| | | |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 2 de agosto de 2008
Jazz Cafe - Summertime
01- Lonnie Liston Smith - Expansions
02- Paul Desmond - Jim Hall - Samba de Orfeu
03- Lambert, Hendricks and Baven - Watermelon Man
04- Gary Burton - Norwegian Wood
05- Hilton Ruiz - The Sidewinder
06- Gil Scott-Heron - I Think I'll Call It Morning
07- Dizzy Gillespie & Orchestra - Guarichi Guaro (Soul Sauce)
08- JJ Johnson & Big Band - So What
09- Tito Puente - Birdland After Dark
10- Charles Mingus - Tijuana Gift Shop
11- Mary Lou Williams Quartet - Titoros
12- Dizzy Gillespie & Orchestra - Night in Tunisia
13- Jason Rebello - Medusa Seducer
14- Roy Hargrove Quintet - Milestones
15- Brecker Brothers - Skunk Funk
16- Toots Thielemans - Casa Forte
Downloads abaixo:
http://rapidshare.com/files/133511220/jazz_cafe_-_summertime.part1.rar
http://rapidshare.com/files/133513180/jazz_cafe_-_summertime.part2.rar
Três... Extremos(filme)
(Saam gaang yi (Three... Extremes: International: English title)
Sinopse:
Dumplings (Chan Kwoh, Hong Kong, 37 min.): Uma atriz (Yeung) que já passou o ponto alto da sua carreira procura a fonte da juventude. Uma emigrante do continente chinês (Bai) parece ter um tratamento eficaz, na forma de "dumplings" (pastéis de carne). Os ingredientes são, inicialmente, um mistério. Mas será que ela se importa com a dieta?
Cut (Park Chan-uk, Coreia do Sul, 45 min.): Um realizador de cinema (Lee) vê-se aprisionado, com a mulher (Kang), num cenário de um dos seus filmes, por alguém (Im) que o acusa de ser demasiado bonzinho. Ele tem de conseguir convencer o raptor que é um homem mau e vicioso, mas para o fazer terá de cometer infanticídio. Cada hesitação pode custar um dedo da mulher.
Informações sobre o Filme e o Release:
Gênero: Terror / suspense
Diretor: Fruit Chan (segmento Dumplings), Park Chan-Wook (segmento Cut) e Takashi Miike (segmento Box)
Duração: 125 minutos
Ano de Lançamento: 2004
País de Origem: Coréia do Sul / Japão / Hong Kong
Idioma do Áudio: Japones
SITE: http://www.threeextremes.com/
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0420251/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XVID
Vídeo Bitrate: 173 Kbps
Áudio Codec: AC-3 ACM
Áudio Bitrate: 384
Resolução: 640x352
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 1,36 Gb
Legendas: Em anexo
Elenco:
Lee Byung-Hun (Diretor - segmento Cut)
Kang Hye-Jeong (Pianista - segmento Cut)
Yum Jung-Ah (Atriz - segmento Cut)
Lim Won-Hee (Ching - segmento Cut)
Lim Won-Hie (Terrorista - segmento Cut)
Mitsuru Akaboshi (Kyoko - segmento Box)
Kyoko Hasegawa (Kyoko - segmento Box)
Atsuro Eatabe (Padrasto - segumento Box)
Ling Bai (Mei - segmento Dumplings)
Tony Leung Ka Fai (Lee - segmento Dumplings)
Miriam Yeung Chin Wah (Qing - segmento Dumplins)
Pauline Lau (segmento Dumplings)
Premiação:
Golden Horse Award 2004: Best Supporting Actress - Ling Bai
For the segment "Dumplings".
Hong Kong Film Award 2005: Best Supporting Actress - Ling Bai
For the segment "Dumplings".
Hong Kong Film Critics Society Awards 2005
Film of Merit
For the segment "Dumplings".
Curiosidades:
- Três... Extremos é um filme em três episódios, dirigidos por importantes cineastas asiáticos.
- O segmento Dumplings posteriormente foi adaptado para longa-metragem, pelo próprio diretor Fruit Chan, em Dumplings (2004).
- Precedido por San Geng (2002).
- Exibido na mostra Midnight Movies, no Festival do Rio 2005.
Crítica:
"Three... Extremes" é uma interessante co-produção de um grupo de asiáticos que traz alguns dos mais notáveis diretores para colaborar no projeto, cuja restrição é apenas a de realizarem um curta de terror. O primeiro foi um razoável sucesso, mas este, que será lançado pela Lions Gate nos EUA ainda este ano, não só traz um grupo de diretores mais do que interessante, como um caso a ser estudado em escolas de cinema daqui em diante. São novamente três episódios - "The Box", do enfant terrible japonês Takashi Miike; "Dumplings" de Fruit Chan (oriundo de Hong Kong, considerado o rei do cinema independente do país); e "Cut" do sul-coreano Park "Oldboy" Chan-wook. Destes, "Dumplings" acabou se tornando um longa-metragem, tamanho apreço do diretor pela história. Tanto "Three... Extremes" quanto o longa de "Dumplings" foram lançados na mesma época e aquele que assistisse o primeiro ganhava um desconto para poder assistir o longa de Fruit Chan, em alguns cinemas exibido até logo após "Three... Extremes". O filme começa em marcha lenta com Miike, no seu estilo "David Lynch nipônico" que passou a adotar há algum tempo. "The Box" conta de modo contemplativo a história de uma escritora assombrada pelo fantasma de sua irmã. É um belo pedaço de folclore asiático, colocando na mistura pedofilia, lógica de sonho, acrobacias circenses e uma história de ciúmes, mas de modo completamente sutil e alienígena para Miike. É lindo de se ver, mas é um tantinho parado. Poderia dizer que é o meu menos preferido entre os três, mas de todos é o que tem o final mais surpreendente e descaralhau. A imagem final fica gravada na retina e percebemos que o artifício "Audition" de Miike é novamente utilizado para grande efeito. Em seguida, "Dumplings". Rapaz... você não sabe o que te aguarda, a não ser que você conheça os trabalhos anteriores de Fruit Chan como "Hollywood Hong Kong" (que passa no Telecine e foi um sucesso no Festival do Rio de 2001- ou 2) e o infame "Public Toilet", então talvez você tenha uma breve idéia. "Dumplings" confronta, enoja e perturba qualquer senso de moral que você possa ter. A história conta a tentativa de uma famosa atriz de televisão de manter o marido infiel ao seu lado. Para isso, ela recorre a uma cozinheira de "dumplings" (uns pasteizinhos meia-lua cozidos com recheio) mágicos que, supostamente, tem o poder de deixar quem os come mais jovens. 40 minutos de porrada heavy-metal contra a sensibilidade se iniciam - pessoas de sensibilidade alta a média, favor absterem-se. "Dumplings" é uma crítica feroz à superficialidade estética (mesmo que o personagem da atriz traída seja extremamente bem explorado em seu sofrimento), não se esquiva de nada e passa sua mensagem. Mas há muito tempo um filme de terror não me faz querer vomitar - 20 minutos de episódio e eu estava pronto para chamar o Raul (graças inclusive ao grotesco trabalho de sonoplastia). É uma cacetada. É cruel. É um nojo. É brilhante. Fechando o ciclo, "Cut" dirigido pelos olhos infalíveis de Chan-wook Park (estou trocando deliberadamente a ordem do nome, aumentando minha chance de uma hora acertar). Ainda indo para o lado do "gore", "Cut" é tudo o que "Jogos Mortais" deveria ter sido. No episódio, um temperamental diretor de cinema e sua esposa são mantidos reféns por um ator maníaco num estúdio de gravação. A história é repleta de reviravoltas, muito sangue, o final é bem bundinha, mas até lá um bando de ótimos planos-seqüência, enquadramentos e virtuosismo de câmera (remetendo a câmera-que-passa-por-qualquer-frestinha de "O Quarto do Pânico") acontecem para deixar o espectador bem seguro do talento do diretor. É quase um demo reel de Chan-wook Park. As cores são vibrantes, os atores são especiais (destaque para o astro de "Salvem o Planeta Verde!", marco do cinema-híbrido recém-lançado nos EUA ) e, se o filme não lança ninguém à Lua, é pura diversão mainstream sintetizada em enxutos 40 minutos. | ||
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar. |
Créditos: makingoff - Pedro Coelho
Downloads abaixo:
Three_extremes_pt_br_2cds.rar legendas
10.28.04.Three.Extremes.2004.DVDRip.XviD_WRD.torrent filme
quinta-feira, 31 de julho de 2008
João Pedro Stedile
O I Encontro Estadual de Agroecologia tem o objetivo de evidenciar a produção de alimentos agroecológicos e o artesanato tradicional de diversas entidades que fazem parte da Articulação Rondonense de Agroecologia (Aroa). O evento também vai servir para a realização de um esboço de um livro com o mapeamento das iniciativas na região.
"Após dois anos da Aroa, sentimos a necessidade de nos encontrar para ampliar a troca de experiências", afirma Francisco de Assis, que faz parte da coordenação do Projeto Padre Ezequiel, um dos integrantes da Aroa. Esse projeto já tem 18 anos de prática e abrange 28 municípios do Estado. "Procuramos aumentar a produção dos agricultores, melhorar sua auto-estima e também formar consumidores conscientes", acrescenta.
A ênfase do encontro vai dar-se na capacitação e formação dos agricultores nos princípios da agroecologia. "Queremos propor também políticas públicas que contraponham a política capitalista selvagem que desmata a Amazônia", ressalta Francisco de Assis. O evento vai receber ainda representações de Economia Solidária ligadas ao Fórum Estadual e ao Brasil Local na para a troca de experiências. O encontro vai servir de preparação para os eventos regionais e nacionais de agroecologia.
As temáticas serão divididas em sete oficinas, nas quais os agricultores podem mostrar suas experiências na área. No sábado à noite, uma variada agenda cultural com música, filmes, exposições e comidas típicas foi programada, na tentativa de resgatar a cultura regional. No domingo, haverá um almoço coletivo, com a troca e o registro de sementes crioulas, objetivando a divulgação dessa tecnologia popular, além de resgatar e valorizar a biodiversidade da região.
A Aroa é composta por várias entidades não-governamentais, governamentais e dos movimentos sociais sensibilizados com a necessidade de desenvolver sistemas de produção sustentáveis e fortalecer a produção agroecológica de Rondônia, entre elas: Incra, Delegacia Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Projeto Padre Ezequiel, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Ji-Paraná, Projeto Terra Sem Males, Ceplac, Embrapa, Fetagro, Projeto RECA, Projeto Natureza Viva, Cooacaram/Acaram, CPT, ADA-AÇAÍ, EFA, STTR, Ibama, Sematur/Opo, Alpa, Coopflora, Cootraron, Panderej, Territórios, Via Campesina, MST, MPA, MAB.
Retorno....
sexta-feira, 25 de julho de 2008
A LÓGICA DO GENOCÍDIO
O legado de Auschwitz
No início do século 21, é difícil acreditar que a lógica do genocídio tenha chegado ao fim. As guerras dos Bálcãs, as atrocidades que ocorreram em sucessão na África, e as guerras do Iraque e do Afeganistão representam uma espantosa regressão histórica. Os massacres e genocídios, os deslocamentos forçados de milhões de pessoas e o confinamento em campos de concentração e de refugiados não pararam de crescer nos últimos anos. A análise é do ensaísta espanhol Eduardo Subirats.
Segundo dados facilitados pelo Committee for Refugees and Immigrants dos Estados Unidos, em 2006 existiam no mundo 33 milhões de pessoas involuntariamente deslocadas de seus habitats originais. Deles, 21 milhões são as chamadas “Pessoas Internamente Deslocadas,” ou seja, relocalizadas dentro de suas próprias fronteiras nacionais. Os outros 12 milhões são refugiados que fugiram para segundos países em busca de segurança política e econômica. O Sudão e a Colômbia são mencionados como exemplos de deslocamentos internos promovidos pela violência militar, com números que chegam aos 5 e 3 milhões respectivamente. A crise humanitária mais recente tem como cenário o Iraque, com 1,7 milhões de deslocados internos e outros 2 milhões que abandonaram o país.
Oficialmente, estas mobilizações são temporárias. Mas em países como a Colômbia, o retorno dos deslocados aos seus lares —em sua maioria, eles são indígenas e mestiços— é impossível, uma vez que suas terras, oficialmente “abandonadas”, foram legalmente apropriadas por corporações e organizações militares. Existem mais de 2 milhões de afegãos em campos e refúgios provisórios há mais de 20 anos. O recorde é dos palestinos, com 3 milhões de deslocados há meio século. O número destes denominados “refugiados perpétuos” no mundo chega a um total de 8 milhões. E estes números não param de multiplicar-se, ano após ano, ao amparo de lucrativas guerras e tráficos humanos.
Nas declarações oficiais, os campos de concentração do nacional-socialismo do século passado são condenados e consagrados como um evento único na história da humanidade, cujos motivos, métodos e objetivos escapam à luz da razão. Implícita ou explicitamente, a responsabilidade por eles é atribuída a desejos perversos e patologias racistas. Contudo, os genocídios industriais do século 20 não constituem um fato isolado. As minas e as “mitas” coloniais da América constituem um paradigma histórico de racionalização militar de um sistema etnocida de produção. As cifras do genocídio colonial americano são imprecisas. Mas os cálculos mais conservadores falam em dezenas de milhões. O tráfico internacional de escravos africanos constitui um prefácio sórdido dos genocídios europeus do século 20, com números também arrepiantes. A própria denominação “campos de concentração” foi cunhada pelo colonialismo britânico na África do Sul antes de ser adotado pelo imperialismo alemão.
Por trás destes crimes contra a humanidade existem, sem nenhuma dúvida, personalidades doentes. Mas seus processos genocidas estão atravessados pela limpa racionalidade que define a acumulação de capital, a expansão de mercados e a concentração de poder e riqueza.
Aproximadamente metade das vítimas dos campos de concentração nazistas eram camponeses eslavos, ciganos e comunistas que a máquina militar devorava ao longo de sua expansão. Seu extermínio estava ligado a um princípio econômico: racionalizar a produção agrária, libertando-a de seus entraves pré-capitalistas. Uma das razões para justificar a eliminação dos guetos judeus da Europa Central era sua forma de vida tradicional, resistente à economia de mercado e às exigências da racionalização industrial da agricultura. Estes genocídios esgrimiram, também, um princípio de segurança: suas vítimas eram potenciais insurgentes contra o sistema que as expulsava de suas cidades e de suas terras.
Apesar de que jurídica e midiaticamente é contemplado como uma realidade aparte, o fluxo migratório massivo dos nossos dias obedece aos mesmos princípios: a expansão territorial de poderes corporativos, crescentes desigualdades econômicas e sociais entre as nações ricas e as regiões neocoloniais, degradação ambiental e violência. Seus números são igualmente perturbadores. Na Europa existem 83 milhões de imigrantes legais e um número indeterminado, entre 4 e 7 milhões, de denominados “sem papéis”. Nos Estados Unidos, a quantidade oficial de imigrantes ilegais chega aos 12 milhões.
Em vez de confrontar as causas desta desordem global, e os interesses econômicos e militares que a sustentam, os líderes mundiais optaram pela criminalização de suas vítimas e pela militarização de seus conflitos. O próprio conceito de “imigrante ilegal” é uma construção arbitrária. O termo foi cunhado pelo colonialismo britânico para combater uma indesejada imigração de judeus para a Palestina nos anos da perseguição nazista na Alemanha. As frases sobre a ameaça que estes imigrantes representam para o mercado laboral, sua viciosa associação com o crime organizado e as retóricas sobre sua não-integração nacional encobrem o real desmantelamento dos direitos humanos em escala global.
Os campos de detenção e concentração e a militarização dos movimentos migratórios gerados pelas guerras, a miséria e o espólio não são, convenhamos, uma solução para estes dilemas. São parte do problema. Somente a confrontação transparente da crescente extorsão econômica das regiões mais ricas do planeta por poderes corporativos multinacionais, das causas reais da deterioração ambiental e dos tráficos de armas e humanos, e somente a implementação de autênticos programas de desenvolvimento sustentável pode pôr um ponto final a esta lógica do genocídio: o legado de Auschwitz.
* Ensaísta espanhol, professor de Filosofia, Teoria da Cultura e de Literatura na Universidade de Nova York
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
quinta-feira, 24 de julho de 2008
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Peixinhos e tubarões | | | |
Frei Betto | |
| |
Angélica Aparecida de Souza Teodoro, 18 anos, mãe de um filho de dois anos, estudou apenas o 1º. grau. Trabalha como empregada doméstica, mas encontrava-se desempregada, ao ser presa, em novembro, dentro de um mercadinho do Jardim dos Ipês, na capital paulista, acusada de roubar uma lata de manteiga da marca Aviação, de 200 gramas, no valor de R$ 3,10. Levada para o 59º Distrito Policial, conhecido como Cadeião de Pinheiros, recebeu voz de prisão do delegado Marco Aurélio Bolzoni.
Por subtrair mercadoria no valor de R$ 3,10, Angélica passou na prisão o Natal, o Ano-Novo e o Carnaval, pois o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao analisar o pedido de defesa da doméstica, o indeferiu. Angélica foi solta dia 23 de março, mais de quatro meses depois, graças à liminar do ministro Paulo Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
O Brasil e sua Justiça parecem postos de cabeça para baixo. Há uma inversão total de valores e critérios. Um publicitário vem a público e declara ter recebido, via caixa dois, R$ 10 milhões de reais numa conta clandestina no exterior, e fica por isso mesmo, protegido por direitos que lhe foram garantidos pelo STF, reagindo com escárnio às interrogações dos parlamentares incumbidos de apurar corrupções. Um publicitário mineiro faz biliardários empréstimos ao tesoureiro de um partido político, sem revelar a origem dos recursos, porém destinando-os ao suborno de deputados federais, e fica por isso mesmo.
Um deputado federal, cassado após ocupar o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, achaca em R$ 7 mil o proprietário de um restaurante e ninguém lhe dá voz de prisão.
Um alto funcionário dos Correios é filmado embolsando propina no valor de R$ 3 mil, a polícia não é chamada e ele continua livre, prova viva de que crimes de colarinho branco merecem a cumplicidade de setores da justiça.
Quando políticos, banqueiros e empresários processados por desvios de recursos públicos devolverão o que roubaram? Quem pune os gastos exorbitantes de um reitor de Universidade de Brasília, os desvios de recursos do BNDES, as maracutaias nas privatizações sob o governo FHC?
Fica a impressão de que, por baixo de tanta corrupção, há uma extensa rede de cumplicidade. Tubarões não são punidos para evitar que entreguem outros tubarões à justiça. Neste país, basta ter dinheiro, bons advogados e relações nas instâncias de poder para ficar assegurada a impunidade. Enquanto isso, os pobres, sob simples suspeita, sofrem torturas ou levam bala antes de serem inquiridos ou investigados.
Os peixinhos, como Angélica, ficam meses na cadeia por causa de R$ 3,10. Os tubarões, imunes e impunes, são a prova viva de que o crime compensa – de fato e de direito – desde que o assalto abocanhe valores em milhões de reais. De preferência dinheiro dos cofres públicos.
Vale o provérbio: "Quem rouba 1 real é ladrão, quem rouba 1 milhão é barão".
Estatísticas comprovam que a polícia do governador Sérgio Cabral, do Rio, matou mais este ano do que os crimes cometidos em São Paulo por bandidos. Quem decepa a mão assassina do Estado?
No Brasil, quando a polícia pára uma pessoa de posses, a pergunta é: "Sabe com quem está falando?" Em outros países é o policial que faz a pergunta: "Quem você pensa que é?"
Quando estive na Inglaterra, nos anos 80, vi pela BBC – uma TV estatal – o sobrinho da rainha Elizabeth II ser levado a julgamento. Parado por uma patrulha rodoviária, constatou-se que ele dirigia sob efeito de álcool. Cassaram-lhe a carteira por seis meses.
Dois meses depois foi parado por outra patrulha. Pediram-lhe a carteira. Não tinha. Então apelou para o jeitinho brasileiro: "Sabe com quem está falando? Sou o príncipe fulano". O guarda insistiu em ver os documentos. O rapaz voltou ao bate-boca. Então o policial disse a ele: "Um de nós dois está errado. Você está preso e a justiça dirá quem de nós tem razão".
Televisionado para todo o país, o príncipe se viu obrigado, pelo juiz, a pedir desculpas ao guarda e teve a sua licença de motorista cassada por cinco anos.
Assim se faz cidadania.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de "O desafio ético" (Editora Garamond), entre outros livros. |