A atitude de Evo e Chávez é um exemplo. Por Pedro Echeverría. |
1. O governo do índio Evo Morales na Bolívia acaba de expulsar o embaixador ianque por apoiar os setores racistas de Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni, departamentos onde as campanhas de ódio dos terra tenentes e os ricos contra o governo central, os levou até a pedir sua independência. O governo dos EUA, desde que Morales tomou posse do governo em janeiro de 2006 não param de sabotá-lo e de procurar a melhor oportunidade para derrocá-lo. Durante quase três anos o governo de Evo tem pretendido negociar com a oposição para estabelecer a paz, mas os interesses desses setores, estimulados pelo embaixador ianque, determinaram o divórcio entre os governadores desses departamentos que praticam a oposição racista.
2. Para apoiar com toda sua força a atitude de grande valentia de Evo se levanta a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez que da forma mais conseqüente possível também pediu que o embaixador ianque abandonasse o território venezuelano mandando “à merda o governo gringo de Bush”. Esse exemplo de Chávez parece ter se entendido até a Nicarágua e Honduras. Embora aquelas infaustas e ilusas declarações de Chávez e Castro sobre a guerrilha das FARC tenham causado desânimo entre a esquerda radical, esta atitude do presidente venezuelano o reivindica. Estas coisas não acontecem por linhas retas nem conforme os desejos, senão que obedecem a realidades concretas. Mas nem sempre temos que ser críticos.
3. É elementar esclarecer que norte-americanos ou estadunidenses são os habitantes dos EUA que sofrem, como todos os povos da América, a exploração e a repressão de seu governo. Pelo contrário, os ianques ou gringos são essa minoria de poderosos empresários e governantes que além de submeter o povo de seu próprio país (EUA), ordenam as invasões, os saqueios e os assassinatos nas nações que submetem. Ao povo desse país, o único que pode se criticar, é que não tenha sido capaz de frear seus governos assassinos, mas são respeitados; pelo contrário, seus governantes e grandes empresários são repudiados no mundo todo, com exceção de alguns governantes submetidos que se arrastam como lacaios frente a eles.
4. Fidel Castro, foi o primeiro governante que desde 1960, sem pelos na língua, se enfrentou abertamente ao governo ianque e Cuba o primeiro povo que massivamente apoiou seu governante quantas vezes este o convocou para se defender das agressões gringas. Não foi nada simples que desde uma ilha de 10 milhões de habitantes, bloqueada política e economicamente por toda parte, em longos discursos de 3 a 6 horas frente a dezenas de milhares de cubanos, se falasse da situação dos povos da América e o mundo e do papel guerreirista e explorador do império estadunidense. Os discursos de Castro e pelo menos seus primeiros oito anos de governo, foram verdadeiras lições de educação política para os cubanos e o mundo.
5. A partir de 1998, para recuperar nosso ânimo, aparece no governo da Venezuela o coronel Hugo Chávez. Achávamos que seria um governo burguês militarista; porém, como aconteceu com Fidel Castro em 1959, as condições concretas de exploração e saqueio ianque nesses países da nossa América, os obrigou a tomarem medidas para poder servir seus povos. Foi então quando Chávez se transformou no melhor continuador da obra de Fidel Castro na América Latina. Na Cuba de Fidel é explicável essa confrontação porque estava saindo de uma profunda revolução armada, muito violenta, em que o povo mantinha uma grande exigência das demandas pelas que tinha lutado. Mas na Venezuela?
6. Nem Fidel nem Chávez eram marxistas ou socialistas quando assumiram o governo, embora não se possa negar que muitos companheiros deles eram. Foram as condições concretas de cada país, em que os investidores ianques saqueavam abertamente as riquezas enquanto suas populações viviam na maior miséria, fato que os transformou. Mas, como todos sabemos, essas são as mesmas condições em que vivem quase todos os países da América Latina, da África e a Ásia e as mudanças que se requerem não surgem como em Cuba, Venezuela, Bolívia ou o Equador. Isto quer dizer que nossas análises devem ser mais profundas e cuidadosas. O que aconteceu por exemplo com Lula no Brasil, Tabaré do Uruguai e Bachelet do Chile, conhecidos como socialistas?
7. A realidade é que o comportamento de Evo Morales e de Hugo Chávez frente ao poderoso assassino mundial que ocupa a Casa Branca, é um exemplo para outros governos e para os povos da América. Quantas décadas mais de medo, covardia e dependência teriam passado se Fidel Castro (em nome de um pequeno país, de uma ilha empobrecida a umas quantas milhas do maior império da história) não nos tivesse ensinado a dignidade e a valentia, apesar de ameaças, invasões e um grande bloqueio econômico? Fidel demonstrou na prática que “sim, se pode” lutar contra o monstro, enquanto outros países (como o México e da América Central) morrem de medo de levantar a voz ou por fazer uma breve declaração que ofenda o governo ianque.
8. Mas o arremate de Chávez foi ainda mais radical. Disse que apoiaria inclusive um movimento armado, uma guerrilha, se o presidente Morales fosse derrocado pelo governo de Bush. Me parece que essa declaração por si mesma é uma advertência ao imperialismo dos EUA. Essas palavras poderiam pôr em guarda os governos da Nicarágua, Equador, os mesmos bolivianos ao se demonstrar até onde querem chegar os EUA e seus aliados racistas de Santa Cruz e outros departamentos. Não creio que os ianques queiram se aventurar mais uma vez quando no Iraque e o Afeganistão estão sendo varridos pelas forças rebeldes. No México e vários países a oposição de esquerda começou a despertar realizando protestos em embaixadas e consulados gringos. Devemos fortalecê-las.
9. Os governos da Colômbia, México e Peru são os mais incondicionais aos interesses do presidente Bush. Tanto Uribe como Calderón e García conformam um grupo duro disposto a defender como der a política dos EUA na região. Por isso os meios de (des)informação dedicam diariamente muitas horas para fazer campanhas contra Chávez e Morales. No México não se pode esperar outra coisa dos grandes monopólios televisivos e radiofônicos. Com a assessoria de ianques e espanhóis, os meios de (des)informação, em nome da liberdade de expressão, desataram enormes campanhas contra as lutas de justiça e liberdade dos povos. Por esse motivo, os meios e homens livres, embora com espaços limitados, temos a obrigação de levantar a voz para ajudar o povo.
Créditos: Alquimia.org
Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.