terça-feira, 26 de abril de 2011

A trincheira de Jean Wyllys

O nome dele não é Bolsonaro

Jean Wyllys de Matos Santos é um sujeito tranquilo, bem humorado, que defende idéias sem alterar a voz, as mais complexas, as mais simples, baiano, enfim. Ri, como todos os baianos, da pecha da preguiça, como assim nomeiam os sulistas um sentimento que lhes é desconhecido: a ausência de angústia. Homossexual assumido, Jean cerra fileiras no pequeno e combativo PSOL, a única trincheira radical efetivamente ativa na política brasileira. E é justamente no Congresso Nacional que o deputado Jean Wyllys, eleito pelos cidadãos fluminenses, tem se movimentado numa briga dura de direitos civis, a luta contra a homofobia.
Cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes.
Mas o Brasil tem pavor de discutir esse assunto, inclusive no Congresso, onde o discurso machista une sindicalistas a ruralistas, em maior ou menor grau, mas, sobretudo, tem como aliado as bancadas religiosas, unidas em uma cruzada evangélica. Os neopentecostais, como se sabe, acreditam na cura da homossexualidade, uma espécie de praga do demônio capaz de ser extirpada como a um tumor maligno. O mais incrível, no entanto, não é o medievalismo dessa posição, mas o fato de ela conseguir interditar no Parlamento não só a discussão sobre a criminalização da homofobia, mas também o direito ao aborto e a legalização das drogas. Em nome de uma religiosidade tacanha, condenam à morte milhares de brasileiros pobres e, de quebra, mobilizam em torno de si e de suas lideranças o que há de mais lamentável no esgoto da política nacional.
Jean Wyllys se nega a ser refém dessa gente e, por isso mesmo, é odiado por ela. Contra ele, costumam lembrar-lhe a participação no Big Brother Brasil, o inefável programa de massa da TV Globo, onde a debilidade humana, sobretudo a de caráter intelectual, é vendida como entretenimento. Jean venceu uma das edições do BBB, onde foi aceito por ser um homossexual discreto, credenciado, portanto, para plantar a polêmica, mas não de forma a torná-la um escândalo. Dono de um discurso político bem articulado, militante da causa gay e intelectualmente superior a seus pares, não só venceu o programa como ganhou visibilidade nacional. De repórter da Tribuna da Bahia, em Salvador, virou redator do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, mas logo percebeu que isso não era, exatamente, uma elevação de status profissional.
Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Como se, nas escolas brasileiras, não fossem os jovens homossexuais o alvo principal das piores e mais violentas “brincadeiras” perpetradas por aprendizes de brucutus alegremente estimulados pelo senso comum. Esses mesmos brucutus que, hoje, ligam para o gabinete do deputado do PSOL para ameaçá-lo de morte.
Abaixo, a íntegra de uma carta escrita por Jean ao Jornal do Brasil, por quem foi acusado, por um colunista do JB Wiki (seja lá o que isso signifique), de “censurar cristãos”. O texto é uma pequena aula de civilidade e História. Vale à pena lê-lo:
Em primeiro lugar, quero lembrar que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito e laico. Para quem não sabe o que isso quer dizer, “Estado laico”, esclareço: O Estado, além de separado da Igreja (de qualquer igreja), não tem paixão religiosa, não se pauta nem deve se pautar por dogmas religiosos nem por interpretações fundamentalistas de textos religiosos (quaisquer textos religiosos). Num Estado Laico e Democrático de Direito, a lei maior é a Constituição Federal (e não a Bíblia, ou o Corão, ou a Torá).
Logo, eu, como representante eleito deste Estado Laico e Democrático de Direito, não me pauto pelo que diz A Carta de Paulo aos Romanos, mas sim pela Carta Magna, ou seja, pelo que está na Constituição Federal. E esta deixa claro, já no Artigo 1º, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e em seu artigo 3º coloca como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A república Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos Direitos Humanos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.
Sendo a defesa da Dignidade Humana um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro, ela deve ser tutelada pelo Estado e servir de limite à liberdade de expressão. Ou seja, o limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais.
Seus discursos de ódio têm servido de pano de fundo para brutais assassinatos de homossexuais, numa proporção assustadora de 200 por ano, segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional. Incitar o ódio contra os homossexuais faz, do incitador, um cúmplice dos brutais assassinatos de gays e lésbicas, como o que ocorreu recentemente em Goiânia, em que a adolescente Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que, segundo a mídia, foi brutalmente assassinada por parentes de sua namorada pelo fato de ser lésbica. Ou como o que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o adolescente Alexandre Ivo, que foi enforcado, torturado e morto aos 14 anos por ser afeminado.
O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs.
Assim como o trecho da Carta de Paulo aos Romanos que diz que o “homossexualismo é uma aberração” [sic] são os trechos da Bíblia em apologia à escravidão e à venda de pessoas (Levítico 25:44-46 – “E, quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas…”), e apedrejamento de mulheres adúlteras (Levítico 20:27 – “O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles…”) e violência em geral (Deuteronômio 20:13:14 – “E o SENHOR, teu Deus, a dará na tua mão; e todo varão que houver nela passarás ao fio da espada, salvo as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR, teu Deus…”).
A leitura da Bíblia deve ensejar uma religiosidade sadia e tolerante, livre de fundamentalismos. Ou seja, se não pratica a escravidão e o assassinato de adúlteras como recomenda a Bíblia, então não tem por que perseguir e ofender os homossexuais só por que há nela um trecho que os fundamentalistas interpretam como aval para sua homofobia odiosa.
Não declarei guerra aos cristãos. Declarei meu amor à vida dos injustiçados e oprimidos e ao outro. Se essa postura é interpretada como declaração de guerra aos cristãos, eu já não sei mais o que é o cristianismo. O cristianismo no qual fui formado – e do qual minha mãe, irmãos e muitos amigos fazem parte – valoriza a vida humana, prega o respeito aos diferentes e se dedica à proteção dos fracos e oprimidos. “Eu vim para que TODOS tenham vida; que TODOS tenham vida plenamente”, disse Jesus de Nazaré.
Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais: é o caso do ataque, por quatro integrantes de uma igreja evangélica, a um centro de Umbanda no Catete, no Rio de Janeiro; ou o de Bernadete Souza Ferreira dos Santos, Ialorixá e líder comunitária, que foi alvo de tortura, em Ilhéus, ao ser arrastada pelo cabelo e colocada em cima de um formigueiro por policiais evangélicos que pretendiam “exorcizá-la” do “demônio”.
O que se tem a dizer? Ou será que a liberdade de crença é um direito só dos cristãos?
Talvez não se saiba, mas quem garantiu, na Constituição Federal, o direito à liberdade de crença foi um ateu Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Aforjá, Jorge Amado. Entretanto, fundamentalistas cristãos querem fazer uso dessa liberdade para perseguir religiões minoritárias e ateus.
Repito: eu não declarei guerra aos cristãos. Coloco-me contra o fanatismo e o fundamentalismo religioso – fanatismo que está presente inclusive na carta deixada pelo assassino das 13 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro.
Reitero que não vou deixar que inimigos do Estado Democrático de Direito tente destruir minha imagem com injúrias como as que fazem parte da matéria enviada para o Jornal do Brasil. Trata-se de uma ação orquestrada para me impedir de contribuir para uma sociedade justa e solidária. Reitero que injúria e difamação são crimes previstos no Código Penal. Eu declaro amor à vida, ao bem de todos sem preconceito de cor, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de preconceito. Essa é a minha missão.

Jean Wyllys (Deputado Federal pelo PSOL Rio de Janeiro)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Criança, entre livros e TV


A vantagem da leitura sobre a TV é que, frente ao monitor, a criança permanece inteiramente receptiva, sem condições de interagir com o filme ou o desenho animado



Frei Betto

Foi o psicanalista José Ângelo Gaiarsa, um dos mestres de meu irmão Léo, também terapeuta, que me despertou para as obras de Glenn e Janet Doman, do Instituto de Desenvolvimento Humano de Filadélfia. O casal é especialista no aprimoramento do cérebro humano.
Os bichos homem e mulher nascem com cérebros incompletos. Graças ao aleitamento, em três meses as proteínas dão acabamento a este órgão que controla os nossos mínimos movimentos e faz o nosso organismo secretar substâncias químicas que asseguram o nosso bem-estar. Ele é a base de nossa mente e dele emana a nossa consciência. Todo o nosso conhecimento, consciente e inconsciente, fica arquivado no cérebro.
Ao nascer, nossa malha cerebral é tecida por cerca de 100 bilhões de neurônios. Aos seis anos, metade desses neurônios desaparecem como folhas que, no outono, se desprendem dos galhos. Por isso, a fase entre zero e 6 anos é chamada de “idade do gênio”. Não há exagero na expressão, basta constatar que 90% de tudo que sabemos de importante à nossa condição humana foram aprendidos até os 6 anos: andar, falar, discernir relações de parentesco, distância e proporção; intuir situações de conforto ou risco, distinguir sabores etc.
Ninguém precisa insistir para que seu bebê se torne um novo Mozart que, aos 5 anos, já compunha. Mas é bom saber que a inteligência de uma pessoa pode ser ampliada desde a vida intrauterina. Alimentos que a mãe ingere ou rejeita na fase da gestação tendem a influir, mais tarde, na preferência nutricional do filho. O mais importante, contudo, é suscitar as sinapses cerebrais. E um excelente recurso chama-se leitura.
Ler para o bebê acelera seu desenvolvimento cognitivo, ainda que se tenha a sensação de perda de tempo. Mas é importante fazê-lo interagindo com a criança: deixar que manipule o livro, desenhe e colora as figuras, complete a história e responda a indagações. Uma criança familiarizada desde cedo com livros terá, sem dúvida, linguagem mais enriquecida, mais facilidade de alfabetização e melhor desempenho escolar.
A vantagem da leitura sobre a TV é que, frente ao monitor, a criança permanece inteiramente receptiva, sem condições de interagir com o filme ou o desenho animado. De certa forma, a TV “rouba” a capacidade onírica dela, como se sonhasse por ela.
A leitura suscita a participação da criança, obedece ao ritmo dela e, sobretudo, fortalece os vínculos afetivos entre o leitor adulto e a criança ouvinte. Quem de nós não guarda afetuosa recordação de avós, pais e babás que nos contavam fantásticas histórias?
Enquanto a família e a escola querem fazer da criança uma cidadã, a TV tende a domesticá-la como consumista. O Instituto Alana, de São Paulo, do qual sou conselheiro, constatou que num período de 10 horas, das 8h às 18h de 1º de outubro de 2010, foram exibidos 1.077 comerciais voltados ao público infantil; média de 60 por hora ou 1 por minuto!
Foram anunciados 390 produtos, dos quais 295 brinquedos, 30 de vestuário, 25 de alimentos e 40 de mercadorias diversas. Média de preço: R$ 160! Ora, a criança é visada pelo mercado como consumista prioritária, seja por não possuir discernimento de valor e qualidade do produto, como também por ser capaz de envolver afetivamente o adulto na aquisição do objeto cobiçado.
Há no Congresso mais de 200 projetos de lei propondo restrições e até proibições de propaganda ao público infantil. Nada avança, pois o lobby do Lobo Mau insiste em não poupar Chapeuzinho Vermelho. E quando se fala em restrição ao uso da criança em anúncios (observe como se multiplica!) logo os atingidos em seus lucros fazem coro: “Censura!”
Concordo com Gabriel Priolli: só há um caminho razoável e democrático a seguir, o da regulação legal, aprovada pelo Legislativo, fiscalizada pelo Executivo e arbitrada pelo Judiciário. E isso nada tem a ver com censura, trata-se de proteger a saúde psíquica de nossas crianças.
O mais importante, contudo, é que pais e responsáveis iniciem a regulação dentro da própria casa. De que adianta reduzir publicidade se as crianças ficam expostas a programas de adultos nocivos à sua formação?
Erotização precoce, ambição consumista, obesidade excessiva e mais tempo frente à TV e ao computador que na escola, nos estudos e em brincadeiras com amigos, são sintomas de que seu ou sua querido(a) filho(a) pode se tornar, amanhã, um amargo problema.

Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto

Texto publicado originalmente na edição 424 do Brasil de Fato.

Seduc vai retomar Escolas Itinerantes


A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) vai retomar as atividades das escolas nos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), as chamadas Escolas Itinerantes. O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado do Brasil a reconhecer e regulamentar as Escolas Itinerantes, autorizados pelo Conselho Estadual de Educação por meio dos pareceres no 1.313/96 e 1.489/02. O Estado desenvolvia cursos experimentais nos acampamentos do MST nos níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental e na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental. As escolas nos acampamentos foram fechadas no ano de 2009, deixando aproximadamente 500 crianças sem acesso a Educação, a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado pelo Ministério Público Estadual (MP) e pela então secretária de Estado da Educação.

A decisão para o retorno das escolas foi tomada a partir de um parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) que informa a nulidade do TAC, pois o termo deveria ter sido assinado pela governadora do Estado e pelo procurador-geral do Estado. O TAC foi assinado pela então secretária de Estado sem a prévia autorização da governadora Yeda Crusius, o que deixa o documento sem respaldo legal na legislação do Estado. Além disso, o processo ocorreu sem o acompanhamento de um procurador do Estado como determina a lei.

Ao assumir a Seduc, o secretário de Estado da Educação, Prof. Dr. Jose Clovis de Azevedo, solicitou parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Sendo constatada a irregularidade da ação descrita acima, determinou a retomada das atividades.

De acordo com a assessora técnica da Seduc para Educação do Campo, Nancy Pereira, o setor de educação do MST está fazendo um levantamento sobre a situação escolar das crianças nas mil famílias acampadas no Estado.

Para a secretária de Estado em exercício da Educação, Maria Eulalia Nascimento, as escolas itinerantes são uma alternativa adequada, legítima e possível para as comunidades dos acampados.


Escolas Itinerantes

É uma escola pública estadual, e está onde as comunidades rurais sem terra estão e fazem a sua luta: nos acampamentos de reforma agrária, nas marchas, nas ocupações e nas mobilizações. É importante ressaltar que não se aplica as escolas localizadas nos assentamentos já regularizados, onde há escolas formais, e que a Seduc está estudando um conjunto de ações para a efetiva implantação da modalidade Educação do Campo, conforme dispõe o decreto lei no 7.352 de 04/11/2010.  O formato pedagógico e estrutural para retomada das Escolas Itinerantes ainda está em análise pela Secretaria. 
 
Fonte: sitio da SEDUC

Falta igualdade para a democracia brasileira, diz Stédile

Guilherme Kolling
Marcelo G. Ribeiro/JC
 
''Brizola foi o primeiro homem público que fez uma lei de reforma agrária'', afirma Stédile.
''Brizola foi o primeiro homem público que fez uma lei de reforma agrária'', afirma Stédile.

Nome mais conhecido do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile avalia que o Brasil tem uma democracia apenas formal, em que, apesar do direito ao voto, a população não conquistou igualdade de oportunidades. Crítico das diferenças sociais entre ricos e pobres, o líder do MST fala, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, sobre as raízes do ativismo pela reforma agrária, das dificuldades do MST com a mudança no perfil da agricultura brasileira e projeta o futuro do movimento. Vê avanços no projeto dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff, que, para ele, estão substituindo o neoliberalismo pelo “neodesenvolvimentismo”. E aponta que falta envolvimento da sociedade e debate na imprensa e na universidade sobre o modelo de desenvolvimento do Brasil.

Jornal do Comércio - Qual é a sua avaliação do atual momento econômico do Brasil?
João Pedro Stédile -
O governo Lula fez uma política macroeconômica de reconciliação de classes. Garantiu os ganhos para aqueles 5% mais ricos e tirou da miséria os 40 milhões que dependem do Bolsa Família. E freou o neoliberalismo, recuperou o papel do Estado, do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiava privatizações, agora financia fábricas. O governo Dilma ganha as eleições no bojo da continuidade. Porém, isso tem limite. Não dá mais para apenas distribuir renda através do Bolsa Família. Tem que mudar o modelo. E tem que mexer na taxa de juros.

JC - E essa proposta no atual cenário de aumento de inflação?
Stédile -
Esse projeto neodesenvolvimentista da Dilma saiu perdendo para os setores conservadores do governo, que ganharam o primeiro round contra a inflação ao fazer um corte de R$ 50 bilhões no orçamento e ao aumentar a taxa de juros em 1 ponto percentual. O aumento da taxa Selic é uma burrice. Quem vai bater palma são os bancos, o resto da sociedade vai pagar para eles.

JC - Falta debate sobre o modelo de desenvolvimento?
Stédile -
A imprensa tem que ser mais criativa, propor o debate. Tem que discutir problemas de fundo, o agrotóxico - ninguém escapa, vai pegar também donos de jornal, de televisão, o câncer pega todo mundo. E levar esse debate para a universidade, que está de costas. Levar para as igrejas. Enfim, um mutirão de debate político e social. Estamos num momento de letargia na sociedade. Nem nas campanhas eleitorais se discute projetos.

JC - Qual é a sua avaliação da democracia brasileira?
Stédile -
É uma democracia formal, em que o povo brasileiro ganhou o direito de votar. Mas a população quer as mesmas oportunidades. Então, quando todo o povo brasileiro tiver a oportunidade de entrar na universidade, uma moradia digna, uma informação honesta, cultura, e não depender do Bolsa Família, aí viramos uma sociedade democrata.

JC - Falta igualdade na democracia brasileira?
Stedile -
Sem dúvida. A sociedade brasileira é a terceira mais desigual do mundo. É por isso que não consegue ser democrática.

JC - Como o senhor iniciou na luta pela reforma agrária?
Stédile -
Na Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 1978, Nonoai (RS), uma área indígena, tinha 700 posseiros pobres. E os índios se organizaram e expulsaram os posseiros, que, da noite para o dia, estavam na beira da estrada. Então, comecei a organizá-los, porque parte queria voltar para as terras indígenas, e aí dava morte; outra parte queria ir para o Mato Grosso, que era a proposta do governo. Nosso trabalho na militância social era: quem quiser continuar trabalhando aqui no Rio Grande, tem terra. E reivindicamos duas áreas públicas, remanescentes da reforma agrária do (ex-governador Leonel) Brizola, que tinham sido griladas.

JC - O senhor já falou da importância do Brizola para a reforma agrária. Foi na gestão dele o embrião desse movimento?
Stédile -
O embrião foi a colonização europeia no Rio Grande. Deu uma base para a democratização da propriedade, eles pegavam de 25 a 40 hectares, nem menos, nem mais. Isso criou uma base de sociedade mais justa. Não é por nada que Caxias do Sul tem um PIB mais elevado que o de toda a Metade Sul. Na década de 1960, Brizola retomou esse embate e foi o primeiro homem público que fez uma lei estadual de reforma agrária. Foram ocupadas muitas fazendas, a mais importante delas foi a Sarandi, tinha 24 mil hectares.

JC - E a denominação Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra?
Stédile -
De 1978 até 1984, em todo o Brasil, a CPT começou a juntar as lideranças desses movimentos e a fazer encontros. Quem deu a marca de Movimento dos Sem Terra foi a imprensa - começou a se noticiarem acampamentos dos “colonos sem-terra.” Quando fundamos o movimento nacional, em janeiro de 1984, já havia essa marca. Incluímos uma questão de classe: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

JC - Como está o MST hoje?
Stédile -
O MST sofreu percalços nos últimos 10 anos, houve mudanças na agricultura. Até a década de 1980, o que dominava era o capitalismo industrial. E o latifúndio improdutivo era uma barreira. Quando ocupávamos o latifúndio improdutivo, a burguesia industrial nos apoiava, porque éramos o progresso. A minha turma dividia terras, ia para o banco comprar máquinas, geladeira... E, na essência, essa é a proposta da reforma agrária clássica: dividir a área improdutiva para ela desenvolver as forças produtivas. Por isso, na maioria dos países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão, quem tomou a iniciativa de fazer a reforma agrária foi a burguesia industrial, não os camponeses.

JC - Quais foram as mudanças no Brasil?
Stédile -
O movimento nasceu na década de 1980 no contexto de reforma agrária clássica. Por isso a burguesia industrial e a imprensa nos toleravam: “Ah, está certo, tem que ocupar mesmo.” Com o neoliberalismo, houve uma expansão das empresas transnacionais e do capital financeiro que veio tomar conta da nossa agricultura, desde os anos 1990. Quem tem a hegemonia da agricultura não é mais o capital industrial. Tanto que, na década de 1970, a economia brasileira vendia 80 mil tratores por ano. Quem comprava? O pequeno agricultor. Sabe qual foi a venda de tratores no ano passado? 36 mil. Então, aumentou a potência do trator e diminuiu o mercado. É um absurdo.

JC - Como isso afeta o MST?
Stédile -
Hoje, quando tem um latifúndio improdutivo, as grandes empresas transnacionais também chegam para disputar com a gente. Quando tentamos ocupar a Fazenda Ana Paula, 18 mil hectares improdutivos, acampamos e fomos despejados. Aí, a Aracruz comprou e encheu de eucaliptos. Quantos empregos gerou? Nenhum. Faz sete anos que tem eucalipto lá. Nenhuma renda para o município. Mas a Aracruz vai ganhar muito dinheiro no dia em que colher aquele eucalipto. Então, agora o MST enfrenta barreiras... Mudaram os inimigos de classe.

JC - E encolheu o MST?Stedile - Não, o movimento até que aumentou, mas a luta ficou mais difícil. Para desapropriar uma área ficou mais difícil, porque a força desses capitalistas pressiona para não ter desapropriação. Querem empurrar os pobres do campo para a cidade.

JC - Como o senhor projeta o futuro do movimento, com a presidente Dilma?
Stedile -
As vitórias do governo Lula (PT) e Dilma colocaram uma barreira ao neoliberalismo. Há uma tentativa de reconstruir o modelo de desenvolvimento, com lugar para mercado interno, distribuição de renda e indústria nacional. Mas isso ainda é uma vontade política. No nível macro, está havendo mudanças de rumo: não é mais o neoliberalismo, agora é o neodesenvolvimentismo. Na agricultura, estamos iniciando esse grande embate entre o modelo do agronegócio e o da agricultura familiar. Nossa esperança é que nos próximos dez anos a sociedade perceba que o agronegócio é inviável.

JC - Por quê?
Stédile -
Economicamente porque os únicos que ganham são as transnacionais. Pode dizer: “o Rio Grande produz 10 milhões de toneladas de soja”. E quem fica com o lucro se a soja sai daqui em grão? Voltamos a ser um simples exportador de grãos. Temos que exportar é o óleo de soja. A longo prazo, esse modelo de monocultura, que só beneficia a exportação, é inviável. Ou seja, não agrega valor e não distribui renda, concentra. E expulsa a população do campo. E, terceiro, o agronegócio tem uma contradição com o meio ambiente: só produz com veneno, que mata o solo, os vegetais e o ser humano pelos alimentos contaminados. Então, é uma questão social, e econômica e ambiental.

JC - Se o governo federal promover o assentamento reivindicado para as famílias sem terra, como fica o MST?
Stédile -
Vamos continuar lutando contra o latifúndio. Mas, ao mesmo tempo, temos que desenvolver, nas áreas de assentamento, programas que combinem com esse novo modelo: ter agroindústria, laticínio, reflorestar áreas degradadas, produzir alimentos saudáveis... Esse novo caminho que vamos trilhar é seguir a luta contra o latifúndio, implantando um novo modelo nos assentamentos.

JC - Isso depende mais do governo ou da sociedade?
Stedile -
Depende dos pobres do campo lutarem; do governo ter essa vontade política de deixar o agronegócio para o mercado, as políticas públicas de agricultura têm que estar voltadas para o pequeno agricultor; e depende de a sociedade perceber que a luta pela reforma agrária não pode ser criminalizada, porque é o progresso. É para garantir emprego, renda e comida farta e saudável. Tudo que o agronegócio não consegue.

JC - Como o senhor avalia o papel da imprensa nesse processo?
Stedile
- Os quatro grandes grupos que controlam a imprensa no Brasil - Rede Globo, Estadão, Folha de S. Paulo e o grupo Abril - estão a mercê dos interesses do grande capital, das multinacionais e do capital financeiro. Para eles, não só o MST mas qualquer movimento social que lute contra esse modelo se transforma em inimigo. Quando os operários voltarem a lutar como fizeram em Jirau (usina que está em construção no Rio Madeira, em Rondônia), a hora que os sem-teto voltarem a lutar, a imprensa vai chamá-los de vândalos. Ninguém foi a Jirau pesquisar como os operários estavam vivendo. Mas quando colocaram fogo, a primeira coisa que fizeram foi chamá-los de vândalos. É um caso exemplar de como a imprensa criminaliza e tenta derrotar ideologicamente qualquer luta social.

JC - Mas tem havido perda de apoio de setores mais urbanos da sociedade, especialmente a partir de episódios de violência em ações do MST.
Stedile -
O movimento é contra qualquer tipo de violência, sobretudo, contra pessoas. Mas na mobilização de massas sempre há fatores incontroláveis.

JC - Qual é o seu conceito de burguesia?
Stedile -
A burguesia brasileira é aquele 1%, com as 5 mil famílias que controlam 48% do PIB brasileiro e que são subordinadas ao capital internacional. São as 100 maiores empresas que tiveram lucro de R$ 129 bilhões para dividir entre eles. 

Perfil

João Pedro Stédile, 57 anos, nasceu em Lagoa Vermelha (RS). Passou a infância e a adolescência no Interior, com a família, que produzia uva, trigo e produtos de subsistência. Aos 17 anos, veio para Porto Alegre estudar. Cursou Economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e formou-se em 1975. Estagiou e depois fez concurso para a Secretaria da Agricultura. Atuou na Comissão Estadual de Planejamento Agrícola (Cepa), estimulando o cooperativismo e viajando por todo o Estado.
 Ficou na Secretaria de Agricultura até 1984. Paralelamente, atuava junto aos sindicatos dos produtores de uva da região de Veranópolis, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, a quem assessorava em um plano de cálculo do custo de produção. Sua militância foi influenciada pela Igreja, através Comissão Pastoral da Terra (CPT), onde atuou e através da qual se envolveu na questão da terra.
Com a redemocratização, nos anos 1980, diversos grupos, em todo o Brasil, se reuniram e formaram em janeiro de 1984 o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que luta pela reforma agrária e do qual Stédile é considerado um dos fundadores - embora não goste disso - e integra até hoje a coordenação nacional. Ele está radicado em São Paulo.

Um olhar verde sobre o jornalismo


A presença dos temas ambientais na mídia e a compreensão dos processos de sustentabilidade exigem profissionais bem formados e com uma profunda visão do papel social da mídia como referência e instrumento de transformações. Por Dal Marcondes

Verde deve ser a cor do jornalismo do século XXI. Não um jornalismo adjetivado de ambiental, praticado por jornalistas especializados em meio ambiente, mas o meio ambiente presente em todo o jornalismo. Os termos jornalismo ambiental e desenvolvimento sustentável são profundamente anacrônicos. Não é desenvolvimento se não for sustentável, assim como é precário o jornalismo que não incluir em suas variáveis a transversalidade ambiental. O jornalista, como um generalista que é, acaba adjetivando seu mister pelo simples fato de que deseja se destacar em uma ou outra área do conhecimento. Sempre haverá o jornalismo econômico, o esportivo, o social e muitas outras variáveis, mas deve estar fadado à extinção a prática exclusiva de uma vertente ambiental.
A mídia e os jornalistas têm um papel fundamental na construção do futuro dentro dos conceitos de sustentabilidade. A ex-primeira ministra da Noruega e diretora da Organização Mundial de Saúde, Gro Brundtland, em seu relatório sobre sustentabilidade definiu o termo de forma muito simples: “Ser sustentável é suprir as necessidades das atuais gerações sem comprometer a capacidade das gerações futuras em suprir suas próprias necessidades”.
O que isto quer dizer? De uma forma bastante simplista isto significa que a humanidade não vai se extinguir na atual geração de pessoas. Nós teremos filhos, netos e bisnetos, que por sua vez também irão se reproduzir. Todas estas gerações vão precisar de água potável, alimentos e todos os benefícios de uma civilização evoluída e tecnológica. Para isto deverão encontrar na natureza os recursos que serão necessários para satisfazer suas necessidades.
O jornalismo ambiental surgiu da necessidade de mostrar à sociedade, aos governos e às empresas que o modelo de desenvolvimento adotado durante o século XX é insustentável em longo prazo. Muitos ambientalistas dizem isto há anos, no entanto a mídia se faz surda diante da necessidade de uma reflexão mais profunda sobre este modelo e da necessidade de transformações. Os argumentos para o distanciamento da mídia dos temas referentes à sustentabilidade, aqui visto como um equilíbrio entre as vertentes econômica, social e ambiental, são de toda a ordem. Um deles, e muito forte, é que a mídia é uma das principais beneficiárias do modelo de desenvolvimento baseado nos princípios da “Sociedade de Consumo”. Isto porque a publicidade é uma das mais importantes ferramentas deste modelo e é esta a forma como a mídia se sustenta. Uma sociedade menos voraz e consumista talvez seja também uma sociedade com menos publicidade.
Na última década do século XX, inicialmente impulsionadas pela realização no Rio de Janeiro da Cúpula da Terra, também conhecida como Rio-92, surgiram as “mídias ambientais” e grandes jornais passaram a ter meio ambiente como uma de suas editorias. As mídias que atuam exclusivamente com pautas ambientais se estabeleceram e se desenvolveram dentro do mesmo princípio das mídias de resistência à ditadura nos anos 70. São jornais, revistas e sites que se mantém à margem do processo de comunicação de massa, mas que conseguem grande audiência entre os formadores de opinião na área de meio ambiente e sustentabilidade.
O jornalista sempre foi vanguarda nas conquistas políticas e sociais. No entanto, esta é uma fronteira mais espinhosa, exige conhecimento, formação e capacidade para lidar com a diversidade de variáveis que formam as sociedades e organizações complexas. No início acreditava-se que o jornalismo ambiental seria um vertente do jornalismo científico. Isto porque havia conceitos da biologia, da física, da geografia que precisavam ser dominados para a elaboração de boas reportagens ambientais. No entanto, a sustentabilidade ambiental não se restringe a um nicho social. É uma variável presente em todas as decisões humanas e que precisa ser explicitada como tal. A sociedade define o que deseja em termos de sustentabilidade quando estabelece seus padrões de consumo de energia, de matérias-primas, de embalagens, de alimentos etc. Tudo o que se faz tem impactos ambientais anteriores e posteriores ao consumo. O jornalista que pretende compreender este planeta megadiverso não pode simplesmente ter um olhar superficial sobre a realidade, deve compreender suas interfaces e sua cadeia de consequências.
No Brasil isto é ainda mais estratégico, na medida que a biodiversidade e os recursos naturais são as commodities do futuro e devem ser compreendidas como tal por toda a sociedade. A vanguarda desta transformação conceitual é formada por jornalistas capazes de compreender esta realidade e seguir atuando de forma objetiva na disseminação de informações e conhecimento para a  sociedade.  (Envolverde)

Dal Marcondes

Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e Exame. Desde 1998 dedica-se a cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial. Recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo e é reconhecido como um "Jornalista Amigo da Infância" pela agência ANDI.

domingo, 24 de abril de 2011

Morre o guru hindu Sathya Sai Baba aos 85 anos

Jorge Seadi no Sul21

Sathya Sai Baba, um dos líderes religiosos hindus mais respeitados,  morreu hoje (24) aos 85 anos em um hospital da calma cidade de Puttaparthi, local onde nasceu.
O líder religioso foi hospitalizado em março passado e na última semana com problemas renais e cardíacos. Na última semana seu estado de saúde piorou muito e sua morte era esperada para qualquer momento. A causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória.
Sai Baba contava com milhares de seguidores na Índia e em outros países que lhe permitiu construir um império financeiro. Seus seguidores o consideravam a encarnação humana da trinidade hindu composta por Brahma, Vishnú e Shiva. Astros do cinema indiano, o ex-primeiro ministro Atal Behari Vajpayye e o craque do cricket Sachim Tendulkar eram seus fiéis seguidores.
Conhecido por seu cabelo estilo afro e sua túnica laranja, Sai Baba tinha partidários em vários países do mundo e sua popularidade cresceu na década de 70 com o movimento hippie. Hoje, tem seguidores em 100 países. Seu centro religioso é um local de peregrinação de muitas personalidades da Índia a tal ponto de a presidente Pratibha Patil e o primeiro-ministro, Manmohan Singh, terem ido ao último aniversário de Sai Baba. “Sathya Sai Baba era um líder espiritual que inspirou milhares de pessoas a, sem reunúncia a sua própria religião, levar uma vida de moral com amor e paz”, disse o primeiro ministro Singh. 
Porta-voz da Polícia de Puttaparthi confirmou que foi montado um forte aparato de segurança em volta do hospital onde morreu Sai Baba como prevenção de possíveis manifestações de seus seguidores.

Com informações do El Mundo, Espanha  

Reflexão de Fidel Castro: O Norte revolto e brutal


Estava lendo materiais e livros em abundância para cumprir minha promessa de continuar a Reflexão de 14 de abril sobre la Batalha de Girón, quando dei uma olhada nas notícias frescas de ontem, que são abundantes como todos os dias. É possível acumular montanhas delas em qualquier semana, que vão desde o terremoto no Japão ao triunfo de Ollanta Humala sobre Keiko, filha de Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru.


Por Fidel Castro Ruz no Vermelho

O Peru é grande exportador de prata, cobre, zinco, estanho e outros minerais; possui grandes jazidas de urânio que poderosas transnacionais aspiram a explorar. Do urânio enriquecido saem as mais terríveis armas que a humanidade já conheceu e o combustível das centrais eletronucleares que, apesar das advertências dos ecologistas, estavam sendo construídas a ritmo acelerado nos Estados Unidos, Europa e Japão.

Obviamente, não seria justo culpar o Peru por isto. Os peruanos não criaram o colonialismo, o capitalismo e o imperialismo. Tampoco se puede culpar o povo dos Estados Unidos, que também é vítima do sistema que engendrou ali os políticos mais imprudentes que o planeta já conheceu.

Em 8 de abril último, os senhores do mundo deram à luz seu costumeiro informe anual sobre as violações dos “direitos humanos”, que motivou uma aguda análise no sitio Rebelión, assinada pelo cubano Manuel E. Yepe, baseado na resposta do Conselho de Estado da China, enumerando fatos que demonstram a desastrosa situação de tais direitos nos Estados Unidos.

“…Os Estados Unidos são o país onde os direitos humanos são mais agredidos, tanto em seu próprio país como em todo o mundo, e são uma das nações que menos garantem a vida, a propriedade e a segurança pessoal de seus habitantes.

“Anualmente, uma em cada cinco pessoas é vítima de um crime, a taxa mais alta do planeta. Segundo dados oficiais, as pessoas com mais de 12 anos sofreram 4,3 milhões de atos violentos.

“A delinquência cresceu alarmantemente nas quatro maiores cidades do país (Filadélfia, Chicago, Los Ângeles e Nova Iorque) e se registraram notáveis aumentos em comparação com o ano anterior em outras grandes cidades (Saint Louis e Detroit).

“O Tribunal Supremo decidiu que a posse de armas para a defesa pessoal é um direito constitucional que não pode ser ignorado pelos governos estaduais. Noventa milhões dos 300 milhões de habitantes do país possuem 200 milhões de armas de fogo.

“No país foram registrados 12 mil homicidios causados por armas de fogo, enquanto 47 por cento dos roubos foram cometidos igualmente com o uso de armas desse tipo.

“À sombra da seção de “atividades terroristas” do Patriot Act, a tortura e a extrema violência para obter confissões de suspeitos são prácticas comuns. As condenações injustas se evidenciam nas 266 pessoas, 17 delas já no corredor da morte, que foram absolvidas graças a exames de DNA.

“Washington advoga pela liberdade na Internet para fazer da rede de redes uma importante ferramenta diplomática de pressão e hegemonia, mas impõe estritas limitações no ciberespaço em seu próprio território e trata de estabelecer un cerco legal para lidar com o desafio que representa Wikileaks e seus vazamentos.

“Com uma alta taxa de desemprego, a proporção de cidadãos estadunidenses que vive na pobreza alcançou um nível récorde. Um em cada oito cidadãos participou no ano pasado dos programas de cupons para alimentos.

“O número de famílias acolhidas em centros para desamparados aumentou 7 por cento e as familias tiveram que permanecer mais tempo nos centros de acolhida. Os delitos violentos contra estas famílias sem teto aumentam sem cessar.

“A discriminação racial permeia cada aspecto da vida social. Os grupos minoritários são discriminados em seus empregos, tratados de maneira indigna e não são levados em conta para promoções, benefícios ou processos de seleção de emprego. Um terço dos negros sofreu discriminação em seus lugares de trabalho, embora somente 16 por cento se atreveu a apresentar queixa.

“A taxa de desemprego entre os brancos é de 16,2 %, entre hispanos e asiáticos de 22 %, e entre os negros é de 33 %. Os afroamericanos e os latinos representam 41 por cento da população carcerária. A taxa de afroamericanos cumprindo prisão perpétua é 11 vezes mais alta que a de brancos.

“90 por cento das mulheres sofreu discriminação sexual de algum tipo em seu lugar de trabalho. Vinte milhões de mulheres são vítimas de violação, quase 60 mil presas sofreram agressão sexual ou violência. A quinta parte das estudantes universitárias são agredidas sexualmente e 60 por cento das violações em campus universitários ocorre nos dormitórios femininos.

“Nove em cada dez estudantes homossexuais, bissexuais ou transexuais sofrem assédio no centro escolar.

“O Informe dedica um capítulo a recordar as violações dos direitos humanos de que é responsável o governo dos Estados Unidos fora de suas fronteiras. As guerras do Iraque e do Afeganistão, dirigidas pelos EUA, causaram dados exorbitantes de vítimas entre a população civil destes países.

“As ações ‘antiterroristas’ dos EUA incluíram graves escândalos de abuso a prisioneiros, detenções indefinidas sem acusações ou julgamentos em centros de detenção como o de Guantânamo e outros lugares do mundo, criados para interrogar os denominados ‘presos de valor elevado’ onde se aplicam as piores torturas.

“O documento chinês também recorda que os EUA violaram o direito a existir e desenolver-se da população cubana sem acatar a vontade mundial expressa pela Assembleia Geral da ONU durante 19 anos consecutivos sobre ‘A necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba’.

“Os EUA não ratificaram convenções internacionais sobre os direitos humanos como o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher; a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Convenção sobre os Direitos da Criança.

“Os dados apresentados pelo governo chinês demonstram que o funesto histórico dos EUA neste terreno o desqualifica como ‘juiz dos direitos humanos no mundo’. Sua ‘diplomacia dos direitos humanos’ é pura hipocrisia de dois pesos e duas medidas a serviço de seus interesses imperiais estratégicos. O governo chinês aconselha o governo dos EUA a tomar medidas concretas para melhorar sua própria situação em direitos humanos, que examine e retifique suas atividades nesse terreno e detenha seus atos hegemônicos que consistem em utilizar os direitos humanos para interferir nos assuntos internos de outros países.”

O importante desta análise, a nosso juízo, é que se faça tal denúncia em um documento assinado pelo Estado chinês, um país de 1 bilhão e 341 milhões de cidadãos, que possui 2 trilhões de dólares em suas reservas monetárias, sem cuja cooperação comercial o império afunda. Parecia-me importante que nosso povo conhecesse os dados precisos contidos no documento do Conselho de Estado chinês.

Se Cuba o dissesse, careceria de importância; levamos mais de 50 anos denunciando esses hipócritas.

Martí tinha dito há 116 anos, em 1895: “…o caminho que se há de fechar, e o estamos fechando com nosso sangue, da anexação dos povos de nossa América ao Norte revolto e brutal que os despreza…”
“Vivi dentro do monstro, e conheço suas entranhas”.

Fidel Castro Ruz
23 de abril de 2011, 19h32
Fonte: Cubadebate
Tradução da Redação do Vermelho

Filme Indiano

Ratoeira
(Elippathayam)
Elippathayam
Poster
Sinopse
Drama indiano que discute os sentimentos humanos a partir de histórias envolvendo ratos e os moradores de uma antiga casa, de uma familia tradicional e decadente. O personagem central é Unni, um homem que não consegue conviver tranquilamente com seu egocentrismo, e incapaz de lidar com as demandas de um mundo em transição.

  Créditos e Legendas Exclusivas de KEROUAC - MAKINGOFF
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Karamana Srada, Jalaja, Rajam K, Nair, Prakash, SomanGênero: Drama
Diretor: Adoor Gopalakrishnan
Duração: 115 minutos
Ano de Lançamento: 1981
País de Origem: India
Idioma do Áudio: Malaiala
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0082318/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1787 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 132 kbps 48 KHz
Resolução: 640 x 464
Aspect Ratio: 1.379
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.564 GiB
Legendas: Em anexo
  
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
 
O torrent e a legenda por email

Médicos e pacientes pressionam IPE por melhorias no plano de saúde


Plano de saúde dos servidores gaúchos já foi considerado o melhor do país

Paulo Germano | paulo.germano@zerohora.com.br

A direção do Instituto de Previdência do Estado (IPE), responsável por um dos maiores planos de saúde do Rio Grande do Sul, está pressionada entre médicos e usuários. Do lado dos profissionais credenciados, pesam os pedidos por correção da tabela de procedimentos. Do lado dos pacientes, crescem reclamações a respeito da demora em busca de atendimento. A dimensão do problema fica evidente quando se olha o tamanho da carteira de segurados: quase 1 milhão de pessoas.

Não é mais a mesma a reputação do IPE, o plano de saúde dos servidores gaúchos que já foi considerado o melhor do país. Parte desse abalo deve-se ao pagamento oferecido aos médicos e à conduta de uma parcela dos profissionais. Eles reclamam que o instituto paga mal, mas resistem em deixar o quadro de credenciados. Resultado: algumas práticas questionáveis já estão de tal forma entranhadas no cotidiano de alguns consultórios que nem os pacientes conseguem perceber as distorções.
 
 "Pelo IPE, não paga nem o
consultório", diz presidente do Simers


Um agravante para o problema é que o IPE tem remunerado seus médicos com valores abaixo dos de mercado – o que aguça o embate entre a instituição e entidades como o Sindicato Médico (Simers). Na prática, os maiores prejudicados são os usuários do plano, que atende a quase 1 milhão de pessoas no Estado inteiro.

O IPE em números:
Um dos sistemas de previdência mais antigos do país, o IPE foi criado por Flores da Cunha em 1931

Usuários: 976 mil
Médicos cadastrados: 7,2 mil
Consultas/mês: 260 mil
Atendimentos/mês: 1 milhão
Orçamento de 2011: R$ 1,1 bilhão
Receita mensal: R$ 87,1 milhões*
Despesa mensal: R$ 84 milhões*
Saldo no Fundo de Assistência à Saúde: R$ 331,4 milhões*
Servidores estaduais que contribuem: 350 mil
Desconto no contracheque: 3,1%
Prefeituras e Câmaras Municipais conveniadas: 330
Servidores municipais que contribuem: 45 mil

*Dados referentes ao mês de fevereiro


>>>Leia a reportagem completa na edição de Zero Hora deste domingo

sábado, 23 de abril de 2011

Ensino técnico. Qualidade e quantidade, só o Estado

Brizola Neto no TIJOLACO

O Globo anuncia hoje o lançamento, em maio, do Programa Nacional de Ensino Técnico, o Pronatec. Posto aí em cima uma entrevista, dada em fevereiro, pela Presidente Dilma Rouseff, em que ela explica os objetivos do programa e – muito importante – conecta a educação profissional à formação geral, com a ideia de escolas de dois turnos – o regular e o profissionalizante.
É, como se vê, uma medida que já vem sendo gestada desde o início do ano. Mas é, antes ainda, uma questão que se arrasta, no Brasil, há quase 80 anos, sem que tenha sido solucionada de forma adequada.
Já nos anos final dos anos  30, o país vivia o dilema entre dois modelos de educação profissional e tecnológica. De um lado, o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, defendendo que o Estado o assumisse diretamente e o fizesse associado à educação dita “formal”; de outro, o “grupo industrial”, formado por dirigentes empresariais paulistas de vanguarda, como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, que sustentava que o próprio empresariado – garantidos os recursos para isso – seria o melhor para gerir essa qualificação profissional.
 
A solução do Sistema “S” – Senai, Senac, etc – foi a predominante. E se provou de alta qualidade, ao longo de décadas. A outra vertente, ainda que de maneira periférica, também se mostrou um vitoriosa, embora restrita, com a criação, em 1942, da Escola Técnica Nacional – hoje o Cefet – que proporcionava visão mais ampla e teórica da atividade industrial ao lado do ensino convencional. Tanto que, nos anos 70, passou a ter um acesso tão disputado que, praticamente, só a classe média a ela conseguia ter acesso, pela admissão concorridíssima, quase a tornar obrigatórios os cursos de preparação.
Da mesma forma, a partir do fim dos anos 80, o Sistema “S” foi deixando de ser uma alternativa de formação de profissionais qualificados. Se antes a necessidade era tão intensa que algumas oficinas do Senai era envidraçadas para atrair a atenção dos passantes e  captar alunos, a crise econômica acabou com a quase total “garantia de emprego” com que contavam os egressos do sistema. De outro lado, o preço desta formação passou a se tornar proibitivo – mais ainda por não assegurar contratação imediata em bons padrões salariais.
Afinal, excetuando as vagas gratuitas proporcionadas por acordos com o Governo, que atinge apenas metade das vagas, fazer um curso profissionalizante nestas instituições  passou a ter um custo proibitivo. O ex-presidente Lula, por exemplo, dificilmente teria condições de fazer hoje um curso de torneiro mecânico. Por dois meses e 160 horas aula, o custo desta aprendizagem no Senai chega a R$ 1,3 mil.
O esforço feito pelo Governo Lula para criar cursos de qualificação profissional, muito embora tenha sido e seja ainda positivo, esbarra nos limites da inexistência, fora do setor estatal e semi-estatal (como o Sistema “S”)  de estruturas capazes de fazê-lo com qualidade e eficiência. Em geral, acaba-se por produzir apenas profissionais para funções muito básicas, embora nossa demanda seja, cada vez mais, por mão-de-obra de média/alta qualidade, capaz de se adequar às estruturas mais exigentes, competitivas e tecnológicas da atividade industrial e de serviços.
O Governo Lula produziu muitos avanços. Primeiro, acabou com a virtual proibição aos Estados de fazerem ensino técnico, pela restrição imposta por FHC de que arcassem com todo o custeio. Depois, expandiu a rede de escolas técnicas federais de maneira expressiva e faz subir de 113 mil para 219 mil o número de matrículas, entre 2003 e 2009 (não tenho os números de 2010).
Mas era preciso um passo adiante, uma decisão. E Dilma a tomou, ao que parece, com o Pronatec.
A formação profissional de qualidade – e isso é inseparável da formação do ser humano – vai passar a ser uma causa de Governo, à qual as instituições públicas e semi-públicas devem se integrar.
E dou, desde já, uma sugestão: porque não convovar a Petrobras, as universidades públicas estaduais e federais do Rio de Janeiro e as indústrias da cadeia petroleira, inclusive a naval,  para fazermos uma grande Escola Técnica de Petróleo e Gás no Rio de Janeiro, para formar a mão de obra que o setor já  necessita e vai precisar com o pré-sal?
Sem prejuízo do Prominp, que dá formação básica, essencialmente, temos de formar centenas, milhares de profissionais de alta qualidade para as plataformas e refinarias. E temos conhecimento para isso. Ali, em Itaboraí, onde se ergue o pólo petroquímico que será a maior refinaria brasileira, a pouca distância do pólo naval de Niteroi/São Gonçalo e do Centro de Pesquisa da Petrobras, há espaço e proximidade para fazer uma escola de alto padrão, fisica e pedagogicamente conectada com as necessidades do setor.
A oportunidade está aí. E os recursos também, pois o Fundo Social para o qual irão boa parte das receitas do pré-sal tem destinação obrigatória também para esta área da educação, da ciência e da tecnologia.