Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 10 de junho de 2012
Mendes, Veja e o conluio dos desesperados
Veja perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes – e sua principal fonte não-oficial – Cachoeira. Restou-lhe tentar um último golpe: atacar Lula, o maior símbolo petista. E a escolha de Gilmar Mendes para o serviço faz todo o sentido neste verdadeiro conluio de desesperados.
Elvino Bohn Gass no CARTA MAIOR
Aos petistas interessa que os episódios do
que se convencionou chamar, retoricamente (conforme o próprio inventor
do termo), de mensalão, sejam julgados. A permanência do falatório
acerca deste assunto só serve aos adversários do PT que, confrontados
com os governos muito bem sucedidos de Lula e Dilma, há anos perderam a
linha. E a compostura.
Eles sabem. O que se chamou de mensalão foi uma prática inaugurada por um dos seus (o tucano Azeredo, em Minas). Mas sabem, também, que em caso de condenação de um petista, a foto deste é que estampará a capa da revista Veja. Provavelmente ilustrado com chifres e fumaça nas ventas.
A ideia que preside a tática antipetista é simples: é preciso diminuir a força do PT. Porque o PT tem Dilma e o governo federal mais bem avaliado da história, a maior e uma das mais qualificadas bancadas do Congresso e é o partido preferido dos brasileiros. Como se isso não bastasse, às vésperas de mais uma eleição municipal, investigações da Polícia Federal provam que alguns dos maiores acusadores do PT fazem parte de um esquema criminoso que reúne corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros malfeitos. Encurralados, PSDB, DEM, PPS e outros ainda menores, precisam arranjar um jeito de tentar jogar o PT no vento - e o julgamento do dito mensalão parece ser o sopro da hora.
As investigações da PF já prenderam Carlos Cachoeira, o bicheiro a quem o líder do Democratas, senador Demóstenes, servia como um office-boy. Demóstenes era apontado pela revista Veja como um dos ícones éticos do Senado e mais forte acusador do PT. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também comprometem seriamente o governador tucano Marconi Perillo, com quem Cachoeira negociou uma mansão e cuja Chefia de Gabinete utilizava um telefone “à prova de grampos”, presenteado pelo bicheiro. Demóstenes, Perillo, o desespero só aumenta. Até porque, há uma CPI em andamento no Congresso com potencial para estabelecer a responsabilidades políticas, cassar mandatos e desmontar de um esquema criminoso do, qual se beneficiaram os oposicionistas do PT. E quem conhece, sabe: o PT irá até o fim nesta investigação.
É neste contexto de desespero oposicionista que se insere um episódio tardio, a conversa entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes presenciada pelo ex-ministro Nelson Jobim. Dos três personagens do encontro, dois – Lula e Jobim – dizem a mesma coisa: não houve qualquer pressão para que se adiasse o julgamento do mensalão. O terceiro, Mendes, insinua que foi pressionado. Não por acaso, a insinuação vira manchete da revista Veja.
Logo Veja, que centenas de vezes moldou fatos, inventou dossiês, usou fontes suspeitas, sempre contra o PT.
Mas quem é Mendes e qual o papel de Veja em tudo isso? Mendes é o homem para quem um outro ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, disse: -Vossa Excelência não está nas ruas, está na mídia destruindo a Justiça desse país. Me respeite porque o senhor não está falando com seus capangas do Mato Grosso”. Capangas? Um ministro do Supremo com capangas? Reportagem da revista Carta Capital explica a afirmação do ministro Barbosa: “Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar (Mendes), primeiro como advogado–geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso e depois como juiz da Corte, não poupou esforços para eleger o caçula da família (Chico) prefeito de Diamantino, município a 208 km de Cuiabá/Mato Grosso... circulou pelos bairros da cidade, cercado de seguranças, para intimidar a oposição...” Para registro: o irmão do ministro é do PPS.
Sobre Mendes, vale lembrar que viajou várias vezes com Demóstenes, de quem era um dos interlocutores prediletos. A relação entre ambos é forte. E vem de longe. Tome-se, por exemplo, o ano de 2008, quando Mendes presidia o Supremo. Naquele ano, a Polícia Federal já estava chegando perto de Cachoeira. De repente, vem a revista Veja (Veja, sempre Veja) e traz uma notícia “bombástica”: o Supremo está sendo espionado. As fontes? Demóstenes e Gilmar Mendes. Nunca houve um áudio sequer que desse crédito ao grampo. Entretanto, Veja fez manchete. Mas justificado pelas suspeitas nunca provadas de que estaria sendo espionado, Mendes contrata para ser seu consultor de contra-espionagem, um ex-agente da ABIN chamado Jairo Martins. Sabem que é Jairo Martins? Ele mesmo, o homem apontado pela Polícia como um dos principais operadores do esquema de... Cachoeira, o araponga do bicheiro. Não por acaso, em Brasília, já se diz que entre Cachoeira e Mendes há pelo menos um dado comum incontestável: ambos utilizavam o mesmo personal-araponga. Seria risível se não fosse tão revelador. Há mais: Mendes foi o ministro que concedeu o discutível habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas num inesperado final de semana. Dantas... sim, a fonte a quem a revista Veja (olha a Veja aí de novo) deu crédito na história do estapafúrdio dossiê que revelaria contas de figurões da República no exterior, Lula entre eles. Jamais comprovado porque absolutamente forjado, o dossiê desapareceu das páginas da revista.
Pois é, esta é a Veja. Uma publicação que manteve relações tão estreitas com Cachoeira que este determinava até em qual espaço da revista suas “informações” deveriam ser publicadas. É diretor de Veja o jornalista que manteve centenas de telefonemas com Cachoeira e que das informações dele se servia para atacar o governo do PT. Veja é, portanto, o veículo de imprensa que melhor conhecia o modus operandi de Cachoeira. No entanto, jamais o denunciou. Repito: jamais o denunciou! Muito se poderia dizer ainda sobre Veja, mas fique-se com a fala de Ciro Gomes, um aliado de Dilma mas um crítico do PT: “Todo mundo sabe que a revista Veja tem lado. Todo mundo sabe que a revista Veja é a folha da canalhocracia brasileira. É ali que o baronato brasileiro explora o moralismo a serviço da imoralidade”.
Veja, a revista que mais ataca o PT, perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes – e sua principal fonte não-oficial – Cachoeira. Restou-lhe tentar um último golpe: atacar Lula, o maior símbolo petista. E a escolha de Gilmar Mendes para o serviço faz todo o sentido neste verdadeiro conluio de desesperados.
Eles sabem. O que se chamou de mensalão foi uma prática inaugurada por um dos seus (o tucano Azeredo, em Minas). Mas sabem, também, que em caso de condenação de um petista, a foto deste é que estampará a capa da revista Veja. Provavelmente ilustrado com chifres e fumaça nas ventas.
A ideia que preside a tática antipetista é simples: é preciso diminuir a força do PT. Porque o PT tem Dilma e o governo federal mais bem avaliado da história, a maior e uma das mais qualificadas bancadas do Congresso e é o partido preferido dos brasileiros. Como se isso não bastasse, às vésperas de mais uma eleição municipal, investigações da Polícia Federal provam que alguns dos maiores acusadores do PT fazem parte de um esquema criminoso que reúne corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros malfeitos. Encurralados, PSDB, DEM, PPS e outros ainda menores, precisam arranjar um jeito de tentar jogar o PT no vento - e o julgamento do dito mensalão parece ser o sopro da hora.
As investigações da PF já prenderam Carlos Cachoeira, o bicheiro a quem o líder do Democratas, senador Demóstenes, servia como um office-boy. Demóstenes era apontado pela revista Veja como um dos ícones éticos do Senado e mais forte acusador do PT. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça também comprometem seriamente o governador tucano Marconi Perillo, com quem Cachoeira negociou uma mansão e cuja Chefia de Gabinete utilizava um telefone “à prova de grampos”, presenteado pelo bicheiro. Demóstenes, Perillo, o desespero só aumenta. Até porque, há uma CPI em andamento no Congresso com potencial para estabelecer a responsabilidades políticas, cassar mandatos e desmontar de um esquema criminoso do, qual se beneficiaram os oposicionistas do PT. E quem conhece, sabe: o PT irá até o fim nesta investigação.
É neste contexto de desespero oposicionista que se insere um episódio tardio, a conversa entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes presenciada pelo ex-ministro Nelson Jobim. Dos três personagens do encontro, dois – Lula e Jobim – dizem a mesma coisa: não houve qualquer pressão para que se adiasse o julgamento do mensalão. O terceiro, Mendes, insinua que foi pressionado. Não por acaso, a insinuação vira manchete da revista Veja.
Logo Veja, que centenas de vezes moldou fatos, inventou dossiês, usou fontes suspeitas, sempre contra o PT.
Mas quem é Mendes e qual o papel de Veja em tudo isso? Mendes é o homem para quem um outro ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, disse: -Vossa Excelência não está nas ruas, está na mídia destruindo a Justiça desse país. Me respeite porque o senhor não está falando com seus capangas do Mato Grosso”. Capangas? Um ministro do Supremo com capangas? Reportagem da revista Carta Capital explica a afirmação do ministro Barbosa: “Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar (Mendes), primeiro como advogado–geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso e depois como juiz da Corte, não poupou esforços para eleger o caçula da família (Chico) prefeito de Diamantino, município a 208 km de Cuiabá/Mato Grosso... circulou pelos bairros da cidade, cercado de seguranças, para intimidar a oposição...” Para registro: o irmão do ministro é do PPS.
Sobre Mendes, vale lembrar que viajou várias vezes com Demóstenes, de quem era um dos interlocutores prediletos. A relação entre ambos é forte. E vem de longe. Tome-se, por exemplo, o ano de 2008, quando Mendes presidia o Supremo. Naquele ano, a Polícia Federal já estava chegando perto de Cachoeira. De repente, vem a revista Veja (Veja, sempre Veja) e traz uma notícia “bombástica”: o Supremo está sendo espionado. As fontes? Demóstenes e Gilmar Mendes. Nunca houve um áudio sequer que desse crédito ao grampo. Entretanto, Veja fez manchete. Mas justificado pelas suspeitas nunca provadas de que estaria sendo espionado, Mendes contrata para ser seu consultor de contra-espionagem, um ex-agente da ABIN chamado Jairo Martins. Sabem que é Jairo Martins? Ele mesmo, o homem apontado pela Polícia como um dos principais operadores do esquema de... Cachoeira, o araponga do bicheiro. Não por acaso, em Brasília, já se diz que entre Cachoeira e Mendes há pelo menos um dado comum incontestável: ambos utilizavam o mesmo personal-araponga. Seria risível se não fosse tão revelador. Há mais: Mendes foi o ministro que concedeu o discutível habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas num inesperado final de semana. Dantas... sim, a fonte a quem a revista Veja (olha a Veja aí de novo) deu crédito na história do estapafúrdio dossiê que revelaria contas de figurões da República no exterior, Lula entre eles. Jamais comprovado porque absolutamente forjado, o dossiê desapareceu das páginas da revista.
Pois é, esta é a Veja. Uma publicação que manteve relações tão estreitas com Cachoeira que este determinava até em qual espaço da revista suas “informações” deveriam ser publicadas. É diretor de Veja o jornalista que manteve centenas de telefonemas com Cachoeira e que das informações dele se servia para atacar o governo do PT. Veja é, portanto, o veículo de imprensa que melhor conhecia o modus operandi de Cachoeira. No entanto, jamais o denunciou. Repito: jamais o denunciou! Muito se poderia dizer ainda sobre Veja, mas fique-se com a fala de Ciro Gomes, um aliado de Dilma mas um crítico do PT: “Todo mundo sabe que a revista Veja tem lado. Todo mundo sabe que a revista Veja é a folha da canalhocracia brasileira. É ali que o baronato brasileiro explora o moralismo a serviço da imoralidade”.
Veja, a revista que mais ataca o PT, perdeu sua principal fonte oficial – Demóstenes – e sua principal fonte não-oficial – Cachoeira. Restou-lhe tentar um último golpe: atacar Lula, o maior símbolo petista. E a escolha de Gilmar Mendes para o serviço faz todo o sentido neste verdadeiro conluio de desesperados.
(*) Deputado Federal PT/RS, Secretário Nacional Agrário e vice-líder da bancada do PT na Câmara.
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inclusão digital,
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PIG
Fidel Castro: Dias insólitos
Sob o título “O assassino em chefe”, no dia 7 de junho de
2012, em um sítio de Internet afirma-se: “…não só elegerão um presidente
dos EUA; também estarão elegendo um assassino em chefe
Por Fidel Castro no VERMELHO
“Graças a um longo artigo do New
York Times, de Jo Becker e Scott Shane, ‘Secret ‘Kill List’ Proves a
Test of Obama’s Principles and Will,’ (Lista secreta de assassinatos,
prova dos principios e da vontade de Obama), sabemos agora que o
presidente passou uma quantidade surpreendente de tempo supervisionando a
“indicação” de presumíveis terroristas para assassiná-los mediante o
programa de drones [aviões sem tripulação guiados por controle remoto]
que herdou do presidente George W. Bush e que expandiu
exponencialmente.”
“A linguagem do artigo sobre nosso presidente guerreiro […] se concentra nos dilemas de um homem que, como sabemos agora, aprovou e supervisionou o crescimento de um programa de assassinatos notavelmente poderoso no Iêmen, Somália e Paquistão baseado em uma “lista de assassinatos”. Ademais o fez regularmente, um alvo após outro, nome a nome […] Segundo Becker e Shane, o presidente Obama também esteve envolvido no uso de um método fraudulento de contagem de assassinatos por meio dos drones, que minimiza as mortes de civis.
“Falando historicamente, tudo isso é bastante estranho. O Times qualifica o papel de Obama na maquinaria de assassinatos por meio de drones como ‘sem precedentes na história presidencial’. E de fato é assim.”
“‘O mais estranho dos rituais burocráticos: Mais ou menos a cada semana, se reúnem mais de 100 membros do crescente aparato de segurança nacional do governo, em uma vídeo-conferência segura, para estudar as biografias de presumíveis terroristas e recomendar ao presidente quais devem ser os próximos eliminados. Esse processo secreto de ‘indicações’ é um invento do governo de Obama, um nefasto círculo de discussão que estuda as imagens em PowerPoint com os nomes, codinomes e biografias de presumíveis membros da filial da Al Qaida no Iêmen ou seus aliados na milícia Shabab na Somália. As indicações vão para a Casa Branca, onde por sua própria insistência e guiado pelo ‘czar’ do contraterrorismo John O. Brennan, Obama deve aprovar cada nome’.”
“Como nos informou na semana passada o Times, não só temos um assassino em chefe no Salão Oval, mas um ciberguerreiro…”
Isto que escrevo é uma breve síntese sobre a atualidade dos EUA.
No dia anterior, igualmente sinistro, 6 de junho de 2012, a BBC Mundo, sob o título “Desinfla-se a economia da China?”, afirma:
“Vários indicadores começam a apontar para uma queda econômica no país asiático, com uma forte diminuição da demanda de eletricidade e da produção industrial, assim como no rendimento das fábricas e das vendas a varejo.
“A China sofre desde há meses por causa do vento frio que provém da Europa, que é seu maior mercado de exportação, inclusive maior do que o dos Estados Unidos.
“O setor manufatureiro do país se contrai desde há sete meses devido sobretudo à débil demanda de exportações, segundo um recente estudo.”
“O dinheiro deixou de chegar à China mais ou menos desde setembro, e em abril de fato começou a abandonar o país. Isto é altamente inusual.”
“Para evitar que o yuan se fortaleça demasiado, a China impede que os especuladores comprem a moeda.
“Desde meados de 2010, o governo chinês tinha permitido de forma diligente que o yuan se fortalecesse em relação ao dólar, mas no último mês, conforme a economia entrou em crise, começou a depreciar de novo o valor do yuan.”
“…muitas empresas financiaram a importação de matérias primas como cobre, minério de ferro e alumínio para a indústria da construção.”
“Os envios de cobre que se acumulam nos depósitos da China se tornaram tão grandes que quase não há espaço para guardar o excedente.”
“Isto poderia não ser mais do que um problema passageiro de curto prazo. Mas o temor é que isso possa ser o princípio do fim do boom imobiliário durante o qual foram construídos muito mais apartamentos do que o país verdadeiramente necessita.”
“Há cidades construídas completamente fantasmas.
“Parece que muitos destes apartamentos vazios estavam sendo comprados por empresas e famílias chinesas como um investimento mais atraente do que depositar dinheiro em uma conta bancária com baixa remuneração.”
“A taxa de crescimento da China apenas diminuiu, ficando abaixo da cifra mágica de 10% em um momento em que o Ocidente caía em sua recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial.”
“Por exemplo, o gigante asiático construiu do nada a maior rede de ferrovias de alta velocidade do mundo, cinco vezes maior do que a rede francesa de alta velocidade.”
“A China está em meio de una transição delicada, con uma nova geração de líderes que se aproxima do poder, algo que só ocorre a cada 10 anos.
“Há uma luta política em ebulição, posta em evidência pela destituição do chamativo governador de Chongqing, Bo Xilai.
“Muitos dos membros do partido se beneficiaram do boom imobiliário e do crédito dos últimos três anos. Se este auge chega a seu fim, não quererão fazer parte dos perdedores inevitáveis.
“Como se desenvolverá essa batalha, especialmente no caso em que a China se defronte com protestos multitudinários de trabalhadores desempregados nas ruas, é uma incógnita para todos.”
Estou longe de compartilhar esta sinistra infusão ianque sobre o destino da China, e me pergunto se acaso é possível ignorar que a China possui as maiores reservas de terras raras no mundo e enormes volumes de gás de xisto, que lhe permitiriam exercer seu poder sobre a produção energética mundial quando cesse o poder de mentir e avassalar. Isto já é demais.
Fidel Castro Ruz
9 de junho de 2012, 12h05
Fonte: Cubadebate
Tradução: José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho
“A linguagem do artigo sobre nosso presidente guerreiro […] se concentra nos dilemas de um homem que, como sabemos agora, aprovou e supervisionou o crescimento de um programa de assassinatos notavelmente poderoso no Iêmen, Somália e Paquistão baseado em uma “lista de assassinatos”. Ademais o fez regularmente, um alvo após outro, nome a nome […] Segundo Becker e Shane, o presidente Obama também esteve envolvido no uso de um método fraudulento de contagem de assassinatos por meio dos drones, que minimiza as mortes de civis.
“Falando historicamente, tudo isso é bastante estranho. O Times qualifica o papel de Obama na maquinaria de assassinatos por meio de drones como ‘sem precedentes na história presidencial’. E de fato é assim.”
“‘O mais estranho dos rituais burocráticos: Mais ou menos a cada semana, se reúnem mais de 100 membros do crescente aparato de segurança nacional do governo, em uma vídeo-conferência segura, para estudar as biografias de presumíveis terroristas e recomendar ao presidente quais devem ser os próximos eliminados. Esse processo secreto de ‘indicações’ é um invento do governo de Obama, um nefasto círculo de discussão que estuda as imagens em PowerPoint com os nomes, codinomes e biografias de presumíveis membros da filial da Al Qaida no Iêmen ou seus aliados na milícia Shabab na Somália. As indicações vão para a Casa Branca, onde por sua própria insistência e guiado pelo ‘czar’ do contraterrorismo John O. Brennan, Obama deve aprovar cada nome’.”
“Como nos informou na semana passada o Times, não só temos um assassino em chefe no Salão Oval, mas um ciberguerreiro…”
Isto que escrevo é uma breve síntese sobre a atualidade dos EUA.
No dia anterior, igualmente sinistro, 6 de junho de 2012, a BBC Mundo, sob o título “Desinfla-se a economia da China?”, afirma:
“Vários indicadores começam a apontar para uma queda econômica no país asiático, com uma forte diminuição da demanda de eletricidade e da produção industrial, assim como no rendimento das fábricas e das vendas a varejo.
“A China sofre desde há meses por causa do vento frio que provém da Europa, que é seu maior mercado de exportação, inclusive maior do que o dos Estados Unidos.
“O setor manufatureiro do país se contrai desde há sete meses devido sobretudo à débil demanda de exportações, segundo um recente estudo.”
“O dinheiro deixou de chegar à China mais ou menos desde setembro, e em abril de fato começou a abandonar o país. Isto é altamente inusual.”
“Para evitar que o yuan se fortaleça demasiado, a China impede que os especuladores comprem a moeda.
“Desde meados de 2010, o governo chinês tinha permitido de forma diligente que o yuan se fortalecesse em relação ao dólar, mas no último mês, conforme a economia entrou em crise, começou a depreciar de novo o valor do yuan.”
“…muitas empresas financiaram a importação de matérias primas como cobre, minério de ferro e alumínio para a indústria da construção.”
“Os envios de cobre que se acumulam nos depósitos da China se tornaram tão grandes que quase não há espaço para guardar o excedente.”
“Isto poderia não ser mais do que um problema passageiro de curto prazo. Mas o temor é que isso possa ser o princípio do fim do boom imobiliário durante o qual foram construídos muito mais apartamentos do que o país verdadeiramente necessita.”
“Há cidades construídas completamente fantasmas.
“Parece que muitos destes apartamentos vazios estavam sendo comprados por empresas e famílias chinesas como um investimento mais atraente do que depositar dinheiro em uma conta bancária com baixa remuneração.”
“A taxa de crescimento da China apenas diminuiu, ficando abaixo da cifra mágica de 10% em um momento em que o Ocidente caía em sua recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial.”
“Por exemplo, o gigante asiático construiu do nada a maior rede de ferrovias de alta velocidade do mundo, cinco vezes maior do que a rede francesa de alta velocidade.”
“A China está em meio de una transição delicada, con uma nova geração de líderes que se aproxima do poder, algo que só ocorre a cada 10 anos.
“Há uma luta política em ebulição, posta em evidência pela destituição do chamativo governador de Chongqing, Bo Xilai.
“Muitos dos membros do partido se beneficiaram do boom imobiliário e do crédito dos últimos três anos. Se este auge chega a seu fim, não quererão fazer parte dos perdedores inevitáveis.
“Como se desenvolverá essa batalha, especialmente no caso em que a China se defronte com protestos multitudinários de trabalhadores desempregados nas ruas, é uma incógnita para todos.”
Estou longe de compartilhar esta sinistra infusão ianque sobre o destino da China, e me pergunto se acaso é possível ignorar que a China possui as maiores reservas de terras raras no mundo e enormes volumes de gás de xisto, que lhe permitiriam exercer seu poder sobre a produção energética mundial quando cesse o poder de mentir e avassalar. Isto já é demais.
Fidel Castro Ruz
9 de junho de 2012, 12h05
Fonte: Cubadebate
Tradução: José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho
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História recente e perspectivas da estratégia do imperialismo no Médio Oriente*
Ángeles Maestro** ODIARIO
Tal
como Lénine escreveu já há quase um século, «as relações de dominação
[imperialista] e a violência ligada à dita dominação: eis a
característica distintiva na fase contemporânea do desenvolvimento do
capitalismo».
Esta importante comunicação de Angeles Maestro dá-nos um aprofundado panorama da actual ameaça imperialista global. Para as organizações políticas e sociais revolucionárias, hoje como noutras épocas de grande crise em que as classes dominantes perdem qualquer resquício de legitimidade, a luta pela emancipação de classe e de género e pela libertação nacional, no quadro de uma poderosa unidade e solidariedade anti-imperialista apresenta-se como a única alternativa à barbárie.
Esta importante comunicação de Angeles Maestro dá-nos um aprofundado panorama da actual ameaça imperialista global. Para as organizações políticas e sociais revolucionárias, hoje como noutras épocas de grande crise em que as classes dominantes perdem qualquer resquício de legitimidade, a luta pela emancipação de classe e de género e pela libertação nacional, no quadro de uma poderosa unidade e solidariedade anti-imperialista apresenta-se como a única alternativa à barbárie.
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sábado, 9 de junho de 2012
O império (midiático) contra-ataca (tenta)
Do BLOG DO CADU
Não,
não é sobre os filmes de George Lucas que escrevo aqui. E sim sobre como (de
novo) a grande mídia “samba que nem pitomba em boca de véio” com relação à sua
fonte maior, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Que também é empresário de comunicação.
– Clique aqui
Mais
uma prova do corporativismo da grande mídia.
Se
a oposição, seja na mídia ou na institucionalidade, já não tinha agenda para o
Brasil. Se já não tinha o que dizer ao país, a não ser releituras do Carlos
Lacerda, agora com a CPMI da Veja / Cachoeira é que a coisa degringolou de vez.
A
capa de Veja dessa semana é uma piada. Vai ao que o jornalista Eugenio Bucci em
“Sobre ética e imprensa” coloca como
curiosidade do público ao invés de interesse público. A capa de Veja é a esposa
do dono a Yoki. Ela é réu confesso em matar o marido enquanto a filha do casal
dormia.
Veja
que inclusive teve outra mentira sua divulgada. – leia aqui
Casos
assim são excelentes para desviar a atenção pública. Chocam e atraem a
curiosidade.
Enquanto
isso, o jornal O Globo ataca à União Nacional dos Estudantes – UNE. Com notícia
requentada sobre os convênios da entidade para realização de seus eventos. Coisa
que acontece desde 1999.
Como
diz o Paulo Henrique Amorim (clique aqui), a UNE é uma das obcessões da Globo.
Em
nota a UNE afirma: “A UNE já enfrentou
batalhas piores contra estes mesmos personagens, por exemplo, durante a
ditadura civil-militar. Esperamos que a Comissão da Verdade revele os
responsáveis destas empresas pela cooperação com a tortura, o assassinato e
outros crimes bárbaros cometidos pelo regime de exceção, assim como a luta
contra a corrupção no Brasil revele as relações mantidas entre corruptores,
como o bicheiro Carlinhos Cachoeira e os donos destas mesmas empresas.” – Leia nota completa aqui
Veja
e Globo estão entre as maiores defensoras da democracia sem povo, soma-se a
elas a Folha e o Estadão. E com afirma o Mino Carta, eles organizam a “Marcha
dos Marcianos”. Só sendo de outro planeta pra acreditar nas balelas que eles
propagam. – Leia mais aqui
Mas
mesmo demonstrando total desespero, não se pode subestimar a grande mídia.
É
preciso intensificar a luta pela regulamentação e democratização dos meios de comunicação.
Esta é luta apenas para garantir a Constituição, nada mais. – Início tímido da regulamentação, clique aqui
Os front's imperiais regionais
Os
democratas sem povo estão em todo lugar. Não somente na grande imprensa. E os
seus “pequenos parafusos” também atuam na imprensa regional.
E
posam de “grandes coisas”.
Sobre
um em particular, cujo prefiro não citar o nome agora, faço aqui breve comentário
sobre suas colunas. Uma em especial que a criatura intitulou de “Os
vagabundinhos da Dilma”.
Na
mesma linha do preconceito de classe habitual da grande imprensa. Afirma inclusive,
que Lula é um incapaz intelectual por não ter “capacidade cultural e nada
aprendido nos bancos de escolas”, diz a criatura de carbono que escreveu tal sandice.
A
incapacidade é de quem escreve uma asneira dessas. De um preconceito sem
tamanho. Se frequência em escolar fosse garantia de capacidade intelectual ou
cultural, este artigo nem existiria.
À
Dilma acusa de sua família (mãe) morar no palácio. “às nossas custas”, brada o
mentecapto. Ora, o palácio é a residência oficial da presidência da república.
Lá moram todos os presidentes do país. Menos o que ele mais gosta, Collor. Esse
morou na “Casa da Dinda” e andava de Jet-ski antes de ir trabalhar.
O
“culto” fala em criação de posto de trabalho. Estamos com desemprego às margens
de 6%. O menor da História!
Imagine
se essa “peça lorde” fosse inculta, o que não ia inventar?
Toda
a grande imprensa adorava o estilo pop star hollywoodiano de Collor.
O
autor da excrescência até hoje deve babar pelo ex-presidente. Dizem as más línguas
(e as boas também) que trata-se de um collorido nato.
A
grande questão é o preconceito de classe, elevados a níveis de ódio mesmo. A partir
de 2003 mudou-se a rota dos investimentos públicos no Brasil. Ao invés de se
jogar dinheiro na ponta da pirâmide, joga-se na base.
O
ódio é tão grande, que essas criaturas dotadas de capacidade cultural (ironia mode on) não enxergam que ainda
estamos no sistema capitalista e que a ponta da pirâmide ainda ganha “dim-dim”.
A diferença é que a base também.
E
milhões melhoraram de vida nos últimos anos.
Isso
deve dar uma raiva. Um monte de gente inculta andando de avião.
O
ser de carbono usa um provérbio, segundo ele, chinês: “Não dê o peixe, ensine a
pescar”. De que adianta ensinar a pescar se não se tem a vara ou a rede, nem
isca par fazê-lo? Ou mesmo energia para ir pescar, porque a maior chaga é a
fome.
Faço
minhas as palavras da enciclopédia ambulante: “Tinha toda razão o grande Luiz Gonzaga quando cantava os versos da
música “Vozes da Seca”, de sua autoria com Zé Dantas, que dizia “Seu dotô uma
esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de
vergonha ou vicia o cidadão”. Viciou!”
Mas
quem viciou foi a elite brasileira e todas as suas ramificações. Sejam de
sangue ou de bajulação. Hoje não mais influenciam como antes. A grande imprensa
se desmoraliza a todo tempo e seus “chumbetas” estão indo pro ralo com ela.
Uma esquerda sem graça prospera na Nicarágua
A
reeleição de Daniel Ortega confirmou a virada à esquerda de parte da
América Latina. Entretanto, a evolução recente do poder sandinista, em
especial na questão dos direitos das mulheres, ilumina as armadilhas de
uma lógica que conduz forças progressistas a renunciar a certos
princípios em nome da manutenção do poder.
|
por Maurice Lemoine no LeMondeBrasil |
(Daniel Ortega discursa em evento que amrca o aniversário de morte do líder revolucionário Augusto César Sandino)
Alguns cantam, uns agitam bandeirolas; outros ainda exortam com grandes gritos as primeiras fileiras a avançar. Neste 3 de dezembro de 2011, próximo ao Conselho Supremo Eleitoral (CSE), em Manágua, a manifestação ocorre sem incidentes. Quando Fabio Gadea toma a palavra, uma calma relativa se estabelece. Representante do Partido Liberal Independente (PLI), segundo colocado na eleição presidencial de 6 de novembro com 31% dos votos, ele contesta a vitória do candidato da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) Daniel Ortega (62,46%), pretendendo ter recebido, ele mesmo, 62%: “Queremos que essas eleições sejam declaradas inválidas e aconteçam de novo, na presença de testemunhas do mundo inteiro!”. É efetivamente para o mundo inteiro – a famosa “comunidade internacional” – que essa mensagem se destina. Na Nicarágua, ela não surte efeito. Os manifestantes tinham anunciado 100 mil pessoas. Vieram 5 mil, talvez 10 mil. Declarando-se “sandinista”, mas oposição ao poder, Maria López Vigil, editora da revista Envío,sente que os famosos “62% de Gadea” são improváveis (antes das eleições, todas as pesquisas atribuíam a ele cerca de 30%). A jornalista acredita que ela mesma tem mais credibilidade: “Acho que ele teve a igualdade e não sei se esse empate colocaria Ortega um pouco à frente de Gadea ou o contrário. As irregularidades foram tantas... Houve as do dia da votação, mas a mais grave aconteceu antes”. Diretora do Centro de Observação da Comunicação (Cinco), Sofia Montenegro é muito menos sutil: “Ortega é um ditador”. À questão “Mas o que você reprova nele?”, ela rebate sem se preocupar com detalhes: “Tudo!”. Preto, branco, bem, mal... Desaconselhamos a ida à Nicarágua aos que suportam apenas situações “quadradas”. Ao tradicional abismo entre direita/esquerda acrescenta-se um combate feroz entre irmãos que se tornaram inimigos. E, nesse enfrentamento, nenhum campo pode se pretender completamente inocente. Depois de ter derrubado a ditadura de Anastasio Somoza, em 1979, a FSLN teve de enfrentar, durante os anos 1980, o conflito que lhe foi imposto pelos Estados Unidos por contrarrevolucionários interpostos – os contras. A conflagração arruinou o país. Durante as eleições de 25 de fevereiro de 1990, os nicaraguenses roíam as unhas até sangrar: se eles votassem de novo “sandinista”, a guerra se prolongaria até o fim dos dias. Ao eleger Violeta Chamorro, eles permitiram o retorno da direita, mais por esgotamento que por convicção. O choque foi duro para a FSLN, que não esperava perder o poder. Fortes discussões internas a atravessaram de repente. Tendo dirigido uma guerrilha, depois uma resistência militar à agressão norte-americana, a Frente foi, por necessidade, um partido centralizado, vertical, sem tradição de debate. Com a nova configuração de uma Nicarágua em paz, alguns passaram a desejar transformá-lo. Em 1994, os “ortodoxos” ganharam, liderados por Ortega. Muitos membros, artistas e intelectuais deixaram o partido. Assim, surgiu em 1995 o Movimento de Renovação Sandinista (MRS) criado pelo ex-vice-presidente Sergio Ramírez e a ex-comandante Dora Maria Téllez. Depois, as acusações de “caudilhismo”, “autoritarismo” e de “privatização da FSLN” colaram-se à “gangue Ortega”.1 Partido “moderno” Mas dito assim – e esta é a versão mais conhecida –, isso contaria apenas a triste história de um partido que perdeu o norte e afundou... O que cobre apenas parcialmente a realidade. Um calor sufocante impregna o modesto local dos “veteranos” sandinistas, em San Judas, um bairro populoso de Manágua. Membro da guerrilha urbana na época de Somoza, depois das tropas de choque oponentes à contra, Mario José Cienfuegos evoca suas memórias: “No dia seguinte à derrota de 1990, nós, os ‘combatentes históricos’, convocamos Ortega. Ele chegou sozinho, sem escolta. Não era nada de mais, apenas o comandante Daniel. Depois de conversar por muito tempo, decidimos que era preciso continuar a lutar para recuperar o poder”. Mas em que bases? “Tudo isso coincidia com a queda do bloco socialista”, lembra Orlando Núñez, atual conselheiro das relações sociais do chefe de Estado. “Muitos consideraram, dentro da Frente, que era o fim da história. Descobrindo a democracia burguesa que eles não tinham conhecido com Somoza, eles decidiram que o projeto histórico da FSLN estava ultrapassado.” Com o socialismo e o anti-imperialismo “não tendo mais razão de ser”, tratava-se de reposicionar a Frente como um partido “moderno” de centro-esquerda. Esse foi o enfrentamento ideológico que provocou a cisão. A partir daí, como admite o “renovador” Ramírez, “Daniel demonstrou uma grande tenacidade na adversidade. Quando a ruptura aconteceu, ele ficou sozinho, sem dinheiro nem aparelho de partido. Ele multiplicou as visitas aos barrios [favelas] e aos pueblos [vilarejos], e construiu seu próprio leadership”.2 De fato, o povo sandinista não abandonou seu dirigente. Em 1996, surgiram o Partido Liberal Constitucionalista (PLC) e Arnoldo Alemán (51% dos votos). A embaixada dos Estados Unidos ameaçou o país com um futuro negro, e Ortega conseguiu apenas 37,7% dos votos. Até então jogando com a reconciliação, a FSLN não tinha orientado seus esforços na direção de seus mais ferozes adversários do passado, a Igreja Católica e os ex-membros de base da contra, essencialmente camponeses. A Frente deu um passo adiante quando, entrando em contato com a direita dura do PLC, chegou a um acordo – o “pacto” – que instaurou uma bipartição de fato. “Ela perdeu a alma com essa história”, estima o pesquisador Angel Saldomando. “Quando os neoliberais acentuaram as reformas de mercado, fazendo desaparecer o setor público, a FSLN, prisioneira de sua aliança, deixou passar. Com o tempo, os que ganharam mais importância lá dentro eram os que faziam business.” Mudando de contexto, Núñez dá uma explicação para a sequência vivida do outro lado: “No Parlamento, éramos a minoria. Apesar disso, por causa de nossa influência sobre as massas, nossos adversários tinham a clara vontade e o poder de nos destruir. Se não fizéssemos alianças, nos encontraríamos em grande risco de extinção. O método não nos agradava particularmente, mas era uma questão de correlação de força: para poder convencer o povo a nos dar outra vez a maioria, devíamos imperativamente continuar existindo”. O “pacto” permitiria efetivamente a sobrevivência da FSLN e – para grande proveito do muito corrompido presidente Alemán – a estabilidade política, com a Frente controlando os sindicatos e exercendo uma grande influência no seio da polícia e do Exército. Claro, esse “pragmatismo” antinatural teria um preço: “A estigmatização, a satanização e a perda de legitimidade da Frente perante a esquerda mundial foram muito duras”, admite Núñez. “Mas era necessário, e nós fizemos.” Até na Nicarágua a manobra não foi desvinculada da derrota da eleição de 2001. Depois do governo de Alemán, o do seu vice-presidente, o conservador Enrique Bolaños, eleito em 2001, continuou com as privatizações, a concentração do capital e a administração do ajuste estrutural, deixando 46% da população na pobreza e 15% na indigência. Além do mais, profundas fraturas enfraqueceram a direita: Bolaños mandou prender seu predecessor Alemán, condenado a vinte anos de prisão por enriquecimento ilícito.3 Como, então, impedir o voto de pender a favor da FSLN em 2006? Os liberais tiraram da manga um projeto de lei punindo o aborto, incluindo as mulheres em risco de vida ou estupradas. As hierarquias católica e evangélica orquestraram uma campanha e fizeram pressão nos candidatos. Ainda assim, o cálculo político tomou o lugar de qualquer outra consideração: para não perder o apoio da Igreja, a Frente apoiou a proposta. “Cristão, socialista, solidário” Além de suas funções no Centro de Observação da Comunicação, Sofia Montenegro foi uma das fundadoras do Movimento Autônomo das Mulheres (MAM). Ela não se acalma: “O aborto terapêutico existia aqui quase desde a independência. Até Somoza não tocou nisso! Mas Ortega o suprimiu porque, sinceramente ou por cálculo, ele se converteu em fundamentalista cristão”. O episódio foi muito mal recebido – principalmente dentro de setores progressistas internacionais. Nesse famoso ano de 2006, Ortega foi eleito no primeiro turno, com 37,99% dos votos.4 Levantando o slogan “Cristão, socialista, solidário”, ele se reelegeu no fim de 2011 com um resultado muito superior. Um de nossos interlocutores sandinistas nos confia: “Temos uma Igreja muito conservadora e forte. Mesmo quando não está de acordo com ela, o povo ainda lhe presta muito respeito. Devemos aceitar a situação”. Chocante quando se proclama progressista? Certamente. Mas Lucy Vargas, membro da Frente no bairro Larreynaga, em Manágua, não esconde a impaciência: “Em muitos países o aborto é livre, mas ninguém se preocupa com a saúde das mulheres e das crianças, e muitas perdem a vida! Aqui, ajudamos as mulheres, nem que seja através da saúde gratuita. Também é um direito”. Métodos de contracepção são colocados à disposição de qualquer mulher que os deseje, sem nenhum pagamento, nos centros de saúde. Além disso – e sem minimizar o problema –, o governo não procura particularmente aplicar a lei: nos hospitais, se a vida de uma mulher grávida está em risco, a comissão de médicos toma geralmente a decisão que se impõe, sem pedir nenhuma autorização. Cidade-dormitório situada na periferia de Manágua, Ciudad Sandino confirma o assunto com uma bela unanimidade. A saúde? Claro, acessível agora, como os remédios e os médicos cubanos, “nossos compañeros da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América], que se deslocam em domicílio quando precisamos”. A educação? Voltou a ser gratuita também. Brincadeiras, gargalhadas, abraços, empurrões... Diante da pequena mercearia que vende produtos de primeira necessidade a preços subvencionados, o burburinho ganha de repente intensidade. “Tem arroz, feijão, óleo, açúcar... A gente só podia comprar um ou outro antes. A libra de feijão [453 gramas – N.T.] era 18 córdobas [R$ 1,45], agora custa 8 córdobas.” Enquanto a direita continuava sendo a direita e os “renovadores” se atordoavam com discursos e escritos glorificando a “sociedade civil”, o “consenso nacional”, a “identidade cidadã democrática”, as “alianças amplas e pluralistas”, a “governabilidade” e a “institucionalidade”, o governo Ortega lançou uns quarenta programas sociais coordenados por sua esposa, Rosario Murillo, fazendo dela uma espécie de superministra. “Não me falem da redistribuição de pequenas coisas ao povo”, reage Saldomando, a voz carregada de ironia. “Se somarmos tudo isso e tentarmos construir um projeto político, não vai dar em nada.” Não é o que pensam dezenas de milhares de pobres que, graças à distribuição de 854 mil placas de zinco, puderam cobrir o teto das casas cheias de vazamentos em razão das tempestades tropicais. Não é o que declara Rosalia Suárez, beneficiária do plano “fome zero”. Como 80 mil mulheres, ela recebeu uma vaca, um porco e seis galinhas: “Minha vaca já me deu dois bezerros! Eu vendo o leite que a gente não bebe, minhas crianças comem ovo... antes a gente não tinha nada”. Também não é o que constatam outras mulheres, frequentemente mães solteiras, a quem os créditos do plano “usura zero” ajudaram a montar uma padaria, uma pequena empresa ou até fundar cooperativas. “O que o governo está fazendo é o mínimo, e apenas para as pessoas que o apoiam”, objeta, levantando os olhos ao céu, uma habitante da capital encontrada no meio da agitação do mercado Muembe. “Os que não estão de acordo com ele não têm direito a nada.” Quando cada um conta a sua versão, uma realidade com mais nuances se desenha. Yaira Mayorga vivia nos escombros de um prédio destruído pelo terremoto de... 1972. Como seus 360 vizinhos – dos quais mais de um quarto se declara “não sandinista” –, ela passou a ter uma verdadeira habitação. “Olhem como ela é bonita, a minha casa!”, exulta. O plano “alojamento digno” passou por ali. “Eu não era sandinista nem nada”, salienta a jovem Rosario García. “A política não me interessava. Mas eu vi o que o comandante fez”. Espontaneamente, como muitos outros, o pequeno comerciante e camponês Walter Silva nos confia: “Digo sinceramente: eu era liberal; eles nunca me deram nada. El hombre nos ajudou muito. Por isso, mudei de ideia, e muitos dos meus companheiros me acompanharam”. Fator Chávez Ninguém, é claro, se aventuraria a falar de “socialismo”. Os investidores estrangeiros e órgãos como o FMI ou o Banco Mundial não encontram nada a dizer sobre a gestão dos cinco anos passados. O setor privado – do qual fazem parte opulentos homens de negócios sandinistas, entre os quais Ortega – está mais do que satisfeito. Ele até encontra seu quinhão nas decisões estratégicas do poder: ao integrar a Alba e se voltar para a América do Sul, ele abriu novos mercados. Estruturalmente, o país então não mudou, mas, e não é pouca coisa, o governo mudou as prioridades do Estado. Ao mesmo tempo, a ajuda maciça da Venezuela de Hugo Chávez permitiu a ampliação e o sucesso dos programas sociais. Aspirante à vice-presidência, Edmundo Jarquín, que, sob a bandeira do MRS, tinha recebido 6,29% dos votos em 2006, aliou-se dessa vez a Gadea, o candidato do PLI. Este último, muito conservador e dirigente dos contra na costa, era apenas uma fachada para Eduardo Montealegre, banqueiro e ex-ministro de Alemán e Bolaños. Tendo perdido também em 2006 (28,3% dos votos) para Ortega, implicado em um escândalo financeiro, Montealegre dificilmente poderia se reapresentar – e não tinha mais vontade, já que havia tempos o jogo se anunciava perdido. “Essa aliança PLI-MRS não é baseada em um programa. Ela tem por objetivo somente impedir a deriva ditatorial da FSLN e de Ortega”, admitia antes da eleição Maria López Vigil. Uma espécie de “pacto”, de certa forma. Marcada por dezesseis anos de um neoliberalismo sem freios nem amortecedores (1990-2006) que não deseja rever tão cedo, uma maioria dos nicaraguenses fez sua escolha. Muito à vontade na embaixada dos Estados Unidos, Sofia Montenegro sofre para aceitar a realidade. “De qualquer forma, daqui a seis meses Chávez [que tem câncer] estará morto; quanto a Ortega e Rosario Murillo, eles vão terminar como Ceausescu”, diz. Seria preciso, nesse dia, podar todas aquelas que “colaboraram”? Trinta e quatro mulheres figuram entre os 62 deputados sandinistas eleitos no dia 6 de novembro passado.
Maurice Lemoine
é jornalista ee autor de "Cinq Cubains à Miami ( Cinco cubanos em Miami)", Dom Quichotte, Paris , 2010.Ilustração: Osvaldo Rivas / Reuters 1 Ler Maurice Lemoine, “Le Nicaragua tenté par un retour au passé” [A Nicarágua tentada por um retorno ao passado], Le Monde Diplomatique, out.1996. 2 El País, Madri, 4 nov. 2011. 3 Essa condenação foi anulada em 16 de janeiro de 2009 pela Corte Suprema de Justiça. 4 A Constituição modificada depois do “pacto” Ortega-Alemán permite ganhar com 40% dos votos ou 35% se uma diferença de cinco pontos separar o candidato em primeiro lugar de seu rival mais próximo. |
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Parada do Orgulho Gay quer educação e criminalização da homofobia
PORTAL VERMELHO: Neste domingo, 10 de junho, ocorre a 16ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) de São Paulo, considerada a maior do mundo. Sob o tema “Homofobia tem cura: educação e criminalização!”, 14 trios elétricos vão desfilar desde o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a partir das 12h, descendo a Rua da Consolação até a Praça Roosevelt, quando ocorre a dispersão, por volta das 18h.
Serão
três trios oficiais da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São
Paulo (APOGLBT), dois trios das Coordenadoria de Assuntos da Diversidade
Sexual da Prefeitua de São Paulo (CADS), um de entidade do movimento
LGBT (ABCD’S), quatro trios de entidades sindicais (CUT, Sintratel,
SECSP e Apeoesp), um de entidade do movimento LGBT (ABCDs), dois de
casas noturnas (Freedom Club e The L Club), um do site de
relacionamentos Disponível.com e um da personalidade drag queen Salete
Campari.
Contra a homofobia
A manifestação denuncia a discriminação como um vício social e reivindica uma série de medidas para combater a violência, como a aplicação do projeto Escola Sem Homofobia, que visa preparar professores da rede pública para promover a igualdade e combater a homofobia entre os alunos.
“A escola vem sendo omissa quanto ao seu principal papel, que é a formação da cidadania e senso de justiça. O ambiente escolar deve ser um espaço inclusivo, de vanguarda, que quebre
paradigmas e seja ponto de reflexão sobre novas concepções morais”, diz manifesto divulgado pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT), entidades responsável pela organização do evento.
Outra reivindicação é a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06, há seis anos em tramitação no Senado, que criminaliza a homofobia. “O movimento LGBT brasileiro é unânime ao pedir prioridade na aprovação do Projeto de Lei da Câmara 122 em sua totalidade, para que a homofobia seja combatida no momento de sua ação, tipificando o crime e identificando os que a praticam. Não aceitamos negociar a atenuação da pena, pois estamos cansados de contar aqueles que perdemos a cada ano”, continua o manifesto.
Um dia antes, no sábado (9), ocorre a 10ª Caminhada Lésbica, com concentração marcada para 12h na Praça Oswaldo Cruz, no começo da Paulista, e o 12º Gay Day, no Hopi Hari, considerado o maior evento LGBT em espaço privado do país, com público estimado em 9 mil pessoas.
Os itinerários de 43 linhas de ônibus que circulam na região da Av. Paulista serão alterados no domingo, durante a realização da 16ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. As mudanças, que passam a valer a partir das 10h de domingo, podem ser conferidas no site da SPTrans. Para informações sobre linhas e trajetos de linhas consulte itinerários ou ligue 156.
Fonte: SPressoSP
Foto: Vanessa Silva
Contra a homofobia
A manifestação denuncia a discriminação como um vício social e reivindica uma série de medidas para combater a violência, como a aplicação do projeto Escola Sem Homofobia, que visa preparar professores da rede pública para promover a igualdade e combater a homofobia entre os alunos.
“A escola vem sendo omissa quanto ao seu principal papel, que é a formação da cidadania e senso de justiça. O ambiente escolar deve ser um espaço inclusivo, de vanguarda, que quebre
paradigmas e seja ponto de reflexão sobre novas concepções morais”, diz manifesto divulgado pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT), entidades responsável pela organização do evento.
Outra reivindicação é a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06, há seis anos em tramitação no Senado, que criminaliza a homofobia. “O movimento LGBT brasileiro é unânime ao pedir prioridade na aprovação do Projeto de Lei da Câmara 122 em sua totalidade, para que a homofobia seja combatida no momento de sua ação, tipificando o crime e identificando os que a praticam. Não aceitamos negociar a atenuação da pena, pois estamos cansados de contar aqueles que perdemos a cada ano”, continua o manifesto.
Um dia antes, no sábado (9), ocorre a 10ª Caminhada Lésbica, com concentração marcada para 12h na Praça Oswaldo Cruz, no começo da Paulista, e o 12º Gay Day, no Hopi Hari, considerado o maior evento LGBT em espaço privado do país, com público estimado em 9 mil pessoas.
Os itinerários de 43 linhas de ônibus que circulam na região da Av. Paulista serão alterados no domingo, durante a realização da 16ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. As mudanças, que passam a valer a partir das 10h de domingo, podem ser conferidas no site da SPTrans. Para informações sobre linhas e trajetos de linhas consulte itinerários ou ligue 156.
Fonte: SPressoSP
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Veja:O suicídio pela palavra
Lúcio Flávio Pinto no OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
Veja, uma das cinco revistas semanais de informações mais
importantes do mundo, levou 2.272 edições, em 44 anos de circulação,
para cometer o maior “nariz de cera” da sua história, do jornalismo
brasileiro em muitos anos e talvez da imprensa mundial. Sua matéria de
capa do último número, com data de 6/56/2012, abre com 98 linhas da mais
medíocre “encheção de linguiça”, como se diz “no popular”.
Se tivessem mesmo que sair, esses quatro enormes parágrafos, numa
matéria de apenas oito períodos, tirando boxes e penduricalhos outros
para descansar a vista (e relaxar a cabeça), caberiam na Carta ao
Leitor, espaço reservado à opinião do dono. Mas lá já estava o devido
editorial da “casa”, repleto de adjetivações e subjetividades, conforme o
estilo.
A tarefa do repórter Daniel Pereira não era competir em fúria
acusatória com a voz do dono, mas dar-lhe – se fosse o caso – suporte
informativo. Sua matéria devia conter fatos, que constituem a arma de combate do repórter, infalível diante de qualquer assunto sob sua investigação.
Ao invés disso, metade da sua falsa reportagem, com presunção de trazer
novidades e gravidades suficientes para merecer a capa da edição, é um
rosário de imprecações opiniáticas, no mais grosseiro e primário estilo,
num desabamento de qualidade em relação à Carta ao Leitor.
História desrespeitada
Em tom professoral digno de um sábio de almanaque Capivarol, o editor
da sucursal de Brasília, distinto e ilustre desconhecido (ainda, claro),
faz gracejo insosso com o fracasso da estratégia de Lula de usar a “CPI
do Cachoeira” como manobra diversionista para tirar o foco do
julgamento dos integrantes da “quadrilha do mensalão”.
Tentando reparar o efeito inverso gerado pela iniciativa, Lula procurou
o ministro Gilmar Mendes, do STF, para um acerto, “movimento tão
indecoroso que, ao contrário do imaginado pela falconaria petista, se
voltou contra o partido”, sentencia o jornalista.
Não sou petista. Nunca fui. Também não sou nem nunca serei filado a
qualquer partido político, enquanto minha profissão me conceder um
espaço para opinar e interpretar. É onde faço política: tentando armar o
meu leitor para ter sua agenda atualizada aos grandes temas ao alcance
da sua vontade.
Votei uma única vez em Lula para presidente da República, na primeira
tentativa dele, contra Collor, em 1989. Ninguém encontrará um artigo de
louvor a ele no meu Jornal Pessoal. Como não moro em Brasília,
São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, mas em Belém do Pará,
distante dois mil quilômetros da capital federal, não me atrevo a
escrever reportagens a respeito dele.
Para isso, precisaria estar em contato com pessoas do centro do poder,
testemunhar acontecimentos, criar fontes com acesso às informações
diretas. Mas minhas análises, feitas à distância, não ultrapassam o
limite da possibilidade de demonstrar com fatos o que digo. E só digo o
que os fatos me autorizam.
Ao autorizar um repórter, encarregado de produzir uma reportagem, que
requer tudo que está fora do meu alcance, justamente porque não disponho
dos recursos ao alcance de Daniel Pereira, Veja mostraque não
respeita a si, aos seus jornalistas e ao leitor. Desrespeita a própria
história, que a fez ocupar um lugar tão destacado na imprensa mundial e
ter-se estabilizado há muitos anos em 1,2 milhão de exemplares de
tiragem.
Alma vendida
O respeito e a admiração que as pessoas têm hoje pelos jornalistas da
TV Globo era o mesmo, com outra substância, do início dos anos 1970,
quando Veja se consolidou como a mais importante novidade na
imprensa brasileira. Antes de passar a trabalhar na revista, via-me
diante de humilhação partilhada por repórteres das outras publicações,
como as minhas. Depois de dar entrevista coletiva, o personagem da
reunião se desculpava e atendia à parte o representante de Veja, que costumava assistir calado ao pingue-pongue de perguntas e respostas entre os colegas e o entrevistado.
Mas não ficávamos furiosos ou nos revoltávamos pelo privilégio dado ao
concorrente. Veríamos, quando a revista circulasse, que o tratamento
diferenciado tinha uma motivação fundamentada na qualidade do trabalho
da revista. Por opção editorial, as matérias não eram assinadas. Mas
tanto os profissionais que iam às ruas atrás das notícias eram bons como
ótimos eram aqueles que reescreviam tudo na redação, estabelecendo uma
homogeneidade de alto nível em todos os textos, do primeiro ao último.
Essa boa novidade levou ao exagero da padronização, logo corrigido pela
liberação dos freios da centralização: cada jornalista pode desenvolver
seu estilo e as matérias começaram a sair assinadas.
Muitas das matérias que forniram as páginas da revista eram do melhor
jornalismo, vizinho dos textos de autores da melhor literatura. Tanto
pelo domínio do vernáculo como pela consciência de que jornalismo é a
vida pulsando todos os dias em sua materialização factual, sempre
sujeita ao humano, demasiado humano (o que serviu de halo para o “novo
jornalismo” americano).
Com a sucessão de textos do tipo que agride a essência do jornalismo já há bastante tempo, Veja está
prestando um grave desserviço ao Brasil, a pretexto de brecar o avanço
do “lulismo” tirânico e irresponsável. Está fazendo o país retroceder a
um jornalismo praticado até seis décadas atrás, quando o Diário Carioca introduziu o lide no manual de redação jornalística. Sucederam-se a partir daí os aperfeiçoamentos que Veja consolidou.
A começar pelo curso de formação que deu aos seus futuros integrantes
antes de começar a circular, uma revolução em matéria de recrutamento de
quadros. E pelo elevado padrão de profissionalismo que estabeleceu,
tornando-se uma meta para todos aqueles que queriam avançar no seu
ofício e ter uma vida digna, decente e confortável – conquistas das
quais só a última era frequente, à custa da venda da alma ao diabo; até Veja demonstrar que jornalista também pode ganhar bem sem se prostituir.
Efeito Jim Jones
É profundamente lamentável que essa mesma revista esteja agora, num
paroxismo editorial difícil de explicar e mais difícil ainda de
entender, renunciando a todas essas conquistas para se entregar a uma
voragem de apoplexia palavrosa, se a tipologia cabe nessa forma
surpreendente de patologia. Lula pode sobreviver a esse tipo de vírus. O
jornalismo, não.
Querendo ser a coveira de um líder político esquivo e ambíguo, Veja está,
na verdade, cometendo um haraquiri patético, capaz de arrastar consigo
muito mais gente do que a que sucumbiu sob outro desses líderes em
transe: Jim Jones.
***
[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]
‘Universidade de serviços’ explica intransigência do governo com universidades públicas federais
Roberto Leher no CORREIO DA CIDADANIA |
A longa seqüência de gestos protelatórios que levaram os docentes das
IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) a uma de suas maiores
greves, alcançando 48 universidades em todo país (28/05), acaba de
ganhar mais um episódio: o governo da presidenta Dilma cancelou a
reunião do Grupo de Trabalho (espaço supostamente de negociação da
carreira) do dia 28 de maio que, afinal, poderia abrir caminho para a
solução da greve nacional que já completa longos dez dias. Existem
algumas hipóteses para explicar tal medida irresponsavelmente
postergatória:
1) A presidenta – assumindo o papel de xerife do ajuste fiscal –
cancelou a audiência, pois em virtude da crise não pode negociar
melhorias salariais para os docentes das universidades, visto que a
situação das contas públicas não permite a reestruturação da carreira
pretendida pelos professores;
2) apostando na divisão da categoria, a presidenta faz jogral de
negociação com uma organização que, a rigor, é o seu espelho, concluindo
que logo os professores, presumivelmente desprovidos de capacidade de
análise e de crítica, vão se acomodar com o jogo de faz de conta, o que
permitiria ao governo Dilma alcançar o seu propósito de deslocar um
possível pequeno ajuste nas tabelas para 2014, ano que os seus sábios
assessores vindos do movimento sindical oficialista sabem que
provavelmente será de difícil mobilização reivindicatória em virtude da
Copa Mundial de Futebol, “momento de união apaixonada de todos os
brasileiros”;
3) sustentando um projeto de conversão das universidades públicas de
instituições autônomas frente ao Estado, aos governos e aos interesses
particularistas privados em organizações de serviços, a presidenta
protela as negociações e tenta enfraquecer o sindicato que organiza a
greve nacional, para viabilizar o seu projeto de universidade e de
carreira que ‘ressignificam’ os professores como
docentes-empreendedores, refuncionalizando a função social da
universidade como organização de suporte a empresas, em detrimento de
sua função pública de produção e socialização de conhecimento voltado
para os problemas lógicos e epistemológicos do conhecimento e para os
problemas atuais e futuros dos povos.
Em relação à primeira hipótese, a análise do orçamento 2012 (1)
evidencia que o gasto com pessoal segue estabilizado em torno de 4,3% do
PIB, frente a uma receita de tributos federais de 24% do PIB.
Entretanto, os juros e o serviço da dívida seguem consumindo o grosso
dos tributos que continuam crescendo acima da inflação.
Com efeito, entre 2001 e 2010 os tributos cresceram 265%, frente a
uma inflação de 90% (IPCA). Conforme a LDO para o ano de 2012, a
previsão de crescimento da receita é de 13%, porém os gastos com
pessoal, conforme a mesma fonte, crescerão apenas 1,8% em valores
nominais. O corte de R$ 55 bilhões em 2012 (inclusive mais de 22% das
verbas do Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT) não é, obviamente,
para melhorar o Estado social, mas, antes, para seguir beneficiando os
portadores de títulos da dívida pública que receberam, somente em 2012,
R$ 369,8 bilhões (até 11/05), correspondentes a 56% do gasto federal
(2).
Ademais, em virtude da pressão de diversos setores que compõem o
bloco de poder, o governo federal está ampliando as isenções fiscais,
como recentemente para as corporações da indústria automobilística,
renúncias fiscais que comprovadamente são a pior e mais opaca forma de
gasto público e que ultrapassam R$ 145 bilhões/ano. A despeito dessas
opções em prol dos setores dominantes, algumas carreiras tiveram
modestas correções, como as do MCT e do IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada). Em suma, a hipótese não é verdadeira: não há crise
fiscal. Os governos, particularmente desde a renegociação da dívida do
Plano Brady (1994), seguem priorizando os bancos e as frações que estão
no núcleo do bloco de poder (vide financiamento a juros subsidiados do
BNDES, isenções para as instituições de ensino superior
privadas-mercantis etc.). Contudo, os grandes números permitem sustentar
que a intransigência do governo em relação à carreira dos
professores das IFES não se deve à falta de recursos públicos para a
reestruturação da carreira. São as opções políticas do governo que
impossibilitam a nova carreira.
Segunda hipótese. De fato, seria muita ingenuidade ignorar que as
medidas protelatórias objetivam empurrar as negociações para o final do
semestre, impossibilitando os projetos de lei de reestruturação da
carreira, incluindo a nova malha salarial e a inclusão destes gastos
públicos na LDO de 2013. O simulacro de negociações tem como atores
principais o MEC (Ministério da Educação), que se exime de qualquer
responsabilidade sobre as universidades e a carreira docente, o MPOG
(Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão), que defende a
conversão da carreira acadêmica em uma carreira para empreendedores, e,
como coadjuvante, a própria organização pelega que faz o papel dos
truões, alimentando a farsa do jogral das negociações.
Terceira hipótese. É a que possui maior lastro empírico. As duas
hipóteses anteriores podem ser compreendidas de modo mais refinado no
escopo desta última hipótese. De fato, o modelo de desenvolvimento em
curso aprofunda a condição capitalista dependente do país, promovendo a
especialização regressiva da economia. Se, em termos de PIB, os
resultados são alvissareiros, a exemplo dos indicadores de concentração
de renda que alavancam um seleto grupo de investidores para a exclusiva
lista dos 500 mais ricos do mundo da Forbes, o mesmo não pode ser dito em relação à educação pública.
Os salários dos professores da educação básica são os mais baixos
entre os graduados (3) e, entre as carreiras do Executivo, a dos
docentes é a de menor remuneração. A idéia-força é de que os docentes
crescentemente pauperizados devem ser induzidos a prestar serviços, seja
ao próprio governo, operando suas políticas de alívio à pobreza,
alternativa presente nas ciências sociais e humanas, ou, no caso das
ciências ditas duras, a se enquadrarem no rol das atividades de pesquisa
e desenvolvimento (ditas de inovação), funções que a literatura
internacional comprova que não ocorrem (e não podem ser realizadas) nas
universidades (4).
A rigor, em nome da inovação, as corporações querem que as
universidades sejam prestadoras de serviços diversos que elas próprias
não estão dispostas a desenvolver, pois envolveriam a criação de
departamentos de pesquisa e desenvolvimento e a contratação de pessoal
qualificado. O elenco de medidas do Executivo que operacionaliza esse
objetivo é impressionante: Lei de Inovação Tecnológica,
institucionalização das fundações privadas ditas de apoio, abertura de
editais pelas agências de fomento do MCT para atividades empreendedoras.
Somente nos primeiros meses deste ano o Executivo viabilizou a
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, um ente privado, que
submete os Hospitais Universitários aos princípios das empresas privadas
e aos contratos de gestão preconizados no plano de reforma do Estado (Lei nº. 12.550,
15 de dezembro de 2012), a Funpresp (Fundação de Previdência
Complementar dos Servidores Públicos Federais), que limita ao teto de R$
3.916,20, medida que envolve enorme transferência de ativos públicos
para o setor rentista e que fragiliza, ainda mais, a carreira dos novos
docentes - pois, além de não terem aposentadoria integral, não possuirão
o FGTS, restando como última alternativa a opção pelo empreendedorismo
que, ilusoriamente (ao menos para a grande maioria dos docentes),
poderia assegurar algum patrimônio para a aposentadoria.
Ademais, frente à ruína da infra-estrutura, os docentes devem captar
recursos por editais para prover o básico das condições de trabalho. Por
isso, nada mais coerente do que a insistência do Executivo em
uma carreira que converte os professores em empreendedores que ganham
por projetos, freqüentemente ao custo da ética na produção do
conhecimento (5).
Os operadores desse processo de reconversão da função social da
universidade pública e da natureza do trabalho e da carreira docentes
parecem convencidos de que já conquistaram os corações e as mentes dos
professores e por isso apostam no impasse nas negociações. O
alastramento da greve nacional dos professores das IFES e o vigoroso e
emocionante apoio estudantil a essa luta sugerem que os analistas
políticos do governo federal podem estar equivocados. A adesão crescente
dos professores e estudantes ao movimento comprova que existe um forte
apreço da comunidade acadêmica ao caráter público, autônomo e crítico da
universidade. E não menos relevante, de que a consciência política não
está obliterada pela tese do fim da história (6).
A exemplo de outros países, os professores e os estudantes
brasileiros demonstram coragem, ousadia e determinação na luta em prol
de uma universidade pública, democrática e aberta aos desafios do tempo
histórico!
Notas:
(1) http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/info_orcamento_para_2012/ORCAMENTO_PARA_2012.html
(4) Mansfield, Edwin 1998 Academic research and industrial
innovation: An update of empirical findings em Research Policy 26, p.
773–776.
(5) Charles Ferguson, A corrupção acadêmica e a crise financeira, disponível em: http://noticias.bol.uol.com.br/economia/2012/05/27/a-corrupcao-academica-e-a-crise-financeira.jhtm
(6) Marcelo Badaró Mattos, Algo de novo no reino das Universidades Federais?
Roberto Leher é doutor em Educação pela Universidade de São
Paulo, professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
coordenador do Observatório Social da América Latina – Brasil/ Clacso e
do Projeto Outro Brasil (Fundação Rosa Luxemburgo).
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POLITICAS PUBLICAS
quinta-feira, 7 de junho de 2012
CIA traficava drogas para financiar guerras
Lá no início da “guerra contra as drogas”, em 1971, os Estados Unidos já desenvolviam ao mesmo tempo o tráfico de heroína no Sudeste Asiático
Após
várias décadas da “guerra contra as drogas”, acompanhada por um custo
colossal em vidas humanas e recursos materiais, os narcotraficantes hoje
são mais fortes do que nunca e controlam um território maior do que em
qualquer época.
Nos últimos seis anos, ocorreram no México mais
de 47 mil assassinatos relacionados ao tráfico de drogas. O número de
mortes foi de 2.119, em 2006, para cerca de 17 mil, em 2011. Em 2008, o
Departamento de Justiça estadunidense advertiu que as OTDs (Organizações
de Tráfico de Drogas), vinculadas a cartéis mexicanos, estavam ativas
em todas as regiões dos Estados Unidos. Na Flórida atuam máfias
associadas ao cartel do Golfo, aos Zetas e à Federação de Sinaloa. Miami
é um dos principais centros de recepção e distribuição de drogas. Além
dos mencionados, outros cartéis, como o de Juárez e o de Tijuhana,
operam nos Estados Unidos.
Os cartéis do México ganharam maior
força depois que substituíram os colombianos de Cali e Medellín nos anos
1990 e controlam agora 90% da cocaína que entra nos Estados Unidos. O
maior estímulo ao narcotráfico é o alto consumo estadunidense. Em 2010,
uma pesquisa nacional do Departamento de Saúde revelou que
aproximadamente 22 milhões de estadunidenses maiores de 12 anos consomem
algum tipo de droga.
Esses, que são apenas alguns dos mais
inquietantes dados estatísticos, permitem questionar a eficácia da
chamada “guerra contra as drogas”. É impossível crer que exista
realmente uma vontade política para por fim a este flagelo universal
quando observamos o papel desempenho o narcotráfico a serviço da
contra-revolução, para a expansão das transnacionais e para as ambições
geopolíticas dos Estados Unidos e outras potências.
Tráfico da CIA
Repassemos,
em síntese, a história recente. A administração de Richard Nixon, ao
iniciar a “guerra contra as drogas” (1971), desenvolve ao mesmo tempo o
tráfico de heroína no Sudeste Asiático com o propósito de financiar suas
operações militares nessa região. A heroína produzida no Triângulo de
Ouro (de onde se unem as zonas montanhosas do Vietnã, Laos, Tailândia e
Myanmar) era transportada em aviões da “Air America”, propriedade da CIA
(Agência Central de Inteligência). Em uma conferência de imprensa
televisionada em primeiro de junho de 1971, um jornalista perguntou a
Nixon: “Senhor presidente, o que você fará com as dezenas de milhares de
soldados estadunidenses que regressam viciados em heroína?”
As
operações do “Air America” continuaram até a queda de Saigon em 1975.
Enquanto a CIA transportava ópio e heroína do Sudeste Asiático, o
tráfico e consumo de drogas nos Estados Unidos se convertia em tragédia
nacional. O presidente Gerald Ford solicitou ao Congresso, em 1976, a
aprovação de leis que substituíssem a liberdade condicional com a
prisão, estabelecessem condenações mínimas obrigatórias e negassem as
fianças para determinados delitos envolvendo drogas. O resultado foi um
aumento exponencial do número de condenados por delitos relacionados com
o tráfico e consumo de drogas e, por conseguinte, conversão de Estados
Unidos no país com maior população prisional do mundo. O peso principal
desta política punitiva caiu sobre a população negra e outras minorias.
As
administrações estadunidenses durante os anos 1980 e 1990 apoiaram a
governos sul-americanos envolvidos diretamente no tráfico de cocaína.
Durante a administração Carter, a CIA interveio para evitar que dois dos
chefes do cartel de Roberto Suárez (rei da cocaína) fossem levados a
juízo nos Estados Unidos. Ao ficar livres, puderam regressar a Bolívia e
atuar como protagonistas no golpe de estado de 17 de julho de 1980,
financiado pelos barões da droga. A sangrenta tirania do general Luis
García Meza foi apoiada pela administração de Ronald Reagan.
A
participação mais conspícua da administração Reagan no narcotráfico foi o
escândalo conhecido como “Irã-Contras” cujo eixo mais propagandeado foi
a obtenção de fundos para financiar o conflito nicaragüense mediante a
venda ilegal de armas ao Irã, mas está bem documentado, ademais, o apoio
de Reagan, com este mesmo propósito, ao tráfico de cocaína dentro e
fora dos Estados Unidos.
O jornalista William Blum explica essas
conexões em seu livro “Rogue State”. Na Costa Rica, que servia como
Frente Sul dos “contras” (Honduras era a Frente Norte) operavam várias
redes “CIA-contras” envolvidas com o tráfico de drogas. Estas redes
estavam associadas com Jorge Morales, colombiano residente em Miami. Os
aviões de Morales eram carregados com armas na Flórida, voavam à América
Central e regressavam carregados de cocaína. Outra rede com base na
Costa Rica era operada por cubanos anti-castristas contratados pela CIA
como instrutores militares. Esta rede utilizava aviões dos “contras” e
de uma companhia de venda de camarões que lavava dinheiro da CIA, no
translado da droga aos Estados Unidos.
Em Honduras, a CIA
contratou a Alan Hyde, o principal traficante nesse país (“o padrinho de
todas as atividades criminais” de acordo com informações do governo dos
Estados Unidos), para transportar em suas embarcações abastecimento aos
“contras”. A CIA, de volta, impediria qualquer ação contra Hyde de
agências anti-narcóticos.
Os caminhos da cocaína tinham
importantes estações, como a base aérea de Ilopango, em El Salvador. Um
ex-oficial da CIA, Celerino Castillo, descreveu como os aviões
carregados de cocaína voavam em direção ao norte, aterrizavam
impunemente em vários lugares dos Estados Unidos, incluindo a base da
Força Aérea no Texas, e regressavam com dinheiro abundante para
financiar a guerra. “Tudo sob o guarda-chuva protetor do governo dos
Estados Unidos”. A operação de Ilopango se realizava sob a direção de
Félix Rodríguez (aliá, Max Gómez) em conexão com o então vice-
presidente George H. W. Bush e com Oliver North, quem formava parte da
equipe do Conselho de Segurança Nacional de Reagan.
Em 1982, o
diretor da CIA, William Casey, negociou um “memorando de entendimento”
com o fiscal geral, William French Smith, que exonerava a CIA de
qualquer responsabilidade relacionada às operações de tráfico de drogas
realizadas por seus agentes. Este acordo esteve em vigor até 1995.
Reagan
e seu sucessor, George H. W. Bush, patrocinaram o “homem da CIA no
Panamá”, Manuel Noriega, vinculado ao cartel de Medellín e à lavagem de
grandes quantidades de dinheiro procedentes da venda da droga. Quando
Noriega deixou de ser útil e se converteu em estorvo, os Estados Unidos
invadiram Panamá (20 de dezembro de 1989) em um bárbaro ato sem
precedentes contra o direito internacional e a soberania de um país
pequeno.
Michael Ruppert, jornalista e ex-oficial do setor de
narcóticos, apresentou em 1997 uma larga declaração, acompanhada de
provas documentais aos comitês de inteligência (“Select Intelligence
Committees”) de ambas Câmaras do Congresso. Em um dos parágrafos afirma:
“A CIA traficou drogas não só durante a época dos “Irã-contras”, mas o
tem feito durante todos os cinqüenta anos de sua história. Hoje lhes
apresentarei evidências que demonstrarão que a CIA, e muitas figuras que
se fizeram célebres durante o ‘Irã-contras’, como Richard Secord, Ted
Shackley, Tom Clines, Félix Rodríguez e George H. W. Bush , venderam
drogas aos estadunidenses desde a época do Vietnã.”
Em 1999, sob a
administração de Bill Clinton, os Estados Unidos bombardearam
impiedosamente o povo iugoslavo durante 78 dias. De novo aqui aparece o
narcotráfico no fundo das motivações. Os serviços de inteligência dos
Estados Unidos e seus homólogos da Alemanha e Grã-Bretanha utilizaram o
tráfico de heroína para financiar a criação e o equipamento do Exército
de Libertação de Kosovo. A heroína proveniente da Turquia e da Ásia
Central passava pelo Mar Negro, Bulgária , Macedônia e Albânia (Rota dos
Balcãs) com destino a Itália. Com a destruição da Sérvia e o
fortalecimento – desejado ou não – da máfia albanesa, a administração
Clinton deixava livre o caminho da droga desde o Afeganistão até a
Europa Ocidental. De acordo com informes da DEA e do Departamento de
Justiça dos Estados Unidos, cerca de 80 % da heroína que se introduz na
Europa passa através de Kosovo.
“Planos” Colômbia
Várias
administrações estadunidenses, e em particular a de George W. Bush,
foram cúmplices do genocídio na Colômbia. A “guerra contra as drogas”
sustentada pelos Estados Unidos com recursos financeiros
multimilionários, assistência técnica e volumosa ajuda militar, não
conseguiu deter o fluxo de cocaína e, pelo contrário, tem sido
determinante no surgimento e desenvolvimento dos grupos paramilitares a
serviço dos proprietários de terras com plantações de drogas, e também
como pretexto para manter o domínio sobre os trabalhadores e a população
camponesa. O Plano Colômbia resultou num completo fracasso, mas serviu
como tela de fundo para a ingerência dos Estados Unidos no país e
mostrou claramente seu verdadeiro objetivo, a contra-revolução.
Muitas
vezes se esquece que o narcotráfico é provavelmente o negócio mais
lucrativo dos capitalistas. Com a guerra na Colômbia lucram as empresas
químicas que produzem os herbicidas, a indústria aeroespacial que
abastece helicópteros e aviões, os fabricantes de armas e, em geral,
todo o complexo militar-industrial. Os bilhões de dólares que gera o
tráfico ilegal de drogas, também incrementam o poder financeiro das
corporações transnacionais e da oligarquia local.
A recente
declaração do Secretariado de Estado Maior Central das FARC-EP, em vista
do quadragésimo oitavo aniversário do início da luta armada rebelde,
denuncia este vínculo drogas-capital: “os dinheiros do narcotráfico se
convertem em terras, inundam a banca, as finanças, os investimentos
produtivos e especulativos, a hotelaria, a construção e a contratação
pública, resultando funcionais e necessários no jogo de captação e
circulação de grandes capitais que caracteriza a capitalismo neoliberal
de hoje. Igualmente ocorre na América Central e no México.”
O
Tratado de Livre Comércio Estados Unidos-México (NAFTA) obrigou
numerosos camponeses, ante a competitividade de produtos agrícolas
estadunidenses, a cultivar em suas terras papoula e maconha. Outros,
frente à alternativa de trabalho escravo nas indústrias “maquiladoras”,
preferem ingressar nas redes mafiosas da droga. O grande aumento do
tráfico de mercadorias através da fronteira e dos controles bancários
para combater o terrorismo, provocou a lavagem de dinheiro dos bancos
até as corporações comerciais. A complexidade e o volume das operações
financeiras, e o fluxo instantâneo e constante de capitais “on line”, tornam extremamente difícil seguir o rastro das transações ilícitas.
Uma
das conseqüências do NAFTA é a impunidade quase total que acompanha o
fluxo de narcodólares em ambos lados da fronteira. Igualmente como no
México, o Tratado de Livre Comércio recentemente em vigor na Colômbia
estimulará a violência, o narcotráfico e a repressão sobre os
trabalhadores e camponeses. A “Iniciativa Mérida”, apor sua vez, é
somente a versão ‘México-Centroamericana’ do Plano Colômbia.
Devemos
meditar sobre o fato de que em todos os cenários de onde os Estados
Unidos têm intervindo militarmente, principalmente naqueles onde tem
ocupado a sangue e fogo o território, o narcotráfico, sem diminuir, como
seria de esperar, está multiplicado e fortalecido. No Afeganistão, o
cultivo de papoula se reduziu drasticamente durante o governo dos
talebãs para alcançar logo, sob a ocupação estadunidense, um crescimento
acelerado. O Afeganistão é atualmente o primeiro produtor de ópio do
mundo, mas, ademais, já não exporta somente em forma de pasta para seu
processamento em outros países, mas fabrica a heroína e a morfina em seu
próprio território.
Se nos atemos aos fatos históricos,
poderíamos afirmar que a política dos Estados Unidos não tem sido a de
“guerra contra as drogas”, senão a de “drogas para a guerra”. (da alainet.org)
Tradução: Eduardo Sales de Lima
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