sábado, 6 de dezembro de 2008

Reflexões de Fidel....

Navegar contra a maré

www.granma.cu


• APÓS o discurso de Obama, em 23 de maio passado, à tarde, perante a Fundação Nacional Cubano-Americana, criada por Ronald Reagan, escrevi uma reflexão intitulada A política cínica do império, com datada em 25 desse mês.

Nela, citei suas palavras textuais perante os anexionistas de Miami: "Todos nós juntos vamos procurar a liberdade para Cuba; essa é minha palavra; esse é o meu compromisso... É hora de que o dinheiro estadunidense torne o povo cubano menos dependente do regime de Castro. Vou manter o embargo."

Depois de incluir várias considerações e exemplos nada éticos sobre o comportamento em geral dos presidentes anteriores a quem fosse eleito para esse cargo nas eleições do dia 4 de novembro, escrevi textualmente:

"Tenho a obrigação de fazer algumas perguntas delicadas:

"1º- É correcto que o presidente dos Estados Unidos ordene o assassinato de qualquer pessoa no mundo, seja qual for o pretexto?

"2º- É ético que o presidente dos Estados Unidos ordene torturar outros seres humanos?

"3º- É o terrorismo de Estado um instrumento que um país tão poderoso, como os Estados Unidos, deve utilizar para que exista a paz no planeta?

"4º - É boa e honrosa uma Lei de Ajuste, aplicada como punição a um só país, Cuba, para desestabilizá-lo, embora custe a vida a crianças e mães inocentes? Se for boa, por que não será aplicado o direito de residência aos haitianos, dominicanos e a outros dos demais países do Caribe, e se fará a mesma coisa com os mexicanos, centro-americanos e sul-americanos, que morrem como moscas no muro da fronteira mexicana ou nas águas do Atlântico e do Pacífico?

"5º - Será que os Estados Unidos podem prescindir dos imigrantes, que plantam vegetais, árvores frutíferas, amendoeiras e outras delícias para os norte-americanos? Quem limparia suas ruas, prestaria serviços domésticos e faria os piores e menos remunerados trabalhos?

"6º - Será que são justas as rusgas de indocumentados, que envolvem inclusive, crianças nascidas nos Estados Unidos?

"7º - Será que é moral e justificável o roubo de cérebros e a contínua extração das melhores inteligências científicas e intelectuais dos países pobres?

"8º- O senhor afirma que o seu país advertiu, há muito, as potências européias que não admitiria intervenções no hemisfério, e ao mesmo tempo, enfatiza o reclamo desse direito, exigindo também o de intervir em qualquer parte do mundo com o apoio de centenas de bases militares, forças navais, aéreas e espaciais distribuídas no planeta. Pergunto-lhe: Será essa a maneira em que os Estados Unidos expressam seu respeito pela liberdade, pela democracia e pelos direitos humanos?

"9º - Será que é justo atacar de surpresa e preventivamente sessenta ou mais escuros cantos do mundo, como os chama Bush, seja qual for o pretexto?

"10º - Será que é honroso e sensato investir trilhões de dólares no complexo militar-industrial para produzir armas que podem liquidar várias vezes a vida na Terra?"

Podia ter incluído outras perguntas.

Apesar das cáusticas perguntas, não deixei de ser amável com o candidato afro-americano, em quem via muita mais capacidade e domínio da arte da política que nos candidatos adversários, não só no partido da oposição, mas também no seio de seu partido.

Na semana passada, o presidente eleito dos Estados Unidos, Barak Obama, anunciou seu Programa de Recuperação Econômica.

Na segunda-feira, 1º de dezembro, apresentou o responsável pela Segurança Nacional e o da Política Externa:

"Biden e eu congratulamo-nos em anunciar-lhes nossa equipe de Segurança Nacional… os velhos conflitos ainda não se resolveram e as novas potências que se afirmam, pressionam mais o sistema internacional. A propagação das armas nucleares aponta para o perigo de que a tecnologia mais letal do mundo caia em mãos perigosas. Nossa dependência do petróleo estrangeiro fortalece governos autoritários e põe em risco o nosso planeta."

"…nosso poderio econômico tem que ser capaz de sustentar nossa força militar, nossa influência diplomática e nossa liderança global."

"Renovaremos antigas alianças e criaremos associações novas e duradouras… os valores dos Estados Unidos são o maior produto que este país pode exportar ao mundo."

"…a equipe que aqui reunimos hoje está especialmente preparada para fazer justamente isso."

"…homens e mulheres representam todos esses elementos do poderio dos Estados Unidos... Eles já prestaram serviços como militares e como diplomatas… compartilham meu pragmatismo sobre o uso do poder e meus objetivos sobre o papel dos Estados Unidos como líder do mundo."

"Conheço Hillary Clinton" ― diz.

Não esqueço, por minha parte, que foi a adversária do presidente eleito, Barack Obama, e esposa do ex-presidente Clinton, que sancionou as leis extraterritoriais Torricelli e Helms-Burton contra Cuba. Em sua luta pela candidatura, ela se comprometeu com essas leis e com o bloqueio econômico. Não me queixo, simplesmente, menciono-o.

"Sinto-me orgulhoso de que ela seja a nossa próxima secretária de Estado" ― prosseguiu Obama. "…gozará do respeito em todas as capitais, e evidentemente, terá faculdade para fazer avançar nossos interesses em todo o mundo. A indicação de Hillary é um sinal, para amigos e inimigos, da seriedade do meu compromisso…"

"No momento em que enfrentamos uma transição sem precedentes, em meio a duas guerras, pedi para Robert Gates continuar no cargo de secretário de Defesa…

"A nosso secretário Gates e a nosso exército encomendarei uma nova missão, assim que eu assumir o cargo: a responsabilidade de pôr fim à guerra no Iraque, mediante uma transição bem-sucedida até o controle iraquiano."

Chama-me a atenção que Gates é republicano e não democrata; a única pessoa que tem ocupado os cargos de secretário de Defesa e director da Agência Central de Inteligência, que ocupou um ou outro cargo sob a direcção de governo de um ou otro partido. Gates, que, como é sabido, é popular, declarou que primeiramente se assegurou de que o presidente eleito era escolhido para o tempo que for necessário.

Enquanto Condoleezza Rice ia à India e ao Paquistão com instruções de Bush para mediar nas tensas relações entre os dois países, o ministro de Defesa do Brasil tinha autorizado, fazia dois dias, uma empresa brasileira a fabricar mísseis MAR-1, mas, em vez de um, como até agora, cinco por mês, para vender ao Paquistão 100 mísseis, avaliados em 85 milhões de euros.

"Estes mísseis são acoplados com aviões e projetados para localizar radares em terra. Funcionam como uma maneira de monitorar eficazmente o espaço e também a superfície" ― afirma textualmente o ministro em sua declaração pública.

Obama, por sua vez, continua imperturbável em sua declaração da segunda-feira: "Para ir para frente, continuaremos fazendo os investimentos necessários para o fortalecimento do nosso exército e o aumento das nossas forças terrestres, visando derrotar as ameaças do século 21."

A respeito de Janet Napolitano, assinalou: "Contribui com a experiência e a habilidade executiva de que precisamos na Secretaria da Segurança Interior…"

"Janet assume este papel crucial , após aprender as lições dos últimos anos, algumas delas dolorosas, desde o 11 de setembro até o Katrina… Ela compreende, como todos, o perigo de uma fronteira não segura, e será uma chefa capaz de reformar um Departamento que cresce sem controle, sem deixar de proteger nossa pátria."

Esta conhecida figura foi indicada por Clinton promotora do distrito do Arizona em 1993, promovida a procuradora-geral do Estado em 1998; foi candidatada pelo Partido Democrata em 2002 e eleita mais tarde governadora nesse estado fronteiriço, que é o caminho mais transitado pelos indocumentados e por onde eles entram no país. Foi reeleita governadora em 2006.

A respeito de Susan Elizabeth Rice, disse: "Susan sabe que os desafios globais que enfrentamos exigem de instituições globais que funcionem… precisamos de umas Nações Unidas mais eficazes" ― afirma com desprezo ― "como órgão de ação coletiva contra o terrorismo e a proliferação, a mudança climática e o genocídio, a pobreza e as doenças.

De James Jones, assessor da Segurança Nacional, expressou: "Estou certo de que o general James Jones está especialmente bem preparado para ser um hábil e enérgico assessor da Segurança Nacional. Gerações de Jones prestaram serviços no campo de batalha, das praias de Tarawa, na Segunda Guerra Mundial, até Foxtrot Ridge, no Vietnã. A Medalha de Prata de Jim faz parte do orgulho desse legado… Foi chefe de um pelotão no combate, comandante supremo das Forças Aliadas na época da guerra" (refere-se à OTAN e à Guerra do Golfo) "e trabalhou pela paz no Oriente Médio."

"Jim está concentrado nas ameaças de hoje e do futuro, pois compreende a ligação entre a energia e a segurança nacional, e trabalhou na primeira linha da instabilidade global, de Kosovo ao norte do Iraque e do Afeganistão.

"Ele vai-me assessorar sobre a maneira de usar com eficiência todos os elementos do poderio americano para derrotar as ameaças não convencionais e promover nossos valores.

"Confio em que esta é a equipe de que necessitamos para um novo começo na Segurança Nacional dos Estados Unidos."

Com Obama, pode-se conversar onde ele desejar, já que não somos apregoadores da violência e da guerra. Devemos recordar-lhe que a teoria da cenoura e do garrote não terá vigência em nosso país.

Nenhuma frase de seu último discurso responde às perguntas que formulei em 25 de maio passado, há apenas seis meses.

Agora não direi que Obama é menos inteligente; tudo o contrário, está demonstrando as faculdades que me permitiram ver e comparar sua capacidade com as do medíocre adversário John McCain, de quem, por pura tradição, a sociedade norte-americana esteve a ponto de premiar suas "façanhas". Sem crise econômica, sem televisão e sem internet, Obama não ganhava as eleições vencendo ao onipotente racismo. Tampouco, sem seus estudos, primeiro na Universidade de Columbia, onde se formou em Ciências Políticas, e depois na Universidade de Harvard, onde lhe foi conferido o diploma em direito, permitindo-lhe tornar-se um homem de classe modestamente rica com vários milhões de dólares. Certamente, não era Abraham Lincoln, nem esta época corresponde àquela, pois trata-se hoje de uma sociedade de consumo, onde o hábito de poupar já se perdeu e o de gastar já se multiplicou.

Alguém tinha que dar uma resposta calma e sossegada, que hoje deve navegar contra a poderosa maré de ilusões despertada por Obama na opinião pública internacional.

Apenas me faltam examinar os últimos telexes. Todos, com notícias novas procedentes de toda parte. Calculo que somente os Estados Unidos gastarão nesta crise econômica mais de 6 trilhões em moeda de papel, que só podem ser avaliados pelos outros povos do mundo com suor, fome, sofrimento e sangue.

Nossos princípios são os de Baraguá. O império deve saber que nossa Pátria pode ser coonvertida em pó, mas os direitos soberanos do povo cubano não são negociáveis.

Fidel Castro Ruz
4 de dezembro de 2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Elis Regina - Medley Milton Nascimento (Montreux Festival)

DITADURA MILITAR NO BRASIL


Muito interessante e sérias, as informações contidas na revista Caros Amigos, em suas edições especiais sobre a Ditadura militar no Brasil. Vale a pena ler e guardar para não esquecermos jamais esse período brutal e sangrento que vivenciamos e que até hoje os responsáveis não foram levados a julgamento.
Os links para a revista encontram-se no sitio do Ronaldo.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

EM PORTUGAL O MAGISTÉRIO TAMBÉM SE MOBILIZA....

Em noticia publicada pelo sitio www.esquerda.net, dá-nos conta de que em Portugal o magistério e os trabalhadores em Educação também se mobilizam para trancar mudanças impetradas pelo governo federal de desqualificar a escola pública. Muito semelhante com o que ocorre hoje no estado do Rio Grande do Sul.

Professores: greve nacional deve ser a maior de sempre



Deixem-nos ser professores. Foto de Paulete Matos
Os professores fazem amanhã uma greve nacional sob o lema "Vamos avaliar o Ministério de Educação fechando as escolas". A expectativa é que seja a maior e mais participada greve de professores de sempre. Sindicatos e movimentos divulgaram apelos para que a greve seja activa, e inúmeras concentrações estão a ser convocadas para a frente das escolas e para praças públicas.

Segundo a Fenprof, já são mais de 370 as escolas/agrupamentos que suspenderam o processo de avaliação de desempenho que o governo quer impor. As simplificações de última hora anunciadas pelo governo não tiveram qualquer efeito na mobilização docente, com os professores a argumentar que o processo está errado no seu todo e que só a suspensão da sua aplicação poderá permitir o reinício das negociações.

Para a Fenprof, o ME e o governo "não souberam interpretar, como deveriam, as evidências da indignação dos professores, como não souberam ou não quiseram escutar as suas propostas. Hoje o conflito está muito mais agravado e obriga o governo a criar condições para que se construa uma solução de consenso que tenha, como pressuposto, a suspensão do modelo de avaliação. A greve de 3 de Dezembro será um grande momento de protesto e confirmação das posições dos professores."

Após a greve, nos dias 4 e 5, os sindicatos organizam uma vigília dia e noite em frente ao Ministério da Educação. E no dia 6, os movimentos organizam em Leiria um encontro das escolas em luta.

Governos desesperados injetam dinheiro às cegas no mercado

Noticia veiculada no Diário Gauche


Nada garante que a medida será bem sucedida




O governo Bush, os países europeus e o Japão, principalmente, adotaram a tática meio cega de empanturrar os mercados com muita moeda líquida. Um empirismo desesperado para ver se estanca a corrida inabalável para o fundo do poço, cuja fundura ninguém sabe qual é.

Hoje, o Japão está injetando mais 32 bilhões de dólares para ver como a coisa fica. Uma temeridade. Trinta e dois bilhões de dólares de papel pintado, emitido pelos banqueiros norte-americanos, sem qualquer lastro na economia produtiva e criadora de riqueza. Papel de boa qualidade, com tinta de boa qualidade, nada mais que isso.

Dinheiro é o equivalente geral, a representação de valor por excelência. Nas hipertrofias do neoliberalismo, o dinheiro ascende à condição de mercadoria central e privilegiada do sistema, desbancando a mercadoria-trabalho, aviltada pelo crescente exército industrial de reserva, pelas mecanizações e tecnologias do trabalho-morto, etc.

Todas as demais mercadorias quiseram "imitar" a capacidade de valorização do dinheiro. Mas o papel-pintado é somente "a vida do que está morto [força de trabalho alienada na mercadoria, e esta transformada em moeda] se movendo em si mesma", na genial e primorosa síntese de Hegel.

Dias atrás, eu vi um dado que é estarrecedor: os Estados Unidos estão comprometendo em consumo cerca de 350% do seu PIB, hoje. Isso explica parcialmente o buraco no qual se meteram. Entre as décadas de 1950 e 1980, portanto, no período que precedeu a hipertrofia financeira, o comprometimento em consumo jamais passou de 180% do PIB. [Somente a título de curiosidade, hoje, o Brasil compromete em consumo cerca de 70% do PIB. Comércio de milhares de bugigangas, de automóveis de luxo a bolachinha recheada cancerígena, tudo embalado no papel-celofane dos juros para pagar os “sócios” da banca.]

A crise atual é como um trem-bala que viaja a 400 km por hora e breca bruscamente para velocidades bem menores, alguns vagões ficarão desgovernados e sairão dos trilhos rumo ao abismo, outros, muito poucos, conseguirão manter a linha, mas em deslocamento reduzido e sem saber que rumo tomar. Atulhar dinheiro nisso pode ser um erro do tamanho dos recursos que estão sendo injetados.

Coisas da vida.

O CONDOR SEGUE VOANDO



Por Elaine Tavares - jornalista


Martin Almada não consegue passar despercebido, ainda que esteja no meio de uma multidão. Brilha nele um sorriso que tem um quê de menino, uma inocência, uma coisa pura, que sobressai e impressiona. Sabe-se lá de onde esse homem, que já viveu tanta dor, tira tamanha doçura. O certo é que ela ali está e se derrama, mesmo quando ele conta das horas mais amargas, da prisão, da tortura e da morte da primeira mulher.

O dono desta ternura abissal é paraguaio, nascido no ano de 1937, em Puerto Sastre, região do Chaco, e é referência mundial na luta pelos Direitos Humanos, tanto que, em 2002, foi o vencedor do prêmio Nobel da Paz Alternativo, oferecido pelo parlamento sueco. Foi ele quem encontrou os documentos que trouxeram à luz toda a podridão e o terror da Operação Condor, responsável pela morte de milhares de pessoas em toda a América Latina, no que as ditaduras militares chamavam de luta contra a subversão. Hoje, ele segue sua luta incansável para colocar na cadeia cada um dos que levaram a cabo a operação, e mantém firme a conduta de defensor dos ativistas populares que enfrentam a prisão ou o desaparecimento, pois como bem assinala: o condor segue voando.

Quando a América Latina foi tomada pelas ditaduras militares nos anos 60, Martin Almada era apenas um jovem professor que dirigia um colégio. Não tinha nenhuma compreensão do que era a luta de classes e tudo o que fazia era repetir os ensinamentos de cunho eurocêntrico que havia recebido. Até que um dia todo o seu mundo desmanchou-se no ar. Por acaso, encontrou um livro do educador brasileiro Paulo Freire e desde aí sua existência mudou radicalmente. Aplicar a idéia freiriana de transformação foi seu primeiro pecado durante a ditadura de Alfredo Stroessner. Depois, envolveu-se na luta social, dirigindo o sindicato dos professores. Naquele período teve ainda a ousadia de propor uma cooperativa de construção de casas, viabilizando o sonho de moradia própria dos educadores paraguaios. Era seu segundo pecado, mas ele nem sonhava que aquilo estaria voltando os olhares da repressão para sua pessoa.

Tempos depois partiu para a cidade de La Plata, na Argentina, onde faria seu doutorado discutindo educação e dependência. Já estava totalmente alfabetizado nas lutas sociais que pululavam no continente e tinha clareza de que a educação, tal como se aplicava, só beneficiava a classe dominante e que, esta, estava a serviço do subdesenvolvimento e da dependência. E foram essas idéias que chamaram a atenção do poder. Assim, tão logo colocou os pés no Paraguai, em 1974, retornando do doutorado, Martin foi seqüestrado de sua casa e preso, sendo submetido a um tribunal militar. Seu trabalho produzido na Argentina foi considerado pela ditadura como terrorismo intelectual, e aí começou seu calvário.

Seguindo o manual da malfadada Escola das Américas, os policias paraguaios iniciaram um período de violentas torturas. Por 10 dias seguidos, um coronel chileno e um chefe policial argentino infligiram os mais torpes sofrimentos ao educador. No mesmo período, a mulher de Martin - Celestina - também foi presa, e a tortura a que a submetiam era a de escutar, pelo telefone, as torturas sofridas pelo marido. Passados 90 dias da prisão de Martin, os torturadores cometeram mais uma vileza. Mandaram para a casa do professor, endereçada à sua mulher, que já estava livre, a roupa ensangüentada do marido, seguida de um telefonema: Venha buscar o cadáver. Golpeada pela dor, Celestina não resistiu e teve um infarto fulminante. Morreu sem saber que aquilo era só mais um momento de tortura. Essa morte marcou minha vida pra sempre. Até hoje meus filhos me culpam por isso.

A morte de Celestina levou Martin a uma greve de fome e em todo país começou um movimento - liderado pela igreja - pela sua libertação. Finalmente, em 1978, o professor, chamado de terrorista intelectual saiu da cadeia, exilado para o Panamá, onde o presidente era Omar Torrijo, um militar progressista. Lá, conhecido por sua conduta transformadora na educação, caiu nas graças do presidente que o convidou para assumir um cargo em Paris. E foi na França que Martin Almada viveu por mais de 15 anos, tendo sido inclusive consultor da UNESCO para assuntos de educação. Foi um período difícil, longe da minha terra e convivendo com o ódio surdo dos filhos, pois, haviam repetido os militares, incessantemente, que eu havia matado minha mulher. Esta é uma chaga que ainda não foi cicatrizada. Hoje os filhos conseguem perceber melhor tudo que aconteceu, mas ainda não conseguimos superar, diz, com os olhos marejados. O silêncio que se segue dá testemunho do tamanho da dor.

Há uma vontade férrea por trás do sorriso doce de Martin Almada. Ele nunca perdoou a ditadura de Stroessner por todo o terror que infligiu ao povo do Paraguai. Para além da sua tragédia pessoal, Martin não deu descanso aos que comandaram a tortura e a morte de milhares de outros homens e mulheres. Assim, tão logo pode voltar para o país, depois da morte do ditador, ele iniciou a cruzada que o levaria a descoberta de toda a documentação da Operação Condor, responsável pelo assassinato de mais de 100 mil pessoas na América Latina.

De volta ao Paraguai a primeira ação de Martin foi entrar na Justiça para saber os motivos de sua prisão, que tanta dor trouxe a ele e aos seus. Queria que o Estado respondesse o que vinha a ser um terrorista intelectual. Surpreso, descobriu que, para a polícia, ele nunca havia sido preso. Não havia arquivo algum que comprovasse. Ele não sossegou, insistiu na busca dos documentos. Impossível não existirem. Em algum lugar estariam. Um telefonema anônimo informou: Estão fora do país. Esse monstro é maior do que pensas. Martin continuou brigando na Justiça até que, em 22 de dezembro de 1992, encontrou. Eram milhares de documentos que comprovavam os convênios do terror que estabeleciam os países entre si. As ditaduras do Chile, da Argentina e até do Brasil celebravam contratos que garantiam préstimos na chamada luta anticomunista. No que ficou conhecido como Operação Condor só na Argentina milhares de pessoas foram jogadas, com vida, no mar - mais de 100 mil pessoas entre estudantes, intelectuais, dirigentes sindicais, camponeses e lideranças indígenas foram assassinadas. Praticamente toda a classe pensante da América latina foi eliminada com essa operação, orientada pelos Estados Unidos e levada a cabo pelos governos ditatoriais.

Hoje, Martin Almada atua como advogado no pequeno Paraguai. Ali, apesar de ter se acabado a ditadura, a luta dos empobrecidos segue dura e toda a reivindicação por direitos é criminalizada. No Paraguai estão em luta os povos originários, os camponeses sem-terra, os desempregados. Eu sempre pensei que a educação mudaria o mundo, mas, aqui no Paraguai, vejo que, hoje, ser advogado é mais importante do que ser professor. Os pobres são largados a própria sorte na mão da Justiça, não têm ninguém por eles. Então, decidi que tinha de atuar por eles. Por sua luta pelos Direitos Humanos foi condecorado pelo governo Francês,Argentina, premiado no Brasil e recebeu o Nobel Alternativo no Parlamento Sueco. 2002-.

Marcado pela dor, mas sem jamais se deixar vencer por ela, Martin segue a vida, defendendo os empobrecidos nas lutas judiciais e denunciando as arbitrariedades que se cometem, todos os dias, contra os que lutam por vida digna. Vigilante, ele mantém os olhos e a mente fixos nas asas do Condor. Não aquele, bicho, que embeleza o céu dos Andes, mas a lúgubre operação de assassinatos e desaparições que ainda segue sendo praticada nas entranhas de toda a América Latina.

Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com
América Latina Livre - www.iela.ufsc.br
Desacato - www.desacato.info
Pobres & Nojentas - www.pobresenojentas.blogspot.com

PELA VIDA, PELA PAZ/ TORTURA NUNCA MAIS

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O VELHO E O MAR - Curta/Animação

The Oldman and The Sea, Aleksandr Petrov




Formatos: rmvb e avi
Áudio: Inglês
Legendas rmbv: Português/BR (embutidas)
Legendas avi: Português/BR (Separadas)
Duração: 19 min.
Tamanho rmvb: 83 MB/Arquivo único
Tamanho avi: 374 MB/05 Partes
Servidor: Rapidshare



RMVB:

http://rapidshare.com/files/143997252/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.rmvb


AVI:

http://rapidshare.com/files/144031547/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part1.rar
http://rapidshare.com/files/144034654/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part2.rar
http://rapidshare.com/files/144038090/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part3.rar
http://rapidshare.com/files/144041578/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part4.rar
http://rapidshare.com/files/144041952/TOATS99_FORUM_FARRA_up_by_Eudes.part5.rar


Senha para descompactação: http://farra.clickforuns.net



Sinopse: Este, curta metragem, é baseado no livro de Ernest Hemingway e acabou ganhando o Oscar no ano de 2000.

A obra exigiu árduo trabalho, por parte de Alexander Petrov -mais de 2 anos em que o pintor preparou manualmente mais de 29 mil frames (em vidros pintados) para finalização do filme.

Petrov é realmente incrível, utilizando uma técnica muito artesanal para criar suas obras, como o é a pintura sobre o vidro, ele ‘abusa’ e simplesmente usa os próprios dedos como pincel.

Enfim, um trabalho de uma precisão e generosidade ímpar, com dignidade e respeito expostas em vívidas cores, em reconhecimento e em dedicação para levar às telas uma obra magistral numa forma única, artisticamente una.

Créditos: F.A.R.R.A. - Eudes Honorato

Fonte: http://nabangue.wordpress.com/


Elenco de Vozes:

Gordon Pinsent
Kevin Duhaney


Screen Shots: