Prazo para escolas introduzirem música no currículo vence
em agosto, mas número de profissionais é insuficiente
15º núcleo do cpers
O ensino de música terá que ser obrigatório nas
escolas brasileiras das redes públicas e particulares até
agosto deste ano. A exigência foi prevista na Lei 11.769, sancionada
há três anos pelo finado José Alencar, vice-presidente
da República em exercício na época. Dados da Secretaria
da Educação do Estado de Goiás mostram que a introdução
da música no currículo das escolas goianas é anterior
à lei. Em 2005, foi realizado o primeiro concurso específico
para contratação de professores de música. Desde
esse período, quatro certames foram realizados no Estado. O último
aconteceu no ano passado, mas nenhum deles foi capaz de suprir a quantidade
de vagas necessárias para que as escolas ofereçam o ensino
musical aos estudantes. O número de profissionais no mercado
é insuficiente para atender à demanda exigida.
A coordenadora do curso de licenciatura em música da Universidade
Federal de Goiás (UFG) e representante estadual da Associação
Brasileira de Educação Musical (Abem), Nilceia Protásio,
afirma que, por ano, a UFG forma, em média, 15 profissionais
de música. Desse total, não significa que todos vão
optar por trabalhar na educação básica. Outros
campos de trabalho como escolas específicas do ramo e projetos
sociais podem atrair o interesse dos graduados, contribuindo para que
a modalidade demore a se efetivar como disciplina da grade escolar.
Para tentar driblar a insuficiência de profissionais qualificados,
o projeto de lei propôs uma brecha no ato de sanção
da lei, vetando a qualificação específica em música
do professor que vai lecionar a modalidade. A questão gerou polêmica
e levantou controvérsias entre os profissionais da área.
Nilceia acredita que a formação profissional deve ser
ensinada por um profissional graduado e não por quem tem experiência
na área. "A música é uma área de conhecimento
e deve ser ministrada por profissionais habilitados, com formação
musical e pedagógica. Como professora, defendo que o respeito
pelo ensino de música está diretamente ligado ao respeito
pelo profissional da área. Se um médico ou advogado não
pode exercer a profissão sem ser devidamente habilitado e possuir
um certificado para exercer sua profissão, na área de
educação não tem que ser diferente", questiona.
A pedagoga e violonista Vilma Helrilg, que dá aulas particulares
de violão popular há 10 anos e, atualmente, trabalha na
Escola de Música de Morrinhos, no interior do Estado, acredita
que a transmissão do conteúdo musical na educação
básica não é tão profunda ao ponto de se
exigir que o professor tenha graduação na área.
"Na educação básica, não vamos formar
profissionais músicos, pelo menos, inicialmente. Devemos fazer
uma iniciação musical de forma que ela seja utilizada
como uma ferramenta pedagógica." Vilma vê a música
como arte e justifica que o talento é aperfeiçoado com
a prática e que o fato de não ter anos de estudos não
significa que o seu dom natural será diminuído. Por outro
lado, ela é a favor da graduação para aquelas pessoas
que pretendem formar músicos e não apenas introduzir conteúdos
na educação básica.
A musicista Luz Marina Alcantara, diretora do Centro de Estudo e Pesquisa
Ciranda da Arte, que é vinculado a Secretaria da Educação
do Estado para capacitar professores nas diversas linguagens da arte,
incluindo a música, explica que a categoria é a que conta
com maior número de projetos no âmbito das escolas, dentro
das áreas artísticas. Ela considera que em ações
que envolvam coral, bandas, fanfarras e instrumentos de cordas é
possível a contratação de alguém que tenha
conhecimento na área, embora, sem a formação exigida.
Entretanto, para o ensino em sala de aula, ela defende a obrigatoriedade
da formação. "Assim como em todas as demais áreas
do conhecimento, a música na escola exige um profissional com
formação, no caso, licenciatura em educação
musical para a disciplina música e licenciatura em instrumento
musical para as aulas específicas de instrumentos ou outras modalidades
desta área", considera.
Alternativas
Para conseguir contornar a falta de professores específicos
e cumprir a lei dentro do prazo exigido para a implementação
da música como disciplina na Educação Básica,
que prevê as adequações até agosto deste
ano, Luz Marina aponta alternativas possíveis dentro da realidade
goiana. "Neste momento, temos verificado junto às instituições
formadoras presentes no nosso Estado, a possibilidade de ampliação
da oferta dos cursos de licenciaturas em educação musical,
presenciais e à distância. Dentro de certo prazo, novos
profissionais surgirão, possibilitando o cumprimento da lei",
afirma.
Nilceia, coordenadora de licenciatura em Música da UFG, aposta
que o prazo exigido pela lei não conseguirá preencher
as vagas das mais de mil unidades de ensino espalhadas por Goiás.
Para ela, falta investimentos na valorização do profissional
habilitado e isso reflete no pequeno número de candidatos aptos
a lecionar. "Seria muita ingenuidade pensar que atenderemos a demanda
de todas as escolas de Goiás com professores habilitados em música
- isso se incluirmos as cidades do interior. Muitos licenciados em Música
optam por não atuarem na educação básica.
Dentre os fatores, estão as condições de trabalho
e a falta de valorização que é refletida nos salários.
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