quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Serra e Kassab têm sorte de não serem argentinos...

Na capa, a cidade inundada e o Prefeito Maurício Macri

Por Brizola Neto no blog Tijolaço

A capa de hoje do diário argentino Pagina 12 é uma mostra do quanto pode ser criativo e irreverente um jornal, quando o quer ser. Ontem Buenos Aires, a capital argentina, sofreu uma inundação, provocada por chuvas intensas, esgotos insuficientes e obstruídos e obras hidráulicas atrasadas. O prefeito Maurício Macri, um engenheiro civil, de direita, que derrotou o candidato peronista Hugo Cocarro em 2007 e desponta como um possível candidato à presidência, disse que a enchente foi um fenômeno climático “raro” e que o vento provocou uma cheia no Rio da Prata. No entanto, há 90 dias, a Auditoria Geral da Cidade havia expedido um memorando a diversas autoridade dizendo que a rede de drenagem estava em péssimo estado e o governo municipal não tinha o menor controle sobre as empresas contratadas para sua manutenção e desentupimento.As bombas de drenagem não funcionaram, um túnel viário inundou, 50 mil pessoas ficaram sem luz.
Isso lembra alguma coisa? Você já viu isso em algum lugar aqui?
A única coisa que você não viu é um jornal brasileiro fazer uma capa genial como essa.

Entrevista com Chronis Polychroniou, editor do diário grego Eleftherotypia



Os desafios do socialismo no século 21 na Venezuela
 
 
Por William I. Robinson - via CarosAmigos
 
Há histórias preocupantes vindo da Venezuela. A situação na fronteira está tensa, há uma nova base militar colombiana próxima à fronteira, o acesso dos EUA a várias novas bases na Colômbia... Será que o regime se preocupa com uma possível invasão? Se sim, quem está para intervir?

Chronis Polychroniou - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estadunidense. Contudo, penso que os EUA estão seguindo uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. É uma estratégia que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda, sabotagem econômica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, manipulação de setores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil em aproveitar dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.
 
O objetivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, minando a notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão deles, Chávez finalmente será removido do poder através de um cenário produzido pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de fatores que não podem ser antecipados.
 
Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem econômica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a provocar reações do governo e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, econômicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.
 
Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases representam constitui uma poderosa operação psicológica estadunidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.
 
Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a guinada para a esquerda ou a chamada "Maré Rosa". A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemônico na América Latina. Mas a Bolívia, Equador e os movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século 21.
 
A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia explicar como a sociedade venezuelana tem mudado desde que Chávez chegou ao poder?
Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do "fim da história".
 
A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente o analfabetismo e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.
 
Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há outros muitos mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do antigo regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos meios de comunicação que em grande medida ainda estão nas suas mãos.
 
Quão avançados são os planos de nacionalização de Chávez? Há alguma evidência de que eles levam aos resultados desejados?
A grande mudança econômica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projeto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chave, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o setor cooperativo – com todos os seus problemas – tem se ampliado. No entanto, o poder econômico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.
 
A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar "colonizar" o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é: como pode um projeto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os entreves que ele coloca nos processos de transformação? De fato, na Venezuela, e também na Bolívia, as instituições do Estado muitas vezes atuam para constranger, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.
 
Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita, mas sim da chamada direita "endógena" ou "chavista" e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.
 
A revolução tem mais de uma década. Está amadurecendo ou está chegando a uma etapa de declínio e deformação?
Eu não diria que a revolução está em "declínio" ou "deformação". A guinada à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reativar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que atualmente não caminha em direção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.
 
O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projetos históricos. Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a atual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.
 
Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O fato é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político, mas ainda detém grande parte do controle economico. Romper tal controle implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais.
 
Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projetos e interesses de classe. Nesse ponto, uma revolução deve definir mais claramente o seu projeto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.
 
A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.
 
William I. Robinson é professor de Sociologia, Universidade da Califórnia – Santa Bárbara
 
(Publicado originalmente em http://www.zmag.org/znet/ viewArticle/23797)

FILME BASEADO NA OBRA DE JANE AUSTEN

CINEMA INGLES
MINE SÉRIE BBC
FILMES BASEADOS NA OBRA DE JANE AUSTEN
MISS AUSTEN REGRETS
2008
DIREÇÃO JEREMY LOVERING
OLIVIA WILLIAMS
SAMUEL ROUKIN
GRETA SACCHI
IMOGEN POOTS
PHYLLIDA LAW
PIP TORRENS
AVI LEGENDADO
BY SSRJ





Sinopse:

O filme é sobre uma parte da vida da famosa escritora britânica Jane Austen.
Nos últimos anos de sua vida, quando ela se aproxima dos 40, Jane Austen ajuda sua sobrinha Fanny a encontrar um marido.
Créditos: BaixarLivre

Crítica:

Miss Austen Regrets - Os últimos anos de uma das maiores escritoras inglesas.

Da mesma maneira que suas heroínas, a escritora Jane Austen enfrentou muitas das convenções de sua época lutando em busca do final feliz que todas alcançaram em sua obra, mas que infelizmente, a autora não conseguiu para si mesma.

É nesta premissa que se baseia o roteiro de "Jane Austen Regrets" (2008), um filme para a TV produzido pela emissora BBC 1, que já está disponível em DVD importado e faz parte da coleção "Jane Austen´s Sense & Sensibility Collector´s Set".

O foco desta biografia é nos últimos anos de vida da escritora, que morreu em 1817, aos 41 anos de idade, depois de passar por um longo período doente. Dirigido por Jeremy Loving, o filme é um verdadeiro achado para quem se encantou pelo romantismo de "Amor e Inocência" (2007), mas sentiu nele a ausência de melhores expicações para o fato de uma mulher que tanto valorizou o amor, descrevendo-o em sua obra como a maior das realizações humanas, aquela que tem força para vencer tudo; acabou sozinha, de uma forma tão melancólica; em uma época e sociedade em que permanecer solteira tinha um peso enorme e significava uma verdadeira condenação social para uma mulher.

O roteiro, desenvolvido por Kevin Hood, foi baseado na correspondência entre Jane (Olivia Williams), sua irmã Cassandra (interpretada por Gretta Scacchi) e sua sobrinha Fanny (Imogen Potts) e mostra a escritora como uma mulher inteligente, que tem uma visão muito clara e crítica e por isso é muito bem resolvida, apesar de sofrer com as restrições que suas decisões significavam.

Mas as piores críticas partem da própria casa da autora, sua mãe interpretada por Phyllida Law, mostra-se um "poço de amarguras" sempre despejando suas frustrações sobre a filha, a quem acusa de ser a causa de tudo de ruim pelo que passa e passou a família.
Uma atitude que deixa clara para qualquer pessoa a razão das mães mostradas em seus livros serem, em geral, figuras tão negativas.

As diversas chances que Jane teve para casar-se são mostradas em flashback e entre elas, um relacionamento com o Reverendo Brook Bridges (Hugh Bonneville) chama atenção por ser o mais próximo do que poderia ter sido um casamento bem sucedido; mesmo assim, a autora deixa claro que não conseguiria abrir mão de suas obras para viver ao lado de ninguém, nem mesmo de seu grande amor. Gerações e gerações de ávidos leitores agradecem.

Elenco:

Samuel Roukin...Harris Bigg
Olivia Williams...Jane Austen
Greta Scacchi...Cassandra Austen
Imogen Poots...Fanny Knight
Phyllida Law...Mrs. Austen
Pip Torrens...Edward Austen Knight
Harry Gostelow...Rev. Charles Papillon
Tom Hiddleston...Mr. John Plumptre
Hugh Bonneville...Rev. Brook Bridges
Tom Goodman-Hill...Mr. Lushington MP
Adrian Edmondson...Henry Austen
Sylvie Herbert...Mme. Bigeon
Jack Huston...Doctor Charles Haden

Informações Técnicas:

Título Original: Miss Austen Regrets
País de Origem: Inglaterra,USA
Gênero: Drama.Biografia
Tempo de Duração: 85 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Estúdio/Distrib.: BBC
Direção: Jeremy Lovering
IMDb...7.4

Dados do Arquivo:

Formato: AVI Legendado
Tamanho: 1.57 GB
Qualidade: DVDRip
Legenda: Pt-Br [Separada]
Rapidshare em 9 partes(copie e cole no seu navegador cada parte...)

http://rapidshare.com/files/351172830/JA-MAR2008SSRJAL.part01.rar
http://rapidshare.com/files/351187664/JA-MAR2008SSRJAL.part02.rar
http://rapidshare.com/files/351217682/JA-MAR2008SSRJAL.part03.rar
http://rapidshare.com/files/351231690/JA-MAR2008SSRJAL.part04.rar
http://rapidshare.com/files/351249128/JA-MAR2008SSRJAL.part05.rar
http://rapidshare.com/files/351287183/JA-MAR2008SSRJAL.part06.rar
http://rapidshare.com/files/351355050/JA-MAR2008SSRJAL.part07.rar
http://rapidshare.com/files/351387097/JA-MAR2008SSRJAL.part08.rar
http://rapidshare.com/files/351392192/JA-MAR2008SSRJAL.part09.rar

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

HOMENAGEM A GEORGES LABICA NA UNIVERSIDADE DE ARGEL


GEORGE LABICA Publicamos hoje a comunicação apresentada em Argel por Miguel Urbano Rodrigues no Colóquio Internacional de Homenagem a Georges Labica, promovido pela Universidade daquela cidade.
Miguel Urbano Rodrigues - www.odiario.info

Numa carta de despedida a Fidel Castro que correu pelo mundo, o Che lamentou não ter tomado desde o início da luta consciência da dimensão do seu camarada, comandante-chefe da Revolução.
Relendo recentemente livros de Georges Labica, recordei o desabafo do Che. Amigo do autor do «Dictionnaire Critique du Marxisme» e admirador do seu talento e firmeza revolucionária, senti ter-me apercebido tardiamente da grandeza do cidadão, do pensador revolucionário. Georges Labica foi muito mais do que um eminente filósofo marxista.

Foi pelo telefone que falamos pela primeira vez há uns doze anos. Eu estava em Paris com Henri Alleg e pedira-lhe que ajudasse a encontrar editor para o livro de uma amiga chilena.

Henri comentou: vais expor o caso a um camarada mais indicado do que eu para tratar do caso. Ligou para Georges Labica, trocaram algumas palavras e passou-me o telefone.

Eu conhecia dois ou três livros de Labica, admirava-o, mas senti algum acanhamento. Mas tive imediatamente a sensação de falar com alguém muito próximo, pelo tom de intimidade que ele imprimiu ao nosso breve diálogo. Foi o prólogo de uma amizade futura.

Em 2004 convidei Georges a participar no I Encontro Civilização ou Barbárie em Serpa, Portugal.

A pequena cidade da Margem Esquerda do Guadiana produziu nele um efeito de deslumbramento.

As muralhas medievais, o caminho de ronda, as ruelas tortuosas, o casario branco, a transparência do céu azul, o silêncio dos montados, a atmosfera humana fascinaram-no. Nadya, a sua mulher, uma argelina que aos 72 anos continua a ser muito bela sentiu-se também enfeitiçada.

Georges e Nadya voltaram duas vezes a Serpa.

«Sabes – confidenciou uma tarde, sorvendo com prazer um chá no pátio da residencial onde estava hospedado, sentir-me numa cidade governada há três décadas por comunistas, onde a fraternidade nos envolve de manhã à noite, mergulha-me num mundo sonhado cujas portas não fomos capazes de abrir. Os comunistas do teu Alentejo fazem-me regressar à juventude quando acreditava que iríamos transformar o mundo e concretizar o projecto de Marx.»

A TEORIA DA VIOLENCIA

No México, um filósofo cubano, empolgado com a qualidade da intervenção de Labica num Seminário em que participávamos, intitulado «Os Partidos e uma nova Sociedade», perguntou-me o que mais me impressionava naquele pensador francês que num discurso breve conseguia transmitir uma reflexão tão profunda e diversificada sobre a vida.

«A cultura integrada – respondi.»

Eu acabava de ler «Théorie de la Violence», o ultimo livro de Georges Labica e talvez aquele onde ele, sem esforço, revela esse dom de transmitir uma cultura integrada, nascida da assimilação de uma prodigiosa acumulação de conhecimento.

Não conheci alguém como Georges Labica cuja reflexão sobre a violência na História seja tão profunda, lúcida e criadora.

O tema tem sido tratado por grandes autores. É actualíssimo porque a humanidade continua a nadar num oceano de violência.

Mais de uma vez me interroguei sobre o impulso que o levou a escrever esse livro. O assunto, árido, trazia a certeza de que a obra não ultrapassaria as fronteiras de um público limitado. As motivações académicas estiveram também ausentes na escolha feita.

Na Introdução, o autor abre uma janela sobre a questão ao lembrar que a existência da violência coincide com «o aparecimento do homem». Mas é nos três primeiros capítulos que a resposta indirecta à questão que coloquei fica esboçada.

Geoges Labica, partindo do Livro de Job, do desafio de Prometeu e de uma navegação empolgante pela mitologia e pelo teatro gregos, desce às raízes da condição humana para, acompanhando a violência sob as suas infinitas modalidades, desembocar no limiar do século XXI em que ela permanece endémica.

Esquecemos com frequência, ao reagir com indignação a crimes hediondos do presente e a hecatombes de guerras contemporâneas, que o homem busca no passado quase com deleite uma cultura de violência. Porque se reencontra nela. O interesse que a tragédia grega continua a inspirar confirma essa realidade. Em Esquilo, Sofocles, Euripedes – três exemplos – o infanticídio, o uxoricídio, o parricídio, e outras formas de violência exacerbada estão na génese das relações familiares e sociais.

A cultura integrada de Labica, ao iluminar cenários muito diferentes, empurra o leitor para uma compreensão multidimensional da violência ao longo da História. Na sua reflexão ele passeia dos deuses da Babilónia, do Irão aquemenida, do Egipto faraónico, dos rituais sangrentos da Mesoamerica, das pirâmides de crânios de Tamerlao para a visão da violência que inspirou os pintores do Renascimento ao plasmarem em obra imortais os mitos da antiguidade e o temor e a esperança como motores de religiões fabricadas, nascidas do medo da morte.

Aonde nos conduz Georges Labica?

Aos horrores, similares e diferentes, da violência hodierna. E é novamente a sua cultura integrada que no discurso do revolucionário imprime a força da evidência a realidades óbvias que a maioria da humanidade ou esquece ou não assimila por não as interrelacionar.

Pelo ecran da violência desfilam então açougues humanos como as duas conflagrações mundiais, as matanças nazis, a longa cadeia de guerras coloniais, genocídios como o de Rwanda, guerras de saque ditas preventivas, como as do Iraque e do Afeganistão.

Como a cultura dominante é a da violência e não a da paz, o capitalismo utiliza-a como alavanca e cimento da opressão social.

Um hadith famoso expressa bem a crueldade da ordem imposta pelos de cima: afastamo-nos mais de deus quanto mais próximos estamos do poder.

Na sua meditação sobre as funções da violência, o autor de «Robespierre, une politique de la philosophie» leva-nos de Maquiavel a Bush, numa caminhada que passa por Bonaparte e Hitler, não sem recordar que uma das mais devastadoras modalidades da violência, envernizada por uma oratória pseudo humanista, é a exercida pelo modo de produção capitalista, fonte da exploração do homem pelo homem.

A ARGÉLIA E LABICA

A Argélia deixou marcas profundas na vida, no pensamento e na obra de Georges Labica.

Desde a juventude ele abominava o colonialismo. Mas condenar um sistema de opressão e a sua ideologia é diferente de conhecer a engrenagem monstruosa do colonialismo onde ela funciona.

Para o jovem professor chegado de França, foi enorme o efeito da descoberta da luta do povo argelino e da cultura árabe. O seu olhar sobre a História e o combate dos povos não seria o mesmo sem a experiência argelina. Numa época em que na Europa se ignorava praticamente a cultura magrebina, Georges Labica foi um dos primeiros pensadores a contribuir para a sua difusão em França. Os seus livros sobre Ibn Khaldoun – o genial autor de «La Muqaddima», filósofo, economista e precursor da moderna historiografia – e sobre Ibn Tufayl tornaram-se indispensáveis à compreensão da riqueza e profundidade do pensamento, da cosmovisão e da ciência árabes da Idade Média.

O engajamento político do intelectual foi, aliás, complementar do combate do militante comunista pela independência da Argélia.

O REVOLUCIONÁRIO

Comunista desde a juventude, Georges afastara-se do PCF por não se rever mais num Partido que, participando do governo da «gauche plurielle», avalizara uma politica neoliberal tão capituladora que – recordava - privatizou mais empresas do que, juntos, os governos de direita de Balladur e Juppé.

«Deixei o Partido – ouvi-lhe dizer um dia – para continuar comunista».

Conheci poucos revolucionários com os quais me tenha sentido tão plenamente identificado nos terrenos da ideologia e da praxis.

Georges fez do eticismo, na política como na vida quotidiana, uma exigência permanente. Essa fidelidade difícil a princípios e valores revolucionários criou-lhe ao longo da vida embaraços e antipatias mesmo entre camaradas. Era um marxista incómodo. Esse compromisso com a sua mundividência traduziu-se com frequência em criticas aos mais altos dirigentes revolucionários, mesmo quando os apoiava. Era incompatível com todas as formas de populismo; tal como a Lenine, o tacticismo surgia-lhe como uma forma de oportunismo.

Mais de uma vez, na América Latina, o vi permanecer de braços caídos em actos públicos em que a quase totalidade dos intelectuais participantes aclamava com entusiasmo um líder carismático cujo discurso resvalava para a demagogia populista.

A ausência de vaidade era uma característica da sua personalidade. Não cultivava a modéstia. Era nele espontânea.

Coincidimos algumas vezes no México e em Caracas. Esses encontros foram muito gratificantes para mim e a minha companheira pela amizade que nos ligava a Georges e Nadya.

Não esqueci uma manhã em Coyoacan, na Cidade do México, quando visitámos a Casa de Frida Kahlo e Diego Rivera, que todos admirávamos, e depois aquela onde Trotsky residia e foi assassinado.

Momentos como esses abriam portas para intermináveis conversas sobre a bela e inquietante aventura do homem, empurrado hoje para o abismo por um sistema de poder monstruoso e a contracultura por ele imposta em escala mundial.

Conversar com Georges ajudava a transformar o conhecimento em cultura, num processo de assimilação difícil de compreender. E difícil porque foi um pensador que amou com paixão a palavra. Poderia ter sido como outros um filósofo criador e um revolucionário íntegro e um escritor banal. Mas Georges Labica, ao lançar pontes entre as ideias e a linguagem que as expressa, criou um estilo que o projecta como grande escritor. Ao reler hoje textos seus, recordo grandes clássicos franceses do Século XVIII, porque a forma e a essência do pensamento se fundem harmoniosamente inseparáveis.

Quando o tema das nossas conversas incidia sobre globalização como último patamar do imperialismo, Georges lembrava que o fenómeno impunha um repensar do mundo multdimensinal nas frentes da economia, da política, da ideologia da ética, da estratégia, da cultura. E, partindo dai para a mundialização da violência, alertava para a inevitabilidade da violência emancipadora como resposta à primeira.

Cada vez mais – sublinhava – o discurso da «segurança» é erigido em ideologia dominante, servindo para justificar a repressão imposta aos povos em escala planetária pelo sistema.

A desigualdade de meios no combate à engrenagem da globalização imperial não fazia Georges Labica resvalar para o pessimismo desmobilizador. Pelo contrário. Ele tinha uma convicção inabalável de que o sistema será vencido e erradicado.

Por ora não se vislumbra a luz no fundo do túnel. Mas a lenta e necessária convergência das lutas de povos muito diferentes acabará, acreditava, gerando um novo internacionalismo, de contornos por ora imprevisíveis.

Nessa lenta caminhada em defesa da humanidade, democracia e revolução apareciam a Georges Labica como indissociáveis.

XXXX

Amigos:

Permitam-me terminar com uma nota pessoal.

Há dois anos, no final de um almoço no seu apartamento de Lê Pecq, Saint Germain en Laye, onde quadros e objectos de arte conduzem o visitante a imaginar a caminhada de Georges Labica pelas estradas do mundo, Nadya fez uma confidencia de que guardo memória:

«Quando o vi pela primeira vez numa aula do liceu onde ele leccionava, eu era uma jovem estudante da Kabilia que saía da adolescencia. Mas pensei: Este jovem vai ser o homem da minha vida. E foi. Estamos casados há meio século e amo-o como nos anos da juventude».

Por mim, falo da amizade que cresceu em paralelo com a admiração.

Aprendi com o rodar do tempo que o sentimento da amizade é muito diversificado; incluo o que me ligou a Georges Labica entre os menos comuns.

Ele tinha o poder de transmitir confiança quando me escrevia, manifestando apreço pelos meus modestos escritos e identificação com posições e ideias que eu assumia.

É reconfortante, amigos, a certeza de que a obra e o exemplo de Georges Labica vão sobreviver ao seu desaparecimento físico.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O “ENERGÚMENO”

 ESCOLHA O PALÁCIO

por Laerte Braga
, no blog do azenha

A grande mídia dá destaque às visitas de José Collor Serra e Dilma Roussef ao Recife e a Salvador. O esquema “pró Serra” da FOLHA DE SÃO PAULO diz que o governador está acompanhado de toda a cúpula do DEM e do PSDB.

Mentira. Uma das principais figuras da cúpula do DEM, o governador de Brasília, José Roberto Arruda está na cadeia. Era o vice preferido de Serra, naquela história de “vote num careca e leve dois”, ou o “copiei muitas idéias do governador Serra em minha administração" e a resposta de Serra – “o que é bom é para ser copiado”.

O resultado pelo visto não foi satisfatório.

O governador José Collor Serra vive um dos piores momentos de sua carreira política. Por onde passa tem sido alvo de vaias. E com os aliados que tem o buraco é sem fundo. O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab em entrevista a um programa da GLOBONEWS, onde foi tentar explicar que está tentando resolver os problemas causados pelas chuvas e chamar para si a responsabilidade do drama de milhões de paulistanos, para tirar a cara de Collor Serra da reta, acabou complicando mais ainda o governador.

Kassab disse que recebeu a Prefeitura com um orçamento exíguo para a questão ambiental e nada pode fazer nos primeiros anos até ajeitar a casa e dispor, como disse que dispõe agora, de um orçamento à altura dos desafios. Ora, o prefeito anterior era José Collor Serra que renunciou para ser candidato ao governo (depois de ter assinado um compromisso diante de câmeras e microfones de tevê que cumpriria o mandato por inteiro).

José Collor Serra foi a Guararapes, São Paulo, entregar 57 ônibus para prefeitos da região. Os ônibus destinam-se ao transporte de doentes deficientes a centros hospitalares adequados. Não explicou que o serviço é terceirizado para uma empresa que apóia sua candidatura e contribui, lógico, no esquema “vote num careca e leve dois”.

Ao discursar foi vaiado por professores da rede estadual. Com cartazes, faixas e narizes de palhaços, os professores protestavam contra os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, o abandono do sistema educacional estadual e a farta distribuição de livros e revistas da EDITORA ABRIL (a que edita VEJA), contrato fraudulento do governo com o a empresa, que também apóia e contribui para a campanha de Collor Serra.

Descontrolado com as vaias, o governador que não admite ser contestado, bateu boca com os manifestantes, chamou-os de “energúmenos” e disse que ao vaiarem a ele estavam indo contra os deficientes físicos. Isso é coisa de cretino. De escroque. Um cara desses na presidência da República é uma temeridade.

É jogar o futuro de um país como o Brasil na lata do lixo. É só lembrar os oito anos de pesadelo de FHC, seu guru e cúmplice.

Serra foi criticado pelos elevados custos do pedágio nas rodovias estaduais privatizadas (as empresas pagam propina para a caixinha do PSDB), chamado de “mentiroso”, o que é absoluta verdade.

O manifestante que protestava contra Collor Serra e batia boca com o governador, um senhor não identificado, de cabelos brancos, foi retirado – modo de dizer – pela Polícia que fazia a segurança do local.

“Energúmeno” foi a palavra usada por Collor Serra para referir-se ao cidadão.

Seus principais sinônimos são “burro”, “imbecil”, “retardado”, “tonto”. É a forma como Collor Serra enxerga seus adversários.

O escritor Ledo Ivo, da Academia Brasileira de Letras, numa entrevista à uma emissora de televisão e comentando sobre determinado escritor, referiu-se a ele como “babaca”.

É o adjetivo ideal para José Collor Arruda Serra.

O descontrole do governador está na razão direta das pesquisas de opinião pública que mostram a queda contínua dos índices de intenção de votos nele e a ascensão da candidata Dilma Roussef.

A viagem pelo Nordeste, onde Dilma vence em todos os estados segundo os levantamentos feitos até agora e com grande vantagem, é um teste para saber se dá ou é melhor desistir e tentar a reeleição ao governo de São Paulo.

O jornal FOLHA DE SÃO PAULO, aliado de todas as horas, já, na edição de sexta-feira 12, sugeriu “uma opção mais segura”, a reeleição, deixando a batata quente para o governador de Minas Aécio Pirlimpimpim Neves.

Esse estilo boçal e violento de José Collor Arruda Serra não é incomum em determinados políticos. Em 1994 o atual ministro das Comunicações Hélio Costa alcançou quarenta e nove por cento e qualquer coisa no primeiro turno das eleições para o governo de Minas e perdeu o segundo para o tucano Eduardo Azeredo. Num acesso de fúria, ao perceber que não fora eleito no primeiro turno por zero vírgula qualquer coisa destruiu todo o comitê central de sua campanha. Computadores, mesas, bem ao estilo global, estrela contrariada.

O Brasil começa a viver nesse ano de 2010 um dilema crucial para seu futuro. Ou retorna ao esquema entreguista e podre de FHC, agora com José Collor Arruda Serra, ou avança, não importa que críticas possam ser feitas a Lula, com Dilma Roussef. As diferenças entre Lula e os tucanos/DEM começam no caráter.

E o futuro não passa por eleições, necessariamente, mas por um processo político mais amplo, de formação, conscientização e isso não será possível nunca com gente como José Collor Arruda Serra.

A reação do governador a um senhor de cabelos grisalhos, o destempero do governador, a forma estúpida como se referiu a um eleitor, só por criticá-lo, por vaiá-lo, mostra o que será um eventual governo dessa mistura DEMO/TUCANO, com pitadas de PPS. E alguns laivos de PMDB na figura do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, candidato ao Senado num acordo com Serra.

Serra apropriou-se da idéia dos genéricos que foi do ministro Jamil Haddad no governo de Itamar Franco. Apropriou-se das vacinas contra gripe suína que foram compradas e serão distribuídas pelo governo federal. Apropriou-se a apropria-se de dinheiro público a cada momento e em cada ato de governo que pratica.

Nas dependências da Polícia Federal está faltando gente. Muitos. Serra, com certeza, é um deles.

O esquema de marketing do governador José Collor Arruda Serra está adotando uma forma bem cretina de divulgar as “atividades” do governador. As vaias no Nordeste e no próprio estado de São Paulo só fizeram reforçar esse modelo de propaganda. Serra aparece inaugurando alguma coisa, ou fazendo algum discurso cercado de aliados e sem platéia. Na edição colocam a platéia, ou seja, buscam criar a idéia que centenas, ou milhares de pessoas estavam presentes e aplaudindo o guru de Arruda.

A escolhe em 2010 é mais ou menos assim. Se o Planalto vai virar o castelo do conde Drácula, sugando o sangue dos brasileiros e transformando o País em colônia do capital estrangeiro e de Washington, caso de Serra. Se vira uma espécie de Casa Branca com material importado diretamente da Colômbia e com 100% de pureza, caso de Aécio Pirlimpimpim Neves ou continua Palácio do Planalto.

Se virar o palácio do Drácula, cada vez mais improvável, a responsável pela chefia da guarda de honra será a senadora Kátia Abreu. Dublê de latifundiária, corrupta e vampira do dinheiro público. Se for a Casa Branca com tecnologia colombiana e estreita colaboração com o governo do traficante Álvaro Uribe, vira festa dessas que lá pelas tantas a Polícia tem que chegar e prender a turma toda.

Se continuar Planalto significa que o País tem futuro. Ou seja, sobrevive como Nação soberana, livre e capaz de guiar pelo seu povo, seus próprio passos.

O carnaval segundo Frei Betto...

Carnaval espiritual
Escrito por Frei Betto - Correio da Cidadania
 
Neste Carnaval anseio por folias interiores, de maravilhas indescritíveis, de sinuosos alaridos, de magnificências a dispensar ruídos e palavras. Quero toda a avenida regida por inequívoco silêncio, o baile imponderável em gestos rituais, a euforia estampada em cada sorriso.
 
Rasgarei a fantasia de minhas pretensões e, despido de hipocrisias, deixarei meu eu mais solidário desfilar alegre pelas recônditas passarelas de minha alma.
 
 Fecharei os ouvidos à estridência dos apitos e, mente alerta, escutarei o ressoar melódico do mais íntimo de mim mesmo. Deixarei cair as máscaras do ego e, nas alamedas da transparência, farei desfilar, soberba, a penúria de minha condição humana.
 
Aplaudirei os sambistas com fogo nos pés e as mulatas eletrizadas pelo ritmo da batucada. Mas não me deixarei arrastar pelo bloco da concupiscência. Inebriado pelo ritmo agônico da cuíca, serei o mais iconoclasta dos discípulos de Momo, recolhido ao vazio de minha própria imaginação.
 
Neste Carnaval serei figurante na escola da irreverência e desfilarei pelas ruas meu incontido solipsismo, até cessar a bateria que faz dançar os fantasmas que me povoam. Envolto na desfantasia do real, atirarei confetes aos foliões e perseguirei os vôos das serpentinas para que impregnem de colorido as diatribes de meu ceticismo.
 
No estertor da madrugada, farei ébrias confidências à Colombina e, Arlequim apaixonado, ofertarei as pétalas que me recobrem o coração. Não porei olhos no desfile da insensatez, nem abrirei alas à luxúria do moralismo. Quando a porta-bandeira desfraldar encantos, ficarei ajoelhado na ala das baianas para reverenciar o Almirante Negro.
 
Ao eco dos tamborins, esperarei baixar a sofreguidão que me assalta, buscarei a euforia do espírito no avesso de todas as minhas crenças, exibirei em carros alegóricos as íngremes ladeiras da montanha dos sete patamares.
 
Darei vivas à vida severina, riscarei Pasárgada de meu mapa e, ainda que não me chame Raimundo, farei da rima solução de tantos impasses nesse devasso mundo. Expulsarei de meu camarote todos os incrédulos do Pai Nosso cegos aos direitos do pão deles.
 
Revestido de inconclusas alegorias, sairei no cordão das premonições equivocadas e, vestido de Pierrô, aguardarei sentado na esquina que a noite se dissolva em epifânica aurora.
 
Ao passar o corso da incompletude, abrirei as gaiolas da compaixão para ver o céu coberto pela revoada de anjos. Trocarei as marchinhas por aleluias e encharcarei de perfume os monges voláteis incrustados em minhas imprudências.
 
Olhos fixos no esplendor das batucadas siderais, contemplarei o desfile fulgurante dos astros na Via Láctea. Verei o sol, mestre-sala, inflamar-se rubro à dança elíptica da cabrocha Terra. Se Deus der as caras, festejarei a beatífica apoteose.
 
No cortejo dos Filhos de Gandhy, evocarei os orixás de todas as crenças para que a paz se irradie sobeja. Do alto do trio elétrico, puxarei o canto devocional de quem faz da vida a arte de semear estrelas.
 
Entoado o alusivo, darei o grito da paz, pronto a fazer da comissão de frente o prenúncio do inefável. No reverso do verso, cunharei promissoras notícias e, no quesito harmonia, farei a víbora e o cordeiro beberem da mesma fonte.
 
Meu enredo terá a simplicidade de um haicai, a imponência de um poema épico, a beleza das histórias recontadas às crianças. De adereços, o mínimo: a felicidade de quem pisa os astros distraído.
 
Farei da nudez a mais pura revelação de todas as virtudes; assim, ninguém terá vergonha de mostrar o que Deus não teve de criar, e a culpa será redimida pelo amor infindo. A rainha da bateria virá tão bela quanto uma vitória-régia pousada numa lagoa despudoramente límpida. Sua beleza interior suscitará assombro.
 
A evolução da escola culminará em revolução: a fantasia se fará realidade assim como o sertão há de vir amar e o mar de ser tão pellegrinamente pão do espírito.
 
Neste Carnaval não haverei de me embriagar de etílicos prazeres nem me deixarei arrastar pelos clóvis a disseminar o medo entre alegrias. Irei aos bailes rituais e me submeterei às libações subjetivas, ofertarei ao Mistério cálices de clarividências e iluminuras gravadas em hóstias.
 
Enclausurado na comunhão trinitária, ingressarei na festa que se faz de fé e na qual toda esperança extravasa no amor que não conhece dor. Então a palavra se fará verbo, o verbo, carne, e a carne será transubstanciada em festival perene – Carnaval.
 
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros – http://www.freibetto.org/
 

A guerra gerando a pobreza e a miséria em Israel...

       Além dos sobreviventes do Holocausto, 
       centenas  de milhares de crianças 
       israelenses passam fome


  Georges Bourdoukan, no seu blog
 
Realmente eu queria entender os governantes de Israel. Diria, até, os israelenses.

Assistir passivamente à morte dos sobreviventes do Holocausto por inanição...

Afinal, eles foram ou não indenizados?

Quem ficou com o dinheiro?

Tudo bem, vamos esquecer as indenizações. Mas já não bastou o sofrimento nos campos de concentração?

Os israelenses não acreditam nos campos de concentração ou no Holocausto?

Será que os israelenses estão perdendo sua humanidade?

E o que dizer das crianças?

Vejam a campanha que estão fazendo para evitar que as crianças também morram de fome.



    "783,600 children in Israel went to bed hungry last night!"
    
- Israel National Insurance Institute Poverty Report, November 2009
    783.600 crianças israelenses foram dormir com fome!



A verdade é que Israel está sofrendo cada vez mais com a pobreza. É o preço que se paga quando se prioriza o armamento.

É o preço que se paga em não viver em paz com os vizinhos.

Mais de 24 por cento das famílias israelenses vivem abaixo da linha de pobreza.

Um terço das crianças passa fome.

Talvez esse seja o melhor indicador para o surgimento dos skinheads e neonazistas.

Alguém poderia imaginar que um dia o estado judaico abrigue em seu seio jovens nazistas que ultimamente tem agredido rabinos?.

Não adianta querer tapar o sol com a peneira, mesmo quando a mídia internacional se faz de cega e surda.

A própria mídia israelense, a começar pelo jornal mais importante do país, o Haaretz, denuncia o abandono.

Pobre humanidade.

Pobres israelenses...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Afeganistão, a bola da vez...

Massacre anunciado no Afeganistão


Tropas da NATO estão a preparar uma ofensiva em larga escala contra a cidade de Marja (também Marjah ou Marjeh) na provícia de Helmand no sul do Afeganistão.
Esta zona é considerada um bastião dos talibã e tem sido alvo de uma intensa campanha militar ao longo dos últimos anos. No entanto face ao incapacidade de controlar a situação nesta e noutras regiões do país as chefias militares pediram um aumento de tropas para o qual os Estados Unidos contribuíram com 30.000 soldados e os restantes países da NATO com 7.000 (Sócrates aumentou o contingente português em 150 homens).
É com o auxílio de muitos destes reforços que a NATO tenciona agora controlar o sul do Afeganistão. Marja, com cerca de 80.000 habitantes, tem sido uma cidade que as forças de ocupação nunca conseguiram controlar e é vista como um centro operacional estratégico para os talibãs. Segundo os militares poderão estar lá entrincheirados cerca de 2.000 guerrilheiros.
O que é novo na táctica da NATO é a forma como o ataque vem sendo publicitado (ver por exemplo aqui e aqui) nos meios de comunicação social. Segundo o general Stanley McCrystal é uma forma de permitir aos habitantes pensarem o que querem fazer antes de serem atingidos por uma ofensiva militar brutal que pode ter início a qualquer momento e para a qual estão mobilizados 15.000 soldados. Traduzindo: aqueles que não fugirem a tempo serão considerados terroristas e alvos a abater.
Nos meios afectos à guerra a excitação é grande. Académicos, think-tanks, analistas acompanham com entusiasmo as movimentações de tropas, falam da possibilidade de selar a área para conduzir a ofensiva e invocam a preciosa experiência adquirida pelos Marines no massacre da Falluja (Iraque) em 2004.
Será este o primeiro grande massacre da era Obama?
Fonte: Esquerda.Net

Ainda o Haiti....

"O meu governo não foi derrubado pelo povo"

por Jean-Bertrand Aristide [*]
entrevistado por Peter Hallward

. Em meados dos anos 80, Jean-Bertrand Aristide era um jovem padre paroquiano que trabalhava em um bairro pobre e conflituoso de Porto Príncipe. Corajoso defensor dos direitos e dignidade dos pobres, logo se tornou o mais amplamente respeitado porta-voz de um crescente movimento popular contra a série de regimes militares que controlaram o Haiti depois do colapso da ditadura pró-americana dos Duvalier, em 1986.

Em 1990, venceu a primeira eleição presidencial democrática, com 67% dos votos. Sentido como uma perigosa ameaça pela elite minoritária dominante do Haiti, foi derrubado por um golpe militar em setembro de 1991. Conflitos com essa mesma elite e suas legiões, apoiada por seus poderosos aliados nos EUA e França, tem marcado toda a trajetória política de Aristide: depois de conquistar uma esmagadora vitória nas eleições de 2000, seus inimigos lançaram uma campanha de propaganda massiva para caracterizá-lo como violento e corrupto.

A resistência estrangeira e da elite local por fim culminaria em um segundo golpe contra ele, na noite de 28 de fevereiro de 2004. Amigo e politicamente aliado de Thabo Mbeki, da ANC, Aristide foi para um relutante exílio na África do Sul, onde permanece até os dias de hoje. Apelos para o retorno imediato e incondicional de Aristide continuam a polarizar a política haitiana. Muitos analistas, assim como alguns importantes membros do governo atual reconhecem que, se a constituição permitisse a Aristide candidatar-se novamente a uma reeleição, ele venceria facilmente.

Recluso, o ex-presidente do Haiti veio à tona recentemente com o terremoto que abalou o seu país. Na oportunidade se disse pronto a voltar para o país e ajudar a sua reconstrução. Analistas acreditam que uma eventual volta do ex-presidente poderia provocar uma reviravolta na conturbada política local. Mesmo vivendo em um quase anonimato, Aristide conseguiu conservar uma forte base de simpatizantes na capital e em diversas áreas rurais do Haiti — o que poderia ser interpretado como uma ameaça ou mesmo uma afronta a seu velho aliado e atual presidente, René Préval.

Um pouco da história e do pensamento de Jean-Bertrand Aristide pode ser conhecida através da longa entrevista que o ex-presidente concedeu a Peter Hallward professor de filosofia na Universidade de Middlesex (Inglaterra). A entrevista em francês foi realizada em Pretória (África do Sul) no dia 20 de julho de 2006. O texto completo da entrevista foi publicado em apêndice do livro de Hallward Damming de Flood: Haiti, Aristide and the Politics of Containment (Paperback, 2008).

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre o FSM-2010...

10º FSM: sintomas de decadência
Escrito por Raúl Zibechi - Correio da Cidadania
 
Uma década é tempo suficiente – no terreno político-social – para o crescimento, maturidade e talvez decadência de um "movimento de movimentos" que se propôs a mudar o mundo. Ainda que seu declínio seja um dado da realidade, seus mentores podem contentar-se com que seu oponente, o Fórum Econômico de Davos, atravessa dificuldades ainda maiores.
 
Os sintomas são bem conhecidos: debater até o cansaço se o que está se fazendo tem sentido, se deve continuar pelo mesmo caminho ou mudar o rumo para alguma outra direção que permita encontrar soluções aos males e mal-estares que se notam. Com efeito, tanto o seminário ‘10 anos depois’ realizado em Porto Alegre, como o Fórum Temático, em Salvador, dedicaram boa parte de seu tempo a constatar a perda de vitalidade de um movimento que pretendeu ser a alternativa à globalização neoliberal.
 
Neste ano, o Fórum Social Mundial não contou com um evento central, mas realizou atividades em uma vintena de cidades de diferentes partes do mundo, entre elas as duas capitais estaduais brasileiras. A opção pela descentralização é um indicador de que os grandes eventos de dezenas de milhares de pessoas tiveram um papel importante em seu momento, no princípio da década, mas nesta etapa não teria sentido repeti-los, já que, segundo se pôde constatar nas últimas edições, o formato foi se desgastando.
 
Os eventos de Porto Alegre, a partir de 25 de janeiro, consistiram em um conjunto de debates entre intelectuais e membros de ONGs, com escassa participação dos movimentos sociais que são, na prática, a razão de ser do Fórum. Certamente, não era a intenção dos organizadores apostar pela massividade que arrastou mais de 150 mil pessoas nas edições anteriores, mas que nos debates de agora atraíram menos de 10% do anterior pico de participação.
 
Em Salvador, pelo contrário, no Fórum Temático realizado entre 29 e 31 de janeiro, a presença dos movimentos era esperada com certa expectativa. A opção por descentralizar o evento, com mesas de debates em hotéis da cidade e atividades dos movimentos relegadas ao recinto da universidade católica, teve efeito negativo para a participação social. Diferentemente do que ocorria em Porto Alegre anos atrás, quando a cidade girava em torno do Fórum alguns dias, na capital da Bahia as pessoas nem souberam do evento altermundialista.
 
Buscando novos rumos
 
A virada na situação política mundial e na América Latina parece estar na base de um certo desconcerto que se materializa na aparição de propostas notoriamente divergentes. Nas primeiras edições do Fórum, se registravam uma forte ascensão do conservadorismo comandado por George Bush, simbolizado nas invasões ao Iraque e Afeganistão. Nesse continente, estavam entrando governos de mudança e se verificava ainda uma onda de mobilização social que desembarcou com suas múltiplas cores nos eventos massivos de Porto Alegre.
 
A crise mundial, a vitória de Barack Obama na Casa Branca, o outono dos governos progressistas e de esquerda da região e a crescente desmobilização social pautam uma conjuntura bem diferente. O tom da Carta da Bahia, documento final aprovado por uma assembléia de movimentos, delata o novo clima. A declaração enfatiza o rechaço "à presença de bases estrangeiras no continente sul-americano", a defesa da soberania e das grandes jazidas de petróleo descobertas no litoral brasileiro.
 
A carta faz uma defesa cerrada do governo Lula. "No Brasil, muitos avanços foram conquistados pelo povo durante os sete anos de governo Lula". Menciona que ainda falta realizar reformas estruturais, mas conclama o apoio a diversos oficialismos "neste período de embate político que se aproxima", em clara alusão aos processos eleitorais vindouros.
 
Neste ponto, aparecem fortes divergências. O Movimento dos Sem Terra, muito crítico a Lula por não ter promovido a reforma agrária prometida, não mobilizou suas bases para o Fórum como em ocasiões anteriores. Em Salvador, o movimento mais forte é o dos Sem Teto, que em oficinas diferentes mostrou claros distanciamentos tanto com o governo federal como com o estadual, comandado pelo petista Jacques Wagner.
 
A distância, social antes que política, entre movimentos e governos foi uma das características do Fórum de Salvador. Um dos ‘intercâmbios’ com os movimentos se realizou em um hotel cinco estrelas, com a participação do governador Jacques Wagner, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o Secretário Especial para Assuntos Estratégicos da Presidência, Samuel Pinheiro. Não era esse o melhor ambiente para movimentos de base que, como os de Salvador, são integrados em sua imensa maioria por negros pobres que vivem em favelas, e que são sistematicamente rejeitados nesses espaços.
 
Na visita que realizamos a três ocupações urbanas dos Sem Teto pudemos comprovar que as bases desses movimentos não tinham a menor idéia do que acontecia no centro da cidade, nem mostravam intenção de comparecer quando eram informados que deviam se registrar em outro hotel, também cinco estrelas, localizado no coração elitista da cidade racista. Se alguma vez os fóruns foram um autêntico encontro de movimentos sociais, na prática se transformaram em encontros de elites, intelectuais, membros de ONGs e representantes de organizações sociais.
 
Nas palavras de Eric Toussaint, membro do Conselho Internacional do FSM, um dado central é que o encontro "foi patrocinado pela Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, Itaipu Binacional e contou com forte presença de governos". Ou seja, grandes multinacionais que estão também no encontro empresarial de Davos, onde Lula foi proclamado "estadista global". Em sua opinião, o núcleo histórico de fundadores do Fórum, no qual têm presença especial brasileiros vinculados ao governo, é o mais refratário a buscar outros formatos, que "se apóiem em forças militantes voluntárias e que se alojem em casas de ativistas".
 
Questão de Estado
 
Quanto ao formato, as propostas são muito variadas. O português Boaventura de Sousa Santos crê que o Fórum fracassou na Europa, Ásia e África ao não conseguir "conquistar o imaginário dos movimentos sociais e líderes políticos" como ocorreu na América Latina. Acredita que o FSM deveria ter comparecido com uma posição própria na Cúpula de Copenhagen e que o próximo encontro, em Dakar (Senegal) deverá "promover algumas ações coletivas" na direção de buscar "uma nova articulação entre partidos e movimentos".
 
Toussaint vai mais longe e aspira que os movimentos acolham a proposta lançada por Hugo Chávez, de lançar uma Quinta Internacional, que seria "instrumento de convergência para a ação e elaboração de um modelo alternativo". No outro extremo, o sociólogo brasileiro Emir Sader pensa que o Fórum já fracassou porque ao não estreitar vínculos com governos progressistas "ficou girando no vazio".
 
Dois assuntos seguem no centro dos debates, como essas posturas manifestam: a relação entre governos e movimentos e o grau de centralização e organização do qual o Fórum deve se dotar. Há quem, como Toussaint, defenda um modelo tradicional, que se resuma a uma "frente permanente de partidos, movimentos sociais e redes internacionais", porque é a melhor forma de impulsionar a mobilização. Acredita, por tabela, que o golpe de Estado em Honduras se consolidou porque a mobilização "foi totalmente insuficiente".
 
Sousa Santos joga mais lenha na fogueira ao abordar o outro assunto em debate. Sustenta que "agora existe um novíssimo movimento social, que é o próprio Estado". Defende sua tese assinalando que se o Estado for deixado livre à sua lógica, "é capturado pela burocracia e pelos interesses econômicos dominantes". Mas se os movimentos, que sempre trabalharam por fora dos Estados, levarem em conta como um "recurso importante" este Estado "pode ser apropriado pelas classes populares como está ocorrendo no continente latino-americano".
 
Em seu comunicado ao seminário "10 anos depois", Immanuel Wallerstein apresentou uma perspectiva que inclui uma variante mais, estirando as diferenças entre os militantes. Sustentou que os impactos maiores da crise virão nos próximos cinco anos, com um possível default da dívida dos Estados Unidos, a queda do dólar, a aparição de regimes autoritários, incluindo alguns países da América latina, e a crescente demonização de Obama nos EUA. Crê que estão se formando vários blocos geopolíticos que excluem Washington: Europa Ocidental e Rússia; China-Japão-Coréia do Sul; América do Sul, liderada pelo Brasil.
 
Neste cenário, opina que nas próximas duas décadas a esquerda social e política irão percebendo que "a questão central não é pôr fim ao capitalismo, mas organizar um sistema que o suceda". Neste lapso, a confrontação entre esquerdas e direitas, cujas forças se expandiram pelo mundo todo, será inevitável, mas não será uma batalha entre Estados, e sim "entre as forças sociais mundiais". E acredita, além do mais, que às esquerdas e aos movimentos "falta uma visão estratégica de médio prazo". Este último ponto se mostrou inteiramente correto, pelo menos no último Fórum Social Mundial.
 
Raúl Zibechi é jornalista uruguaio, professor pesquisador na Multiversidade Franciscana da América Latina e assessor de vários coletivos sociais.
 
Traduzido por Gabriel Brito.
Publicado originalmente em América Latina en Movimiento (http://www.alainet.org/).