Neste documentário, Nurit Peled-Elhanan fala de sua pesquisa relacionada com o conteúdo dos livros didáticos de Israel. Ela expõe em detalhes como estes livros são elaborados com o objetivo de desumanizar o povo palestino e fomentar nos jovens estudantes israelenses a base de preconceitos que lhes permitirá atuar de forma cruel e insensível com o mesmo durante o serviço militar.
Conforme explica Nurit Peled-Elhanan, a construção de mundo feita a partir dos livros didáticos, por serem as primeiras a se sedimentarem na mente das crianças, são muito difíceis de serem erradicadas. Daí a importância que o establishment israelense dedica à ideologia a ser transmitida nos livros didáticos. Neles, os palestinos nunca são apresentados como seres humanos comuns. Nunca aparecem em condições que possam ser consideradas normais. Segundo Nurit Peled-Elhanan, não há nesses livros nem sequer uma fotografia de um palestino que mostre seu rosto. Eles são sempre apresentados como constituindo uma ameaça para os judeus.
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 15 de setembro de 2012
Ativistas de direitos humanos pretendem boicotar lei sobre ONGs
Dmítri Runkévitch, Izvéstia
As duas entidades de defesa dos direitos humanos
mais antigas da Rússia, o Grupo Helsinque de Moscou e o Memorial,
anunciaram a intenção de boicotar a discutível lei sobre “agentes
estrangeiros”. Os deputados da Duma de Estado (câmara baixa do
parlamento russo) afirmaram que a desobediência à norma poderá resultar
no encerramento das atividades da organização.
Aleksandr Cherkássov (à dir.) e Liudmila Alekséeva (à esq.). Foto: Kommersant
Várias
entidades de defesa dos direitos humanos declararam que não vão cumprir a lei sobre
“agentes estrangeiros” destinada às organizações não governamentais, segundo
informações dos líderes do Grupo Helsinque de Moscou e do Memorial.
A
norma obriga as ONGs que desenvolvem atividades políticas com financiamento
exterior a se identificarem como agentes estrangeiros.
O
líder do Memorial, Aleksandr Cherkássov, foi contundente ao contestar a medida.
“Em primeiro lugar, não nos consideramos ‘agentes estrangeiros’. O termo se
refere a agentes que cumprem missões por dinheiro, e esse não é o caso”, disse
em entrevista ao jornal Izvéstia.
Afinal, o que muda?
As emendas à lei sobre as organizações sem fins lucrativos foram
promulgadas pelo presidente Vladímir Pútin em julho deste ano e se
referem apenas às estruturas engajadas em atividades políticas e
financiadas por capital estrangeiro.
Pela novas regras, essas organizações devem ser registradas no
Ministério da Justiça como “agentes estrangeiros” e utilizar esse termo
na assinatura de todos os materiais veiculados pela entidade.
Em caso de violação da lei, os líderes da entidade infratora podem
ser receber uma multa ou sentença de até quatro anos de prisão.
“Nossos
legisladores fazem coisas tolas em vez de cuidar dos problemas reais. Não vamos
cumprir decisões absurdas”, completou.
As
organizações sem fins lucrativos também declararam que se recusarão a pagar as
multas estipuladas pela lei. “A multa pode ser aplicada, mas isso não significa
que ela será paga”, afirmou o líder do Memorial, ao criticar os conceitos de agente e de
atividade política.
A
chefe do Grupo Helsinque de Moscou, Liudmila Alekséeva, compartilha a mesma
opinião e, por esse motivo, também assumirá uma postura semelhante. “Somos
honestos com o país e com nosso povo. É uma ofensa alguém nos chamar de agentes
estrangeiros e nos ameaçar com multas”, declarou Alekséeva.
Portas fechadas
O
deputado Aleksandr Sidiákin, autor das polêmicas emendas à lei sobre ONGs,
afirma que a sabotagem por parte do Memorial e do Grupo Helsinque pode ter como
consequência o encerramento de suas
respectivas atividades.
“Os
ativistas de direitos humanos devem compreender que trata-se de uma lei federal
e, logo, deverão cumpri-la”, afirma o deputado. As multas podem chegar a 1,5
milhões de rublos (cerca de US$ 50 mil). “Se a desobediência
for perpetuada depois de pagar as multas, tais ações poderão ser qualificadas
como desrespeito a uma lei federal, levando ao encerramento da organização.”
A
diretora do Grupo Helsinque lembra que as doações recebidas do exterior são
gastas com atividades para a defesa dos direitos humanos, cujo único objetivo é
ajudar as pessoas.
“Podemos renunciar à ajuda estrangeira se estivermos sob ameaça
de encerramento. Nesse caso, iremos
funcionar com o auxílio financeiro russo que, no entanto, é muito
insignificante”, rebate Alekséeva.
O
Grupo Helsinque de Moscou e o Memorial são as maiores e mais antigas entidades
de defesa dos direitos humanos da Rússia, constituídas na época da União
Soviética.
Originalmente publicado pelo jornal Izvéstia
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
A linguagem da verdade na luta de massas
Miguel Urbano Rodrigues
Em
situações históricas como a actual os responsáveis pelas crises optam
pelo auto elogio, enquanto se preparam para responder com a repressão
ao protesto popular. Os Passos, Relvas e Companhia Lda esquecem que no
movimento de fluxo e refluxo da História as grandes crises desembocam
quase sempre numa contestação torrencial quando os povos, atingido um
limite, não podem mais suportar a opressão da classe dominante e se
mobilizam para lhe por termo.
As
medidas anunciadas pelo primeiro-ministro no dia 7 de Setembro -
ostensivamente inconstitucionais - assinalaram uma vertiginosa galopada
para a direita do governo mais reaccionário do País desde a Revolução
de 1974.
Passos Coelho pelo que disse, pela hipocrisia e até
pelo tom, fez-me recordar falas de ministros de Salazar. Deles se
diferencia não pelo conteúdo ideológico da «mensagem», mas porque
alguns eram inteligentes e porque o que resta da herança de Abril não
lhe permite ir tão longe quanto desejaria na destruição de conquistas
históricas dos trabalhadores e na ofensiva contra direitos e
liberdades.
Os novos impostos e a descida da taxa social
única (800 milhões oferecidos na prática às grandes empresas)
inserem-se numa estratégia dita de «austeridade», mas que transcende as
próprias exigências da troika. Foi concebida para favorecer o grande
capital e atingir brutalmente os trabalhadores.
O complemento
da agressão fiscal tornado público pelo ministro Vítor Gaspar, tutor
ideológico de Passos, amplia os contornos do pesadelo.
O fracasso do projecto em desenvolvimento é, porém, tão transparente – o défice não desceu, o desemprego disparou, o PIB caiu – que pela sua irracionalidade e consequências desastrosas ao levar o pais à ruína abriu fissuras nas forças da direita que inicialmente o apoiaram maciçamente.
O fracasso do projecto em desenvolvimento é, porém, tão transparente – o défice não desceu, o desemprego disparou, o PIB caiu – que pela sua irracionalidade e consequências desastrosas ao levar o pais à ruína abriu fissuras nas forças da direita que inicialmente o apoiaram maciçamente.
Destacadas
personalidades políticas do sistema, tradicionalmente vinculadas ao
imperialismo, como Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Alberto João
Jardim, Bagão Félix, Mário Soares, Pacheco Pereira criticaram com maior
ou menor clareza o pacote fiscal do governo. Até Catroga se distanciou.
O Presidente da República, esse, permaneceu mudo até ao momento em que escrevo.
Na hierarquia da Igreja levantam-se vozes condenando aquilo em que identificam o arrogante desprezo do governo pelo povo.
A Saúde e a Educação serão brutalmente golpeadas. Entre os reformados a maré da revolta cresce. Não há mentira oficial que possa ocultar a evidência: o governo pretende destruir a Previdência, arrasar a Segurança Social.
A Saúde e a Educação serão brutalmente golpeadas. Entre os reformados a maré da revolta cresce. Não há mentira oficial que possa ocultar a evidência: o governo pretende destruir a Previdência, arrasar a Segurança Social.
O
indigitado secretário-geral da UGT apelou à denúncia dos compromissos
assumidos pela sua organização com o governo e o patronato e agora
exige a rejeição das medidas anunciadas.
A própria CIP
desaprova a estratégia do Executivo, e Belmiro de Azevedo, o patrão da
SONAE (que vai poupar muitos milhões de euros com a descida da taxa
social única), demarcou-se do governo. Foi categórico ao afirmar que o
brutal aumento da carga fiscal sobre o trabalho, longe de atingir os
objectivos fixados, vai contribuir para o agravamento da crise.
Influentes
«analistas» da burguesia, como Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa
Tavares, habitualmente prudentes nas críticas ao governo, desancaram
agora Passos Coelho e a cruel farsa da «austeridade».
Não
esperava o Primeiro-ministro que o seu medonho pacote fiscal fosse mal
recebido por parlamentares e dirigentes do PSD e do CDS. Mas teve uma
surpresa.
«Sinto uma grande revolta no PSD - declarou ao jornal
«Publico» um deputado desse partido - porque o Primeiro-ministro foi
longe demais».
No CDS o mal-estar aumenta a cada dia e alguns «barões» falam abertamente da necessidade de por termo à coligação, cimento da maioria parlamentar.
No CDS o mal-estar aumenta a cada dia e alguns «barões» falam abertamente da necessidade de por termo à coligação, cimento da maioria parlamentar.
GRANDES LUTAS NO HORIZONTE
A
presente crise – é uma certeza – vai aprofundar-se muito. Inseparável
da crise global do capitalismo, a actual, que lançou milhões de
portugueses no desemprego, na pobreza e na miséria, difere de todas as
anteriores não apenas pelas seus efeitos sociais e económicos, mas pela
ideologia e projecto dos representantes do capital que controlam o
governo e o Parlamento.
É significativo que o ministro Relvas,
envolvido numa cadeia de escândalos sórdidos, tenha aproveitado a sua
visita ao Brasil para fazer no Rio declarações provocatórias, de elogio
irrestrito à devastadora e criminosa política fiscal de Passos Coelho.
Insolente, maltratando inclusive o idioma, sugere aos que dela
discordam a apresentar uma alternativa, para concluir que ela não
existe e proclamar que a recusa da estratégia do governo seria o caos.
Não
é inédito o seu arrogante desafio. Em situações históricas como a
actual, os responsáveis pelas crises optam pelo auto elogio, enquanto
se preparam para responder com a repressão ao protesto popular.
Os
Passos, Relvas e Companhia Lda esquecem que no movimento de fluxo e
refluxo da História as grandes crises desembocam quase sempre numa
contestação torrencial quando os povos, atingido um limite, não podem
mais suportar a opressão da classe dominante e se mobilizam para lhe
por termo.
Não há dois processos iguais. As revoluções e as
transições marcadas por reformas revolucionárias diferem de sociedade
para sociedade, evoluindo em função de factores que não cabe analisar
num artigo como este.
Isso ocorreu no 25 de Abril.
Isso ocorreu no 25 de Abril.
Transcorridos
38 anos, frustradas as grandes esperanças da Revolução Democrática e
Nacional, uma grande burguesia dependente, mais sofisticada do que a
anterior, e mais intimamente ligada ao imperialismo, encontra-se
novamente instalada no Poder.
Sob alguns aspectos a luta contra o sistema é hoje mais difícil do que na época de Salazar e Caetano porque as condições subjectivas são menos favoráveis.
Sob alguns aspectos a luta contra o sistema é hoje mais difícil do que na época de Salazar e Caetano porque as condições subjectivas são menos favoráveis.
As
instituições existentes (deformadas por sucessivas reformas da
Constituição) levam milhões de portugueses, a maioria da cidadania, a
crer que o regime português é democrático.
Ora, na prática
vivemos sob uma ditadura da burguesia de fachada democrática. Mas
somente uma pequena minoria de portugueses tem consciência dessa
realidade.
Em Portugal, a resistência dos trabalhadores a
políticas neoliberais de sucessivos governos do PSD e do PS tem sido
uma constante. Sobretudo nos últimos anos. Expressou-se em gigantescas
manifestações de protesto, em greves gerais e sectoriais realizadas com
êxito, em lutas de numerosas categorias profissionais, com destaque
para as dos professores.
Mas o controle dos media pelo
capital e a influência hegemónica do imperialismo na Internet
dificultam extraordinariamente a compreensão pela maioria dos
portugueses da complexidade da crise mundial e dos desafios que se
colocam ao povo português. Os mecanismos da alienação são uma fonte de
ilusões, favorecendo a direita (na qual incluo os dirigentes do PS).
A
ilusão de que é possível às forças progressistas chegar ao governo
através de eleições está muito difundida. Tal convicção é utópica.
A engrenagem montada pelas forças do capital foi concebida e funciona de modo a que alternadamente obtenham maioria parlamentar e cheguem ao governo, exibindo uma falsa representatividade popular, ora o PSD (levando a reboque o CDS), ora o PS.
A engrenagem montada pelas forças do capital foi concebida e funciona de modo a que alternadamente obtenham maioria parlamentar e cheguem ao governo, exibindo uma falsa representatividade popular, ora o PSD (levando a reboque o CDS), ora o PS.
A
ruptura com essa engrenagem, para produzir efeitos, para ser real, não
pode consumar-se dentro do sistema, tendente à sua democratização. Terá
de ser uma ruptura contra o sistema. Por outras palavras, é
imprescindível deixar transparente que o inimigo é o capitalismo e que
este é irreformável pela sua natureza desumana. É possível em Portugal
um governo menos reaccionário, mas não um governo progressista.
A linguagem da verdade é uma exigência política e ética no diálogo com as massas.
A
ideia de uma volta a Abril é também romântica. A História não se
repete. Seria negativo confundir os valores de Abril e o respeito que
inspiram com a aspiração ilusória de uma nova Revolução Democrática e
Nacional, no actual contexto.
Qual então o carácter da resposta
popular, qual o rumo que a contestação ao Poder da burguesia e ao
protectorado imperial devem assumir?
A pergunta é formulada com frequência por aqueles a quem são dirigidos apelos para a dinamização da luta de massas. E é pertinente porque a relação de forças na sociedade portuguesa não abre a porta a uma conjuntura pré-revolucionária.
A pergunta é formulada com frequência por aqueles a quem são dirigidos apelos para a dinamização da luta de massas. E é pertinente porque a relação de forças na sociedade portuguesa não abre a porta a uma conjuntura pré-revolucionária.
A
menos que se produza a nível mundial uma situação revolucionária
envolvendo os EUA e a União Europeia, o que não está para breve, uma
Revolução social vitoriosa em Portugal é uma impossibilidade.
A
luta intensa e permanente contra este governo, que assume já no
discurso e na prática matizes neofascistas, não vai desembocar numa
Revolução progressista. A serena consciência dessa realidade não
justifica uma atitude de pessimismo, de passividade alienante. Em
Portugal a participação nas lutas contra o sistema é transversal,
abrange já segmentos da pequena e média burguesias, camadas sociais que
ainda há poucos anos afirmavam não se ‘interessar pela politica’.
Ao
longo da História, muitas gerações bateram-se por transformações
revolucionárias que não se produziram durante as suas breves
existências. Mas o seu compromisso era com as ideias e não com o
calendário. Revoluções tão importantes para o progresso da Humanidade
como a Francesa de 1789 e a Russa de 1917 não teriam sido vitoriosas
sem a luta, a dedicação, o debate de ideias de uma extensa, maravilhosa
cadeia de revolucionários que as imaginaram e para elas viveram.
Afirmar
sem rodeios, frontalmente, que a ruptura em Portugal deve ser com o
sistema capitalista, rumo ao socialismo distante, esfumado num
horizonte de brumas, é seguir o exemplo desses revolucionários,
caminhar pelas alamedas que eles abriram combatendo.
Acredito que a luta de massas vai adquirir um ímpeto novo, que a repressão será incapaz de travar, um ímpeto vocacionado para abalar os alicerces do Poder ultramontano.
Acredito que a luta de massas vai adquirir um ímpeto novo, que a repressão será incapaz de travar, um ímpeto vocacionado para abalar os alicerces do Poder ultramontano.
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012
"Talvez duas crianças tenham morrido para você ter o seu celular"
República Democrática do Congo - Brasil de Fato
- [Inês Benitez] Consumidores de telefones celulares são chamados a
refletir sobre a exploração sangrenta na República Democrática do Congo
de uma matéria-prima para esses aparelhos, o tântalo
Os
consumidores de telefones celulares são chamados a refletir sobre a
exploração sangrenta na República Democrática do Congo de uma
matéria-prima para esses aparelhos, o tântalo.
"Pode ser que duas crianças tenham morrido para você ter esse
telefone celular", disse Jean- Bertin, um congolense de 34 anos que
denuncia o "silêncio absoluto" sobre os crimes cometidos em seu país
pela exploração de matérias-primas estratégicas como o coltan
(columbita-tantalita). A República Democrática do Congo (RDC) possui
pelo menos 64% das reservas mundiais de coltan, nome popular na África
central para designar as rochas formadas por dois minerais, columbita e
tantalita.
Da tantalita se extrai o tântalo, metal duro de transição, de cor
azul acinzentado e brilho metálico, resistente à corrosão e que é usado
em condensadores para uma enorme variedade de produtos, como telefones
celulares, computadores e tablets, bem como em aparelhos para surdez,
próteses, implantes e soldas para turbinas, entre muitos outros. "A
maldição da RDC é sua riqueza. O Ocidente e todos que fabricam armas
metem o nariz ali", lamenta Jean-Bertin, que chegou há oito anos à
cidade espanhola de Málaga, procedente de Kinshasa, onde vivem seus pais
e dois irmãos.
A extração de coltan contribui para manter um dos maiores conflitos
armados da África, que causou mais de cinco milhões de mortos, êxodo em
massa e violações de 300 mil mulheres nos últimos 15 anos, segundo
organizações de direitos humanos. Isto foi reconhecido em 2001 pelo
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que
confirmou a existência do "vínculo entre a exploração ilegal dos
recursos naturais e a continuação do conflito na República Democrática
do Congo". Um grupo de especialistas convocado pelo Conselho registrou
até 2003 cerca de 157 empresas e indivíduos de todo o mundo vinculados,
de um modo ou de outro, à extração ilegal de matérias-primas valiosas na
RDC.
A exploração de coltan em dezenas de minas informais, salpicadas na
selva oriental da RDC, financia os grupos armados e corrompe militares e
funcionários. A extração artesanal, sem nenhum controle de qualidade,
comporta um regime trabalhista próximo da escravidão e um grande dano ao
meio ambiente e à saúde dos trabalhadores, incluindo crianças, segundo o
documentário de 2010 Blood in the Mobile (Sangue no Celular), do
diretor dinamarquês Frank Piasecki.
No entanto, fontes da indústria, como o Tantalum- Niobium
International Study Center (TIC), alertam que as jazidas de coltan na
RDC e de toda a região da África central estão longe de serem a fonte
principal de tântalo. A Austrália foi o principal produtor desse mineral
durante vários anos e mais recentemente cresceu a produção
sul-americana e asiática, além de outras fontes, como a reciclagem. O
TIC estima que as maiores reservas conhecidas de tântalo estão no Brasil
e na Austrália, e ultimamente há informações sobre sua existência na
Venezuela e na Colômbia.
A RDC tem outras riquezas naturais igualmente contrabandeadas, como
ouro, cassiterita (mineral de estanho), cobalto, cobre, madeiras
preciosas e diamantes. Contudo, está em último lugar no Índice de
Desenvolvimento Humano 2011. Neste cenário, as denúncias da sociedade
civil organizada apelam cada vez mais aos consumidores de produtos que
contêm estes materiais. Na Espanha, a Rede de Entidades para a República
Democrática do Congo - uma coalizão de organizações não governamentais e
centros de pesquisa - lançou em fevereiro a campanha Não com o meu
Celular, para exigir dos fabricantes o compromisso de não usarem coltan
de origem ilegal.
O surgimento de novas fontes de tântalo e a reciclagem deveriam
ajudar a reduzir a pressão da demanda sobre o coltan congolense. A
organização Entreculturas e a Cruz Vermelha Espanhola promovem desde
2004 a campanha nacional Doe seu Celular, para incentivar a entrega de
aparelhos velhos para serem reutilizados ou para reciclagem de seus
componentes. Os fundos obtidos são investidos em projetos de educação,
meio ambiente e desenvolvimento para setores pobres da população. Até
julho foram coletados 732.025 aparelhos e arrecadados mais de um milhão
de euros, contou ao Terramérica a coordenadora da campanha na
Entreculturas, Ester Sanguino.
Entretanto, fundações e empresas dedicadas à reciclagem, ouvidas pelo
Terramérica, concordam que seria impossível abastecer com esta fonte
uma porção significativa da crescente demanda mundial por tântalo. A
pressão do mercado faz com que as pessoas troquem o celular por outro
mais moderno de tempos em tempos, por isso a reciclagem, mesmo feita em
grande escala, não daria conta, disse ao Terramérica uma fonte da BCD
Electro, empresa de reutilização e reciclagem informática e eletrônica. E
a telefonia móvel é apenas um segmento das aplicações atuais do
tântalo.
Apple e Intel anunciaram, em 2011, que deixariam de comprar tântalo
procedente da antiga colônia belga. Nokia e Samsung fizeram declarações
similares. A Samsung assegura em sua página corporativa que tomou
medidas para garantir que seus terminais "não contenham materiais
derivados do coltan congolense extraído ilegalmente". Na verdade, os
códigos de conduta empresariais vieram preencher o vazio de normas
taxativas.
O esforço maior é o das Diretrizes da OCDE para Empresas
Multinacionais, pois compreende todas as nações industrializadas sócias
da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Porém, o longo e opaco circuito do coltan congolense torna difícil
demonstrar que tais códigos são cumpridos. Os minerais explorados
ilegalmente são contrabandeados através de países vizinhos, como Ruanda e
Uganda, para Europa, China e outros destinos.
"Os grupos rebeldes proliferam pela riqueza das terras em coltan,
diamantes ou ouro", disse ao Terramérica o coordenador da organização
humanitária Farmamundi na RDC, Raimundo Rivas. Os governos vizinhos são
"cúmplices" e "até o momento tudo é apoiado e encoberto pelas empresas
beneficiárias, em seu último destino, dessas riquezas", ressaltou. "Há
muitos interesses econômicos em torno do negócio do coltan", alertou
Jean-Bertin. Enquanto isso, na RDC "as matanças são reais. O sangue está
por toda parte, e, no entanto, é como se o país não existisse".
Por isso gera expectativas a decisão da Comissão de Valores dos
Estados Unidos (SEC), que, no dia 22 de agosto, regulamentou um capítulo
da Lei de Proteção do Consumidor e Reforma de Wall Street, referente
aos "minerais de conflitos". A Lei 1.502 estabelece que todas as
empresas nacionais ou internacionais já obrigadas a entregar informação
anual à SEC e que manufaturem ou contratem a manufatura de produtos que
contenham um dos quatro minerais de conflito (estanho, tântalo,
tungstênio, ouro) deverão adotar medidas para determinar sua origem
mediante a análise da cadeia de fornecimento.
Contudo, o primeiro informe deverá ser apresentado em 31 de maio de
2014, prazo considerado excessivo por defensores dos direitos humanos,
que denunciam os crimes que continuam sendo cometidos na RDC, apesar da
presença desde 2010 de uma missão de paz da ONU. Com o olhar dominado
pela raiva e sua filha de seis meses nos braços, o congolense Jean-
Bertin insiste que os grupos armados "dão armas a muitas crianças e as
obrigam a entrar para um ou outro bando". Para Rivas, "a única solução é
um governo forte na RDC, que possa responder aos ataques, e um apoio
internacional real que penalize aquelas empresas suspeitas de importar
minerais de zonas em conflito".
A TENTATIVA DE CALAR A BLOGOSFERA!
O Escrevinhador reproduz abaixo a nota do Centro de Estudos Barão de Itararé, que denuncia: querem calar a blogosfera!
A TENTATIVA DE SUFOCAR A BLOGOSFERA
No mais recente atentado contra a liberdade de expressão no Brasil, o
prefeito de Curitiba (PR) e candidato à reeleição Luciano Ducci
processou o blogueiro Tarso Cabral Violin, apenas porque discordou de
duas enquetes publicadas na página mantida pelo blogueiro. A Justiça
Eleitoral, num gesto inexplicável, deu ganho de causa ao prefeito-censor
e estipulou uma multa de R$ 106 mil, o que inviabiliza a continuidade
do blog. No mesmo Paraná, o governador Beto Richa também persegue de
forma implacável o blogueiro Esmael Morais, que já foi processado várias
vezes e coleciona multas impagáveis.
Em outros cantos do país, a mesma tática, a da judicialização da
censura, tem sido aplicada visando intimidar e inviabilizar
financeiramente vários blogs. Alguns processos já são mais conhecidos,
como os inúmeros que tentam calar os blogueiros Paulo Henrique Amorim e
Luis Nassif. No fim de 2010 e início de 2011, o diretor de jornalismo da
poderosa TV Globo, Ali Kamel, também ingressou na Justiça contra seis
blogueiros – o que prova a falsidade dos discursos dos grupos de mídia
que se dizem defensores da liberdade expressão. Criticado pelos
blogueiros, pelo seu papel manipulador nas eleições de 2006 e 2010,
Kamel parece ter escolhido a via judicial para se vingar dos críticos.
Se os juízes de primeira instância parecem pressionados diante de
autoridades e empresas de Comunicação tão poderosas, é preciso garantir
que os tribunais superiores mantenham-se atentos para garantir que a
liberdade de expressão não se transforme num direito disponível apenas
para meia dúzia de famílias que controlam jornais, TVs e rádios
brasileiras.
Além da judicialização da censura, também está em curso no país uma
ação ainda mais violenta contra os blogueiros – com ameaças de morte e
até atentados. Em 2011, o blogueiro Ednaldo Filgueira, do município de
Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, foi barbaramente assassinado após
questionar a prestação de contas da prefeitura. Outro blogueiro também
foi morto no Maranhão. Há várias denúncias de tentativas de intimidação
com o uso da violência, principalmente em cidades do interior onde a
blogosfera é o único contraponto aos poderosos de plantão.
Como se não bastassem os processos e as ameaças físicas, alguns
setores retrógrados da sociedade também tentam impedir a viabilização
financeira da blogosfera através de anúncios publicitários.
Recentemente, o PSDB ingressou com ação na Procuradoria-Geral Eleitoral
(PGE) questionando os poucos anúncios do governo federal em blogs e
sítios de reconhecida visibilidade. A ação foi rejeitada, o que não
significa que não cumpriu seu objetivo político de intimidar os
anunciantes. Até o ministro Gilmar Mendes, do STF, tem atacado a
publicidade nos blogs.
Diante desses atentados à liberdade de expressão, o Centro de Estudos
Barão de Itararé manifesta a sua total solidariedade aos blogueiros
perseguidos e censurados. É preciso denunciar amplamente os que tentam
silenciar esta nova forma de comunicação.
É urgente acionar os poderes públicos – governo federal, Congresso
Nacional e o próprio Supremo Tribunal Federal – em defesa da blogosfera.
É o que faremos, em parceria com as demais entidades da sociedade
civil, em especial com o Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC), requisitando audiências junto ao STF, STJ, TSE,
Congresso Nacional e Ministério da Justiça.
Pedimos, ainda, a atenção da Secretaria Especial dos Direitos Humanos
para o tema. Liberdade de expressão não é monopólio de meia dúzia de
empresários. É um patrimônio do povo brasileiro, garantido na
Constituição. A comunicação é um direito básico do ser humano, que
precisa ser respeitado.
(a) Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
domingo, 9 de setembro de 2012
Tolstói: o genial escritor que fugiu de casa aos oitenta e dois anos
Milton Ribeiro no SUL21
Liev Tolstói foi o primeiro grande injustiçado pelo Prêmio Nobel.
Nascido em 9 de setembro de 1828, o escritor russo viveu até 1910 — o
prêmio começou a ser entregue em 1901 — e, em seus últimos anos de vida,
já era uma figura incontornável não apenas da literatura russa, mas da
mundial. Ele foi um dos primeiros a entrar numa importante lista de não
ganhadores que depois ganharia outros nomes notáveis como Marcel Proust,
James Joyce, Vladimir Nabokov, Franz Kafka, Jorge Luis Borges, Machado
de Assis, Émile Zola, Henrik Ibsen e Paul Valéry, para citar alguns.
Obviamente, alguns destes nomes apenas tornaram-se importantes post mortem ou,
como Machado de Assis, escreviam em línguas menos traduzidas, mas o
caso de Tolstói foi bastante estranho, pois, como dissemos, o escritor
viveu grande parte de sua vida como uma indiscutível celebridade. Nada
mais merecido.
Caso semelhante ao de Dostoiévski, Tolstói foi por anos lido no
Brasil em traduções de segunda mão. Isto é, como não havia no país
tradutores de russo, ambos eram traduzidos do francês… Apenas nos
últimos 30 anos, começaram a aparecer as traduções diretas do russo, as
quais revelaram o descuido e o desrespeito com que eram tratados estes
autores, além de muitos outros. O elogio mais comum feito a Tolstói era o
de que se tratava de um estilista absolutamente impecável. O tradutor
Rubens Figueiredo, que recentemente traduziu para a Cosac & Naify
seus três principais romances — Anna Kariênina, Guerra e Paz e Ressurreição
— obrigou-se a escrever uma série de explicações a respeito de certas
estranhezas em seu texto. Ocorre que no original há repetições de
palavras bem próximas umas das outras, procedimento que Figueiredo
criteriosamente manteve, mas que os antigos tradutores não admitiam. Por
exemplo, nas páginas 241-242 de Anna Kariênina (Cosac &
Naify) há um parágrafo de quase uma página onde a palavra “camponeses”
aparece 15 vezes. Tais repetições não devem ser confundidas com descaso.
”Gosto daquilo que chamam de incorreção. Ou seja, daquilo que é
característico”, dizia Tolstói. Também o uso de parênteses eram
corrigidos pelos tradutores do passado, assim como as frases, muitas
vezes longuíssimas, acabavam particionadas.
Desta forma, um dos caminhos para estarmos mais próximos do autor
russo é o de procurar as traduções feitas diretamente do original e
ignorar as antigas traduções da Editora Globo para Guerra e Paz e Kariênina,
por exemplo, as quais traziam um autor distorcido, com maior elegância e
polimento do que o original. Pois para expressar o pensamento mais
simples de alguns mujiques — os camponeses russos — , Tolstói se
utilizava de pouco requinte e de um vernáculo mais limitado. O escritor
russo também pensava que, em alguns casos, as repetições davam mais
coesão e clareza a certos trechos.
Nestes dois grandes romances, Tolstói demonstra sua arte de forma
inequívoca. Ele foi um perfeito contador de histórias polifônicas.
Trabalhava com muitos personagens, as interações entre eles, suas ações e
pensamentos nunca são artificiais e, de forma profundamente humana, até
as paisagens descritas passam pelo filtro do estado de espírito de quem
as observa. Guerra e Paz e Anna Kariênina são
belíssimas sinfonias para muitas vozes. Chama atenção o caminhão de
realismo despejado pelo autor sobre seus personagens. Anna, por exemplo,
está a léguas de poder aspirar a uma condição de boa pessoa do século
XIX ou de qualquer tempo. Na época, ser virtuoso era o que mais contava e
ela, passando por cima de Kitty e largando seu marido por pura
concupiscência, renegando a filha ainda bebê e sendo suscetível a
atitudes muito impulsivas, está longe do ideal virtuoso. Para completar,
encontra justificativas para quase todos os seus atos, porém Tolstói
não esboça o menor gesto de justificá-la assim ou assado.
Já as novelas Sonata a Kreutzer e A Morte de Ivan Ilitch são
o extremo contrário. Focadas, com poucos personagens e devastadora
análise psicológica, a primeira fala sobre o casamento, a infidelidade e
a hipocrisia social e a segunda sobre a morte. Em agosto de 1883, duas
semanas antes de falecer, o escritor russo Ivan Turguêniev escreveu a
Tolstói: “Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho estado e
estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo apenas
para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo,
e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu
amigo, volte à literatura”. Tolstói era efetivamente dado a passar
longos períodos sem escrever e, diante do pedido do amigo, respondeu com
a angustiada consciência do irrepreensível juiz Ivan Ilitch em breves
85 páginas. No texto, é mostrado um rigoroso acerto de contas interno,
revelando a inutilidade da vida de Ivan. Preso ao leito, frente à morte
certa, Ivan Ilitch vê como a rotina, nosso mais pesado algoz, e a vida
burguesa impediram-no de apenas… pensar.
Se considerarmos sua obra como ficcionista, chegaremos à conclusão de
que quase tudo aquilo que criou ainda é lido. Os três romances citados,
mais as novelas A felicidade conjugal, Sonata a Kreutzer e A morte de Ivan Ilitch, além
de relatos autobiográficos e de contos populares são a parte principal
de sua obra. Tolstói foi romancista, novelista, contista, ensaísta e
dramaturgo. Mas também foi o filósofo criador do tolstoísmo, uma forma
de vida pastoral e pacifista que hoje nos parece bastante aparentada da
forma de vida dos hippies dos anos 60 do século XX.
Atualmente, o lado filósofico e a vida pessoal de Tolstói fazem a
festa de outros autores, de filmes e séries de TV. Só para citar os
casos mais conhecidos: em Diário de uma Ilusão, de Philip Roth (cujo título original é The Ghost Writer, o que nos faz pensar nos critérios dos antigos tradutores de nosso retratado), há um capítulo intitulado Casado com Tolstói, que se refere ao contumaz sumiço de um dos cônjuges. Também houve o bom filme A última estação,
onde vemos as causas de uma das tais fugas. É que, para além de ser um
gênio, o escritor russo era um puro. Tão puro que gerava suspeitas. Em
1856, ele, que fazia parte da nobreza russa, libertou todos os seus
servos e doou-lhes as terras onde trabalhavam. Estes, porém,
desconfiados, devolveram as propriedades ao ex-dono. Ele tinha, aliás,
uma recorrente inclinação de desfazer-se de seus bens materiais,
inclinação que não estava de acordo com a opinião de sua esposa Sônia.
No final da década de 1850, preocupado com a péssima qualidade da
educação no meio rural, Tolstói criou uma escola para filhos de
camponeses na aldeia onde nasceu e viveu, a célebre Iasnaia Poliana. O
escritor mesmo escreveu grande parte do material didático e, ao
contrário da pedagogia da época, deixava os alunos estudarem quando
quisessem, sem regras excessivas e, estranhamente, sem punições físicas.
Educar para libertar. Esse era seu norte pedagógico. Recentemente,
parte do material criado para a escola por seu fundador foi traduzido do
russo. Contos da Nova Cartilha
é o resultado desta incursão. A obra é uma coletânea de textos
extraídos das duas cartilhas elaboradas por Tolstói. São fábulas,
histórias reais, contos folclóricos, descrições de paisagens naturais e
adivinhações. O estilo é conciso, aproximando-se do ritmo da linguagem
oral.
Em 1862, casou-se com Sônia Andreievna Bers, com quem teve 13 filhos.
A qualidade do casamento seria melhor aferida por um sismógrafo. Foi
neste ambiente que Tolstoi produziu seus principais romances. Guerra e Paz
consumiu sete anos de trabalho e é a prova de que um mau casamento pode
produzir bons frutos. O autor atormentava-se mais do que habitual em
seres humanos com questões sobre o sentido da vida e, após desistir de
encontrar respostas na filosofia, na religião e na ciência, deixou
seduzir-se pelo estilo de vida dos camponeses. Foi o que ele chamou de
sua “conversão”. Após a “conversão”, Tolstói deixou de beber e fumar,
tornou-se vegetariano e passou a vestir-se como camponês. Convencido de
que ninguém deveria depender do trabalho alheio para viver, passou a
limpar seu quarto, a plantar a comida da qual se alimentava e a produzir
as próprias roupas e botas. Suas ideias atraíram um séquito de
seguidores, que se denominavam “tolstoianos”. Como resultado, Tolstói
passou a ser vigiado pela polícia do czar.
Porém, Sônia não o deixava alcançar a simplicidade. Ela lhe cobrava
os luxos aos quais estava acostumada. Os filhos davam razão à mãe, que
ameaçava matar-se quando o escritor dizia que fugiria de casa. A partir
de 1883, houve uma disputa entre sua esposa e Tchértkov, um militar que
gozava da confiança do autor e que se tornou um paladino de suas ideias
na Rússia. Sônia foi nomeada controladora de seu patrimônio, combatendo o
marido, que acreditava nos feitos purificadores da caridade.
Obviamente, a bondade de Tolstói levou-o a afastar-se do governo, da
justiça e da Igreja Ortodoxa russa; acabou excomungado.
No período final de sua vida, acentuou-se a briga entre Sônia
e Tchértkov. Agora o motivo eram os direitos autoriais de seus livros.
Em 1908, Tchértkov escreveu um testamento em nome de Tolstói, onde
outorgava a si mesmo o direito sobre os livros após a morte do autor. O
militar foi para história como um mal intencionado que se aproveitava da
credulidade do autor de Guerra e Paz. Provavelmente mereceu
tal má fama póstuma. O fato é que os anos próximos à morte do escritor
foram um inferno familiar. O conflito com Sônia era tal que Tolstói fez o
que já fizera em oportunidades anteriores: fugiu de casa. Sônia não se
matou, na verdade foi mais uma vez atrás do marido fugitivo. Só que
desta vez ele morreu em meio à fuga. Faleceu na aldeia de Astápovo, em 7
de novembro de 1910. Anos depois, Sônia recuperou para a família os
direitos sobre a obra de seu marido.
Poema da gare de Astapovo, de Mario Quintana
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua…
Sentou-se …e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta…)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu…
Ele fugiu de casa…
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua…
Sentou-se …e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta…)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu…
Ele fugiu de casa…
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!
sábado, 8 de setembro de 2012
A resistência hondurenha declara e intensifica a luta pelo socialismo
Teresa Gutierrez no ODIARIO.INFO
Em
Honduras, há três anos, o popular presidente Manuel Zelaya,
democraticamente eleito, foi ilegalmente deposto num golpe de estado
apoiado e instigado pelos EUA. O golpe de estado marcou o começo de um
reinado de terror. Mas também fez surgir um amplo movimento de
resistência, cuja base social se alarga, e que começa a formular
objectivos políticos avançados.
Algo
de maravilhoso e histórico está a acontecer no pequeno país das
Honduras na América Central. Apesar do terror imposto pelas classes
governantes dos Estados Unidos e das Honduras, apesar dos espancamentos e
dos assassinatos, apesar da pobreza de séculos e da miséria, as massas e
as suas organizações estão a organizar-se, mobilizando e respondendo
aos ataques.
De facto, os acontecimentos nas Honduras trazem hoje brilhantemente à vida o velho dito “A repressão gera resistência”.
Há três anos, em Junho de 2009, o popular presidente Manuel Zelaya democraticamente eleito foi ilegalmente deposto num golpe de estado apoiado pelos EUA. O golpe de estado marcou o começo de um reinado de terror. Mas, também deu luz à resistência.
Há três anos, em Junho de 2009, o popular presidente Manuel Zelaya democraticamente eleito foi ilegalmente deposto num golpe de estado apoiado pelos EUA. O golpe de estado marcou o começo de um reinado de terror. Mas, também deu luz à resistência.
O golpe foi sintomático da desesperada vontade do imperialismo
norte-americano e seus compinchas corruptos de fazerem retroceder a maré
revolucionária que varre a América Latina e as Caraíbas.
Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e outros países são parte de um
movimento de esquerda que está a romper com o imperialismo
norte-americano e tratando de construir sociedades que ponham as
necessidades do povo à frente dos lucros da Wall Street.
As Honduras não foram uma excepção. Zelaya tentou levar a cabo
mudanças que permitiam aliviar a miséria das massas hondurenhas, como
aumentar o salário mínimo e tomar controlo dos recursos naturais das
Honduras.
Devido à sua ação, foi levado a cabo um golpe de direita com pleno
conhecimento e cumplicidade de Washington. De facto, o plano para o
golpe de estado foi urdido na base aérea americana de Palmerola que
Zelaya tinha tentado converter num aeroporto civil internacional.
Foi imposto um governo bem pró-capitalista, contra os pobres, anti-laboral e a favor da elite quando, apesar da resistência popular, o presidente fraudulento Pepe Lobo assumiu ilegitimamente o governo.
Foi imposto um governo bem pró-capitalista, contra os pobres, anti-laboral e a favor da elite quando, apesar da resistência popular, o presidente fraudulento Pepe Lobo assumiu ilegitimamente o governo.
Contudo, como disse Karl Marx, a classe capitalista cria os seus próprios coveiros. É o que está a acontecer hoje nas Honduras.
Nova etapa na luta de resistência
O golpe de Estado abriu um novo capítulo na luta revolucionária nas
Honduras. As massas despertaram e estão a tomar o assunto em suas
próprias mãos. Activistas e militantes de há muito tempo uniram-se aos
jovens, trabalhadores, estudantes, mulheres, camponeses, comunidade
lésbica/gay/bissexual/transgénero, organizações garifunas (grupo étnico
da costa do Belize e Honduras – N.T.) e indígenas e formaram
organizações populares e frentes unidas.
Isto inclui a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), formação com 3 anos que se está fortalecendo todos os dias.
A 1 de Julho, a resistência anunciou ao mundo uma nova fase da luta. Este anúncio extraordinário resume-se com o lema da FNRP: “Vamos da Resistência para o Socialismo!”.
A 1 de Julho, a resistência anunciou ao mundo uma nova fase da luta. Este anúncio extraordinário resume-se com o lema da FNRP: “Vamos da Resistência para o Socialismo!”.
Este anúncio de um apelo à construção do socialismo nas Honduras é
um sinal tanto para os aliados das Honduras, como para os seus inimigos
de que o movimento está preparado para assumir a luta tanto quanto for
possível.
O histórico anúncio tem importância para a luta de classes em todo o
mundo. Deve ser ouvido em cada bairro, centro comunitário, sindicato ou
praça do mundo. Cada jovem e trabalhador que fez ocupação no Wisconsin,
no parque Zuccotti, na praça Tahrir ou no Zócalo deve conhecer o que
está a acontecer nas Honduras.
Campanha eleitoral revolucionária
A FNRP decidiu há uns meses, através de assembleias, reuniões e
debates fecundos, que a resistência participaria nas eleições
presidenciais de 2013. O movimento formou um novo partido, o Partido
Liberdade e Refundação (Partido Libre), que organizaria os passos
necessários para entrar na disputa eleitoral.
Os revolucionários e marxistas de todo o mundo sabem que as eleições
não provocam mudanças fundamentais. São as massas os agentes reais da
mudança, não as eleições. Pôr fim às relações capitalistas e expropriar
os meios de produção dos patrões dos trabalhadores, é isso que é
necessário para o fim da exploração. Cuba, por exemplo, teve a sua
revolução completa – os cubanos expulsaram a Wall Street e Washington do
seu país para sempre e começaram a organizar a sociedade em benefício
de todos os trabalhadores.
Os revolucionários sabem também que há muitos passos e processos complicados no caminho para a libertação.
As eleições de 2013 nas Honduras podem ser o marco que estabelece um ponto de inflexão nesse caminho para a libertação.
No dia 1 de Julho, na província de Galeras em Santa Bárbara, o
Partido Libre lançou formalmente as candidaturas de Xiomara Castro de
Zelaya, nomeada para presidente, e Juan Barahona, presidente da
Confederação Sindical (FUTH), nomeado para vice-presidente. As massas
viajaram pelos seus próprios meios mais de 130 km em terrenos difíceis
desde a principal cidade Tegucigalpa e de todo o país para se reunirem
em Santa Bárbara, onde Castro nasceu e se criou.
Ambos os candidatos são bem conhecidos, não só nas Honduras, como
também fora do país. Castro, chamada carinhosamente pelo seu primeiro
nome Xiomara, foi a “primeira-dama” no mandato de Zelaya, ao passo que
Barahona é um dirigente sindicalista de há muitos anos. Ambos são
membros e dirigentes da resistência.
Os trabalhadores que vêm de fora de Tegucigalpa sabem que devem
dirigir-se ao salão do sindicato STIBYS para obterem não apenas
informação sobre onde se realizará a ação seguinte, mas também
alimentos, abrigo e água. Grande parte do movimento junta-se no salão do
sindicato.
A esperança na mudança atrai as massas
O povo das Honduras é um dos mais pobres do mundo. É o segundo país
mais pobre do hemisfério a seguir ao Haiti. Segundo o Banco Mundial, 65
por cento da população vive abaixo do nível de pobreza. Mais de 30 por
cento da população, num país de 8 milhões, vive em extrema pobreza.
Desta maneira, não é pouca coisa para um trabalhador viajar de uma
cidade para outra por sua vontade própria para participar num evento de
campanha por uma eleição a mais de um ano de distância. No entanto,
vieram milhares e milhares de pessoas! O que as impeliu?
Tive o privilégio de viajar para as Honduras não muito depois do golpe de estado e tive também o privilégio de ver o vídeo do lançamento da campanha de 1 de julho com alguns dos dirigentes da resistência nos Estados Unidos.
Tive o privilégio de viajar para as Honduras não muito depois do golpe de estado e tive também o privilégio de ver o vídeo do lançamento da campanha de 1 de julho com alguns dos dirigentes da resistência nos Estados Unidos.
É evidente pelas entrevistas com hondurenhos obtidas pelo Workers
World Party (Partido do Mundo Operário) e pelas palavras dos candidatos
de 1 de Julho que o que levou as massas a Santa Bárbara foi a esperança.
Esperança que a vida nas Honduras não vá continuar a mesma. Esperança
que a sociedade esteja mudando para algo melhor, que as centenas de
camponeses, jornalistas, sindicalistas e pessoas LGBT que foram
assassinadas desde 2009 não tenham morrido em vão.
O que motivou as massas foi a perspectiva de que muitos sectores da
sociedade finalmente se estão a unir sob uma unidade revolucionária sem
precedentes para mudar nos seus fundamentos a sociedade hondurenha.
Esta unidade surge no contexto dos últimos três anos quando o
movimento não se deteve apesar da repressão e da brutalidade. O ponto
principal da unidade entre todos os sectores sociais promulgado pela
FNRP e pelo Partido Libre parece ser a não-aceitação do golpe. Não se
trata de pouca coisa frente à repressão e aos soldados americanos e aos
agentes da Agência Antidrogas dos EUA que estão sempre presentes.
Sejam estudantes ou camponeses, mulheres ou desempregados, homossexuais ou heterossexuais, intelectuais ou operários, o povo das Honduras está a construir heroicamente uma ampla frente unida não apenas contra o golpe, mas também para dar um passo em frente revolucionário e radical.
Sejam estudantes ou camponeses, mulheres ou desempregados, homossexuais ou heterossexuais, intelectuais ou operários, o povo das Honduras está a construir heroicamente uma ampla frente unida não apenas contra o golpe, mas também para dar um passo em frente revolucionário e radical.
Ao ler as palavras da candidata à presidência no dia da sua nomeação, torna-se claro que um novo dia desponta nas Honduras.
“Construamos uma sociedade socialista”
Xiomara Castro de Zelaya disse sob o sol brilhante da manhã na
plataforma rodeada por camponeses e camponesas e membros de sindicatos,
com seu filho, filha e esposo (o ex-presidente Zelaya) “Vem, gente das
Honduras, construamos uma sociedade socialista e democrática. Vamos
derrotar o estado burguês e construir um estado socialista.”
Xiomara evocou a luta global enquanto rendeu homenagem à resistência
no Médio Oriente, ao movimento Ocupar Wall Street e aos “indignados” em
Espanha.
A intervenção, um apelo às armas, pareceu-se mais com um discurso
nalguma assembleia da Cuba socialista do que a intervenção de uma
candidata a presidente. Foi um exemplo de como a luta das massas
hondurenhas e a unidade do movimento impulsionou uma consciência
revolucionária.
Um grupo de dirigentes nas Honduras decidiu condenar-se ao suicídio
classista, romper com a elite e unir-se às massas na sua luta pela
libertação. Para ajudar a garantir que os dirigentes se mantenham com as
massas torna-se mais importante que nunca fazer o trabalho necessário
para erguer a luta, tarefa muito difícil e arriscada, mas que a
resistência está claramente empreendendo e ganhando.
O apelo das Honduras despertará a ira da classe governante dos EUA para sempre. Para Xiomara, Barahona, Mel Zelaya, e a Frente e o Partido Libre, declarar que a luta das massas hondurenhas seja pelo socialismo é equivalente a declarar guerra contra Washington, uma guerra que os hondurenhos devem ganhar.
O apelo das Honduras despertará a ira da classe governante dos EUA para sempre. Para Xiomara, Barahona, Mel Zelaya, e a Frente e o Partido Libre, declarar que a luta das massas hondurenhas seja pelo socialismo é equivalente a declarar guerra contra Washington, uma guerra que os hondurenhos devem ganhar.
A gente progressista e revolucionária quer ser parte deste momento
histórico e não ficar de fora. As massas foram despertadas pelo golpe,
mas foram-no igualmente outros setores da sociedade.
Por esta razão, agora é a hora para entrar nas fileiras do movimento
revolucionário nas Honduras. Construir a luta pela solidariedade e
unidade com as Honduras, especialmente aqui no ventre da besta
imperialista americana, ajudará a garantir que o movimento possa dar
passos em frente para transformar as Honduras num país que defende os
interesses dos trabalhadores e não as elites capitalistas.
Viva a FNRP e o Partido Libre! Viva a resistência e viva o povo em luta nas Honduras!
Para ler a versão completa das intervenções de Xiomara Castro e Juan Barahona, visite resistenciahonduras.net.
Tradução: Jorge Vasconcelos
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movimentos sociais
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Álvaro Uribe: O Senhor da guerra
agência PRENSA LATINA |
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Ditaduras,
socialismo
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Nota da CNTE sobre Adin contra a Lei do Piso
Sitio da CNTE |
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centrais sindicais,
Cpers,
inimigos da coisa pública,
movimentos sociais
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Kátia Abreu ataca direito de greve
Por Altamiro Borges
A ruralista Kátia Abreu (PSD-TO), a senadora que mais sabota
a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) contra o trabalho escravo,
resolveu atacar o direito de greve dos servidores públicos. Em seu artigo
semanal na Folha, ela confirmou sua visão escravocrata. Para ela, é
urgente regulamentar o artigo da Constituição que trata deste tema, já que “o
vazio jurídico tem permitido, algumas vezes, que esse direito seja exercido
imoderadamente e sem qualquer limite, com graves danos à sociedade e à economia”.
A presidenta da Confederação Nacional da Agricultura
(CNA),
que reúne os maiores latifundiários do país, está preocupada com a onda
de greves no setor público. Neste sentido, ela defende que o parlamento
aprove
com urgência uma lei que restrinja este direito. “Não podemos prosseguir
nessa
omissão”, adverte. Para ela, “o Estado deve ser o espaço de todos – e
não
apenas de alguns grupos circunstancialmente poderosos”. Será que Kátia
Abreu
está fazendo autocrítica do poderoso e mesquinho lobby dos ruralistas?
A pressão das forças antissindicais
O artigo da senadora não foi publicado por acaso.
Nas últimas semanas, cresceu a pressão midiática pela regulamentação do direito
de greve dos servidores públicos. A Constituição de 1988 – também chamada de “Constituição
Cidadã” por Ulisses Guimarães –, garantiu pela primeira vez na história, no seu
inciso VI, do artigo 37, “o direito à livre associação sindical” ao
funcionalismo. Já o inciso VII do mesmo artigo assegurou o direito de greve e
determinou que ele “será exercido nos termos e nos limites definidos em lei”.
Até hoje, o parlamento não definiu estes parâmetros. Ele também
nada fez para garantir o legítimo direito à negociação coletiva aos servidores
públicos, segundo as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Com
a recente onda de paralisações na esfera federal, a direita nativa passou a
bater bumbo pela restrição às greves no serviço público. Os jornalões
publicaram dezenas de artigos e editorias para satanizar os grevistas, instigando
o ira da sociedade. A direita, porém, nada fala sobre o direito à negociação
coletiva.
Retrocesso do governo Dilma
Neste clima de terror, a presidenta Dilma Rousseff
surpreendeu as bases sindicais que a apoiaram ao endurecer nas negociações e ao
editar uma portaria que permite a utilização de fura-greves no setor público.
Todas as centrais condenaram a iniciativa autoritária do governo. Também neste
cenário adverso, o Congresso Nacional decidiu se submeter à pressão da direita –
partidária e midiática – e acelerar a votação do projeto de lei 710/2011, do
senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que golpeia o direito de greve no setor
público.
Nesta segunda-feira (3), ocorreu a primeira audiência para
tratar do tema no Senado. Segundo relato de Najla Passos, do sítio Carta Maior, o
resultado não agradou as forças antissindicais. A audiência firmou dois
consensos. “Primeiro, o de que não é possível regulamentar o direito de greve
sem, paralelamente, aprovar uma política de reajuste para as categorias.
Segundo, o de que o assunto não pode ser discutido de afogadilho, no bojo de um
movimento que conta com especial campanha conduzida pela mídia para
criminalizá-lo”.
O lobby dos patrões
Conforme alertou o senador Paulo Paim (PT-RS), “regulamentar
o direito de greve é uma coisa. Proibir é outra. Não podemos avalizar um
projeto que inviabilizará a greve para os trabalhadores públicos. O direito de
greve foi instrumento até para conquistarmos a nossa democracia e deve ser
assegurado a todos”. Até o representante do Ministério do Trabalho, Manoel
Messias, concordou que é preciso cautela no debate. “É estranho se
regulamentar o direito de greve sem, primeiro, definir as regras da convenção
coletiva dos servidores”.
A ruralista Kátia Abreu, habituada a tratar na chibata os
trabalhadores, não deve ter gostado muito desta “cautela”. Isto explica o seu
artigo!
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