Escrito por Mário Maestri no Correio da Cidadania | |
Talvez se deveu à pele escura de ambos ou a terem feito a cavalaria yankee
de bobo por longos anos. O certo é que o codinome dado a Bin Laden,
quando da operação para assassiná-lo, terminou prestando-lhe uma enorme
homenagem – além de registrar o racismo da administração de Barack Hussein Obama II.
Em 1851, Goyaałé, Jerônimo, teve sua família massacrada pelo
exército estadunidense. A seguir, por vinte anos, protagonizou
resistência heróica, criativa e legendária à ocupação das terras
apaches. Em 1886, após render-se com os poucos e últimos seguidores,
viveu o resto da vida como semi-prisioneiro, ditando a um funcionário
estadunidense um fulgurante relato de sua vida.
Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden foi filho de uma das mais ricas
famílias sauditas. Integralista fervoroso, partiu em jihad contra a
revolução socialista, laica e democrática afegã, no que foi apoiado
pelos Estados Unidos. A vitória das forças integralistas sustidas pela
Arábia Saudita, pelo Paquistão e, sobretudo, pelos grandes Estados
imperialistas originou o reinado talibã na região.
Principalmente desde os anos 1950, o fundamentalismo foi apoiado pelo
grande capital mundial, com destaque para a Inglaterra e os Estados
Unidos, na luta contra o pan-nacionalismo e o socialismo árabe. A partir
de 1989, com a dissolução da URSS e reconversão capitalista dos Estados
socialistas, o integralismo acolheu fortemente os anseios confusos de
libertação nacional e social de vastas populações muçulmanas.
Com o fim da primeira guerra do Afeganistão, Bin Laden envolveu-se com
grupos que se esforçavam para ocupar o vazio político-ideológico árabe e
muçulmano, propondo ordem assentada no integralismo. Estranhos e
refratários a qualquer visão social de mundo, esses grupos orientaram-se
para a luta terrorista, despreocupados, opostos e incapazes de
impulsionar a organização popular, sobretudo independente.
Ao financiar os ataques às embaixadas USA na África, em 1998, ao navio de guerra estadunidense em 2000
e, acima de tudo, ao reivindicar politicamente o ataque às Torres
Gêmeas, em 2001, Bin Laden tornou-se o mais célebre terrorista e a
grande justificativa imperialista para a "guerra ao terror" que
impulsionaria a apropriação das grandes reservas petrolíferas. Em 2003,
fortalecido junto à população estadunidense pelo ataque terrorista, Bush
II lançou seus exércitos na carnificina que conquistaria os campos
petrolíferos iraquianos.
Após o 11 de setembro de 2001, consagrados pela grande mídia, Bin Laden e
sua organização entrariam em crescente eclipse que levaria ao seu
assassinato, em mansão fortificada, em 1º de maio, nas proximidades de Abbottabad,
praticamente desarmado, cercado quase apenas por familiares. Sobrevivia
então devido à quase certa proteção do exército e dos serviços de
inteligência paquistaneses.
Portanto, uma confusão ofensiva. Jerônimo, o verdadeiro, dormia com o
fuzil ao lado e jamais foi surpreendido. Mesmo na derrota, mostrou-se o
mais digno braço armado do povo apache na luta contra os seus algozes.
Mário Maestri é professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF. E-mail: maestri@via-rs.net |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Jerônimo vive!
Há 30 anos, morria Bob Marley, ícone do reggae
Há exatos 30 anos, morria Bob Marley. Considerado o expoente mais alto do reggae, ele tinha apenas 36 anos de idade quando faleceu, vítima de um câncer detectado quatro anos antes. Deixou a vida para assumir na história o papel de ícone.
Três décadas após a sua morte, o "rei do reggae" continua a ser
recordado um pouco por todo o mundo, sendo uma constante fonte de
inspiração para dezenas de novos artistas. Músicas como No Woman No Cry, Could You Be Loved ou I Shot The Sheriff hoje fazem parte de um repertório coletivo da música internacional.
Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.
Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.
Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.
Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.
O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.
“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.
Último registro
A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.
Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.
Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.
O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas
Herança
Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.
David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.
Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.
Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.
Conexão Brasil
Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.
Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.
Com agências
Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.
Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.
Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.
Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.
O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.
“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.
Último registro
A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.
Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.
Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.
O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas
Herança
Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.
David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.
Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.
Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.
Conexão Brasil
Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.
Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.
Com agências
Quanto a Azaléia recebeu em isenções fiscais no RS?
Marco Aurélio Weissheimer no rsurgente
O deputado Raul Pont (PT) criticou hoje a versão adotada por setores da oposição sobre o fechamento da unidade da Azaleia, em Parobé. Para ele, a empresa sai do Estado em busca de outro lugar, com mais vantagens fiscais e onde sindicatos não sejam tão atuantes e os salários sejam mais baixos. “A busca do lucro é o princípio do capitalismo. A decisão da empresa reflete esta concepção”, e reflete seu total descomprometimento com os trabalhadores e com o Estado que durantes anos lhe concedeu grandes benefícios fiscais”, afirmou.
Pont responsabilizou a guerra fiscal pela transferência de fábricas para outros estados, lembrando que a Azaléia chegou a ser beneficiada, durante o governo Britto, com mais de R$ 50 milhões do Fundopem. “Esta forma de fazer política industrial gera verdadeiros leilões das finanças públicas em benefício de empresas privadas”, criticou. Para o parlamentar, uma evidência clara de que a empresa não está em crise, são seus investimentos em unidades no exterior. Bem como, não vale o orgumento dos juros e do cambio que é o mesmo no Rio Grande o no Nordeste.
Raul Pont observou ainda que a renúncia fiscal no Rio Grande do Sul equivale a 30% da arrecadação potencial de ICMS. “São isenções concedidas com pouca ou nenhuma contrapartida e sem segurança de permanência da empresa no estado após a fruição dos benefícios”. Ele defendeu a aprovação de um projeto de lei, de sua autoria, que confere transparência à concessão de benefícios fiscais.
O deputado Giovani Feltes (PMDB) reconheceu que a Azaléia recebeu incentivos fiscais no governo Brito, mas observou que foram os governos militares os que mais concederam estes benefícios ao setor calçadista. Ele concordou que parte do problema vivido pela indústria calçadista pode ser explicado pela subvalorização do Yuan e pela entrada de calçados chineses através da triangulação comercial, que burla as barreiras impostas pelo governo brasileiro.
O governador Tarso Genro classificou como “irresponsável” a forma como a indústria anunciou a desativação da unidade em Parobé, sem aviso formal ou qualquer tipo de negociação com o Estado. “Não fomos comunicados sobre a decisão da empresa, que recebeu benefícios fiscais homéricos do povo gaúcho. Aliás, o único comunicado foi o aviso-prévio dado aos empregados demitidos”, declarou. O chefe do Executivo gaúcho anunciou que encomendará uma pesquisa para saber quanto a empresa ganhou em benefícios fiscais nos últimos anos e prometeu se empenhar para que os trabalhadores demitidos encontrem rapidamente outros empregos.
A Azaléia justificou o fechamento da última unidade gaúcha da empresa e a demissão de 800 funcionários pela “perda de competitividade das exportações brasileiras e pela concorrência com os calçados produzidos fora do país”. A empresa tem hoje 27 fábricas de calçados femininos e esportivos em três complexos industriais do Nordeste, além de uma fábrica na Argentina e outra na Índia. A direção da empresa não anunciou quanto recebeu em isenções fiscais no Rio Grande do Sul nos últimos anos, nem quanto paga para os funcionários de suas unidades no Nordeste, na Argentina e na Índia.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama"
Poderíamos perguntar como reagiríamos se um comando iraquiano
pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em
seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.
- Por Noam Chomsky*, no Guernica Magazine via Tudo em Cima
Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato
planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito
internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar
a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter
feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma
oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se
atirou contra eles.
Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.
Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.
O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses
antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não
sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas
instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma
prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama
simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que
"rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram
realizados pela al-Qaida".
Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.
O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.
O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.
É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.
*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.
Fonte: Cubadebate
Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.
O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.
O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.
É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.
*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.
Fonte: Cubadebate
Estado protocola projeto de reajuste do magistério
O
governo do Estado do Rio Grande do Sul protocolou ontem na Assembleia Legislativa (AL) os
projetos de lei referentes ao pagamento do reajuste de 10,91% aos
professores e funcionários ativos e inativos do quadro da educação. Os
projetos de lei também incluem a gratificação para os servidores do
quadro geral que atuam em escolas e órgãos ligados à Secretaria Estadual
da Educação (Seduc).
Ainda pelos documentos enviados à AL, o governo estadual se compromete, em até 60 dias, a readequar os funcionários do quadro geral que atuam na educação e não estão inseridos no quadro de servidores do magistério. Como parte das negociações com o Cpers/Sindicato, o governo do Estado se comprometeu em incluir o reajuste do pagamento dos servidores de escolas na folha a partir do dia 1 de maio de 2011, não alterando o que já havia sido acordado.
Para o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, o momento é de extrema importância, pois é fruto do diálogo e negociação com os trabalhadores em educação. "Estamos resolvendo problemas técnicos e jurídicos. É certo que todos os funcionários vão receber o reajuste a partir de 1 de maio", destaca.
Na manhã de ontem, durante reunião na sede da Seduc, a direção do Cpers/Sindicato obteve do secretário a garantia de que os aposentados e os funcionários que não estão no plano de carreira do magistério também serão beneficiados pelo reajuste de 10,91%. Segundo ele, o projeto receberá um artigo assegurando a inclusão destes servidores. No entanto, a inclusão dos excluídos do plano de carreira deve ocorrer em 60 dias, prazo que desagradou a direção do sindicato.
Segundo Rejane de Oliveira, presidente do Cpers/Sindicato, a inclusão no plano de carreira deveria ocorrer imediatamente. Amanhã, os professores realizam uma paralisação em todo o Estado para cobrar a implantação do piso nacional do magistério. De acordo com Rejane, a atividade também reforçará a posição do sindicato contra a reforma da previdência estadual anunciada pelo governo. O dia será marcado por paralisações regionais, com atividades organizadas pelos núcleos da entidade.
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=61735
Ainda pelos documentos enviados à AL, o governo estadual se compromete, em até 60 dias, a readequar os funcionários do quadro geral que atuam na educação e não estão inseridos no quadro de servidores do magistério. Como parte das negociações com o Cpers/Sindicato, o governo do Estado se comprometeu em incluir o reajuste do pagamento dos servidores de escolas na folha a partir do dia 1 de maio de 2011, não alterando o que já havia sido acordado.
Para o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, o momento é de extrema importância, pois é fruto do diálogo e negociação com os trabalhadores em educação. "Estamos resolvendo problemas técnicos e jurídicos. É certo que todos os funcionários vão receber o reajuste a partir de 1 de maio", destaca.
Na manhã de ontem, durante reunião na sede da Seduc, a direção do Cpers/Sindicato obteve do secretário a garantia de que os aposentados e os funcionários que não estão no plano de carreira do magistério também serão beneficiados pelo reajuste de 10,91%. Segundo ele, o projeto receberá um artigo assegurando a inclusão destes servidores. No entanto, a inclusão dos excluídos do plano de carreira deve ocorrer em 60 dias, prazo que desagradou a direção do sindicato.
Segundo Rejane de Oliveira, presidente do Cpers/Sindicato, a inclusão no plano de carreira deveria ocorrer imediatamente. Amanhã, os professores realizam uma paralisação em todo o Estado para cobrar a implantação do piso nacional do magistério. De acordo com Rejane, a atividade também reforçará a posição do sindicato contra a reforma da previdência estadual anunciada pelo governo. O dia será marcado por paralisações regionais, com atividades organizadas pelos núcleos da entidade.
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=61735
domingo, 8 de maio de 2011
A guerra fria, que não parou nas revistas e virou TV
Brizola Neto no TIJOLACO
A repórter Marcelle Ribeiro publica uma pérola de matéria hoje, em O Globo,
que faço questão de reproduzir, na íntegra, com meus sinceros
aplausos. É o retrato da batalha pelos nossos “Corações e Mentes”, como
dizia o clássico documentário sobre a Guerra do Vietnã. A revista
americana Life - do famoso gruto Time-Life- fazia matérias
alardeando a pobreza brasileira, pelo nada nobre motivo de desqualificar
o país e se contrapor à ascensão da esquerda nacionalista brasileira. E
a resposta, na bucha, dos Diários Associados, que editavam a publicação
de maior circulação no país, O Cruzeiro.
A matéria só tem uma omissão, importantíssima mas compreensível, pelo fato de a repórter trabalhar onde trabalha. É não dizer que o grupo Time-Life, de tão preocupado que era com o controle ideológico do Brasil ter se associado a Roberto Marinho para erguer a Rede Globo de Televisão, que cumpriu – e cumpre – muito melhor este papel do que qualquer outro veículo de comunicação jamais fez.
A matéria só tem uma omissão, importantíssima mas compreensível, pelo fato de a repórter trabalhar onde trabalha. É não dizer que o grupo Time-Life, de tão preocupado que era com o controle ideológico do Brasil ter se associado a Roberto Marinho para erguer a Rede Globo de Televisão, que cumpriu – e cumpre – muito melhor este papel do que qualquer outro veículo de comunicação jamais fez.
Em plena Guerra Fria, disputa entre revistas ‘Life’ e ‘O Cruzeiro’ evidenciava preocupação dos EUA com avanço da esquerda no Brasil
SÃO PAULO – Uma grande revista americana expõe, em fotos que
ficaram famosas mundo afora, a miséria numa favela carioca. Para dar uma
resposta ao “imperialismo americano”, uma das maiores revistas
brasileiras revida, com uma reportagem mostrando a pobreza de uma
família num cortiço de Nova York. Foi o ponto de partida, em plena
Guerra Fria, para um debate ideológico, social – com direito a
arrecadação de fundos nos EUA – e de ética no jornalismo.
O ano era 1961, e os EUA nutriam preocupação crescente com o
avanço da esquerda na América Latina. A Casa Branca temia que o governo
de João Goulart transformasse o Brasil em uma nova Cuba. E os
brasileiros, incomodados com a ingerência americana na política
nacional, desejavam mostrar que a pobreza não era exclusividade daqui,
aconselhando os vizinhos do norte a olharem para o próprio quintal.
Essa história, que teve como protagonistas as revistas “Life” e
“O Cruzeiro”, é relembrada por uma nova pesquisa de Fernando de Tacca,
professor do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação da Unicamp,
que ganhou com ela o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia/Funarte, no ano
passado.
Tacca analisou a reportagem da “Life” que traz uma imagem do
carioca Flávio da Silva, 12 anos na época, alçado à fama ao ser
fotografado doente e deitado numa cama na Favela da Catacumba, na Lagoa.
Ele estudou, também, o revide de “O Cruzeiro”, a melhor revista
brasileira da época, que publicou pouco depois a manchete “Repórter
Henri Ballot descobre em Nova York um novo recorde norte-americano:
MISÉRIA”.
Flávio, símbolo da pobreza
Com o título “Uma família castigada numa favela do Rio. O
temível inimigo da liberdade: pobreza”, a “Life” de 16 de junho de
1961 apresentou ao mundo a história da família de José Manuel da Silva e
Nair Germana da Silva. Com oito filhos, o casal morava na comunidade
da Catacumba, que, após a remoção dos seus cerca de 10 mil habitantes
nos anos 70, deu lugar ao Parque da Catacumba.
Acompanhado do jornalista brasileiro José Gallo, o fotógrafo
americano Gordon Parks passou dias observando a vida da família de
retirantes nordestinos. Focou o seu olhar no menino Flávio, de 12 anos,
que, mesmo asmático, cuidava dos irmãos menores e das tarefas
domésticas.
Na reportagem, os Silva são apresentados como um exemplo de
pobreza que pode ser encontrada também em Venezuela, Chile, Bolívia e
Equador e que implica “perigo acentuado”. “Na maior parte aglomerados em
bolsões (…), largamente distribuídos nos morros das cidades, onde a
abundante pobreza se torna campo fértil para a exploração política
comunista e castrista”, disse a revista.
A reportagem sobre o Brasil foi a segunda de uma série de “Life”
sobre a América Latina. A primeira tratava da ascensão de Fidel Castro
em Cuba, com analogia às Ligas Camponesas brasileiras, lideradas pelo
então líder comunista Francisco Julião – que, do fim dos anos 50 ao
golpe militar de 1964, tentou implantar a reforma agrária no país, para
temor dos americanos. A terceira reportagem abordou a Bolívia.
- O objetivo ideológico da “Life” era alertar para o avanço dos
movimentos populares na América Latina e sua influência no sucesso da
Revolução Cubana – explica Tacca.
O pesquisador ressalta, também, a relação da reportagem com o
acordo conhecido como Aliança para o Progresso, tema de uma reunião dois
meses antes. Idealizada pelos EUA, e tendo como pano de fundo a Guerra
Fria, a Aliança previa investimentos na América Latina para promover o
desenvolvimento regional, tentando conter o avanço do comunismo e a
influência de Fidel Castro no continente.
Tacca explica que, para a “Life” e o governo americano, a pobreza
era o berço preferido da temida proliferação da ideologia esquerdista.
A reportagem sobre a Catacumba foi publicada numa época em que a
política externa brasileira preocupava os EUA, com os presidentes Jânio
Quadros e João Goulart – este último, derrubado pelos militares –
simpáticos a uma aproximação com países comunistas.
A reportagem de “Life”, publicada também na edição em espanhol,
comoveu os americanos, sensibilizados com a imagem do menino Flávio. Sua
fotografia foi publicada ao lado de outra, em que o corpo de uma
suposta vizinha do garoto jaz num caixão.
A revista organizou uma arrecadação de dinheiro nos EUA para
ajudar a criança, levada àquele país para fazer tratamento. A família do
garoto ganhou uma casa própria e mobiliada, fato noticiado por grandes
jornais brasileiros da época. A “Life” fez nova reportagem sobre a
recuperação de Flávio, que apareceu sorridente na capa da edição de 21
de julho de 1961, e a nova vida de sua família.
Mas a denúncia da miséria no Rio mexeu com “O Cruzeiro”. A
revista enviou o fotógrafo Henri Ballot para Nova York, com a missão
de mostrar que também havia miséria nos Estados Unidos. Na cidade, a
publicação mostrou, em fotos com ângulos semelhantes aos usados pela
reportagem da “Life”, a vida de uma família portorriquenha num cortiço
sujo e infestado por insetos e ratos. “A miséria não é exclusividade
nossa”, dizia o texto de 7 de outubro de 1961.
Como a rival americana, “O Cruzeiro” destacou a vida de um dos
filhos da família, Ely-Samuel Gonzalez, de 8 anos. “O seu corpo magro de
subnutrido é coberto de feridas, roído por baratas que invadem sua
cama cada noite”, escreveu, destacando uma fotografia em que o garoto
aparecia deitado coberto de baratas, em alusão à imagem de Flávio da
Silva na “Life”.
A reação de “O Cruzeiro” gerou um debate sobre a ética do
fotojornalismo. A revista “Time” publicou, poucos dias após a edição
brasileira, reportagem questionando a postura do fotógrafo brasileiro
Henri Ballot. Ele foi acusado de ter montado a foto em que Ely-Samuel
aparece dormindo com baratas no cortiço em Nova York.
A “Time” relatou o polêmico embate entre “Life” e “O Cruzeiro” em reportagem com o título “A imprensa: vingança carioca”.
“O fato é que a fotografia mais comovente de Ballot – a de
Ely-Samuel, frágil filho de 8 anos de Gonzalez, dormindo num colchão
imundo e com aparentes baratas em seu corpo – fora posada. O fotógrafo
capturou e distribuiu baratas com esse objetivo”, denunciou a “Time”,
que enviou repórteres para conversar com a família portorriquenha
retratada por Ballot.
A revista “O Cruzeiro” não contra-atacou a reportagem da “Time”.
“O que, de certa forma, é uma aceitação da versão americana”, escreve
Tacca na pesquisa.
Após fazer as polêmicas imagens sobre a miséria americana e ter
sua ética questionada pela “Time”, Ballot foi proibido de voltar aos
EUA, num momento de acirramento da Guerra Fria.”
As balas e as baratas, a rigor, se existiram, têm pouca importância.
Havia muito mais que ética jornalistica em disputa ali, como os anos
seguintes iam mostrar com o apoio à criação de um monopólio de mídia no
Brasil.
MÃES DE MAIO E O ESTADO GENOCIDA
Fausto Brignol em seu blog
“Meu
filho se chama Edison e tinha 29 anos. Foi morto na rua, tinha ido em
casa para buscar remédios e por gasolina em sua moto. Vivemos na Baixada
Santista, um bairro de trabalhadores em São Paulo. Os policiais o
seguiram e o mataram a 500 metros do posto de gasolina. Embora haja
contradições nas declarações, o Ministério Público não fez nada e
arquivou o caso”, disse Débora Maria da Silva, uma mulher de 50 anos, mãe de outras duas filhas.
Não só os filhos perdidos por assassinato, mas também os filhos
perdidos para a televisão, os filhos perdidos para a submissão, os
filhos perdidos que desistiram de raciocinar e acreditam que a vida é
apenas a busca do prazer, os filhos perdidos para as drogas, que
preferiram um estranho mundo interno e desistiram.
Dar presentes para as mães. Sair correndo e comprar aquela lembrancinha
porque todos saem correndo para comprar aquela lembrancinha e o império
da mídia manda todos correrem para comprar porque depois terão o almoço
especial de domingo feito pela mãe homenageada, que fingirá estar
feliz.
Não só os filhos perdidos por assassinato, mas principalmente os filhos
perdidos por assassinato. Os filhos perdidos por assassinato praticado
pelo Estado genocida. O Estado genocida que esconde a pobreza e, se
possível, a mata para escondê-la melhor ainda.
Mães de maio. Mães que somente são lembradas em maio. Cinicamente.
Não as mães que vivem em um mundo artificial, proporcionado pelo
dinheiro e a abundância. Estas brincam de mães de vez em quando e
ensinam aos filhos uma fictícia maneira de viver.
Mas as mães que vivem aflitas quando os seus filhos saem, porque não
sabem se eles voltarão. As mães que já perderam as ilusões e que
deixaram os sonhos de Cinderela há muito tempo. Ou as mães que não tem
filhos, mas são mães de todos e se preocupam e lutam e não desistem e
denunciam.
O Movimento Mães de Maio nasceu na Baixada Santista e já está se
espraiando por todo o Brasil. Foi logo após aquela onda de violência em
São Paulo, em 2006, que deixou mais de trezentos mortos, a maior parte
assassinada por policiais. Foi quando a Anistia Internacional denunciou
que estavam operando no Brasil esquadrões da morte integrados por
policiais cujas vítimas somaram-se aos quase nove mil assassinatos
perpetrados pela polícia brasileira, em sua maioria categorizados como
casos de “resistência seguida de morte”, sem investigação judicial,
entre 1999 e 2004.
Essa pesquisa foi feita pelo sociólogo uruguaio Raul Zibechi, que
constatou que no Brasil o Estado era o responsável por um verdadeiro
genocídio. O Estado tentou explicar, dizendo que eram resquícios da
ditadura militar. Passaram-se os anos e hoje, 2011, fazem-se filmes que
elogiam as matanças das polícias especiais e o povo está quase
acreditando que esses assassinatos são necessários.
Segundo Raul Zibechi, Rafael Dias, da ONG Defesa Global, acredita que
no Brasil existe um Estado genocida porque “nunca houve uma ruptura
entre o Estado da escravidão e o Estado moderno e temos agora um Estado
elitista que funciona através da violência para separar os índios, os
negros, os pobres, que são considerados como ameaças, como classes
perigosas”.
“Agora
temos o modelo da militarização das favelas, porque se segue
considerando o pobre como um perigo permanente e esta é a lógica da
segurança pública”.
“Os membros do Governo seguem tratando os favelados como lumpen, pessoas que estão fora da sociedade”, disse Rafael Dias.
“O
governo não compreende a situação dos mais pobres, porque como não
estão organizados em sindicatos nem em partidos, não formam parte do
projeto político e acreditam resolver o problema aplicando políticas
compensatórias, como o Bolsa Família. Estamos repetindo os três eixos
que haviam durante a escravidão, o tríplice P: pão, pau e pano.”
A criminalização da pobreza é uma das torpes características do sistema
capitalista. Um sistema que já é cruel por si mesmo, com a divisão de
classes e que classifica as pessoas de acordo com a maior ou menor
riqueza material.
Aos pobres, o serviço pesado e o arrocho salarial. Aos ainda mais
pobres a morte em vida ou a morte rápida sob qualquer acusação ou sob
nenhuma acusação. À classe média, a ilusão de uma democracia de novela.
Aos ricos tudo é permitido, inclusive o direito da extrema corrupção e
da extrema perversão, porque nunca serão punidos.
A BAGDÁ SANTISTA
Comunicado das Mães de Maio da Baixada Santista:
“Ao
longo dos anos de 2008 e 2009, a Baixada Santista foi a região do
estado de São Paulo onde os homicídios mais cresceram, verdadeiras
estatísticas de guerra!
“Durante
o mês de Abril de 2010 a Polícia Militar e grupos paramilitares de
extermínio ligados a ela voltaram a atuar na Baixada Santista, no mesmo
estado de São Paulo, executando sumariamente 27 pessoas num curto espaço
de 10 dias. Informações apuradas pela própria Corregedoria da Polícia
Militar de São Paulo atestaram que estes policiais e grupos de
extermínio seriam ligados à máfia chamada OS NINJAS, grupo de extermínio
de policiais encapuzados auto-denominados “justiceiros” que têm atuado
desde Maio de 2006 impunemente. Nas favelas e bairros periféricos da
Baixada, àquela altura, corria abertamente o boato de que a lista
completa daqueles Crimes de Abril seria de 51 pessoas. Uma lista que,
felizmente, parou na metade graças aos gritos e às denúncias das Mães e
Familiares que alertaram para o novo massacre em curso. As devidas
investigações e punições, porém, mais uma vez não avançaram...
“(...)Sem
uma apuração ampla, geral e irrestrita do Crimes de Maio de 2006 e dos
Crimes de Abril de 2010 (grande parte deles provocada pelos mesmos
grupos de extermínio), as tragédias de Abril de 2011, 2012, 2013,
2014... serão cada vez maiores! Estamos voltando a avisar com amplo
testemunho de todos os Senhores e as Senhoras, em cópia aberta.
“O
tempo urge: e estamos cansadas de bravatas e falações! Elas apenas
custam mais vidas! Queremos atitudes concretas, urgentemente! E que
fique escuro: não adianta pedir o envio de mais dezenas e dezenas de
viaturas para descerem a Serra, para a Baixada Santista, pois sabemos
que isso só piora o Terror vivido por nós! Os Grupos de Extermínio são
ligados à Polícia, isto está mais que provado. Só falta a Justiça se
mexer.
“Quantas
vidas mais será necessário nós perdermos para que se ampliem
investigações corretas, façam-se inquéritos decentes e apliquem-se as
devidas punições aos responsáveis? Quantos anos mais teremos que esperar
para ver um inquérito sequer sendo corretamente apurado, trazendo à
tona a Verdade e punindo Justamente os Responsáveis? Dos cerca de 500
assassinatos de 12 a 20 de Maio de 2006 não temos um policial sequer
devidamente julgado e punido até hoje, em plena "democracia"!
“Exigimos,
por favor, encaminhamentos concretos dos Senhores e das Senhoras,
conforme as respectivas atribuições profissionais, políticas e humanas
que a cada um compete. Que estes encaminhamentos sejam compartilhados
abertamente aqui para esta mesma lista, para que tod@s tenham ciência do
procedimento de cada um diante destes Crimes contra a Humanidade.
“Bem-vind@s à Bagdá Santista!
“Inconformadamente,
“Mães de Maio da Baixada Santista
“PS:
escrevemos esta mensagem enquanto helicópteros da Polícia, neste exato
momento, sobrevoam nossas casas, aqui, na periferia da Baixada Santista.
É assim que é!”
O ESTADO QUE MATA E ESCONDE A MÃO
Não só na Baixada Santista. O Brasil inteiro é uma imensa cova rasa
onde choram pais e mães pelos seus filhos assassinados pelo Estado.
Recentemente, em um dos seus estranhos pronunciamentos, Dilma falou que
os pobres devem “subir na vida”. É claro que devem, mas como? Dilma é
uma pessoa estranha, imensamente desinformada ou imensamente cúmplice
desse estado de coisas.
Em minha cidade existe uma vila chamada Vila Miséria. Os órgãos
públicos fingem que não existe. Fica ao lado do lixão da cidade e os
seus moradores se alimentam daqueles restos dos bem alimentados. Não tem
eletricidade, esgoto, centro de saúde, escola, e os moradores são como
zumbis que apenas esperam a segunda morte.
No Brasil inteiro existem vilas misérias, onde o povo que não consegue
nem ser pobre tenta sobreviver do lixo. De vez em quando, alguns entre
eles se indignam e saem para conseguir restos melhores, talvez para
assaltar. Não voltam. Mães choram, mas quem quer saber de mães
miseráveis? Essas não ganham flores no seu dia.
Vivemos em um Estado genocida que discrimina entre quem paga e quem não
paga impostos. Onde os pobres e os miseráveis são colocados de lado,
como pessoas de segunda e de última classe. Para estes a pena de morte
existe e pode ser aplicada a qualquer momento, sob qualquer pretexto.
Fala-se muito em direitos humanos. Há uma grande discussão no Brasil
sobre se deveremos ou não punir os militares assassinos e torturadores
da ditadura militar. Todos querem saber se os guerrilheiros do Araguaia,
nos anos 1970, terão a sua justiça póstuma. Mas ninguém se preocupa com
os abandonados de agora, com os assassinados diariamente, com os que
tentam sobreviver ao próprio Estado armado, que finge que não existe
mais ditadura. Os pobres não contam; são cifras incômodas. Não importa
quem chore por eles.
Então, neste domingo, vamos festejar o Dia das Mães. Fingidamente.
Vamos fingir que todas as mães estão satisfeitas neste Brasil que nos
engana. Vamos elogiar as mães, mesmo aquelas a quem o Estado roubou o
seu bem maior: os filhos. Quem sabe até, devamos agradecer por esta
sociedade malévola à qual pertencemos, enquanto não somos nós os
usurpados, os enganados, os assassinados.
Ou vamos à luta. Vamos ousar lutar, ousar vencer.
sábado, 7 de maio de 2011
Gerônimo é o símbolo vivo da rebeldia contra a opressão da burguesia estadunidense
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A barbárie e a estupidez jornalística no caso da morte de bin Laden
Elaine Tavares no Correio do Brasil
Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em
Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista
responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela
derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo
assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece
que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenando o
ataque.
Haveria especialistas em direito internacional alegando que um
país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre,
que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra.
Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas
estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.
Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece
coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre
invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até
mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama
não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma
novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais
nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.
Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo
número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem
do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo
próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados
aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes
foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito,
eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o
corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o
próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua
religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.
E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo?
Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.
O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo
repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada.
Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria
ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do
jornalismo mundial.
Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do
absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são
absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de
direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos
sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império.
Darth Vader é fichinha!
Elaine Tavares é jornalista.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Ah, se a elite ouvisse o povo… Bem, às vezes ouve. E ainda pagando…
Brizola Neto no TIJOLACO
Poucas
coisas são tão terríveis no Brasil quanto o desprezo histórico que a
elite econômica brasileira tem pelo seu povo. Duvido que os empresários
japoneses falem mal de seu povo, ou que os magnatas dos EUA tenham uma
postura de desprezo pelos cidadãos norteamericanos. Bem, aqui, nem é
preciso falar, não é? É “povinho”, quando não acompanhado daquele
adjetivo que Fernando Henrique usou para falar dos aposentados…
Por isso, é muito interessante ler a bela reportagem de Vanessa Adachi, no Valor Econômico
de hoje, descrevendo a palestra de Lula para empresários, num evento
promovido pelo Bank of América em São Paulo. Como o acesso é só para
assinantes, reproduzo alguns trechos:
“Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa
dele.” Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em
dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e
advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos
luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito
altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os
aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores
bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a
autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a
operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.
Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente
também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente
para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no
país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.
Lula tem cobrado cachê de “palestrante global”. No caso, o valor
não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase
R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de
“social” pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez
sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus
aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia
nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o
ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam “se
divertir” com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o
salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a
falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo.
Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora. (…)
Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas
como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de
capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido
de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos
presentes ao abusar de seus famosos improvisos. “He speaks very well”,
dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.
Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos
momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da
elite brasileira. “Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no
lugar que só nós viajávamos”, afirmou, por exemplo, ao referir-se ao
fato de “os pobres” estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que
muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só
para mostrar que sabe.
Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do
Programa Luz para Todos e descrever que “quando chega a luz elétrica na
casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma
pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a
máquina do tempo.”
Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a
política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do
fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada
com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: “Eu sei que tem gente
que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês:
eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do
que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse
país do que no meu mandato.”(…)
“Ele é muito bom”, “ele é muito inteligente”, “agora dá para
entender [a sua popularidade]“, saíram falando aqueles que nunca
votariam nele.
Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em
Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu
ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo:
muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no
banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às
convidadas.
Pois é. As copeiras (brasileiras) “muito profissionais, não abandonaram o posto”. Quando
os nossos figurões aprenderem que elas também podem dar um pulo no
salão, realizarem seu desejo – nem que seja o de ver Lula de perto,
apenas – e entenderem que aquele que admiram e pagam caro para ouvir
pôde chegar ali e fazer o que fez com o voto delas, não com o deles.
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