terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

ISRAEL PODE ENSINAR AO BRASIL COMO CONFINAR OS POBRES

Por Tali Feld Gleiser.

Antrop. O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc. (Dicionário Aurélio).

f. Conjunto de conhecimentos que permite que uma pessoa desenvolva seu julgamento crítico. (Real Academia Espanhola).

Parece que o julgamento crítico dos membros do Mercosul desapareceu definitivamente.

Em dezembro de 2007 firmou-se em Montevidéu um TLC entre este organismo e o estado de Israel. É uma vergonha para nós, habitantes desses países e latino-americanos um TLC e mais ainda com Israel.

O Brasil, destino de 77% das vendas israelenses aos membros do Mercosur, de acordo com o Ministro das relações exteriores Celso Amorim, foi além do TLC. Em recente vista a Israel, o Ministro assinou um acordo de cooperação cultural com esse país. Pergunto-me que tipo de cultura nos poderá transmitir um país cujo currículo escolar “alimenta o ódio aos árabes em geral e aos palestinos em particular, despojando-os de sua humanidade e descrevendo-os como selvagens, violentos, terroristas, retrasados, criminosos, sujos e animalizados”.[1]

“As crianças israelenses aprendem que a Terra Prometida de Deus tinha sido roubada por ladrões pagãos (árabes e muçulmanos) e que é um dever religioso cumprir o desejo religioso de Deus de limpar a Terra Prometida destes pagãos e construir uma casa para Deus”.[2] Ninguém pode reclamar que o estado de Israel não siga estes preceitos religiosos. Os goyim (não judeus) têm que desaparecer da terra prometida só para o povo escolhido por Deus.

Talvez o governo brasileiro pensasse que Israel poderia lhe ensinar como confinar os pobres em territórios onde falta literalmente tudo. Sabe-se que as favelas brasileiras são locais inabitáveis, mas, graças à cultura israelense de esmagar as casas com bulldozers, de destruir milhares de mesquitas e todo vestígio da sua cultura, as favelas poderiam ser urbanizadas, varrendo do mapa construções e habitantes. Negros, indígenas e minorias em geral deteriam de vez a sua mobilização popular já quase inexistente. Para que discutir as cotas raciais nas universidades brasileiras se o exemplo sionista for seguido?

E para que discutir a militarização das favelas se com a venda de armas e os sábios conselhos dos serviços de inteligência israelenses seria possível aplicar bombas de fragmentação que acabariam com todos os problemas? Ou que tal importar paramilitares colombianos treinados pelo Mossad para acabar com o pouco que resta dos movimentos populares no Brasil? Muros? Não precisamos. O muro permanente que divide a sociedade brasileira faz com que seja um dos países com maior concentração de renda.

Engana-se o governo brasileiro se acredita que assinar um tratado de cultura com Israel é respeitar a devoção histórica do povo judeu à cultura e o uso do conhecimento em prol da raça humana. O estado de Israel não tem nenhuma dessas características. Pelo contrário, quanto mais alienado e temeroso forem os israelenses-judeus, mais fácil será manter a apartheid e os privilégios de uns poucos. Israel pode nos transmitir como desconhecer sua própria história. Será que para o governo brasileiro é disso que o povo brasileiro precisa?

[1] Eli Bodia, pesquisador israelense da Universidade de Haifa. Estudo sobre o currículo acadêmico de história intitulado "A luta israelense nos livros de história acadêmicos hebreus".

[2] Elias Akleh. O terrorista sistema educativo israelense. www.rebelion.org

O atual governo e suas políticas são inimigos do avanço das esquerdas e das verdadeiras transformações sociais

O atual governo e suas políticas são inimigos do avanço das esquerdas e das verdadeiras transformações sociais



Hamilton Octavio de Souza


O governo Lula corrói a esquerda silenciosamente, por dentro, nas entranhas, como o câncer. É diferente do que acontece quando se tem a luta aberta contra a direita, quando é possível identificar mais claramente os inimigos. Dizer o óbvio, que a direita é mais truculenta do que a geléia geral do governo Lula, não contribui para definir a tática da esquerda. A geléia geral é sim menos truculenta, mas é mais danosa na medida em que age no interior das fileiras da esquerda, divide as forças, acomoda, corrompe, coopta, quebra a capacidade crítica e a combatividade. A direita no governo é mais dura nas bordoadas, mas causa menos danos à essência dos compromissos políticos e éticos da esquerda.


O raciocínio esquemático de setores da esquerda costuma enfatizar que fazer oposição ao governo Lula é apostar no pior, e que o pior só favorece os inimigos da esquerda. De acordo com esse raciocínio, é preferível engolir o governo Lula e a política hegemônica do PT do que entregar o governo para o PSDB-DEM e caterva. Se os inimigos verdadeiros são o capital, a burguesia e seus representantes, no momento atual a situação é altamente favorável aos inimigos, já que o modelo econômico mantido pelo governo Lula – e os grandes negócios do Estado com o empresariado – tem permitido a mais estupenda acumulação, total liberdade de atuação, entrega dos recursos naturais e do patrimônio nacional – praticamente sem restrições.


Nunca o capital viveu uma situação tão vantajosa nos mais de cem anos de República. Além disso, contribui para deixar o inimigo à vontade o fato real e concreto de que a força hegemônica nas esquerdas, o PT, consente com as políticas do governo Lula e não oferece nenhuma resistência à espoliação capitalista. O capital está nadando de braçada justamente porque a esquerda dividida fornece um ambiente de “tranqüilidade e paz” para o avanço do capital sobre as forças do trabalho.


O raciocínio político que precisa ser colocado na conjuntura não pode ser obviamente em cima das eventuais benesses – circunstanciais e passageiras – proporcionadas pelo atual governo. Mesmo porque não existe nada sob controle no jogo eleitoral. Essa visão é essencialmente fisiológica, na medida em que contempla vantagens e desvantagens da atual aliança com o capital, seja nas políticas assistencialistas, na suposta contenção da selvageria ou nas inúmeras sinecuras a setores da militância antes ignorados e excluídos. Não dá para confundir estratégia política com lealdade e gratidão.


O que precisa ser verificado realmente é a análise se tais ações de governo contribuem ou não para a organização e o acúmulo de forças no campo popular e das esquerdas. E está claro, até o presente momento, desde 1º de janeiro de 2003, que o governo do PT com as forças conservadoras e de direita tem contribuído muito mais para reorganizar esses setores dominantes, revitalizar antigas oligarquias, vitaminar os grupos empresariais – do que fortalecer o outro lado.


Pela lógica dos amigos e inimigos, podemos afirmar que o atual governo e suas políticas são inimigos do avanço das esquerdas e das verdadeiras transformações sociais. É claro que no balanço das relações clientelistas com a sociedade, o atual governo tem ampla vantagem em relação aos anteriores. Mas no processo de lutas de médio e longo prazo, o atual governo é mais corrosivo do que uma eventual articulação das esquerdas para o enfrentamento aberto contra as forças do capital.


A reunificação e o avanço das forças de esquerda, com o respaldo do movimento social popular, só pode acontecer no momento de convergência da análise centrada no combate às oligarquias, ao capital e ao imperialismo; na proposta de construção de uma nova sociedade sem oprimidos e sem explorados. Se o governo federal não soma nesse processo, não viabiliza avanços contra os verdadeiros inimigos do povo brasileiro, o terreno da luta e da aglutinação só são possíveis no campo da oposição. Fazer oposição ao governo, portanto, não é escolher o pior, é impedir que o pior continue inviabilizando a articulação de forças no campo das esquerdas, é estabelecer uma fronteira clara – para ser facilmente identificada pelo povo – entre aquilo que fortalece o modelo hegemônico do capital e o que constitui a alternativa nacional, popular e socialista.


Não dá mais para ficar jogando fumaça no quadro político. O caminho precisa ganhar nitidez.


Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.

Fidel Castro e o lixo midiático



Escrito por Altamiro Borges

A decisão de Fidel Castro, "o único mito vivo da humanidade", segundo a singela definição do presidente Lula, de deixar suas funções na presidência do Conselho de Estado de Cuba excitou os gusanos (vermes) do mundo todo. A mídia hegemônica tem dado amplo espaço para divulgar o seu "obituário precoce", como se o líder revolucionário tivesse morrido. Num ritual macabro, a máfia de Miami, o presidente-terrorista George Bush e a direita hidrófoba festejam o retorno do "livre mercado" e da democracia dos ricos à ilha. Precipitados, esquecem que este heróico povo resiste há 47 anos ao criminoso bloqueio dos EUA e que sobreviveu à débâcle do bloco soviético.

Na sua comovente mensagem ao povo cubano, publicada no jornal Granma, Fidel Castro explica os motivos da sua decisão. "Seria uma traição à minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total, caso eu não esteja em condições físicas para exercê-la. E eu o digo sem qualquer intuito dramático. Felizmente, nosso processo conta ainda com quadros da velha guarda, bem como outros que eram muito jovens quando se iniciou a primeira etapa da revolução. Alguns se incorporaram quase meninos aos nossos combates nas montanhas e, mais tarde, com seu heroísmo e suas missões internacionais, conquistaram glória imensa para o país. Eles contam com autoridade e experiência para garantir uma boa substituição".

"O caminho será sempre difícil e exigirá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis, da apologia aberta ou da sua antítese, a autoflagelação. É preciso estarmos preparados para a pior hipótese. E manter a prudência no sucesso e a firmeza na adversidade é um princípio do qual não nos devemos esquecer. O adversário a derrotar é muito forte, mas nos mantivemos em campo durante meio século. Não me despeço de vocês. Desejo combater apenas como soldado das idéias. Continuarei escrevendo sob o título ‘Reflexões do companheiro Fidel’. Será uma arma a mais com que poderemos contar em nosso arsenal. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso".

Reinaldo Azevedo

Diante da integridade, dignidade e altivez de Fidel Castro, causa indignação a postura rancorosa de alguns mentores da direita nativa, que gozam de fartos espaços na mídia e ainda enganam os inocentes inúteis. Reinaldo Azevedo, tucano de carteirinha da famíglia Civita, da revista Veja, foi um dos primeiros a soltar rojões com a notícia e a criticar as declarações respeitosas do presidente Lula. "A reação de Lula ao comentar a renúncia do coma andante me enjoou de fato... Terei de lembrar que o Partido Comunista de Cuba é o outro grande fundador do Foro de São Paulo, ao lado do PT. O Foro é aquela entidade que reúne entidades de esquerda da América Latina, incluindo os terroristas das Farc". Haja reacionarismo e ignorância!

Aliado carnal do torturador George Bush, a quem expressou apoio ao genocídio dos iraquianos, o colunista predileto da direita burra defende o desumano bloqueio dos EUA a Cuba – responsável por mais de US$ 136 bilhões de prejuízos, segundo estimativas mais modestas – e desdenha das conquistas sociais da revolução cubana, reconhecidas até pela ONU. Marionete da mídia venal nativa, uma das poucas no mundo que só trata o líder cubano como ditador, o rancoroso inimigo dos movimentos sociais e das forças de esquerda ainda critica a falta da democracia em Cuba. É doentio! Para elr, "os nossos ditadores não passam de soldadinhos de chumbo perto da máquina de matar de Fidel Castro" e "o porco fedorento Che Guevara era um assassino".

Diogo Mainardi

Outro pitbull da direita, o filhinho de papai Diogo Mainardi, também expressou no seu podcast da Veja sua alegria precoce. "Em sua carta de renúncia, Fidel Castro citou Oscar Niemeyer: ‘Deve-se ser conseqüente até o final’. Ninguém pode negar que Fidel tenha sido conseqüente até o final. Ele nunca parou de prender e fuzilar dissidentes políticos. Assim como Niemeyer nunca parou de faturar concorrências públicas", escreveu esta figurinha. Para ele, a "renúncia" foi insuficiente. "A cadeia teria sido melhor. Ou o túmulo!". Ele ainda criticou Barack Obama, que prometeu rever o embargo a Cuba caso vença as eleições nos EUA. "Primeiro, Cuba tem de se render. Só depois, com muito boa vontade, os EUA podem cogitar a hipótese de salvar o país".

Numa de suas obras mais famosas, "A história me absorverá", Fidel Castro apresenta sua heróica defesa diante do tribunal do ex-ditador Fulgencio Batista. Com sua decisão madura e responsável de deixar a presidência do Conselho de Estado, ele confirma sua posição de "único mito vivo da humanidade". Já os seus detratores da mídia burguesa, asquerosos e repugnantes, confirmam seu destino no lixo da história. Se é que merecem os gastos públicos com uma lata de lixo!

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro "Venezuela: originalidade e ousadia" (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).


Memphis Slim - Rockin' The Blues - 1981


Download aqui
(Gravacões de 1958-59)

No se puede mostrar la imagen “http://i7.ebayimg.com/02/i/000/da/39/7d8e_1.JPG” porque contiene errores.

Gotta Find My Baby
The Comeback
Messin' Around
Sassy Mae
Lend Me Your Love
Guitar Cha Cha
Stroll On Little Girl
Rockin' The House
Wish Me Well
Blue And Lonesome
My Gal Keeps Me Crying
Slim's Blues
Steppin' Out
Mother Earth
What's The Matter
This Time I'm Through


img165/9783/memphisslimrockin2bthebxl1.jpg



img127/2131/memphisslimzx8.jpg

Ex-militares que participaram do Araguaia processam Exército


Ex-militares piauienses estão entrando com ação na Justiça por terem sido enganados e induzidos a participarem de num conjunto de operações organizadas pelo Exército para conter a Guerrilha do Araguaia, movimento comunista de resistência à ditadura que aconteceu na década de 70, na região de Xambioá, Tocantins, e sul do Pará.


Cerca de 300 militares piauienses foram levados em caminhões para uma “manobra”, sem saber aonde iriam, na madrugada do dia 4 de agosto de 1972. Lá permaneceram até janeiro de 1973.

Agora, os ex-combatentes estão ingressando com pedidos de indenização contra o Exército. De acordo com o ex-militar Antonio dos Santos Nunes, a indenização não cobrirá todos os danos sofridos, já que a maioria dos danos é psicológica. Ainda assim, é uma compensação.

“Os militares sofreram todos os tipos de pressão psicológica. Passávamos dias e dias na selva, éramos instruídos e muitas vezes forçados a torturar os guerrilheiros. Fomos levados para Xambioá sem saber para onde iríamos e nem a natureza da tal manobra”, relata.

Segundo Nunes, alguns de seus colegas já entraram com ação e o Exército propôs rever a patente de cada um, considerando o tempo em que ficaram afastados, e aposentá-los, além de pagar uma indenização, cujo valor seria determinado por um juizado especial.

Recentemente, Carlos Lamarca, ex-capitão, considerado desertor, passou para general e sua viúva recebe pensão de capitão, além de indenização. Cada um de seus filhos recebeu indenização de R$ 100 mil.


A guerrilha

Antes de partirem, os militares passaram um mês presos no 25º Batalhão, em Teresina, passando por pesado treinamento de sobrevivência na selva e aprendendo técnicas de guerrilha. Durante esse tempo não puderam receber visitas de familiares e todas as ligações e correspondências eram vigiadas pelos superiores.

Quando chegaram a Xambioá, uma região inóspita, pouco habitada, depararam-se com a realidade: integrantes do Partido Comunista do Brasil preparavam um movimento contra a ditadura.

De acordo com o ex-militar Antonio dos Santos Nunes, nenhum detalhe da “manobra” (como os superiores chamavam a operação) foi repassado a eles.

Lá procuravam pelos cerca de 80 comunistas dia e noite. A ordem era conter o movimento, nem que para isso fosse preciso matar. Como os comunistas estavam infiltrados na comunidade, vivendo como os nativos, a guerrilha durou mais tempo do que o previsto pelo Exército.

Muitos guerrilheiros e soldados morreram. Outros contraíram doenças como malária, febre amarela, verminoses e há casos de pessoas que ficaram deficientes físicos. Mas a maioria ainda carrega seqüelas psicológicas.

De Teresina, Daiane Rufino
Com informações do Portal AZ

Bobby Hutcherson - Stick-Up! (1966)

http://i31.tinypic.com/312h6xl.jpg


Bobby Hutcherson - Stick-Up! (1966)


Personagens:
Bobby Hutcherson (vibraphone);
Joe Henderson (tenor saxophone);
McCoy Tyner (piano);
Herbie Lewis (bass);
Billy Higgins (drums)

Gravado no Van Gelder Studio, Englewood Cliffs, New Jersey em 14 de julho de 1966.

Músicas:
1. Una Muy Bonita
2. 8/4 Beat
3. Summer Nights
4. Black Circle
5. Verse
6. Blues Mind Matter

Download abaixo:

File

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Salas de bate-papo na Internet: fantasia, fracasso e gozo



O presente artigo não visa, absolutamente, ao diagnóstico de quaisquer indivíduos que, por razões diversas, apreciem freqüentar salas de bate-papo na internet, os chamados “chats”. Objetivamos aqui, a reflexão, segundo o legado de Freud, acerca do aspecto compulsivo de um determinado grupo de pessoas que apresentam índices de repetição compulsiva nessa prática, mesmo estando cientes, pela própria experiência, de que o resultado final dessa conduta, em seu caso especificamente, tende a ser o fracasso e o sofrimento. Este trabalho foi motivado por um caso clínico real, que nos levou a estudar os rituais de abordagem nesses espaços virtuais e que viabilizou a compreensão, mesmo que parcial, desse mecanismo interativo.

Há aproximadamente 20 anos, os microcomputadores começaram a fazer parte da lista de produtos indispensáveis em nossas casas e a aquisição desse componente vem-se tornando cada vez mais acessível à classe média e até a alguns segmentos das classes mais baixas. Associado a essa conquista, seguiu-se o acesso cada vez mais irrestrito à internet, o que modificou alguns hábitos nas comunicações interpessoais. Em face dessa nova realidade, surgiram os meios de comunicação virtual, os chats, espaços em que pessoas que normalmente não se conhecem interagem eletronicamente.

Por trás de tal recurso tecnológico, encontra-se um indivíduo que, por meio de um vídeo e um teclado, às vezes uma webcam e um microfone, chega a passar horas seguidas “hipnotizado” pelas fantasias advindas dessa interação. O anonimato do chat oferece um grande “escudo” defensivo. Por detrás de um nick (apelido), o sujeito se sente protegido, já que sua apresentação física não é exposta.

Sob a ótica da Psicanálise, a constituição do indivíduo vai muito além de seu corpo físico, sendo preponderante a existência de um aparelho psíquico. A identidade humana, portanto, não se limita à identificação física, mas tem principalmente uma componente psíquica.

Com os chats, surge uma nova fonte de relacionamentos interpessoais, que vão desde amizade virtual a namoro e sexo virtual. Parece-nos claro que, a partir do momento em que o sujeito se sente seguro com o anonimato, ele se sente livre para externar suas fantasias e desejos que, num mundo “não-virtual”, possivelmente ficariam reprimidos pela censura.

Convém atentar para a idealização da auto-imagem do internauta no contexto em estudo. Num mundo em que padrões de beleza quase inatingíveis são deveras valorizados, o sujeito migra facilmente do ideal imaginário à mentira idealizada. Normalmente, indivíduos com dificuldades de serem socialmente aceitos, por questões físicas ou por limitações emocionais, são adeptos em potencial do chat. A possibilidade de anonimato faz com que aqueles que o freqüentam transformem-nos em verdadeiros sítios de neuroses, onde podem descarregar fantasias e desejos de toda ordem.

Essas “salas de bate-papo” podem facilmente transformar-se em uma rica fonte de alimentação do ego de sujeitos perversos. Segundo Freud, a ansiedade pode corresponder a uma ânsia erótica reprimida, por ser, muitas vezes, desprovida de objeto através do qual possa escoar energia libidinal.

Cabe questionarmos se a satisfação dos anseios, buscada no chat, é de origem afetiva ou sexual. Freud afirma que o sistema Consciente (Cs) normalmente controla não só a afetividade como também o acesso a motilidade, isto é, a demonstração deste afeto. Portanto, a afetividade, por ser controlada pelo Cs, passa a impressão de absoluto controle sobre o sujeito; mas não é bem isso que ocorre, uma vez que a grande maioria dos impulsos de qualquer sujeito é guiada por seu Inconsciente (Ics).

Ao observarmos por algumas horas a dinâmica de um chat, percebemos que as interações ocorrem de forma sistemática: primeiro vem a abordagem inicial e, quando correspondida, seguem-se as apresentações iniciais, em que se questionam idade e local de moradia, possivelmente para que, mesmo no campo da fantasia, elabore-se a possibilidade de uma aproximação mais efetiva, levando-se em conta a compatibilidade etária e geográfica. Em seguida, aparece a curiosidade recíproca em torno da aparência física do outro seguida de perguntas acerca de atividades laborativas, preferências da vida cotidiana, etc. Encontra-se o sujeito entre o simbólico Ideal-de-Ego e o Imaginário Ego-Ideal, movido, inevitavelmente, em função do contexto instaurado, por evidente pulsão libidinal.

Podemos inferir que o gozo obtido nessa busca pelo “outro virtual” é nitidamente de caráter sexual, o que nos remete à importância dos efeitos da repressão das pulsões libidinais a que o sujeito fora submetido ao longo de sua vida.

Freud afirma que o anseio de um sujeito pode ser levado à satisfação se o objeto ansiado lhe for concedido. O caráter até então virtual da relação, não passada à condição presencial, tende a gerar certa intensificação de desejos, por conta da grande quantidade de energia ligada que o indivíduo acumula, convertendo-se o anseio em ansiedade, que não se converte inteiramente em libido por estar submetida à barra de tradução. Aumentada e ao mesmo tempo reprimida a ansiedade, surge a possibilidade de o sujeito, eleger o outro como objeto. O outro passa a ser, portanto, alvo de uma inevitável relação objetal motivada por expressiva transferência. Nesse estágio da relação virtual, o psiquismo do sujeito já está completamente exposto.

É freqüente o aparecimento em consultório de casos envolvendo dramas pessoais, tais como casamentos mal sucedidos, decorrentes desse tipo de comportamento que, via de regra, é atribuído a uma compulsão inexplicável. Todos esses casos têm grande interseção num certo grau de fracasso e sofrimento. Poderíamos ousar aduzir que o gozo no sofrimento começa antes mesmo do desencadeamento de tais dramas. O anonimato no chat não deixa de ser uma forma de auto-repressão, uma forma de sofrimento imposta a si próprio pelo internauta, um sistema mantenedor de substituição dos sofrimentos anteriores. Tais substituições de sofrimento, poderão também ser transferidas aos objetos de desejo ou aos relacionamentos virtuais não efetivados. Essa estratégia nos remeterá a diversas tendências masoquistas.

Freud declara que no masoquismo “O próprio sofrimento é o que importa; ser ele decretado por alguém que é amado ou por alguém que é indiferente não tem importância. Pode mesmo ser causado por poderes impessoais ou pelas circunstâncias; o verdadeiro masoquista sempre oferece a face onde quer que tenha oportunidade de receber um golpe”.

Parece-nos evidente que a aparente busca do prazer por meio de interações interpessoais em chats gera muito mais sofrimento do que prazer, o que não significa que o sujeito não obtenha satisfação, levando-se em conta a diferença entre os conceitos acima. O sofrimento gerado pelas barreiras, sejam elas quais forem, que muitas vezes inviabilizam a consumação do que reside na fantasia do chat, assim como as conseqüências dessa prática, muitas vezes desastrosas na vida de quem as adota, parecem seduzir o sujeito, que obtém o gozo nessa dinâmica.

Como mencionado na introdução, é arriscado atribuir especificamente a uma estrutura psíquica tal conduta, mas pode-se abstrair dessa tendência fortes traços de masoquismo em sujeitos normalmente infelizes, mas que obtém expressivo gozo na compulsão e na repetição.



Referências Bibliográficas:

Freud, Sigmund.: O Pequeno Hans, in: Volume X. Edição Eletrônica.Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969-1980.

_____________: O Problema Econômico do Masoquismo, in: Volume XIX. Edição Eletrônica.Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969-1980.

_____________: Emoções Inconscientes, in: Volume XIV. Edição Eletrônica.Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969-1980.

_____________: Além do Princípio de Prazer, in Volume XVIII. Edição Eletrônica.Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969-1980.

Frente nacional luta por reforma da mídia no México

“É preciso aumentar o tamanho do campo, ter mais jogadores e um árbitro imparcial que não esteja capturado pelas emissoras de TV, para que a pluralidade exista na televisão e um punhado de pessoas não tenha a classe política em suas mãos", diz ex-senador que participa de movimento que reúne 47 organizações mexicanas.

Víctor Ballinas - La Jornada

Durante a constituição da Frente Nacional por uma Nova Lei de Mídia, da qual participaram 47 organizações civis mexicanas, o ex-senador Javier Corral Jurado exigiu do Senado da República que cumprisse a palavra empenhada de entregar, ainda este mês, um projeto de nova legislação em matéria de rádio e televisão.

No ato de apresentação da frente, Corral disse aos senadores que sugerem propor a reforma para o seguinte período de sessões: “Hoje como nunca, estão dadas as condições para legislar. Aqueles que propõem postergar o debate, na verdade buscam adiar novamente, de maneira indefinida, a decisão. A partir disso, negociam a não-reforma para tirar vantagem daqueles que ajudaram a derrubar”.

O ex-senador e presidente da Associação Mexicana de Direito à Informação (Amedi) afirmou: “É preciso aumentar o tamanho do campo, ter mais jogadores e um árbitro imparcial que não esteja capturado pelas emissoras de TV, para que a pluralidade exista na televisão e um punhado de pessoas não tenha a classe política em suas mãos, em detrimento da sociedade em geral”.

Lembrou aos legisladores o tratamento que Televisa e TvAzteca dão a eles quando atuam contra seus interesses: “Até parece que os coordenadores parlamentares no Senado não sabem o que aconteceu com eles nestes meses após a reforma eleitoral, o jeito como a televisão tem apagado eles das telinhas”.

E contou: “Vai ver que Manlio (Fabio Beltrones) não sabe que, enquanto ele e seus colegas coordenadores vão desaparecendo na cobertura, os governadores Peña Nieto, no estado do México; Ebrard, no Distrito Federal, e Emilio González, em Jalisco, passam por cima das reformas e entram na televisão por trás da fachada de novelas, programas especiais ou pela compra de entrevistas”.

Escutavam Corral personalidades como Carlos Monsiváis, o sacerdote Miguel Concha, artistas como Daniel Giménez Cacho, pesquisadores como Francisco José Paoli Bolio e Darío Ramírez, de Artículo 19; Aleyda Calleja, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias; Edgar Cortez, da rede Todos os Direitos para Todos; jornalistas como Roberto Rock e Denise Dresser, entre outros.

O ex-senador apontou: “Nascemos hoje como frente para trabalhar todos os dias para que venha a reforma. O impulso social tem que se posicionar por sobre os interesses estritamente econômicos dos que dominam o rádio e a televisão”.

Aos senadores, Corral mencionou que na resolução da Suprema Corte – a propósito da ação de inconstitucionalidade promovida por meia centena de legisladores da passada legislatura – são formulados critérios e efeitos que são ineludíveis, não só para corrigir e sanar disposições anuladas, mas para legislar atendendo um conjunto de 23 recomendações contidas tanto no debate da resolução como no texto da sentença.

“Legislar para garantir a função social da mídia, a eficácia na prestação dos serviços, o uso social dos bens de domínio da nação e evitar fenômenos de concentração.”

Lembrou-lhes que a verdadeira ameaça para a liberdade de expressão “é a concentração da mídia em poucas mãos”. A Televisa, indicou Corral, é o único caso no mundo de uma concentração de freqüências muito alta. Essa empresa é o único caso no mundo que possui quatro sinais de televisão aberta (2, 4, 5 e 9) em uma única praça, a capital do país, “o espaço de saída necessário para outras redes nacionais”. Essa empresa tem, além disso, 56% das estações comerciais no México, e TvAzteca tem outros 38%.

Além disso, a Televisa possui 100% da televisão via satélite, 35% da fibra ótica e 38% do cabo, sublinhou.

Nesse ato, a escritora Denise Dresser disse que os grandes meios de comunicação se constituíram em poderes de fato, por cima das instituições, “com capacidade inclusive de dobrar a classe política à sua vontade, encarecer os processos eleitorais, cercear a liberdade de expressão dos indivíduos e determinar o curso das políticas públicas”.

Para conter os concessionários, disse, “é preciso um governo que atue como tal, que estabeleça as contenções suficientes e necessárias. Que imponha limites explícitos que possam garantir os direitos daqueles que resultem afetados pela mídia. Que garanta uma regulamentação que não funcione como uma mordaça, mas como um semáforo. Que regule os lucros legítimos em função de concessões transparentes”.

Em nome da Amedi, e como integrante da frente, Corral apresentou os pontos que deve conter a nova legislação: os direitos dos cidadãos a uma comunicação democrática; o serviço público que devem prestar as mídias eletrônicas e os direitos das audiências; o controle do Estado sobre o espectro de freqüências de rádio; aproveitamento pleno da convergência digital para todos os setores da sociedade; uma única lei para rádio e telecomunicações.

Da mesma maneira, um órgão regulador autônomo, com atribuições suficientes e responsabilidades específicas; direito de réplica; integridade dos conteúdos que evitem a censura; acesso universal e conectividade aos benefícios da convergência digital; liberdade, pluralidade, responsabilidade de acordo com padrões democráticos de liberdade de expressão; defesa dos interesses nacionais e tornar transparente o investimento estrangeiro; promoção das mídias autenticamente públicas, comunitárias e para povos e comunidades indígenas.

O sacerdote Miguel Concha, presidente do Centro de Direitos Humanos Fray Francisco de Vitoria, disse que “é hora de uma lei na qual por nenhuma circunstância a comunicação seja vista como negócio por cima dos direitos públicos”, e reconheceu que a proposta da Amedi, apresentada em 7 de novembro passado, é a mais acabada. Por sua vez, o ator Daniel Giménez Cacho ironizou: “Você tenta mudar de canal, mas acontece que você não pode, é sempre a mesma coisa”.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

The Mars Volta - Goliath

VEJA - jornalismo de esgoto...

REVISTA SEMANAL DE DESINFORMAÇÃO

por Fernando Montanha

Você já deve ter lido algo sobre o email que Jon Lee Anderson , biógrafo de Che Guevara, escreveu ao repórter da Revista Veja , a respeito da matéria publicada pela revista, assim como o modo em que o biógrafo foi descartado como fonte:

"Caro Diogo,
Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei por pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.
Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.
No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.
Cordialmente,
Jon Lee Anderson"

Confesso que quando li, mesmo conhecendo o método Veja de fazer jornalismo, ainda assim duvidei da veracidade do e-mail. Porém hoje, ao garimpar a internet em busca de uma comprovação , chego ao Blog do reinaldo azevedo, no site da própria revista. Claro que o blogueiro tratou de defender o colega. Mas o que mais chamou a atenção foi a resposta que o repórter da Veja enviou ao biógrafo de Che:

Caro Anderson,

Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um e-mail pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua “carta” – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um e-mail circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.
Sem mais,
Diogo Schelp

Note quantas contradições e indícios de que o repórter realmente tem algo a esconder.

- Ele acusa Anderson de não ter o trabalho de lhe telefonar, usando este argumento para, inclusive, chamá-lo de mau jornalista. (Ué, mas neste caso, quem era o repórter era o Diogo. Porque este também não telefonou quando quis fazer a matéria?)

- Ele também alega que a resposta do Anderson não chegou, por causa de anti-spam (que desculpa mais esfarrapada, hem?)

Por fim, faz uma ameaça: aqui na minha revista o senhor não aparece mais, viu?

Será que voce teria como entrevistar este Sr. Anderson e saber mais sobre o assunto?

Publicado originalmente em 14 de novembro de 2007

Na tradução de Pedro Dória, a tréplica do escritor:


"Prezado Diogo Schelp:

Agradeço pela sua 'gentil' resposta. (Soube que você é de fato uma pessoa muito 'gentileza'; você mesmo o disse duas vezes em suas mensagens.) Só agora percebo, o mal-entendido entre nós nasceu exclusivamente por conta de meu caráter profundamente falho.

Eu jamais deveria ter presumido que você recebera meu email inicial em resposta ao seu ou minha segunda mensagem a respeito de sua reportagem, muito menos deveria ter considerado que você pudesse ter decidido ignorá-los. É evidente que você tem um sistema de bloqueio de spams muito rigoroso.

Uma dica técnica: talvez devesse configurar seus sistema como 'moderado' e não 'extremo'. Se o fizer, talvez comece a receber seus emails sem quaisquer problemas. Lembre-se, Diogo: moderado, não 'extremo'. Esta é a chave. Você me acusa de ser antiético, um 'mau jornalista'. Questiona até se posso ser chamado de jornalista. Nossa, você TEM raiva, não tem?

Enquanto tento parar as gargalhadas, me permita dizer que, vindo de você, é elogio. Permita, também, recapitular por um momento a metodologia utilizada por você para distorcer as informações que o público de Veja recebeu: Você publicou na capa e na reportagem uma grande quantidade de fotografias de Che, aproveitando-se assim da popularidade da imagem de Guevara para vender mais cópias de sua revista.

Para preencher seu texto, você pinçou uma certa quantidade de referências previamente escritas sobre ele – incluindo a minha – para sustentar sua tese particular, qual seja, a de que o heroismo de Che não passa de uma construção marxista, como sugere seu título: 'Che, a farsa do herói'. Para chegar a uma conclusão assim arrasa-quarteirão, você também entrevistou, pelas minhas contas, sete pessoas. Uma delas era um antigo oponente de Che dos tempos da Bolívia.

As outras seis, exilados cubanos anti-castristas, incluindo ex-prisioneiros políticos e veteranos de várias campanhas paramilitares para derrubar Fidel. (Um destes, o professor Jaime Suchlicki, você não informou a seus leitores, é pago pelo governo dos EUA para dirigir o assim chamado Projeto de Transição Cubana.) Percebi também que você prestou particular atenção no testemunho de Felix Rodriguez, ex-agente da CIA responsável pela operação que culminou na execução de Che.

O fato de que você o destaca quer dizer que você o considera sua melhor testemunha? Ou terá sido porque ele foi o único que algum repórter realmente entrevistou pessoalmente? Os outros, parece, Veja só falou com eles por telefone. Mas como são rigorosos os critérios de reportagem de Veja! Como disse em minha 'carta aberta' a você, escrever uma reportagem deste tipo usando este tipo de fonte é o equivalente a escrever um perfil de George W. Bush citando Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez.

Em outras palavras, não é algo que deva ser levado a sério. É um exercício curioso, dá para fazer piada, mas NÃO é jornalismo. Dizer a seus leitores, como você diz na abertura da reportagem, que 'Veja conversou com historiadores, biógrafos, ex-companheiros de Che no governo cubano' passa a impressão de que você de fato fez o dever de casa, que estava oferecendo aos leitores um trabalho jornalístico bem apurado, que apresentaria algo novo.

Infelizmente, a maior parte do que você escreveu é mera propaganda, um requentado de coisas que vêm sendo ditas e reditas, sem muitas provas, pela turma de oposição a Fidel em Miami nos últimos quarenta e tantos anos. Minha questão não é política. Escrevi um livro, como você mesmo disse, que é 'a mais completa biografia' de Che.

Há muito lá que pode ser utilizado para criticar Che, mas também há muitos aspectos a respeito de sua vida e personalidade que muitos consideram admiráveis. Em outras palavras, é um retrato por inteiro. Como sempre disse, escrevi a biografia para servir de antídoto aos inúmeros exercícios de propaganda que soterraram o verdadeiro Che numa pilha de hagiografias e demonizaçoes, caso de seu texto. Não cometa o erro de me acusar de defender Che porque critico você. Serei claro: a questão aqui não é Che, é a qualidade do seu jornalismo.

Sua reportagem, no fim das contas, é simplesmente ruim e me choca vê-la nas páginas de uma revista louvável como Veja. Seus leitores merecem mais do que isso e, se aparecerei ou não novamente nas páginas da revista enquanto você estiver por aí, não me preocupa. O que PREOCUPA é que, com tantos jornalistas brilhantes como há no Brasil, foi a você que Veja escolheu para ser 'editor de internacional'.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson."