Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
MPF/MS denuncia 19 pessoas por homicídio de cacique guarani-kaiowá
Da Redação do SUL21
O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul denunciou 19
pessoas a responderem como réus na Justiça por vários crimes
relacionados à expulsão dos indígenas do acampamento Guaiviry, instalado
em área mata nativa de propriedade rural, localizada no sul do estado
mato-grossense.
A ação aconteceu no dia 18 de novembro de 2011 e resultou na morte do
cacique Nízio Gomes e em lesões corporais ao indígena Jhonaton
Velasques Gomes. Foram utilizadas ao menos seis armas de fogo calibre 12
na ação, ainda que com munição menos letal. Sete réus continuam presos.
O crime repercutiu internacionalmente e colocou em foco o “ambiente
onde imperam o preconceito, a discriminação, a violência e o constante
desrespeito a direitos fundamentais” dos 44 mil guarani-kaiowá e
guarani-ñandeva que vivem em Mato Grosso do Sul, como descreve a
denúncia do MPF.
Crimes
Dos 19 acusados, 3 respondem por homicídio qualificado, lesão
corporal, ocultação de cadáver, porte ilegal de arma de fogo e corrupção
de testemunha; 4, por homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação
de cadáver, porte ilegal de arma de fogo; e 12, por homicídio
qualificado, lesão corporal, quadrilha ou bando armado e porte ilegal de
arma de fogo.
As investigações revelaram que, após a ocupação da área de mata da
fazenda pela comunidade indígena, em 1º de novembro de 2011, um grupo
iniciou planejamento com o objetivo de promover a retirada violenta dos
indígenas. Na madrugada de 18 de novembro, iniciou-se a ação. O objetivo
era a expulsão violenta da comunidade indígena. Ao chegar na trilha que
dá acesso ao interior do acampamento, o grupo abordou o cacique Nízio
Gomes (55 anos), que ofereceu resistência. Iniciou-se intenso confronto,
em que Nízio Gomes foi alvejado, resultando em sua morte. O corpo de
Nízio Gomes até hoje não foi localizado, mesmo com a realização de
buscas até em território paraguaio.
Homicídio apurado mesmo sem o corpo
Sobre a não localização do corpo ou dos restos mortais, para o MPF há
provas e indícios suficientes do homicídio qualificado do cacique Nízio
Gomes. Além das declarações dos réus e do depoimento de testemunhas,
laudo pericial apontou a existência de vestígios de sangue em fragmentos
de madeira e na terra do interior da trilha do Tekoha Guaiviry. Exame
de DNA confirmou ser “perfil genético de indivíduo do sexo masculino,
geneticamente relacionado à mãe e aos filhos de Nízio Gomes”.
Com informações do Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul
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movimento indigena,
POLITICAS PUBLICAS,
sustentabilidade,
trabalho escravo
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
“Nova classe média”: preferências econômicas e políticas
Embora o adensamento das camadas intermediárias seja um fenômeno incontestável, a maior parte das pesquisas que captam essa mudança incorre em dois erros: há uma associação superficial entre renda individual e classe social e há uma relação inadequada entre renda média e estrato médio. Para compreender essas mudanças em sua inteireza é preciso empreender uma análise que incorpore outras variáveis. O artigo e de William Nozaki.
William Nozaki (*) no CARTA MAIOR
Classe C e Nova Classe Média
Em
comparação com os últimos cinqüenta anos, o Brasil convive atualmente
com uma experiência inédita na transformação de sua estrutura social. As
políticas de elevação real do salário mínimo, de expansão da oferta de
crédito e de ampliação dos programas de transferência de renda
estimularam o crescimento do PIB com base no avanço do mercado interno e
originaram um tripé socioeconômico virtuoso caracterizado pelo aumento
do mercado formal de trabalho, pela redução da pobreza e pela melhora na
distribuição de renda.
Essa combinação de fatores tem como uma de suas principais conseqüências um fenômeno nem sempre analisado com o devido cuidado e rigor: o crescimento daquilo que se chama de modo inapropriado de “classe C” ou “nova classe média”.
Embora o adensamento das camadas intermediárias seja um fenômeno incontestável, a maior parte das pesquisas que captam essa mudança incorre em dois erros:
(i) Há uma associação superficial entre renda individual e classe social. O fato, por exemplo, de um trabalhador industrial qualificado e um professor universitário auferirem a mesma renda pode ser encarado como um indicador macroeconômico de redução da desigualdade. Mas, sociologicamente, diz muito pouco, ou quase nada, sobre seus estilos de vida distintos e seus hábitos de consumo diferentes. Tais ganhos, certamente, serão utilizados a partir de referências culturais e entre redes sociais que não garantem nenhum laço de pertencimento de classe, pelo contrário: o mais provável é que a realização do consumo revele status sociais ainda muito desiguais. Nesse sentido, há muitas diferenças entre o estilo de vida da classe média estabelecida e da chamada “nova classe média” que estão longe de ser transpostas.
(ii) Há uma relação inadequada entre renda média e estrato médio. Na maior parte das vezes, os estudos que abordam o assunto referem-se à média em seu sentido algébrico, ou seja: média é a posição matemática daquilo que está igualmente distante dos pontos extremos. Como a distribuição de renda no país é historicamente severa, como há uma distância muito grande entre os muito ricos e os extremamente pobres, o agrupamento intermediário orbita numa vasta faixa de rendimentos que vai, aproximadamente, de R$ 1000 a R$ 5000. Essa zona de estratificação dilatada impede análises mais criteriosas. Sendo assim, as denominações “classe C” e “nova classe média” são infelizes, posto que transmitem a impressão de que o Brasil está se tornando aquilo que não é: um país em que os remediados são a maioria e no qual a pobreza vai tornando-se um problema residual.
Para compreender essas mudanças em sua inteireza é preciso empreender uma análise que incorpore outras variáveis como estrutura ocupacional, acesso a mercadorias privadas e a serviços públicos, padrões de consumo, entre outros.
Perfil e preferências econômicas:
Essa combinação de fatores tem como uma de suas principais conseqüências um fenômeno nem sempre analisado com o devido cuidado e rigor: o crescimento daquilo que se chama de modo inapropriado de “classe C” ou “nova classe média”.
Embora o adensamento das camadas intermediárias seja um fenômeno incontestável, a maior parte das pesquisas que captam essa mudança incorre em dois erros:
(i) Há uma associação superficial entre renda individual e classe social. O fato, por exemplo, de um trabalhador industrial qualificado e um professor universitário auferirem a mesma renda pode ser encarado como um indicador macroeconômico de redução da desigualdade. Mas, sociologicamente, diz muito pouco, ou quase nada, sobre seus estilos de vida distintos e seus hábitos de consumo diferentes. Tais ganhos, certamente, serão utilizados a partir de referências culturais e entre redes sociais que não garantem nenhum laço de pertencimento de classe, pelo contrário: o mais provável é que a realização do consumo revele status sociais ainda muito desiguais. Nesse sentido, há muitas diferenças entre o estilo de vida da classe média estabelecida e da chamada “nova classe média” que estão longe de ser transpostas.
(ii) Há uma relação inadequada entre renda média e estrato médio. Na maior parte das vezes, os estudos que abordam o assunto referem-se à média em seu sentido algébrico, ou seja: média é a posição matemática daquilo que está igualmente distante dos pontos extremos. Como a distribuição de renda no país é historicamente severa, como há uma distância muito grande entre os muito ricos e os extremamente pobres, o agrupamento intermediário orbita numa vasta faixa de rendimentos que vai, aproximadamente, de R$ 1000 a R$ 5000. Essa zona de estratificação dilatada impede análises mais criteriosas. Sendo assim, as denominações “classe C” e “nova classe média” são infelizes, posto que transmitem a impressão de que o Brasil está se tornando aquilo que não é: um país em que os remediados são a maioria e no qual a pobreza vai tornando-se um problema residual.
Para compreender essas mudanças em sua inteireza é preciso empreender uma análise que incorpore outras variáveis como estrutura ocupacional, acesso a mercadorias privadas e a serviços públicos, padrões de consumo, entre outros.
Perfil e preferências econômicas:
Sob essa
perspectiva o que se evidencia é que o mais adequado é denominar o
estrato que ascendeu socialmente e economicamente nos últimos anos de
nova classe trabalhadora urbana. Do ponto de vista ocupacional, trata-se
de vendedores, balconistas, motoristas, motoboys, profissionais de
telemarketing, os diversos tipos de auxiliares que atuam em empresas e
comércios, recepcionistas, cabelereiros, garçons e uma heterogeneidade
de trabalhadores qualificados.
Do ponto de vista da educação, seus integrantes na maioria são aqueles que utilizam as escolas públicas ou escolas particulares com mensalidades mais baixas; e do ponto de vista da saúde, são aqueles que necessitam dos hospitais públicos ou de planos de saúde mais baratos. Esse balanceio instável entre os serviços públicos e as possibilidades privadas mais “em conta” se reproduz em outras esferas: habitação, transporte, segurança, alimentação, cultura, lazer, entretenimento etc.
Por esses motivos, ao contrário da classe média estabelecida que se queixa dos impostos inadvertidamente, a nova classe trabalhadora percebe com contrariedade o aumento de impostos, taxas e tarifas pois sua elevação lhe afeta mais diretamente o poder de compra, mas ela também reconhece a importância e a necessidade dos serviços públicos pois depende deles mais frequentemente.
Essa nova classe trabalhadora, em grande medida, trabalha de 10 a 14 horas por dia, tem dois ou mais empregos, trabalha de dia enquanto estuda a noite, e nas grandes cidades enfrenta horas de transporte público enquanto se desloca entre a casa e o trabalho. Também por esses motivos, ao contrário da classe média tradicional que tudo atribui ao mérito individual, a nova classe trabalhadora percebe sua ascensão como fruto do esforço individual e de privações, mas sabe que precisa contar frequentemente com alguma rede de solidariedade e laços fraternos entre os amigos e os vizinhos.
Mais do que outros estratos, esse grupo se beneficia da expansão do crédito ao consumidor e está satisfeito com a possibilidade de adquirir novos bens considerados indispensáveis para o conforto doméstico e para a melhora na qualidade de vida na cidade, esse grupo está disposto a encontrar sua sociabilidade pelos caminhos do consumo.
Idéias e preferências políticas:
Do ponto de vista da educação, seus integrantes na maioria são aqueles que utilizam as escolas públicas ou escolas particulares com mensalidades mais baixas; e do ponto de vista da saúde, são aqueles que necessitam dos hospitais públicos ou de planos de saúde mais baratos. Esse balanceio instável entre os serviços públicos e as possibilidades privadas mais “em conta” se reproduz em outras esferas: habitação, transporte, segurança, alimentação, cultura, lazer, entretenimento etc.
Por esses motivos, ao contrário da classe média estabelecida que se queixa dos impostos inadvertidamente, a nova classe trabalhadora percebe com contrariedade o aumento de impostos, taxas e tarifas pois sua elevação lhe afeta mais diretamente o poder de compra, mas ela também reconhece a importância e a necessidade dos serviços públicos pois depende deles mais frequentemente.
Essa nova classe trabalhadora, em grande medida, trabalha de 10 a 14 horas por dia, tem dois ou mais empregos, trabalha de dia enquanto estuda a noite, e nas grandes cidades enfrenta horas de transporte público enquanto se desloca entre a casa e o trabalho. Também por esses motivos, ao contrário da classe média tradicional que tudo atribui ao mérito individual, a nova classe trabalhadora percebe sua ascensão como fruto do esforço individual e de privações, mas sabe que precisa contar frequentemente com alguma rede de solidariedade e laços fraternos entre os amigos e os vizinhos.
Mais do que outros estratos, esse grupo se beneficia da expansão do crédito ao consumidor e está satisfeito com a possibilidade de adquirir novos bens considerados indispensáveis para o conforto doméstico e para a melhora na qualidade de vida na cidade, esse grupo está disposto a encontrar sua sociabilidade pelos caminhos do consumo.
Idéias e preferências políticas:
Esse
conjunto de ambigüidades leva a crer que a nova classe trabalhadora não
necessariamente tem uma consciência conservadora. Pelo contrário, esse
setor está potencialmente disponível e aberto a visões mais
progressistas, seus valores e seu voto podem ser conquistados pela
esquerda.
Para compreender a relação entre as preferências econômicas e políticas dessa nova classe trabalhadora é fundamental considerar que o aumento do poder de compra possibilitou o acesso a novos canais de formação e informação, mais do que isso: tais canais têm sido ocupados, sobretudo, por um número significativo de jovens, é a partir desse grupo que se irradiam certas opiniões políticas e eleitorais.
A progressiva ampliação do acesso à educação e à internet tem promovido uma importante mudança em suas exigências e interesses políticos. No atual contexto, o eixo da formação de opinião se deslocou dos pais ou de velhas lideranças locais (representantes comunitários, padres e pastores) para os filhos.
A maior parte desses jovens tem níveis de escolaridade mais elevados do que os dos pais, estão conquistando uma melhor inserção profissional e seguem atentos para as mudanças tecnológicas, por isso eles são ouvidos com maior atenção dentro das suas famílias e comunidades, atuando como referências prioritárias para a formação de opinião, de forma mais incisiva do que as propagandas e a própria televisão.
Os pais dessa nova geração enxergavam o mundo pela ótica da carência que marca a periferia, observavam os políticos considerando aquilo que não havia sido feito e permaneciam mais suscetíveis à promessas de campanhas eleitorais. Já essa nova geração, ao circular por novos espaços como a universidade e as redes sociais, enxerga o mundo por uma ótica mais ampla, dispõem de um maior número de referências para operar comparações, avaliam os políticos e os partidos considerando aquilo que deveria ter sido feito e nutrem maior desconfiança com relação a promessas de campanhas eleitorais. Vale ainda notar que, se, por um lado, eles não desejam o estilo de vida da elite, por outro lado, eles desejam continuar ascendendo socialmente.
Essa disposição para a mudança, entretanto, passa por marcos ambivalentes: esses jovens acreditam na política, mas não crêem em partidos; reconhecem a importância da coletividade, mas almejam crescer individualmente; buscam transformações, mas são pouco afeitos a rupturas; anseiam por novas idéias, mas são também pragmáticos. Em suma, esse novo caldo cultural exigirá renovações tanto na forma como se realiza a política partidária quanto no conteúdo das políticas públicas que se implementam.
A mistura entre valores do liberalismo, do individualismo, da ascensão pelo trabalho e do sucesso pelo mérito, com valores mais solidários e coletivistas relacionadas à atuação do Estado, à universalização de direitos, à ampliação da inclusão social, permeiam a visão de mundo e o imaginário dessa nova classe trabalhadora.
A nova classe trabalhadora entendida como um novo sujeito político pode fazer toda a diferença nos embates sociais, políticos, ideológicos e eleitorais que serão travados de agora em diante.
(*) William Nozaki é Sociólogo e Economista, professor da Universidade Mackenzie e doutorando em desenvolvimento econômico (IE/Unicamp).
Para compreender a relação entre as preferências econômicas e políticas dessa nova classe trabalhadora é fundamental considerar que o aumento do poder de compra possibilitou o acesso a novos canais de formação e informação, mais do que isso: tais canais têm sido ocupados, sobretudo, por um número significativo de jovens, é a partir desse grupo que se irradiam certas opiniões políticas e eleitorais.
A progressiva ampliação do acesso à educação e à internet tem promovido uma importante mudança em suas exigências e interesses políticos. No atual contexto, o eixo da formação de opinião se deslocou dos pais ou de velhas lideranças locais (representantes comunitários, padres e pastores) para os filhos.
A maior parte desses jovens tem níveis de escolaridade mais elevados do que os dos pais, estão conquistando uma melhor inserção profissional e seguem atentos para as mudanças tecnológicas, por isso eles são ouvidos com maior atenção dentro das suas famílias e comunidades, atuando como referências prioritárias para a formação de opinião, de forma mais incisiva do que as propagandas e a própria televisão.
Os pais dessa nova geração enxergavam o mundo pela ótica da carência que marca a periferia, observavam os políticos considerando aquilo que não havia sido feito e permaneciam mais suscetíveis à promessas de campanhas eleitorais. Já essa nova geração, ao circular por novos espaços como a universidade e as redes sociais, enxerga o mundo por uma ótica mais ampla, dispõem de um maior número de referências para operar comparações, avaliam os políticos e os partidos considerando aquilo que deveria ter sido feito e nutrem maior desconfiança com relação a promessas de campanhas eleitorais. Vale ainda notar que, se, por um lado, eles não desejam o estilo de vida da elite, por outro lado, eles desejam continuar ascendendo socialmente.
Essa disposição para a mudança, entretanto, passa por marcos ambivalentes: esses jovens acreditam na política, mas não crêem em partidos; reconhecem a importância da coletividade, mas almejam crescer individualmente; buscam transformações, mas são pouco afeitos a rupturas; anseiam por novas idéias, mas são também pragmáticos. Em suma, esse novo caldo cultural exigirá renovações tanto na forma como se realiza a política partidária quanto no conteúdo das políticas públicas que se implementam.
A mistura entre valores do liberalismo, do individualismo, da ascensão pelo trabalho e do sucesso pelo mérito, com valores mais solidários e coletivistas relacionadas à atuação do Estado, à universalização de direitos, à ampliação da inclusão social, permeiam a visão de mundo e o imaginário dessa nova classe trabalhadora.
A nova classe trabalhadora entendida como um novo sujeito político pode fazer toda a diferença nos embates sociais, políticos, ideológicos e eleitorais que serão travados de agora em diante.
(*) William Nozaki é Sociólogo e Economista, professor da Universidade Mackenzie e doutorando em desenvolvimento econômico (IE/Unicamp).
domingo, 25 de novembro de 2012
O Fórum Palestina Livre e o movimento sionista
Se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos
Baby Siqueira Abrão no BRASIL DE FATO
Representantes
do movimento sionista no Brasil tentam por vários meios impedir o
brilho do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), que será
realizado entre 28 de novembro e 1º. de dezembro de 2012 em Porto
Alegre, RS. O embaixador de Israel no Brasil e uma comitiva da Federação
Israelita do Rio Grande do Sul chegaram a dizer, numa reunião com Tarso
Genro, temer o ataque de “extremistas” palestinos a propriedades de
judeus no Brasil.
O argumento é falso e os sionistas sabem disso.
Sabem também que, se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus
vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos, suas
casas, plantações, rebanhos, com o apoio de soldados do Exército
israelense. Sabem, igualmente, que o povo palestino há muito optou pela
resistência não-violenta à ocupação – esta sim, violenta – militar a que
Israel o submete. O objetivo tácito das declarações dos sionistas é
criminalizar mais uma vez os palestinos, para justificar os crimes que
os governos de Israel cometem contra o povo nativo, semita, da
Palestina.
Seja como for, os sionistas venceram em alguns pontos.
Persuadiram o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, a retirar o
apoio que prometera dar ao Fórum. Até mesmo o local, a Usina do
Gasômetro, foi negado. O Fórum só poderá usar um andar, o térreo. Esta
semana foi a vez do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Sul, Alexandre Postal, impedir que o FSMPL utilizasse espaços do
prédio da Assembleia para a realização de algumas das mais de 100
atividades inscritas no Fórum por organizações de 36 países. O
governador Tarso Genro, porém, manteve seu apoio à realização do Fórum.
Por
isso mesmo, tornou-se alvo das críticas de um raivoso colunista,
conhecido por suas ligações com o movimento sionista, em seu blogue numa
revista que chegou a ser pautada pelo crime organizado. O colunista
chegou a citar a Constituição brasileira, afirmando que Genro teria
violado seu artigo 4o,
sem se dar conta de que os princípios citados defendem tudo aquilo que
os governos sionistas de Israel nunca observaram em relação aos
palestinos: independência nacional, prevalência dos direitos humanos,
autodeterminação, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da
paz, solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao
racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade,
concessão de asilo político. Vejam-se as resoluções das Nações Unidas sobre
Israel – resoluções que o Estado sionista jamais cumpriu – e os vídeos e
fotos feitos na Palestina que estão na internet para conferir as
violações de Israel ao direito internacional.
A veiculação de comentários falaciosos sobre o Fórum tem o objetivo de, ao desinformar
a população, tecendo críticas insensatas ao evento e ao povo palestino,
colocar parte da opinião pública brasileira contra a causa palestina e
suas iniciativas, bem como impedir que a narrativa palestina sobre a
destruição de seu país, sobre o genocídio e a expulsão sofridos por sua
população para que os sionistas pudessem criar ali um Estado, seja
divulgada e conhecida pelos brasileiros.
Por ter o controle dos
meios de comunicação dominantes, o movimento sionista vem divulgando há
mais de 60 anos apenas a sua versão sobre a criação de Israel. A
verdade, porém, é que essa versão é falsa, constituída sobre uma base
histórica fantasiosa e distorcida, como provam os documentos dos
próprios sionistas que foram desclassificados (liberados para
conhecimento público) em meados dos anos 1970 e que corroboraram tudo
aquilo que os palestinos já vinham contando sobre a catástrofe, a Nakba,
que se abateu sobre eles com a chegada dos sionistas à Palestina. Um
dos objetivos do FSMPL é, precisamente, dar voz à narrativa palestina,
para reafirmar a justeza de sua causa: pôr fim à ocupação militar
israelense e à violência que a caracteriza; ter de volta um país
independente e soberano; reaver os direitos humanos básicos que lhes
foram retirados por sucessivos governos de Israel; controlar seus
recursos naturais e impedir a continuidade da devastação e do
envenenamento de seu ambiente, hoje submetido à exploração comercial
israelense e às substâncias tóxicas que o Exército de Israel atira em
território palestino com mísseis e bombas que vitimizam civis inocentes;
evitar a destruição de sua base econômica e de seu meio de vida – as
plantações e as oliveiras –, alvos frequentes das violentas ações de
colonos que vivem ilegalmente em território palestino; incrementar sua
agricultura sem agredir a Natureza e buscar, de modo independente,
outras formas de desenvolver sua economia, sufocada pelo controle
exercido pelos governos sionistas; evitar que seu território e suas
fontes de água sejam confiscados pelo governo israelense para a
construção de colônias – ilegais, conforme entendimento do Tribunal
Internacional de Justiça – exclusivamente habitadas por judeus, grande
parte deles extremistas vindos de outros países.
Os palestinos,
enfim, não exigem nada além daquilo que é garantido a todos os seres
humanos – que, pelo simples fato de existirem, são portadores de
direitos, assegurados pela legislação internacional. A diferença entre
os palestinos e outros povos do mundo é que, no caso palestino, esses
direitos são negados pelos governos sionistas de Israel. É por esse
motivo que eles se mobilizam e lutam, com firmeza e dignidade, por
autonomia, justiça e liberdade.
A causa palestina é hoje
defendida por milhões de pessoas em todo o mundo, num movimento
crescente de proteção da vida humana e da própria espécie, contra
interesses financeiros que têm levado o planeta ao caos social,
econômico, climático e ambiental. A sociedade civil internacional não
aceita que, em pleno século XXI, um povo – o palestino – seja submetido a
um regime de apartheid e de destruição de suas raízes sociais,
históricas e culturais. Indivíduos e movimentos organizados em torno dos
temas da paz, da justiça social, da igualdade de direitos e da
autodeterminação dos povos decidiram organizar o Fórum Social Mundial
Palestina Livre para pensar conjuntamente estratégias não-violentasque
levem mais rapidamente ao fim da ocupação militar sionista da Palestina.
Entre esses indivíduos e movimentos há judeus e israelenses
inconformados com a violência e a repressão a que os governos sionistas
de Israel submetem o povo palestino. O objetivo dessas estratégias é
levar a uma convivência, entre os habitantes daquela parte do mundo,
baseada no respeito, na tolerância, na diversidade e na paz.
Quaisquer
outras coisas que digam os detratores do FSMPL não passa de propaganda
sionista – a hásbara –, que procura por todos os meios deslegitimizar a
causa palestina e seus milhões de apoiadores ao redor do mundo para
justificar os crimes cometidos pelos governos israelenses contra a
população palestina. É preciso mostrar aos sionistas que o povo
brasileiro não permitirá que o Brasil seja transformado em palanque para
sua pregação – uma pregação que procura criminalizar aqueles que, por
estarem ao lado da justiça, dos direitos humanos, do respeito à
multiculturalidade, à multietnicidade, à diversidade de crenças
religiosas (e da não crença), apoiam sem restrições a causa palestina.
Baby Siqueira Abrão é correspondente do Brasil de Fato no Oriente Médio
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Israel e a Operação Chumbo Impune
Por Eduardo Galeano, no sitio da Adital:
Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia
ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza que,
segundo seus autores, quer acabar com os terroristas, conseguirá
multiplicá-los.
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente das eleições, em 2006. Algo parecido havia acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submissos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel; gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.
Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel vai apagando-a do mapa.
Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel ‘tragou’ um pedaço da Palestina, e os ‘almoços’ continuam. A ‘devoração’ se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou; pelos dois anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que os palestinos geram à espreita.
Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas; é o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais; o que se ri das leis internacionais; e é também o único país a legalizar a tortura dos prisioneiros.
Que lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança em Gaza? O governo espanhol não teria podido bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico teria podido arrasar a Irlanda para liquidar a IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica em uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro; mata por horror. As vítimas civis são denominadas ‘danos colaterais’, três são crianças. E os mutilados são milhares, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando exitosamente nessa operação de limpeza étnica.
E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de comunicação em massa de manipulação que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada comunidade internacional existe?
É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro?
Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.
Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.
A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada mestra. Porque a caça de judeus sempre foi costume europeu; porém, há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram,nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonante, uma conta alheia.
(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas assessoradas por Israel).
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente das eleições, em 2006. Algo parecido havia acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submissos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel; gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.
Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel vai apagando-a do mapa.
Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel ‘tragou’ um pedaço da Palestina, e os ‘almoços’ continuam. A ‘devoração’ se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou; pelos dois anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que os palestinos geram à espreita.
Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas; é o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais; o que se ri das leis internacionais; e é também o único país a legalizar a tortura dos prisioneiros.
Que lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança em Gaza? O governo espanhol não teria podido bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico teria podido arrasar a Irlanda para liquidar a IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica em uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro; mata por horror. As vítimas civis são denominadas ‘danos colaterais’, três são crianças. E os mutilados são milhares, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando exitosamente nessa operação de limpeza étnica.
E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de comunicação em massa de manipulação que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada comunidade internacional existe?
É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro?
Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.
Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.
A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada mestra. Porque a caça de judeus sempre foi costume europeu; porém, há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram,nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonante, uma conta alheia.
(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas assessoradas por Israel).
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sábado, 24 de novembro de 2012
O governo paga para ser criticado nas “linhas editoriais” de direita da grande imprensa
Daniela Novais no BRASILIA EM PAUTA
Crédito : Patricia Piccinini
A
distribuição da verba publicitária do governo federal no Brasil é feita
da seguinte maneira: 70% fica nas mãos dos dez maiores veículos de
informação, entre jornais, rádios e tevês. Não passa despercebido o fato
de que os maiores são também os mais conservadores e direitistas do
país, apelidados de “PIG” – Partido da Imprensa Golpista. O jornalista e
escritor Rui Martins resumiu o fato da seguinte maneira: O governo
financia a direita.
Martins
vive atualmente em Berna na Suíça. Foi exilado durante a ditadura, é
líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual
Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty, criou os movimentos
Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, escreveu o livro
“Dinheiro Sujo da Corrupção”, em que fala sobre as contas suíças
secretas de Maluf. Trabalhou em veículos como CBN e Estadão e hoje
colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.
“O
Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a direita e
quem chora e geme é a esquerda”, escreve em um artigo que analisa o
financiamento público a uma imprensa de factoides e manipulação,
preterindo a imprensa esquerdista. Reproduzimos o artigo na íntegra e
recomendamos não só a leitura, mas principalmente a reflexão.
O governo Financia a direita
Rui
Martins – Berna – Suíça - Daqui de longe, vendo o tumulto provocado com
o processo Mensalão e a grande imprensa assanhada, me parece assistir a
um show de hospício, no qual os réus e suspeitos financiam seus
acusadores. O Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a
direita e quem chora e geme é a esquerda.
Não
vou sequer falar do Mensalão, em si mesmo, porque aqui na Suíça, país
considerado dos mais honestos politicamente, ninguém entende o que se
passa no Brasil. Pela simples razão de que os suíços têm seu Mensalão,
perfeitamente legal e integrado na estrutura política do país.
Cada
deputado ou senador eleito é imediatamente contatado por bancos,
laboratórios farmacêuticos, seguradoras, investidores e outros grupos
para fazer parte do conselho de administração, mediante um régio
pagamento mensal. Um antigo presidente da Câmara dos deputados, Peter
Hess, era vice-presidente de 42 conselhos de administração de empresas
suíças e faturava cerca de meio-milhão de dólares mensais.
Com
tal generosidade, na verdade uma versão helvética do Mensalão, os
grupos econômicos que governam a Suíça têm assegurada a vitória dos seus
projetos de lei e a derrota das propostas indesejáveis. E nunca houve
uma grita geral da imprensa suíça contra esse tipo de controle e
colonização do parlamento suíço.
Por
que me parece masoca a esquerda brasileira e nisso incluo a presidente
Dilma Rousseff e o PT ? Porque parecem gozar com as chicotadas
desmoralizantes desferidas pelos rebotalhos da grande imprensa. Pelo
menos é essa minha impressão ao ler a prodigalidade com que o governo
Dilma premia os grupos econômicos seus detratores.
Batam,
batam que eu gosto, parece dizer o governo ao distribuir 70% da verba
federal para a publicidade aos dez maiores veículos de informação
(jornais, rádios e tevês), justamente os mais conservadores e
direitistas do país, contrários ao PT, ao ex-presidente Lula e à atual
presidenta Dilma.
Quando
soube dessa postura masoquista do governo, fui logo querer saber quem é
o responsável por essa distribuição absurda que exclui e marginaliza a
sempre moribunda mídia da esquerda e ignora os blogueiros, responsáveis
pela correta informação em circulação no país.
Trata-se de uma colega de O Globo, Helena Chagas, para quem a partilha é justa – recebe mais quem tem mais audiência! diz ela.
Mas
isso é um raciocínio minimalista! Então, o povo elege um governo de
centro-esquerda e quando esse governo tem o poder decide alimentar seus
inimigos em lugar de aproveitar o momento para desenvolver a imprensa
nanica de esquerda ?
O
Brasil de Fato, a revista Caros Amigos, o Correio do Brasil fazem das
tripas coração para sobreviver, seus articulistas trabalham por nada ou
quase nada, assim como centenas de blogueiros, defendendo a política
social do governo e a senhora Helena Chagas com o aval da Dilma Rousseff
nem dá bola, entrega tudo para a Veja, Globo, Folha, SBT, Record,
Estadão e outros do mesmo time ?
Assim,
realmente, não dá para se entender a política de comunicação do
governo. Será que todos nós jornalistas de esquerda que votamos na Dilma
somos paspalhos ?
Aqui
na Europa, onde acabei ficando depois da ditadura militar, existe um
equilíbrio na mídia. A França tem Le Figaro, mas existe também o
Libération e o Nouvel Observateur. Em todos os países existem opções de
direita e de esquerda na mídia. E os jornais de esquerda têm também
publicidade pública e privada que lhes permitem manter uma boa qualidade
e pagar bons salários aos jornalistas.
Comunicação
é uma peça chave num governo, por que a presidenta Dilma não premiou um
de seus antigos colegas e colocou na sucessão de Franklin Martins um
competente jornalista de esquerda, capaz de permitir o surgimento no
país de uma mídia de esquerda financeiramente forte ?
Exemplo
não falta. Getúlio Vargas, quando eleito, sabia ser necessário um órgão
de apoio popular para um governo que afrontava interesses
internacionais ao criar a Petrobras e a siderurgia nacional. E incumbiu
Samuel Wainer dessa missão com a Última Hora. O jornal conseguiu
encontrar a boa receita e logo se transformou num sucesso.
O
governo tem a faca e o queijo nas mãos – vai continuar dando o filet
mignon aos inimigos ou se decide a dar condições de desenvolvimento para
uma imprensa de esquerda no Brasil ?
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A criação do "Estado" de Israel - uma breve cronologia
Foi num 29 de novembro. Reunião da ONU.
1947. Bem longe da Palestina, onde Fátima colhia azeitonas, Marta
recolhia as folhas do quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à
sombra do alpendre da casa simples. Eles não sabiam, mas naquele dia
estava sendo decidido seus destinos
Foi
num 29 de novembro. Reunião da ONU. 1947. Bem longe da Palestina, onde
Fátima colhia azeitonas, Marta recolhia as folhas do quintal e Rachid
tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre da casa simples. Eles não
sabiam, mas naquele dia estava sendo decidido seus destinos. Destino de
violência, morte e dor. Havia acabado a segunda grande guerra, guerra
feia, dura, grotesca. Nela, o governo alemão tinha promovido o massacre
do povo judeu, dos ciganos e de outras gentes que apareciam à seus olhos
como “diferentes”. Os judeus foram os mais atingidos, em função do
grande número. Foi um holocausto. Por conta disso, no fim da guerra, os
vencedores, comandados pelos Estados Unidos decidiram que havia de dar
uma terra essa gente oprimida, roubada e esfacelada.
O lugar
escolhido para a criação de um estado judeu foi a região da Palestina,
por ali estar também o núcleo originário do povo hebreu. Naquele espaço
haviam nascido as 12 tribos de Judá e era para onde os judeus sonhavam
voltar. Mas, esse desejo nunca foi discutido ou compartilhado com as
gentes que ali viviam há outras centenas de anos, os palestinos. Então,
numa decisão vinda de cima para baixo, os 57 países que conformavam a
ONU naquele então decidiram entregar 57% do território palestino para a
formação do Estado de Israel. O argumento era de que lá não havia gente,
era deserto, portanto, livre para ser ocupado. Mas, essa não era a
verdade. Ali viviam milhares de seres, tal qual Fátima, Marta e Rachid.
Ainda assim, numa sessão dirigida pelo brasileiro Osvaldo Aranha –
qualificado por Alfredo Braga como um desonesto - 25 países votaram pelo
sim, 13 foram contra e 17 se abstiveram. Nascia então, por desejo dos
vencedores da grande guerra, o estado de Israel. Já para os palestinos,
aquele dia ficou conhecido como o "dia da catástrofe".
Contam os
historiadores que, naqueles dias que antecederam a votação – bastante
tumultuada – diplomatas receberam cheques em branco, outros foram
ameaçados e as mulheres dos políticos receberam casacos de visom.
Portanto, foi alavancado na corrupção que vingou Israel.
A
proposta da ONU foi de metade do território, o que deixa bem claro que
todos sabiam que aquela não era uma terra vazia. A conversa nos
corredores é de que também seria criado um Estado Palestino e cada povo
seguiria seu rumo. Para os que viviam na terra doada aos judeus, os
meses que se seguiram foi de terror. Famílias inteiras tiveram de deixar
suas casas, seu olivais, sua história. A maioria foi desalojada na
força, e muitos não entendiam o que se passava. Como suas terras tinham
sido doadas? Naqueles tristes dias de nada adiantou o grito da gente
palestina, não se soube dos mortos, nem da destruição. A informação
demorava a chegar nos lugares. Quando o mundo se deu conta do terror, já
era tarde demais.
Tão logo se instalou, o governo israelense
decidiu ampliar seus domínios. Não aceitou a metade, queria mais e
abocanhou, na força das armas, 78% do território. os palestinos tiveram
de migrar, abandonar suas vidas e tudo o que era seu. O Estado da
Palestina nunca foi criado.
Todo o terror imposto por Israel ao
povo palestino não terminou por aí. No ano de 1967, o governo sionista,
de novo com a força dos canhões, expandiu ainda mais o território em
busca do domínio das regiões mais férteis, passando a ocupar mais de 80%
da área, massacrando outras tantas milhares de famílias palestinas.
Ao
longo desses anos todos, por várias vezes Israel arremeteu contra o
povo palestino, numa tentativa de dizimar a população. Sem conseguir,
decidiu criar então um imenso campo de concentração à céu aberto.
Praticamente todo o território ocupado por palestinos está cercado por
enormes muros de concreto. As pessoas vivem como prisioneiras, muitas
famílias foram separadas e não podem mais se ver. Muitos são os
documentários que mostram as famílias se comunicando através dos muros e
cercas de arame farpado, aos gritos, sem poderem se abraçar.
Nos
últimos dias, Israel começou nova escala de violência, com bombardeios à
Faixa de Gaza, onde se concentram os palestinos. O argumento que a
televisão e as empresas de jornalismo passam é o que fala de "direito de
defesa" de Israel. Vendem a ideia de que é esse estado militarizado e
terrorista o que está sendo agredido.
Ora, qualquer pessoa de
mediana inteligência sabe que a força de um menino com uma pedra é
abissalmente inferior a de um canhão ou mísseis teleguiados. Israel quer
destruir o povo palestino, quer "limpar a área", região absolutamente
estratégica para a proposta de poder dos Estados Unidos, principal
parceiro de Israel nesse massacre continuado.
A resposta dos
palestinos é a resposta dos desesperados. Pessoas como Fátima, Rachid,
Hadija ou Kaleb nada mais querem do que viver suas vidas, estudar,
sonhar com algum amor, casar, ter filhos, comer azeitonas no cair da
tarde. Uma vida como a de qualquer ser humano no mundo. Mas, eles não
podem fazer isso. Estão continuamente humilhados, ameaçados pelas
balas, pelos soldados, pelos tanques, pelos bombardeios. Vivem em alerta
24 horas no dia. Quando podem, reagem. Com pedras, com bombas caseiras,
com autoimolação. Sim, respondem às vezes com violência extrema, mas
nada menos do que o que aprendem no cotidiano de uma vida de prisioneiro
em sua própria casa, acossado pelo exército invasor.
Agora,
nesses dias, as famílias palestinas estão vendo morrer seus filhos,
crianças despedaçadas, jovens estraçalhados. Morrem mães e pais, avós,
gente simples, que está no quintal varrendo as folhas. Garotinhos que
brincam nas ruas de terra. Não são terroristas, nem carregam armas. São
pessoas comuns, calejadas na opressão. Não é uma guerra, onde se batem
os exércitos. É um genocídio, um massacre, no qual perecem as pessoas
comuns.
Pelo mundo inteiro gritam as gentes, as imagens de dor se
espalham pela internet, o mundo inteiro sabe o que acontece no imenso
campo de concentração que Israel criou. Mas, toda a ação das gente é
inútil. As bombas seguem caindo, armas químicas são usadas (o fósforo,
que queima inteira a pessoa) e o que se vê são os governantes do chamado
"mundo livre" apoiando a ação de Israel. Os Estados Unidos, que invadiu
o Iraque por uma "suspeita" de que estavam fabricando armas químicas
por lá, observa o uso das mesmas sobre os palestinos e diz que é um
"direito de defesa" de Israel. Ou seja, se quem usa armas químicas é
amigos dos EUA, está tudo bem. Hipocrisia, cinismo.
Para os
movimentos sociais e militantes da causa humana, o que fica é o absurdo
sentimento de impotência. Desde tão longe só o que se pode fazer é
gritar, denunciar, contar essa velha história para que ela não se perca
no meios da mentiras que os noticiários contam todos os dias. O conflito
Israel x Palestina nada tem de religioso. Usa-se a religião para
legitimar determinadas ações, os judeus julgam-se o "povo eleito". Mas, o
que se esconde por trás da aparência é a configuração geopolítica de
poder. Os palestinos estão num espaço da terra que é muito importante
para o projeto de dominação do Oriente Médio. Ficam na entrada principal
e não são amigos dos Estados Unidos. Por isso é necessário que sejam
extintos.
As bombas seguem caindo sobre as famílias palestinas,
dor e morte é o que têm. Mas, os palestinos seguem defendendo sua terra e
suas vidas. Não haverão de se extinguir. Estão por todo o mundo e nunca
esquecerão sua história. Cabe a nós solidarizar com esse povo valente
porque nada no mundo justifica o que acontece hoje na Palestina ocupada.
Israel haverá de responder à história pelos seus crimes. Mais dia,
menos dia. Porque, se como dizia o grande poeta Mahmud Darwish, "ainda
goteja a fonte do crime", há que estancá-la.
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GAZA NÃO ESTÁ SÓ. ESTAMOS EM GAZA! TODO MUNDO CONTRA O FRENESI ASSASSINO DE ISRAEL
Ahdaf Soueif, The Guardian, UK-PATRIALATINA
Israel é uma democracia cujos políticos
podem ordenar o assassinato de crianças, como ‘ferramenta’ de campanha
eleitoral. Sempre, claro, crianças palestinas.
Mas as multidões, em todo o mundo árabe, não são racistas. Protestos em Londres e em mais de 100 cidades em todo o mundo exigem o fim do ataque de Israel contra Gaza e o fim do cerco.http://stopwar.org.uk/index. Martírio em Gaza: Vídeo de um cineasta e ativista britânico, filmado na cidade de Gaza http://www.youtube.com/watch? Gaza Sob Ataque: Emergência! Proteste! Sábado, 17/11, das 14h às 16h Embaixada de Israel em Londres (2 Palace Green) London W8 4QB http://stopwar.org.uk/index. SE VOCÊ CLICAR emhttp://audioboo.fm/users/ Ouvem-se as explosões, o zunido dosdrones, a sirene das ambulâncias. É a trilha sonora da vida dos palestinos nesse exato momento. Os sons estão sendo gravados e retransmitidos e ouvidos em todo mundo. Todo o mundo árabe está ouvindo. Todos os amigos de Gaza, em todo o planeta, tremem de indignação. Gaza não está só. Todos passamos a noite lendo e repassando tuítes e distribuindo matérias de blogs de jovens palestinos, em Gaza e em todo o mundo, e todos estamos vendo as imagens que eles distribuem. Naquele mesmo hospital Shifa em Gaza (http://www.guardian.co.uk/ Pela primeira vez em 42 anos, um representante do governo egípcio não mentiu ao falar primeiro ao povo egípcio, antes até de se dirigir ao presidente do Egito. Antes disso, Mursi falara de“coordenar a segurança” com Israel no Sinai; começou por fechar os túneis, que são o único canal de sobrevivência para os que vivem sitiados em Gaza; rejeitou a propostas de uma área de livre comércio na fronteira entre Egito e Gaza; e enviou um embaixador a Telavive com uma carta a Shimon Peres (http://www.thejc.com/news/ O pessoal da Fraternidade Muçulmana e seu partido Liberdade e Justiça muito se empenharam em justificar as ações de seu representante no palácio presidencial, ante o resto do país. Progressistas e todo o campo da esquerda no Egito zombaram do muito que eles falavam e do nada que faziam para defender os palestinos ao longo dos anos em que viveram na oposição, tanto quanto do espantoso silêncio que sobreveio, depois que chegaram ao poder. Os muros e paredes do Cairo cobriram-se de grafitis que zombavam da “carta de amor” que Morsi enviara a Peres. A zombaria que começou nos muros da cidade alastrou-se online e na blogosfera. Agora, afinal, os próprios israelenses decidiram por Morsi. Agora, afinal, o presidente do Egito poderá dar melhor sentido à sua presidência, mais sintonizada com o desejo do povo egípcio. Grandes caravanas de jovens egípcios já marcham em direção a Gaza. Com eles vai também minha sobrinha mais jovem. Toda a sociedade civil em todo o planeta está mobilizada; já partiram vários barcos em direção a Gaza, civis egípcios, de todo o país, estão em viagem para Gaza. No plano mais ‘oficial’, o governo egípcio já enviou médicos, enfermeiros e remédios, que já chegaram a Gaza. Abdel Moneim Aboul-Fotouh, que é médico e foi candidato a presidência do Egito já partiu para Gaza (http://www.guardian.co.uk/ Israel sempre tentou vender-se à opinião pública ocidental como se fosse a única democracia, num mar de fanáticos. A Primavera Árabe desmentiu e destruiu essa narrativa, talvez para sempre. Então os políticos israelenses passaram a trabalhar a favor de uma guerra contra o Irã. E, enquanto esperam, entraram num frenesi de assassinatos em massa em Gaza. Se Israel queria instigar violência crescente contra o próprio governo, não poderia ter encontrado meio mais garantido do que assassinar Ahmed al-Jaabari, comandante do Hamás que, pelos últimos cinco anos, trabalhou para impedir ataques contra Israel. Assassinado o comandante Jaabari, imediatamente recomeçaram os ataques, exatamente o que se vê agora. Assim, Israel supõe que possa sequestrar a narrativa da Primavera Árabe e fazer andar para trás o relógio da história. Israel quer voltar ao tempo em que ainda havia quem acreditasse em “terroristas islamistas versus israelenses civilizados”. Simultaneamente, desviam o foco do morticínio na Síria e, claro, ganham pontos para a política de linha duríssima de Binyamin Netanyahu e Ehud Barak, em período de campanha eleitoral, em população anestesiada pela propaganda. De fato, a única coisa que conseguiram foi expor ao mundo a prova definitiva de que Israel é uma democracia em que os políticos podem ordenar o assassinato de crianças, para vencer eleições. Sempre crianças palestinas, é claro. Os cidadãos do mundo já não se deixam enganar. Na 5ª-feira começaram protestos em todo o mundo em defesa de Gaza. Continuam na 6ª-feira e no sábado. E isso é apenas o começo. Em todos os países árabes nos quais a população levantou-se para exigir respeito aos seus direitos, as multidões voltam às ruas para exigir respeito também aos direitos dos palestinos. A Tunísia já informou que seu ministro de Relações Exteriores já está em Gaza. Na Jordânia, hoje, centenas de milhares estão nas ruas e, ali também, ao mesmo tempo em que exigem o fim da monarquia jordaniana, exigem justiça para o povo palestino. Há protestos na Líbia. Do Egito já partiram várias caravanas e outras preparam-se para partir para Rafah e, dali, para Gaza. Essas multidões em movimento carregam a verdadeira representação popular e manifestam o desejo dos povos da região. Daqui em diante, os governos terão de trilhar o caminho que está sendo aberto, hoje, pelos homens e mulheres que caminham rumo a Gaza, para defender Gaza.
Tradução Vila Vudu
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quinta-feira, 22 de novembro de 2012
A democracia e o Estado Judeu
Israel é a quarta maior potência militar
do planeta. Os palestinos são provavelmente o povo mais desarmado do
planeta. Ainda assim, não dá para aceitar a opinião de Francisco Carlos
Teixeira (http://www.viomundo.com.br/ politica/francisco-carlos- teixeira.html)
de que Israel é uma realidade política (e militar) intocável. Isto está
totalmente contrário à lógica da realidade. Todo sionista sabe que este
Israel que eles construíram, com o apoio e cumplicidade de todas as
potências europeias (incluindo a ex-URSS) e os Estados Unidos, não
poderá subsistir por muito tempo a partir da introdução da democracia.
Sim, é a democracia o verdadeiro fator que vai levar ao fim de Israel
como o Estado judeu que os sionistas delinearam.
Segundo o historiador israelense
Ilan Pappe, Israel é o único país racista do Oriente Médio. Por ali, o
que menos existe são países onde prime a democracia. Os principais
aliados dos EUA e da Europa capitalista (Arábia Saudita, Jordânia,
Qatar, Emirados,…) são países governados pelas mais ferrenhas
oligarquias, por monarquias absolutistas que não estão submetidas a
nenhum controle democrático. Mas, nenhum deles se caracteriza por ser
racista. O único país claramente racista que existe na região é Israel.
Como todos sabem (ou deveriam
saber), a democracia moderna não pode admitir uma sociedade onde haja
discriminação de raças, uma sociedade onde os direitos são atribuídos em
ordem preferencial segundo à etnia (ou religião) de seus habitantes.
Então, este Israel como Estado judeu deixará de existir a partir do
momento em que todos seus cidadãos passarem a ter os mesmos direitos e
as mesmas obrigações. A partir do momento em que um cidadão israelense
de qualquer etnia (por exemplo, um palestino) puder usufruir dos mesmos
direitos que goza um cidadão israelense de religião judaica, podendo
inclusive postular-se ao governo do país e ser eleito (se a maioria dos
votantes assim o decidir), a partir de então, o Estado judeu como tal
deixará de existir.
Todos os sionistas sabem disto. E é
exatamente por esta razão que eles (especialmente os autodenominados
sionistas de “esquerda”) têm pavor a qualquer alteração que transforme
Israel num Estado de todos os seus cidadãos e não o mantenha como um
Estado exclusivamente dos judeus. Ou seja, eles sabem que a introdução
de uma democracia de verdade, que seja válida para todos seus cidadãos
(não a democracia só para os judeus) significará a morte do Estado
racista e exclusivista que eles construíram.
Embora eu entenda que o mais
lógico seria a existência de um só Estado na região que engloba
Palestina e Israel, não vejo como um entrave ao avanço a criação de dois
estados. Há muitos lugares do mundo onde dois ou mais estados foram
formados para atender às peculiaridades políticas do momento, apesar de
que seus habitantes não se constituíam em povos com diferenças
significativas. Basta observar o caso do Uruguai. Que diferenças
significativas de caráter étnico existem entre os uruguaios e os
argentinos? No entanto, como forma de evitar o confronto entre duas
outras potências maiores (Brasil e Argentina), o Uruguai foi
transformado em um país independente. E continua assim até hoje. Israel e
Palestina também podem seguir a mesma trilha.
O fundamental, em meu entender, é
defender o direito dos palestinos estabelecerem livremente seu Estado e,
ao mesmo tempo, exigir que o Estado de Israel passe a ser um Estado
democrático para todos os seus cidadãos. Ou será que a democracia só
serve como motivação de campanhas internacionais quando é para derrubar
governos enfrentados com as grandes potências capitalistas do ocidente?
Foto: Blog Democracia Ya
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O que acontece na Faixa de Gaza?
Foto: AP/Ashraf Amra |
A atual investida de Israel contra a Faixa de Gaza, denominada de “Pilar
Defensivo”, tem como suposto objetivo defender o povo israelense dos
mísseis lançados por combatentes do Hamas que atingem o sul do país. Mas
será que é apropriado chamar de guerra ou de defesa quando um dos lados
é uma superpotência militar e o outro, um grupo político armado sem a
organização e a estrutura de Forças Armadas?
É verdade que a organização palestina dispara
foguetes contra o território de Israel, mas é preciso analisar a sua
verdadeira capacidade militar. Desde que o conflito teve início, na
quarta-feira (14/11), três israelenses foram mortos pelos mísseis,
enquanto pelo menos 95 palestinos perderam suas vidas e centenas ficaram
feridos. Ao longo deste ano, nenhum israelense foi vítima dos projéteis
e apenas alguns ficaram feridos em comparação a dezenas de palestinos
mortos que, em sua vasta maioria, eram civis.
Os projéteis lançados pelos palestinos procedem de diferentes locais e
estão longe de integrar o moderno mercado de armas. Enquanto muitos são
produtos domésticos, outros são equipamentos da década de 1990. Com
alcance de 6 a 25 milhas, esses mísseis não possuem a tecnologia
necessária para mirar alvos no território israelense e acabam por
atingir, muitas vezes, terrenos inabitados. Além disso, na maior parte
dos casos, os militares israelenses conseguem interceptar os foguetes
pelo seu avançado sistema de defesa, mantendo uma taxa de 90% de sucesso
nos casos. Nos últimos seis dias, cerca de 740 misseis foram lançados e
apenas 30 atingiram Israel.
Além de possuir poucos recursos financeiros, o Hamas encontra grande
dificuldade em comprar armas por conta do bloqueio israelense nas
fronteiras da Faixa de Gaza. Tudo o que consegue provém de túneis
ilegais. O grupo palestino tão pouco possui uma estrutura militar comum
às Forças Armadas, com treinamento regular e corpo de oficiais. Seus
combatentes não atuam em batalhas, mas sim em ações de guerrilha.
É este o corpo organizacional que uma das Forças Armadas mais potentes
do mundo enfrenta hoje. Com orçamento militar anual ao redor dos US$ 12
bilhões, Israel recebe ajuda de US$ 3 bilhões dos Estados Unidos para
investir em equipamentos. Jatos de tecnologia militar de última geração
bombardeiam a Faixa de Gaza e sistemas de defesa aprimorados derrubam os
projeteis.
Há uma imensa assimetria na capacidade de cada um dos lados de infligir
danos e sofrimento devido ao domínio militar total de Israel na região.
Esse fato transparece no número desproporcional de mortos e destruição
afligida. Até agora, mais de um terço das vítimas palestinas são civis, incluindo crianças e idosos, e o número parece estar apenas aumentando.
Se Israel é tão superior militarmente ao Hamas e em poucos dias já
conseguiu destruir grande parte do território palestino, por que
realizar uma operação? Se o objetivo das autoridades era atingir o
grupo, por que não optar apenas por ações de seu desenvolvido serviço de
inteligência contra seus líderes?
Essas perguntas parecem ingênuas, mas, com certeza, foram consideradas
pelo governo e pelos chefes de segurança do país, que escolheram
deliberadamente a opção militar. Não podemos nos esquecer da afirmação
de Eli Yishai, vice-premiê de Israel, de que o objetivo da operação "é mandar Gaza de volta para a Idade Média".
Longe de ser uma ruptura com a política israelense para a Faixa de Gaza,
a nova investida integra as iniciativas de ocupar e sitiar o território
palestino que vão desde o bloqueio econômico e militar à expansão de assentamentos israelenses.
E, para aqueles que não se lembram, essa não é a primeira vez que as
Forças Armadas atacam a Faixa de Gaza em uma suposta luta contra o
Hamas. Em 2009, as autoridades realizaram a operação “Chumbo Fundido”,
que, em apenas 22 dias, deixou 1.434 palestinos mortos, incluindo 1.259
civis.
Até os dias atuais, os palestinos não conseguiram se recuperar desses
ataques pela falta de materiais de construção disponíveis, que
permanecem bloqueados por oficiais israelenses nas fronteiras. De acordo
com relatório das Nações Unidas de setembro deste ano, apenas 25% dos
edifícios danificados na investida foram reconstruídos.
Analisando os dados da operação, o professor norte-americano Norman
Filkenstein conclui que não houve uma guerra, mas sim um massacre contra
o povo palestino. Será que o que estamos assistindo nesses últimos dias
na Faixa de Gaza não deve receber essa conotação, em vez de “guerra” ou
“ação defensiva”?
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