Passaram-se mais de 20 anos desde a chama re-democratização do país. No entanto, nunca estivemos mais longe de uma democracia séria e real e de respeito mínimo aos direitos humanos.
Não existe democracia sem respeito aos direitos humanos, sem memória sem respeito às minorias, aos diferentes, aos demais. Democracia não é apenas votar, não é apenas eleger e ser eleito, mas é parte d etodo o processo de convivência dentro de um Estado, dentro de uma cidade, uma região, uma escola, um emprego...
Democracia é o respeito pleno aos direitos, à cultura, à educação, e à saúde e o direito de todos terem voz e decidirem por si mesmos e enquanto grupo/coletivo seu futuro.
Form mais de 20 anos desde o fim da Ditadura, mas não temos nada disso.
Em grande parte porque não fomos capazes de aprender com a Ditadura, de conhecer a Ditadura e o que ela representou. Não conhecemos seus segredos, não homenageamos nossos mortos, aqueles que tombaram resistindo bravamente, podendo nomear seus algozes, ou melhor, com a sociedade podendo nomear seus algozes e condenar seus algozes.
Tudo é segredo, portas fechadas, arquivos trancados. Mesmo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que com seus poderes limitados e com todas as tentativas governamentais de esvaziá-la, mantém seus segredos, procura afastar o povo de suas sessões que deveriam ser públicas.
O que temem? Sabemos o que temem os militares assassinos e seus comparsas. Sabemos o que temem políticos eleitos cujo passado está ligado á Ditadura. Sabemos o que temem empresários e civis envolvidos com mortes e torturas. Mas o que teme o partido do poder? O que temem estes que se dizem de esquerda mesmo sem sê-lo, que renegam seu passado ou o usam como propaganda para, uma vez no poder, se aliar com seus algozes? E o que temem alguns dos membros da CNV ao querer fechá-la ao público?
Aqueles culpados temem a verdade - sem dúvida não temem a cadeia, pois não será este seu destino, infelizmente - mas o que temem os que deveriam ser inocentes?
São décadas de decisões secretas, de portas trancadas, mas de masmorras sempre prontas a receber novos combatentes e de militares e civis sempre prontos a quebrar, matar e... lucrar.
E continua.
A sociedade não evoluiu nestes 20 anos. Continuamos matando, torturando e morrendo. A polícia continua a aterrorizar, a perseguir, permanece como um aparelho repressor e assustador dos poderosos que hoje não mais vestem fardas, mas se valem das fardas para manter o controle. Outros se valem do medo, o mesmo medo tão familiar no passado. Medo enquanto mercadoria, vendido junto a toalhinhas ungidas e tijolinhos da prosperidade em templos suntuosos feitos para mesmerizar as massas.
Continuamos com medo, continuamos massacrados, continuamos sem nossos direitos básicos.
Continuamos sem memória. Não aprendemos com o passado, pois não o conhecemos.
Tudo que podemos fazer hoje é gritar, é sair às ruas. Mas saímos pouco. Gritamos muito, é verdade, mas para ouvidos moucos. E até que decidam não mais permitir gritar.
O que faremos então?
Não revisamos nosso passado, não vivemos nosso presente, jamais entenderemos nosso futuro.
Estamos fadados a apenas repetir.
Esse post faz parte da VII Blogagem Coletiva #DesarquivandoBR