista não fosse, em essência uma sociedade de
antagonismos. A total aceitação das regras do jogo liberal por parte do
PT, é o que nos permite compreender a ausência de posição sobre
questões como a relação do Estado e dos partidos com o capital privado.
Não há, portanto, ao contrário do que alguns querem crer, uma
“falência da política”, o que temos é o predomínio de uma determinada
política, a clássica política liberal, que se transformou em
“consenso”. E por outro lado, uma derrota simbólica-cultural dos
princípios da esquerda como o valor do que é público, coletivo, e deve
ser socializado. Se até bem pouco tempo era possível falar de uma
Porto Alegre da “radicalização da democracia”, da “cultura” democrática e
participativa do Orçamento Participativo, o que vemos hoje é a
incorporação desta experiência à lógica do sistema, baseada no
clientelismo e na mercantilização da ação política. Uma lógica
“gerencial” no qual as diferenças ideológicas, que existem, são tratadas
como problema e os “consensos” são exaltados como virtude.
Outro elemento não menos significativo desse “consenso”, é o vínculo
direto da política com o mercado, onde as empresas privadas são a
principal fonte financiadora das campanhas eleitorais. Essa é a outra
face da mesma lógica liberal da política como “negócio”, como parte da
estratégia que deve assegurar o bom funcionamento do mercado. Uma olhada
rápida sobre quem foram os vereadores mais votados e quem os financiou é
sintomático dessa realidade.
Nessa perspectiva liberal, não há mais espaço para a defesa do
“público”, na medida em que a ampliação dos espaços públicos significam
a diminuição da acumulação privada de capital ela está fora da
“realidade”. Por isso é tão necessário para o “consenso liberal” a
ampliação das privatizações, mesmo que revestidas de “parcerias” e da
construção de discursos, na esfera ideológica e simbólica, de que o
privado é eficiente e o público é inviável. Está aí nesse constructo
ideológico a aceitação, como “consenso”, de que a saúde, o transporte, a
cultura, a educação, as praças, as escolas,a limpeza urbana, para que
funcionem bem, devem estar sob controle privado.
A privatização dos espaços públicos em Porto Alegre (Auditório Araújo Viana, Largo Glênio Peres, Feiras Modelo, Parque da redenção sentre outros), as mudanças no Plano Diretor da Cidade para atender os interesses das grandes corporações imobiliárias, políticas de “higienização do centro” são algumas das medidas que cumprem este objetivo de construir uma “visão de mundo” , um “consenso” sobre o lugar do público e do privado na sociedade.
A privatização dos espaços públicos em Porto Alegre (Auditório Araújo Viana, Largo Glênio Peres, Feiras Modelo, Parque da redenção sentre outros), as mudanças no Plano Diretor da Cidade para atender os interesses das grandes corporações imobiliárias, políticas de “higienização do centro” são algumas das medidas que cumprem este objetivo de construir uma “visão de mundo” , um “consenso” sobre o lugar do público e do privado na sociedade.
Quem combate o “consenso liberal”?
Quando as contradições inerentes ao sistema capitalista, como o
aprofundamento da desigualdade social, da violência do deficit
democrático do sistema representativo não encontram espaços para
expressarem-se nos partidos, ocorre um fenômeno que começa a ser comum
nas chamadas “democracias consolidadas” que é a auto-organização de
setores da sociedade descontentes com a “naturalização” do sistema e
aceitação geral do “consenso liberal” por quase todos os partidos.
A partir das redes sociais, percebem que a mediação dos partidos se
torna, não só inútil (na medida que prevalece o “consenso” sobre
determinadas questões ) mas ultrapassada (com a comunicação imediata das
redes sociais é possível discutir e debater qualquer tema sem a
intermediação de um “representante eleito” ou do dirigente partidário).
Dessa forma a crise dos partidos, principalmente da esquerda, é um
reflexo destes dois contextos: a) a falência de um modelo de organização
vertical e elitista, ultrapassado por novas formas de
fazer/participar/atuar nas questões de interesse coletivo e b) a
impossibilidade de realizar um debate e um enfrentamento anti-sistêmico
para além da lógica do capital.
Assim temos uma descrença e esvaziamento da militância jovem nos
partidos e a ampliação de iniciativas de auto-organização social que
utilizam as redes sociais para articular e organizar ações e protestos.
No último período podemos destacar a emergência do cicloativismo na cidade, com o movimento Massa Crítica, que luta por uma outra lógica de mobilidade urbana que supere o carrocentrismo,
símbolo maior da cultura capitalista e o movimento resistência
cultural que protesta contra a política reprssiva e privatista da
prefeitura para a área cultural. Uma das características marcantes da
maioria dos integrantes destas mobilizações é a desvinculação de
qualquer partido político. O que aparece como um problema para os
partidos é, na verdade, a consequência dessa crise da atual forma de
“fazer política”, considerada por muitos como insuficiente.
A mais emblemática das últimas manifestações deu-se no centro de
Porto Alegre a dois dias das eleições. Organizada via facebook, por
ativistas da cultura, reuniram mais de 400 manifestantes em frente a
prefeitura para protestar contra a privatização dos espaços públicos.
Forçavam um debate que esteve ausente das campanhas eleitorais.
O protesto terminou de forma violenta com a repressão da Polícia
Militar contra os manifestantes e a destruição do boneco gigante da
Coca-Cola colocado no Largo Glênio Peres, atualmente este espaço público
é gestionado pela empresa de refrigerantes.
Vale destacar ainda que a postura assumida por dois partidos
identificados como representantes da esquerda socialista( PSOL e PSTU)
não conseguem, ainda, ocupar o espaço de representantes desse ativismo
anti-sistêmico. O discurso moralista, “anti-corrupção” que caracterizou a
campanha do PSOL nessa eleição, está muito aquém de uma perspectiva de
novo projeto alternativo à altura dos desafios de enfrentamento à
hegemonia liberal que nos referimos. Quanto ao PSTU sua retórica
classista não consegue avançar para além de sua pequena base de
funcionários públicos.
Dado este cenário, marcado de um lado pelas escolhas ideológicas do
PT e de outro, por uma esquerda socialista ainda presa a dogmas e
ortodoxias do passado, ouso afirmar que a possibilidade de reconstruir
uma hegemonia política-cultural de esquerda na cidade de Porto Alegre
passa por uma nova geração de ativistas anti-sistema, que em suas mais
diversas formas de organização política (associações, grupos,
coletivos, etc.) enfrentarão, nas ruas, o “consenso” do capital.
Paulo Marques é doutor em Sociologia e professor universitário
domingo, 14 de outubro de 2012
NOTA OFICIAL DA ABGLT SOBRE AS DECLARAÇÕES DO GOVERNADOR CID GOMES
DO BLOG ABGLT
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) – é uma entidade de abrangência nacional que atualmente congrega 257 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.
Desde sua fundação em 1995, além de atuar na promoção e defesa dos direitos humanos, a ABGLT tem atuado em parceria com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, no enfrentamento da epidemia do HIV/aids e das DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis.
As DST representam um grave problema para a saúde pública no Brasil e no mundo inteiro e não devem ser objeto de comentários mal intencionados feitos por autoridade pública para se referir a rivais políticos, ou a qualquer ser humano.
O trocadilho feito pelo governador do Ceará, Cid Gomes, e veiculado na imprensa esta semana em relação à tendência Democracia Socialista (DS) do Partido dos Trabalhadores, substituindo a sigla DS por DST e atribuindo esta condição à prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins e ao candidato a sucessão, Elmano Freitos, por serem dessa tendência, não foi digno da maior autoridade pública do estado do Ceará e se constitui em um péssimo exemplo para a população. Tratar as DSTs como uma piada é desrespeitoso e fundamentalmente irresponsável. O estigma associado às DSTs já dificulta a contenção da epidemia, fazendo com que as pessoas não procurem diagnóstico e tratamento nos serviços de saúde. O infeliz comentário do governador serviu para referendar o estigma e agravar este quadro, além de insultar levianamente outro partido político e as pessoas que o integram.
Não queremos ser o ombudsman do politicamente correto. Não queremos menos do que o direito à igualdade. Queremos o respeito às pessoas, independente de quem sejam. As eleições devem se pautar pela cidadania, no campo das ideias e não abaixo da cintura.
14 de outubro de 2012
Toni Reis
Presidente
ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) – é uma entidade de abrangência nacional que atualmente congrega 257 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.
Desde sua fundação em 1995, além de atuar na promoção e defesa dos direitos humanos, a ABGLT tem atuado em parceria com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, no enfrentamento da epidemia do HIV/aids e das DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis.
As DST representam um grave problema para a saúde pública no Brasil e no mundo inteiro e não devem ser objeto de comentários mal intencionados feitos por autoridade pública para se referir a rivais políticos, ou a qualquer ser humano.
O trocadilho feito pelo governador do Ceará, Cid Gomes, e veiculado na imprensa esta semana em relação à tendência Democracia Socialista (DS) do Partido dos Trabalhadores, substituindo a sigla DS por DST e atribuindo esta condição à prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins e ao candidato a sucessão, Elmano Freitos, por serem dessa tendência, não foi digno da maior autoridade pública do estado do Ceará e se constitui em um péssimo exemplo para a população. Tratar as DSTs como uma piada é desrespeitoso e fundamentalmente irresponsável. O estigma associado às DSTs já dificulta a contenção da epidemia, fazendo com que as pessoas não procurem diagnóstico e tratamento nos serviços de saúde. O infeliz comentário do governador serviu para referendar o estigma e agravar este quadro, além de insultar levianamente outro partido político e as pessoas que o integram.
Não queremos ser o ombudsman do politicamente correto. Não queremos menos do que o direito à igualdade. Queremos o respeito às pessoas, independente de quem sejam. As eleições devem se pautar pela cidadania, no campo das ideias e não abaixo da cintura.
14 de outubro de 2012
Toni Reis
Presidente
ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
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critica social,
cultura,
Direitos Humanos,
discriminação
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
O golpe imaginário de Ayres Britto
Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar: via BLOG DO MIRO
Confesso que ainda estou chocado com o voto de Ayres Britto, ao condenar oito réus do mensalão, ontem.
O ministro disse:
“[O objetivo do esquema era] um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto”.
Denunciar golpes de Estado em curso é um dever de quem tem compromissos com a democracia.
Denunciar golpes de Estado imaginários é um recurso frequente quando se pretende promover uma ruptura institucional.
O caso mais recente envolveu Manoel Zelaya, o presidente de Honduras. Em 2009 ele foi arrancado da cama e, ainda de pijama, conduzido de avião para um país vizinho.
Acusava-se Zelaya de querer dar um golpe para mudar a Constituição e permanecer no poder. Uma denúncia tão fajuta que – graças ao Wikileaks – ficamos sabendo que até a embaixada dos EUA definiu a queda de Zelaya como golpe. Mais tarde, ao reavaliar o que mais convinha a seus interesses de potência, a Casa Branca mudou de lado e encontrou argumentos para justificar a nova postura, fazendo a clássica conta de chegar para arrumar fatos e os argumentos.
Em 31 de março de 64, tivemos um golpe de Estado de verdade, que jogou o país em 21 anos de ditadura.
O golpe foi preparado pela denúncia permanente de um golpe imaginário, que seria preparado por João Goulart para transformar o país numa “república sindicalista.” Basta reconstituir os passos da conspiração civil-militar para reconhecer: o toque de prontidão do golpismo consistia em denunciar projetos anti democráticos de Jango.
Considerando antecedentes conhecidos, o voto de Ayres Britto é preocupante porque fora da realidade.
Vamos afirmar: não há e nunca houve um projeto de golpe no governo Lula. Nem de revolução. Nem de continuísmo chavista. Nem de alteração institucional que pudesse ampliar seus poderes de alguma maneira.
Lula poderia ter ido as ruas pedir o terceiro mandato. Não foi e não deixou que fossem. Voltou para São Bernardo mas, com uma história maior do que qualquer outro político brasileiro, não o deixam em paz. Essa é a verdade. Temos um ex grande demais para o papel. Isso porque o PT quer extrair dele o que puder de prestígio e popularidade. A oposição quer o contrário. Sabe que sua herança é um obstáculo imenso aos planos de retorno ao poder.
Ouvido pelo site Consultor Jurídico, o professor Celso Bandeira de Mello, um dos principais advogados brasileiros, deu uma entrevista sobre o mensalão, ainda no começo do processo:
ConJur: Como o senhor vê o processo do mensalão?
Celso Antônio Bandeira de Mello: Para ser bem sincero, eu nem sei se o mensalão existe. Porque houve evidentemente um conluio da imprensa para tentar derrubar o presidente Lula na época. Portanto, é possível que o mensalão seja em parte uma criação da imprensa. Eu não estou dizendo que é, mas não posso excluir que não seja.
Bandeira de Mello é amigo e conselheiro de Lula. Foi ele quem indicou Ayres Britto para o Supremo. A nomeação de Brito – e de Joaquim Barbosa, de Cesar Pelluzzo – ocorreu na mesma época em que Marcos Valério e Delúbio Soares andavam pelo Brasil para, segundo o presidente do Supremo, arrumar dinheiro para o “continuísmo seco, raso.”
Os partidos políticos podem ter, legitimamente, projetos duradouros de poder. É inevitável, porque poucas ideias boas podem ser feitas em quatro anos.
Os tucanos de Sérgio Motta queriam ficar 25 anos. Ficaram oito. Lula e Dilma, somados, já garantiram uma permanência de 12.
Tanto num caso, como em outro, tivemos eleições livres, sob o mais amplo regime de liberdades de nossa história.
Para quem gosta de exemplos de fora, convém lembrar que até há pouco o padrão, na França, eram governos de 14 anos – em dois mandatos de sete. Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt foi eleito para quatro mandatos consecutivos, iniciando um período em que os democratas passaram 20 anos seguidos na Casa Branca. Os democratas de Bill Clinton poderiam ter ficado 12 anos. Mas a Suprema Corte, com maioria republicana, aproveitou uma denúncia de fraude na Flórida para dar posse a George W. Bush, decisão ruinosa que daria origem a uma tragédia de impacto internacional, como todos sabemos.
O ministro me desculpe mas eu acho que, para falar do mensalão como parte de projeto de “continuísmo seco, raso,” é preciso considerar o Brasil uma grande aldeia de Gabriel Garcia Márquez. Em vez da quinta ou sexta economia do mundo, jornais, emissoras de TV, bancos poderosos, um empresariado dinâmico, trabalhadores organizados e 100 milhões de eleitores, teríamos de coronéis bigodudos com panças imensas, latifúndios a perder de vista, cidadãos dependentes, morenas lindas e apaixonadas, capangas de cartucheira.
No mundo de Garcia Marquez, não há democracia, nem conflito de ideias. Não há desenvolvimento, apenas estagnação, tédio e miséria. Naquelas aldeias do interior remoto da Colômbia, homens e mulheres famintos vivem às voltas de um poder único e autoritário. Esmolam favores, promoções, presentes, pois ninguém tem força, autonomia e muito menos coragem para resolver a própria vida. Desde a infância, todos os cidadãos são ensinados a cortejar o poder, bajular. É seu modo de vida. Como recompensa, recebem esmolas.
No mensalão de Macondo, seria assim.
Será esta uma visão adequada do Brasil?
Em 1954, no processo que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, também se falou em golpe.
Com apoio de uma imprensa radicalizada, em campanhas moralistas e denuncias – muitas vezes sem prova – contra o governo, dizia-se que Vargas pretendia permanecer no posto, num golpe continuísta, com apoio do ”movimento de massas.”
Era por isso, dizia-se, que queria aumentar o salario mínimo em 100%. Embora o mínimo tivesse sido congelado desde 1946, por pressão conservadora sobre o governo Eurico Dutra, a proposta de reajuste era exibida como parte de um plano continuísta para agradar aos pobres – numa versão que parece ter lançado os fundamentos para as campanhas sistemáticas contra o Bolsa-Família, 50 anos depois.
Embora falasse em mercado interno, desenvolvimento industrial e até tivesse criado a Petrobrás, é claro que Vargas queria apenas, em aliança com o argentino Juan Domingo Perón (o Hugo Chávez da época?), estabelecer uma comunhão sindicalista na América do Sul e transformar todo mundo em escravo do peleguismo, não é assim? E agora você, leitor, vai ficar surpreso. Um dos grandes conspiradores contra Getúlio Vargas, especialista em denunciar golpes imaginários, foi parar no Supremo. Chegou a presidente, teve direito a um livro luxuoso com uma antologia de suas sentenças.
Estou falando de Aliomar Baleeiro, jurista que entrou no tribunal em 1965, indicado por Castelo Branco, o primeiro presidente do ciclo militar, e aposentou-se em 1975, o ano em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto sob tortura pelo porão da ditadura.
Baleeiro deixou bons momentos em sua passagem pelo Supremo. Defendeu várias vezes o retorno ao Estado de Direito.
Chegou a dar um voto a favor de frades dominicanos que faziam parte do círculo de Carlos Marighella, principal líder da luta armada no Brasil.
A ditadura queria condenar os frades. Baleeiro votou a favor deles.
Tudo isso é muito digno mas não vamos perder a o fio da história que nos ajuda a ter noção das coisas e aprender com elas.
Em várias oportunidades, o ministro que faria a defesa do Estado de Direito contribuiu para derrotá-lo.
O ministro chegou ao STF com uma longa folha de serviços anti democráticos.
Em 1954, ele era deputado da UDN, aquele partido que reunia a fina flor de um conservadorismo bom de patrimônio e ruim de votos.
Um dos oradores mais empenhados no combate a Getúlio Vargas , Baleeiro foi a tribuna da Câmara para pedir um “golpe preventivo”. ( Pode-se conferir em “Era Vargas — Desenvolvimentismo, Economia e Sociedade,” página 411, UNESP editora.)
Os adversários de Vargas tentaram a via legal, o impeachment. Tiveram uma derrota clamorosa, como diziam os locutores esportivos de vinte anos atrás: 136 a 35.
Armou-se, então, uma conspiração militar. Alimentada pelo atentado contra Carlos Lacerda, que envolvia pessoas do círculo de Vargas, abriu-se uma pressão que acabaria emparedando o presidente, levado ao suicídio.
Baleeiro permaneceu na UDN e conspirou contra a campanha de JK, contra a posse de JK e contra o governo JK. Sempre com apoio nos jornais, foi um campeão de denúncias. Era aquilo que, mais uma vez com ajuda da mídia, muitos brasileiros pensavam que era o Demóstenes Torres – antes que a verdade do amigo Cachoeira viesse a tona.
Baleeiro estava lá, firme, no golpe que derrubou Jango para combater a subversão e a …corrupção.
Foi logo aproveitado pelo amigo Castelo Branco para integrar o STF. Já havia denuncia de tortura e de assassinatos naqueles anos. Mortos que não foram registrados, feridos que ficaram sem nome. Não foram apurados, apesar do caráter supremo das togas negras.
Entre 1971 e 1973, Baleeiro ocupava a presidência do STF. Nestes dois anos, o porão do regime militar matou 70 pessoas.
Nenhum caso foi investigado nem punido, como se sabe. Nem na época, quando as circunstâncias eram mais difíceis. Nem quarenta anos depois, quando pareciam mais fáceis.
Em 1973, José Dirceu, que pertenceu a mesma organização que Marighella, vivia clandestinamente no Brasil. Morou em Cuba mas retornou para seguir na luta contra o regime militar. Infiltrado no grupo, o inimigo atirou primeiro e todos morreram. Menos Dirceu. Os ossos de muitos levaram anos para serem identificados. Nunca soubemos quem deu a ordem.
Não se apontou, como no mensalão, para quem tinha o domínio do fato para a tortura, as execuções.
Um dos principais líderes do Congresso da UNE, entidade que o regime considerava ilegal, Dirceu foi preso em 1968 e saiu da prisão no ano seguinte. Não foi obra da Justiça, infelizmente, embora estivesse detido pela tentativa de reorganizar uma entidade que desde os anos 30 era reconhecida pelos universitários como sua voz política.
(Figurões da ditadura, como o pernambucano Marco Maciel, que depois seria vice presidente de FHC, Paulo Egydio Martins, governador de São Paulo no tempo de Geisel, tinham sido dirigentes da UNE, antes de Dirceu).
A Justiça era tão fraca , naquele período, que Dirceu só foi solto como resultado do sequestro do embaixador Charles Elbrick, trocado por um grupo de presos políticos. Mas imagine.
Foi preciso que um bando de militantes armados, em sua maioria garotos enlouquecidos com Che Guevara, cometesse uma ação desse tipo para que pessoas presas arbitrariamente, sem julgamento, pudessem recuperar a liberdade. Que país era aquele, não? Que Justiça, hein?
Preso no Congresso da UNE, também, Genoíno foi solto e ingressou na guerrilha do Araguaia.
Apanhado e torturado em 1972, Genoíno conseguiu esconder a verdadeira identidade durante dois meses. Estava em Brasília quando a polícia descobriu quem ele era. Foi levado de volta a região da guerrilha e torturado em praça pública, como exemplo.
Ontem a noite, José Dirceu e José Genoíno foram condenados por 8 votos a 2 e 9 votos a 1.
Foi no final da sessão que Ayres Britto falou em “projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto”.
O ministro disse:
“[O objetivo do esquema era] um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto”.
Denunciar golpes de Estado em curso é um dever de quem tem compromissos com a democracia.
Denunciar golpes de Estado imaginários é um recurso frequente quando se pretende promover uma ruptura institucional.
O caso mais recente envolveu Manoel Zelaya, o presidente de Honduras. Em 2009 ele foi arrancado da cama e, ainda de pijama, conduzido de avião para um país vizinho.
Acusava-se Zelaya de querer dar um golpe para mudar a Constituição e permanecer no poder. Uma denúncia tão fajuta que – graças ao Wikileaks – ficamos sabendo que até a embaixada dos EUA definiu a queda de Zelaya como golpe. Mais tarde, ao reavaliar o que mais convinha a seus interesses de potência, a Casa Branca mudou de lado e encontrou argumentos para justificar a nova postura, fazendo a clássica conta de chegar para arrumar fatos e os argumentos.
Em 31 de março de 64, tivemos um golpe de Estado de verdade, que jogou o país em 21 anos de ditadura.
O golpe foi preparado pela denúncia permanente de um golpe imaginário, que seria preparado por João Goulart para transformar o país numa “república sindicalista.” Basta reconstituir os passos da conspiração civil-militar para reconhecer: o toque de prontidão do golpismo consistia em denunciar projetos anti democráticos de Jango.
Considerando antecedentes conhecidos, o voto de Ayres Britto é preocupante porque fora da realidade.
Vamos afirmar: não há e nunca houve um projeto de golpe no governo Lula. Nem de revolução. Nem de continuísmo chavista. Nem de alteração institucional que pudesse ampliar seus poderes de alguma maneira.
Lula poderia ter ido as ruas pedir o terceiro mandato. Não foi e não deixou que fossem. Voltou para São Bernardo mas, com uma história maior do que qualquer outro político brasileiro, não o deixam em paz. Essa é a verdade. Temos um ex grande demais para o papel. Isso porque o PT quer extrair dele o que puder de prestígio e popularidade. A oposição quer o contrário. Sabe que sua herança é um obstáculo imenso aos planos de retorno ao poder.
Ouvido pelo site Consultor Jurídico, o professor Celso Bandeira de Mello, um dos principais advogados brasileiros, deu uma entrevista sobre o mensalão, ainda no começo do processo:
ConJur: Como o senhor vê o processo do mensalão?
Celso Antônio Bandeira de Mello: Para ser bem sincero, eu nem sei se o mensalão existe. Porque houve evidentemente um conluio da imprensa para tentar derrubar o presidente Lula na época. Portanto, é possível que o mensalão seja em parte uma criação da imprensa. Eu não estou dizendo que é, mas não posso excluir que não seja.
Bandeira de Mello é amigo e conselheiro de Lula. Foi ele quem indicou Ayres Britto para o Supremo. A nomeação de Brito – e de Joaquim Barbosa, de Cesar Pelluzzo – ocorreu na mesma época em que Marcos Valério e Delúbio Soares andavam pelo Brasil para, segundo o presidente do Supremo, arrumar dinheiro para o “continuísmo seco, raso.”
Os partidos políticos podem ter, legitimamente, projetos duradouros de poder. É inevitável, porque poucas ideias boas podem ser feitas em quatro anos.
Os tucanos de Sérgio Motta queriam ficar 25 anos. Ficaram oito. Lula e Dilma, somados, já garantiram uma permanência de 12.
Tanto num caso, como em outro, tivemos eleições livres, sob o mais amplo regime de liberdades de nossa história.
Para quem gosta de exemplos de fora, convém lembrar que até há pouco o padrão, na França, eram governos de 14 anos – em dois mandatos de sete. Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt foi eleito para quatro mandatos consecutivos, iniciando um período em que os democratas passaram 20 anos seguidos na Casa Branca. Os democratas de Bill Clinton poderiam ter ficado 12 anos. Mas a Suprema Corte, com maioria republicana, aproveitou uma denúncia de fraude na Flórida para dar posse a George W. Bush, decisão ruinosa que daria origem a uma tragédia de impacto internacional, como todos sabemos.
O ministro me desculpe mas eu acho que, para falar do mensalão como parte de projeto de “continuísmo seco, raso,” é preciso considerar o Brasil uma grande aldeia de Gabriel Garcia Márquez. Em vez da quinta ou sexta economia do mundo, jornais, emissoras de TV, bancos poderosos, um empresariado dinâmico, trabalhadores organizados e 100 milhões de eleitores, teríamos de coronéis bigodudos com panças imensas, latifúndios a perder de vista, cidadãos dependentes, morenas lindas e apaixonadas, capangas de cartucheira.
No mundo de Garcia Marquez, não há democracia, nem conflito de ideias. Não há desenvolvimento, apenas estagnação, tédio e miséria. Naquelas aldeias do interior remoto da Colômbia, homens e mulheres famintos vivem às voltas de um poder único e autoritário. Esmolam favores, promoções, presentes, pois ninguém tem força, autonomia e muito menos coragem para resolver a própria vida. Desde a infância, todos os cidadãos são ensinados a cortejar o poder, bajular. É seu modo de vida. Como recompensa, recebem esmolas.
No mensalão de Macondo, seria assim.
Será esta uma visão adequada do Brasil?
Em 1954, no processo que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, também se falou em golpe.
Com apoio de uma imprensa radicalizada, em campanhas moralistas e denuncias – muitas vezes sem prova – contra o governo, dizia-se que Vargas pretendia permanecer no posto, num golpe continuísta, com apoio do ”movimento de massas.”
Era por isso, dizia-se, que queria aumentar o salario mínimo em 100%. Embora o mínimo tivesse sido congelado desde 1946, por pressão conservadora sobre o governo Eurico Dutra, a proposta de reajuste era exibida como parte de um plano continuísta para agradar aos pobres – numa versão que parece ter lançado os fundamentos para as campanhas sistemáticas contra o Bolsa-Família, 50 anos depois.
Embora falasse em mercado interno, desenvolvimento industrial e até tivesse criado a Petrobrás, é claro que Vargas queria apenas, em aliança com o argentino Juan Domingo Perón (o Hugo Chávez da época?), estabelecer uma comunhão sindicalista na América do Sul e transformar todo mundo em escravo do peleguismo, não é assim? E agora você, leitor, vai ficar surpreso. Um dos grandes conspiradores contra Getúlio Vargas, especialista em denunciar golpes imaginários, foi parar no Supremo. Chegou a presidente, teve direito a um livro luxuoso com uma antologia de suas sentenças.
Estou falando de Aliomar Baleeiro, jurista que entrou no tribunal em 1965, indicado por Castelo Branco, o primeiro presidente do ciclo militar, e aposentou-se em 1975, o ano em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto sob tortura pelo porão da ditadura.
Baleeiro deixou bons momentos em sua passagem pelo Supremo. Defendeu várias vezes o retorno ao Estado de Direito.
Chegou a dar um voto a favor de frades dominicanos que faziam parte do círculo de Carlos Marighella, principal líder da luta armada no Brasil.
A ditadura queria condenar os frades. Baleeiro votou a favor deles.
Tudo isso é muito digno mas não vamos perder a o fio da história que nos ajuda a ter noção das coisas e aprender com elas.
Em várias oportunidades, o ministro que faria a defesa do Estado de Direito contribuiu para derrotá-lo.
O ministro chegou ao STF com uma longa folha de serviços anti democráticos.
Em 1954, ele era deputado da UDN, aquele partido que reunia a fina flor de um conservadorismo bom de patrimônio e ruim de votos.
Um dos oradores mais empenhados no combate a Getúlio Vargas , Baleeiro foi a tribuna da Câmara para pedir um “golpe preventivo”. ( Pode-se conferir em “Era Vargas — Desenvolvimentismo, Economia e Sociedade,” página 411, UNESP editora.)
Os adversários de Vargas tentaram a via legal, o impeachment. Tiveram uma derrota clamorosa, como diziam os locutores esportivos de vinte anos atrás: 136 a 35.
Armou-se, então, uma conspiração militar. Alimentada pelo atentado contra Carlos Lacerda, que envolvia pessoas do círculo de Vargas, abriu-se uma pressão que acabaria emparedando o presidente, levado ao suicídio.
Baleeiro permaneceu na UDN e conspirou contra a campanha de JK, contra a posse de JK e contra o governo JK. Sempre com apoio nos jornais, foi um campeão de denúncias. Era aquilo que, mais uma vez com ajuda da mídia, muitos brasileiros pensavam que era o Demóstenes Torres – antes que a verdade do amigo Cachoeira viesse a tona.
Baleeiro estava lá, firme, no golpe que derrubou Jango para combater a subversão e a …corrupção.
Foi logo aproveitado pelo amigo Castelo Branco para integrar o STF. Já havia denuncia de tortura e de assassinatos naqueles anos. Mortos que não foram registrados, feridos que ficaram sem nome. Não foram apurados, apesar do caráter supremo das togas negras.
Entre 1971 e 1973, Baleeiro ocupava a presidência do STF. Nestes dois anos, o porão do regime militar matou 70 pessoas.
Nenhum caso foi investigado nem punido, como se sabe. Nem na época, quando as circunstâncias eram mais difíceis. Nem quarenta anos depois, quando pareciam mais fáceis.
Em 1973, José Dirceu, que pertenceu a mesma organização que Marighella, vivia clandestinamente no Brasil. Morou em Cuba mas retornou para seguir na luta contra o regime militar. Infiltrado no grupo, o inimigo atirou primeiro e todos morreram. Menos Dirceu. Os ossos de muitos levaram anos para serem identificados. Nunca soubemos quem deu a ordem.
Não se apontou, como no mensalão, para quem tinha o domínio do fato para a tortura, as execuções.
Um dos principais líderes do Congresso da UNE, entidade que o regime considerava ilegal, Dirceu foi preso em 1968 e saiu da prisão no ano seguinte. Não foi obra da Justiça, infelizmente, embora estivesse detido pela tentativa de reorganizar uma entidade que desde os anos 30 era reconhecida pelos universitários como sua voz política.
(Figurões da ditadura, como o pernambucano Marco Maciel, que depois seria vice presidente de FHC, Paulo Egydio Martins, governador de São Paulo no tempo de Geisel, tinham sido dirigentes da UNE, antes de Dirceu).
A Justiça era tão fraca , naquele período, que Dirceu só foi solto como resultado do sequestro do embaixador Charles Elbrick, trocado por um grupo de presos políticos. Mas imagine.
Foi preciso que um bando de militantes armados, em sua maioria garotos enlouquecidos com Che Guevara, cometesse uma ação desse tipo para que pessoas presas arbitrariamente, sem julgamento, pudessem recuperar a liberdade. Que país era aquele, não? Que Justiça, hein?
Preso no Congresso da UNE, também, Genoíno foi solto e ingressou na guerrilha do Araguaia.
Apanhado e torturado em 1972, Genoíno conseguiu esconder a verdadeira identidade durante dois meses. Estava em Brasília quando a polícia descobriu quem ele era. Foi levado de volta a região da guerrilha e torturado em praça pública, como exemplo.
Ontem a noite, José Dirceu e José Genoíno foram condenados por 8 votos a 2 e 9 votos a 1.
Foi no final da sessão que Ayres Britto falou em “projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto”.
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quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Prefeitura quer anular dispositivo do Plano Diretor Cicloviário de Porto Alegre
Samir Oliveira no SUL21
A prefeitura de Porto Alegre quer anular na Justiça um dispositivo do
Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI) da cidade, aprovado em 2009
pela Câmara Municipal. Trata-se do segundo inciso do artigo 32 da lei
complementar 626/09, que determina que 20% do valor total de multas
arrecadadas pela EPTC deve ser investido na construção de ciclovias e em
campanhas que promovam a educação no trânsito – focadas na convivência
entre ciclistas e motoristas.
Histórico do caso
O PDCI foi uma iniciativa do próprio Poder Executivo, mas a emenda
que determinou o investimento de 20% do que é arrecadado das multas em
ciclovias foi de autoria do vereador Beto Moesch (PP). Apesar de não
constar no projeto original enviado à Câmara, essa emenda foi sancionada
pelo então prefeito José Fogaça (PMDB) em 2009.
Mas, desde então, a lei nunca foi cumprida, já que a EPTC sequer tem
aplicado 10% do que arrecada com multas na construção de ciclovias. Por
conta disso, no dia 6 de janeiro deste ano o Laboratório de Políticas
Públicas e Sociais (Lappus) ingressou com uma representação no
Ministério Público para cobrar o cumprimento da lei.
O caso está com a Promotoria de Justiça de Habitação e Defesa da
Ordem Urbanística, sob os cuidados do promotor Luciano Brasil. No início
do ano, ele requisitou à EPTC as informações referentes aos
investimentos da verba arrecadada com as multas.
Pelos dados fornecidos, pode-se constatar que o Plano Diretor
Cicloviário não vinha sendo cumprido. Desde julho de 2009, quando a lei
entrou em vigor, até o final deste mesmo ano, a EPTC arrecadou R$ 3,6
milhões em multas e aplicou somente R$ 206,5 mil no que determina a lei,
o que representa 5,71% do total.
Em todo o ano de 2010, dos R$ 24,3 milhões arrecadados, R$ 2,1
milhões foram investidos em ciclovias ou campanhas educativas. O valor
representa 8,71% do total, quando a lei diz que deveriam ser aplicados
20%.
Em 2011, dos R$ 26,3 milhões arrecadados com multas de trânsito,
somente R$ 2,3 milhões foram aplicados conforme determina a o Plano
Diretor Cicloviário – 8,98% do valor total.
Com esses dados em mãos, o promotor Luciano Brasil sugeriu que a EPTC
criasse um fundo fixo para onde iriam os recursos das multas, o que
facilitaria a aplicação de 20% desse montante para a construção de
ciclovias. Como a empresa ignorou a sugestão, o promotor ingressou com
uma ação civil-pública para obrigar o município a cumprir esse
dispositivo do Plano Diretor Cicloviário.
Tramitação do processo
O Ministério Público pediu, em caráter liminar, que a Justiça
obrigasse a prefeitura a aplicar 20% do valor arrecadado em multas na
construção de ciclovias, mas obteve derrota em primeira instância. Com
isso, o promotor recorreu ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
(TJ-RS).
Quando o processo chegou no TJ, a EPTC resolveu, então, alegar que
esse dispositivo do Plano Diretor Cicloviário é inconstitucional. De
acordo com a empresa, essa determinação não pode ser cumprida, pois
seria necessário ter previsão orçamentária para fazer esses
investimentos – algo que somente o prefeito pode determinar.
A alegação pegou o promotor e os cicloativistas de surpresa, já que
não esperavam que a prefeitura fosse querer anular um dispositivo de uma
lei que ela mesma sancionou. “Até então não houve nenhum tipo de
reclamação da prefeitura em relação a essa lei”, estranha o promotor
Luciano Brasil.
Ele entende que o dispositivo em discussão não é inconstitucional. “A
verba proveniente da arrecadação de multas da EPTC não possui caráter
orçamentário, pois não há previsão no orçamento para isso. É uma receita
derivada do poder de sanção da empresa, não tem como estimar quanto
será arrecadado”, argumenta o promotor.
Diretor do Lappus, integrante da Massa Crítica e vereador eleito de
Porto Alegre, Marcelo Sgarbossa (PT) avalia que há um retrocesso na
agenda cicloviária da cidade. “A prefeitura nunca cumpriu a lei e agora
encontrou uma justificativa juridicamente questionável para não
aplicá-la. Como é que a arrecadação de multas pode ser considerada uma
verba prevista em orçamento?”, questiona.
Para ele, a administração municipal se favoreceu politicamente com a
aprovação da lei – ganhando, à época, a simpatia dos ciclistas. “A
prefeitura utilizou essa lei como forma de capital político para mostrar
que tinha compromisso com a mobilidade urbana por meio de bicicletas.
Agora, promovem um retrocesso bárbaro”, critica.
A ação que poderá declarar a inconstitucionalidade da medida está com
o desembargador Armínio José da Rosa, que é o relator do processo, e
será julgada pelo pleno do Tribunal de Justiça.
Em janeiro, prefeitura prometia cumprir a lei e não falava em inconstitucionalidade
O Sul21 acompanhou o início da ação do Ministério
Público junto à prefeitura para que fosse cumprido o Plano Diretor
Cicloviário. Em uma matéria publicada no dia 6 de janeiro deste ano,
dois integrantes do primeiro escalão da prefeitura garantiram que a lei
seria cumprida e não manifestaram inconformidades com a medida.
O secretário de Governança, Cezar Busatto (PMDB), disse que a lei
seria aplicada em 2012. “Após diversas reuniões entre os órgãos
envolvidos e o fechamento do relatório de arrecadação de valores de
multas de 2011, nós já avisamos aos ciclistas que a partir deste ano ela
será cumprida”, assegurou o peemedebista na época, em entrevista ao Sul21.
Na mesma matéria, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari,
reconheceu que os valores não aplicados desde 2009 não seriam
recuperados, mas assumiu o compromisso de passar a cumprir a
determinação do Plano Diretor Cicloviário em 2012. “Infelizmente, não
temos como recuperar a verba da arrecadação de multas de 2009 e 2010,
pois já fizemos investimentos em outras áreas. Agora temos que olhar pra
frente e utilizar o valor arrecadado em 2011 em campanhas educativas e
de incentivo a utilização da bicicleta como meio de transporte”, disse.
A opção de declarar parte da lei inconstitucional revoltou os
ciclistas porto-alegrenses que acompanhavam as discussões do tema com a
prefeitura. Ciclista há 20 anos, a professora de Antropologia Maria de
Nazareth Agra Hassen diz que os ciclistas estão revoltados com a decisão
da administração municipal.
“É óbvio que há uma intenção de se livrar da obrigação de aplicar 20%
do que é arrecadado em multas na construção de ciclovias. É uma
situação constrangedora para a prefeitura, já que nas reuniões o Busatto
e o Cappellari afirmavam uma coisa e depois, sem conversar com as
pessoas, entraram com essa ação”, critica.
Ela assegura que “os ciclistas se sentem muito enganados“. “A
prefeitura cria uma aparente ideia de democracia e de discussão com os
interessados, mas essa participação é falsa, porque, encerrada a reunião
e apaziguados os ânimos, a prefeitura faz o que bem entende, à revelia
do compromisso estabelecido com as partes”, condena.
Procurado pela reportagem, o secretário Cezar Busatto disse que não
está acompanhando esse assunto e que, como é algo que diz respeito à
área jurídica do governo, não teria condições de comentar.
Também procurada pela reportagem, a EPTC não quis se manifestar sobre
o caso, alegando que o processo ainda corre na Justiça. A assessoria de
comunicação da empresa enviou um e-mail com informações sobre a
construção de ciclovias na cidade.
Confira a íntegra da nota enviada pela EPTC
PLANO DIRETOR CICLOVIÁRIO PREVE 495KM DE CICLOVIAS EM POA
• Ciclovia da Restinga – 4,6km de extensão. Ciclovia da Restinga =
são 3 km na Avenida João Antônio da Silveira, entre as avenidas Edgar
Pires de Castro e Ignês Fagundes. Outros 500 metros conduzirão até as
proximidades do Parque Industrial, e 1,1km na Nilo Wulff, entre a
Avenida João Antônio da Silveira e o terminal de ônibus.
• Ciclovia da Diário de Notícias – Ao longo da av. Diário de Notícias, entre Wenceslau Escobar e Chuí. 2,1km de extensão.
• Ciclovia de Ipanema – Inicia na Cel. Marcos com Dea Cofal, segue
pela Dea Cofal e avenida Guaíba, encerrando na Osvaldo Cruz. 1,25 km de
extensão.
• Ciclofaixa da Icaraí – 1,7km, entre as avenidas Chuí e Wenceslau
Escobar, no sentido bairro-Centro, localizada ao lado direito da pista,
junto ao meio-fio e segregada por tachões.
Próximas Ciclovias
Ipiranga – previsão de 9,4km, entre a Edvaldo e a Antônio de Carvalho
(contrapartida Zaffari e Praia de Belas). Primeiro trecho concluído
(cerca de 414m), entre a Érico Verissimo e Azenha), restante em fase de
construção.
Aeroporto-Sertório (integrada na Dona Alzira) – previsão de 12km
(investimento público) ciclovia circundando a área do Aeroporto pela
avenida dos Estados, Severo Dullius, Dona Alzira e Sertório (iniciando
na estação de metrô Farrapos, segue pela Sertório, Assis Brasil e
encerra na Franciso Silveira Bittencourt).
Com a conclusão da duplicação da Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio),
obra preparatória para a Copa do Mundo que inclui uma ciclovia de 6,35km
de extensão, haverá integração dos espaços exclusivos para os ciclistas
das avenidas Ipiranga, Edvaldo Pereira Paiva, Padre Cacique (1
quilômetro a ser implantado) e Diário de Notícias (2,1 quilômetros já
existentes), resultando em 17,4 quilômetros de ciclovias integradas.
Voluntários da Pátria – obra de duplicação da via, contará com ciclovia de 3,5km, entre a rua da Conceição e Av. Sertório.
Loureiro da Silva – 1,2 km de extensão, interligando a José do Patrocínio e Vasco Alves.
José do Patrocinio – 880 metros de extensão, ligando as avenidas Loureiro da Silva e Venâncio Aires.
José do Patrocinio – 880 metros de extensão, ligando as avenidas Loureiro da Silva e Venâncio Aires.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
McDonald´s: quando o primeiro emprego se torna armadilha para jovens
Rede de restaurantes usa da pouca maturidade e fragilidade da juventude para usurpar direitos trabalhistas básicos
Michelle Amaral,
da Reportagem do BRASIL DE FATO
Atraídos, jovens são presas fáceis para as irregularidades trabalhistas
da rede de lanchonetes - Foto: Michelle Amaral
|
Atraídos pela chance do primeiro emprego, milhares de jovens brasileiros procuram a rede de restaurantes fast food McDonald´s para trabalhar. Eles buscam a oportunidade de iniciar a vida profissional e conquistar independência financeira. No entanto, pela pouca maturidade e falta de experiência, esses jovens se veem submetidos a condições irregulares de trabalho e têm usurpados seus direitos básicos.
“O
McDonald´s tem essa imagem do primeiro emprego, [na contratação] eles
passam uma coisa totalmente diferente do que é”, afirma Tatiana, que
ingressou na rede de fast food com 16 anos e lá viveu uma das piores
experiências de sua vida, que lhe traz consequências até hoje.
Aos
18 anos, Tatiana escorregou no refrigerante que havia escorrido de uma
lixeira quebrada, caiu e sofreu uma séria lesão no joelho. Com fortes
dores, a jovem foi levada para o gerente da loja. “Ele falou: ‘passa um
Gelol e põe uma faixinha que sara’”, relata. Era final de ano, o
restaurante estava lotado e Tatiana foi orientada a continuar
trabalhando até o final do expediente. Após dois dias, sem conseguir
andar, Tatiana procurou o médico, que diagnosticou o rompimento da
rótula de seu joelho direito e indicou a necessidade de uma cirurgia.
Segundo ela, ao procurar o McDonald´s para informar as consequências da
queda, nada foi feito pela empresa que, inclusive, se negou a emitir um
Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT). “Eu fui ao INSS e perguntei
como podia fazer esse CAT. Me deram o papel e mandaram eu ir até o
McDonald´s”, conta a jovem, que afirma ter sido orientada pelo gerente a
não informar a data correta do acidente para que não resultasse em
multa para a loja. Ela ainda denuncia que a gerência sabia do defeito na
lixeira, mas não a consertou para evitar gastos, resultando em seu
acidente.
De lá para
cá, a trabalhadora viveu sob intenso tratamento médico e teve que
procurar reabilitação profissional por meios próprios, já que não podia
exercer as mesmas funções e o McDonald´s se recusou a adaptá-la em outra
área da empresa. Ela se formou em Direito e realizou estágio em um
escritório de advocacia. Com isso, após 11 anos do acidente, Tatiana
conseguiu a carta que a declara ser pessoa portadora de deficiência
física e dá o reconhecimento de sua reabilitação pelo Instituto Nacional
de Seguridade Social (INSS).
Tatiana passou por três cirurgias e anda com o
auxílio de uma muleta - Foto: Michelle Amaral
|
Hoje,
aos 34 anos, Tatiana anda com o auxílio de uma muleta. Já passou por
três cirurgias e necessita, ainda, realizar mais uma. No entanto, em
março deste ano, ao tentar passar por uma consulta médica para agendar o
procedimento, a trabalhadora foi informada do cancelamento de seu plano
de saúde. O motivo foi a conclusão em janeiro da rescisão indireta do
McDonald´s, solicitada pela trabalhadora em 2009. “O McDonald´s deveria
ter comunicado ela [sobre o cancelamento da assistência médica], porque a
lei diz isso, mas não comunicou, simplesmente cancelou”, protesta
Patrícia Fratelli, advogada da trabalhadora. De acordo com a Lei nº
9.656 de 1998, regulamentada pela Resolução Normativa nº 279 da Agência
Nacional de Saúde (ANS), no caso de rescisão do vínculo empregatício é
assegurado ao trabalhador “o direito de manter sua condição de
beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que
gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o
seu pagamento integral”. “Eu tinha condição de pagar o meu convênio, o
McDonald´s tinha que ter me dado essa opção, porque agora perdi a
carência e nenhum convênio vai me aceitar”, desabafa Tatiana, que há
quase 16 anos enfrenta uma batalha judicial contra o McDonald´s para ter
seu dano reparado.
Armadilha
O
caso de Tatiana não é isolado. Tramitam na Justiça do Trabalho na
cidade de São Paulo e região metropolitana 1.790 ações contra o
McDonald´s e a Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., franqueadora
master da multinacional no Brasil e na América Latina. Somente na
capital paulista são 1.133 demandas judiciais ativas por conta das
irregularidades trabalhistas e o tratamento inadequado dado pela empresa
aos seus funcionários, conforme levantamento feito junto ao Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região. Entre as falhas cometidas pelo
McDonald´s estão o pagamento de remunerações abaixo do salário mínimo,
utilização de jornada de trabalho ilegal, falta de comunicação dos
acidentes de trabalho, fornecimento de alimentação inadequada, não
concessão de intervalo intrajornada, ausência de condições mínimas de
conforto para os trabalhadores, prolongamento da jornada de trabalho
além do permitido por lei, assédio moral e sexual. Além disso, existem
denúncias de jovens que trabalharam sem serem remunerados (leia matéria
na página ao lado).
No
Brasil, o McDonald´s emprega hoje 48 mil funcionários, de acordo com
informações publicadas em seu site. Destes, 67% têm menos de 21 anos e
89% tiveram na rede de fast food a primeira oportunidade de emprego
formal. Questionado pela reportagem sobre os processos movidos contra
ele, o McDonald´s disse que “não comenta processos sub judice”.
Para
Rodrigo Rodrigues, advogado do Sindicato dos Empregados em Hospedagem e
Gastronomia de São Paulo e Região (Sinthoresp), a oferta do primeiro
emprego a esses jovens é pensada pelo McDonald´s a fim criar nesses
trabalhadores o sentimento de submissão incondicional, em que o
contratado acata tudo o que lhe é imposto, pela gratidão da oportunidade
de trabalho. “A pessoa fica com receio de se indispor contra o
tratamento que é dado na empresa. Isso é sutilmente pensado para que se
chegue a essas finalidades”, alega.
A
mesma avaliação é feita pelo procurador Rafael Dias Marques,
coordenador nacional da Coordenadoria de Combate à Exploração do
Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância) do Ministério
Público do Trabalho (MPT). Segundo ele, a necessidade do primeiro
emprego e a vontade de começar a vida profissional são vistas por alguns
empregadores como uma possibilidade de fraudar direitos que são
garantidos a esses trabalhadores por lei. “Muitas empresas preferem
contratar os mais jovens para evitar problemas trabalhistas, para
torná-los uma massa de manobra mais fácil para executar [o trabalho] sem
direitos trabalhistas, sem qualquer questionamento ou um questionamento
mais brando”, afirma.
Empresa utiliza pouca maturidade dos jovens para negligenciar direitos
trabalhistas básicos - Foto: Michelle Amaral
|
O
procurador explica, ainda, que a pouca maturidade torna a contratação
desses jovens vantajosa para essas empresas. “São pessoas que, por ainda
serem jovens, não tem o senso crítico do questionamento e de resistir a
determinadas situações de lesões de direitos”, analisa.
Garantia de direitos
O
advogado do Sinthoresp lembra que o jovem tem que ser visto como um ser
em transformação, que necessita de cuidados que lhe assegurem uma boa
formação para a vida. “O trabalho é uma condição necessária, mas deve
ser implementado aos poucos, não pode ser do jeito que está, coloca o
jovem lá e vamos ver o que vai dar”, pondera Rodrigues. O Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) permite a contratação de adolescentes a
partir de 14 anos, na condição de aprendiz, e de 16 anos para o trabalho
normal. No entanto, o estatuto estabelece que a eles deve ser observado
“o respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”.
Desta
forma, Marques ressalta que a atividade profissional não pode ser
prejudicial ao desenvolvimento físico e social destes adolescentes e
jovens, seguindo o que estabelece o Decreto nº 6.481/2008. “Eles são
pessoas peculiares em desenvolvimento, em fase de formação, por isso que
o trabalho nessa fase da vida tem que ser diferenciado”, analisa.
O
procurador alerta que, se não observados os cuidados com esses jovens, o
trabalho pode lhes causar danos irreversíveis para a vida adulta. “O
risco de lesão à saúde por uma situação do trabalho é muito mais
evidente nessa parte da população, porque ainda que está em formação
biológica”, observa. Segundo ele, “uma doença do trabalho nessa fase da
vida é mais suscetível a ter continuidade, inclusive de levar ao quadro
da invalidez”.
Foi o
que aconteceu com Tatiana. Com o acidente ocasionado por uma negligência
da empresa, teve sua vida completamente mudada. “ Tive que parar a
minha vida. Fiquei um tempo sem estudar. Queria fazer enfermagem e o
médico falou que eu nunca poderia ser enfermeira, porque não podia ficar
em pé”, conta.
Rede de restaurantes fast food usa da pouca maturidade e fragilidade da juventude para usurpar direitos trabalhistas básicos
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Balanço de 2012: cadê a derrota do PT?
por Rodrigo Vianna
No mesmo dia em que a Venezuela reelegeu Hugo Chávez (mas não era uma “ditadura”? Curioso… A oposição lutou nas urnas, e legitimou o processo, conquistando 45% dos votos), a democracia brasileira deu demonstrações inequívocas de força e complexidade. A seguir, um balanço das eleições municipais.
A realidade contrariou as previsões (ou sera a torcida?) de colunistas da velha mídia. O PT e Lula não sofreram a derrota acachapante desejada por mervais e outros que tais. E
não apenas porque Haddad foi ao segundo turno em São Paulo, com chances
razoáveis de vencer Serra. O PT também manteve a força na Grande São
Paulo (venceu em São Bernardo do Campo, e deve confirmar Guarulhos,
Osasco e Santo André no segundo turno), avançou sobre o Vale do Paraíba
(reduto de Alckmin), elegendo em primeiro turno o prefeito de São José
dos Campos (cidade do emblemático despejo do Pinheirinho; entre ”Mensalão” e “Pinheirinho” o segundo parece ter pesado mais para definir a derrota tucana). O PT também surpreendeu em Campinas, levando Márcio Pochmann ao segundo turno, contra o candidato de Alckmin.
O tucanato paulista (ainda forte no interior e nos bairros centrais da capital) terá que suar para manter o controle do Estado em 2014; talvez, não tenha energia para mais uma disputa nacional.
O PT também se fortaleceu em Minas, apesar da derrota para Aécio/Lacerda em BH.
O partido de Lula consquistou importantes cidades mineiras, como
Uberlândia, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Ipatinga, e vai disputar o
segundo turno em Juiz de Fora. Na cidade operária de Contagem, a
derrota de Aécio foi mais dolorida: PCdoB e PT disputarão segundo
turno, deixando os tucanos de fora. O que isso tudo significa?
Aécio sem dúvida colheu uma vitória pessoal sobre Dilma e Lula com a
eleição de Lacerda (PSB). Mas a força do mineiro é relativa – ainda
que respeitável.
Voltemos agora o olhar para o quadro nacional. Se o PT não colheu a derrota acachapante que certos colunistas (cada vez mais desmoralizados pelos fatos) previam, também não saiu excessivamente fortalecido. E por isso falo que a democracia brasileira mostrou maturidade.
Outro fato salta aos olhos: onde o PT e o núcleo duro do
lulismo fracassaram, não foi a velha oposição que avançou. Não. No
Brasil, desenha-se cada vez com mais força o nascimento de uma “terceira
força” - ainda disforme, incompleta e que talvez não tenha peso para derrotar o lulismo já em 2014. O PSB de Eduardo Campos é a face mais evidente dessa “nova oposição” que pode brotar de dentro do governismo.
Os socialistas consolidam-se como a
quarta legenda nacional, deixando pra trás os decadentes DEM, PTB e PP.
Isso fica evidente até pelo número de prefeitos eleitos pelo PSB
(433), já se aproximando de PT (627, em alta), PSDB (688, em queda) e
PMDB (1.016, em queda, mas ainda assim o partido com mais capilaridade no país).
A vitória em primeiro turno no Recife foi estratégica para Eduardo
Campos. E a vitória em BH (jogando de tabelinha com Aécio) é um recado
ao PT: se não conseguir mais espaço na aliança governista, pode ser uma
força independente em 2014, ou até articular aliança com os tucanos de
Minas.
Imaginem uma eleição presidencial com Dilma, Aécio
(conquistando o voto anti-PT do Sul e de São Paulo, e ainda arrancando
do lulismo parte dos votos mineiros que foram tão importantes em 2010), Marina (arregimentando a tal “nova classe média” e os setores descontentes com o PT)… Eduardo Campos e PSB poderiam surgir como uma quarta força
(tirando do PT parte do eleitorado nordestino) – uma força que pode
atuar sozinha ou em parceria com as outras três acima listadas. É eleição para dois turnos – com favoritismo para Dilma, mas muito mais aberta do que em 2010.
Mas o PT mostra uma capacidade grande de adaptação. Avança para o Centro-Oeste
(conquistou Goiânia e pode levar Cuiabá no segundo turno), antes
apontada como região “conservadora” (será que o PT passa a ser visto
como uma centro-esquerda cada vez mais moderada, fiadora da
estabilidade?); pode colher vitórias importantes no Nordeste (Salvador, Fortaleza e João Pessoa) no segundo turno; e aprende a colocar-se como coadjuvante nos locais onde o eleitorado torce o nariz para o partido
(é o caso de Curitiba, onde a legenda de Lula integra a coligação de
Fruet, do PDT, que foi ao segundo turno contrariando todas as
pesquisas).
Aliás, é importante destacar também o avanço relativo do PDT: elegeu Fortunatti em Porto Alegre, pode conquistar Curitiba e tem boas chances em Natal. É da base aliada de Dilma. Mais um exemplo de que não é a velha oposição que avança onde o PT tem dificuldades.
À diferença do PSB, no entanto, a legenda trabalhista não tem um nome
nacional para unificá-la. De toda forma, ganha musculatura para negociar
mais espaço.
O quadro geral, poranto, é de fragmentação. O PT – partido ainda
hegemônico no país - terá tenha que fazer uma escolha: vai priorizar a
aliança com PMDB (partido que domina os pequenos municípios)? Ou terá
que abrir mais espaço para PSB e outras legendas de centro-esquerda?
E a velha oposição? Está claro que PSDB e DEM dependem cada vez mais - para seu projeto nacional de poder - das defecções na base governista. Hoje, os tucanos precisam mais de Eduardo Campos do que o contrário.
Com o PSB, Aécio ficaria realmente forte. Não é à toa que FHC lança
hoje na “Folha de S. Paulo” (espécie de diário oficial do tucanato) um
pedido, quase uma súplica ao líder socialista, ao falar de aliança com o
PSB: “se houver, será forte e salutar, Mas depende do desempenho do
governo federal e das alianças da presidente Dilma para ver se o
Eduardo se arrisca a romper.”
Difícil imaginar que Eduardo Campos vire linha auxiliar do tucanato
paulista. Ele não precisa disso. Pode esperar até 2018, costurando até
lá uma ponte com o Sudeste via Aécio e PSD de Kassab. Nesse caso, parte
da velha oposição (embutida no “novo” partido kassabista) é que viraria
linha auxiliar do PSB.
Do ponto devista das classes e grupos sociais, o que isso
tudo significa? O PT e o lulismo costuraram um “bloco político” que teve
papel relevante num país extremamente desigual. Se o Brasil,
graças ao lulismo, se transformar mesmo num “enorme país de classe
média”, pode ser que uma nova força tenha que surgir para comandar o
processo. Não será o PSDB paulista/DEM (que representam as velhas elites
e a velha classe média, desesperadas com a perda de espaço); e talvez a
médio prazo não seja o PT a comandar esse novo bloco histórico.
A tal nova (?) força (representando setores emergentes nas
capitais e nas maiores cidades do interior) incorporaria a pauta
ambiental, significando um passo adiante no projeto lulista de inclusão
via crédito/consumo/programas sociais.
Isso já ficou evidente com a votação de Marina em 2010. Em 2012, o
eleitorado deu o mesmo recado, procurando escapar da polarização extrema
entre PT e PSDB. Em 2014 e 2018, o espaço estará aberto para essa nova
força que hoje ainda não se consolidou.
Dilma e Lula têm sabedoria para “ler” esse quadro. E talvez por isso
caminhem cada vez mais para o centro – para desespero da velha esquerda,
e dos sindicatos e movimentos sociais que se alinham com o lulismo. O
PT pode ter fôlego para se adaptar aos novos tempos. Mas certamente há
mais gente disposta ocupar esse espaço.
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eleições municipais 2012,
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Venezuela: Socialismo triunfa e enche América Latina de esperança
Com 54,42% dos votos, o presidente Hugo Chávez Frías foi
reeleito na Venezuela e governará o país no período de 2013 a 2019. Há
14 anos no poder, este será o seu terceiro mandato. O candidato da
oposição, Henrique Capriles, obteve 44,97% e ganhou em apenas quatro dos
24 estados que compõem a Venezuela. Em uma verdadeira festa cívica, 81%
dos venezuelanos compareceram às urnas, mesmo o voto não sendo
obrigatório no país.
Por Vanessa Silva* e Leonardo Wexell Severo, de Caracas-Venezuela no VERMELHO
AVN
Multidão saúda vitória de Chávez no Palácio de Miraflores: "foi a vitória perfeita", afirmou Chávez
Apesar da expectativa de que o candidato da oposição
pudesse não reconhecer o resultado revelado pelas urnas, Capriles
admitiu sua derrota e rejeitou a ação de setores radicais. O candidato
fez também um chamado para que "nosso povo não se sinta perdedor. Quem
foi derrotado fui eu”, afirmou. E agradeceu aos mais de seis milhões de
venezuelanos que votaram nele.
Diante de dezenas de milhares de manifestantes que tomaram a frente e as imediações do Palácio de Miraflores na noite de domingo (7), o presidente Hugo Chávez agradeceu aos mais de oito milhões de venezuelanos que lhe garantiram um novo mandato.
Acompanhado pela família e por lideranças no balcão presidencial, o líder bolivariano agradeceu à multidão e ressaltou que o povo "votou pela revolução, pelo socialismo e pela grandeza da Venezuela”.
Independência e integração
Chávez fez questão de ressaltar que o primeiro e principal objetivo de seu novo mandato já foi alcançado, sendo “não outro que ter conservado o bem mais precioso que conquistamos depois de 500 anos de luta: a independência nacional”.
A expressiva vitória nas urnas, enfatizou o presidente, demonstra que “não haverá força imperialista, por mais forte que seja, que possa com o povo bolivariano. A Venezuela nunca mais voltará ao neoliberalismo, seguirá transitando para o socialismo bolivariano do século 21". E reiterou que “hoje ganhou a América Latina”.
Imediatamente, milhares de vozes entoaram o grito “alerta, alerta que caminha a espada de Bolívar pela América Latina”, fazendo tremular bandeiras do Brasil, Cuba e Argentina, entre outras, num colorido que expressava o espírito da integração solidária do continente.
Cordialidade
Em tom cordial, Capriles pediu que Chávez trabalhe por todos os venezuelanos e parabenizou o comandante por sua vitória. “O que o povo diz está dado e respeito sua palavra”. Por sua vez, o presidente também fez um “reconhecimento especial à oposição, que não fez planos desestabilizadores. Assim que se joga na democracia”, exclamou.
* Vanessa Silva é jornalista, enviada especial do Vermelho a Caracas, e integrante do ComunicaSul
** Leonardo Wexell Severo é jornalista e integra em Caracas a equipe do ComunicaSul
Diante de dezenas de milhares de manifestantes que tomaram a frente e as imediações do Palácio de Miraflores na noite de domingo (7), o presidente Hugo Chávez agradeceu aos mais de oito milhões de venezuelanos que lhe garantiram um novo mandato.
Acompanhado pela família e por lideranças no balcão presidencial, o líder bolivariano agradeceu à multidão e ressaltou que o povo "votou pela revolução, pelo socialismo e pela grandeza da Venezuela”.
Independência e integração
Chávez fez questão de ressaltar que o primeiro e principal objetivo de seu novo mandato já foi alcançado, sendo “não outro que ter conservado o bem mais precioso que conquistamos depois de 500 anos de luta: a independência nacional”.
A expressiva vitória nas urnas, enfatizou o presidente, demonstra que “não haverá força imperialista, por mais forte que seja, que possa com o povo bolivariano. A Venezuela nunca mais voltará ao neoliberalismo, seguirá transitando para o socialismo bolivariano do século 21". E reiterou que “hoje ganhou a América Latina”.
Imediatamente, milhares de vozes entoaram o grito “alerta, alerta que caminha a espada de Bolívar pela América Latina”, fazendo tremular bandeiras do Brasil, Cuba e Argentina, entre outras, num colorido que expressava o espírito da integração solidária do continente.
Cordialidade
Em tom cordial, Capriles pediu que Chávez trabalhe por todos os venezuelanos e parabenizou o comandante por sua vitória. “O que o povo diz está dado e respeito sua palavra”. Por sua vez, o presidente também fez um “reconhecimento especial à oposição, que não fez planos desestabilizadores. Assim que se joga na democracia”, exclamou.
* Vanessa Silva é jornalista, enviada especial do Vermelho a Caracas, e integrante do ComunicaSul
** Leonardo Wexell Severo é jornalista e integra em Caracas a equipe do ComunicaSul
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