domingo, 23 de março de 2014

"Meritocracia": a lógica perversa que envenena a classe média brasileira

O texto abaixo é simplesmente sensacional. Nele, o autor explica de forma cabal porque a nossa classe média é tão individualista, perversa, reacionária, mesquinha e fascista. E também porque tem tanto ódio dos valores da esquerda. 

Infelizmente o texto é um pouco longo e sabemos que a maioria dos "classe-medianos" só lê mesmo a capa da Veja e livros de auto-ajuda, mas desafio todos vocês a lerem até o final, se tiverem coragem, é claro!

"Meritocracia": a lógica perversa que envenena a classe média brasileira
- por Renato Santos de Souza (UFSM/RS)

"Vamos amigo! Se a gente se esforçar e vestir a 
camisa um dia a gente também chega lá sozinho!"
A primeira vez que ouvi a Marilena Chauí bradar contra a classe média, chamá-la de fascista, violenta e ignorante, tive a reação que provavelmente a maioria teve: fiquei perplexo e tendi a rejeitar a tese quase impulsivamente. Afinal, além de pertencer a ela, aprendi a saudar a classe média. Não dá para pensar em um país menos desigual sem uma classe média forte: igualdade na miséria seria retrocesso, na riqueza seria impossível.

Então, o engrossamento da classe média tem sido visto como sinal de desenvolvimento do país, de redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, ou mais, de uma positiva mobilidade social, em que muitos têm ascendido na vida a partir da base. A classe média seria como que um ponto de convergência conveniente para uma sociedade mais igualitária. Para a esquerda, sobretudo, ela indicaria uma espécie de relação capital-trabalho com menos exploração.
Então, eu, que bebi da racionalidade desde as primeiras gotas de leite materno, como afirmou certa vez um filósofo, não comprei a tese assim, facilmente. Não sem uma razão. E a Marilena não me ofereceu esta razão. Ela identificou algo, um fenômeno, o reacionarismo da classe média brasileira, mas não desvendou o sentido do fenômeno. Descreveu “O QUE” estava acontecendo, mas não nos ofereceu o “PORQUE”. Por que logo a classe média? Não seria mais razoável afirmar que as elites é que são o “atraso de vida” do Brasil, como sempre foi dito? E mais, ela fala da classe média brasileira, não da classe média de maneira geral, não como categoria social. Então, para ela, a identificação deste fenômeno não tem uma fundamentação eminentemente filosófica ou sociológica, e sim empírica: é fruto da sua observação, sobretudo da classe média paulistana. E por que a classe média brasileira e não a classe média em geral? Estas indagações me perturbavam, e eu ficava reticente com as afirmações de dona Marilena.
Com o passar do tempo, porém, observando muitos representantes da classe média próximos de mim (coisa fácil, pois faço parte dela), bem como a postura desta mesma classe nas manifestações de junho deste ano, comecei lentamente a dar razão à filósofa. A classe média parece mesmo reacionária, talvez não toda, mas grande parte dela. Mas ainda me perguntava “por que” a classe média, e “por que” a brasileira? Havia um elo perdido neste fenômeno, algo a ser explicado, um sentido a ser desvendado.
Então adveio aquela abominável reação de grande parte da categoria médica – justamente uma categoria profissional com vocação para classe média - ao Programa Mais Médicos, e me sugeriu uma resposta. Aqueles episódios me ajudaram a desvendar a espuma. Mas não sem antes uma boa pergunta! Como pode uma categoria profissional pensar e agir assim, de forma tão unificada, num país tão plural e tão cheio de nuanças intelectuais e políticas como o nosso? Estudantes de medicina e médicos parecem exibir um padrão de pensamento e ação muito coesos e com desvios mínimos quando se trata da sua profissão, algo que não se vê em outros segmentos profissionais. Isto não pode ser explicado apenas pelo que se convencionou chamar de “corporativismo”. Afinal, outras categorias profissionais também tem potencial para o corporativismo, e não o são, ao menos não da mesma forma. Então deveria haver outra interpretação para isto.
Bem, naqueles episódios do Mais Médicos, apesar de toda a argumentação pretensamente responsável das entidades médicas buscando salvaguardar a saúde pública, o que me parecia sustentar tal coesão era uma defesa do mérito, do mérito de ser médico no Brasil. Então, este pensamento único provavelmente fora forjado pelas longas provações por que passa um estudante de medicina até se tornar um profissional: passar no vestibular mais concorrido do Brasil, fazer o curso mais longo, um dos mais difíceis, que tem mais aulas práticas e exigências de estrutura, e que está entre os mais caros do país. É um feito se formar médico no Brasil, e talvez por isto esta formação, mais do que qualquer outra, seja uma celebração do mérito. Sendo assim, supõe-se, não se pode aceitar que qualquer um que não demonstre ter tido os mesmos méritos, desfrute das mesmas prerrogativas que os profissionais formados aqui. Então, aquela reação episódica, e a meu ver descabida, da categoria médica, incompreensível até para o resto da classe média, era, na verdade, um brado pela meritocracia.
A minha resposta, então, ao enigma da classe média brasileira aqui colocado, começava a se desvelar: é que boa parte dela é reacionária porque é meritocrática; ou seja, a meritocracia está na base de sua ideologia conservadora.
Assim, boa parte da classe média é contra as cotas nas universidades, pois a etnia ou a condição social não são critérios de mérito; é contra o bolsa-família, pois ganhar dinheiro sem trabalhar além de um demérito desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque meritocracia também significa o contrário, pagar caro pela falta de mérito; reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado por um Governo que não produz, muito menos ser distribuído em serviços para quem não é produtivo e não gera impostos. É contra os políticos porque em uma sociedade racional, a técnica, e não a política, deveria ser a base de todas as decisões: então, deveríamos ter bons gestores e não políticos. Tudo uma questão de mérito.
Mas por que a classe média seria mais meritocrática que as outras? Bem, creio que isto tem a ver com a história das políticas públicas no Brasil. Nós nunca tivemos um verdadeiro Estado do Bem Estar Social por aqui, como o europeu, que forjou uma classe média a partir de políticas de garantias públicas. O nosso Estado no máximo oferecia oportunidades, vagas em universidades públicas no curso de medicina, por exemplo, mas o estudante tinha que enfrentar 90 candidatos por vaga para ingressar. O mesmo vale para a classe média empresarial, para os profissionais liberais, etc. Para estes, a burocracia do Estado foi sempre um empecilho, nunca uma aliada. Mesmo a classe média estatal atual, formada por funcionários públicos, é geralmente concursada, portanto, atingiu sua posição de forma meritocrática. Então, a classe média brasileira se constituiu por mérito próprio, e como não tem patrimônio ou grandes empresas para deixar de herança para que seus filhos vivam de renda ou de lucro, deixa para eles o estudo e uma boa formação profissional, para que possam fazer carreira também por méritos próprios. Acho que isto forjou o ethos meritocrático da nossa classe média.
Esta situação é bem diferente na Europa e nos EUA, por exemplo. Boa parte da classe média europeia se formou ou se sustenta das políticas de bem estar social dos seus países, estas mesmas que entraram em colapso com a atual crise econômica e tem gerado convulsões sociais em vários deles; por lá, eles vão para as ruas exatamente para defender políticas anti-meritocráticas. E a classe média americana, bem, esta convive de forma quase dramática com as ambiguidades de um país que é ao mesmo tempo das oportunidades e das incertezas; ela sabe que apenas o mérito não sustenta a sua posição, portanto, não tem muitos motivos para ser meritocrática. Se a classe média adoecer nos EUA, vai perder o seu patrimônio pagando por serviços privados de saúde pela absoluta falta de um sistema público que a suporte; se advém uma crise econômica como a de 2008, que independe do mérito individual, a classe média perde suas casas financiadas e vai dormir dentro de seus automóveis, como se via à época. Então, no mundo dos ianques, o mérito não dá segurança social alguma.
As classes brasileiras alta e baixa (os nossos ricos e pobres) também não são meritocráticas. A classe alta é patrimonialista; um filho de rico herda bens, empresas e dinheiro, não precisa fazer sua vida pelo mérito próprio, portanto, ser meritocrata seria um contrassenso; ao contrário, sua defesa tem que ser dos privilégios que o dinheiro pode comprar, do direito à propriedade privada e da livre iniciativa. Além disso, boa parte da elite brasileira tem consciência de que depende do Estado e que, em muitos casos, fez fortuna com favorecimentos estatais; então, antes de ser contra os governos e a política, e de se intitular apolítica, ela busca é forjar alianças no meio político.
Para a classe pobre o mérito nunca foi solução; ela vive travada pela falta de oportunidades, de condições ou pelo limitado potencial individual. Assim, ser meritocrata implicaria não só assumir que o seu insucesso é fruto da falta de mérito pessoal, como também relegar apenas para si a responsabilidade pela superação da sua condição. E ela sabe que não existem soluções pela via do mérito individual para as dezenas de milhões de brasileiros que vivem em condições de pobreza, e que seguramente dependem das políticas públicas para melhorar de vida. Então, nem pobres nem ricos tem razões para serem meritocratas.
A meritocracia é uma forma de justificação das posições sociais de poder com base no merecimento, normalmente calcado em valências individuais, como inteligência, habilidade e esforço. Supostamente, portanto, uma sociedade meritocrática se sustentaria na ética do merecimento, algo aceitável para os nossos padrões morais.
Aliás, tenho certeza de que todos nós educamos nossos filhos e tentamos agir no dia a dia com base na valorização do mérito. Nós valorizamos o esforço e a responsabilidade, educamos nossas crianças para serem independentes, para fazerem por merecer suas conquistas, motivamo-as para o estudo, para terem uma carreira honrosa e digna, para buscarem por méritos próprios o seu lugar na sociedade.
Então, o que há de errado com a meritocracia, como pode ela tornar alguém reacionário?
Bem, como o mérito está fundado em valências individuais, ele serve para apreciações individuais e não sociais. A menos que se pense, é claro, que uma sociedade seja apenas um agregado de pessoas. Então, uma coisa é a valorização do mérito como princípio educativo e formativo individual, e como juízo de conduta pessoal, outra bem diferente é tê-lo como plano de governo, como fundamento ético de uma organização social. Neste plano é que se situa a meritocracia, como um fundamento de organização coletiva, e aí é que ela se torna reacionária e perversa.
Vou gastar as últimas linhas deste texto para oferecer algumas razões para isto, para mostrar porquê a meritocracia é um fundamento perverso de organização social.
a) A meritocracia propõe construir uma ordem social baseada nas diferenças de predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.) e não em valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.). Então, uma sociedade meritocrática pode atentar contra estes valores, ou pode obstruir o acesso de muitos a direitos fundamentais.
b) A meritocracia exacerba o individualismo e a intolerância social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivíduo e às suas valências as responsabilidades por seus sucessos e fracassos.
c) A meritocracia esvazia o espaço público, o espaço de construção social das ordens coletivas, e tende a desprezar a atividade política, transformando-a em uma espécie de excrescência disfuncional da sociedade, uma atividade sem legitimidade para a criação destas ordens coletivas. Supondo uma sociedade isenta de jogos de interesse e de ambiguidades de valor, prevê uma ordem social que siga apenas a racionalidade técnica do merecimento e do desempenho, e não a racionalidade política das disputas, das conversações, das negociações, dos acordos, das coalisões e/ou das concertações, algo improvável em uma sociedade democrática e pluralista.
d) A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem. O Quintana, pelo imenso valor literário que tem, não merecia ter morrido pobre nem ter tido que morar de favor em um hotel em Porto Alegre, mas quem amealhou fortuna com a literatura foi o Coelho. Um tem inegável valor literário, outro tem desempenho de mercado. O José, aquele menino nota 10 na escola que mora embaixo de uma ponte da BR 116 (tema de reportagem da ZH) merece ser médico, sua sonhada profissão, mas provavelmente não o será, pois não terá condições para isto (rezo para estar errado neste caso). Na música popular nem é preciso exemplificar, a distância entre merecimento e desempenho de mercado é abismal. Então, neste mudo em que vivemos, valor e resultado, merecimento e desempenho nem sempre caminham juntos, e talvez raramente convirjam.
Mas a meritocracia exige medidas, e o merecimento, que é um juízo de valor subjetivo, não pode ser medido; portanto, o que se mede é o desempenho supondo-se que ele seja um indicador do merecimento, o que está longe de ser. Desta forma, no mundo da meritocracia – que mais deveria se chamar “desempenhocracia” - se confunde merecimento com desempenho, com larga vantagem para este último como medida de mérito.
e) A meritocracia escamoteia as reais operações de poder. Como avaliação e desempenho são cruciais na meritocracia, pois dão acesso a certas posições de poder e a recursos, tanto os indicadores de avaliação como os meios que levam a bons desempenhos são moldados por relações de poder; e o são decisivamente. Seria ingênuo supor o contrário. Assim, os critérios de avaliação que ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.
Critérios avaliativos e medidas de desempenho são moldáveis conforme os interesses dominantes, e os interesses são a razão de ser das operações de poder; que por sua vez, são a matéria prima de toda a atividade política. Então, por trás da cortina de fumaça da meritocracia repousa toda a estrutura de poder da sociedade.
Até aí tudo bem, isso ocorre na maioria dos sistemas políticos, econômicos e sociais. O problema é que, sob o manto da suposta “objetividade” dos critérios de avaliação e desempenho, a meritocracia esconde estas relações de poder, sugerindo uma sociedade tecnicamente organizada e isenta da ingerência política. Nada mais ilusório e nada mais perigoso, pois a pior política é aquela que despolitiza, e o pior poder, o mais difícil de enfrentar e de combater, é aquele que nega a si mesmo, que se oculta para não ser visto.
e) A meritocracia é a única ideologia que institui a desigualdade social com fundamentos “racionais”, e legitima pela razão toda a forma de dominação (talvez a mais insidiosa forma de legitimação da modernidade). A dominação e o poder ganham roupagens racionais, fundamentos científicos e bases de conhecimento, o que dá a eles uma aparente naturalidade e inquestionabilidade: é como se dominados e dominadores concordassem racionalmente sobre os termos da dominação.
f) A meritocracia substitui a racionalidade baseada nos valores, nos fins, pela racionalidade instrumental, baseada na adequação dos meios aos resultados esperados. Para a meritocracia não vale a pena ser o Quintana, não é racional, embora seus poemas fossem a própria exacerbação de si, de sua substância, de seus valores artísticos. Vale mais a pena ser o Paulo Coelho, a E.L. James, e fazer uma literatura calibrada para vender. Da mesma forma, muitos pais acham mais racional escolher a escola dos seus filhos não pelos fundamentos de conhecimento e valores que ela contém, mas pelo índice de aprovação no vestibular que ela apresenta. Estudantes geralmente não estudam para aprender, estudam para passar em provas. Cursos de pós-graduação e professores universitários não produzem conhecimentos e publicam artigos e livros para fazerem a diferença no mundo, para terem um significado na pesquisa e na vida intelectual do país, mas sim para engrossarem o seu Lattes e para ficarem bem ranqueados na CAPES e no CNPq.
A meritocracia exige uma complexa rede de avaliações objetivas para distribuir e justificar as pessoas nas diferentes posições de autoridade e poder na sociedade, e estas avaliações funcionam como guiões para as decisões e ações humanas. Assim, em uma sociedade meritocrática, a racionalidade dirige a ação para a escolha dos meios necessários para se ter um bom desempenho nestes processos avaliativos, ao invés de dirigi-la para valores, princípios ou convicções pessoais e sociais.
g) Por fim, a meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.
Enfim, a meritocracia é um dos fundamentos de ordenamento social mais reacionários que existe, com potencial para produzir verdadeiros abismos sociais e humanos. Assim, embora eu tenda a concordar com a tese da Marilena Chauí sobre a classe média brasileira, proponho aqui uma troca de alvo. Bradar contra a classe média, além de antipático pode parecer inútil, pois ninguém abandona a sua condição social apenas para escapar ao seu estereótipo. Não se muda a posição política de alguém atacando a sua condição de classe, e sim os conceitos que fundamentam a sua ideologia.

Então, prefiro combater conceitos, neste caso, provavelmente o conceito mais arraigado na classe média brasileira, e que a faz ser o que é: a meritocracia.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ucrânia: o plano mais idiota de Obama

Mike Whitney (CounterPunch)

Aliar-se com os neonazis na Ucrânia: de todos os planos idiotas que Washington elaborou nos últimos dois anos, este é o mais idiota de todos.

“Washington e Bruxelas apoiaram um golpe nazista, realizado por insurgentes, terroristas e políticos da ultradireita europeia para atender aos interesses geopolíticos do Ocidente”
Natalia Vitrenko , do Partido Socialista Progressista da Ucrânia
Como você provavelmente já sabe, Obama e companhia ajudaram a depor o presidente democraticamente eleito da Ucrânia, Viktor Yanukovych, com a ajuda de ultra-direita, paramilitares, gangues neonazistas que invadiram e queimaram escritórios do governo, mataram soldados da tropa de choque, e espalharam o caos e terror em todo o país.
Estes são os novos aliados dos Estados Unidos no grande jogo para estabelecer uma cabeça de ponte na Ásia, empurrando os russos mais para o leste, derrubando governos eleitos, garantindo corredores de oleodutos e gasodutos vitais, acessando escassas reservas de petróleo e gás natural e trabalhando pela desmontagem da Federação Russa, segundo a estratégia geopolítica proposta por Zbigniew Brzezinski.
A grande obra de Brzezinski, “The Grand Chessboard: American Primacy and it’s Geostrategic Imperatives”(O Grande Tabuleiro de Xadrez: a Primazia Americana e seus Imperativos Geoestratégicos), tornou-se o Mein Kampf de aspirantes imperialistas ocidentais.
O livro fornece a estrutura básica para o estabelecimento da hegemonia militar, política e econômica dos EUA na região mais promissora e próspera do século, na Ásia.
Em um artigo publicado na Foreign Affairs, Brzezinski apresentou suas idéias sobre como neutralizar a Rússia, dividindo o país em partes menores e permitindo, assim, que os EUA mantenham seu papel dominante na região, sem ameaças, desafios ou interferências. Aqui está um trecho do artigo:
“Dado o tamanho (da Rússia) e sua diversidade, um sistema político descentralizado e uma economia de livre mercado seriam a mais provável via para desencadear o potencial criativo do povo russo e (explorar) os vastos recursos naturais da Rússia. Uma Rússia vagamente confederada - composta por uma Rússia européia, uma república da Sibéria, e uma república do Extremo Oriente - também tornaria mais fácil cultivar relações econômicas mais estreitas com seus vizinhos.
Cada um dessas regiões confederadas seria capaz de explorar o seu potencial criativo local, sufocado por séculos de controle da mão burocrática pesada de Moscou. Além disso, a Rússia descentralizada seria menos suscetível a uma mobilização de tipo imperial”. (Zbigniew Brzezinski , “A Geoestratégia para a Eurasia “)
Moscou, é claro, está ciente dessa estratégia de dividir e conquistar de Washington, mas minimizou a questão, a fim de evitar um confronto. O golpe de Estado apoiado pelos EUA na Ucrânia significa que essa opção não é mais viável.
A Rússia terá de responder a uma provocação que ameaça tanto a sua segurança como seus interesses vitais na região. Os primeiros informes indicam que Putin já mobilizou tropas para a região e, segundo a Reuters, colocou caças ao longo de suas fronteiras ocidentais em alerta de combate:
“Os Estados Unidos dizem que qualquer ação militar russa seria um erro grave. Mas o Ministério de Relações Exteriores da Rússia disse em um comunicado que Moscou defenderá os direitos de seus compatriotas e reagirá a qualquer violação desses direitos.”(Reuters)
Não vai ser um confronto, é só uma questão de saber se a luta terá uma escalada ou não.
A fim de derrubar Yanukovych, os EUA apoiaram tacitamente grupos fanáticos de bandidos neonazistas e antissemitas
E, apesar do presidente interino ucraniano, Oleksander Tuchynov, ter se comprometido a “fazer tudo ao seu alcance” para proteger a comunidade judaica do país, os informes não são animadores.
Aqui está um trecho de uma declaração de Natalia Vitrenko, do Partido Socialista Progressista da Ucrânia que sugere que a situação é muito pior do que a que está sendo relatada na mídia:
“Por todo o país, pessoas estão sendo espancadas e apedrejadas, enquanto os membros “indesejáveis” do Parlamento da Ucrânia estão sofrendo intimidação em massa.
As autoridades locais vêem suas famílias e crianças sendo alvo de ameaças de morte caso não apoiem a instalação deste novo poder político.
As novas autoridades ucranianas estão maciçamente queimando os escritórios de partidos políticos adversários, e anunciaram publicamente a ameaça de processo criminal e proibição de partidos políticos e organizações públicas que não compartilham a ideologia e os objetivos do novo regime.” (“EUA e UE estão erguendo um regime nazista em território ucraniano” , Natalia Vitrenko )
Na semana passada, o jornal israelense Haaretz relatou que uma sinagoga ucraniana havia sido atacada com coquetéis molotov que “atingiram paredes de pedra exteriores da sinagoga e causaram poucos danos”.
Outro artigo no Haaretz referiu-se ao que chamou de “novo dilema para os judeus na Ucrânia” . Aqui está um trecho do artigo :
“A maior preocupação agora não é o aumento nos incidentes antissemitas, mas a grande presença de movimentos ultra-nacionalistas, especialmente a proeminência de membros do partido Svoboda e do Pravy Sektor entre os manifestantes .
Muitos deles estão chamando seus adversários políticos de “zhids” (termo racista para designar os judeus) e portam bandeiras com símbolos neonazistas. Há também relatos, a partir de fontes confiáveis, de que esses movimentos estão distribuindo edições recém- traduzidas de “Mein Kampf” e dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, na Praça da Independência. ” (”Antissemitismo, embora uma ameaça real, está sendo usado pelo Kremlin como um jogo político”, Haaretz)
Outro relato, feito pelo Dr. Inna Rogatchi em Arutz Sheva:
“Não há nenhum segredo sobre a agenda política real e os programas dos partidos ultra- nacionalistas na Ucrânia.
Não há nada perto de valores e objetivos europeus lá.
Basta ler os documentos existentes e ouvir o que os representantes desses partidos proclamam diariamente. Eles são fortemente anti-europeus e altamente racistas. Eles não têm nada a ver com os valores e práticas do mundo civilizado”.
“O judaísmo ucraniano está enfrentando uma ameaça real e séria.
Fortalecer os movimentos abertamente neonazistas na Europa e ignorar a ameaça que eles representam é um negócio totalmente arriscado. As pessoas poderão ter que pagar um preço terrível - mais uma vez – por causa da fraqueza e da indiferença de seus líderes.
A Ucrânia, hoje, tornou-se um case trágico para toda a Europa no que diz respeito à reprodução e autorização para o discurso do ódio tornar-se uma força violenta e incontrolável. É imperativo lidar com a situação no país, de acordo com a lei e as normas da civilização internacional existente.” (”Chá com neonazistas: O nacionalismo violento na Ucrânia” , Arutz Sheva)
Aqui está um pouco mais sobre o tema, um texto do analista Stephen Lendmen, publicado dia 25 de fevereiro (”New York Times: apoiando a ilegalidade imperial dos EUA”) :
“Washington apoia abertamente o líder fascista do partido Svoboda, Oleh Tyahnybok. Em 2004, Tyahnybok foi expulso da facção parlamentar do ex-presidente Viktor Yushchenko. Ele foi condenado por conclamar os ucranianos a lutar contra o que chamou de máfia moscovita-judaica.”
“Em 2005, ele denunciou “atividades criminosas ” do “judaísmo organizado”. Ele alegou escandalosamente que os judeus eles planejavam um “genocídio” contra os ucranianos” (…)
“O extremismo de Tyahnybok não impediu a secretária de Estado adjunta para Assuntos Europeus e da Eurásia, Victoria Nuland, a se reunir abertamente com ele e com outros líderes anti-governamentais no dia 6 de fevereiro”.(…)
“No início de janeiro, cerca de 15 mil ultranacionalistas realizaram uma marcha com tochas em Kiev. Eles fizeram isso para homenagear Stepan Bandera, assassino e colaborador da era nazista. Alguns usavam uniformes de uma divisão da Wehrmacht ucraniana usados na Segunda Guerra Mundial. Outros gritavam ” Ucrânia acima de tudo” e ” Bandera, venha e traga a ordem. ” (blog de Steve Lendman)
A mídia dos EUA minimizou os elementos fascistas, neonazistas e de “pureza étnica” do golpe de Estado ucraniano , a fim de se concentrar no que eles pensam - são “temas mais positivos”, como a derrubada das estátuas de Lenin ou a proibição de membros do Partido Comunista de participar no Parlamento . Na avaliação da mídia, estes são todos sinais de progresso.
A Ucrânia está sucumbindo gradualmente para o abraço amoroso da Nova Ordem Mundial, onde vai servir como mais uma fonte de lucro na roda de Wall Street. Essa é a tese, pelo menos.
Não ocorreu aos editorialistas do New York Times ou do Washington Post que a Ucrânia está despencando rapidamente para uma situação do tipo “Mad Max” (o filme), uma anarquia que poderia transbordar suas fronteiras para os países vizinhos, provocando incêndios violentos, agitação social, instabilidade regional ou - deus nos livre- uma terceira guerra mundial.
Eles só parecem ver movimentos dourados, como se tudo estivesse indo conforme o planejado.
Todos, da Eurásia ao Oriente Médio, estão sendo pacificados e integrados em um governo mundial supervisionado pelo Executivo unitário, onde as empresas e instituições financeiras controlam as alavancas do poder por trás das telas divisórias imperiais. O que poderia dar errado?
Naturalmente, a Rússia está preocupada com a evolução da situação na Ucrânia, mas não tem certeza de como reagir. Veja o que disse o primeiro ministro Dmitry Medvedev dias atrás:
“Nós não entendemos o que está acontecendo lá. A ameaça real para os nossos interesses (existe) e tambén para a vida e a saúde dos nossos cidadãos. Estritamente falando, hoje não há ninguém lá para se conversar. Se você acha que as pessoas usando máscaras pretas e agitando Kalashnikovs representam um governo, então será difícil para nós trabalhar com esse governo.”
Claramente, o governo de Moscou está preocupado.
Ninguém espera que a única superpotência do mundo se comporte dessa forma irracional em todo o planeta, alimentando a criação de um Estado falido após o outro, fomentando revoltas, criando ódio e espalhando miséria por onde passa.
No momento, a equipe de Obama está trabalhando a todo vapor tentando derrubar regimes na Síria, Venezuela, Ucrânia e deus sabe onde mais. Ao mesmo tempo, as operações no Afeganistão falharam, Iraque e Líbia estão sendo governados por senhores da guerra regionais e milícias armadas. Medvedev tem todo o direito de estar preocupado.
Quem não estaria? Os EUA têm saído dos trilhos, de um modo completamente louco.
A arquitetura para a segurança mundial entrou em colapso, enquanto os princípios básicos do direito internacional foram alijados.
O rolo compressor furioso dos EUA dá guinadas de um confronto violento para o outro, de um modo irracional, destruindo tudo em seu caminho, forçando milhões de pessoas a fugir de seus próprios países, e empurrando o mundo para mais perto do abismo. Isso não é motivo suficiente para se preocupar?
Agora Obama está se aliando com os nazistas.

segunda-feira, 17 de março de 2014

USA e UE detonando a África...

EUA e UE aumentam agressões em África*

Carlos Lopes Pereira
Carlos Lopes PereiraÀ UE não basta ser o pior inimigo dos povos da Europa. Nos mais recentes conflitos em África – agressão da NATO à Líbia, golpe na Costa do Marfim, ocupação do Mali, intervenção na RCA –, a França, primeiro com Sarkozy, agora com Hollande, tem sido o mais fiel polícia do imperialismo norte-americano. O intervencionismo militar da UE quer rivalizar com o dos EUA.

Os Estados Unidos e a Espanha vão prolongar por mais um ano a presença de tropas norte-americanas no Sul da Península Ibérica. Alegam que a instabilidade no Norte de África e em especial no Sahel coloca em risco a segurança e os interesses dos dois países.
O acordo entre Washington e Madrid prevê o aumento de efectivos e a duplicação de aviões estacionados na base militar de Morón de la Frontera, a 66 quilómetros de Sevilha.
Na base da Andaluzia, os EUA passam a dispor de 850 a 1100 marines e de 17 aviões de guerra – uma dúzia de MV-22 de descolagem vertical, quatro KC-130 de reabastecimento em voo e um aparelho de apoio logístico.
O objectivo desta força, criada em Abril de 2013, sob o comando do Africom, é «a protecção de cidadãos e instalações» dos EUA em África, bem como a resposta a «situações de crise».
Este é mais um indicador recente do aumento do intervencionismo militar dos EUA e da União Europeia (UE) em África – directamente ou por intermédio e com a conivência de alguns governos mais reaccionários –, visando impor o domínio imperial aos países do continente para saquear as riquezas dos seus povos.
Um outro exemplo que ilustra o expansionismo belicista da UE é o previsto envio de tropas para a República Centro-Africana, no quadro da missão Eurofor RCA. Trata-se de um contingente de cerca de 1000 militares e polícias, de diversas nacionalidades, que em Abril seguirá para Bangui, a capital do país, com o pretexto de ajudar a «restabelecer a ordem».
Segundo o «El Pais», a Espanha contribuirá com 60 militares e 25 guardas civis para esta operação europeia na RCA. De acordo com o «Diário de Notícias», também Portugal poderá enviar um pelotão (20 elementos) da unidade de intervenção da GNR.
Para os espanhóis, a presença de tropas suas na África subsaariana não é novidade, uma vez que que Madrid dispõe já de 300 militares no Djibuti, na Somália, no Senegal e no Mali.
No Mali onde, depois da operação «Serval», em 2013 – quando os franceses intervieram em socorro do regime de Bamako, ameaçado por rebeldes islâmicos e separatistas tuaregues –, permanecem tropas africanas, «capacetes azuis» e, também, uma missão militar da UE.
Neste momento, além de 2300 soldados franceses a combater, há cerca de 560 instrutores e assessores europeus que treinam e enquadram o exército maliano. O mandato desta missão da UE termina em Maio e deverá ser renovado por mais 24 meses.
Na República Centro-Africana a tragédia repete-se. Em Março do ano passado uma coligação armada derrubou o governo eleito de François Bozizé e substituiu-o pelo seu líder, Michel Djotodia. Em Dezembro a França enviou a legião estrangeira – operação «Sangaris» –, despachou Djotodia para o exílio e colocou Catherine Samba-Panza na presidência, mudanças que não travaram um sangrento conflito entre facções rivais.
Face à situação humanitária catastrófica, e apesar da presença de 2000 expedicionários franceses e 6000 militares da União Africana, as Nações Unidas acham necessário enviar para a RCA, até meados de Setembro, mais 12 mil soldados e polícias. Nesta operação, que custará centenas de milhões de dólares, os «capacetes azuis» substituirão as tropas africanas.
Antes disso, chegará a Bangui a missão militar da UE, para ajudar a «pacificar» o país e, depois, claro, para permitir um programa de «auxílio económico» que aprofundará a sua dependência e favorecerá a exploração das suas riquezas pelo Ocidente…
O gendarme do imperialismo
Nestes recentes conflitos em África – agressão da NATO à Líbia, golpe na Costa do Marfim, ocupação do Mali, intervenção na RCA –, a França, primeiro com Sarkozy, agora com Hollande, tem sido o mais fiel polícia do imperialismo norte-americano.
A coberto desta aliança, a burguesia francesa, com largo cadastro colonial e neocolonial, reforça a aposta nos negócios africanos, em parceria com os amigos indígenas. Negócios que vão da exploração do petróleo e do urânio às pescas, passando pela venda de armamento e pelas telecomunicações.
Em artigo na «Jeune Afrique», Christophe Boisbouvier calcula que o orçamento de Paris para as «operações exteriores», em 2014, atingirá 450 milhões de euros. A operação «Serval» custou 650 milhões de euros em 2013 e a «Sangaris» já vai em 100 milhões.
Para assegurar os interesses económicos, a França reforça o dispositivo militar em África. Tem bases permanentes em Dakar (Senegal), Libreville (Gabão) e Djibuti, ocupa o Mali e a RCA e mantém tropas estacionadas em países como Mauritânia, Níger, Costa do Marfim, Burkina Faso, Camarões e Chade…
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2102, 14.03.2014

domingo, 16 de março de 2014

Fruto de um crime, foto de Veja será investigada

Fruto de um crime, foto de Veja será investigada


Governo do Distrito Federal, de Agnelo Queiroz, abre sindicância para apurar como José Dirceu foi fotografado dentro da Papuda, numa imagem que foi estampada pela revista Veja; lei preserva a intimidade dos presos e impede que detentos sejam fotografados; "Alguém cometeu um crime aí que precisa ser investigado", disse André Duda, secretário de Comunicação do DF; objetivo da reportagem de Veja é denunciar supostos privilégios para que Dirceu continue preso em regime fechado e, de preferência, num presídio federal, ainda que isso contrarie a decisão do Supremo Tribunal Federal.
247 - O governo do Distrito Federal, de Agnelo Queiroz, decidiu abrir uma sindicância para apurar como o ex-ministro José Dirceu foi fotografado dentro da Papuda. As imagens foram estampadas numa reportagem de Veja que visa constranger o Poder Judiciário e garantir que o ex-ministro da Casa Civil continue preso em regime fechado e, de preferência, num presídio federal, de segurança máxima – ainda que isso contrarie a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Ocorre que a lei brasileira protege a intimidade dos presos e impede que os mesmos sejam fotografados. "Alguém cometeu um crime aí que precisa ser investigado", disse o secretário de Comunicação do Distrito Federal, André Duda. "O governo investiga toda denúncia sobre o sistema penitenciário", afirmou.
A sindicância será aberta nesta segunda-feira e irá apurar como as imagens de Dirceu, que aparece bem mais magro nas fotos, chegaram à reportagem de Veja. Desconfia-se que algum servidor da Papuda tenha entrado com uma microcâmera no presídio, sem que isso tenha sido detectado pelos controles de segurança.
De todos os presos da Ação Penal 470, apenas Dirceu não teve seu pedido de trabalho externo avaliado pela Vara de Execuções Penais do Distrito Federal – pedido que conta com recomendação favorável do Ministério Público. O motivo para o adiamento foi uma nota de jornal sobre uso de celular no presídio, negada por sindicância interna. Agora, a reportagem de Veja apenas reforça a campanha para mantê-lo preso num regime distinto daquele ao qual foi condenado.

sábado, 15 de março de 2014

Capitalismo: a maior ameaça à humanidade?


 
 
A teoria econômica ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas, servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.
 
Essa teoria nao é o que funciona quando o governo dos EUA socializa custos e privatiza lucros, como vem sendo feito com o apoio do Banco Central aos bancos “grandes demais para quebrarem” e quando um punhado de instituições financeiras concentram tamanha atividade econômica. Bancos “privados” subsidiados não são diferentes das outrora publicamente subsidiadas indústrias da Grã Bretanha, França, Itália e dos países então países comunistas. Os bancos impuseram os custos de sua incompetência, ganância e corrupção sobre os contribuintes.
 
Na verdade, as empresas socializadas na Inglaterra e na França eram dirigidas mais eficientemente, e nunca ameaçavam as economias nacionais, menos ainda o mundo inteiro de ruína, como os bancos privados dos EUA, os “grande demais para quebrar” o fazem.  Os ingleses, franceses e os comunistas nunca tiveram 1 bilhão de dólares anuais, para salvar um punhado de empresas financeiras corruptas e incompetentes.
 
Isso só ocorre no “capitalismo de livre mercado”, em que capitalsitas, com a aprovação da corrupta Suprema Corte dos EUA, pode comprar o governo, que os representa, e não o eleitorado. Assim, a tributação e o poder de criação de dinheiro do governo são usados para bancar poucas instituições financeiras às custas do resto do país. É isso o que significa “mercados autorregulados”.
 
Há muitos anos, Ralhp Gomery alertou que os danos para os trabalhadores estadunidenses dos empregos no exterior seria superado pela robótica. Gomery me disse que a propriedade de patentes tecnológicas é altamente concentrada e que as inovações tornaram os robôs cada vez mais humanos em suas capacidades. Consequentemente, a perspectiva para o emprego humano é sombria.
 
As palavras de Gomory reverberam em mim quando leio o informe da RT, de 15 de fevereiro último, com especialistas de Harvard que construíram máquinas móveis programadas com com termos lógicos de auto-organização e capazes de executarem tarefas complexas sem direção central ou controle remoto.
 
 
A RT não entende as implicações. Em vez de levantar uma bandeira vermelha, a RT se entusiasma: “as possibilidades são vastas. As máquinas podem ser feitas para construir qualquer estrutura tri-dimensional por si sós, e com mínima instrução. Mas o que é realmente impressionante é a sua capacidade de adaptação ao seu ambiente de trabalho e a cada um deles; para calcular perdas, reorganizar esforços e fazer ajustes. Já está claro que o desenvolvimento fará maravilhas para a humanidade no espaço, e em lugares de difícil acesso e em outras situações difíceis”.
 
Do modo como o mundo está organizado, sob poucos e imensamente poderosos e gananciosos interesses privados, a tecnologia nada fará pela humanidade. A tecnologia significa que os humanos não serão mais requeridos na força de trabalho e que os exércitos de robôs sem emoção tomarão o lugar dos exércitos humanos e não há qualquer remorso quanto a destruir os humanos que os desenvolveram. O quadro que emerge é mais ameaçador que as previsões de Alex Jones. Diante da pequena demanda por trabalho humano, muito poucos pensadores preveem que os ricos pretendem aniquilar a raça humana e viver num ambiente dentre poucos, servidos por seus robôs. Se essa história ainda não foi escrita como ficção científica, alguém deveria se dedicar a fazê-lo, antes que se torne algo comum da realidade.
 
Os cientistas de Harvard estão orgulhosos de sua conquista, assim como sem dúvida estavam os participantes do Projeto Manhattan, em relação à conquista por terem produzido uma arma nuclear. Mas o sucesso dos cientistas do Projeto Manhattan não foi muito bom para os residentes de Hiroshima e Nagasaki, e a perspectiva de uma guerra nuclear continua a lançar uma nuvem negra sobre o mundo.
 
A tecnologia de Harvard provará que é inimiga da raça humana. Esse resultado não é necessário, mas os ideólogos do livre mercado pensam que qualquer planejamento ou antecipação é uma interferência no mercado, que sempre sabe melhor (daí a atual crise financeira e econômica). A ideologia do livre mercado alia-se ao controle social e serve a interesses de curto prazo de gananciosos grupos privados. Em vez de ser usada para a humanidade, a tecnologia será usada para o lucro de um punhado.
 
Essa é a intenção, mas qual é a realidade? Como pode haver uma economia de consumo se não há emprego? Não pode, que é o que estamos aprendendo gradativamente com a exportação de empregos pelas corporações globais, para o exterior. Por um período limitado uma economia pode continuar a funcionar na base de empregos de meio turno, rebaixamento de salários, cartões de benefícios sociais – de segurança alimentar e auxílio-desemprego.
 
Quando a poupança cai, no entanto, quando os políticos sem coração que demonizam os pobres cortam esses benefícios, a economia deixa de produzir mercado para consumir os bens importados que as corporações trazem para vender.
 
Aqui vemos o fracasso total da mão invisível de Adam Smith. Cada corporação em busca de vantagens gerenciais maiores, determinadas pelos lucros obtidos em parte pela produção da destruição do mercado consumidor dos EUA e da miséria maior de todos.
 
A economia smithiana aplica-se a economias nas quais os capitalistas têm algum sentido de vida comum com outros cidadãos do país, como o tinha Henry Ford.
 
Algum tipo de pertencimento a um país ou a uma cidade. A globalização destrói esse sentido. O capitalismo evoluiu ao ponto em que os interesses econômicos mais poderosos, os interesses que controlam o próprio governo, não têm sentido de obrigação com o país nos quais seus negócios estão registrados. Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já teve diante de si.
 
O capitalismo internacional levou a ganância a um patamar de força determinante da história. O capitalismo desregulado e dirigido pela ganância está destruindo as perspectivas de emprego no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento, cujas agriculturas se tornaram monoculturas para exportação a serviço dos capitalistas globais, para alimentarem a si mesmos. Quando vier a quebradeira, os capitalistas deixarão “a outra” humanidade à míngua.
 
Enquanto isso, os capitalistas declaram, em seus encontros de cúpula, “que há muita gente no mundo”.
 
* Paul Craig Roberts, Diretor do Institute for Political Economy. Versão original do artigo aqui.
 
Tradução: Louise Antônia León

Programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Um escândalo oculto: o programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Um escândalo oculto: o programa dos EUA para a deserção de médicos cubanos

Charge: Latuff


Uma das iniciativas mais mesquinhas na guerra de desgaste, do governo dos EUA contra Cuba é o chamado Cuban Medical Professional Parole, programa do Departamento de Estado  que tem como objetivo conseguir a deserção, mediante suborno, de médicos que integram as brigadas de solidariedade de Cuba no mundo.
 Trata-se de um verdadeiro escândalo moral em torno do qual os meios de comunicação, que possuem todos os detalhes sobre o caso, preferem silenciar, pois falar sobre este episódio lamentável iria forçá-los a revelar a imensa solidariedade prestada por Cuba no campo da medicina como, por exemplo, o fato de que este país tem mais de 37.000 profissionais de saúde cooperando em 77 países pobres, o maior índice mundial, representando 45% dos programas de cooperação Sul-Sul na América Latina; ou ainda que, 40% dos cuidados contra cólera no Haiti, das cirurgias oftalmológicas, realizadas gratuitamente e, que atingiram um milhão e meio de pessoas sem recursos, foram executadas neste país por profissionais de saúde cubanos; ou que Cuba 
tem atualmente cerca de 4.000 estudantes de medicina com bolsa de estudos de 23 países, incluindo os EUA.
 Que tudo isso que seja realizado por um país pobre e bloqueado como Cuba é algo muito forte para que se permita que seja dado a conhecer ao público, ao qual os grandes meios de comunicação só apresentam as deficiências e déficits cubanos.
 O programa Professional Parole Cuban Medical é uma iniciativa coordenada desde 2006 pelo Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos.  Como se pode ler nos sítios destes organismos, as embaixadas dos Estados Unidos em qualquer país mundo oferecem um tratamento especial e rápido que permite aos médicos (as) e enfermeiras (os) e técnicos de laboratório cubanos emigrarem para os EUA.
Um telegrama da embaixada dos EUA em Caracas, revelado por Wikileaks, mostra outros detalhes como, por exemplo, que as embaixadas norte-americanas fornecem transporte para Miami em aviões especiais para aqueles que são cooptados por este programa.
O jornal The Wall Street Journal, em janeiro de 2011, a titulo de propaganda, informou que, desde a criação do Parole Cuban Medical, há quatro anos e meio, 1.574 participantes das ações de solidariedade cubanas, em 65 países foram cooptados. O dado parece significativo, mas façamos um cálculo simples para avaliar o impacto real da iniciativa. 
Se considerarmos que, como alegado pelo jornal acima referido, apenas em um ano (em 2010), havia mais de 37 mil colaboradores cubanos e, que o período de permanência no exterior, embora variado, dependendo da missão, geralmente é de cerca de dois anos, nesses 4,5 anos Cuba enviou ao exterior pelo menos 83 mil profissionais da área médica. Desta maneira, os 1574 médicos capturados pelo programa dos Estados Unidos representam apenas 1,89% do total. Estes resultados revelam um claro fracasso, se considerarmos que a iniciativa tem orçamento federal, centenas de funcionários a sua disposição, que é impulsionado por todas as embaixadas dos Estados Unidos 
no mundo e, que tem poderosos aliados políticos e na mídia em diversos países.
 Não é gratuito que o maior número de profissionais que aderiram ao programa Professional Parole Cuban Medical  tenha exercido seu trabalho na Venezuela. Este país possui o maior número de médicos cubanos que cooperam em comunidades carentes, vinculados ao programa de saúde Missão Bairro Adentro. É evidente que, neste caso, ademais de atacar Cuba há um propósito suplementar: minar o prestígio social da Missão Barrio Adentro, sem dúvida o mais bem-sucedido programa social do governo Chávez e, no qual a cooperação médica de Cuba desempenha um importante papel.
Esta iniciativa do governo dos EUA revela a utilização da questão da emigração cubana com vistas a desestabilização social e política. Nos recordemos que a Lei 1.966, Lei de Ajuste Cubano , concede a todo cubano que pise em território norte-americano autorização de residência bem como, benefícios sociais e incentivos para conseguir emprego, algo negado ao restante da emigração latino-americana  a qual, aliás, é vítima de uma política sistemática de expulsão. No entanto, com tudo isso os números da emigração cubana para os EUA são claramente inferiores aos dos outros países da região.
 O programa de cooptação de profissionais de saúde cubanos tem o apoio, direto ou indireto, de outros agentes. Em primeiro lugar, da grande mídia. A grande imprensa privada dos países em que a ajuda cubana tem maior significação como, por exemplo, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, tem ocultado o grande impacto social desses programas médicos, dando cobertura extraordinária ao abandono de médicos cubanos.
 Desde Miami, supostas "ONGs" também apoiam o recrutamento de médicos cubanos. Tal é o caso de "Solidariedade sem Fronteiras" , que chamou de "Bairro Fora" sua colaboração especial com o governo dos EUA. Em seu sítio web disponibiliza formulários à serem preenchidos pelos médicos bem como, 
os endereços das embaixadas e consulados dos Estados Unidos para que eles devem buscar.
 Esta organização promoveu ação judicial, junto ao Tribunal Federal de Miami, na qual vários médicos cubanos que desertaram buscavam da PDVSA indenizações no valor 450 milhões de dólares a titulo de compensação por alegado "trabalho forçado" ou, trabalho de "escravos modernos", expressões utilizadas para definir o trabalho de assistência médica de apoio exercida em bairros desfavorecidos e comunidades rurais da Venezuela, lugares onde, por sinal, ninguém os obrigou a ir. 
 De recordar que a cooperação médica cubana na Venezuela tem características especiais, em comparação com outros programas de ajuda médica cubana: é parte de um acordo bilateral que Cuba dispõe de milhares de profissionais da saúde, educação, esporte, agricultura e outros setores, e para o qual a Venezuela fornece petróleo para Cuba em condições preferenciais.
 Apesar do silêncio da mídia, Cuba ganhou com os seus programas de solidariedade internacional, uma sólida reputação junto população e governos de inúmeros países do Terceiro Mundo. Para destruí-lo, o governo dos EUA usa de seu poderio econômico e diplomático. Enquanto isso, a grande mídia, esquecendo sua função social, oculta da opinião pública o exemplo de solidariedade internacional que Cuba oferece ao mundo bem como, a existência de uma das iniciativas de diplomacia suja mais imoral dos últimos tempos.
 Fonte: http://www.cubadebate.cu

Por José Manzaneda, no site Cubadebate
Tradução: Lúcio Costa

Uma das iniciativas mais mesquinhas na guerra de desgaste, do governo dos EUA contra Cuba é o chamado Cuban Medical Professional Parole, programa do Departamento de Estado (1) que tem como objetivo conseguir a deserção, mediante suborno, de médicos que integram as brigadas de solidariedade de Cuba no mundo.

Trata-se de um verdadeiro escândalo moral em torno do qual os meios de comunicação, que possuem todos os detalhes sobre o caso, preferem silenciar, pois falar sobre este episódio lamentável iria forçá-los a revelar a imensa solidariedade prestada por Cuba no campo da medicina como, por exemplo, o fato de que este país tem mais de 37.000 profissionais de saúde cooperando em 77 países pobres, o maior índice mundial, representando 45% dos programas de cooperação Sul-Sul na América Latina; ou ainda que, 40% dos cuidados contra cólera no Haiti, das cirurgias oftalmológicas, realizadas gratuitamente e, que atingiram um milhão e meio de pessoas sem recursos, foram executadas neste país por profissionais de saúde cubanos; ou que Cuba tem atualmente cerca de 4.000 estudantes de medicina com bolsa de estudos de 23 países, incluindo os EUA.

Que tudo isso que seja realizado por um país pobre e bloqueado como Cuba é algo muito forte para que se permita que seja dado a conhecer ao público, ao qual os grandes meios de comunicação só apresentam as deficiências e déficits cubanos.

O programa Professional Parole Cuban Medical é uma iniciativa coordenada desde 2006 pelo Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos.  Como se pode ler nos sítios destes organismos, as embaixadas dos Estados Unidos em qualquer país mundo oferecem um tratamento especial e rápido que permite aos médicos (as) e enfermeiras (os) e técnicos de laboratório cubanos emigrarem para os EUA.

Um telegrama da embaixada dos EUA em Caracas, revelado por Wikileaks, mostra outros detalhes como, por exemplo, que as embaixadas norte-americanas fornecem transporte para Miami em aviões especiais para aqueles que são cooptados por este programa.
O jornal The Wall Street Journal, em janeiro de 2011, a titulo de propaganda, informou que, desde a criação do Parole Cuban Medical, há quatro anos e meio, 1.574 participantes das ações de solidariedade cubanas, em 65 países foram cooptados. O dado parece significativo, mas façamos um cálculo simples para avaliar o impacto real da iniciativa. 
Se considerarmos que, como alegado pelo jornal acima referido, apenas em um ano (em 2010), havia mais de 37 mil colaboradores cubanos e, que o período de permanência no exterior, embora variado, dependendo da missão, geralmente é de cerca de dois anos, nesses 4,5 anos Cuba enviou ao exterior pelo menos 83 mil profissionais da área médica. Desta maneira, os 1574 médicos capturados pelo programa dos Estados Unidos representam apenas 1,89% do total. Estes resultados revelam um claro fracasso, se considerarmos que a iniciativa tem orçamento federal, centenas de funcionários a sua disposição, que é impulsionado por todas as embaixadas dos Estados Unidos no mundo e, que tem poderosos aliados políticos e na mídia em diversos países.

Não é gratuito que o maior número de profissionais que aderiram ao programa Professional Parole Cuban Medical  tenha exercido seu trabalho na Venezuela. Este país possui o maior número de médicos cubanos que cooperam em comunidades carentes, vinculados ao programa de saúde Missão Bairro Adentro. É evidente que, neste caso, ademais de atacar Cuba há um propósito suplementar: minar o prestígio social da Missão Barrio Adentro, sem dúvida o mais bem-sucedido programa social do governo Chávez e, no qual a cooperação médica de Cuba desempenha um importante papel.
Esta iniciativa do governo dos EUA revela a utilização da questão da emigração cubana com vistas a desestabilização social e política. Nos recordemos que a Lei 1.966, Lei de Ajuste Cubano (2) ,concede a todo cubano que pise em território norte-americano autorização de residência bem como, benefícios sociais e incentivos para conseguir emprego, algo negado ao restante da emigração latino-americana  a qual, aliás, é vítima de uma política sistemática de expulsão. No entanto, com tudo isso os números da emigração cubana para os EUA são claramente inferiores aos dos outros países da região.
O programa de cooptação de profissionais de saúde cubanos tem o apoio, direto ou indireto, de outros agentes. Em primeiro lugar, da grande mídia. A grande imprensa privada dos países em que a ajuda cubana tem maior significação como, por exemplo, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, tem ocultado o grande impacto social desses programas médicos, dando cobertura extraordinária ao abandono de médicos cubanos.

Desde Miami, supostas "ONGs" também apoiam o recrutamento de médicos cubanos. Tal é o caso de "Solidariedade sem Fronteiras" (3), que chamou de "Bairro Fora" sua colaboração especial com o governo dos EUA. Em seu sítio web disponibiliza formulários à serem preenchidos pelos médicos bem como, os endereços das embaixadas e consulados dos Estados Unidos para que eles devem buscar.

Esta organização promoveu ação judicial, junto ao Tribunal Federal de Miami, na qual vários médicos cubanos que desertaram buscavam da PDVSA indenizações no valor 450 milhões de dólares a titulo de compensação por alegado "trabalho forçado" ou, trabalho de "escravos modernos", expressões utilizadas para definir o trabalho de assistência médica de apoio exercida em bairros desfavorecidos e comunidades rurais da Venezuela, lugares onde, por sinal, ninguém os obrigou a ir.

De recordar que a cooperação médica cubana na Venezuela tem características especiais, em comparação com outros programas de ajuda médica cubana: é parte de um acordo bilateral que Cuba dispõe de milhares de profissionais da saúde, educação, esporte, agricultura e outros setores, e para o qual a Venezuela fornece petróleo para Cuba em condições preferenciais.

Apesar do silêncio da mídia, Cuba ganhou com os seus programas de solidariedade internacional, uma sólida reputação junto população e governos de inúmeros países do Terceiro Mundo. Para destruí-lo, o governo dos EUA usa de seu poderio econômico e diplomático. Enquanto isso, a grande mídia, esquecendo sua função social, oculta da opinião pública o exemplo de solidariedade internacional que Cuba oferece ao mundo bem como, a existência de uma das iniciativas de diplomacia suja mais imoral dos últimos tempos.

1 - http://www.state.gov/p/wha/rls/fs/2009/115414.htm
2 - http://www.uscis.gov/green-card/other-ways-get-green-card/green-card-cuban-native-or-citizen
3  - http://www.ssfin.org/

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ucrânia e Venezuela: diferenças


Diferenças entre Venezuela e Ucrânia

viCman/Rebelión
Por FC Leite Filho, no blog Café na Política:

Não quero plagiar a Dilma, para quem “a Venezuela não é a Ucrânia”, mas tentar estabelecer as diferenças dos dois processos, ambos empurrados para a guerra civil, em função do jogo de interesses das potências ocidentais e suas gigantescas transnacionais petrolíferas e midiáticas.

Comecemos pela Venezuela. Rica em petróleo, esta nação, situada ao noroeste de nosso Brasil, é sacudida por intermitentes tumultos, desde 1999. Nesse ano, ela abandonou sua condição de quase protetorado dos Estados Unidos. Por isso, derrotou o analfabetismo, a miséria absoluta em que viviam mais de 50% da população, o desemprego e a subnutrição.

Hoje, o país é o segundo da América Latina em número de universitários por habitante, vencendo mesmo a culta Argentina, só perdendo para Cuba. Para chegar a esta situação confortável, o governo bolivariano gastou 150 bilhões de dólares da conta petróleo. Era o dinheiro que ia, por baixo do pano, para as transnacionais petrolíferas, os tubarões estadunidenses e europeus, com sobras gordas para a oligarquia local. Esses setores não se conformam com a perda da galinha dos ovos de ouro e, com a mídia como principal aríete arremetem, desde então toda sorte de ataque às estruturas do país.

À diferença da Ucrânia, país eslavo a 10 mil km de distância e que agora cai, pela segunda vez nas mãos da direita (a primeira foi com a revolução laranja, responsável pela introdução de um neoliberalismo selvagem que desmantelou a indústria e fez explodir o -desemprego), o país sul-americano repeliu todas as arremetidas forâneas.

Com férrea determinação exercida por uma liderança política de descortino só comparável a Fidel Castro, coisa que os ucranianos estão longe de demonstrar, na atualidade, o presidente Hugo Chávez conseguiu, nos seus quase 14 anos de poder, aprofundar os avanços sociais e de soberania, no que foi reforçado por uma política de integração com os demais presidentes progressistas da região, inclusive do Brasil e da Argentina, os dois maiores do subcontinente. Chávez morreu de câncer, logo depois de ganhar com folga sua terceira eleição, mas passou o poder a seu fiel escudeiro, Nicolás Maduro, também eleito democraticamente e que tem exibido igual domínio das rédeas do processo.

É importante que se recorde as investidas anteriores contra o regime bolivariano, muito mais graves do que a atual, para que não caiamos no simplismo de engolir as informações distorcidas de que o governo do vizinho esteja a pique. Em seguida, vamos fazer a mesma introspecção na situação ucraniana

11/04/2002 - Hugo Chávez, há três anos no governo, é deposto por uma passeata de meio milhão de pessoas no rumo do Palácio Miraflores. No meio do cortejo anti-governista, 11 manifestantes tombam mortos por tiros disparados por sicários a mando da cúpula oculta do próprio movimento, como se comprovou depois. As redes de TV e rádio privadas suspendem suas novelas e até publicidade para concentrar-se na cobertura da passeata de mais de 10 horas e no incitamento sistemático da população contra o presidente.
Supostamente indignados com o massacre, os militares dão o golpe e prendem Chávez, ele próprio um militar. Mas isto só durou 48 horas, tempo suficiente para os golpistas mostrarem seu rosto: fechando o Parlamento, depondo os governadores eleitos de 23 Estados e estabelecendo total censura de informação. Aqui, entra um elemento fundamental não disponível hoje na Ucrânia: o povo organizado, que, mesmo debaixo da maior auto-censura da mídia, ganha as ruas, desta vez com dois milhões de pessoas, arranca Chávez da prisão e o restitui ao Palácio de Miraflores.

12/2002 e 02/2003 - Um lockout, greve patronal, conhecido como o paro petrolero, tenta paralisar, durante 63 dias, rigorosamente, todas as atividades do país, a começar da PDVSA, a empresa de petróleo e responsável por 90% da renda do país. Fecham lojas, supermercados, shoping centers, escolas, estádios de futebol, cinemas. Os venezuelanos não puderam sequer comemorar o Natal e o Ano Novo. Faltou gasolina e o desabastecimento ameaçava causar a fome.

Chávez utilizou o Exército para abrir e operar os supermercados, invadiu os navios petroleiros em greve no alto mar , fazendo-os funcionar, e assumiu o controle de câmbio, para deter a evasão de divisas. Ao mesmo tempo, a população permaneceu mobilizada nas ruas e em casa, para respaldar as medidas governamentais. 80 generais da ativa e da reserva sublevaram-se, tomando a Praça Altamira, a mesma em Chacal, que hoje serve de cenário para os atos violentos das atuais manifestações, atribuídas a estudantes. No início de fevereiro de 2003, Chávez, já no domínio da situação, demite mais de 20 mil engenheiros e dirigentes da PDVSA, por alta traição. Também, reforma mais de 300 altos ofiiciais, e segue com sua revolução bolivariana. Mas o país tinha sofrido um encolhimento no PIB de cerca de 60%.

15/08/2004 - Data do referendo revogatório, exigido pela oposição para cassar o mandato de Chávez, em meio a uma campanha de desmoralização, conduzida pelos meios de comunicação de praticamente todo o planeta, dominando mais de 90 da audiência. Hugo Chávez ganha o referendo por 58% e aproveita a oportunidade para aprofundar suas reformas sociais e econômicas. Os extremistas da oposição tentam mergulhar o país em nova crise, mas vêem-se desmoralizados em suas alegações de fraude eleitoral: a lisura do pleito havia sido atestada por observadores internacionais, inclusive o Center Jimmy Carter, do ex-presidente dos Estados Unidos.

27/05/2007 - Por não ter renovado a licença da RCTV (Rede Caracas de Televisión), a maior rede de TV do país, em funcionamento desde 1953, Chávez sofre virulenta campanha internacional, seguida de atos vandálicos nos principais centros do país. O presidente, que acusou a TV de insistir no golpismo contra as instituições, manteve sua decisão de ocupar militarmente o canal e fazer dele uma nova rede do governo, a TVS, que se juntou à Telesur e à VTV. Mas ele ainda ainda teve de aguentar alguns dias de tumulto e atentados a bens públicos, para dominar anarquia que se instalou nos bairros ricos de Caracas e outras cidades, tendo, para isso, de utilizar um dispositivo de 120 mil soldados.

25/08/2012 - O presidente Hugo Chávez já estava gravemente enfermo, quando uma explosão criminosa na refinaria Amuay, a maior do mundo, causa a morte de 48 pessoas e ferimentos em uma centena. Uma investigação concluiu que o vazamento responsável pelo incêndio foi propositado, como frisou o ministro das Minas e Energia e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez.

14/04/2013 - Nicolás Maduro se elege presidente, sucedendo a Hugo Chávez, falecido em cinco de março, com apenas 1,5%, ou 300 mil votos, de vantagem sobre Henrique Capriles Radonski, candidato único das oposições. Capriles não aceita o resultado, faz novas acusações de fraude e convoca seus aliados a manifestar-se nas ruas. Atos vandálicos contra escolas e postos de saúde, onde atuam médicos e professores cubanos, redundam na morte de 11 pessoas e cerca de 80 feridos, em 20 dias de distúrbios que assaltaram várias capitais venezuelanas. Maduro manda recontar os votos e assume oficialmente no dia 19 do mesmo mês, iniciando um mandato de seis anos.

11/2013 – Uma explosão de preços, com remarcações, que chegaram a atingir, em alguns casos, até 12 mil por cento, aliada à escassez de produtos de primeira necessidade, levou o presidente Nicolás Maduro a decretar uma série de medidas. Elas obrigaram os comerciantes, desta vez pressionados pelo Eército e o povo na rua, a restabelecer os preços antigos e avender os produtos que haviam escondido em seus depósitos.

“Esta guerra econômica foi decidida na Casa Branca. Faz parte dos fatores de poder nos Estados Unidos, acreditando que tinha chegado o momento de destruir a revolução bolivariana”, disse o presidente. A manobra, entretanto, não foi capaz de evitar nova vitória do governo na eleição municipal de dezembro, quando os chavistas ganharam por 11,5%, dez pontos a mais que a estreita margem da eleição presidencial, em que concorreram Maduro e Henrique Capriles, este candidato único da oposição.

03/12/2013 – A cinco dias da eleição municipal, quase toda a Venezuela, incluindo a capital, Caracas, ficou sem luz devido a um colapso no fornecimento de energia elétrica. O apagão ocorreu durante um discurso televisivo do presidente Nicolás Maduro e uma partida de basquete. Maduro entendeu tratar-se de uma ação subversiva planejada de fora, e ordenou colocar as forças armadas e de segurança em estado de alerta máximo.

23/01/2014 – Renunciando à via eleitoral e institucional, a oposição se bifurca, tendo a vertente mais extremista , liderada por Leopoldo López, ex-agente da CIA, novamente assaltado as ruas, incendiando escolas, postos de saúde, estações do metrô e atentado contra as redes elétricas. Os distúrbios já causaram 15 mortos e tendem a continuar, mas o governo bolivariano, parece novamente no domínio do processo, inclusive porque os atos são de puro terrorismo e são rechaçados por 85% da população. Esta sofre com o trancamento de ruas, depredações, sujeira e detritos infestando as principais vias do país.

Agora analisemos a Ucrânia. Um presidente tíbio e enredado em profundas contradições foi incapaz de domar uma turba violenta de leões de chácara, lutadores de boxe e grupos assumidamente nazistas que havia três meses ocupava, incendiava e assassinava soldados e adversários, na praça do Parlamento, onde também se situam os principais prédios públicos.

Viktor Ianukovitch viu-se finalmente deposto por um golpe parlamentar e fugiu da capital, deixando o poder com os insurretos, financiados e treinados pela Europa e os Estados Unidos, interessados nesta área altamente estratégica e tradicionalmente aliada da Rússia.

Tomaram o poder? Longe disso. No máximo, podem ter precipitado a partição daquele imenso país, o maior em território e celeiro da Europa. Talvez nem isso consiga, porque, como ocorreu com a revolução laranja, de 2004, quando assumiram o poder formal em Kiev, tiveram de sair correndo três anos depois, porque os ucranianos não aceitaram a dilapidação de seu patrimônio e a receita do FMI.

Os principais líderes laranjas, o corrupto Viktor Yushchenko e a bilionária Yulia Timoshenko, até há pouco amargavam na prisão, condenados por desvio de verbas, isso depois de terem sido escorraçados nas urnas pelo mesmo tipo de eleitorado iludido que hoje aclama os “heróis da Praça Maidan”, outro nome dado à Praça da Independência..

Menos de uma semana depois da queda de Yanukovicht lá já estavam os técnicos do FMI para aplicar uma política fiscal, com o mesmo receituário que nos aplicavam por aqui, com arrocho e congelamento salarial, cortes nos programas sociais, recessão econômica e privatização do Estado. O país tem de pagar só este ano 35 bilhões de dólares e a Europa e Estados Unidos já avisaram que o dinheiro tem de ficar a cargo dos ucranianos.

A Rússia, que se habilitara a pagar a conta em contrapartidas bem mais suaves, certamente vai retirar a proposta, além de suspender as parcelas mais gordas do empréstimo de 15 bilhões prometidos ao antigo governo. Isolada na Praça Maidan, a turba que controla a Praça da Independência, sempre falando em nome da sociedade civil e indicando os nomes do novo governo, terá também pela sua frente a ameaça concreta de separação das regiões leste e sul, fronteiriças ao antigo território soviético, e onde estão concentradas as indústrias. Os nacionalistas já saíram às ruas para pedir a autonomia da Crimeia, outro território rico à beira do Mar Negro, onde uma base naval, reforçada pelo governo do presidente Vladimir Putin, deverá garantir as aspirações dos 60% da população de origem russa daquele território.

A Ucrânia é um país geográfica, étnica, econômica, cultural e militarmente dividido. Quase um quarto da população, vivendo nas regiões sul e leste do país, é de origem russa e fala a língua de seus antepassados, de quem se consideram aliados incondicionais, inclusive por uma questão de sobrevivência.

Finalmente, há a questão estratégica. O governo Putin já avisou que não vai aceitar a aberta ingerência da Europa e dos Estados Unidos, na sua fronteira, sobretudo agora, que já recuperou boa parte de seu poderio militar, destroçado depois da aventura da Perestroika e do consequente colapso do então Bloco Soviético.

Como se sabe, o trunfo russo não reside apenas na força militar e atômica que, segundo o politólogo Moniz Bandeira, autor do livro A Segunda Guerra Fria, recentemente lançado pela Editora Civilização Brasileira, permaneceu quase intacto depois da dissolução do bloco soviético. Ele está também em mais de 50% da energia (petróleo e gás natural) com que a Rússia abastece a Europa, através o gasoduto, que inclusive passa pela Ucrânia, país altamente dependente neste setor e que agora terá que se virar para pagar o preço real pelo seu uso e não mais o preço camarada de que desfrutava até a “revolução” de Maidan.

Como o fez com a Geórgia, que depois de tomada pelo Ocidente, em 2003, Putin dividiu em três, propiciando a independência da Ossétia e da Abecásia, estas ficando sob influência russa. O presidente da antiga segunda potência também anunciou seu propósito de instalar bases militares na Venezuela, Cuba e Nicarágua, da mesma maneira que os Estados Unidos fizeram com seus vizinho na região do Cáucaso.

Está reinstalada a guerra fria, dirão alguns, mas pelo menos estes países, sob ameaça permanente de invasão pelo Exército norte-americano, terão uma proteção contra aventuras intervencionistas, como Cuba teve no passado com a velha União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ou alguém tem dúvida de que a URSS teria impedido a invasão do Iraque, Afeganistão e a guerra civil na Síria?

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Existem poderosos interesses no mundo a quem convém que pouco ou nada se saiba sobre a verdade dos conflitos que surgem na África negra.

Existem poderosos interesses no mundo a quem convém que pouco ou nada se saiba sobre a verdade dos conflitos que surgem na África negra.

Basem Tajeldine*

 
Enquanto o sangue dos povos africanos é derramado em torrente, as companhias petrolíferas e mineiras das potências imperialistas preparam-se para se apropriar das suas riquezas.

Da República Centro-Africana (622.089 m2, habitada por 5 milhões de pessoas), apenas se sabe que enfrenta um conflito «étnico e religioso» e que «2,6 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária imediata, e um de cada cinco centro-africanos se encontram internamente deslocados. Números que poderão aumentar à medida que o conflito coloca milhões de pessoas em situação de risco». (1) Mas, nada se diz das implicações das transnacionais francesas e do próprio estado francês por detrás do conflito que aquele país vive.
Poucos meios internacionais se preocuparam em destacar informações precisas que nos permitam interpretar o que realmente acontece hoje na República Centro-Africana. Existem interesses poderosos no mundo a quem convém que pouco ou nada se divulgue sobre a verdade dos conflitos que se suscitam na África negra. Para esses interesses e suas transnacionais mediáticas é necessário que a opinião pública mundial generalize e banalize a realidade que se apresenta em vários países daquele continente, fundamentalmente as fomes e os conflitos por disputa territorial entre as diversas comunidades étnicas, de forma que permita condicionar a opinião para justificar a intervenção militar da Europa e dos Estados Unidos sob pretextos «humanitários». Enquanto o sangue dos povos africanos é derramado em torrente, as companhias petrolíferas e mineiras das potências preparam-se para se apropriar das suas riquezas.
A crise económico-financeira que se vive em toda a União Europeia incita à rapina das potências contra a periferia capitalista. E como as coisas não têm andado bem para a França decadente, tem-se visto a necessidade de assaltar outras terras para amparar a sua crise e manter a sua hegemonia nas suas ex-colónias. Os dados económicos revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB) da França vem caindo (2), marcando a mesma tendência nos últimos anos. Enquanto o desemprego já ultrapassa os números oficiais calculados em 11%.
As políticas internas e externas assumidas pelo regime francês para enfrentar a crise económica acabaram por desmascarar o desprestigiado ultraliberal com máscara «socialista», o presidente François Hollande, que prometeu novos cortes na despesa pública superior a 50 mil milhões de euros (3), e simultaneamente pediu aos militares franceses para se alistarem numa nova aventura bélica contra outra ex-colónia francesa para «proteger» a população civil.
Depois de o fazer na Costa do Marfim, Líbia e Mali, a França decidiu intervir militarmente na República Centro-africana para «levar a paz» a esse povo. Com efeito, Hollande não duvidou sequer em completar o envio de 1.600 «angelicais» soldados franceses para fazer «a paz» e salvar o povo centro-africano da suposta guerra étnica e religiosa.
A 6 de Dezembro de 2013, durante a Cimeira África-França no Palácio do Eliseu, François Hollande declarou à imprensa que a operação militar na República Centro-Africana, denominada «Sanguiris», é a resposta a uma «situação catastrófica» que o seu povo vive, o qual pediu a ajuda da França (…) Os franceses devem estar orgulhosos por intervir em qualquer lugar desinteressadamente». E como era de esperar, a ONU votou rapidamente a Resolução 2127, que autorizou a intervenção militar gaulesa.
Desde 1960 o povo centro-africano sofreu 6 golpes de Estado promovidos por interesses transnacionais que o levaram à anarquia. Os sucessivos presidentes centro-africanos David Dacko, Bokassa I, André Kolingba, Ange F. Patasse, François Bozizé, Michel Djotodia, foram responsáveis conjuntamente com a França pelo desastre. Na opinião do famoso investigador Olivier A. Ndenkop «a mão da França, potência colonizadora, foi sempre vista ou anunciada por detrás dos vários golpes de estado” (4).
No seu trabalho mais recente intitulado «As razões ocultas da intervenção francesa», Ndenkop assegura que a França sempre manteve interesses na República Centro-Africana. « (a França) Hoje em dia controla a economia centro-africana. Bolloré tem o monopólio da logística e do transporte fluvial. Castel reina sobre o mundo do mercado das bebidas e do açúcar. CFAO controla o comércio de veículos. A partir de 2007, a France Telecom entrou no baile. AREVA está presente na África Central embora, oficialmente, o gigante nuclear esteja apenas na fase de exploração. TOTAL reforça a sua hegemonia no armazenamento e na comercialização de petróleo.»
Ndenkop revela que a 4 de Dezembro de 2013, enquanto as tropas francesas se preparavam para tomar a direcção de Bangui, o ministro francês da economia, Pierre Moscovici, estava reunido com ministros, chefes de estado e com mais de 560 empresários franceses e africanos para tratar de salvar a posição da França na África.
Mas a pergunta crucial que muitos fazem — Porque procura a França por meio da guerra o que sempre conseguiu numa paz relativa? Para o investigador Olivier A. Ndenkop a resposta é: a China, a verdadeira ameaça para o Eliseu.
Desde que a China fez a sua entrada crucial na África em busca da matérias-primas, fundamentalmente hidrocarbonetos, uma espécie de feitiço conjurado pela França fez com que se atiçassem todos os conflitos étnicos e religiosos nesse e noutros países do continente para derrubar os governos que se aliaram ao gigante asiático.
A maior parte dos investimentos estrangeiros concentraram-se na Nigéria, África do Sul, Sudão, Argélia, Zâmbia, Gana, República Democrática do Congo e Etiópia (5).
Ndenkop afirma que «François Bozizé, que teve o tempo de se fazer eleger presidente em 2005, não resistiu às propostas da China, que multiplicou as ajudas e aumentou os seus investimentos em todo o continente com menos condicionamentos. O que contrasta com a arrogância e o paternalismo dos “sócios tradicionais” da África»
Em Março de 2013, o deposto presidente François Bozizé revelaria à Rádio França Internacional o que muitos desconfiavam «Dei o petróleo aos chineses e isso tornou-se um problema (…) derrubaram-me por culpa do petróleo».

*Analista Internacional

Fontes:
(1) http://www.fao.org/emergencies/resources/documents/resouces-detail/en/c213104/
(2) http://www.datosmacro.com/pib/francia
(3) http:www.correodelorinoco.gob.ve/multipolaridad/gobierno-frances-reducira-aun-mas-gasto-publico/
(4) http://www.lahaine.org./index.php?p=74287
(5) http://actualidade.rt.com/actualidad/view/99381-africa-sierra-leona-china-aumenta-presencia