quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A volta de Zelaya....

Nem só de Reinold Stephanes é feito o governo Lula



Laerte Braga

Existe Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores. É claro que o chanceler tinha conhecimento de toda a movimentação do presidente legítimo de Honduras, Miguel Zelaya. Um feito desse porte não é obra do acaso.

A ação foi conjunta com o governo do presidente Hugo Chávez da Venezuela. Surpresa deve ter ficado a secretária de Estado Hilary Clinton. O governo Obama dava como cumprido o seu “dever”. Condenou o golpe da boca para fora. A ação golpista foi articulada na base militar dos EUA na região de Tegucigalpa, com participação direta do embaixador de Washington.

As eleições previstas para novembro, do ponto de vista dos EUA, criariam uma nova realidade e os golpistas teriam alcançado seus objetivos.

Se Zelaya sai da embaixada do Brasil para o palácio do governo é outra história. O importante é que há um fato político inesperado que complica a lógica dos golpistas.

Para que se possa ter uma idéia do que a volta de Zelaya significa, nas condições em que se deu, ou seja, a presença do presidente legítimo de Honduras em território hondurenho, a chamada grande mídia sabia do fato desde o início da tarde e estava aguardando “instruções” de Washington sobre como noticiar. Foi o caso da GLOBO por aqui.

Desde o golpe que todo o aparato golpista, explícito ou não, governo e mídia subordinada, brincavam de apoio à legalidade democrática, tranqüilos e serenos, apostando no tempo como fator decisivo para a consolidação da quartelada.

O grande problema agora é saber como vão reagir as forças armadas hondurenhas. Se mergulham o país num banho de sangue, o povo está nas ruas exigindo Zelaya, ou se acatam a vontade popular.

Forças armadas latino americanas de um modo geral se comportam, historicamente, como “polícia” dos interesses dos EUA e de elites apátridas. São raros os chefes militares com compromissos expressos com seus povos, suas nações. O golpe de 1964 no Brasil foi uma típica ação norte-americana, comandada por um general dos EUA, Vernon Walthers. É a praxe dos golpes na América Latina. l

Não há que se discutir a volta de Zelaya na forma proposta pela secretária Hilary Clinton. Ou seja, Zelaya assume o governo e cumpre um fim de mandato formal, dentro de uma camisa de força, comr de parâmetros ditados pelos EUA.

E os hondurenhos presos? Torturados? Assassinados pelos golpistas?

A atitude de Zelaya refunda Honduras do ponto de vista político e institucional. A realidade agora é diversa em todos os sentidos. O referendo que serviu de pretexto para o golpe é um começo para essa realidade.

E acontece num momento que o governo Lula está debaixo de intenso bombardeio de forças de extrema-direita (PSDB e DEM), numa ação que não é isolada. Faz parte de todo um projeto político que tem como objetivo a derrubada de governos hostis aos EUA.

São as bases militares na Colômbia. As iniciativas do latifúndio e companhias internacionais contra o MST no Brasil. A clara tentativa tucano/DEMocrata de entregar o pré-sal a empresas norte-americanas através de manobras legislativas. O controle da informação a partir da censura na internet. A ofensiva do governo Obama contra o acordo militar Brasil-França. As ações contra Chávez.

Toda uma sinfonia golpista regida na expectativa de eleições em 2010 e o governo de volta a funcionários da Fundação Ford, no caso, José Serra. O peso do Brasil nesse processo.

O grande problema é que nem todos os ministros do governo Lula se chamam Reinold Stephanes (Agricultura). Existem figuras do porte de Celso Amorim. Desde o golpe militar de 1964 o Brasil não tem política externa. Tem prevalecido a vergonhosa máxima do general Juracy Magalhães, chanceler da ditadura, governo Castello Branco. “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Houve um arremedo de chanceler, Celso Láfer, governo FHC, que chegou a tirar os sapatos no aeroporto de New York, numa “revista”. Tipo baixar as calças e cair de quatro.
Por outro lado devem aumentar as pressões pelos tais “acordos negociados”, quando não há o que negociar, mas apenas cumprir a vontade dos hondurenhos.

A decisão do presidente golpista Micheletti de cortar a energia elétrica nas imediações da embaixada do Brasil sinaliza que os militares hondurenhos ainda não conseguiram, pegos de surpresa, acertar o passo com o comandante militar da base dos EUA na capital do país e que o embaixador de Washington deve estar esperando o senador John McCain acordar para saber como proceder.

A forma fria como a mídia “brasileira” está tratando o fato, uma espetacular manobra política de resistência, deixa patente que as “instruções” ainda não chegaram às redes de tevê, jornais e revistas. Miriam Leitão deve estar na expectativa do script para poder apresentar com a característica histeria de “cinco milhões” de mortos, a gripe suína, o pânico gerado a soldo da indústria farmacêutica.

O povo de um pequeno país da América Central desconserta toda a “consertación” golpista que derrubou Zelaya.

O que mostra que tamanho não é documento.

A volta de Zelaya a Honduras é um concerto de corais dos movimentos populares latino-americanos.

Agora é hora do grande final.

A batuta é do povo de Honduras e os aplausos e pedidos de bis partem do movimento popular da América Latina como um todo.

Nem só de Reinold Stephanes vive o governo Lula e é hora do próprio presidente perceber isso.

Caiu no seu colo a oportunidade de resgatar a liderança efetiva do processo de integração latino-americana.

E é uma boa hora para militares latinos pensarem em seus próprios países, suas nações, dando uma banana aos comandantes norte-americanos.

Da importância da memória ...







Escrito por Maria Clara Lucchetti Bingemer

O grande filósofo Martin Heidegger afirma que "a memória é o recolhimento do pensar fiel". Com isso, quer dizer que ela protege e guarda consigo tudo aquilo que é importante, que faz sentido, que se antepõe e antecede mesmo aos fatos como seu sentido. Tudo aquilo, enfim, que se propõe ao pensamento como conteúdo digno de ser refletido e recordado. Por isso, a memória é a condição de possibilidade da cultura, da civilização, de tudo que o ser humano constrói sobre a terra.

Em termos teológicos, a memória é o que permite não perder a Palavra revelada e acolhida na fé; a identidade do Deus pessoal que se revela, diz seu nome e mostra seu rosto e deseja ser reconhecido. Pela memória se narra e se conta, sempre de novo, a história dessa experiência, desse diálogo, dessa identidade. E tudo isso para fazer memória, para poder testemunhar para as novas gerações, para não deixar esquecer aquilo que fez e deve continuar fazendo a humanidade: viver, sofrer, rir, pensar, falar e conhecer.

Existe a memória da alegria, do amor vivido e realizado, dos momentos vividos juntos. Memória dos rostos sorridentes, das palavras trocadas, dos gestos de carinho sentidos sobre a pele que, tocada, se sente vibrar de vida e gozo. É recordação que ajuda a viver e concede doçura ao mais duro cotidiano.

Mas existe também a memória da dor, que arrasta para a visibilidade e a frente do proscênio a dor das vítimas diante dos poderes alimentados pelo princípio de domínio. A memória da dor não fala em termos abstratos, do "ser humano" ou da "humanidade".

Fala do outro concreto: do desespero das viúvas que se lançam impotentes sobre o caixão do companheiro; do choro das crianças órfãs que gritam sem entender por que seu pai jaz no chão perfurado por balas e granadas; dos rostos emagrecidos e famintos dos que vivem em continentes que as grandes potências riscaram dos mapas. Fala do holocausto nazista e dos expurgos stalinistas e de seus milhões de vítimas que têm nome, endereço, um número tatuado na pele do braço e uma estrela amarela costurada na roupa.

Quando há olvido dessa dor e desse sofrimento, começa um processo lento de desumanização de um povo ou de uma cultura. Por isso filósofos como Adorno, teólogos como Johann Baptist Metz, enfatizam a importância da dimensão subversiva da memória. É subversiva porque não deixa esquecer e traz as vítimas para o centro da atenção. É subversiva porque não deixa desaparecer na noite dos tempos o mal praticado, a justiça desprezada, e põe em evidência o processo de extinção da tradição que começa a crescer, ameaçando sufocar a dignidade humana e empurrar em direção à desumanidade.

A memória reclama uma razão anamnética, um modo de pensar que não reduza o sujeito a uma abstração conceitual sem referência à história e aos processos sociais. E assim reivindica o direito de ser uma mediação crítica para a prática humana. Seu instrumento é por excelência a narrativa. A narrativa é a morada da memória. Assim nasceu o cristianismo, quando os discípulos do nazareno narravam uma e outra vez a história daquele que passara pela vida fazendo o bem, que fora morto violenta e injustamente, mas que Deus ressuscitara e agora se encontrava vivo em meio a eles.

Assim acontece igualmente com as vítimas da história que, nomeadas e narradas pela memória, permanecem vivas e se mantém acesa a chama de suas vidas que clamam por justiça. Não se trata de um mero amor às tradições, mas o desejo de criar e formar uma comunidade de solidariedade com as vítimas da história, que interrompe as tentativas de calar e amordaçar a verdade que os sistemas totalitários de todos os tipos carregam em seu bojo. A memória resgata a narrativa ardente do passado e o atualiza para transformar o presente. Rememora acontecimentos com urgência de futuro, criando uma solidariedade que olha longe e vê além das aparências.

Um país sem memória vai pouco a pouco vendo desaparecer e esfumar-se sua identidade verdadeira. Abre espaço para retornos indesejados e varre para as sombras de um equivocado esquecimento presenças luminosas cujas vidas deveriam ser narradas uma e mais vezes, a fim de iluminar o caminho das novas gerações. Esperemos que o Brasil não entre nessa lista. Seria desastroso e indigno da grande nação que é.

Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, é professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.

A sociedade do lixo









Ana Candida Echevenguá * Adital

Segundo o doutor Alexandre de Ávila Lerípio, "somos a sociedade do lixo". Nos últimos 20 anos, a população mundial aumentou em 18% e a quantidade de lixo planetária passou a ser 25% maior. Tudo isso graças ao american way of life que incentiva o consumismo, a produção de bens descartáveis e a utilização de materiais artificiais.

Com este volume crescente, o lixo nosso de cada dia - doméstico, hospitalar ou industrial - deveria ser bem gerenciado para evitar os impactos negativos à saúde humana e o meio ambiente.

Para tratar da questão dos resíduos industriais, o Brasil tem normas claras: Constituição Federal e Estaduais, Lei 6.803/80, Lei 6.938/81, Lei 9.605/98, Resoluções do CONAMA, dos CONSEMAS, ...Todas com o mesmo espírito: o lixo industrial carece de tratamento especial devido aos riscos que provoca à saúde e o gerador é obrigado a cuidar do gerenciamento, transporte, tratamento e destinação final desse lixo, seguindo o conceito do poluidor-pagador.

Ou seja, os resíduos devem ser tratados e destinados para aterros com estrutura protetiva que evite a contaminação do solo e água.

Já que os cuidados exigidos implicam custos extras, o que ocorre hoje? As indústrias -por economia- lançam seus resíduos sólidos a céu aberto, à beira da estrada, em terrenos baldios..., ou guardam em depósitos, enterram por aí... Os líquidos são despejados no solo e na água; os gases lançados no ar. A certeza da impunidade permite essa prática corriqueira de crimes ambientais.

Ou criam ‘fórmulas verdes’ de reuso do seu lixo: o lodo da cerâmica é doado para fazer tijolos ou cimento, a areia fenólica é usada na pavimentação das estradas. Cuidado, gente! Muitos destes projetos, rotulados como ambientalmente corretos, são poluentes.

Tudo isso é ilegal? Sim. Mas a prática é corriqueira devido à precariedade da fiscalização e do controle da emissão de poluentes, de lançamento de efluentes e da destinação correta dos resíduos gerados.

O Paraná, por exemplo, não tem aterro sanitário para lixo industrial. Santa Catarina tem alguns; mas as indústrias não apresentam inventário de seus resíduos. Fazem a mágica de produzir sem gerar resíduos.

Com o advento da Lei de Crimes Ambientais e a previsão de sanções para o poluidor-pagador, as empresas de transporte e de tratamento de resíduos passaram a apostar nesse filão de mercado. Mas chegaram à conclusão que é mais fácil lucrar com o lixo urbano, facilmente pago pelo cidadão comum.

Enquanto isso, ninguém tem interesse (ou coragem) de propor a confecção de um inventário nacional dos resíduos industriais; nem em desenvolver uma política de redução do potencial poluidor da indústria brasileira.

Afinal, é mais fácil impor à Natureza a responsabilidade de depurar as substâncias tóxicas que nela lançamos.


* Advogada ambientalista. Coordenadora do Programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios

terça-feira, 22 de setembro de 2009

E vai rolar a festa







Escrito por Gabriel Brito
- Correio da Cidadania

Nesta semana, o BNDES anunciou ao público uma linha de crédito no valor de 4,8 bilhões de reais para a construção dos estádios que abrigarão os jogos da Copa do Mundo de 2014. De acordo com o plano, o banco concederá 400 milhões para cada uma das novas arenas, ficando de fora apenas os estádios do Morumbi (São Paulo FC), Beira Rio (Internacional) e Arena da Baixada (Atlético-PR), impedidos de aderirem ao financiamento por serem particulares.

Com a decisão, vai ficando cada vez mais pavimentado o caminho para o uso indiscriminado do dinheiro público na farra que se avizinha, pois já é líquido e certo que serão os governos estaduais de cada sede a botarem a mão na massa e erguerem os estádios. Apesar de ainda se buscarem parceiros privados, a falta de sinais vindos desse setor já deixa claro que os estados e municípios terão de criar os filhotes (de elefante).

E como demonstração cabal de um país desprovido de qualquer sentido cidadão, o presidente da CBF Ricardo Teixeira, após decantar o contrário desde a escolha do Brasil como sede, foi obrigado a reconhecer (com muito pesar, é certo) de que realmente será necessário dinheiro público na construção dos novos campos, uma vez que a crise internacional (sempre ela) teria afastado os investidores (nunca apresentados) dos projetos.

Como prova do país leniente que também somos, expirou no último dia 31 o prazo estabelecido pela FIFA e Comitê Organizador da Copa para abertura de licitações para as obras, o que já preocupa os dirigentes máximos do órgão. Jerome Valcke, secretário geral da entidade, já disse que passou da hora de o país começar de fato a tocar o projeto do mundial.

Como dar jeitinho é algo rotineiro por aqui, Ricardo Teixeira já se antecipou aos imprevistos e estendeu, só de boca, o prazo para início das obras de fevereiro para março de 2010. Enquanto isso, podemos observar contradições e intrigas em torno de cada um dos projetos, sem exceção, aventura que ainda não sabemos que preço cobrará do futebol nacional em seu cotidiano até e depois da Copa.

Financiar maquete ou o que já existe?

Estranhamente, excluíram-se da linha de crédito os três citados estádios, com a alegação de que já têm seus respectivos donos. No entanto, quantas dezenas de projetos o BNDES já financiou para a iniciativa privada, sem qualquer contrapartida social? Até fazenda identificada por impor trabalho escravo foi detectada como receptora de financiamento do banco recentemente.

Portanto, se o Morumbi será o estádio paulista da Copa, por que não financiá-lo também? Afinal, trata-se de empréstimo apenas. Não é mais seguro oferecer crédito a um estádio já erguido, com conhecidas fontes de receita e no principal centro econômico do país do que jogar um rio Amazonas de dinheiro público em localidades que só têm as maquetes de feira de ciências até agora? Para muita gente, trata-se de um inconfessado desejo de construir um novo estádio na metrópole, fazendo a alegria de muitos envolvidos.

Pois será assim. Na hora dos anúncios, festa, tapinha nas costas e garantia de retorno ao investimento. Porém, é difícil imaginar que tamanha fortuna não vá para o ralo em determinados, ou vários, casos. O argumento básico é de que os estádios serão ‘multiuso’, ou seja, poderão receber shows, eventos, vender espaços, camarotes, ter restaurantes, salas de cinema e por aí afora, de modo a potencializar os ganhos com o local, algo muito comum na Europa, mas nunca feito por aqui (exceto no estádio do Atlético-PR!).

Tudo legítimo, correto, pois o estádio precisará ser mantido além de construído. Porém, deixa-se de lado que tais premissas não cabem em todos os lugares. Primeiro, porque a razão primordial de sua existência ainda serão as partidas de futebol. Outra coisa: os Rolling Stones já tocaram em Manaus? Não que não possam, mas é evidente que tal empreitada só pode ter (alguma) garantia de retorno em centros mais ricos, que fazem parte do circuito internacional das finanças, entretenimento etc. Logo, recuperar tal monta de investimentos em determinadas praças será missão praticamente impossível.

Vá tomando nota

Dentre as cidades contempladas como sede, algumas seguem cobertas de incerteza, e, se já está difícil angariar apoio privado em grandes centros, em outros já é óbvio que tudo recairá sobre os cofres públicos. Além do mais, como já alertado neste espaço, nossa iniciativa privada sempre foi muito, digamos, ‘mimada’ pelos governos de plantão.

Ou seja, qualquer grupo empresarial que possa ter interesse nos eventuais lucros dos estádios e que possua o mínimo conhecimento de como funcionam as coisas por aqui saberá que a hora de injetar dinheiro não é essa. Sabedores de que a aventura já foi assumida oficialmente pelo país, têm a certeza de que as arenas serão levantadas, de um jeito ou de outro.

Depois, com tudo prontinho, já poderemos esperar os governos dizerem que os custos de manutenção são demasiado elevados e que é necessário passar sua administração a algum grupo capaz de gerenciar. E aí eles entram em cena, e, sob os auspícios dos próprios governantes, ganham de presente um enorme patrimônio feito com verba pública. Foi assim com o Engenhão, construído para o Pan 2007 por 380 milhões, e que passou para as mãos do Botafogo sob o módico aluguel de 36 mil reais por mês. Com um exemplo desses, quem vai ser trouxa de abrir a carteira?

Pra tentar finalizar esse tema cheio de desdobramentos, e com diversos casos que merecem uma abordagem mais específica, chegamos ao ponto em que já não temos tanto tempo para tocar todas as obras, inclusive as estruturais, a tempo do Mundial, ainda que o tempo pareça longo.

Sendo assim, e já foi avisado, muitos estádios terão de ser fechados por um período doloroso. Mineirão e Maracanã deverão ser fechados por dois e três anos respectivamente, pois a FIFA ordena que assim se faça nos estádios que abrigarão jogos. Pois é, enquanto se prepara a farra da qual o torcedor nem sabe se poderá participar (teme-se por preços exorbitantes nos jogos), este poderá ficar privado de seu futebolzinho cotidiano também.

Os clubes mineiros ainda não têm idéia do que fazer. Já os cariocas terão de se contentar com palcos menores e infinitamente menos queridos; lembrando que o estádio já fechara por dois anos entre 2004 e 2006.

Desse modo, o cenário parece montado. A torneira governamental será aberta, os estádios estarão em pé, licitações serão atropeladas em nome da urgência e, depois de voltarem à realidade das partidas para 3 mil pessoas em Brasília, Manaus ou o que seja, nossos ‘capitães da copa’ entregarão suas brincadeiras faraônicas para os privilegiados de sempre, locupletando-se todos, como sempre também. Tudo isso descontando as hipóteses de irregularidades em todo o processo, assunto, esse sim, que ficará como principal ‘legado’ da Copa do Mundo no Brasil.

Gabriel Brito é jornalista.

Rosa Luxemburgo e a pena de morte...

Um dever de honra

por Enlace

Isabel Loureiro, filósofa e professora da Universidade de São Paulo, apresenta uma tradução inédita de um pequeno artigo no qual a aguerrida intelectual polonesa Rosa Luxemburgo se posiciona veementemente contra a pena de morte.

Por Rosa Luxemburg

Não queríamos “anistia” nem perdão para as vítimas políticas do velho poder reacionário. Exigíamos nosso direito à liberdade, à luta e à revolução para aquela centena de militantes corajosos e leais que definhavam nas penitenciárias e nas prisões por terem lutado, sob a ditadura militar do bando criminoso imperialista, pela liberdade do povo, a paz e o socialismo. Agora estão todos em liberdade. Estamos novamente enfileirados, prontos para o combate. Não foram os Scheidemann e seus cúmplices burgueses, com o príncipe Max (1) à frente, que nos libertaram. Foi a revolução proletária que fez explodir as portas de nossas casamatas.

Contudo, outra categoria de habitantes infelizes desses edifícios lúgubres foi completamente esquecida. Ninguém pensou até agora nos milhares de figuras pálidas e macilentas que definham anos a fio atrás dos muros de prisões e penitenciárias expiando crimes comuns.

E no entanto são vítimas infelizes da infame ordem social contra a qual a revolução se dirigiu; são vítimas da guerra imperialista, que levou a miséria e a desgraça aos extremos da mais insuportável tortura; que, ao custo de uma carnificina brutal, desencadeou em naturezas fracas, dotadas de taras hereditárias, os instintos mais vis.

A justiça de classe burguesa funcionou mais uma vez como uma rede que deixa tranquilamente escapar de suas malhas os tubarões rapaces enquanto as pequenas sardinhas nelas se debatem desamparadas. Os especuladores, que ganharam milhões com a guerra, ficaram na sua maioria impunes ou receberam penas pecuniárias ridículas; os pequenos ladrões e as pequenas ladras são punidos com penas de prisão draconianas.

Passando fome e frio nas celas quase sem aquecimento, psiquicamente abatidos pelo horror dos quatro anos de guerra, esses enjeitados sociais esperavam misericórdia e alívio.

Mas esperam em vão. O último dos Hohenzollern, soberano bondoso preocupado em fazer os povos degolarem-se uns aos outros e em distribuir coroas, esqueceu-se dos infelizes. Desde a conquista de Liège não houve durante quatro anos qualquer anistia digna de menção, nem sequer no feriado oficial dos escravos alemães, o “aniversário do Kaiser”.

Agora a revolução proletária precisa iluminar com um pequeno raio misericordioso a existência sombria nas prisões e nas penitenciárias, diminuir as sentenças draconianas, abolir o bárbaro sistema disciplinar – correntes, açoites! –, melhorar no que for possível o tratamento e os suprimentos médicos, a alimentação e as condições de trabalho. É uma questão de honra!

O sistema penal existente, profundamente impregnado de um brutal espírito de classe e da barbárie do capitalismo, precisa ser extirpado de vez. É preciso começar imediatamente uma reforma de base do sistema penal. É evidente que uma reforma totalmente nova, no espírito do socialismo, só pode ser estabelecida sobre o fundamento de uma nova ordem econômica e social, pois tanto crimes quanto castigos estão em última instância enraizados nas condições econômicas da sociedade. No entanto, uma medida radical pode ser adotada sem mais: a pena de morte, a maior vergonha do ultra-reacionário código penal alemão, precisa desaparecer imediatamente! Por que hesita o governo dos trabalhadores e soldados? Será que o nobre Beccaria, que há duzentos anos denunciou em todas as línguas civilizadas a infâmia da pena de morte, não existiu para vocês, Ledebour, Barth, Däumig? Vocês não têm tempo, têm pela frente mil preocupações, mil dificuldades, mil tarefas. É verdade. Mas peguem o relógio e olhem quanto tempo leva para abrir a boca e dizer: está abolida a pena de morte! Ou será que entre vocês deveria haver a esse respeito um longo debate com votação? Será que nesse caso vocês também se deixariam enredar num emaranhado de formalidades, considerações de competência, questões de rubricas, carimbos e futricas semelhantes?

Ah, como é alemã esta revolução alemã! Como é prosaica, pedante, sem entusiasmo, sem brilho, sem grandeza. A pena de morte esquecida é somente um pequeno detalhe isolado. Mas é precisamente nesses pequenos detalhes que se trai de costume o espírito intrínseco do todo!

Peguemos qualquer livro de história da grande Revolução Francesa, por exemplo, o árido Mignet. É possível ler esse livro sem o coração palpitante e a fronte em brasa? Quem abriu qualquer página ao acaso pode largá-lo antes de ter ouvido, empolgado, sem fôlego, o último acorde desse grandioso acontecimento? É como uma sinfonia de Beethoven, intensamente poderosa, uma tempestade trovejando no órgão dos tempos, grande e soberba, tanto nos erros quanto nos acertos, tanto na vitória quanto na derrota, tanto em seu primeiro grito ingênuo de júbilo quanto em seu último suspiro. E o que acontece agora na Alemanha? A cada passo, pequeno ou grande, sente-se que são sempre os velhos e bem comportados companheiros da defunta social-democracia alemã, para quem os carnês de filiação eram tudo, os homens e o espírito, nada. Não devemos nos esquecer contudo que não se faz história sem grandeza de espírito, sem pathos moral, sem gestos nobres.

Liebknecht e eu, ao deixarmos os hospitaleiros espaços onde vivemos ultimamente – ele, seus irmãos de penitenciária, de cabeça tosada, eu, minhas pobres queridas ladras e mulheres da rua com quem vivi três anos e meio debaixo do mesmo teto – nós lhes prometemos solenemente, enquanto nos acompanhavam com o olhar triste: não os esqueceremos!

Exigimos do Comitê Executivo dos conselhos de operários e soldados um abrandamento imediato do destino dos prisioneiros em todos os cárceres da Alemanha!

Exigimos a supressão da pena de morte do código penal alemão!

Durante os quatro anos de genocídio imperialista o sangue correu em torrentes, em riachos. Agora é preciso guardar respeitosamente cada gota dessa seiva preciosa em recipientes de cristal. A mais violenta atividade revolucionária e a mais generosa humanidade – este é o único e verdadeiro alento do socialismo. Um mundo precisa ser revirado, mas cada lágrima que cai, embora possa ser enxugada, é uma acusação; e aquele que, para realizar algo importante, apressadamente e com brutal descuido esmaga um pobre verme, comete um crime.


Die Rote Fahne (Berlim), nº3, 18 de novembro de 1918.


Tradução: Isabel Loureiro

NOTAS

(1) Em 3 de outubro de 1918 o príncipe Max de Bade foi nomeado chanceler, tendo formado um governo parlamentar com o objetivo de paralisar o movimento revolucionário na Alemanha, salvar as classes dominantes e negociar com a Entente. Faziam parte do governo, entre outros, o líder da bancada do partido do Centro, Adolf Gröber, Friedrich von Payer como representante do Partido do Progresso, Philipp Scheidemann e Gustav Bauer como representantes da social-democracia.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ZERO HORA MONTA EMPULHAÇÃO COM “CADERNO” ACHADO NO LIXO
















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Do blog CloacaNews

O repórter - e notório plagiador - Humberto Trezzi, do tablóide venal gaúcho Zero Hora, acaba de quebrar seu próprio recorde de sem-vergonhice profissional. No dia em que se completa um mês do assassinato do agricultor sem-terra Elton Brum da Silva pela polícia tucana – sem que o nome do criminoso tenha sido apresentado pelo governo terrorista e corrupto de Yeda Crusius – , a reportagem de capa da gazetinha assinada por ele na edição de hoje, acumpliciada por um certo Maicon Bock, tenta passar aos leitores a idéia de que os dirigentes e militantes do MST “comemoram” a morte do “acampado de Canguçu”, uma vez que o crime deu “nova visibilidade ao movimento”.
Para sustentar a matéria, os autores basearam-se em um suposto “caderno escolar de 26 páginas escritas à mão” que estaria, segundo os jornalistas, “jogado em uma lata de lixo no estacionamento do Incra”. Apócrifas e anônimas, as anotações do suposto caderninho deram aos autores do texto subsídios suficientes para que fossem expostas “as estratégias adotadas pela organização após o episódio” e se revelasse o ” pensamento dos sem-terra sobre a morte de um companheiro”.
Para dar “credibilidade” ao trabalho, a gazetinha apresenta “fotos” de anotações em trechos recortados de algumas páginas do suposto caderno, o que nos remeteu ao indecoroso episódio do falso bilhete apresentado pela polícia de José Serra no recente conflito da favela paulistana de Heliópolis.
Se, na edição de ontem do jornalzinho da RBS, até mesmo a colunista-abelha manifestou, em notinha escondida, alguma indignação pelo “silêncio” das instituições sobre o nome do assassino do “joão-ninguém” Elton Brum, hoje as coisas voltaram à normalidade naquele diário. Como se verá aqui e aqui, Zero Hora inicia a semana dando um banho de jornalismo. Um banho de canequinha, com o líquido recolhido no aterro sanitário das oligarquias desesperadas.

Os caroneiros do mito farroupilha


Oportunistas querem mamar leitinho eleitoral da velha vaca sagrada da ideologia estancieira

Por Cristovão Feil

Recebo de um leitor atento a cópia digitalizada do boletim eleitoral do único deputado estadual do PC do B alusivo ao 20 de Setembro (acima, fac-símile parcial).

Segundo o nosso gentil leitor, militantes pecedobistas estavam panfleteando o material eleitoral no Acampamento Farroupilha, no Parque da Harmonia, centro de Porto Alegre, ontem, dia 20 de Setembro.

Li parcialmente o panfleto laudatório ao que eles chamam de "Revolução Farroupilha". Uma confusão só. O material tem a nítida intenção de pegar carona no prestígio popularesco da ideologia do gauchismo e da mitologia farroupilha. O texto é uma simplificação grosseira da historiografia dos fatos ocorridos entre 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul. A começar que denomina a guerra civil farrapa de "revolução farroupilha".

Já se vê que os nossos comunistas de mentirinha leram pouco e leram mal as obras de Marx. Se é que leram. Em "A ideologia alemã", casualmente escrito entre 1845/46, Marx e Engels definem o que seja um processo revolucionário. Eles falam do chamado "salto cataclísmico" de um modo de produção para o seguinte, provocado pela convergência de conflitos entre as velhas instituições e as novas forças produtivas que lutam para se impor. Ora, nos conflitos do decênio farrapo jamais foi cogitado algo semelhante. A própria ideia de república era uma consigna anêmica e mitigada. Portanto, a institucionalidade era conservadora e o modo de produção continuaria baseado nas vastas estâncias pastoris tocadas a trabalho escravo. Onde se encontram, então, os elementos necessários para a ocorrência de uma revolução autêntica e genuína?

Marx no belo texto que lhe é peculiar, cheio de pequenas anedotas, espírito agudo e fina ironia, ainda observa que em qualquer revolução é preciso "limpar as estrebarias de Áugias que estão transbordando de estrume" - referindo-se aos doze trabalhos do herói mítico Hércules que desviou dois rios para limpar num só dia as cocheiras fétidas de um velho reino grego.

As estrebarias do Rio Grande do Sul, pois, ficaram simbolicamente mais sujas, depois de 1845. Uma velha classe de civis e militares se revezaram vegetativamente no poder provincial, como xerifes vigilantes da imperial família Bragança. Enquanto isso, sua base social de sustentação política - o latifúndio pastoril (de tão atrasados sequer cultivavam a terra) de exportação - se apropriava de tantas terras públicas quanto fosse possível.

Essa farra latifundiária sem limites e com licença para roubar terminou somente em 1891, com a Constituição escrita pelo republicano Julio Prates de Castilhos, dando início, assim, a um novo ciclo político modernizador e revolucionário que vai durar mais de trinta anos no Rio Grande do Sul.

Mas isso não interessa aos oportunistas que só apostam nas leviandades e meias-verdades do senso comum mais obtuso. O negócio é continuar pescando votinhos nas águas turvas do consenso mais rasteiro e ideologizado.

Golpe em Honduras...

Honduras: A resistência está firme, afirma Frente Nacional

A Frente Nacional contra o golpe de Estado de Honduras afirmou que a resistência contra o governo de facto está firme e não poderá ser derrotada apesar da repressão. Não puderam golpear a moral do povo. Nossa resistência é ativa, mas pacífica, assegurou o dirigente sindical e da Frente, José Luis Baquedano, em declarações a jornalistas.

Cartaz honduras

O coordenador geral dessa aliança de forças populares surgida horas após o golpe militar de 28 de junho, Juan Barahona, expressou que a capacidade de mobilização do povo foi imensa.

Relatou que nesta sexta-feira, quando o canal 36 de televisão e a emissora Rádio Globo denunciaram tentativas de fechamento, milhares de pessoas se dirigiram para proteger esses meios, defensores da causa popular.

A presença da resistência evitou que os retirassem do ar. O povo deu proteção a esses meios, disse.

Barahona narrou que no momento em que tiveram conhecimento das denúncias das duas emissoras, se encontravam na saída da capital para o noroeste do país, mas a passos largos os milhares de manifestantes se apressaram para chegar a esses meios.

Agregou que a ampla resistência popular e o apoio da comunidade mundial à restituição da ordem constitucional em Honduras, dá confiança ao povo sobre o regresso do presidente, Manuel Zelaya.

Desde o dia da ação militar, a Frente traçou esses dois objetivos, junto à demanda de convocação de uma assembleia nacional constituinte que elabore uma carta magna que estabeleça a igualdade e justiça no país.

Barahona e Baquedano asseguraram que Zelaya deve retornar a seu posto, no mais tardar a fins deste mês, para que possam ser reconhecidas as eleições programadas para 29 de novembro deste ano.

Baquedano, candidato a deputado pela ala antigolpista da Partido Inovação e Unidade (PINU), recordou que a Frente não aceitará eleições tuteladas por golpistas".

Barahona anunciou que neste sábado os membros da resistência se reunirão com a família de Zelaya, em um festejo popular do aniversário do estadista.

Hortensia Rosales, mãe de Zelaya, disse ontem à noite que o presidente se mantém firme junto ao povo e voltará ao país para continuar o processo democratizador interrompido pelo golpe militar.

Fonte: Pátria Latina

domingo, 20 de setembro de 2009

Escola Latino Americana de Agroecologia realiza Feira da Agrobiodiversidade

No Paraná, a ELAA(Escola Latinoamericano de agroecologia),na comemoração pelos seus 4 anos de existencia,organiza sua primeira feira de agrobiodiversidade: leia abaixo a materia do diario chasque...


Reportagem: Joel Felipe Guindani


O evento acontece neste sábado (19) no município de Lapa, região metropolitana de Curitiba. A feira faz parte da comemoração dos 4 anos da Escola e dos 25 anos do MST no estado.






Em comemoração ao seu quarto ano, a Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) realiza neste sábado (19) a primeira Feira da Agrobiodiversidade. O evento acontece na Sede da ELAA, localizada no Assentamento Contestado, município de Lapa, setenta quilômetros de Curitiba.

José Maria Tardin, da coordenação executiva, comenta que a feira não é apenas um momento de confraternização pelas conquistas, mas também de socialização de experiências e de estudo sobre os avanços necessários.

“A biodiversidade tem sido objeto de interesse das grandes empresas que se apropriam através das leis de patente impedindo assim o livre acesso à biodiversidade por parte das famílias camponesas. A feira tem então o objetivo de planejar nossas lutas pra enfrentarmos esse domínio do mercado sobre a agrobiodiversidade”, diz.

José destaca que a ELAA, mantida pelos movimentos que integram a Via Campesina, formou no mês de maio deste ano os primeiros 52 tecnólogos em agroecologia do Brasil. Atualmente, outros 70 educandos dão continuidade ao curso. Tardin ainda enfatiza que a Feira da Agrobiodiversidade também faz parte da comemoração dos 10 anos do Assentamento Contestado e dos 25 anos do MST no estado. A programação inicia às 8h e se estende até o final do dia.


Tarzan e Jane brincam...